ANÁLISE DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO MODAL RODOVIÁRIO: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A RODOVIA DOS IMIGRANTES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7446825


Felipe Silva Carlos dos Santos1
 Lucas de Almeida Pereira2


RESUMO 

Esse projeto de pesquisa é uma análise histórica sobre a rodovia dos Imigrantes,  desde a sua construção, passando pelo processo de privatização, até os dias atuais.  Abordamos também o contexto histórico de toda a região do planalto paulista, o  qual se desenvolveu ao redor das estradas que levavam até o litoral, e que  constituem rotas importantes na manutenção de São Paulo como a força motora da  economia brasileira. 

APRESENTAÇÃO (INTRODUÇÃO, JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS) 

Introdução: 

O objeto deste projeto de pesquisa, é a Rodovia dos Imigrantes, sua história e seus  impactos logísticos no passado e presente. É um tema importante a ser estudado  devido à posição de destaque e notoriedade que a rodovia exerce sobre o esquema  estrutural de estradas paulistas e sua influência sobre toda a logística e integração  entre capital e baixada santista. 

As primeiras estradas do Brasil, não eram propriamente estradas, e sim,  trilhas que os indígenas criaram para ligar suas aldeias até rios, áreas de cultivo e outras aldeias. Foi por meio delas que Martim Afonso de Souza, em 1532, começou  a interiorizar a colonização portuguesa no Brasil, quando percebeu que o solo de  São Vicente, onde desembarcou, não era adequado para a agricultura, e que  precisava se deslocar até o planalto para tal fim, e então seguiu trilhas criadas  pelos Tupiniquins e pelos Guaianazes. Mais pra frente, em 1554, a trilha utilizada  pelo padre José de Anchieta foi a também indígena Caminho do Pequerê, que subia  a serra do mar pelo vale do Rio Perequê, chegando até onde hoje é o município de  Santo André, e dali formando os caminhos que dariam origem a toda a região do  ABC Paulista e da capital. 

Após mais de 200 anos utilizando o mesmo caminho de terra batida pela  serra do mar, em 1790, o Governador-Geral da Capitania de São Paulo, Bernardo  José Maria de Lorena, ordenou a construção de um caminho pavimentado entre a  planície e o planalto. Finalizada em 1792, a Calçada do Lorena permitia o uso de  mulas como meio de transporte, o que permitia fazer a ligação entre São Paulo e  São Vicente em apenas dois dias, o que era um grande avanço para a época,  Futuramente ali também foi construída a Estrada da Maioridade, devido à  saturação da Calçada do Lorena, e finalmente transformada em Estrada do  Vergueiro usando do processo de macadamização, passa por trechos importantes  de São Bernardo do Campo, Diadema, Vila Mariana e Liberdade já em São Paulo.  Essa foi a principal e mais moderna ligação entre o litoral e a capital até o início do  século XX. Cidades como São Bernardo do Campo se desenvolveram em volta da  estrada, enquanto Santo André e São Caetano do Sul cresceram com a chegada dos  trilhos da São Paulo Railway, se desenvolvendo até mais que o distrito sede de São  Bernardo, onde a economia ficou restrita a pequenas fábricas pela distância da  ferrovia, o que pode ser observado é que nesse recorte de tempo, entre a  inauguração da Santos-Jundiaí em 1867, até os anos 1920, os distritos servidos  pela ferrovia experimentaram um acelerado desenvolvimento, enquanto as  localidades servidas apenas por estradas ficaram estagnadas. 

