SMILE PHOTO ANALYSIS AS A METHOD OF IDENTIFICATION IN FORENSIC ANTHROPOLOGY
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7646014
Evanio da Silva
Bárbara Fernanda Nunes de Albuquerque Soares
Gerciano Monteiro de Carvalho
Aquila de oliveira Afonso
Michelle Carregosa Andrade
Tiago José Nascimento de Souza
Melryenee Ferreira Dutra Belizario
Grace Kelly Martins Carneiro
Thamires do Prado Cintra
Mayara Medeiros Lima de Oliveira
Vanessa Gonçalves Massaranduba
Felipe Rafael da Cunha Araújo
Anderson Dilly de Medeiros
RESUMO
A identificação de corpos humanos carbonizados, mutilados ou esqueletizados ou em processo de decomposição, através da análise das características dentárias é uma tarefa recorrente para o departamento de medicina legal. Assim, é necessário que especialistas busquem dos familiares qualquer tipo de documentação odontológica que contenha diversas características que permitam a identificação do indivíduo. Nesse sentido, este estudo visa revisar a literatura acerca da análise da fotografia do sorriso como método de identificação em antropologia. Para a construção deste artigo foi realizado um levantamento bibliográfico nas bases de dados SciVerse Scopus, Scientific Eletronic Library Online (Scielo), U.S. National Library of Medicine (PUBMED) e ScienceDirect, com auxílio do gerenciador de referências Mendeley. Os artigos foram contemplados entre os anos de 2000 a 2022. Na odontologia legal, novos métodos de identificação devem ser buscados para acomodar a evolução tecnológica, principalmente na ausência de métodos tradicionais de comparação, como prontuários clínicos e radiografias. Fotografias pessoais podem servir como auxílio para reconhecimento de corpos humanos. Apesar disso, ainda existem inúmeras limitações quanto a utilização de fotografias de sorriso para identificação de corpos humanos.
Palavras-chave: Odontologia legal; Identificação; Borda incisal; Fotografia de sorriso.
SUMMARY
The identification of charred, mutilated or skeletonized human bodies or in the process of decomposition, through the analysis of dental characteristics is a recurring task for the department of forensic medicine. Thus, it is necessary for specialists to seek from family members any type of dental documentation that contains several characteristics that allow the identification of the individual. In this sense, this study aims to review the literature on the analysis of smile photography as an identification method in anthropology. For the construction of this article, a bibliographical survey was carried out in the databases SciVerse Scopus, Scientific Electronic Library Online (Scielo), U.S. National Library of Medicine (PUBMED) and ScienceDirect, with the help of the Mendeley reference manager. The articles were contemplated between the years 2000 to 2022. In forensic dentistry, new identification methods must be sought to accommodate technological evolution, especially in the absence of traditional methods of comparison, such as clinical records and radiographs. Personal photographs can serve as an aid to the recognition of human bodies. Despite this, there are still numerous limitations regarding the use of smile photographs to identify human bodies.
Keywords: Forensic dentistry; Identification; incisal edge; Smile photography.
1. Introdução
A identificação de corpos humanos carbonizados, mutilados ou esqueletizados ou em processo de decomposição, através da análise das características dentárias é uma tarefa recorrente para o departamento de medicina legal. Assim, é necessário que especialistas busquem dos familiares qualquer tipo de documentação odontológica que contenha diversas características que permitam a identificação do indivíduo (CATTANEO; GIBELLI, 2013).
A identificação humana em que o corpo é mole os tecidos foram destruídos normalmente necessita de abordagem multidisciplinar, na qual a odontologia forense, antropologia forense e biologia molecular – a partir de estudos de DNA – são os mais eficazes no estabelecimento entre um corpo recuperado e a identidade de uma pessoa desaparecida (REESU et al., 2020).
Alguns dispositivos de alta tecnologia permitem a relação entre os dados de forma mais rápida e fidedigna. Especificamente, a comparação direta dos traços morfológicos dentários, a sobreposição dentária e a análise dos contornos incisais dos dentes anteriores são técnicas comumente aplicadas com validação científica (ROTHWELL, 2001).
