REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10422168
Adilson Bras Pessim Borges Filho1
Alexia Geovanna Lourenço Cruz2
Érica Karina Tiago Ribeiro3
Gabriela Vieira Ribeiro4
Giovana Inserra Bortolin5
Gustavo Mendes Moraes Pessim Borges6
Marcos Henrique Pereira7
Maria Julia Rodrigues Silva8
Rafael Queiroz de Freitas9
1 INTRODUÇÃO
A hanseníase é uma doença infecciosa, crônica, causada por uma bactéria denominada Micobaterium leprae, que atinge pessoas de todas as idades, principalmente aquelas na faixa etária economicamente ativa, tendo assim grande importância para a saúde pública (NUNES et al,. 2009).
A hanseníase mantém-se como importante endemia para a saúde pública do Brasil, sendo seu tratamento uma preocupação tanto da Organização Mundial da Saúde (OMS), como do Ministério da Saúde (MS), sobretudo por sua magnitude e pelo poder incapacitante, fator que contribui para a ocorrência do estigma e de atitudes discriminatórias (MS, 2020).
Embora se tenham conquistado avanços nas últimas décadas, o Brasil está entre os 22 países que possuem as mais altas cargas da doença em nível global – ocupa a 2ª posição em número de casos novos e detinha cerca de 92% do total de casos das Américas, em 2018 (OMS, 2019).
Grande esforço global tem sido empregado, sob orientação da OMS, com o objetivo de eliminar a hanseníase como problema de saúde pública. Originalmente, esse objetivo deveria ter sido atingido em 2000. No entanto, o Brasil mantinha uma média de 47 mil novos casos de hanseníase anualmente desde o final do século passado, com um parâmetro alto de endemicidade, especialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (BRASIL, 2007)
A hanseníase faz parte de importante agenda internacional, estando inserida no objetivo 3 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), que visa promover o bem-estar e uma vida saudável, com a meta proposta de combater as epidemias de aids, tuberculose, malária e outras doenças transmissíveis e tropicais negligenciadas, até o ano de 2030 (ONU, 2015).
O tratamento da hanseníase recomendado pela OMS, realizado por meio de uma associação de três antimicrobianos, é denominado poliquimioterapia (PQT), a qual foi implantada no Brasil em 1991 como esquema único para tratamento, após avaliação da utilização em unidades-piloto. A introdução da PQT de forma universal impactou na redução da prevalência da doença e na reorganização do processo de trabalho dos programas de controle do agravo (MS, 2020).
Em 2018, a Organização Mundial de Saúde publicou as “Diretrizes para o diagnóstico, tratamento e prevenção da hanseníase”, na qual recomenda um regime de três medicamentos (rifampicina, clofazimina e dapsona) para todos os pacientes com hanseníase, com duração de tratamento de 6 meses para hanseníase paucibacilar e 12 meses para hanseníase mulbacilar (MB). Essa recomendação simplifica o tratamento e previne a classificação errônea da hanseníase MB, já que todos os pacientes receberiam um regime de três medicamentos (MS, 2020).
Em casos especiais em que não exista a possibilidade de realizar o tratamento padrão, a diretriz prevê tratamentos com esquemas alternativos com os medicamentos minociclina e/ou ofloxacino. Para o tratamento de lesão dos nervos são utilizados a Prednisona, Talidomida e Pentoxifilina.
A OMS disponibiliza, por meio de doação, a PQT para o tratamento da hanseníase e a clofazimina para as reações hansênicas crônicas. Já os demais medicamentos, rifampicina 300mg, rifampicina 20mg/mL, minociclina 100mg, ofloxacino 400mg, pentoxifilina 400mg, prednisona 5mg, prednisona 20mg e talidomida 100mg, são adquiridos de forma centralizada pelo Ministério da Saúde (MS, 2020).
No que se refere as doações, todas são planejadas entre o MS e a OMS, considerando a epidemiologia, com antecedência de um ano. De modo parecido, a importação dos medicamentos é programada para ser entregue em tempo oportuno. Em situações normais, os quantitativos são suficientes para o atendimento dos pacientes que já se encontram em tratamento assim como de novos casos diagnosticados.
