REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7551884
Dayane Karoline Alves da Silva
Orientadora: Prof.ª. Dra. Valdete dos Santos de Araújo
RESUMO
A indústria 4.0, também conhecida como a Quarta Revolução Industrial, apresenta uma contínua fase de evolução na coleta, armazenamento e processamento de dados, dentre outras. Gerando uma grande competição mundial tecnológica, e, com isso, muitos setores estão acompanhando esse gradativo avanço. Nesse contexto, a Construção Civil (CC), e mais específico a Engenharia Diagnóstica (ED), consistem nos setores considerados mais inertes quanto à Quarta Revolução. Sendo setores vistos ainda como, em partes, manufaturados que exijam tais processos, com isso, aplicar estudos que viabilizem esse crescimento digital é indispensável. Dessa forma, o presente trabalho pretende abordar o processo de vistorias de inspeção residencial, para elaboração de laudo, através do aplicativo LAINS. Pretende-se com a pesquisa, evidenciar as principais manifestações patológicas residenciais, os requisitos propostos pelas normas abrangentes atualizadas para elaboração de vistoria e por conseguinte o laudo de inspeção residencial, obtendo assim, o embasamento necessário para a realização da metodologia. Esta por sua vez, abrange a área de estudo, sendo uma residência unifamiliar situada em Manaus/AM. Assim, checklist modelo desenvolvido utilizado na programação através de “box code”, a qual finalizada deu-se prosseguimento na vistoria e exportação do laudo. Por fim, a apresentação do resultado do laudo de inspeção residencial gerado pelo LAINS.
Palavras-chave: Engenharia Diagnóstica. Aplicativo. Laudo. Inspeção Residencial.
INTRODUÇÃO
Com a ascensão da era digital decorrente da última e milenar revolução industrial, aliada à alta demanda de produção, exíguos prazos, complexas construções, tornam as edificações defeituosas quanto à exposição de falhas e anomalias, sejam por erros construtivos de projeto, de execução ou afins. Evidenciando que há cada vez mais a precisão de colmatar as crescentes manutenções prediais solicitadas.
Visando progresso de estudos minuciosos das decorrentes manifestações patológicas, cada vez mais os profissionais devem buscar meios de evoluir nos domínios da ED, e principalmente em inspeções prediais, as quais são o cerne de toda e qualquer análise exteriorização imperfeições.
Enquanto outros setores já evoluíram na questão digital, a CC e consequentemente a ED continuam como dos mais inertes, ainda usando os mesmos métodos. Um dos principais motivos para que essa perspectiva paralisada é dos próprios profissionais, os quais não se mostram inclinados a analisar formas de introduzir no mercado da construção meios e instrumentos pra a implementação dessa nova fase mundial.
De acordo com Yamada (2018), o desenvolvimento de novas tecnologias nos setores industriais do país serve de estratégia, sendo, portanto, primordial para garantir que o Brasil tenha competitividade e aumente a participação no mercado mundial.
O contexto atual do Brasil de indústria 2.0 não consiste em um empecilho para o avanço tecnológico, pois, há meios de efetivar para a indústria 4.0 de forma direta. No entanto, há a exigência do processo de capacitação da mão de obra e sua habilitação para atender às demandas dessa nova indústria. Além disso, é necessária a criação de novos mecanismos regulatórios para que essa indústria possa se desenvolver (FERREIRA, 2017).
Porquanto, para o profissional atuante na área da ED, e especificamente das inspeções residenciais, a alta demanda de atendimento e um processo de coleta de dados lento e antigo como anotações manuscritas, excesso de dados não objetivos, arquivos inconsistentes devido a perda ou dissipação de informação, evidenciam a necessidade de otimizar tal procedimento por meio de dispositivos que auxiliem na tomada de decisões em tempo ágil.
1.1. Tema
Aplicativo para laudo de inspeção predial.
1.1.1. Delimitação do tema
A Elaboração do aplicativo LAINS para a fomentação de laudos de inspeção residencial.
1.2. Problema
O desenvolvimento do aplicativo LAINS mediante análise sobre a viabilidade de sistematizar a coleta, armazenamento e processamento de dados facilitaria no processo de elaboração de laudos de manifestações patológicas de inspeção aplicado às residências?
1.3. Hipótese
O Aplicativo LAINS é capaz de facilitar a coleta de dados da inspeção através de um rápido processamento para obtenção de laudos de inspeção residencial.
