REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202505172122
Maria Ramonielly Feitosa Rodrigues Carvalho1; Bruna Juliane Melo Silva2; Thamara Adryelle Nunes de Sousa3; Williams Cardec da Silva4
RESUMO
Este estudo investigou a situação da sífilis congênita no estado do Piauí, com foco nos aspectos epidemiológicos e na realização do pré-natal pelas gestantes notificadas. O objetivo foi analisar a prevalência dos casos confirmados de sífilis congênita entre 2014 e 2024, identificar padrões temporais e avaliar a cobertura do pré-natal como estratégia de prevenção. Trata-se de uma pesquisa de caráter descritivo, baseada na análise de dados secundários obtidos junto ao Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde e ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Durante o período analisado, foram registrados, aproximadamente, 3.620 casos confirmados de sífilis congênita, com o pico de notificações em 2018 (504 casos – 13,92%) e queda significativa em 2024 (153 casos – 4,23%), considerando dados até junho. A análise temporal revelou crescimento progressivo entre 2014 e 2018, pequena redução em 2019 e novo aumento entre 2020 e 2022, seguido de declínio em 2023 e 2024. Em relação ao pré-natal, observou-se que 84,63% das gestantes receberam algum acompanhamento, 13,40% não realizaram consultas e 1,93% não tiveram a informação registrada. Embora a cobertura do pré-natal supere 80%, a persistência de casos indica fragilidades na qualidade da assistência e na prevenção da transmissão vertical. Conclui-se que, além da ampliação da cobertura, é necessário fortalecer a qualificação do cuidado pré-natal, garantir testagem e tratamento oportuno, bem como aprimorar o registro das informações em saúde para enfrentar efetivamente a sífilis congênita no estado.
Palavras-chave: Cuidado Pré-Natal; Gravidez; Infecções Sexualmente Transmissíveis; Saúde Pública; Sífilis Congênita.
INTRODUÇÃO
A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada pela bactéria Treponema pallidum, sendo uma das doenças mais preocupantes no contexto da saúde pública devido à sua alta transmissibilidade e às graves consequências associadas à infecção não tratada. Entre as formas de transmissão, destaca-se a sífilis congênita, que ocorre quando a bactéria atravessa a placenta e infecta o feto, podendo resultar em desfechos adversos como aborto espontâneo, natimortalidade, parto prematuro, malformações congênitas e complicações neurológicas (Rocha et al., 2023).
O impacto da doença na saúde materno-infantil reforça a necessidade de estratégias eficazes de rastreamento, diagnóstico e tratamento oportuno durante o pré-natal, uma vez que a sífilis, quando diagnosticada precocemente, pode ser tratada de forma eficaz com penicilina benzatina, prevenindo complicações tanto para a mãe quanto para o bebê (Conceição; Câmara; Pereira, 2020).
No Brasil, a sífilis gestacional tem se configurado como um desafio crescente para o sistema de saúde, apesar dos avanços nas políticas públicas voltadas ao controle da infecção. Dados epidemiológicos indicam um aumento expressivo dos casos ao longo da última década, tornando a sífilis um problema de saúde pública que demanda atenção contínua (Sousa, 2023).
Fatores como a precariedade no acesso aos serviços de saúde, a falta de conscientização sobre a doença, falhas na adesão ao tratamento e a ausência de testagem sistemática de parceiros contribuem para a disseminação da infecção. Além disso, o estigma social e o desconhecimento sobre a importância do tratamento adequado podem dificultar a busca ativa por assistência, agravando ainda mais o quadro epidemiológico (Silva; Moreira; Oliveira, 2020).
No Estado do Piauí, essa realidade tem se mostrado ainda mais preocupante, uma vez que os índices de sífilis em gestantes apresentam uma tendência crescente nos últimos anos. A alta incidência da infecção pode estar relacionada a múltiplos fatores, incluindo dificuldades na cobertura e qualidade do atendimento pré-natal, desigualdades socioeconômicas que impactam o acesso aos serviços de saúde, além de desafios na capacitação de profissionais para o diagnóstico e manejo adequado da doença (Almeida et al., 2015).