Entretanto, desde o início de julho de 2020, houve um desabastecimento dos fármacos do tratamento paucibacilar e multibacilar em todo o território nacional. O que implicou na dificuldade de acesso dos pacientes em tratamento a esses medicamentos e praticamente bloqueou a inclusão de novos pacientes ao programa terapêutico.
No município de Itumbiara-GO, esse desabastecimento em questão começou a impactar de maneira significativa entre o fim de agosto e início de setembro de 2020, deixando os pacientes sem acesso ao tratamento, mesmo aqueles cadastrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). No momento da pesquisa (fevereiro de 2021), o cenário se encontrava mais favorável, no entanto, ainda não normalizado.
Nesse contexto, surge a necessidade do estudo em questão, que busca por meio da pesquisa, determinar a oferta e demanda dos medicamentos para o tratamento da Hanseníase no município de Itumbiara-GO no período que se estende de agosto de 2020 à março de 2021, assim como, identificar os fatores que levaram a esse déficit tanto no âmbito nacional como municipal.
2 Observação da realidade
A partir da observação da realidade vivenciada pelo país, e de modo especial a do município de Itumbiara-GO, através do Núcleo de Ações Básicas de Saúde (NABS) da cidade, foi possível observar os impactos sofridos pelo mesmo quanto à distribuição de medicamentos para o tratamento da Hanseníase, decorrente do desabastecimento das farmácias populares municipais.
Foi observado que no fim de agosto e início setembro de 2020 os pacientes já em tratamento e cadastrados no SINAN, começaram a sofrer com o desabastecimento e tiveram seu tratamento padrão interrompido pela falta de acesso a alguns dos fármacos necessários. Pacientes que não estavam em tratamento e ainda não haviam sido registrados no SINAN não conseguiram iniciar a terapia medicamentosa.
Dentro do período de analise foi possível incluir 15 pacientes, todos foram impactados pela escassez. Dentre esses, haviam pacientes com o tratamento iniciado que tiveram terapêutica interrompida e também aqueles que receberam o diagnóstico, mas não conseguiram iniciar o tratamento.
No momento atual (fevereiro de 2021) quase a totalidade dos pacientes já cadastrados e que estavam em tratamento conseguiram retornar a terapêutica, no entanto aqueles pacientes que receberam o diagnóstico durante o período de crise estão começando a receber somente agora as medicações, havendo ainda paciente pendente. Ainda não há previsão de resolução.
3 Pontos Chave
Como desencadeantes, procurou-se identificar os fatores imediatos e condicionantes relacionados a problemática. Dessa maneira, foram selecionados os seguintes pontos-chave:
- Bloqueio de insumos para a produção de medicamentos;
- Ausência de políticas públicas nacionais para a autonomia da produção;
- Aumento dos preços de fretes aéreos;
- Problemas estruturais e logísticos agravados pelo contexto da COVID-19;
- Centralização da distribuição pelo Ministério da Saúde.
4 Teorização
Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a hanseníase trata-se de uma doença antiga e infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium leprae ou também conhecida como bacilo de Hansen, que foi identificada no ano de 1873 pelo cientista Armauer Hansen.
Podendo ser classificada entre paucibacilar ou multibacilar, a hanseníase tem cura, porém se não tratada corretamente pode deixar sequelas. Para o tratamento da hanseníase no Sistema Único de Saúde (SUS), o Ministério da Saúde oferta os seguintes esquemas terapêuticos: blister paucibacilar adulto e infantil (PBA e PBI), blister multibacilar adulto (MBA), esquemas substitutivos e, medicamentos para o tratamento das reações hansênicas.
Atualmente, em todo o mundo o tratamento é oferecido gratuitamente com a finalidade de sanar esse problema de saúde pública, principalmente em países subdesenvolvidos e/ou superpopulosos.
Apesar do tratamento gratuito, segundo Artur Custódio coordenador Nacional da Reintegração das pessoas atingidas pela hanseníase (Morhan), em muitos estados do Brasil, se a pessoa for diagnosticada hoje com hanseníase, ela não vai ter acesso à medicação por conta da crise de abastecimento que hoje afeta o país. (SBD, 2020).
