Gilmar Olivera Brando1
Profª. Ms. Taisa Marilu Pisoni2
1 Fisioterapeuta da Equipe da Saúde Mental do Município de Novo Hamburgo, Especialista em Saúde do Trabalhador pelo Centro Universitário Feevale – Novo Hamburgo (RS), Brasil
2 Orientadora, Docente do Centro Universitário Feevale – Novo Hamburgo (RS), Brasil
Contato: gilmarb@feevale.br
Data da última revisão: 16/01/2009
Data de envio para publicação: ___________
RESUMO
A partir da percepção da necessidade de exigir um controle e eliminação de causas que afetam a saúde do trabalhador, começa a surgir o interesse pela atenção à sua saúde. Dessa forma, o objetivo deste estudo foi analisar a prevalência de co-morbidades, correlacionando com a sua atividade laboral, de uma amostra representativa de moradores dos três maiores bairros de Novo Hamburgo, que participaram de uma investigação sobre doença pulmonar obstrutiva crônica. A metodologia caracterizou-se como uma pesquisa descritiva, retrospectiva de paradigma quantitativo. Constatou-se que há uma predominância do sexo feminino, etnia branca e nível de escolaridade primário. Quanto à profissão e co-morbidade, ficou evidenciada a característica da região, o industriário do setor coureiro-calçadista, que apresentavam a hipertensão predominantemente como co-morbidade; seguido da empregada doméstica, com doenças do coração, hipertensão e diabetes. Por fim, compreendeu-se que é relevante um estudo mais aprofundado em relação às co-morbidades correlacionadas com a atividade laboral.
Palavras-Chave: Saúde do trabalhador. Co-morbidade. Saúde ocupacional.
INTRODUÇÃO
A Revolução Industrial permitiu modificar o comportamento da sociedade levando a um aumento significativo da população urbana em busca de trabalho. Como conseqüência, houve uma piora da qualidade de vida e o surgimento de problemas à saúde do trabalhador, a partir da percepção da necessidade de exigir uma aplicação de controle e eliminação de causas que afetam a saúde do trabalhador, começa a surgir o interesse pela atenção à sua saúde (Ferreira Junior, 2000).
Segundo Oliveira (2002), não somente no ambiente da empresa, mas também o ambiente externo onde vive o trabalhador. A saúde tem um conceito mais amplo, não se remete apenas a problemas diretamente relacionados a aspectos do processo do trabalho ao qual o trabalhador se insere e sim, ao enfoque global que inclui além do trabalho, educação, cultura, moradia, saneamento básico, lazer, convívio social e ecossistema saudável que, juntos, contribuem para que haja equilíbrio entre indivíduo, trabalho e meio. A busca e manutenção da saúde devem ser dadas através de equipes especializadas previstas por lei com composição multiprofissional que, juntamente com a responsabilidade do empregador, devem criar mecanismos e atitudes que também comprometam o próprio funcionário na busca constante da sua saúde.
Os estudos sobre o custo econômico de determinadas doenças tentam quantificar monetariamente alguns dos efeitos que a patologia exerce sobre as pessoas que dela padecem e sobre a sociedade no seu conjunto. Eles têm sido amplamente utilizados durante os últimos anos. Atualmente os trabalhadores sofrem com a sobrecarga de trabalho e faz com que milhares de pessoas sintam-se sobressaltadas, pois a única ferramenta de que dispõem é a sua força de trabalho, a qual pode ser dispensada a qualquer momento. O desprezo assola o universo do trabalho e traz conseqüências drásticas para todos os que têm em seu trabalho à única forma de sobrevivência. Contudo, a força de trabalho exigida precisa de especial qualificação, mesmo que não necessite de grande conhecimento para fazer uma simples operação como apertar um simples botão. Assim, para a maior parte das atividades, exige-se um trabalhador complexo, que saiba muito mais além do que seria preciso para a execução de determinada tarefa (Antunes, 2002).
Os programas de saúde do trabalhador têm como objetivo a promoção e a proteção da saúde do trabalhador através de controle dos riscos presentes no ambiente de trabalho, a avaliação constante com procedimentos de diagnóstico, tratamento e reabilitação de forma integrada (Assunção et al., 2002).
Esta pesquisa teve como objetivo geral analisar a prevalência de co-morbidades, correlacionando-os com sua atividade laboral de uma amostra representativa de moradores dos três maiores bairros do Município de Novo Hamburgo, com investigação para doença pulmonar obstrutiva crônica.
Os objetivos específicos identificaram os tipos de doenças desenvolvidas a partir da sua atividade laboral, verificaram quais os tipos de profissões que tenham relação com a sua atividade laboral ao longo da vida e identificaram no banco de dados o perfil dos indivíduos, a partir da idade, raça e escolaridade.
Assim como temos como justificativa contribuir para a área da saúde do trabalhador, mais especificamente para os indivíduos portadores de doenças crônicas adquiridas a partir da sua atividade laboral, esclarecendo a real prevalência das doenças.
