ANALYSIS OF HANDGRIP STRENGTH AS A MULTIMORBIDITY DISCRIMINATOR IN ELDERLY WEIGHTLIFTING PRACTITIONERS
REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.7942115
Ademir de Sousa Morais Filho
Gabriel Vidal Oliveira
Joao Victor Amorim Mapurunga
Aureliano Machado de Oliveira
RESUMO
O envelhecimento da população é uma realidade em diversos países, incluindo o Brasil, e está relacionado ao aumento da expectativa de vida e à diminuição da taxa de natalidade. Com isso, há um aumento do número de idosos e, consequentemente, um aumento das doenças crônicas não transmissíveis, que levam à multimorbidade. O conceito de envelhecimento saudável é importante para que os idosos possam ter uma melhor qualidade de vida e reduzir os efeitos da multimorbidade. A prática de atividades físicas é um fator importante nesse contexto e, portanto, é relevante avaliar a força de preensão manual como um indicador de saúde em idosos praticantes de musculação. O objetivo deste trabalho é verificar a associação entre a força de preensão manual e a multimorbidade em idosos praticantes de musculação em uma academia de ginástica na cidade de Teresina. Este é um estudo que envolve diferentes campos de estudo, como transversal, experimental, de campo, descritivo e quantitativo. Foi realizado em uma academia de ginástica em Teresina, no Piauí, Brasil, com uma população de 79 idosos praticantes de musculação. Os dados foram coletados em março de 2023 usando o Questionário Internacional de Atividade Física e o teste de força de preensão manual, e foram armazenados e analisados no software Microsoft Excel 2010 e Epi Info versão 6.04, respectivamente. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário da Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí – Uninovafapi (CAAE: 61749422.0.0000.5210) e os participantes voluntários assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em conformidade com as Resoluções n° 466/2012 e nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. Os resultados evidenciaram que a maioria dos participantes era do sexo feminino e tinha entre 60 e 69 anos, com metade relatando pelo menos uma comorbidade. Os homens apresentaram uma força de preensão manual significativamente maior que as mulheres. Esses resultados sugerem que a prática de musculação pode ser benéfica para preservar a força muscular em idosos, contribuindo para melhorar a saúde e a qualidade de vida.
Palavras-chave: Idoso; Multimorbidade; Exercício Físico; Treinamento de Força.
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, a sociedade está em meio a uma transformação significativa em vários aspectos, incluindo aspectos humanos, sociais e tecnológicos. Segundo a definição da World Health Organization (WHO), as pessoas com 60 anos ou mais são consideradas idosas, e é previsto que até 2025, o Brasil se torne o sexto país do mundo com o maior número de idosos. Além disso, a expectativa de vida no país também tem aumentado significativamente.1
No panorama mundial, têm-se que, segundo o relatório World Population Prospects 2022, da Organização das Nações Unidas, a expectativa de vida global em 2019 foi de 72,8 anos, um aumento de quase nove anos em relação a 1990. A projeção é que a população idosa alcance 994 milhões até 2030 e 1,6 bilhão até 2050.2
Ao passar por esses processos de transformação, o Brasil enfrentará uma grande mudança na situação social e econômica. O país registra uma queda considerável nos índices de natalidade se comparado à décadas passadas, e junto à isso, nota-se também, uma diminuição acentuada dos níveis de mortalidade. Isso implica diretamente em um déficit do aumento do contingente populacional e, consequentemente, a população vem alcançando idades cada vez mais avançadas e causas de morte relacionadas a doenças típicas do envelhecimento.3
O conceito de envelhecimento saudável não se aplica apenas aos idosos completamente saudáveis. Portadores de doenças crônicas também podem trabalhar para desenvolver menos restrições devido à idade e melhorar a funcionalidade, além de adquirir habilidades que lhes permitam envelhecer da melhor forma possível. Essa abrangência do termo “envelhecimento saudável” o torna relevante para toda a população idosa, como definido pela WHO.4
Partindo desse pressuposto, os idosos relacionam o envelhecimento saudável a mudanças comportamentais e de hábitos de vida, como a abstinência de álcool e tabaco, uma dieta equilibrada e a prática regular de atividades físicas. Todas essas mudanças comportamentais são fatores de proteção e apoio no controle de doenças crônicas não transmissíveis, que são a principal causa de morte em idosos e levam a quadros de multimorbidade (MMB), como acidente vascular cerebral, doença pulmonar obstrutiva crônica e doença cardíaca isquêmica.5
A MMB se refere à presença de duas ou mais doenças crônicas metabólicas que afetam diretamente a saúde do indivíduo. Tornando-se um grande desafio para os sistemas de saúde com vários aumentos nos custos de cuidados ligados a saúde em geral.6,7 Estudos recentes têm apontado que a MMB está associada a uma baixa qualidade de vida, redução da capacidade funcional e influência direta no aumento da morbidade e mortalidade.8
Nesse sentido, em virtude da escassez e a possibilidade de novos métodos indiretos que possam auxiliar no desenvolvimento de novas evidências com força de preensão manual, este trabalho tem como objetivo verificar a associação de força de preensão manual com multimorbidades em idosos praticantes de musculação em uma academia de ginástica na cidade Teresina.
