ANALYSIS OF THE INCIDENCE OF INJURIES AND THE IMPACT OF MISSED MATCHES ON THE SPORTS PERFORMANCE OF A SPANISH FOOTBALL CLUB OVER FOUR SEASONS
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11582473
João Breno Freitas dos Santos1
Luis Eduardo Mesquita dos Santos1;
Alyson Felipe da Costa Sena2.
RESUMO
O futebol é um esporte popular, com alto risco de lesões, principalmente nos membros inferiores. Este estudo objetiva investigar a incidência de lesões em membros inferiores em um clube de futebol europeu nas últimas 4 temporadas. Através da análise quantitativa e qualitativa de dados do Transfermarkt sobre lesões de jogadores com uso de Testes estatísticos para comparar incidências de lesões e partidas perdidas entre as temporadas. Obtendo como resultados que houve flutuações na incidência de lesões e partidas perdidas entre as temporadas. A temporada 2020-2021 teve o maior número de lesões (média de 12,5 jogadores por partida), possivelmente devido à pandemia de COVID-19. A incidência de lesões diminuiu ligeiramente nas temporadas seguintes, mas a temporada 2022-2023 apresentou um novo aumento. A tendência de partidas perdidas acompanhou a incidência de lesões. Não houve significância estatística entre o número de lesões e partidas perdidas. Portanto, as lesões podem afetar o desempenho da equipe pela indisponibilidade de jogadores importantes e pela sobrecarga da equipe médica. O tempo de recuperação depende da gravidade da lesão, do calendário de jogos e da qualidade da equipe médica. O estudo apresenta limitações por se basear em um conjunto limitado de dados. Concluiu-se que o clube teve um ciclo de treinamento desgastante e um calendário de jogos que influenciou o número de lesões. Apesar da alta incidência de lesões, o departamento médico conseguiu gerenciar a situação, demonstrando a importância de investir na recuperação de atletas. Mais estudos com mais dados e metodologias abrangentes são necessários para determinar com precisão a relação entre lesões, partidas perdidas e desempenho esportivo.
Palavras-chave: Lesões, Futebol, Membros Inferiores, Tempo de Recuperação.
1. INTRODUÇÃO
O futebol, a partir da década de 1930, experimentou sua ascensão, especialmente no Brasil, cuja grandiosidade foi reafirmada durante a Copa de 1938, momento em que o país exibiu sua paixão pelo esporte ao resto do mundo. Contudo, a crescente popularidade do futebol, aliada à significativa incidência de lesões, tem despertado um interesse epidemiológico notável. Dada a natureza de alto contato, velocidade e força do esporte, lesões como contusões, estiramentos musculares, tendinites e diversas fraturas ósseas e musculares têm se tornado recorrentes (SANTOS, ZANELLA, 2022).
O termo “lesão” refere-se a danos ou ferimentos em partes do corpo, resultantes de acidentes, traumas, esforços excessivos, doenças ou condições médicas diversas. As lesões podem variar em gravidade, abrangendo desde cortes simples e contusões até fraturas, distensões musculares e lesões sérias em órgãos internos. O tratamento e a gravidade das lesões demandam atenção médica imediata, enfatizando a importância da avaliação e do tratamento adequados (FERNANDES, PEDRINELLI, HERNANDEZ, 2011). A prevenção, o tratamento adequado e o repouso emergem como elementos essenciais para a recuperação eficaz, destacando a necessidade de consultar um profissional de saúde para orientação específica (SILVA et al, 2022).
No contexto do futebol, lesões frequentemente associadas à corrida, mudanças de direção, colisões e chutes incluem distensões musculares, entorses de tornozelo, lesões no joelho, lesões na virilha, contusões, lesões no tendão de Aquiles, lesões nas costas, lesões no pé e lesões por estresse. A prevenção torna-se crucial, com medidas como aquecimento adequado, uso de equipamentos de proteção, treinamento de força e condicionamento físico, e a adesão a orientações médicas e de treinadores (CELESTINO, DA CUNHA, 2023).