Em 1913 e 1920 ocorreram duas reformas que mudaram esse cenário. Em  1913, o delegado Rudge Ramos promove uma nova macadamização da estrada, e  em 1920, Washington Luís, após vencer a disputa pelo governo do estado com o  lema “Governar é abrir estradas”, a pavimentação com concreto, transformando a  antiga estrada em Rodovia Caminho do Mar, a primeira rodovia pavimentada em concreto em toda a América Latina.Agora como Presidente, Washington Luís  empreendeu a construção da Rodovia Rio-São Paulo (atual Presidente Dutra),  também pavimentada, e mesmo após a queda de uso do modal ferroviário após a  crise de 1929 que afetou diretamente a economia brasileira que era baseada no  café, o modal rodoviário ainda não tinha caído nas graças dos governantes,  principalmente durante o Estado Novo de Getúlio Vargas, que considerava os  gastos em rodovias muito caros e pouco proveitosos. O conceito estradeiro voltou  quando Eurico Gaspar Dutra chegou à presidência, e se estabeleceu como política  de infraestrutura durante o governo de Juscelino Kubitschek. JK tinha ideais  progressistas para a época, seu slogan de campanha “50 anos em 5” deixa isso claro, e o avanço tecnológico no Brasil foi notório, com a intensificação da  industrialização e grandes obras de infraestrutura, foi nessa época que aconteceu a  construção de Brasília, possibilitando a construção ou prolongamento de grandes  rodovias como a BR-040 (Rio-Brasília), BR-010 (Belém-Brasília), BR-101, BR-116,  e também a chegada de grandes montadoras ao Brasil como a Volkswagen, a  General Motors e a Ford, todas no eixo da Rodovia Anchieta, em São Bernardo do  Campo, que no passado havia caído em declínio por causa da rodovia, naquele  momento era um dos maiores polos industriais do Brasil devido ao fácil acesso ao  Porto de Santos, a capital, e à mão de obra barata. Durante esse período, ocorreu o  sucateamento das ferrovias brasileiras, pois muito se promovia a abertura de  rodovias, em detrimento dos trilhos, e isso traria muitas consequências no futuro.  Já durante a ditadura militar, obras faraônicas foram feitas para validar a  propaganda patriótica do “Brasil Grande”, promovida pelos militares, foi nessa  época que foram feitas obras como a Ponte Rio-Niterói e a Rodovia  Transamazônica (BR-230). 

A Rodovia Anchieta foi idealizada ainda em 1929, mas foi concluída parcialmente  apenas em 1947, pela falta de recursos do Estado Novo para a empreitada, e  finalizada por completo em 1953. Foi pioneira na área por conseguir transpor o  trecho de serra por meio de túneis e de viadutos. Além da sua importância de  integrar as duas então maiores cidades do estado, a Anchieta se tornou a grande  incentivadora do desenvolvimento do modal rodoviário no Brasil, pois foi naquele  momento, que além de cargas, as rodovias passaram a levar também passageiros  nos ônibus rodoviários, tirando também essa demanda dos trens. Atualmente, a rodovia integra o sistema Anchieta-Imigrantes, essa última construída entre 1974  e 2002, para absorver parte da já então saturada Anchieta. Hoje a Anchieta é o  maior corredor de exportação da América Latina. 

Atualmente o modal rodoviário permanece sendo o mais utilizado para o  transporte de cargas e pessoas, mas provoca dúvidas em relação ao custo benefício, pois os gastos com conservação e manutenção são relativamente  maiores quando comparados a outros modais, também existe a questão do preço  dos combustíveis, trechos pedagiados, a poluição gerada pelos motores, os  constantes engarrafamentos nas maiores cidades, e maior demora para se chegar  aos destinos, todos esses fatores acabam influenciando o preço de fretes,  passagens de ônibus coletivos e rodoviários, deixando ainda o sistema vulnerável a  situações como a greve dos caminhoneiros em 2018 e os constantes roubos de  carga, principalmente no Rio de Janeiro. 

Justificativa

O projeto de estudo da rodovia dos Imigrantes, se faz de grande importância  quando estamos tratando da logística. Hoje a rodovia representa grande parte do  fluxo logístico brasileiro, pois, interliga a maior e mais rica cidade do Brasil, com o  maior porto da América latina, o Porto de Santos, por isso, é justificado o seu  estudo, tendo em vista a sua importância logística para São Paulo e para o Brasil. 