Em 2019 os governantes brasileiros foram informados de que haveria atrasos na importação dos medicamentos utilizados no tratamento da Hanseníase devido a complicações na produção. Porém, segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH), o dermatologista Claudio Salgado, a situação se tornou crítica em agosto de 2020, quando terminaram todos os estoques de Pernambuco, de São Paulo e do Pará. E apesar do pedido feito em caráter emergencial pelo Ministério da Saúde foram informados sobre problemas na qualidade dos medicamentos. (CNN, 2021).
Nesse viés, o presente estudo tem como escopo a análise dos dados epidemiológicos do acompanhamento em saúde das apresentações da hanseníase no estado de Goiás – Itumbiara e no Brasil, relacionando-as com a adesão ao serviço terapêutico, desabastecimento e falta da distribuição dos medicamentos no NABS e a pouca fiscalização pelas Equipes de Saúde da Família (agentes comunitários). Para a construção do mesmo, recorreu-se à base de dados disponibilizados pelo NABS através do SINAN. Este estudo reforça a necessidade da instalação de políticas públicas nos municípios para a redução da carga bacilar no doente. As ações preventivas, promocionais e curativas pelas Equipes de Saúde da Família também precisam de atenção. (GARBELINI et al., 2020).
Apesar de ser o país com o maior número de casos de hanseníase por habitantes no mundo – com 30 mil novos casos por ano – o Brasil não produz medicamentos para tratar a doença. Os remédios do PQT que chegam ao país são, iguais em muitos outros países, doações diretas da OMS, que são repassados ao SUS e não são vendidos nas farmácias.
Assim, todo paciente brasileiro depende exclusivamente do bom funcionamento do SUS para ter acesso ao tratamento. Em relação aos efeitos da falta de medicamentos, diante da crise de abastecimento e interrupção do tratamento, a ONU estima que o Brasil e demais países que passam pelo desabastecimento deverão ter um grave retrocesso no controle e transmissão da hanseníase e na prevenção de deficiências desses pacientes. A redução de diagnósticos é outro problema que tem sido observada no Brasil durante a pandemia. De acordo com Morhan, nos últimos cinco anos, o país registrou, em média, 15 mil casos de hanseníase no primeiro semestre de cada ano. Em 2020, o Brasil teve apenas 6 mil notificações nesse período. (PEBMED, 2021.)
A distribuição de medicamentos é um serviço essencial, no entanto, foi um setor diretamente afetado pela pandemia da Covid – 19. Dessa forma, os impactos da situação atual em que o Brasil e o mundo se encontram interferiram na logística desta distribuição além da falta de insumos básicos para a sua produção em nível global. A mudança do contexto atual em conjunto com a necessidade de redução das atividades, contribuiu com o fechamento de boa parte dos aeroportos e diminuição da frota aérea.
Assim, o transporte de mercadorias, antes na maior parte aéreo, precisou ser direcionado para as rodovias, provocando atraso e aumento da demanda de entregas de diversos produtos, incluindo os medicamentos. (ELFA, 2020)
A restrição de horários de atendimentos também foi um fator agravante para esse contexto de atraso na entrega de mercadorias e produtos. Compras em lojas físicas foram substituídas por compras online, aumentando ainda mais essa demanda do setor de transporte. (ELFA, 2020)
Diante do aumento da demanda, atraso em entregas e fechamentos de aeroportos, a distribuição dos medicamentos utilizados no tratamento da hanseníase ficou ainda mais prejudicada, o que evidenciou ainda mais atraso em sua distribuição em todo o país, não sendo diferente no município de Itumbiara – GO.
4.1 Metodologia
Trata-se de uma pesquisa descritiva com enfoque quantitativo, que se deu por meio de coleta de dados no NABS na sala específica destinada ao acompanhamento dos casos de Hanseníase e em bases de dados científicos, divulgados em diversos artigos referentes à Hanseníase, assim como o uso de informações divulgadas pelo MS, no qual foi verificada a distribuição de fármacos para o tratamento da Hanseníase.
O instrumento de pesquisa utilizado para a coleta de dados foi a análise de prontuários referentes a 15 pacientes.
Os dados coletados por meio dos prontuários forneceram subsídios para a identificação dos fármacos que se encontram em escassez para o tratamento da Hanseníase no munícipio de Itumbiara-GO.