1.4. Objetivos
1.4.1. Geral
Elaborar estudo que possibilite o desenvolvimento de aplicativo para coleta de dados de manifestações patológicas, que viabilize a fomentação de laudo de inspeção residencial.
1.4.2. Específico
a) Identificar as principais manifestações patológicas residenciais;
b) Analisar o modelo de laudo ideal para residências de acordo com as regulamentações que tratam de patologias residenciais.
c) Criar um sistema de coleta de dados para aplicativo.
d) Verificação dos requisitos atendidos pelo laudo residencial final gerado.
1.5. Justificativa
A transformação digital nas empresas da construção civil tornou-se prioritária no mundo para aquelas que desejam se manter relevantes no mercado num futuro próximo. Um dos pilares da transformação digital é levar novos processos, a mentalidade digital e tecnologias para o dia a dia de todos os profissionais envolvidos no segmento, independentemente da área de atuação. (ZAFFARI, 2020).
Em meio a indústria 4.0 e a nova era digital e globalizada, construtoras, empresas e indivíduos devem se atentar à competitividade do setor civil. Cada vez mais edificações complexas são construídas, exigindo maior documentação, detalhamento, especificações, planejamento, gerenciamento, conhecimento de equipe e ferramentas compatíveis. Ao se tratar de manutenção da edificação o cenário é o mesmo, todas as técnicas e métodos trabalham em conjunto para melhor desempenho dos resultados (TIMAFEJN, 2021).
Diante deste quadro evolutivo da CC, em contra partida, a crescente competitividade por uma alta produção devido às demandas de projetos e empreendimentos estipulados em períodos, em sua maioria, curtos nos evidencia o quão inteligível é a gradual queda da qualidade e desempenho quanto aos serviços a longo prazo dos elementos construtivos, por falha de controle, tempo hábil de cura ou mesmo por descarte de regulamentos necessários.
Segundo Silva (2022), essa busca excessiva por menores prazos e custos influenciam numa queda na qualidade dos materiais, mão de obra, planejamento consequentemente no projeto e execução. O autor afirma que os projetos de construção ainda são tratados como protótipos isolados.
As manifestações patológicas, aos quais as edificações estão expostas, podem ocorrer em qualquer fase da construção de uma edificação, e a demanda de solicitações por inspeções residenciais se torna cada vez mais necessária e crescente, tendo em vista a longo prazo, tais solicitações tendem a se tornarem paulatinamente serviços mais requisitados e cruciais.
Segundo a norma NBR 16747 (ABNT, 2020) a atividade de inspeção tem como meta analisar o estado de conservação e desempenho da edificação, para acompanhar o funcionamento sistêmico do comportamento em uso ao longo da vida útil, e como finalidade, manter as condições mínimas necessárias à segurança, habitabilidade e durabilidade da edificação. Efetuando, assim, um serviço com o objetivo de instruir a gestão de uso, operação e manutenção da edificação, evidenciando um potencial de capacitação de também aconselhar na procedência das avaliações, sendo elas virtuais ou físicas.
A afirmativa de Timafejn (2021), sobre a manutenção predial ainda ser de forma improvisada e baseada em intervenções corretivas, e que poucas empresas atualmente acompanham o avanço tecnológico, torna imprescindível o envolvimento e acompanhamento por parte dos profissionais de manutenção predial especializados que utilizem de ferramentas modernas de gestão.
Existem no mercado alguns aplicativos que possuem propostas correlatas, alguns possuem apenas checklist com preenchimento do formulário como função principal, outros mais completos, porém com ponto focal aberto, geral e ideais para condomínios, com checklist direcionado a essas residências multifamiliares. O aplicativo em questão, tem como interesse as residências unifamiliares, sendo assim, mais especificando as funcionalidades para este fim.
Com isso, mediante tal contexto e visando um aprimoramento futuro das vistorias de inspeção predial, houve a necessidade de desenvolver um estudo para aprimoramento e sistematização de vistorias para elaboração de laudos de inspeção residencial, objetivando a melhor funcionalidade e desempenho das consultorias e ampliando o progresso de estudos na área de manifestações patológicas no âmbito da Engenharia Civil.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. Tecnologia Aplicada a Construção Civil
Nos dias atuais vivemos a era conhecida como indústria 4.0 ou quarta revolução industrial, a qual destaca-se nos aspectos de amplitude, velocidade, profundidade, união de tecnologias e na interação entre o meio físico, digital e biológico (SANSON, 2017).