2 MÉTODO
O seguinte tipo de estudo possui elementos de vários campos de estudo, como estudo transversal, experimental, de campo, descritivo e quantitativa. O estudo transversal é uma modalidade descritiva de pesquisa que fornece informações sobre uma população em um momento específico no tempo.9 O estudo experimental manipula as variáveis de maneira preestabelecida para permitir uma melhor compreensão do grupo estudado.10 A pesquisa de campo visa aprofundar o conhecimento sobre uma realidade específica, enquanto a pesquisa quantitativa utiliza a quantificação para coleta de informações e tratamento de dados.11,12 Por fim, a pesquisa descritiva tem como objetivo descrever as características de determinadas populações ou fenômenos, utilizando técnicas padronizadas de coleta de dados.11
A pesquisa foi desenvolvida em uma academia de ginástica localizada na cidade de Teresina, capital do Estado do Piauí, na região Nordeste do Brasil. Atualmente, a instituição conta com 79 idosos regularmente matriculados. A população da pesquisa engloba idosos, acima de 60 anos, de ambos os gêneros, praticantes de musculação em determinada academia de ginástica. Para o cálculo da amostra, usou-se a fórmula n = (z2.0,25.N)/(E2(N-1)+z2.0,25) = (1,962 . 0,25 . 79)/(0,06242 . 78+1,962 . 0,25) = 60, na qual “z” é o valor crítico, “E” a margem de erro e “N” o tamanho da população, considerando o grau de confiança de 95% (z=1,96), margem de erro E=5% e N=79. Portanto, a aplicação da fórmula resultou na amostra de 60 idosos.
Foram incluídos idosos de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 60 anos e que pratiquem musculação há pelo menos 3 meses. Não foram elegíveis aqueles que possuem anemia grave, doenças osteomioarticulares que impossibilitem a realização da dinamometria ou interfiram nos resultados, além de indivíduos que não concordaram em participar da pesquisa ou não receberam autorização médica para tal.
Os dados foram coletados no mês de Março de 2023 pelos pesquisadores. Para coletar as informações necessárias, os pesquisadores desenvolveram um questionário que incluiu perguntas sobre o sexo, idade e se o participante tinha alguma morbidade referida, sendo que, em caso afirmativo, foi questionado qual era essa morbidade. A variável multimorbidade foi definida como a presença simultânea de duas ou mais doenças crônicas em um mesmo indivíduo. Em seguida, foi aplicado o Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) e realizado o teste de força de preensão manual.
O IPAQ foi proposto por um grupo de pesquisadores em uma reunião científica organizada pela Organização Mundial de Saúde e pretende servir como um instrumento mundial para determinar o nível de atividade física em nível populacional. Trata-se de um questionário que possibilita a avaliação do tempo semanal dedicado a atividades físicas de intensidade moderada e vigorosa, em diversos contextos da rotina, como trabalho, transporte, tarefas domésticas e lazer, além de permitir a identificação do tempo gasto em atividades passivas realizadas na posição sentada.13 (BENEDETTI et al., 2007).