METODOLOGIA
Delineamento do estudo
A metodologia deste estudo caracterizou-se como uma pesquisa descritiva, retrospectiva de paradigma quantitativo e foi analisada a prevalência de co-morbidades de uma amostra representativa dos moradores dos três bairros mais populosos da Cidade de Novo Hamburgo, que foram investigados, correlacionando com sua atividade laboral. Para isso utilizou-se um banco de dados constituído para uma investigação em portadores da doença pulmonar obstrutiva crônica.
Sujeitos da investigação
O banco de dados foi constituído por indivíduos acima de 40 anos de idade e limite de 90 anos e que representavam uma amostra de indivíduos de um estudo transversal de base populacional, realizado em 2005, através de amostragem por conglomerados no questionário do projeto Platino – uma iniciativa da Associação Latino-americana de Tórax (ALAT), que o iniciou em 2002 e o concluiu em 2004 (Menezes et alii, 2004). Os indivíduos cadastrados no banco de dados eram moradores dos Bairros Santo Afonso, Rondônia e Canudos e que fazem parte dos três bairros mais populosos da cidade de Novo Hamburgo, através do levantamento realizado no período de 2005 a 2006.
A amostra inicial do estudo contou com 333 indivíduos. Foram excluídos os indivíduos que não apresentaram co-morbidades específicas referidas nas questões (27 A a 27 F) do questionário Platino (hipertensão, diabetes, câncer de pulmão, acidente vascular cerebral, doença do coração e tuberculose), o que resultou em uma amostra final de 179 indivíduos.
Coleta de dados
Para acesso ao banco de dados foi entregue um termo de compromisso para utilização dos dados ao professor supervisor do Laboratório da Atividade Física, do Exercício e dos Esportes (LEAFEES), do Centro Universitário Feevale, onde estava armazenado o banco de dados.
O banco de dados foi constituído através da aplicação do questionário do projeto Platino (Menezes et alli., 2004). Para este estudo foram utilizadas as informações registradas no banco de dado das questões que se referiam ao perfil (1 a 6) e das co-morbidades (27A a 27F) do questionário Platino. Além dessas informações, foi feito o registro da atividade laboral dos 179 indivíduos através do contato telefônico. Todos os dados coletados para a análise neste estudo foram digitados em um banco de dados no Excel.
Tratamento estatístico
Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística descritiva para apresentar os resultados através da média aritmética e seu respectivo desvio-padrão, assim como a distribuição das freqüências absolutas (n) e relativas (%). As associações das co-morbidades com as variáveis de caracterização foram analisadas através do teste de Qui-Quadrado (χ2). Todos os procedimentos estatísticos foram executados no software Le Sphinx Plus2 (versão 4.5), com nível de significância estabelecido em p ≤ 0,05. A fim de organizar, estudar e descrever os resultados que foram apresentados em forma de tabela e gráfico.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A partir da amostra inicial de 333 indivíduos, 154 indivíduos não apresentaram co-morbidades, o que representa 46,2% da amostra total. Apresentaram co-morbidades específicas para a análise neste capítulo, 179 indivíduos, o que representa uma prevalência de 53,8% dos indivíduos que constituíam a amostra inicial.
Análise do perfil e característica da amostra final
Tabela 1 – Perfil e características da amostra final (n=179)
Análise da prevalência das co-morbidades
Tabela 2 – Prevalência das co-morbidades (n=179)
Análise de cruzamentos prevalência das co-morbidades, por gênero
Tabela 3 – Prevalência das co-morbidades, por gênero (n=179)
Conforme Tabela 3, a analise do cruzamento prevalência das co-morbidades, foi significativo para tuberculose e gênero masculino 9,8% da amostra com um p = *0,034. Segundo Rouquayrol et al. (2003), um estudo em nível pré-patogênico da tuberculose, produção da doença em termos coletivos, objetivando o estabelecimento de trabalho as ações de ordem preventiva, deve considerar a doença como fluindo, originalmente, de processos sociais, crescendo através de relações ambientais e ecológicas desfavoráveis, atingindo o homem pela ação direta de agentes físicos, químicos, biológicos e psicológicos, ao se defrontarem, no indivíduo suscetível, com pré-condições genéticas ou somáticas desfavoráveis.
De acordo com Monteiro et al. (2004), atualmente, o sedentarismo aparece como preponderante fator de risco para HAS. Indivíduos que não praticam exercício físico são mais propensos a desenvolverem HAS e sendo assim, aumentam a taxa de eventos patológicos cardiovasculares, bem como o número de mortes e seqüelas decorrente da doença. Mulheres geralmente são mais sedentárias que os homens na população brasileira, conseqüentemente estão mais expostas às doenças.
A predisposição do organismo e a hereditariedade na diabetes têm importante papel na explicação de diferenças de freqüências de danos à saúde na população. As suas respectivas cargas genéticas que recebem de seus antepassados a maiores ou menor suscetibilidade (ou resistência) às agressões externas. Isto ocorre tanto para as doenças infecciosas como para as não infecciosas (Pereira, 2000).