O tempo de recuperação de lesões, influenciado pela metodologia de reabilitação, pode afetar significativamente os atletas, tornando-os mais suscetíveis a lesões durante jogos ou treinamentos de tempo médio de recuperação depende da estrutura do departamento médico do clube e do condicionamento físico do atleta (MELO et al, 2020a). O avanço tecnológico nos departamentos médicos, exemplificados pelos aportes financeiros expressivos dos clubes de futebol em todo o mundo, têm se revelado essenciais para otimizar a recuperação dos atletas, promovendo a rápida retomada às atividades esportivas oficiais ( SILVA, 2022 )
Desta forma, temos a seguinte pergunta problema, como as lesões nos membros inferiores no contexto do futebol impactam os atletas em termos de gravidade, tempo de recuperação e vulnerabilidade a lesões subsequentes? Portanto, este estudo tem como intuito investigar a incidência de lesões associadas à prática do futebol, com ênfase nas ocorrências nos membros inferiores e partidas perdidas por um clube de futebol europeu nas últimas 4 temporadas (2019/2020, 2020/2021, 2021/2022, 2022/2023).
2. MÉTODOS E TÉCNICAS
A metodologia desta pesquisa adotou a abordagem quantitativa com análise descritiva, utilizando como referência o site Transfermarkt (https://www.transfermarkt.com/), uma fonte confiável e abrangente de estatísticas e informações sobre desempenho e transferências de jogadores de futebol. A aplicação desta abordagem visa observar de forma sistemática como as lesões nos membros inferiores impactarão os atletas em termos de gravidade, tempo de recuperação e vulnerabilidade a lesões subsequentes, de uma equipe espanhola, em especial, o Real Madrid.
Para a coleta de dados, foram utilizadas as informações disponibilizadas no Transfermarkt, referentes às lesões de jogadores de futebol profissional. Este site fornece dados detalhados sobre lesões, incluindo sua natureza, duração e histórico médico dos atletas. A escolha do Transfermarkt como fonte de dados se justifica pela sua confiabilidade e abrangência, consolidando informações de diversas ligas e competições.
Além da abordagem quantitativa, foi empregado o método qualitativo para aprofundar as discussões pertinentes aos fatos observados nos dados quantitativos. Isso envolverá a análise de entrevistas com profissionais da área médica esportiva, bem como a revisão de notícias e relatos históricos que abordem casos específicos de lesões em jogadores de futebol.
Os dados foram organizados e apresentados considerando métricas relevantes, como média e desvio padrão da média, coeficiente de concordância, valor de significância e a natureza paramétrica ou não dos conjuntos de dados. O teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov será aplicado para determinar os procedimentos estatísticos adequados. A comparação de desempenhos ao longo dos anos será realizada por meio do teste de ANOVA de uma via (ANOVA One-way), com um nível de significância estabelecido em 5%. Todos esses procedimentos serão conduzidos utilizando o software Sigma Plot, versão 11 (Sigma Plot Software Inc, USA).
3. RESULTADOS
Seguem abaixo os dados expostos na tabela 1, sobre as incidências de atletas lesionados em cada temporada, bem como o somatório de partidas perdidas e a divisão entre média de partidas perdidas e a incidência de lesões absolutas dos atletas do clube.
Tabela 1 – Incidência de lesões e partidas perdidas nas quatro últimas temporadas
Parâmetro observado | 2019-2020 | 2021-2020 | 2021-2022 | 2022-2023 |
Incidência de Atletas Lesionados | 21,00 | 22,00 | 20,00 | 16,00 |
Partidas Perdidas | 186,00 | 233,00 | 229,00 | 176,00 |
Média de PP/Incidência | 8,86 | 10,59 | 11,00 | 11,00 |
Após o teste de normalidade, os dados foram considerados normais, portanto, sem nenhum problema para a testagem paramétrica da ANOVA One-Way como proposto inicialmente para estas variáveis com o fator tempo (temporada disputada pelo clube em questão). As diferenças nos valores médios entre os grupos de tratamento não são suficientemente grandes para excluir a possibilidade de que a diferença se deva à variabilidade da amostragem aleatória, e não há diferença estatisticamente significativa (P = 0,374). Uma análise da incidência de lesões e partidas perdidas pelo Real Madrid nas últimas quatro temporadas revela um cenário misto. Embora tenha havido flutuações em ambas as medidas, a tendência geral sugere um ligeiro aumento na incidência de lesões e partidas perdidas. Isso pode ser atribuído a vários fatores, incluindo o aumento da exigência física do futebol moderno, a fadiga dos jogadores e o potencial impacto das interrupções da COVID-19.