O questionário possui uma versão longa e uma versão curta. A versão utilizada nesta pesquisa foi a curta, que consiste em sete questões abertas, que viabilizam a estimativa do tempo gasto por semana em atividade física pelos idosos. Além disso, tem a capacidade de medir diferentes graus de intensidade no exercício, como esforços físicos de intensidade moderada, vigorosa, e também o tempo e nível de inatividade física.13
A classificação do nível de atividade física de acordo com a orientação do próprio IPAQ, que divide e conceitua as categorias, foi realizado da seguinte forma: Sedentário – não realiza nenhuma atividade física por pelo menos 10 minutos contínuos durante a semana; Insuficientemente Ativo – consiste em classificar os indivíduos que praticam atividades físicas por pelo menos 10 minutos contínuos por semana, porém de maneira insuficiente para ser classificado como ativos. Para classificar os indivíduos nesse critério, são somadas a duração e a frequência dos diferentes tipos de atividades (caminhadas + moderada + vigorosa). Essa categoria divide-se em dois grupos: Insuficientemente Ativo A – realiza 10 minutos contínuos de atividade física, seguindo pelo menos um dos critérios citados: frequência – 5 dias/semana ou duração – 150 minutos/semana; Insuficientemente Ativo B – não atinge nenhum dos critérios da recomendação citada nos indivíduos insuficientemente ativos A; Ativo – cumpre as seguintes recomendações: a) atividade física vigorosa – ≥ 3 dias/semana e ≥ 20 minutos/sessão; b) moderada ou caminhada – ≥ 5 dias/semana e ≥ 30 minutos/sessão; c) qualquer atividade somada: ≥ 5 dias/semana e ≥ 150 min/semana; Muito Ativo – cumpre as seguintes recomendações: a) vigorosa – ≥ 5 dias/semana e ≥ 30 min/ sessão; b) vigorosa – ≥ 3 dias/semana e ≥ 20 min/sessão + moderada e ou caminhada ≥ 5 dias/semana e ≥ 30 min/sessão.
O teste de força de preensão manual foi utilizado para avaliar a força global dos idosos e realizado por meio de um dinamômetro manual e hidráulico SH SAEHAN, medindo a força em quilograma (KG)/F, conforme recomendação da American Society of Hand Therapists (ASHT). Três medidas foram realizadas e a média dessas medidas foi considerada para a análise da força de preensão manual.14
Os dados coletados foram armazenados e organizados no software Microsoft Excel 2010, com dupla revisão para minimizar possíveis erros. A análise estatística foi realizada utilizando o software Epi Info versão 6.04, considerando a média e desvio padrão dos dados.
O projeto encontra-se aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário da Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí – Uninovafapi (CAAE: 61749422.0.0000.5210), parecer nº 6.030.005. Os pesquisadores foram autorizados pela instituição parceira a realizar o estudo em suas instalações. Além disso, os pesquisadores assinaram uma declaração de compromisso.
Os participantes foram convidados, voluntariamente, a participarem e foram informados dos objetivos, riscos e benefícios da pesquisa, logo, aqueles que aceitaram, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), em duas vias. Desta forma, este estudo está em conformidade com todas as exigências estabelecidas na Resolução n° 466/2012, bem como na Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde.
4 RESULTADOS
A pesquisa contou com a participação de um total de 32 idosos, porém, houve uma perda de amostra devido à recusa de alguns participantes. Os motivos que justificaram essa recusa foram variados e incluíram falta de interesse no tema da pesquisa, falta de tempo ou outras prioridades pessoais.
Dos participantes, 13 eram do sexo masculino e 19 do sexo feminino, apresentando idade média de 67,5 ± 6,4 anos. Houve diferenças nas médias de idade entre os sexos avaliados, sendo que as mulheres apresentaram uma média de idade de 67,8 ± 5,7 anos e os homens apresentaram uma média de idade de cerca de 67,1 ± 7,5 anos.
A faixa etária mais predominante na amostra foi a de 60 a 69 anos, representando 59,38% dos participantes. A faixa etária seguinte foi a de 70 a 79 anos, que correspondia a 37,50% dos indivíduos. A faixa etária de 80 anos ou mais foi a menos representativa, perfazendo apenas 3,12% da amostra (Tabela 1).
Tabela 1. Características dos idosos participantes. Teresina, PI, Brasil, 2023.
