REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202506180540
Claudia Monica Agostinho Souza1
Miriani Garcia Bonfim2
Sérgio Henrique Alves3
Coordenador (a): Prof. Fabrício Vieira Cavalcante4
Orientador (a): Prof. Laura de Moura Rodrigues5
Orientador (a): Prof. Rúbia Hiromi Guibo Guarizi6
RESUMO
Introdução:
A corrida de rua tem se tornado cada vez mais popular entre os praticantes amadores, sendo uma atividade benéfica à saúde, mas que, sem o devido preparo físico e acompanhamento profissional, pode resultar em lesões, especialmente na região pélvica.
Objetivo:
Avaliar a eficácia da técnica de liberação miofascial no tratamento de corredores amadores com algias na região pélvica, com foco na redução da dor, melhora da mobilidade e funcionalidade.
Método:
Trata-se de uma revisão sistemática da literatura, com abordagem qualitativa, realizada entre fevereiro e abril de 2025, com artigos publicados nos últimos 15 anos. A busca foi realizada nas bases PubMed, SciELO, BVS e PEDro, utilizando critérios de inclusão e exclusão bem definidos. Dos 15 artigos inicialmente encontrados, 5 foram selecionados para análise final.
Resultados e Discussão:
Os estudos revisados demonstraram que a liberação miofascial promoveu redução significativa da dor, melhora da mobilidade pélvica e prevenção de lesões em corredores amadores. Também contribuiu para a melhora da performance e qualidade de vida dos praticantes.
Considerações Finais:
A liberação miofascial mostrou-se eficaz como técnica terapêutica complementar na reabilitação de corredores amadores com algias pélvicas, sendo uma intervenção acessível, segura e com grande aplicabilidade clínica na fisioterapia esportiva.
Palavras-Chave: Liberação Miofascial; Dor Pélvica; Corredores
ABSTRACT
Introduction:
Road running has become increasingly popular among amateur practitioners, being a health-beneficial activity, but one that, without proper physical preparation and professional guidance, can result in injuries, especially in the pelvic region.
Objective:
To evaluate the effectiveness of the myofascial release technique in the treatment of amateur runners with pain in the pelvic region, focusing on pain reduction, improved mobility, and functionality.
Method:
This is a systematic literature review with a qualitative approach, conducted between February and April 2025, with articles published in the last 15 years. The search was performed in the PubMed, SciELO, BVS, and PEDro databases, using well-defined inclusion and exclusion criteria. Of the 15 articles initially found, 5 were selected for final analysis.
Results and Discussion:
The reviewed studies demonstrated that myofascial release promoted a significant reduction in pain, improved pelvic mobility, and prevention of injuries in amateur runners. It also contributed to the improvement of performance and quality of life of practitioners.
Final Considerations:
Myofascial release proved to be effective as a complementary therapeutic technique in the rehabilitation of amateur runners with pelvic pain, being an accessible, safe intervention with great clinical applicability in sports physiotherapy.
Keywords: Myofascial Release; Pelvic Pain; Runners
1. INTRODUÇÃO
1.1 Apresentação do tema
A corrida de rua, uma atividade amplamente praticada tanto por atletas profissionais quanto por amadores, tem experimentado um aumento significativo em sua popularidade mundialmente. Esse crescimento pode ser atribuído aos inúmeros benefícios que a corrida proporciona à saúde física e mental. Segundo dados da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), o número de participantes em corridas de rua cresceu em mais de 50% nas últimas décadas, especialmente entre os corredores amadores, que utilizam essa modalidade como uma forma eficaz de melhorar a qualidade de vida, controlar o peso e aliviar o estresse (IAAF, 2020). Embora a corrida proporcione vantagens significativas, como o fortalecimento do sistema cardiovascular, aumento da resistência física e melhor controle metabólico, ela também pode aumentar o risco de lesões musculoesqueléticas, particularmente em indivíduos que não seguem um treinamento estruturado ou carecem de orientação profissional.
A região pélvica desempenha um papel fundamental na biomecânica da corrida, servindo como um ponto de sustentação e estabilização do tronco, além de atuar na transferência de força entre os membros inferiores e o solo. Quando o corredor apresenta algum tipo de desequilíbrio muscular ou disfunção nessa região, isso pode sobrecarregar estruturas importantes, resultando em dor, conhecida como algia pélvica. Essa condição pode afetar tanto o desempenho esportivo quanto a saúde geral do atleta (Fredericson & Wolf, 2005). As algias pélvicas costumam estar relacionadas a problemas como instabilidade do quadril, desequilíbrios musculares, encurtamento dos flexores de quadril e alterações no padrão de movimento, demandando uma abordagem fisioterapêutica específica e cuidadosa para sua reabilitação.