A base para o processo de identificação odontológica consiste na comparação entre dados ante mortem e post-mortem (PM). Entretanto, em alguns casos, as vítimas não possuem documentos de atendimentos odontológicos, o que torna necessária a busca de dados antemortem em pertences pessoais. A forma mais comum para extrair informações e permitir a identificação do indivíduo é a partir de fotografias de sorriso. Dessa forma, o presente estudo visa revisar a literatura acerca da análise da fotografia de sorriso como método de identificação em antropologia (SANTORO et al., 2019).
Nos dias atuais, os odontologistas Forenses têm investigado peculiaridades em fotografias de falecidos, nas quais incluem fotografias de sorriso, a partir de técnicas de sobreposição. Essa técnica, conhecida como “análise de sorriso” utiliza-se de softwares bidimensionais e tridimensionais (MIRANDA et al., 2016).
Para esses casos, ao chegar no necrotério, os profissionais odontologistas forenses são recomendados a documentar seus casos, a partir de fotografias e marcando a dentição do falecido em perfis frontal, lateral esquerdo/direito, vistas oclusais maxilares e mandibulares, juntamente com as vistas palatinas/linguais dos dentes para observar possíveis tratamentos dentários, como restauração e outros traços distintivos nessas superfícies. Considerando dados AM, fotografias de sorriso e selfies do indivíduo tiradas de mídias sociais (SM), lembranças de família e imagens de vídeo podem ser usadas para auxiliar na identificação de um indivíduo (MIRANDA et al., 2016).
Nesse sentido, este estudo visa revisar a literatura acerca da análise da fotografia do sorriso como método de identificação em antropologia.
2. Metodologia
Refere-se a uma revisão integrativa de literatura, de caráter qualitativo. A revisão de literatura permite a busca aprofundada dentro de diversos autores e referenciais sobre um tema específico, nesse caso análise da fotografia do sorriso como método de identificação em antropologia (PEREIRA et al., 2018).
Sendo assim, para a construção do presente artigo, foi estabelecido um roteiro metodológico baseado em seis fases, a fim de nortear a estrutura de uma revisão integrativa, sendo elas: elaboração da pergunta norteadora, organização dos critérios de inclusão e exclusão e a busca na literatura, caracterização dos dados que serão extraídos em cada estudo, análise dos estudos incluídos na pesquisa, interpretação dos resultados e apresentação da revisão.
Buscas avançadas foram realizadas em estratégias detalhadas e individualizadas em quatro bases de dados: SciVerse Scopus (https://www-scopus.ez43.periodicos.capes.gov.br/), Scientific Eletronic Library Online – Scielo (https://scielo.org/), U.S. National Library of Medicine (PUBMED) (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/) e ScienceDirect (https://www-webofknowledge.ez43.periodicos.capes.gov.br/), com auxílio do gerenciador de referência Mendeley. Os artigos foram coletados no mês de dezembro de 2022 e contemplados entre os anos de 2000 a 2022.
A estratégia de pesquisa desenvolvida para identificar os artigos incluídos e avaliados para este estudo baseou-se em uma combinação apropriada de termos MeSH (www.nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html), nos idiomas português e inglês. O protocolo de pesquisa completo para as diferentes bases de dados é exibido na tabela 2.
Tabela 1 – Procura estratégica na base de dados
Fonte: autoria própria, 2022.
Considerou-se como critério de inclusão os artigos completos disponíveis na íntegra nas bases de dados citadas, nos idiomas inglês e português e relacionados com o objetivo deste estudo. Os critérios de exclusão foram artigos incompletos, duplicados, resenhas, estudos in vitro e resumos.
A estratégia de pesquisa baseou-se na leitura dos títulos para encontrar estudos que investigassem a temática da pesquisa. Caso atingisse esse primeiro objetivo, posteriormente, os resumos eram lidos e, persistindo na inclusão, era feita a leitura do artigo completo. Na sequência metodológica foi realizada a busca e leitura na íntegra dos artigos pré-selecionados, os quais foram analisados para inclusão da amostra.