Objetivo:  

Geral: O objetivo geral desta pesquisa é realizar um estudo de caso sobre a  evolução histórica do sistema modal rodoviário no Brasil, a partir de um  levantamento documental acerca da rodovia dos Imigrantes,  

Objetivos específicos: analisar a evolução histórica do sistema modal rodoviário no  Brasil, pesquisar acontecimentos históricos da rodovia dos Imigrantes,  levantamento de dados sobre o impacto da rodovia na malha estadual, e reunir  fontes sobre a evolução do projeto.

DESENVOLVIMENTO (METODOLOGIA E ANÁLISE) 

Alguns dos métodos utilizados foram a pesquisa, principalmente em sites, livros, e  demais bibliográficas da área. Foram utilizados também dados de órgãos públicos e  da empresa que administra a Rodovia, dados esses que puderam ser analisados  por meio de gráficos para complemento do referencial teórico, por fim foram  usadas também imagens para enriquecer e complementar o texto. 

Precursora da modernidade rodoviária na descida e subida da Serra do Mar, a  Rodovia Anchieta é hoje uma das principais ligações entre São Paulo e o litoral  paulista, sendo responsável pela ligação comercial entre a maior cidade do país e o  maior porto da América latina. A rodovia foi idealizada ainda em 1929, mas foi  concluída parcialmente apenas em 1947, pela falta de recursos do Estado Novo  para a empreitada, e finalizada por completo em 1953. Foi pioneira na área por  conseguir transpor o trecho de serra por meio de túneis e de viadutos. Além da sua  importância de integrar as duas então maiores cidades do estado, a Anchieta se  tornou a grande incentivadora do desenvolvimento do modal rodoviário no Brasil,  pois foi naquele momento, que além de cargas, as rodovias passaram a levar  também passageiros nos ônibus rodoviários, tirando também essa demanda dos  trens. Atualmente, a rodovia integra o sistema Anchieta-Imigrantes, essa última  construída entre 1974 e 2002, para absorver parte da já então saturada Anchieta. 

A implantação da rodovia Anchieta, no final da década de 1940, pode ser  considerada um marco na história da urbanização de São Bernardo do Campo. A  viabilidade logística da via, juntamente a posição geográfica do município  acarretou na implantação de diversas indústrias ao longo do eixo rodoviário,  gerando grandes bolsões industriais. Esta nova infraestrutura urbana provocava  um momento de transição quanto às perspectivas da administração pública. Neste  contexto são criados ao longo dos anos 1950 planos e instrumentos, ainda que  pontuais, a fim de integrar a estrutura urbana obsoleta às novas transformações. A  redemocratização no país, entre 1934 e 1937, trazia medidas institucionais a fim  de dar respaldo técnico e cultural às transformações urbanas que estavam  ocorrendo. Em 1934 criou-se o Departamento de Estradas e Rodagem (DER),  responsável pelas obras rodoviárias no âmbito do Estado. A implantação das rodovias no Estado faziam parte dos programas rodoviários, dando apoio à produção  industrial. Como consequência as obras traziam a valorização das terras ao redor  das cidades, gerando o aumento de valor dos capitais fixos privados. Inicialmente  as grandes rodovias eram feitas paralelamente aos principais eixos ferroviários  (REIS, 2010). 

A Via Anchieta possui, nos 55,9 km de extensão, cinco túneis, sendo a primeira  rodovia brasileira a contar com esse tipo de solução de engenharia. Com o avanço  do domínio das técnicas na construção civil de obras grandiosas, como a Anchieta,  foi possível desenvolver com mais tecnologia posteriormente a Rodovia dos  Imigrantes. Os engenheiros responsáveis por esse projeto foram Ariovaldo Viana e  Dario de Castro Bueno e, na época, a capacidade prevista para a pista era de 16 a  18 mil veículos, diariamente, porém, logo se tornou ineficiente com o aumento  significativo da demanda. 