A expectativa é que a atual revolução torne as tecnologias cada vez mais incorporada na sociedade e nos seres humanos, e que alterem as funções e o cenário da economia moderna. Assim, os resultados serão notoriamente mais impactantes que as anteriores revoluções (IBGE, 2018).
Na era inteligente, as indústrias trocam informações, processam dados e obtém monitoramentos de forma rápida, independente e integrada. Empresas acompanham seus estoques, produtividade e gerenciam equipes de forma a unir uma nova cadeia produtiva. O funcionamento da indústria 4.0 é composto por uma infraestrutura de tecnologias formadas por sistemas físicos e virtuais. Essas tecnologias possuem diferentes procedimentos e finalidades, não se limitando apenas ao termo “inteligente”, mas também diversos outros sistemas e setores como até mesmo o pós-venda com a manutenção dos produtos e serviços são tecnológicos (BECKER et al., 2018)
Conforme Porto e Kadlec (2018), o processo de construção em geral é disfuncional. Observa-se que em uma visão geral, não é clara uma padronização dos processos e a baixa industrialização o torna um setor de baixo avanço tecnológico. O envolvimento de diversos agentes no processo construtivo, como construtores e fornecedores, aliados às condições de ambientes dificultam a união da construção civil com a indústria 4.0.
Além dessas dificuldades, muitos profissionais do setor optam por não expandir a indústria da construção civil para novos desenvolvimentos, pois acreditam que não haveria retornos consideráveis e que justifiquem a mudança. Fora isso, muitas empresas não conhecem ou estão desatualizadas em relação às inovações do mercado e se limitam ao conhecimento básico. (RIBEIRO, 2019)
Em contra partida, nos últimos anos, cada vez mais novas startups concorrem pela inovação ao desenvolverem ferramentas e tecnologias que mudam a forma com que as empresas projetam, planejam e executam suas atividades através de novos softwares e hardwares. Dessa forma, algumas áreas da construção civil já evidenciam avanços como a compatibilização e compartilhamento de dados e informações sobre projetos por meio de software. Em uma era construtiva em que o foco é a pressão por resultados melhores, custos baixos, prazos e produtividade é cada vez maior, as tecnologias surgem como aliadas nessa nova fase. (BLANCO et al., 2017).
2.2. Atuação tecnológica na Engenharia Diagnóstica
Para Ribeiro (2019) e Miranda (2020), a aplicação da indústria 4.0 na construção civil é ampla e comtempla todas as fases desde planejamento, execução e até o pós-obra com a manutenção. A manutenção objetiva promover e manter a segurança e conforto ambiental dos usuários, prevenir a deterioração de elementos e sistemas, e manter o desempenho da edificação.
A manutenção acompanha e repara o nível de desempenho, mantém as condições de uso e prolonga a vida útil da edificação. Além disso, é importante no papel de evidenciar o uso de ferramentas e técnicas modernas advindas da nova indústria 4.0 que auxiliem na estratégia e no planejamento para manutenção, não apenas como respostas a problemas no edifício, mas também como ações pré-estabelecidas e programadas, agindo de forma preventiva contra futuros problemas (VILLANUEVA 2015).
De acordo com Villanueva (2015), falta investimento e incentivo da parte profissional, em se tratando de capacitação predial, na área da engenharia diagnóstica, em específico na manutenção. A organização funcional de manutenção necessita de requisitos, políticas, procedimentos e organização de informações. Além disso, depende de uma análise do histórico, estudos de tendência e maior capacitação da mão de obra. A manutenção deve ser contínua e sistemática para preservar o desempenho da edificação, o que exige investimentos em controle e gestão de processo.
Segundo Morilha (2011), manutenção predial moderna detém da cultura da melhoria aprimorada e contínua de atividades, visando acompanhar o comportamento de todos os elementos da construção. Com o intuito de suprir a necessidade de planejar e avaliar procedimentos, integrar sistemas, reduzir manutenções corretivas, incentivar a manutenção preventiva e reduzir custos e desperdícios, foi criado o gerenciamento da manutenção. Esse conceito exige elaborar rotinas impressas com ordens de serviços, mapas de acompanhamento, dimensionamento de equipes, realizar o controle de atividades, treinar equipes e produzir relatórios gerenciais, para um bom desempenho das operações e serviços.