Verificamos homogeneidade nos resultados em relação à presença de morbidades na amostra, com 50% dos participantes relatando possuir alguma morbidade e os outros 50% não apresentando morbidades. Observou-se que dentre os indivíduos que declararam ter morbidades, nove eram mulheres e sete eram homens. Dentre as morbidades referidas, foi identificado que três mulheres idosas relataram ter multimorbidade, incluindo Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e Diabetes Mellitus (DM), enquanto outras seis mulheres mencionaram ter apenas HAS. Por outro lado, entre os homens idosos, seis indivíduos mencionaram ter HAS e um apresentou Cardiopatia Congênita (Gráfico 1).
Gráfico 1. Morbidades referidas por sexo. Teresina, PI, Brasil, 2023.
A análise da força de preensão manual revelou diferenças significativas entre os sexos, com as mulheres idosas apresentando uma força global significativamente menor em comparação com os homens. Os dados de variação da força de preensão manual apresentam resultados diferentes em relação às características dos membros utilizados na pesquisa, as médias da FPM são maiores na MD do que na MND para ambos os gêneros, o que sugere que a mão dominante é geralmente mais forte do que a mão não dominante (Tabela 2).
Tabela 2. Média total com desvio padrão de força de preensão manual (KG/F) por sexo. Teresina, PI, Brasil, 2023.
Os dados indicam que, entre as mulheres, a média da força de preensão manual para a MD é de 19,4 kg/f, enquanto para a MND é de 17,4 kg/f. Já nos homens, a força de preensão manual é maior do que nas mulheres, sendo de 35,3 kg/f para a MD e cerca de 33,11 kg/f para a MND. Portanto, a diferença média na atuação de força entre homens e mulheres é de aproximadamente 15,9 kg/f para MD e 15,71 kg/f para MND, mostrando que em ambos os tipos os homens apresentam uma força média significativamente maior do que as mulheres (Gráfico 2).
Pode-se observar que há uma relação entre as morbidades e a FPM na MD e MND. A presença de HAS está associada a uma variação na FPM na MD e na MND, isso sugere que a HAS pode afetar a força muscular em diferentes maneiras, dependendo da mão em que é medida. Para a condição de “HAS+DM”, a média da FPM na MD é de 18,33 kg/f e na MND é de 14 kg/f. Essas médias são menores do que todas as outras condições presentes na Tabela 3, indicando que a presença de HAS e DM afetam negativamente a força de preensão manual em ambas as mãos.
Tabela 3. FPM média em kg/f em relação a diferentes morbidades. Teresina, PI, Brasil, 2023.
Em termos gerais, é possível observar que as mulheres, independentemente da presença de morbidades, apresentam valores menores de Força de Preensão Manual (FPM) em comparação com os homens. Isso sugere que existe uma diferença na força muscular da mão entre os sexos, que pode ser explicada por diferenças hormonais, musculares e anatômicas. Não foi possível calcular o desvio-padrão da cardiopatia congênita devido à presença de apenas uma amostra.
Tabela 4. FPM média em kg/f em relação a diferentes morbidades de acordo com o sexo. Teresina, PI, Brasil, 2023.
Em relação ao nível de atividade, de acordo com o IPAQ, na população analisada, pode-se observar que 50% é classificada como Ativa, 25% como Muito Ativa, 15,63% como Irregularmente Ativa B e 9,37% como Irregularmente Ativa A. É importante notar que nenhum participante foi classificado como Sedentário, o que é um bom indicativo de que a população analisada tem uma cultura de prática de atividade física, mesmo que alguns indivíduos não tenham um padrão regular de exercícios.
Dos 19 indivíduos do sexo feminino, 52,63% foram classificadas como Ativas, 26,31% como Muito Ativas, 10,53% como Irregularmente Ativas A e 10,53% como Irregularmente Ativas B. Já para os 13 indivíduos do sexo masculino, 46,15% são considerados Ativos, 23,08% são considerados Muito Ativos, 23,08% são classificados como Irregularmente Ativos B e 7,69% são classificados como Irregularmente Ativos A.
4 DISCUSSÃO
O presente estudo apresentou resultados importantes sobre a idade, a presença de morbidades, a força de preensão manual e o nível de atividade física em uma amostra de idosos. Os dados mostraram que a maioria dos participantes tinha entre 60 e 69 anos e eram mulheres. Além disso, foi observada uma homogeneidade na presença de morbidades na amostra, com metade dos participantes relatando pelo menos uma comorbidade.