Conforme os meios de transporte avançaram tecnologicamente, demandam  também de estradas mais largas e com declives menos acentuados, foi então  necessárias obras, como cortes e aterros, que obviamente alteraram o equilíbrio  natural das encostas da serra. Era uma obra extremamente cara e que contava com  diversos problemas e desafios, como o grande desnível topográfico, acentuadas  declividades do terreno e escorregamentos de solos e rochas das encostas, o que  fez com que tanto a obra, quanto o uso da estrada tivesse diversos acidentes  trágicos. Embora não tenha sido realizado estudos sobre o assunto, podemos  considerar que ocorreram impactos ambientais diretos e indiretos sobre os  componentes dos meios físicos e bióticos ocorridos com a construção da Rodovia  Anchieta, em especial, por não haver na época entendimento ambiental, nem  legislação pertinente, foi desmatada uma grande área sem nenhum tipo de estudo  e as encostas da serra do mar sofreram impactos, somente bem mais recentemente  a Engenharia Brasileira se convenceu que para vencer esse impasse geológica e  geotécnica, era imprescindível avançar no estudo sobre o comportamento das  encostas da Serra (deslizamentos, desmoronamentos, corridas de lama), buscando  ainda na fase de projeto tentar contornar as dificuldades colocadas pela natureza.  33 Diante da grande demanda de veículos na Rodovia Anchieta, em 1969 a  proposta de uma nova transposição da Serra do Mar surgiu com um dos objetivos da criação da DERSA. No ano de 1974 a Rodovia dos Imigrantes trecho Planalto  havia sido finalizada. A obra foi entregue em 1976, porém somente a pista  ascendente e em 2002 foi entregue a descendente (ECOVIAS, 2002). A concessão  da Via Anchieta foi feita em conjunto com a Imigrantes, formando o sistema  Anchieta-Imigrantes em 1998. 

“A construtora Primav, empresa do grupo CR Almeida, é a virtual vencedora da  licitação para concessão do sistema Anchieta-Imigrantes com o lance de R$ 87  milhões. A empresa só será declarada oficialmente campeã se, em um prazo de  cinco dias -contado desde anteontem, quando foram abertos os envelopes com as  propostas-, nenhum dos participantes entrar com recursos contra a licitação. O  lance oferecido pela Primav representa mais do dobro da proposta de R$ 39,9  milhões feita pelo consórcio Serra do Mar, formado pelas empresas Andrade  Gutierrez, Camargo Corrêa, CBPO e Serveng-Civilsan,segundo lugar no processo.  Os investimentos da empresa no sistema devem superar os R$ 770 milhões  determinados pela Secretaria Estadual dos Transportes, segundo o diretor  comercial da Primav, Marcelino Rafard de Seras. Ele acredita que o conjunto de  obras irá somar investimentos da ordem de R$ 950 milhões. A principal obra  prevista é a duplicação da Imigrantes -construção da pista descendente, com 18  quilômetros de extensão-, que deverá consumir R$ 470 milhões. A empresa tem  prazo de cinco anos para concluí-la, mas pretende antecipar o prazo para quatro,  ou seja, para 2003. O grupo vencedor também se comprometeu a construir 14 viadutos, cinco túneis e uma ponte. De acordo com Seras, serão  necessários cerca de R$ 80 milhões para transformar o sistema Anchieta Imigrantes em um sistema de “rodovias inteligentes” . Ou seja, a empresa pretende  substituir os equipamentos eletromecânicos em eletrônicos para facilitar a gestão  das rodovias. Seras afirma que a empresa não vai ampliar o número de pedágios.  Os já existentes ganharam softwares modernos. Durante os 20 anos de concessão, a  Primav estima arrecadar nos pedágios aproximadamente R$ 4,5 bilhões” (Folha de  São Paulo, 11 de março de 1998) 

Rodovia dos Imigrantes 

Após muitos anos de tráfego pela Via Anchieta, atingiu um estado de saturação,  tanto de carros de passeio, quanto de caminhões de carga com destino ao Porto de Santos, por isso, por volta de 1956, os técnicos do DER haviam percebido que a  recém-inaugurada rodovia entraria em estado instável de operação e criaram  estudos que apontavam para a necessidade da construção de uma nova pista,  independente do tipo de ampliação que fosse feita na Anchieta. Em 1955 a  Anchieta havia registrado 16 acidentes com 5 vítimas fatais, um recorde para a  época., o poder público viu a necessidade de uma nova rodovia, que pudesse  absorver o volume de carros da Anchieta, e interligar o então atual e o antigo  sistema, foi daí que nasceu o projeto da Rodovia dos Imigrantes 