2.3. Manifestações Patológicas
Com a vigência da NBR 15575 (ABNT, 2013) com enfoque no desempenho das edificações, houve uma maior preocupação com os requisitos e critérios, baseada nas necessidades e exigências dos usuários. Bem como a ABNT NBR 16747 (ABNT, 2020), com sua primeira edição em 2020, tratando diretamente de conceitos e procedimentos da inspeção predial, abrangendo termos como avaliação sensorial e condições de exposição.
A elaboração e a implantação de um programa de manutenção corretiva e preventiva nas edificações, segundo a NBR 5674 (ABNT, 2012), além de serem importantes para a segurança e qualidade de vida dos usuários, são essenciais para a manutenção dos níveis de desempenho ao longo da vida útil projetada.
2.4. Classificação das anomalias e falhas
Acordo com a Norma de Inspeção Predial (IBAPE-SP, 2021), as anomalias e falhas são eventos que deterioram a devida utilização do sistema ou dos elementos construtivos, e assim resultando em desempenho inferior ao requerido em devido de irregularidades construtivas ou de processos de degradação.
De forma a afetar condições como: segurança; funcionalidade; operacionalidade; saúde de usuários; conforto térmico, acústico e lumínico; acessibilidade, durabilidade, vida útil, dentre outros parâmetros de desempenho definidos na NBR 15575, Edifícios habitacionais – desempenho (ABNT, 2013).
Confirme a Norma de Inspeção Predial Nacional (IBAPE, 2012) as más condições constituintes podem potencialmente estarem relacionadas a desvios técnicos e de qualidade da construção e (ou) manutenção da edificação. Ou ainda, não atenderem aos parâmetros de conformidade previstos para os sistemas construtivos e equipamentos instalados, assim como dados e recomendações dos fabricantes, manuais técnicos em geral, projetos e memoriais descritivos, normas, etc.
Segundo o Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (IBAPE, 2012) as anomalias podem ser classificadas em:
a) Endógena: Originaria da própria edificação (projeto, materiais e execução);
b) Exógena: Originaria de fatores externos a edificação, provocados por terceiros;
c) Natural: Originaria de fenômenos da natureza;
d) Funcional: Originaria da degradação de sistemas construtivos pelo envelhecimento natural e, consequente, término da vida útil;
E de igual modo classifica as falhas em:
a) De planejamento: Advindas de lapsos de procedimentos e especificações inadequados do plano de manutenção, sem aderência a questões técnicas, de uso, de operação, de exposição ambiental e, principalmente, de confiabilidade e disponibilidade das instalações, consoante a estratégia de Manutenção. Além dos aspectos de concepção do plano, há falhas relacionadas às periodicidades de execução.
b) De execução: Associada à manutenção proveniente de falhas causadas pela execução inadequada de procedimentos e atividades do plano de manutenção, incluindo o uso inadequado dos materiais
c) Operacionais: Relativas aos procedimentos inadequados de registros, controles, rondas e demais atividades pertinentes.
d) Gerenciais: Decorrentes da falta de controle de qualidade dos serviços de manutenção, bem como da falta de acompanhamento de custos da mesma.
2.5. Classificação do grau de risco
O critério de classificação das anomalias e falhas existente na edificação, e constatadas em uma inspeção predial, considerado o risco oferecido aos usuários, ao meio ambiente e ao patrimônio, de acordo com o IBAPE (2012), são classificadas nos seguintes graus de risco: crítico, médio e mínimo.
a) Crítico (C): Risco de provocar danos contra a saúde e segurança das pessoas e do meio ambiente; perda excessiva de desempenho e funcionalidade causando possíveis paralisações; aumento excessivo de custo de manutenção e recuperação; comprometimento sensível de vida útil;
b) Médio/Regular (R): Risco de provocar a perda parcial de desempenho e funcionalidade da edificação sem prejuízo à operação direta de sistemas, e deterioração precoce;
c) Mínimo (M): Risco de causar pequenos prejuízos à estética ou atividade programável e planejada, sem incidência ou sem a probabilidade de ocorrência dos riscos críticos e regulares, além de baixo ou nenhum comprometimento do valor imobiliário;
d) Nenhum (N): não oferece risco. Portanto, cada falha ou anomalia foi identificada na edificação e, considerados os conceitos apresentados, classificadas de acordo com o grau de risco que oferece.