A mortalidade total por câncer de pulmão no Brasil é da ordem de 10.000 homens por ano, sendo que a literatura indica risco de duas a três vezes maiores nos trabalhadores expostos à sílica, após o ajuste por outros fatores causais como o fumo. Infelizmente, apesar do grande número de expostos à sílica no Brasil, o número de casos de câncer de pulmão em associação à exposição à sílica, tornando-se imperativo melhorar os registros e informações epidemiológicas, para que possamos dimensionar o papel da sílica na etiopatogênese do câncer de pulmão e utilizar os conhecimentos existentes para sua prevenção primária (Brasil, 2001).
O acidente vascular encefálico (AVE) é uma doença comum e de grande impacto na saúde pública em todo o mundo por ser a principal causa de incapacidades neurológicas em adultos, acometendo a função das extremidades de membros, controle motor, equilíbrio, força e mobilidade, e devido aos altos custos despendidos com o seu tratamento agudo e em longo prazo (Erickson et alii., 2004).
Análise da prevalência das co-morbidades, por etnia
Tabela 4 – Prevalência das co-morbidades, por etnia (n=179)
Análise da prevalência das co-morbidades, por profissão
Tabela 5 – Prevalência das co-morbidades, por profissão (n=179)
Análise da prevalência das co-morbidades, por escolaridade
Tabela 6 – Prevalência das co-morbidades, por escolaridade (n=179)
Tabela 8 – Variação média e desvio padrão das idades dos participantes (n=179)
Conforme Tabela 9, a análise da correlação significativa gênero x tuberculose no sexo masculino 90,2% no total da amostra de 61 responderam não e 9,8% responderam sim, sendo que para o sexo feminino 97,5% no total da amostra de 118 responderam não e 2,5% responderam sim. Conforme já discutido anteriormente, Rouquayrol et al. (2003), em estudo de nível pré-patogênico da produção da doença tanto os processos sociais, através de relações ambientais e ecológicas desfavoráveis, vem atingindo mais o homem pela ação direta de agentes físicos, químicos, biológicos e psicológicos, ao se defrontarem, no indivíduo suscetível, com pré-condições genéticas ou somáticas desfavoráveis.
Segundo Caldeira et alii. (2004), pessoas comunicantes, ou contatos com tuberculosos têm risco mais elevado de contrair a doença ou a infecção tuberculosa, segundo a infecciosidade da fonte, as características do contato e do ambiente de trabalho. Fatores relacionados ao hospedeiro, como idade e estado imunológico, também interferem na possibilidade de o comunicante tornar-se infectado ou adoecer.
Análise da correlação significativa profissão x hipertensão
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatou-se que a partir da análise da amostra dos indivíduos investigados a predominância da grande maioria 65,9% do sexo feminino e 34,1% do sexo masculino, pois segundo autores a mulher tem maior longevidade, hoje em dia possui maior espaço na sociedade, os empregos estão iguais ou superiores oferecidos aos homens. Conforme amostragem observou-se a predominância de 96.1% da etnia branca, característica especifica da região de origem Germânica.
Quanto à profissão ficou evidenciado a característica da região, predominando o industriário, 33,5% que trabalha no setor coureiro-calçadista, empregada doméstica 27% mulheres com baixo nível sócio econômico, que permanecem em casa para o cuidado dos filhos as demais profissões foram variadas não sendo significativos e relevantes os números relacionados.
Sendo que 36,0% apresentaram doenças do coração, 88,0% hipertensão 24,0% diabetes, em termos de saúde publica as doenças relacionadas ao trabalho são da mais elevada importância bem como os distúrbios comportamentais e doenças psicossomáticas; hipertensão arterial; doença isquêmica do coração; doenças respiratórias crônicas.
O grau de escolaridade que prevaleceu na amostra foi à formação primária admissão com 77,6 %, na sua vida escolar. Levando em consideração as características da região, predominando as profissões de industriários e empregadas domesticas fica evidenciado um baixo nível sócio econômico da amostra pesquisada.
Com base em outras pesquisas na analise de cruzamentos a prevalência das co-morbidades, 36,3% apresentaram doenças do coração e 81,6% hipertensão, estudos anteriores mostram que o homem no local de trabalho está mais exposto a ação direta de agentes físicos, químicos, biológico e psicológico com pré-condições genéticas ou somáticas levando em consideração as características da amostra.
Também, como se pensava até algum tempo atrás com relação à profissão especialistas identificaram as doenças relacionadas ao trabalho da mais elevada importância em termos de saúde pública, bem como seus fatores de risco, sendo que os resultados significativos para os industriários comerciários, pintor e bancários foram relevantes levando-se em consideração os números e as características da amostra.
Os profissionais que trabalham sofrem uma pressão gerada sobre a responsabilidade nas suas funções e um dos principais fatores de risco está relacionado às condições de trabalho oferecidas, atividades insalubres executadas, sobrecarga de trabalho desenvolvendo doenças até bem pouco tempo não tinham relação com sua atividade laboral, hipertensão, doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral, patologias com indicadores significativos na pesquisa bem como mostram também que é preciso trabalhar sacrificando o tempo livre e acaba não encontrando espaço para o lazer.
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