Em 23 de janeiro de 1974 foi lançada a pedra fundamental da rodovia que seria  inaugurada com sua primeira pista no trecho de serra, a ascendente. Durante a  construção desta pista, os engenheiros perceberam vários problemas que  inviabilizavam o projeto inicial de três pistas paralelas: a proximidade com as  encostas havia criado problemas de deslizamentos de terra, com altos custos de  obras de contenção e de pequenos túneis, e de que a geografia das outras duas  pistas seria ainda mais complicada 

Em 1974, surge a ideia de construir as pistas descendente e reversível como  superpostas, basicamente com a pista reversível sendo construída em cima da  pista descendente. As duas pistas contariam com túneis mais longos (seriam 5.438  metros de túneis, com o maior deles tendo 3.200 metros de extensão). A ideia logo  seria abandonada porque se constatar que pistas colaterais permitiam uma  diminuição dos custos, aumento da segurança operacional ao permitir a ligação  das duas pistas. Com sérias limitações orçamentárias, o DERSA deixa os projetos  tanto da pista reversível quanto da pista descendente de lado. A pista ascendente  passa a ser operada de forma reversível, com o sentido sendo revertido de acordo  com as demandas de tráfego. A construção da pista ascendente, inaugurada em 1976, teria usado cem engenheiros  e treze mil operários. 

A rodovia foi então inaugurada em 28 de junho de 1976. Sua estrutura é formada  por 44 viadutos, sete pontes e 14 túneis, em 58,5 km de extensão, de São Paulo a  Praia Grande, no litoral sul paulista. A Rodovia integra um complexo de vias  denominado Sistema Anchieta-Imigrantes, dos quais fazem parte as rodovias  Anchieta, Padre Manoel da Nóbrega e Cônego Domênico Rangoni.

O início das obras do “novo caminho do mar” se deu em 23 de janeiro de 1974. O  projeto previa que a rodovia seria apenas a pista ascendente, entre o litoral e São  Paulo. A segunda pista era prevista anos seguintes, mas só foi de fato construída  após a concessão em 1998, onde a Ecovias venceu a licitação. 

Uma das contrapartidas para exploração da Rodovia pelo setor privado foi a  construção da pista descendente, em 2002. Atualmente ambas as pistas são  reversíveis, e operam em conjunto com a Rodovia Anchieta. 

Quem trafega pela rodovia, conta com uma moderna estrutura, e um pavimento  impecável. Porém, como em todas as rodovias que sofreram concessões, os  pedágios da Imigrantes sofreram fortes reajustes, mesmo descontada a inflação,  atualmente, o pedágio da Imigrantes é o mais caro do estado, a R$ 27,40, válido  para uma viagem de ida e volta de automóvel. No trecho de planalto, a Imigrantes  apresenta três pedágios de bloqueio para o acesso às localidades lindeiras. Assim  como aconteceu com a Via Anchieta, e Imigrantes trouxe benefícios ao seu entorno,  principalmente no setor industrial, logístico e automobilístico, e também à  população em geral. É em suas margens que estão equipamentos como o Parque do  Estado, o Zoológico de São Paulo, o pavilhão de exposições e eventos São Paulo  Expo, o Comitê Paraolímpico Brasileiro, além de um grande complexo industrial e  logístico em São Bernardo do Campo, onde empresas como a DHL e Mercado Livre  atuam, e ainda, conta com o Centro Logístico Imigrantes, situado no  entroncamento da Imigrantes com o Rodoanel, um dos principais centros de  distribuição da região metropolitana de São Paulo. Apesar do forte viés logístico da  rodovia, em seu trecho de serra, não é permitido o tráfego de caminhões, aqueles  que estão na rodovia precisam desviar para a Anchieta antes do trecho de serra,  pois, segundo a Ecovias, a rodovia dos Imigrantes apresenta três características  que são levadas em conta para proibir a descida dos pesados: o trecho de 11  quilômetros de descida com declividade média de 6%, o que significa que a cada  100 metros percorridos, o motorista desce, a geometria reta, que favorece  aceleração involuntária do veículo e exige a utilização do freio de serviço,  aumentando o risco de superaquecimento e consequente perda do freio, e longos  túneis cobrem 70% do trecho, criando um ambiente confinado que merece atenção  especial, portanto, nos dias atuais a rodovia dos Imigrantes se caracteriza como uma rodovia onde trafegam veículos leves, muitas vezes em épocas como férias  escolares, feriados e finais de semana. 