A perda de FPM pode estar relacionada a várias doenças crônicas, incluindo hipertensão arterial, dores musculares, dificuldade na realização de atividades cotidianas, distúrbios do sono e incapacidade física geral.15,16 Além disso, a diminuição da força de preensão também pode afetar o equilíbrio dos idosos, aumentando o risco de quedas, que é a segunda principal causa de morte nessa população. Isso pode levar a complicações graves ou deixar sequelas, além de prejudicar a capacidade funcional dos idosos.17,18
Em nosso estudo, houve a presença de apenas três mulheres com multimorbidade, sendo sugestivo que o sexo feminino apresenta uma maior prevalência de MMB entre idosos, o que é consistente com os resultados de outras pesquisas.19,20,21 Uma explicação para essa disparidade é que as mulheres geralmente buscam mais os serviços de saúde e práticas preventivas e de promoção da saúde, além de terem uma maior atenção aos sintomas das doenças.19
Quando se trata de força de preensão manual, os resultados mostraram diferenças significativas entre os sexos, com os homens apresentando uma força significativamente maior do que as mulheres em ambas as mãos. Os resultados aqui encontrados coincidem com os de outras pesquisas.17,22 No entanto, é importante ressaltar que a força de preensão manual pode variar significativamente entre os indivíduos
Isso se dá devido a diferenças na composição muscular, tamanho corporal e níveis hormonais. Os homens tendem a ter uma maior quantidade de massa muscular e menos gordura corporal do que as mulheres, o que pode levar a uma maior força muscular.23
Além disso, os níveis mais elevados de testosterona nos homens também contribuem para uma maior força muscular em comparação às mulheres.24
A diminuição da força de preensão manual tem sido considerada como um sinal precoce de fragilidade, podendo se manifestar antes mesmo do surgimento de outras limitações funcionais.25 Um estudo de caráter populacional, realizado no âmbito do projeto Fragilidade em Idosos Brasileiros (FIBRA), analisou uma amostra de 689 indivíduos com idade igual ou superior a 65 anos, constatando uma média de 26,0 kgf de FPM.22 Quando comparado aos resultados obtidos neste estudo, esse dado é considerado intermediário.
Estudos têm demonstrado que a hipertensão arterial sistêmica pode estar associada a uma redução na força de preensão manual em idosos.26,27 A HAS pode levar à disfunção endotelial e ao dano vascular, o que prejudica a perfusão sanguínea muscular e pode levar à perda de força muscular.28 Além disso, o tratamento da HAS com anti-hipertensivos também pode ter efeitos negativos sobre a força muscular. Algumas classes de anti-hipertensivos, como os beta-bloqueadores, podem levar a uma diminuição na frequência cardíaca e, consequentemente, na demanda de oxigênio pelos músculos, o que pode comprometer o desempenho muscular.29
Vários estudos investigaram a relação entre força de preensão manual e diabetes, já que a força de preensão manual é um indicador conhecido da síndrome metabólica.30 Leong et al.31 não encontraram associação significativa entre força de preensão e diabetes incidente após ajustar para fatores relacionados ao DM, como IMC e relação cintura-quadril. No entanto, foi encontrada uma associação entre menor força de preensão e maior incidência de diabetes por alguns pesquisadores.32,33
Em relação ao nível de atividade física, os resultados mostraram que a maioria dos participantes foi classificada como ativa ou muito ativa, com nenhum participante sendo classificado como sedentário. Uma pesquisa conduzida com uma amostra probabilística de idosos comunitários com 65 anos ou mais, constatou que idosos sedentários ou com baixo gasto calórico semanal, bem como os mais velhos, apresentaram diferenças significativas em relação à fadiga, força de preensão e velocidade da marcha em comparação aos idosos ativos e mais jovens.22
Em geral, estudos sugerem que a prática regular de atividades físicas pode aumentar a força de preensão manual. Isso ocorre porque o exercício físico estimula a produção de novas fibras musculares, além de melhorar a coordenação motora e a capacidade de controle muscular.34 Com o envelhecimento, ocorre uma diminuição natural na força muscular, o que pode levar a uma redução na força de preensão manual.35 Um estudo recente relaciona a diminuição da FPM à inatividade física.36
No entanto, houve uma diferença entre os sexos, com as mulheres apresentando uma porcentagem maior de participantes ativas ou muito ativas do que os homens. Isso sugere que, apesar de a população analisada ter uma cultura de prática de atividade física, as mulheres podem estar mais engajadas em atividades físicas regulares do que os homens.