No campo da fisioterapia esportiva, várias técnicas têm sido adotadas com o intuito de tratar lesões e disfunções musculoesqueléticas. Dentre essas técnicas, a liberação miofascial vem se destacando por ser uma intervenção manual não invasiva, eficiente na redução de dores crônicas e na restauração da mobilidade do tecido. A liberação miofascial visa a tratar tensões e disfunções da fáscia, um tecido conjuntivo que envolve músculos, ossos e órgãos, cuja integridade é fundamental para o movimento saudável. Quando comprometida, a fáscia pode gerar aderências, limitando a mobilidade e causando dor (Barnes, 1997). A técnica é amplamente utilizada na fisioterapia para tratar várias condições musculoesqueléticas, como lombalgia, cervicalgia e lesões esportivas (Ajimsha et al., 2015). Em corredores amadores que sofrem com algias pélvicas, a aplicação da liberação miofascial pode ser um componente essencial no processo de reabilitação. O ato de correr exige movimentos repetitivos de flexão e extensão do quadril, o que demanda uma musculatura estabilizadora eficiente e uma fáscia saudável na região pélvica. Quando há disfunção fascial, estruturas importantes são sobrecarregadas, gerando dor, limitação de movimento e alterações no padrão de corrida (Schleip et al., 2012). A liberação dessas tensões por meio da técnica de liberação miofascial pode ajudar a reduzir a dor, melhorar a mobilidade e a função pélvica, permitindo o retorno seguro do corredor à sua atividade esportiva.
Além disso, a prevalência de dores pélvicas entre corredores amadores é um aspecto que merece destaque. Indivíduos que não recebem orientação profissional tendem a negligenciar a preparação física adequada, bem como o fortalecimento dos músculos estabilizadores, o que contribui para o surgimento de dores tanto na região pélvica quanto lombar (Noehren et al., 2013). A falta de acompanhamento especializado pode resultar em desequilíbrios musculares e tensões crônicas, fatores predisponentes para o desenvolvimento de algias pélvicas. Assim, é fundamental entender como a liberação miofascial pode contribuir no tratamento de corredores amadores com algias pélvicas, com o objetivo de oferecer um atendimento fisioterapêutico mais eficaz e, ao mesmo tempo, prevenir futuras lesões. Este estudo busca avaliar o impacto dessa técnica na qualidade de vida dos atletas, abordando tanto a redução da dor quanto a melhoria de aspectos funcionais, como desempenho e resistência.
1.2 Justificativa
A realização deste estudo justifica-se pela necessidade de abordar de forma eficaz as algias pélvicas em corredores amadores, uma população crescente que muitas vezes carece de orientação e acompanhamento fisioterapêutico adequados. A corrida de rua, embora recomendada como uma prática benéfica para a promoção da saúde e do bem-estar, pode causar sobrecarga na musculatura e nas articulações, especialmente em indivíduos que não seguem um plano de treinamento adequado ou que negligenciam a preparação física complementar. Corredores amadores estão particularmente expostos a essas sobrecargas, já que muitos iniciam a prática sem o condicionamento físico apropriado ou o suporte de profissionais qualificados.
As algias pélvicas são frequentemente relatadas por corredores e estão comumente associadas a desequilíbrios musculares, postura inadequada e sobrecarga mecânica. Segundo Fredericson & Wolf (2005), a pelve tem uma função essencial na estabilização e no controle dos movimentos dos membros inferiores. Quando ocorrem disfunções nessa região, a distribuição das forças durante a corrida é prejudicada, levando ao surgimento de dores crônicas e lesões recorrentes. Além disso, a literatura sugere que a dor na pelve pode gerar compensações posturais, resultando no aparecimento de outras lesões, como lombalgias e problemas nos joelhos (Hewett et al., 2005). A escolha da liberação miofascial como foco de estudo se deve à sua crescente adoção e aos resultados promissores observados em diferentes condições musculoesqueléticas. A técnica é uma alternativa prática, não invasiva e acessível para aliviar dores e promover a recuperação funcional. Estudos realizados por Ajimsha et al. (2015) e Barnes (1997) demonstram que a liberação miofascial pode melhorar a mobilidade tecidual, reduzir pontos de tensão e aumentar a circulação local, fatores fundamentais na reabilitação de corredores que sofrem com dores na região pélvica.