CONCLUSÃO (RESULTADOS DA PESQUISA) 

Segundo dados obtidos através do Sistema de Informação ao Cidadão, é possível  traçarmos alguns paralelos em relação aos números da Via Anchieta e do sistema  Anchieta-Imigrantes como um todo (Que contempla também a SP-148 Caminho do  Mar, SP-55 Cônego Domênico Rangoni / Padre Manoel da Nóbrega e as ligações  Planalto-Planície), além de conseguirmos observar o quanto a privatização da  rodovia em 1997 mudou o panorama geral de tais dados. 

Primeiro, seguem os números do volume de automóveis que trafegavam pela  rodovia entre 1972 e 1996. Os registros levam em conta quantos veículos, em  média, passaram pelos pedágios de Rio Grande e Piratininga, na região de São  Bernardo do Campo. 

(Gráfico elaborado pelo autor) 

No gráfico acima, não há a distinção entre o tipo de veículo, como carros de passeio,  motocicletas e caminhões, apesar da proibição do tráfego de veículos pesados na Imigrantes. É possível fazer recortes históricos a partir de tais dados, tanto recortes  baseados em mudanças na estrutura do sistema, quanto os recortes históricos.  Podemos observar no gráfico abaixo, que os dois maiores aumentos, em porcentagem,  ao longo da amostragem temporal, são datados em 1974 e 1976, ano do início da  construção da Imigrantes e da sua inauguração, respectivamente. Como não há a  separação de dados entre uma rodovia e outra, por integrarem um sistema definido  pelo Departamento de Estradas e Rodagem (DER), é possível relacionar esse aumento  no fluxo do sistema, pela maior facilidade em percorrer o trecho entre a Serra do Mar  pelos túneis da Imigrantes, ao invés das perigosas e sinuosas curvas da Anchieta,  reduzindo consideravelmente o tempo de deslocamento. 

(Gráfico elaborado pelo autor) 

Além das mudanças na infraestrutura das pistas, é possível relacionar o fluxo de  veículos com momentos econômicos do Brasil ao longo dos últimos 50 anos. No  começo da década de 80 houve uma queda acentuada no volume de tráfego, pois, o  Brasil vinha sentindo os efeitos da crise do petróleo de 1979, que apesar de iniciar  por turbulências políticas no Irã1, e com a economia começando seu processo de  globalização, acabou respingando nas bombas de gasolina dos postos brasileiros, o  que fez subir o custo de dirigir, viajar, e também elevou o custo do diesel usado  pelos caminhões, somado a isso, começava nessa mesma década de 80 o período  de hiperinflação no Brasil. Abaixo segue gráfico que relaciona o primeiro período  de operação da rodovia, com a demanda por combustíveis no Brasil.

Gráfico 3: Demanda por combustíveis no Brasil, em 1000m3 entre 1973 e 1998. 

(Retirado do artigo A demanda por gasolina no Brasil: uma análise utilizando técnicas de co integração, por Heloisa Lee Burnquist e Mirian Rumenos Piedade Bacchi) 

Por meio desse gráfico conseguimos notar que a demanda por álcool estava  estacionada durante a década de 70, passando a aumentar apenas com a segunda  crise do petróleo, que encareceu o preço da gasolina. Por ser um combustível mais  barato em relação a gasolina, ao final da década de 80, durante os anos de inflação  descontrolada no Brasil, o álcool iguala a sua demanda com a gasolina, se  mantendo em tal nível de estabilidade até o fim do recorte histórico do gráfico, já a  gasolina volta a se consolidar como combustível mais consumido no país após  1994, com o Plano Real e a abertura econômica do Brasil. 