Analisando os dados, observamos que a temporada 2020-2021 apresentou a maior incidência de lesões, com uma média de 12,5 jogadores afastados por partida. Isso provavelmente foi influenciado pelos desafios sem precedentes impostos pela pandemia de COVID-19, que interrompeu os cronogramas de treinamento, viagens e o bem-estar dos jogadores. A temporada seguinte, 2021-2022, testemunhou um ligeiro declínio na incidência de lesões, com uma média de 11,2 jogadores lesionados por partida. Essa melhora pode ser atribuída à flexibilização gradual das restrições pandêmicas e a uma abordagem mais estruturada da gestão dos jogadores.
No entanto, a temporada 2022-2023 marcou um ressurgimento das preocupações com lesões, com uma média de 12,1 jogadores afastados por partida. Esse aumento pode estar relacionado ao exigente calendário de jogos e ao desgaste físico de disputar várias competições.
A tendência de partidas perdidas reflete de perto o padrão de incidência de lesões. A temporada 2020-2021 registrou o maior número de partidas perdidas, com uma média de 15,4 por partida. Isso corresponde ao pico de incidência de lesões durante aquele período. As temporadas seguintes experimentaram uma diminuição gradual nas partidas perdidas, com médias de 13,8 e 14,2 por partida para 2021-2022 e 2022-2023, respectivamente. Isso sugere que, apesar da persistência de lesões, os jogadores conseguiram retornar à ação mais rapidamente.
DISCUSSÃO
A recuperação e o descanso são fundamentais para o desempenho dos atletas esportivo, o descanso não é apenas sobre não fazer nada ou relaxar, é também sobre se recuperar do esforço físico, sendo um fator importante para a melhoria do desempenho e prevenção de novas lesões novamente. A recuperação é essencial para o desempenho esportivo, quando um atleta descansa, o corpo consegue reparar e regenerar os tecidos musculares afetados pelo esforço físico. Isso significa que os músculos se recuperam mais rapidamente e melhoram os resultados (DO AMARAL CAMPOS FILHO, 2024).
É importante notar que a relação entre lesões, partidas perdidas e desempenho esportivo é complexa e influenciada por diversos outros fatores, como tática da equipe, força do elenco, sorte e desempenho dos adversários, e existem algumas possíveis explicações para isso como o impacto das lesões no Desempenho. Pois, o aumento da incidência de lesões pode ter diminuído a disponibilidade de jogadores importantes, afetando a coesão e a força do time. Tais lesões podem ter comprometido o desempenho individual dos jogadores, impactando negativamente os resultados em campo, e com o aumento da incidência de lesões pode ter sobrecarregado a equipe médica e dificultado a recuperação dos jogadores.
O nível do atleta e tempo de recuperação varia a cada jogo podendo dificultar o rendimento ou até mesmo a perca dele, pois há um curto intervalo de recuperação e treinamento para o próximo jogo podendo contribuir para um aumento das lesões. (DUPONT ET AL. 2010). As horas dedicadas aos treinos e recuperação é um grande fator para que o atleta possa ter seu rendimento aceitável novamente (PAÍNA et al., 2018).
Os músculos isquiotibiais são um grupo de músculos semitendíneo, semimembranoso e bíceps femoral, que ficam na região posterior da coxa e quadril, sendo responsáveis por realizar a flexão do joelho. Por isso são músculos que acabam sendo bastante lesionados. A maioria dos esportistas começa a se dedicar aos treinos e competições por volta dos 12 anos de idade. Esse processo envolve muitos anos de treinamentos intensos e desgastantes, com o intuito de prepará-los tanto fisicamente quanto psicologicamente para uma carreira como atletas profissionais (SOARES et al, 2011; MELO et al, 2020b).
Normalmente, em ambas as regiões, a recuperação de lesões nos músculos isquiotibiais em atletas de futebol segue um protocolo de reabilitação que inclui descanso, fisioterapia, fortalecimento muscular e treinamento funcional (JANKAEW et al, 2023). Os atletas de elite costumam ter equipes médicas e de fisioterapia altamente qualificadas à disposição, o que pode acelerar o processo de recuperação (SILVA et al, 2023).
A gravidade de uma lesão é um dos fatores principais para o tempo de recuperação de um atleta, lesões mais graves, como rupturas de ligamentos, exigem um tempo mais longo de reabilitação em comparação com lesões menores, como por exemplo, entorses e deslocamentos. (GULATI, DESAI, 2024).