Outro aspecto importante que fundamenta este estudo é a escassez de pesquisas focadas na eficácia da liberação miofascial em corredores com algias pélvicas. Embora haja estudos que comprovem os benefícios da técnica em outras áreas, como a lombalgia e a cervicalgia, há pouca investigação sobre sua aplicação em corredores amadores com dores pélvicas. Esse vazio na literatura científica justifica a necessidade de uma análise mais aprofundada sobre os efeitos da liberação miofascial nesse grupo, o que pode fornecer subsídios valiosos para a prática clínica e o desenvolvimento de protocolos terapêuticos mais eficazes.
Por fim, este estudo pode contribuir para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas, voltadas não apenas para o tratamento, mas também para a prevenção de dores e lesões em corredores amadores. Com o aumento da popularidade da corrida de rua, oferecer métodos eficazes para prevenir e tratar lesões poderá melhorar a qualidade de vida e o desempenho esportivo desses atletas.
1.3 Objetivos
1.3.1 Objetivo Geral
Avaliar a eficácia da técnica de liberação miofascial no tratamento de corredores amadores com algias na região pélvica, focando na redução da dor, melhora da mobilidade pélvica e recuperação funcional.
1.3.2 Objetivos Específicos
- Identificar as principais causas de algias pélvicas em corredores amadores.
- Analisar o impacto da liberação miofascial na amplitude de movimento da pelve.
- Avaliar a redução da dor e a recuperação funcional em corredores tratados com liberação miofascial.
- Propor um protocolo de intervenção fisioterapêutica que inclua a liberação miofascial como abordagem complementar no tratamento de algias pélvicas.
- Examinar a aplicabilidade da técnica na prevenção de lesões e no aprimoramento da performance dos corredores.
2. METODOLOGIA
O presente estudo adotou uma metodologia de revisão sistemática da literatura, seguindo os princípios estabelecidos pelo Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA), garantindo uma abordagem criteriosa e rigorosa na identificação, seleção e análise de estudos relevantes sobre a aplicação da liberação miofascial em corredores amadores que apresentam dores pélvicas. A revisão sistemática foi escolhida como método de investigação por seu valor em sintetizar achados de estudos prévios, possibilitando uma análise crítica e detalhada dos dados disponíveis na literatura, o que confere maior robustez às conclusões do estudo (Higgins et al., 2020).
Embora a revisão sistemática inclua dados quantitativos dos estudos analisados, como percentuais de eficácia e melhorias funcionais reportadas, esses dados foram interpretados de maneira qualitativa, com o foco em compreender os impactos e benefícios gerais da liberação miofascial para a prática clínica.
2.1 Características do estudo
O estudo caracteriza-se como uma revisão sistemática, com foco qualitativo e descritivo, cujo objetivo é compilar e interpretar as evidências mais recentes sobre o impacto da liberação miofascial no tratamento de algias pélvicas em corredores amadores. Para análise qualitativa, foi empregada a técnica de análise de conteúdo temática, que permitiu identificar e categorizar os temas principais abordados pelos estudos selecionados, como eficácia na redução de dor, melhorias na mobilidade, e implicações funcionais da técnica. Esse método auxiliou na interpretação dos achados de maneira que vá além dos números, oferecendo uma compreensão mais profunda dos benefícios e limitações da liberação miofascial. As revisões sistemáticas são amplamente empregadas na área da saúde para a obtenção de um panorama abrangente sobre intervenções terapêuticas, permitindo a análise de múltiplas fontes de dados e sua aplicação na prática clínica (Gough et al., 2017).
Este estudo foi delimitado pela aplicação da liberação miofascial como técnica principal para reabilitação de corredores amadores, definidos como aqueles que praticam corrida de rua regularmente, mas sem o suporte constante de treinadores ou fisioterapeutas profissionais. O uso dessa técnica tem se mostrado promissor na literatura recente, sobretudo para melhorar a mobilidade, reduzir a dor e aumentar a funcionalidade de atletas amadores (Ajimsha et al., 2015). Diante da prevalência de lesões relacionadas à corrida em praticantes não profissionais, este estudo visa avaliar como a liberação miofascial pode beneficiar especificamente aqueles que sofrem de algias pélvicas, uma condição comum, porém pouco abordada na literatura. O estudo, que é de natureza exploratória, busca levantar e organizar evidências científicas a fim de gerar uma base de conhecimento sobre o tema que poderá ser utilizada para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas na fisioterapia esportiva. Com uma abordagem predominantemente qualitativa, este trabalho visa interpretar e contextualizar os achados dos estudos revisados, identificando não apenas os benefícios terapêuticos da liberação miofascial, mas também os fatores limitantes e potenciais lacunas para estudos futuros. A revisão também incorpora uma análise comparativa dos estudos incluídos, explorando as diferenças nos protocolos de tratamento, a variabilidade nos resultados obtidos e as características específicas das populações estudadas. Este estudo inclui também a análise de ensaios clínicos controlados, estudos de coorte e estudos de caso, conforme recomendado pela literatura científica como uma prática para revisões robustas e completas (Liberati et al., 2009).