2.6.Inspeção Predial
Segundo a NBR 16747 (ABNT, 2020), é o processo de avaliação das condições técnicas de uso, operação, manutenção e funcionalidade da edificação e de seus sistemas e subsistemas construtivos, de forma sistêmica e predominantemente sensorial (na data da vistoria), considerando os requisitos dos usuários.
A inspeção não é simples constatação. Também não é atestamento ou determinação, pois ultrapassam aos objetivos e limitações da inspeção. Muito menos é uma prescrição. O propósito da inspeção se dá na análise técnica (SILVA, 2016).
Gomide et al. (2011) discorre sobre os termos da engenharia diagnóstica, dos quais existem cinco ferramentas que se diferenciam quanto à sua finalidade. As ferramentas diagnósticas respeitam uma ordem hierárquica.
Figura 1. Ferramentas da engenharia diagnóstica.
2.7. Vistorias Sistematizadas
As vistorias possuem o objetivo principal de constatar anomalias e falhas de manutenção, uso e operação (e de suas eventuais manifestações em termos de sinais e sintomas de deterioração). Embora esta etapa da Inspeção Predial seja predominantemente sensorial, as vistorias podem considerar a execução de testes de funcionamento simples nas instalações e nos equipamentos, o que pode demandar por programações de horários e procedimentos específicos, que deverão ser considerados no planejamento desta etapa de trabalho (IBAPE-SP, 2021).
Consiste em um dos pontos principais para identificação das manifestações patológicas bem como meio de comprovação na coleta de dados para que possa dar embasamento para as demais etapas de inspeção, sem a vistoria não há confiabilidade em quaisquer elementos de subjetividade ou de hipótese. A vistoria pode ser realizada por equipes multidisciplinares, dependendo da complexidade do objeto de estudo, no caso o imóvel. Ainda, a NBR 16747 (ABNT, 2020) ressalta o fato de a vistoria ser de caráter sensorial, portanto, assim, sendo inviável de detectar vícios ocultos que não manifestem patologias ou funcionamento inadequado, sintomas ou sinais aparentes e que somente possam ser observados através de ensaios específicos.
Conforme NBR 16747 (2020) e a Norma de inspeção Predial (IBAPE-SP, 2021) as vistorias devem considerar:
a) Características construtivas e a complexidade dos sistemas construtivos.
b) Idade dos sistemas construtivos e respectiva vida útil de projeto ou esperada.
c) Exposição ambiental da edificação.
d) Agentes e processos de degradação esperados e atuantes.
e) Expectativa sobre o comportamento em uso ou desempenho dos sistemas construtivos.
f) Histórico de manutenção com programas e registros.
g) Alterações da edificação e de suas partes ao longo da fase de uso, especialmente quanto a realização de reformas e mudanças de uso.
2.7.1. Levantamento de dados na vistoria
Para instruir o laudo, recomenda-se obter informações através de questionários e entrevistas junto aos usuários e demais responsáveis pela edificação, principalmente no caso de reformas e modificações (IBAPE SP,2011).
Baseado na NBR 16747 (2020), o autor da vistoria, sendo um profissional devidamente habilitado para exercer as análises, deve ter acesso aos documentos, identifica los e lista-los como forma de respaldo e segurança em caso de comprovação jurídica e também para ser descrito em um futuro laudo técnico. Deve verificar também se a documentação estava em posse do responsável, conforme NBR 5674 (ABNT, 2012) e, caso haja irregularidades neste momento, estas também devem ser registradas no laudo técnico.
2.7.2. Checklist-Base
Constituem-se de questionários elaborados pelos autores da vistoria ou inspeção como meio de verificação e anotação in situ das características técnicas, de uso e de manutenção de uma edificação. Tem como objetivo registrar durante as vistorias, as características gerais da edificação, bem como seus diferentes sistemas construtivos, as práticas de uso e manutenção adotadas pelos usuários e administradores, e as anomalias e falhas que estejam manifestas (BÖES, 2017).
Conforme Carvalho e Almeida (2017), é uma entrevista preliminar com síndicos e/ou funcionários de terceirizadas, antes da inspeção, para fornecer informações importantes quanto às possíveis modificações e reformas da edificação original, assim como permitir melhor entendimento das práticas rotineiras de conservação e manutenção.