O cenário se agrava quando há descontinuidade no tratamento, seja por falta de medicamentos na rede pública ou pela ausência de acompanhamento regular das gestantes e seus parceiros. Assim, torna-se essencial uma análise detalhada da evolução da sífilis gestacional no estado para compreender os fatores que impulsionam esse crescimento e identificar as lacunas existentes nas políticas de saúde voltadas à prevenção e ao controle da infecção (Santos, F.; Santos, N., 2024).
A análise epidemiológica da sífilis gestacional no Piauí entre 2014 e 2024 se faz necessária para avaliar a efetividade das medidas adotadas e propor melhorias nos protocolos de atendimento. Compreender a dinâmica da infecção nesse período permitirá verificar se as estratégias implementadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como a ampliação do acesso ao pré-natal, a distribuição de testes rápidos e a garantia do tratamento com penicilina benzatina, têm sido eficazes na redução da transmissão vertical. Ademais, a investigação pode contribuir para a formulação de novas abordagens, como campanhas educativas para sensibilizar gestantes e parceiros sobre a importância do diagnóstico precoce e da adesão ao tratamento completo.
O presente artigo consiste em um estudo epidemiológico, no qual tem como objetivo analisar a incidência de sífilis em gestantes no Estado do Piauí no período de 2014 a 2024, investigando a evolução dos casos, os fatores associados ao aumento da infecção e a efetividade das políticas de combate à sífilis nesse público.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo epidemiológico do tipo descritivo, com abordagem quantitativa, que tem como finalidade analisar a incidência de sífilis em gestantes no Estado do Piauí no período compreendido entre os anos de 2014 a 2024. Esse tipo de estudo permite observar e descrever o comportamento da doença ao longo do tempo, contribuindo para a identificação de padrões, tendências e possíveis fatores relacionados à sua ocorrência.
Os dados serão coletados por meio de fontes secundárias, especialmente dos sistemas oficiais de informação em saúde, como o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Serão incluídos no estudo todos os casos notificados de sífilis congênita residentes no Estado do Piauí registrados nesses sistemas no período de análise.
As variáveis analisadas neste estudo incluíram o número de casos confirmados de sífilis congênita por ano e por município de notificação, a faixa etária e a raça/cor da gestante, o momento da confirmação da sífilis materna, a realização do pré-natal, bem como a faixa etária, o sexo e a evolução clínica dos casos confirmados de sífilis congênita. A análise dos dados será feita por meio de estatística descritiva, com uso de frequências absolutas e relativas, bem como a construção de gráficos e tabelas que permitam a visualização da evolução dos casos ao longo do tempo.
Os dados serão organizados e analisados com o auxílio de softwares estatísticos, como Microsoft Excel ou Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), assegurando a fidelidade e reprodutibilidade das análises. Este estudo respeitará os princípios éticos da pesquisa com dados secundários, conforme a Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde, uma vez que não haverá identificação individual de sujeitos nem intervenção direta.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados deste estudo foram obtidos a partir da análise de dados secundários disponibilizados pelo DATASUS, com foco nos registros do SINAN relacionados à Sífilis Congênita no estado do Piauí. No período de 2014 a 2024, foram confirmados, aproximadamente, 3.620 casos da doença. O ano de 2018 apresentou o maior número de notificações, com 504 registros, representando 13,92% do total, enquanto o ano de 2024, considerando apenas os dados de janeiro a junho, foi o que apresentou a menor incidência, com 153 casos (4,23%), como mostra a tabela 1.
Tabela 1 – Casos de Sífilis Congênita por Ano no Piauí (2014–2024).