Este estudo tem contribuições importantes para a compreensão da relação entre a força de preensão manual e a presença de MMB em idosos praticantes de musculação. Os resultados encontrados indicam que a FPM pode ser um importante discriminador da presença de MMB nessa população. Além disso, o estudo sugere que a prática regular de musculação pode ser uma estratégia eficaz para manter ou melhorar a força muscular e, consequentemente, reduzir a prevalência de morbidade em idosos. Essas informações são importantes para orientar intervenções e programas de exercícios para idosos, com o objetivo de prevenir ou minimizar a ocorrência de morbidade e melhorar a qualidade de vida dessa população.
Uma limitação a ser considerada neste estudo é que estudos transversais possuem limitações na capacidade de estabelecer relações causais e temporais entre as variáveis analisadas. Isso ocorre porque a coleta de dados é realizada em um único momento temporal, não permitindo avaliar a evolução das variáveis ao longo do tempo. Ainda assim, os resultados podem fornecer informações importantes sobre a relação entre as variáveis em questão e servir como base para estudos futuros.
5 CONCLUSÃO
O estudo analisou a idade, a presença de morbidades, a força de preensão manual e o nível de atividade física em uma amostra de idosos. Os resultados indicaram que a maioria dos participantes tinha entre 60 e 69 anos e eram mulheres. A presença de morbidades foi homogênea na amostra, com metade dos participantes relatando pelo menos uma comorbidade.
A investigação envolveu a participação de 32 indivíduos idosos, no entanto, houve uma diminuição na amostra devido à recusa de alguns participantes. Os motivos que explicaram essa recusa foram diversos e incluíram a falta de interesse no assunto da pesquisa, a falta de disponibilidade de tempo ou outras prioridades pessoais.
Os resultados também mostraram diferenças significativas na força de preensão manual entre homens e mulheres, com os homens apresentando uma força significativamente maior em ambas as mãos. A diminuição da força de preensão manual pode estar relacionada a várias doenças crônicas, incluindo hipertensão arterial, cardiopatia congênita e diabetes.
Além disso, o estudo destaca a importância da prática de musculação em idosos, pois pode ajudar a preservar a força muscular e, consequentemente, melhorar a saúde e a qualidade de vida dessa população. Portanto, é crucial que os profissionais de saúde incluam a avaliação da FPM na rotina de cuidados com idosos e incentivem a prática de exercícios físicos regulares, incluindo a musculação, como uma forma de prevenir e tratar morbidade em idosos.
Para futuros estudos, é importante expandir as evidências sobre a relação entre a força de preensão manual e a MMB em idosos, especialmente em diferentes populações, tais como idosos sedentários ou que praticam outras formas de exercício físico. Além disso, é fundamental avaliar a associação entre a força de preensão manual e outros indicadores de saúde, como a composição corporal e a capacidade funcional, para entender melhor a sua relevância clínica.
REFERÊNCIAS
1. World Health Organization. Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Tradução: S. Gontijo. 1. ed. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; 2005.
2. United Nations Department of Economic and Social Affairs. World Population Prospects 2022: Summary of results. New York: United Nations, 2022.
3. Oliveira AS. Transição demográfica, transição epidemiológica e envelhecimento populacional no Brasil. Hygeia. 2019;32(15):69-79. doi: 10.14393/Hygeia153248614.
4. Beard JR, Officer A, de Carvalho IA, Sadana R, Pot AM, Michel JP, Lloyd-Sherlock P, Epping-Jordan JE, Peeters GMEEG, Mahanani WR, Thiyagarajan JA, Chatterji S. The World report on ageing and health: a policy framework for healthy ageing. Lancet. 2016;387(10033):2145-2154. doi: 10.1016/S0140-6736(15)00516-4.