Esses formulários possibilitam um maior controle de na elaboração dos laudos de inspeção predial, bem como, organizar os dados analisados de forma suscinta e direta (BÖES, 2017), garantindo assim, que todos os sistemas e elementos relevantes na inspeção que compõe uma edificação tenham sido analisados e seus graus de segurança devidamente identificados. (VERZOLA; MARCHIORI; ARAGON, 2014).
Esta parte do checklist também inclui itens de avaliação da manutenção e do uso, assim como das recomendações gerais e de sustentabilidade, por considerar que as informações requeridas por estes tópicos devem ser obtidas durante a inspeção de campo (CARVALHO E ALMEIDA, 2017).
2.7.2.1. Registro Fotográfico
O relatório fotográfico é fundamental para facilitar a identificação das não conformidades. A planilha desenvolvida do registro fotográfico contém, além das descrições das irregularidades, as respectivas classificações e recomendações técnicas (CARVALHO E ALMEIDA, 2017).
2.7.2.2. Checklist
Carvalho e Almeida (2017), no Congresso Brasileiro de Engenharia de Avaliações e Perícias (COBREAP), apresentaram um modelo de checklist, porém para residenciais de múltiplos pavimentos. Para o preenchimento dispuseram 3 etapas listadas a seguir:
i. Entrevista preliminar;
ii. Análise de documentos;
iii. Inspeção de campo.
2.8. Laudos
2.8.1.1. Laudo de Inspeção Predial
O laudo de Inspeção Predial é o documento único e completo resultante da inspeção sistêmica da edificação. Conforme a Norma de Inspeção Predial do IBAPE-SP (2021), trata dos requisitos e termos que devem conter todas as informações sobre todos os sistemas construtivos existentes na edificação, observado o conteúdo mínimo listado a seguir.
a) Identificação do solicitante ou contratante e responsável legal da edificação.
b) Descrição técnica do empreendimento (localização, mês e ano de início da ocupação, tipo de uso, número de edificações quando for um empreendimento, número de pavimentos, número de unidades quando for edificação com unidades privativas, área construída, tipologia dos principais sistemas construtivos e descrição mais detalhada, quando necessário).
c) Data das vistorias que compuseram a inspeção e suas equipes.
d) Descrição completa da metodologia da Inspeção Predial.
e) Documentação solicitada e documentação disponibilizada.
f) Análise da documentação disponibilizada.
g) Lista dos sistemas, elementos, componentes construtivos e equipamentos inspecionados e não inspecionados.
h) Descrição das anomalias e falhas de uso, operação ou manutenção e não conformidades constatadas nos sistemas construtivos e na documentação analisada, inclusive nos laudos de Inspeção Predial anteriores.
i) Classificação das irregularidades constatadas, quanto à sua origem.
j) Recomendação das ações necessárias para restaurar ou preservar o desempenho de sistemas, subsistemas e elementos construtivos da edificação.
k) Organização das recomendações técnicas em patamares de prioridade.
l) Avaliação da manutenção e das condições de uso de sistemas e componentes construtivos da edificação.
m) Conclusões.
n) Encerramento, onde deve constar a seguinte nota obrigatória: ―Este Laudo foi desenvolvido por solicitação de (nome do contratante) e contempla o parecer técnico do(s) subscritor(es), elaborado com base nos critérios da Norma de Inspeção Predial do IBAPE/SP, sendo de uso exclusivo do contratante.
o) Data do laudo técnico de Inspeção Predial.
p) Assinatura do(s) profissional(ais) responsável(eis) pelo laudo, acompanhada do nº no respectivo conselho de classe.
q) Anotações de Responsabilidade Técnica (ART) ou Registros de Responsabilidade Técnica (RRT) do(s) profissional(ais) responsável(eis) pelo laudo.
2.9. Aplicativo para inspeção
2.9.1. Aplicativos existentes
A seguir a tabela 2, mostra a lista dos aplicativos que possuem as mesmas propostas que o atual estudo, visando a melhor valia de qualidade para o máximo aproveitamento.
Tabela 1. Aplicativos correlatos encontrados.