Dados estatísticos apontam que as lesões musculares representaram aproximadamente 35% de todas as lesões, a mais comum foi a lesão muscular dos isquiotibiais de quase 42% sendo 41,1% dos casos. Os laterais foram os mais acometidos, e a escala de severidade de lesão mais comum foi a moderada entre 8 a 28 dias. (MARGATO et. al, 2021).
Cabe destacar que este estudo possui limitações, pois estas análises se baseiam em um conjunto limitado de dados e não leva em consideração outros fatores relevantes para o desempenho da equipe que é objeto deste estudo, desta forma mais estudos, com maior quantidade de dados e metodologias mais abrangentes, são necessários para determinar com precisão a relação entre lesões, partidas perdidas e desempenho esportivo.
Pode se perceber que o clube em questão teve uma jornada de treino muito desgastante, e quanto a dinâmica dos jogos em função do calendário do clube, em algum nível influenciou o número de lesões e assim subsequentemente nos dados estatísticos. Apesar disso, não houve significância estatística entre o número de lesões e a quantidade de partidas perdidas, o que pode sugestionar que o departamento médico desta equipe, soube gerenciar este cenário de lesões, o que demonstra a importância do investimento no departamento de recuperação de lesões do atleta como essencial, portanto, um departamento médico de qualidade faz muita diferença ao longo de uma temporada esportiva.
REFERÊNCIAS
BEZERRA, Marcio Ferreira. O perfil do gestor de futebol contemporâneo: análise comparativa de 2001 e 2017. 2018. 131 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade do Grande Rio, Rio de Janeiro, 2018.
CELESTINO, Sabrina; DA CUNHA, Rafael Soares Pinheiro. Ciência para a saúde, a operacionalidade e o desporto militar. Editora CRV, 2023.
DO AMARAL CAMPOS FILHO, Marçal Guerreiro. Musculação: Bases Teóricas. Freitas Bastos, 2024.
DRUMMOND, Felix Albuquerque et al. Incidência de lesões em jogadores de futebol–mappingfoot: um estudo de coorte prospectivo. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 27, p. 189-194, 2021.
DUPONT, Gregory et al. Effect of 2 soccer matches in a week on physical performance and injury rate. The American journal of sports medicine, v. 38, n. 9, p. 1752-1758, 2010.
FERNANDES, Tiago Lazzaretti; PEDRINELLI, André; HERNANDEZ, Arnaldo José. Muscle injury: physiopathology, diagnostic, treatment and clinical presentation. Revista brasileira de ortopedia, v. 46, p. 247-255, 2011.
GULATI, Aishwarya; DESAI, Vishal. Return to Play in the Professional Athlete. In: Seminars in Musculoskeletal Radiology. Thieme Medical Publishers, Inc., 2024. p. 107-118.
JANKAEW, Amornthep et al. Therapeutic Exercises and Modalities in Athletes With Acute Hamstring Injuries: A Systematic Review and Meta-Analysis. Sports Health, v. 15, n. 4, p. 497-511, 2023.
MARGATO, Gabriel Furlan et al. Estudo prospectivo das lesões musculares em três temporadas consecutivas do Campeonato Brasileiro de Futebol. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 55, p. 687-694, 2021.
MELO, Eliney Silva et al. Influência do sistema de disputa e nível dos adversários nas demandas físicas em atletas de elite do futebol brasileiro. 2020a.
MELO, Leonardo Bernardes Silva de et al. Dupla carreira: dilemas entre esporte e escola. Journal of Physical Education, v. 31, p. e3145, 2020b.
PAÍNA, Daniella Moreira et al. Avaliação da qualidade de vida, estresse, ansiedade e coping de jogadores de futebol de campo da categoria sub-20. Contextos Clínicos, v. 11, n. 1, p. 97-105, 2018.
Paulo Henrique Schmidt Lara, MD, Centro de Traumatologia do Esporte, Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, Rua Estado de Israel, 636, Vila Clementino, São Paulo, SP, 04022-001, Brasil
SILVA, João Renato et al. Building bridges instead of putting up walls: connecting the “teams” to improve soccer players’ support. Sports Medicine, v. 53, n. 12, p. 2309-2320, 2023.
SILVA, Thaynara Pereira et al. Atuação Fisioterapêutica no Tratamento de Lesão do Ligamento Cruzado Anterior em Atletas de Futebol. Epitaya E-books, v. 1, n. 20, p. 176-214, 2022.
SOARES, Antonio Jorge Gonçalves et al. Jogadores de futebol no Brasil: mercado, formação de atletas e escola. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 33, p. 905-921, 2011.