5. Valer DB, Bierhals CCBK, Aires M, Paskulin LMG. The significance of healthy aging for older persons who participated in health education groups. Rev bras geriatr gerontol [Internet]. 2015;18(4):809–19. doi: 10.1590/1809-9823.2015.14042.
6. Volaklis KA, Halle M, Thorand B, Peters A, Ladwig KH, Schulz H, Koenig W, Meisinger C. Handgrip strength is inversely and independently associated with multimorbidity among older women: Results from the KORA-Age study. Eur J Intern Med. 2016;31:35-40. doi: 10.1016/j.ejim.2016.04.001.
7. Nunes BP, Soares MU, Wachs LS, Volz PM, Saes M de O, Duro SMS, et al. Hospitalization in older adults: association with multimorbidity, primary health care and private health plan. Rev Saúde Pública [Internet]. 2017;51:43. doi: 10.1590/S1518-8787.2017051006646.
8. Vancampfort D, Stubbs B, Firth J, Koyanagi A. Handgrip strength, chronic physical conditions and physical multimorbidity in middle-aged and older adults in six low- and middle income countries. Eur J Intern Med. 2019;61:96-102. doi: 10.1016/j.ejim.2018.11.007.
9. Hochman B, Nahas FX, Oliveira Filho RS de, Ferreira LM. Desenhos de pesquisa. Acta Cir Bras [Internet]. 2005;20:2–9. Doi: 10.1590/S0102-86502005000800002
10. Fachin O. Fundamentos de Metodologia. 5th ed. São Paulo: Saraiva; 2006. 209 p. ISBN 978-85-02-05532-2.
11. Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 4th ed. São Paulo: Atlas; 2008.
12. Michel MH. Metodologia e Pesquisa Científica: um guia prático para acompanhamento da disciplina e elaboração de trabalhos monográficos. São Paulo: Atlas; 2005.
13. Benedetti TRB, Antunes P de C, Rodriguez-Añez CR, Mazo GZ, Petroski ÉL. Reprodutibilidade e validade do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) em homens idosos. Rev Bras Med Esporte [Internet]. 2007Jan;13(1):11-6. doi: 10.1590/S1517-86922007000100004
14. Wieczorek ME, Souza CM, Klahr PS, Rosa LHT. Analysis of the association between hand grip strength and functionality in community old people. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2020;23(3):e200214. doi: 10.1590/1981-22562020023.200214.
15. Ribeiro LHM, Neri AL. Exercícios físicos, força muscular e atividades de vida diária em mulheres idosas. Cien Saude Colet. 2012;17(8):2169-80. doi: 10.1590/S1413-81232012000800027.
16. Virtuoso JF, Balbé GP, Hermes JM, Amorim Júnior EE de, Fortunato AR, Mazo GZ. Força de preensão manual e aptidões físicas: um estudo preditivo com idosos ativos. Rev bras geriatr gerontol [Internet]. 2014;17(4):775–84. doi: 10.1590/1809-9823.2014.13183
17. Amaral C de A, Portela MC, Muniz PT, Farias E dos S, Araújo TS de, Souza OF de. Associação da força de preensão manual com morbidades referidas em adultos de Rio Branco, Acre, Brasil: estudo de base populacional. Cad Saúde Pública [Internet]. 2015;31(6):1313–25. doi:10.1590/0102-311X00062214
18. Carmo ÉA, Souza TS, Nery AA, et al. Trend of mortality from external causes in elderly. J Nurs UFPE on line. 2017;11(Suppl.1):374-82. doi: 10.5205/reuol.7995-69931-4-SM.1101sup201717.
19. Alimohammadian M, Majidi A, Yaseri M, et al. Multimorbidity as an important issue among women: results of a gender difference investigation in a large population-based cross-sectional study in West Asia. BMJ Open. 2017;7(5):e013548. doi:10.1136/bmjopen-2016-013548
20. Lima TR de, Silva DAS, Kovaleski DF, González-Chica DA. Associação da força muscular com fatores sociodemográficos e estilo de vida em adultos e idosos jovens no Sul do Brasil. Ciênc saúde coletiva [Internet]. 2018;23(11):3811–20. doi: 10.1590/1413-812320182311.27792016
21. Francisco PMSB, Assumpção D de, Bacurau AG de M, Silva DSM da, Malta DC, Borim FSA. Multimorbidity and use of health services in the oldest old in Brazil. Rev bras epidemiol [Internet]. 2021;24:e210014. doi: 10.1590/1980-549720210014.supl.2
22. Bez JP, Neri AL. Velocidade da marcha, força de preensão e saúde percebida em idosos: dados da rede FIBRA Campinas, São Paulo, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva. 2014;19(8):3343-53. doi: 10.1590/1413-81232014198.09592013.