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação, 2024.
A análise temporal dos dados evidenciou uma tendência de crescimento progressivo nos casos de sífilis congênita entre os anos de 2014 e 2018, seguida de uma leve redução em 2019. A partir de 2020, observou-se um novo aumento nos casos até o ano de 2022. Entretanto, os registros de 2023 e, especialmente, os dados parciais de 2024 indicam uma queda significativa no número de confirmações da doença, como pode ser observado no gráfico 1. Esse comportamento pode estar relacionado a diversos fatores, como a intensificação de políticas públicas de combate à sífilis, melhorias nos serviços de pré-natal, ou, até mesmo, mudanças na vigilância epidemiológica e na notificação dos casos (Torres et al., 2022).
Gráfico 1 – Porcentagem de Casos de Sífilis Congênita por Ano no Piauí (2014–2024).

A análise epidemiológica da sífilis congênita no estado do Piauí, com base nos dados registrados entre os anos de 2014 e 2024, evidencia um cenário de preocupação crescente e persistente, especialmente nos grandes centros urbanos. Observa-se, na tabela 2, uma forte concentração dos casos em municípios com maior densidade populacional e melhor estrutura de atendimento em saúde, o que pode refletir tanto a existência de fluxos migratórios em busca de atendimento quanto uma maior capacidade de vigilância e notificação de agravos. Teresina, capital do estado, concentra de forma expressiva o maior número de casos notificados, totalizando 2.347 registros, o que representa 65,12% de todas as ocorrências. Parnaíba, segunda maior cidade do estado, aparece em seguida com 589 casos (16,34%), acompanhada de Floriano com 223 (6,19%) e Picos com 165 (4,58%), como mostra no gráfico 2. Os demais municípios apresentam números significativamente menores, o que pode tanto refletir realidades epidemiológicas distintas quanto apontar para subnotificação e fragilidade nos sistemas locais de informação e vigilância em saúde.
Tabela 2 – Número de Casos Confirmados de Sífilis Congênita por Município de Notificação – Piauí (2014–2024).


Gráfico 2 – Número de Casos Confirmados de Sífilis Congênita nos Municípios com Maior Número de Notificações – Piauí (2014–2024).

Quando se analisa a distribuição etária das gestantes diagnosticadas com sífilis durante o período gestacional, tabela 3 e gráfico 3, os dados apontam para uma maior incidência entre mulheres jovens. O grupo etário mais acometido foi o de 20 a 24 anos, com 1.074 casos (29,67%), seguido pelo de 15 a 19 anos, com 757 casos (20,91%). Também é expressivo o número de casos entre mulheres com idades entre 25 a 29 anos (790; 21,84%) e 30 a 34 anos (466; 12,88%). A menor incidência foi observada entre mulheres acima de 40 anos. Esse padrão é consistente com outros estudos nacionais que apontam a maior vulnerabilidade de mulheres jovens à infecção por sífilis, especialmente em contextos marcados por baixa escolaridade, ausência de planejamento reprodutivo, fragilidade no uso de métodos de barreira e dificuldade de acesso aos serviços de saúde sexual e reprodutiva (Monteiro et al., 2024). Ademais, a presença de altos índices de sífilis entre adolescentes reforça a urgência de estratégias intersetoriais voltadas à educação sexual nas escolas e à ampliação do acesso ao diagnóstico e tratamento nas unidades de atenção básica (Silva et al., 2022).
Tabela 3 – Distribuição Etária das Gestantes com Sífilis no Piauí (2014-2024).

Gráfico 3 – Distribuição Etária das Gestantes com Sífilis no Piauí (2014-2024).

A análise da variável raça/cor das gestantes notificadas, tabela 4 e gráfico 4, revela uma predominância marcante de mulheres pardas, totalizando 2.485 registros (68,65%). As mulheres brancas foram responsáveis por 392 casos (10,83%) e as pretas por 123 (3,40%). Registros de mulheres amarelas (15; 0,41%) e indígenas (3; 0,08%) foram pouco expressivos. Vale destacar que em 423 casos (16,63%) essa variável foi ignorada ou preenchida de forma incorreta, o que compromete a qualidade das análises e limita a compreensão das possíveis desigualdades raciais no acesso ao diagnóstico e tratamento. A predominância de mulheres pardas no perfil das notificações pode estar relacionada à composição racial da população do Piauí, mas também pode indicar desigualdades estruturais de acesso à informação, prevenção e cuidado em saúde sexual e reprodutiva. A baixa representatividade de dados completos sobre raça/cor reforça a importância de medidas para qualificação da coleta e registro de dados nos sistemas de informação em saúde (Almada et al., 2023).
Tabela 4 – Distribuição de Casos de Sífilis Congênita por Raça/Cor das Gestantes no Piauí (2014-2024).

Gráfico 4 – Distribuição de Casos de Sífilis Congênita por Raça/Cor das Gestantes no Piauí (2014-2024).

Outro aspecto fundamental analisado foi o momento do diagnóstico da sífilis materna, como pode ser observado na tabela 5 e no gráfico 5. Em 1.713 casos (47,32%), a infecção foi diagnosticada durante o pré-natal, o que indica uma potencial oportunidade para interrupção da transmissão vertical. No entanto, um número expressivo de casos foi diagnosticado apenas no momento do parto ou curetagem (1.203; 33,23%), ou mesmo após o parto (584; 16,13%), o que demonstra falhas no rastreamento precoce da infecção. Em 40 casos (1,10%) a mulher sequer realizou exame, e em 80 casos (2,21%) essa informação foi ignorada. Esses dados sugerem que, mesmo com o avanço das políticas de ampliação do acesso ao pré-natal, ainda há lacunas importantes na qualidade da assistência prestada às gestantes, seja pela oferta limitada de exames em tempo oportuno, seja pela ausência de seguimento adequado dos casos suspeitos ou positivos (Gomes et al., 2023). Além disso, é necessário considerar os fatores que dificultam a adesão ao tratamento, como o desconhecimento do diagnóstico, o não comparecimento do parceiro sexual e o estigma social associado à infecção por sífilis (Britto et al., 2019).
Tabela 5 – Distribuição dos Casos de Sífilis Materna por Momento do Diagnóstico no Piauí (2014–2024).