APLICATIVO | PROPOSTA | WEB LINK |
Inspeção-pró | Aplicativo para inspeção com checklist, formulários, registros e laudos. | https://inspecao.pro/ |
EngLaudos | Gerar laudos de inspeção a partir de preenchimento de dados de formulários. | 2020: Eng laudos : aplicativo para laudo técnico de inspeção predial. | Produções Técnicas |
The Checker Pro | software de otimização de processos de inspeção e auditoria através de dispositivos móveis. | Saiba tudo sobre o The Checker Pro (b2bstack.com.br) |
Atualmente as inspeções se utilizam de aplicativos além dos citados acima, alguns mais acessíveis. Porém, para uma inspeção por vezes são necessários mais de um aplicativo para que a inspeção seja feita com nível detalhado e satisfatório. Sendo estes os mais utilizados:
– Namoa Digital
– MoreApp
– MSYS Vistorias
2.9.2. Flutter
O Flutter é um framework criado pelo Google para a criação de aplicativos seja qual for a tela. É uma plataforma low-code online para o desenvolvimento de aplicações mobile e web, possibilitando a locação de views e interfaces e o foco da elaboração seja da funcionalidade e dos recursos do aplicativo (SILOTTO, 2022).
2.9.2.1.Vantagens
O Flutter consegue manter a estrutura visual entre as plataformas, enquanto oferece um desenvolvimento com desempenho semelhante à performance nativa. Por essa razão que o SDK (Software Development Kit) desenvolvido pela Google já esteja fazendo parte de muitos projetos pelo mundo atualmente. Há uma série de benefícios que ele oferece e que chamam a atenção dos profissionais, sendo alguns deles o rápido desenvolvimento de código e a surpreendente UI (User Interface) (QUEIROZ, 2021).
3. MATERIAIS E MÉTODO
O presente trabalho engloba o desenvolvimento de um aplicativo dispondo do objetivo de otimizar e viabilizar a elaboração de laudos de inspeção residencial, mais especificamente, inspeções nível 1, por meio da plataforma FlutterFlow, bem como evidenciar a clareza do aprimoramento das coletas de dados de manifestações patológicas. Para esse trabalho tomou-se por escolha uma residência unifamiliar, assim prosseguiu-se com a vistoria de inspeção com a utilização do aplicativo.
O FlutterFlow é uma plataforma criada pela google para facilitar a concepção de sistemas Android, IOS, mobile e web. Visando a estratégia didática e simples de low-code, permite que o usuário apenas monte como um “quebra cabeça” o sistema com as funcionalidades desejadas.
Assim, os resultados apresentados serão de forma expositiva, por meio do relatório técnico de manifestações patológicas, também conhecido como laudo de inspeção residencial. Depois será realizada uma análise de eficiência do resultado.
3.1. Área de Estudo
O empreendimento escolhido é residencial unifamiliar. A escolha desse empreendimento baseou-se na disponibilidade de acesso e por ser um objeto de estudo com a capacidade de contribuir para a verificação de eficiência na elaboração do laudo de inspeção. Situado em Manaus/AM, de fácil acesso e satisfatório na análise dos componentes dos sistemas construtivos.
3.2. Materiais
3.2.1. FlutterFlow
A plataforma FlutterFlow escolhida para que a implantação seja feita, criado pela Google e com a disponibilidade de criação de forma gratuita e com a codificação do aplicativo simples em “box” de ferramentas de muita praticidade e relevância na etapa da pesquisa.
Buscando meios de agregar valores e otimização para as vistorias bem como o rápido processamento de dados na fomentação de laudos de inspeção residencial, com a pretensão de utilizar o mínimo de material possível, além do objeto de estudo, sendo este a residência unifamiliar, e o aplicativo.
A plataforma foi escolhida devido o suporte e interface mais sofisticada e atrativa, pela facilidade de programação sem necessidade de uma linguagem específica e por haver mais informação, apesar de ser uma plataforma recente.
3.2.2. Checklist
O checklist foi desenvolvido mediante pesquisas dos autores citados, e de artigos publicados no COBREAP.
3.2.3. Normas e regulamentações vigentes.
Assim como exposto no referencial, há normal que regulamentam laudos e determinam diretrizes de inspeção mínimas para residências aplicadas a nível 1, e tais serão utilizadas para basear a programação do aplicativo.
3.3. Métodos
3.3.1. Elaboração de modelo de checklist de inspeção
Mediante normativas e regulamentações do IBAPE-SP e modelos publicados, avaliou-se o melhor modelo para elaboração de um checklist base para que o aplicativo seja implantado, de forma a obter aproveitamento máximo de estudos sobre a melhor análise através de um formulário sucinto e objetivo (figura 26 e 27).
Figura 2. Checklist-base do Aplicativo
Figura 3. Continuação do checklist-base para o aplicativo
Figura 4. Continuação do checklist-base para o aplicativo
Figura 5. Avaliação de projetos existentes na edificação
Figura 6. Continuação do checklist-base para o aplicativo.