3. Resultados e Discussão
Com base na revisão de literatura feita nas bases de dados eletrônicas citadas, foram identificados 1045 artigos científicos, dos quais 187 estavam duplicados com dois ou mais índices. Após a leitura e análise do título e resumos dos demais artigos, outros 790 foram excluídos. Assim, 68 artigos foram lidos na íntegra e, com base nos critérios de inclusão e exclusão, apenas 18 artigos foram selecionados para compor este estudo. O fluxograma com detalhamento de todas as etapas de seleção está na figura 1.
Figura 1 – Fluxograma de identificação e seleção dos estudos
Fonte: Autoria própria, 2022.
A utilização de fotografias de sorrisos é uma alternativa valiosa e de baixo custo para as investigações de identidade. As fotografias do sorriso revelam identificadores únicos, como a morfologia, arranjo e patologias dos dentes anteriores, especialmente em visualizações de close-up. Dentre esses identificadores, a morfologia dentária é o mais citado durante a análise das fotografias do sorriso, representando 83,3% em relação aos demais identificadores, consequentemente desempenhando um papel valioso como ferramenta de identificação (SILVA et al., 2008).
A dentição de um indivíduo apresenta características biométricas que as tornam úteis para identificação por fotografia AM e PM. Dessa forma, um registro fotográfico que contenha os dentes anteriores expostos possui pontos de referências que podem ser estabelecidos para tal comparação. As principais características para identificação que são visíveis em uma fotografia do sorriso incluem a forma da coroa, características morfológicas, tamanho, largura, contorno, perfil facial, anomalias dentárias, distâncias e alinhamento entre os dentes (REESU; BROWN, 2022).
Em estudo realizado por Miranda et al. (2016) mostrou ser possível realizar a identificação positiva de um corpo carbonizado a partir de fotografias de sorriso de diferentes ângulos. Além disso, os autores relatam a importância de tirar fotografias PM nas mesmas orientações das fotografias AM. Dessa forma, a utilização de fotografias AM é essencial quando se tira fotos PM, pois a angulação da fotografia deve ser reproduzida nos eixos X, Y e Z para que a comparação seja feita de forma correta e precisa.
Da mesma forma, Silva et al. (2008), relataram diferentes casos na qual a utilização de fotografias e comparação AM/PM possibilitou determinar a identificação de corpos humanos não identificados, tanto para o sexo feminino quanto para o masculino. Nesses casos, algumas características do indivíduo foram analisadas, tais como estado dentário e características anatômicas ao redor dos arcos dentários.
A identificação de pessoas desaparecidas pode ser realizada a partir de comparação de dados dentário AM/PM, além de dados obtidos em registros fotográficos mostrando a arcada dentária que podem ser coletados por familiares, internet e outros.
Algumas características devem ser chamadas atenção no momento de comparação entre AM/PM, tais como diastema, dentes torcidos/inclinados, rotações e transposições dentárias, falta de dentes, dentes supranumerários, apinhamento de dentes, tamanho dos dentes, hipoplasia do esmalte, anomalias labiais, presença de próteses fixas, descolorações de coroas dentárias, piercings dentários ou cutâneos podem estar presentes no perfil de pessoas desaparecidas e podem ser verificados durante a autópsia dentária do cadáver não identificado.
Dadas tais características as fotos de sorriso apresentam-se de grande valor para obter informações odontológicas e permitir o reconhecimento de corpos humanos, principalmente em casos onde não há registro técnico odontológico AM.
Com o intuito de facilitar o reconhecimento de corpos humanos a partir de fotografias de sorriso Nuzzolese et al. (2018), propuseram um aplicativo chamado “Selfie Forensic ID”, na qual a ideia é conter fotografias faciais e de sorriso como arquivo de dados odontológicos e características dentárias de pessoas desaparecidas, na quais serão compartilhadas nas mídias sociais – como Instagram, Tumblr e Twitter Social Networks.