Gráfico 5 – Distribuição dos Casos de Sífilis Materna por Momento do Diagnóstico no Piauí (2014–2024).

Em relação à realização do pré-natal, tabela 6 e gráfico 6, observa-se que 3.065 das gestantes notificadas (84,63%) tiveram algum tipo de acompanhamento durante a gravidez, enquanto 485 (13,40%) não realizaram nenhuma consulta de pré-natal. Em 70 casos (1,93%) essa informação não foi registrada. Embora a cobertura do pré-natal esteja acima de 80%, o alto número de casos de sífilis congênita evidencia que o simples acesso às consultas não é suficiente para garantir a prevenção da transmissão vertical. A efetividade do prénatal depende da realização de no mínimo seis consultas, da aplicação correta dos testes rápidos de sífilis e do tratamento imediato da gestante e do parceiro. Assim, a qualidade do cuidado prestado durante o pré-natal deve ser o foco de ações de melhoria contínua, com ênfase na capacitação das equipes de saúde, garantia de insumos e monitoramento dos indicadores de cuidado (Ferreira et al., 2022).
Tabela 6 – Distribuição das Gestantes Notificadas Quanto à Realização do PréNatal no Piauí (2014-2024).

Gráfico 6 – Distribuição das Gestantes Notificadas Quanto à Realização do Pré-Natal no Piauí (2014-2024).

As características dos recém-nascidos revelam que a maioria dos diagnósticos foi realizada nos primeiros dias de vida: 3.479 casos (96,10%) foram identificados em bebês com até 6 dias de vida, enquanto apenas 2 casos foram diagnosticados entre 12 e 23 meses de idade (Tabela 7 e Gráfico 7). Esses dados indicam a importância do protocolo de triagem neonatal e da avaliação clínica nos primeiros dias de vida, especialmente nos casos em que o diagnóstico da mãe não foi feito ou o tratamento foi inadequado (Oliveira et al., 2023). A distribuição por sexo, tabela 7 e gráfico 7, foi equilibrada, com 1.758 (48,56%) recém-nascidos do sexo feminino e 1.748 (48,29%) do sexo masculino. Em 114 casos (3,15%), o sexo não foi informado. Esses números mostram que a sífilis congênita afeta de forma indistinta meninos e meninas, o que reforça que a prevenção deve ocorrer ainda na fase gestacional, independentemente do sexo fetal (Araújo et al., 2021).
Tabela 7 – Características dos Recém-Nascidos com Sífilis Congênita no Piauí (2014-2024): Diagnóstico e Distribuição por Sexo.

Gráfico 7 – Características dos Recém-Nascidos com Sífilis Congênita no Piauí (2014-2024): Diagnóstico e Distribuição por Sexo.

Por fim, a evolução dos casos de sífilis congênita, tabela 8 e gráfico 8, revela que, apesar da maioria dos nascimentos resultarem em recém-nascidos vivos (3.247; 89,70%), ainda há um número considerável de desfechos adversos. Foram registrados 118 óbitos causados diretamente pela sífilis congênita (3,26%), além de 76 óbitos por outras causas (2,10%). Em 179 casos (4,94%), a evolução do recém-nascido não foi informada. Esses dados são alarmantes, pois indicam que a sífilis congênita continua sendo uma importante causa de mortalidade infantil evitável. A redução desses desfechos negativos exige uma resposta robusta por parte das autoridades de saúde, com ações integradas de prevenção, diagnóstico, tratamento e acompanhamento das gestantes e dos recém-nascidos, bem como o fortalecimento dos sistemas de informação e vigilância epidemiológica (Brígido et al., 2023).
Tabela 8 – Distribuição dos Desfechos dos Casos de Sífilis Congênita no Piauí (2014-2024).

Gráfico 8 – Distribuição dos Desfechos dos Casos de Sífilis Congênita no Piauí (2014-2024).