Com os pontos do checklist a serem utilizados determinados, prosseguiu-se o estudo do desenvolvimento do aplicativo, através da plataforma Flutter (Figura 7), tendo em vista os pontos de manifestações patológicas, e em como implantar a devida coleta de dados através da otimização do sistema para a utilização posterior.
Figura 7. Interface do Flutter no processo de desenvolvimento da cadeia de “box-code”.
Fonte: Autora, 2023.
Com o desenvolvimento das funcionalidades básicas do aplicativo desenvolveu-se o template do relatório a ser gerado. Sendo assim, os preenchimentos de dados iniciais seriam para um forms programado diretamente para o template do relatório (Figura 8).
Figura 8. Parte do template do laudo evidenciando os dados que serão extraídos do formulário do aplicativo.
Fonte: Autora, 2023.
3.3.3. Vistoria à residência unifamiliar
Mediante modelo dos pontos a serem inspecionados e com o sistema apto para utilização, tornou-se o uso do sistema com a residência, que é objeto do estudo, e assim obter os pontos e registros de manifestações. Em observância sempre às classificações de cada registro como anomalia, falha e grau de risco.
Mediante a visita coletou-se os principais documentos como projetos de arquitetura, e instalações, sendo estes os únicos existentes de objeto de estudo, o empreendimento não tem registros de vistorias anteriores. Após a entrevista de documentação e dados, prosseguiu-se com os registros e observações feitas durante toda a vistoria.
3.3.4. Gerar o Laudo de Inspeção
Após a coleta e com as identificações técnicas da residência o aplicativo identifica os dados coletados e atribui ao template, quais os riscos e recomendações de cada não conformidade observada. Por fim, gera o laudo de Inspeção Residencial aplicado nível 1.
4. RESULTADOS ESPERADOS
Com a elaboração do checklist inicialmente finalizada, pode tornar o direciona mento do estudo mais eficaz, seguindo então para a programação do aplicativo. Para o aplicativo conseguir linkar as respostas obtidas no formulário de dados, foi elaborado um template. Com isso, a viabilidade da conservação dos dados e ainda maior segurança quanto à privacidade dos mesmos.
Seguindo as necessidades prevista, a finalização do processo de do código-fonte, envolvendo o forms baseado no checklist criado mediante as perspectivas normativas, pôde ser concluída obtendo o resultado mostrado a seguir (Figuras 1 a 7):
Figura 9. Tela inicial do aplicativo LAINS.
Fonte: Autora, 2023
Figura 10. Preenchimento dos dados do profissional.
Fonte: Autora, 2023
Figura 11. Preenchimento dos dados do requerente da vistoria.
Figura 12. Preenchimento dos dados da edificação.
Figura 13. Continuação dos dados da edificação.
Figura 14. Preenchimento dos sistemas construtivos encontrados.
Figura 15. Preenchimento dos projetos encontrados.
Figura 16. Etapa de cadastro das anomalias.
Figura 17. Inserção das observações/recomendações.
Fez-se o teste com o objeto de estudo, identificado como residência unifamiliar. As visitas se deram de forma presencial com direcionamento profissional, e assim seguindo os protocolos estabelecidos de processos de vistoria. Após preencher os dados do aplicativo, obtivemos o seguinte resultado de laudo de inspeção da residência:
5. CONCLUSÃO
Diante da premissa, a qual busca uma eficiência do sistema, a proposta de otimização na coleta de dados foi satisfatória de forma positiva, bem como a elaboração do template para o laudo buscando a adequação do mesmo ao atendimento dos requisitos propostos das diretrizes do checklist desenvolvido, o qual por sua vez foi o cerne de todo o espoco de desenvolvimento. A fim de que seja cada vem mais evoluída a tecnologia no ramo da ED, conclui-se que o sistema foi capaz de elaborar o laudo residencial do objeto de estudo, bem como ser estruturado de acordo com as normas vigentes da área da engenharia diagnóstica. Assim, os dados coletados evidenciaram suficiência e qualificação resultados, bem como a efetividade do laudo final gerado.
A pesquisa se mostrou uma ferramenta de evolução de inspeções aplicadas à nível 1, viável em seu pleno desenvolvimento, e ainda satisfatória a qualidade dos laudos gerados através do aplicativo.
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