A pesquisa foi realizada em prontuários dos pacientes cadastrados pelo SINAN e pacientes que necessitavam do tratamento e não estavam cadastrados ainda. O tamanho amostral foi definido em 15 pacientes, contendo aqueles que recebiam o tratamento e pararam de receber, por motivo da escassez dos fármacos destinados a eles, e aqueles que nunca receberam.
A pesquisa foi conduzida no mês de fevereiro de 2021, com dados referentes ao período de agosto de 2020 a março de 2021, com a análise dos pacientes selecionados e tendo como foco principal a investigação da relação entre a oferta e a demanda dos fármacos específicos para o tratamento da Hanseníase junto ao NABS.
Não houve a necessidade de termos de consentimento, assim como autorização pelo comitê de ética, uma vez que não houve a identificação dos envolvidos, tratando-se de uma pesquisa descritiva. No entanto, houve a autorização do responsável pelo NABS no qual foi realizada a pesquisa.
4.2 Resultados e Discussão
Para melhor entendimento das informações coletadas elas foram divididas em períodos entre doses, sempre levando em consideração o maior período existente entre uma dose e outra, de cada paciente observado.
Com base na análise dos prontuários dos 15 pacientes participantes do estudo, foi possível identificar o período entre as doses dos medicamentos, cuja distribuição foi diretamente influenciada pela crise de abastecimento dos fármacos.
De acordo com os dados, os maiores períodos entre doses (>3 meses) está relacionado a pacientes que tiveram o diagnóstico realizado durante o período em questão, sem início de terapêutica preexistente. Entre os pacientes já em tratamento o maior número deles se encontra no intervalo entre doses de 2 meses.
Fonte: Filho; Lourenço; Cruz; Ribeiro, 2021.
Foi possível inferir por meio dessa análise que o município de Itumbiara-GO sofreu impacto significativo na distribuição dos fármacos para tratamento da hanseníase, no período pesquisado.
Os problemas principais identificados que levaram a uma demanda além da oferta, estão principalmente relacionados ao contexto da pandemia da COVID-19, principal agravante da situação. Alterações na logística de transporte também influenciaram diretamente a problemática, ademais, a escassez de insumo foi outro fator importante que vem desde 2019 gerando impactos na produção desses medicamentos.
Outro ponto observado, que merece destaque é quanto a centralização na aquisição e distribuição dos fármacos pelo Ministério da Saúde, que uma vez em colapso é esperado que o mesmo seja em nível nacional.
Por fim, um dado importante também observado, que entra como um acréscimo a análise dos resultados é quanto a falha no diagnóstico da Hanseníase, tanto em nível nacional quanto no próprio município pesquisado. Neste sentido, foi observada uma grande queda no número de diagnósticos em um curto período de tempo, identificada na comparação entre 2018-2019 e 2020-2021, sendo que de uma média de 58 pacientes passou-se para uma média de 15 pacientes em tratamento da Hanseníase.
Essa questão está principalmente relacionada a problemas identificados na busca ativa de novos casos, afetada profundamente pelo contexto pandêmico, que impossibilitou principalmente as visitas domiciliares pelas Agentes Comunitárias de Saúde (ACS). Outro fator é quanto a própria capacitação dos profissionais de saúde na identificação dos sinais e sintomas iniciais da doença, que tem papel importante no diagnóstico precoce dessa.
5 hipóteses de solução
Baseando-se nos estudos e notas publicadas sobre a temática em questão, e a partir da análise e reflexão dos mesmos, foi possível identificar algumas possíveis hipóteses de solução para os principais pontos levantados, sendo elas:
- A descentralização da produção e distribuição dos fármacos, que atualmente se concentra em poucos países como por exemplo, no caso dos destinados à Hanseníase, a Índia (Fundação Novartis);
- Retomada das políticas públicas que fomentem a pesquisa e o desenvolvimento de fármacos para a terapêutica em questão;
- Maior esforço na obtenção de insumos para a produção nacional desses medicamentos;
- Adequação às mudanças logísticas acarretadas pela pandemia da Covid-19;
- Estabelecimento de custeio especifico referente aos fretes, aéreo e rodoviário, destinados à distribuição desses fármacos, desde a aquisição até a entrega nas farmácias municipais.