Diante disso, a análise epidemiológica da sífilis congênita no estado do Piauí revela um cenário preocupante, marcado por uma elevada incidência da doença, especialmente em centros urbanos, e pela predominância entre mulheres jovens e pardas. Os dados evidenciam falhas importantes na detecção precoce da infecção durante o pré-natal, assim como na condução dos casos, o que contribui para desfechos adversos evitáveis, como óbitos de recémnascidos. Apesar de uma cobertura relativamente satisfatória do pré-natal, persistem lacunas na qualidade do atendimento, tanto no diagnóstico quanto no tratamento da gestante e do parceiro, além do acompanhamento adequado dos casos (Barbosa et al., 2017).
Torna-se, portanto, urgente o fortalecimento da Atenção Primária à Saúde (APS), garantindo o acesso universal, equânime e qualificado ao pré-natal, com a realização de testagens rápidas para sífilis em todas as consultas, incluindo a repetição dos exames no terceiro trimestre e no momento do parto. É essencial que os profissionais de saúde recebam capacitação contínua, para que possam identificar precocemente a infecção, administrar corretamente o tratamento e acompanhar os casos de maneira resolutiva, reduzindo a possibilidade de transmissão vertical (Itapary et al., 2023).
Ademais, o aprimoramento dos sistemas de informação em saúde é indispensável. É necessário investir na qualificação do preenchimento de dados em plataformas como o SINAN, assegurando a completude e a fidedignidade das informações, especialmente quanto à raça/cor, evolução do caso e dados sobre o tratamento. As campanhas de educação em saúde devem ser ampliadas, promovendo ações informativas e preventivas junto a adolescentes e mulheres em idade fértil, a fim de aumentar a conscientização sobre as infecções sexualmente transmissíveis, a importância do pré-natal e o combate ao estigma ainda associado à sífilis (Sousa et al., 2021).
Também é fundamental garantir a oferta contínua de testes rápidos e penicilina benzatina em todas as unidades de saúde, promovendo o tratamento imediato de gestantes e seus parceiros, o que é essencial para interromper a cadeia de transmissão. O monitoramento e a avaliação constante dos casos devem ser priorizados, com a criação de comissões municipais e estaduais voltadas à vigilância da sífilis, estabelecendo metas de redução, auditoria de óbitos e implementação de planos locais baseados em evidências (Sales et al., 2022).
Por fim, destaca-se a importância da integração intersetorial. Estratégias conjuntas entre os setores da saúde, educação, assistência social e justiça são fundamentais para garantir proteção integral às gestantes em situação de vulnerabilidade social, com foco especial em adolescentes e populações negligenciadas. Dessa forma, a eliminação da sífilis congênita no Piauí depende do compromisso articulado entre gestores, profissionais de saúde, sociedade civil e instâncias governamentais. Investir em políticas públicas eficazes, que promovam a equidade e fortaleçam o SUS, é essencial para proteger a saúde materno-infantil e assegurar um futuro mais saudável para as novas gerações (Sousa et al., 2022).
CONCLUSÃO
Com base na análise dos dados sobre a realização do pré-natal entre gestantes notificadas com sífilis congênita no estado do Piauí, verifica-se que, apesar de uma cobertura aparentemente satisfatória, com 84,63% das gestantes tendo recebido algum tipo de acompanhamento, a persistência de casos da doença indica falhas na qualidade e na efetividade desse cuidado. O número significativo de mulheres que não realizaram qualquer consulta (13,40%) e os registros incompletos (1,93%) refletem vulnerabilidades no sistema de saúde, especialmente no que se refere à detecção precoce da infecção, ao tratamento oportuno e ao acompanhamento dos casos, fatores cruciais para a prevenção da transmissão vertical da sífilis.
Dessa forma, é fundamental que as ações de saúde pública priorizem não apenas o aumento da cobertura do pré-natal, mas também a melhoria contínua da assistência prestada. Investimentos em capacitação das equipes, garantia de insumos, testagem em tempo oportuno e inclusão dos parceiros no tratamento são estratégias essenciais para a eliminação da sífilis congênita. Ademais, é imprescindível fortalecer os sistemas de informação em saúde e desenvolver ações intersetoriais voltadas à conscientização da população, especialmente das mulheres em idade fértil e adolescentes, para assegurar um cuidado integral e humanizado.
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1Acadêmica de Medicina
Centro Universitário Uninovafapi
monnafeitoza@gmail.com
2Acadêmica de Medicina
Centro Universitário Uninovafapi
brujums2005@gmail.com
3Acadêmica de Medicina
Centro Universitário Uninovafapi
thamaranunesfortunato0@gmail.com
4Médico
Universidade Estadual do Piauí (UESPI); Docente do Centro Universitário Uninovafapi
drwillcardec@gmail.com