23. Vikne H, Gundersen K, Liestøl K, Maelen J, Vøllestad N. Intermuscular relationship of human muscle fiber type proportions: slow leg muscles predict slow neck muscles. Muscle Nerve. 2012;45(4):527-535. doi:10.1002/mus.22315
24. Kraemer WJ, Ratamess NA. Hormonal responses and adaptations to resistance exercise and training. Sports Med. 2005;35(4):339-361. doi: 10.2165/00007256-200535040-00004.
25. Xue QL, Bandeen-Roche K, Varadhan R, Zhou J, Fried LP. Initial manifestations of frailty criteria and the development of frailty phenotype in the Women’s Health and Aging Study II. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2008;63(9):984-990. doi:10.1093/gerona/63.9.984
26. Gu Y, Dong J, Meng G, et al. Handgrip strength as a predictor of incident hypertension in the middle-aged and older population: The TCLSIH cohort study. Maturitas. 2021;150:7-13. doi:10.1016/j.maturitas.2021.06.002
27. Shimizu Y, Kawashiri SY, Nobusue K, Yamanashi H, Nagata Y, Maeda T. Associations between handgrip strength and hypertension in relation to circulating CD34-positive cell levels among Japanese older men: a cross-sectional study. Environ Health Prev Med. 2021;26(1):62. doi:10.1186/s12199-021-00982-w
28. Millar PJ, McGowan CL, Cornelissen VA, Araujo CG, Swaine IL. Evidence for the role of isometric exercise training in reducing blood pressure: potential mechanisms and future directions. Sports Med. 2014;44(3):345-356. doi:10.1007/s40279-013-0118-x
29. Souza DR, Gomides RS, Costa LAR, Fernandes JRC, Ortega KC, Mion Jr D, et al. Betabloqueio com atenolol não reduz potência aeróbia nem muda limiares ventilatórios em hipertensos sedentários. Rev Bras Med Esporte [Internet]. 2013;19(5):339–42. doi: 10.1590/S1517-86922013000500008
30. Li D, Guo G, Xia L, et al. Relative Handgrip Strength Is Inversely Associated with Metabolic Profile and Metabolic Disease in the General Population in China. Front Physiol. 2018;9:59. doi:10.3389/fphys.2018.00059
31. Leong DP, Teo KK, Rangarajan S, et al. Prognostic value of grip strength: findings from the Prospective Urban Rural Epidemiology (PURE) study. Lancet. 2015;386(9990):266-273. doi:10.1016/S0140-6736(14)62000-6
32. Boonpor J, Parra-Soto S, Petermann-Rocha F, et al. Associations between grip strength and incident type 2 diabetes: findings from the UK Biobank prospective cohort study. BMJ Open Diabetes Res Care. 2021;9(1):e001865. doi:10.1136/bmjdrc-2020-001865
33. Lee SB, Moon JE, Kim JK. Association of Handgrip Strength with Diabetes Mellitus in Korean Adults According to Sex. Diagnostics. 2022;12(8):1874. doi: 10.3390/diagnostics12081874.
34. Evans WJ. Effects of exercise on senescent muscle. Clin Orthop Relat Res. 2002;(403 Suppl):S211-S220. doi: 10.1097/00003086-200210001-00025.
35. Hossain MG, et al. Multiple regression analysis of factors influencing dominant hand grip strength in a Malaysian adult population. J Hand Surg Eur Vol. 2012;37(1):65-70.
36. Tavares DM dos S, Oliveira NGN, Marchiori GF, Santos LLS. Redução da força de preensão manual entre idosos longevos. Acta Fisiatr. 2020;27(1):4-10. doi: 10.11606/issn.2317-0190.v27i1a170815.