Voltando ao gráfico 2, após uma leve alta em 1986, o movimento no sistema  Anchieta-Imigrantes logo voltou a cair, reflexo da hiperinflação que começava a  assolar a economia brasileira, uma época onde os preços eram corrigidos da noite  para o dia, o salário reajustado mensalmente, havia corrida aos supermercados  para comprar e estocar alimentos, pois simplesmente não se sabia o preço daquele  item no dia seguinte, nesse período ficaram famosas as cenas de filas quilométricas  nos postos de gasolina, quem conseguia um pouco de gasolina, deixava guardada  para emergências ou para sua necessidade do dia a dia, e como a Anchieta Imigrantes se trata também de uma rota para pontos turísticos como a baixada  santista, litoral sul e litoral norte, houve essa redução, numa época onde o turismo não era uma das prioridades das famílias brasileiras. Apesar disso, houve aumento  após o ano de 1989, quando começaram os planos econômicos do governo Collor,  mas a situação da rodovia foi melhorar significativamente apenas em 1994 e 1995  (considerando o volume do mês anterior), quando o Plano Real e a nova moeda  trouxeram alívio à economia do Brasil. 

Por fim, podemos analisar o fluxo de caminhões de carga que trafegam pela  rodovia no ano de 1996. 

(Gráfico elaborado pelo autor) 

Com o gráfico acima, é possível notar um maior fluxo de caminhões no sistema  Anchieta-Imigrantes, ainda no seu trecho metropolitano, onde estão concentradas  grandes empresas. Montadoras como Mercedes-Benz, Scania, Volkswagen, além  de empresas de diversos segmentos como as Casas Bahia, a Thyssen-Krupp, além  do centro de logística de São Bernardo do Campo, e de empresas menores, mas que  também movimentam grandes quantidades de mercadoria. Essa movimentação  tão intensa, por exemplo, fez a cidade de São Bernardo do Campo prosperar em  volta da rodovia, sendo hoje o 16º município mais rico do Brasil 

Podemos concluir que conseguimos elaborar um levantamento documental  referente à construção e evolução da Rodovia dos Imigrantes entre 1974 e 1998,  buscando demonstrar a relevância desta estrada no desenvolvimento econômico  recente do Estado de São Paulo. Pudemos também, a partir deste levantamento criar quadros explicativos acerca do desenvolvimento da rodovia e de seu impacto  logístico no transporte de cargas e passageiros. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

LOBO, Renato. 40 anos da Rodovia Imigrantes: a principal rota entre baixada e SP, Via Trólebus,  2021. Disponível em: https://viatrolebus.com.br/2015/12/40-anos-da-rodovia-imigrantes-a-principal-rota-entre baixada-e-sp/. Acesso em 01/07/21. 

SILVA, Victória. Conheça a História da Construção das rodovias Anchieta e Imigrantes. Juicy Santos,  2021. Disponível em: https://www.juicysantos.com.br/vida-013/nostalgia-santista/conheca-a-historia-da-construcao das-rodovias-anchieta-e-imigrantes/. Acesso em 03/07/21. 

Ecovias. Sistema Anchieta Imigrantes. Ecovias, 2021. Disponível em:  https://www.ecovias.com.br/Institucional/Sistema-Anchieta-Imigrantes. Acesso em 06/07/21. Como era viver na hiperinflação no Brasil?, Econoleigo, 2016. Disponível em:  http://econoleigo.com/como-era-viver-na-hiperinflacao-do-brasil/. Acesso em 06/12/21. SANTIAGO, Emerson. Segunda Crise do Pertóleo, Infoescola, 2011, Disponível em:  https://www.infoescola.com/historia/segunda-crise-do-petroleo/. Acesso em 21/11/21. 

Fontes: 

Os dados utilizados na tabela foram obtidos junto à empresa EcoRodovias por meio da Lei de  Acesso à Informação. 


1Bacharelando em logística do Ifsp Campus Suzano. 
2Professor de história do Ifsp Campus Suzano