6 Sugestões de aplicação a realidade
A partir da análise das hipóteses de solução para as problemáticas elencadas na pesquisa, e de uma reflexão acerca dos fatores e dos condicionantes maiores, bem como do contexto de pesquisa e cenário atual do país, foi possível identificar algumas possíveis contribuições para a solução dos problemas apresentados, com o objetivo de sugerir uma intervenção na realidade de modo a alcançar uma melhora dos mesmos.
Como se trata de uma problemática que está diretamente vinculada a políticas públicas, a aplicação a realidade fica limitada a uma sugestão de melhoria que possa vir a ser utilizada pelos órgãos competentes. Entretanto, a pesquisa não perde, por esse motivo, de nenhuma maneira seu valor tanto para a sociedade quanto para os gestores da saúde.
A descentralização da produção e distribuição dos fármacos para o tratamento da Hanseníase e a independência do Brasil quanto a produção desses fármacos em território nacional são pontos que podem ser resolvidos em conjunto.
Como já dito no decorrer da pesquisa, a OMS repassa os fármacos para o MS e esse faz a distribuição em território brasileiro. Esses fármacos não são produzidos no Brasil, então o país depende exclusivamente da aquisição e distribuição da OMS frente a uma farmacêutica indiana, para seu bom funcionamento.
A ideia da descentralização e da independência medicamentosa está em voga desde o início do impacto do desabastecimento desses fármacos. Já existem propostas públicas para a incorporação dessas medidas, o governo está em contato com as farmacêuticas públicas e privadas para estudar a viabilidade dessas medidas.
Em fevereiro de 2021 houve uma audiência pública com representantes do Ministério da Saúde – Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis – DCCI (áreas Controle de Medicamentos e Insumos e Coordenação Geral de Doenças em Eliminação- CGDE), do Departamento de Assistência Farmacêutica – DAF, da Sociedade Brasileira de Dermatologia – SBD; do Movimento de Reintegração Hanseniano – MORHAN e das empresas/laboratórios Públicos: FURP, FUNED, Farmanguinhos/FIOCRUZ, LAFEPE, SANOFI e NOVARTIS, para a discussão da produção nacional da PQT.
Pode ser levado em conta para fundamentar a importância dessas ações o exemplo da Índia que possui mais casos de Hanseníase que o Brasil (em números absolutos), e conseguiu manter o tratamento de seus pacientes pela produção que ocorre a nível nacional.
O Brasil já produz alguns medicamentos que auxiliam no tratamento da Hanseníase, como a Talidomida que é produzida pela Fundação Ezequiel Dias (FUNED), e espera-se que com a autossuficiência da produção da PQT o país consiga evitar futuros problemas relacionados ao desabastecimento desses fármacos.
Outra proposta importante é quanto ao esforço na obtenção de insumos de qualidade para a produção destes medicamentos. A produção dos fármacos que continham Rifampsina e Dapsona estavam parados e muitos outros não demonstraram as características esperadas, sendo bloqueados pela própria OMS, devido à má qualidade dos insumos. Esse foi mais um dos fatores que ajudaram a agravar o déficit medicamentoso.
Uma das principias dificuldades na aquisição dos insumos está relacionada a obtenção do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) que é indispensável para a produção desses medicamentos. A empresa Novartis estuda a possibilidade de transferência de tecnologia para que uma farmacêutica pública Brasileira consiga ter acesso aos insumos e possa fabricar os fármacos.
Vale ainda destacar quanto a importância de adequações ao contexto produzido pela pandemia da Covid-19, que alterou a logística de planejamento, execução e transporte.
Faz-se necessário um planejamento diferente pela OMS e MS, responsáveis pela distribuição dos medicamentos, e até mesmo pelas empresas farmacêuticas envolvidas no processo de produção.
O contexto da pandemia alterou a dinâmica de trabalho das empresas fazendo com que estas trabalhassem com um número reduzido de funcionários por setor, o que corroborou para o agravamento na diminuição da produção e aquisição dos fármacos. Nesse mesmo sentido a diminuição da frota aérea e o fechamento de aeroportos dificultaram ainda mais a distribuição dos medicamentos para os países dependentes.