Dessa forma, reconhecendo o quanto a habilidade odontológica pode modificar o sorriso é importante ressaltar a importância de um Cirurgião-dentista para registrar e datar todos os procedimentos odontológicos realizados em determinado paciente, a partir do prontuário, digital ou não. Da mesma forma, salienta-se a necessidade de anexar os exames complementares realizados, sobretudo as radiografias intrabucais, visto que elas oferecem preciosas informações acerca da anatomia dentária do paciente (FERNANDES et al., 2017)..
Entretanto, embora haja grandes vantagens pelo uso da técnica de comparação AM/PM a partir de fotografias de sorriso, algumas desvantagens também são citadas: visão limitada de dentes visíveis em um registro fotográfico, baixa qualidade de imagens e dificuldade em realizar comparações que permitam a identificação de um corpo humano. Além disso, os dentes também sofrem alterações com o passar dos anos, o que pode ser um fator complicador para a identificação e comparação AM/PM (FERNANDES et al., 2017).
Em casos de vítimas com ausência de dentes, as informações para uso na identificação pessoal com base em métodos disponíveis na odontologia legal é muito mais limitado do que em casos de vítimas dentadas. Nesses casos, as rugas palatinas têm sido consideradas relevantes para a identificação humana devido à sua estabilidade, que é equivalente à impressão digital. As rugas palatinas parecem possuir as características de um parâmetro de identificação forense ideal, ou seja, singularidade, post mortem resistência e estabilidade (JAIN; CHOWDHARY, 2014).
4. Considerações Finais
Na odontologia legal, novos métodos de identificação devem ser buscados para acomodar a evolução tecnológica, principalmente na ausência de métodos tradicionais de comparação, como prontuários clínicos e radiografias. Fotografias pessoais podem servir como auxílio para reconhecimento de corpos humanos.
Apesar disso, ainda existem inúmeras limitações quanto a utilização de fotografias de sorriso para identificação de corpos humanos.
Referências
CATTANEO, C.; GIBELLI, D. Identification. In: SIEGEL, J. A.; SAUKKO, P. J.; HOUCK, M. M. B. T.-E. OF F. S. (SECOND E. (Eds.). Encyclopedia of Forensic Sciences. Waltham: Academic Press, 2013. p. 158–165.
CHAVES CARDOSO FERNANDES, L. et al. Identificação odontológica post-mortem por meio de fotografias do sorriso: revisão de literatura. Rev Bras Odontol Leg RBOL, v. 4, n. 3, p. 57, 2017.
JAIN, A.; CHOWDHARY, R. Palatal rugae and their role in forensic odontology. Journal of investigative and clinical dentistry, v. 5, n. 3, p. 171–178, ago. 2014.
MIRANDA, G. E. et al. An unusual method of forensic human identification: use of selfie photographs. Forensic Science International, v. 263, p. e14–e17, 2016.
NUZZOLESE, E.; LUPARIELLO, F.; DI VELLA, G. Selfie identification app as a forensic tool for missing and unidentified persons. Journal of forensic dental sciences, v. 10, n. 2, p. 75–78, 2018.
PEREIRA, A. et al. Método Qualitativo, Quantitativo ou Quali-Quanti. [s.l: s.n.].
REESU, G. V. et al. Forensic dental identification using two-dimensional photographs of a smile and three-dimensional dental models: A 2D-3D superimposition method. Forensic science international, v. 313, p. 110361, ago. 2020.
REESU, G. V.; BROWN, N. L. Application of 3D imaging and selfies in forensic dental identification. Journal of forensic and legal medicine, v. 89, p. 102354, jul. 2022.
ROTHWELL, B. R. Principles of dental identification. Dental clinics of North America, v. 45, n. 2, p. 253–270, abr. 2001.
SANTORO, V. et al. Personal identification through digital photo superimposition of dental profile: a pilot study. The Journal of forensic odonto-stomatology, v. 3, n. 37, p. 21–26, dez. 2019. SILVA, R. F. et al. Forensic odontology identification using smile photograph analysis–case reports. The Journal of forensic odonto-stomatology, v. 26, n. 1, p. 12–17, jun. 2008.