Uma possível solução seria destinar frete aéreo exclusivo ao transporte dos medicamentos, através de uma análise de custeio especifica que contemple todos os aspectos envolvidos. Dessa maneira, problemas como esses que surgiram poderiam ser evitados. Além disso, em território nacional pode-se adquirir uma frota responsável pela distribuição de medicamentos no geral, facilitando o trabalho do MS no fornecimento desses as farmácias públicas dos municípios, sobretudo as de Itumbiara – GO.
7 REFERÊNCIAS
- Ampliação de uso da clofazimina para hanseníase paucibacilar no âmbito do sistema único de saúde. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Nota técnica no 4/2020-CGDE/.DCCI/SVS/MS. Fev. 2020.
- Ata da 2a audiência pública referente ao interesse do ministério da saúde na produção nacional de poloquimioterapia (rifampicina, clofazimima e dapsona) para atendimento dos pacientes com hanseníase no Brasil. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Brasília. 2021.
- Atraso na Importação de Poliquimioterapia para Tratamento da Hanseníase. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Nota informativa no 13/2020-CGDE/.DCCI/SVS/MS. Ago. 2020.
- Desabastecimento de Medicamentos Para o Tratamento de Hanseníase – Poliquimioterapia Multibacilar Adulto (mba) no Sistema Único de Saúde. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, Coordenação-Geral de Vigilância das Doenças em Eliminação. 2020. Disponível em: < /https://sei.saude.gov.br/sei/controlador_externo.php?acao=documento_conferir&codigo_verificador=0018159807&codigo_crc=e4ff5f72&hash_download=728c1d2476f0616ccca736741001c51444857a00b23532641332e4ef37d1767780e8729ace5092e087e0ae0e7c9a98c6e973826fdd25fe9a024e17fd9ea9abd8&visualizacao=1&id_orgao_acesso_externo=62 > Acesso em: 14 de jun. de 2021.
- Estratégia Nacional para Enfrentamento da Hanseníase 2019 | 2022. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Brasília, vol 01. 2019. Disponível em: < https://antigo.saude.gov.br/images/pdf/2020/may/22/estr–tegia-nacional-de-hanseniase-2019-2022-web.pdf > Acesso em: 14 de jun. de 2021.
- Funed é o Único Laboratório do País a Produzir Medicamento Contra a Hanseníase. Secretaria de Estado de Saúde. Maio. 2019. Disponível em: < https://www.saude.mg.gov.br/index.php?option=com_gmg&controller=story&id=11174-funed-e-o-unico-laboratorio-no-pais-a-produzir-medicamento-contra-hanseniase > Acesso em: 14 de jun. de 2021.
- Hanseníase. Sociedade Brasileira de Dermatologia. < Disponível em: https://www.sbd.org.br/dermatologia/pele/doencas-e-problemas/hanseniase/9/> Acesso em 29 de março de 2021.
- Medicamentos Contra Hanseníase Estão em Falta Há Quase 1 Ano no Brasil. CNN Brasil. 2021. < Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/amp/saude/2021/02/03/medicamentos-contra-hanseniase-estao-em-falta-ha-quase-1-ano-no-brasil-diz-sbh > acesso em: 29 de março de 2021.
- NEVES, Úrsula. Hanseníase: Brasil Enfrenta Desabastecimento de Medicamentos. PEBMED. 2021. < Disponível em: https://pebmed.com.br/hanseniase-brasil-enfrenta-desabastecimento-de-medicamentos/amp/ > Acesso em: 29 de março de 2021.
- NUNES, Joyce Mazza; OLIVEIRA, Eliany Nazaré; VIEIRA, Neiva Francenely Cunha. Hanseníase: Conhecimentos e Mudanças na Vida das Pessoas Acometidas. Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, p. 1311-1318, 2011.
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- UGUCIONI, Giulia et al. Análise do Perfil Epidemiológico das Formas de Apresentação da Hanseníase no Estado de Goiás. Brazilian Journal of Health Review. Vol 3, No 2. 2020. < Disponível em: https://www.brazilianjournals.com/index.php/BJHR/article/view/8184 > Acesso em: 29 de março de 2021.