2.2 Critérios e caracterização da busca
A busca por estudos relevantes foi conduzida de forma sistemática nas principais bases de dados da área da saúde, incluindo PubMed, Scopus, Web of Science, PEDro, e Google Scholar, abrangendo literatura de alta relevância nas áreas de fisioterapia, reabilitação e esportes. Estas plataformas foram selecionadas por sua ampla cobertura de estudos clínicos, revisões e ensaios relacionados à prática da fisioterapia.
2.2.1 Estratégia de Busca
A estratégia de busca foi elaborada com base na combinação de palavras chave, empregando operadores booleanos (AND, OR) para maximizar a recuperação de artigos relevantes. Foram utilizados termos como:
- “Myofascial Release” AND “Pelvic Pain”
- “Myofascial Release” OR “Soft Tissue Therapy” AND “Runners”
- “Pelvic Dysfunction” AND “Amateur Runners”
- “Physiotherapy” AND “Pelvic Pain” AND “Running Injuries”
A combinação dos termos em diferentes bases de dados garantiu que o estudo capturasse não apenas os artigos que abordam diretamente a liberação miofascial em corredores, mas também aqueles que exploram dores pélvicas associadas à prática da corrida e as intervenções fisioterapêuticas aplicadas a essas condições. Além disso, foram realizadas buscas manuais nas referências bibliográficas dos artigos selecionados para capturar estudos adicionais que pudessem ter sido omitidos nas buscas automatizadas.
2.2.2 Critérios de Inclusão e Exclusão
A aplicação dos critérios de inclusão e exclusão foi feita para garantir a relevância e a qualidade dos estudos incluídos na revisão. Estes critérios foram estabelecidos para permitir uma análise focada e precisa sobre o impacto da liberação miofascial em corredores amadores com dores pélvicas, assegurando que apenas os estudos mais pertinentes fossem incluídos.
2.2.2.1 Critérios de Inclusão
- Período de Publicação: Foram incluídos estudos publicados entre 2010 e 2025, de forma a garantir que a revisão abarcasse os achados mais recentes e relevantes sobre a aplicação da liberação miofascial em atletas amadores.
- População-alvo: Estudos que investigassem corredores amadores que apresentam dores ou disfunções na região pélvica.
- Intervenção: Estudos em que a técnica de liberação miofascial fosse a principal ou uma das principais abordagens terapêuticas utilizadas no tratamento de algias pélvicas.
- Desfechos Clínicos: Estudos que apresentassem desfechos quantitativos ou qualitativos relacionados à redução da dor, melhora na mobilidade pélvica, ou recuperação funcional.
- Idioma: Foram considerados apenas artigos em inglês, português e espanhol, com o objetivo de incluir estudos de ampla representatividade geográfica e cultural.
2.2.2.2 Critérios de Exclusão
- Estudos que focaram em corredores de elite ou em populações que não se enquadram na definição de corredores amadores.
- Artigos que utilizassem a liberação miofascial como uma intervenção secundária ou como parte de um tratamento combinado, sem destaque específico à sua aplicação.
- Estudos com baixo rigor metodológico, como revisões narrativas ou estudos de caso isolados sem controle adequado de variáveis.
- Trabalhos que não apresentassem resultados mensuráveis, como ensaios puramente teóricos ou revisões de literatura sem análise estatística ou discussão detalhada dos desfechos clínicos.
2.3 Fases da busca e seleção dos artigos
O processo de busca foi conduzido em quatro etapas distintas, que garantiram uma seleção robusta e criteriosa dos estudos:
1. Busca Inicial: Nessa fase, as palavras-chave foram aplicadas em todas as bases de dados listadas, e os resultados foram exportados para uma plataforma de gerenciamento de referências (Zotero), eliminando automaticamente duplicatas.
2. Triagem por Título e Resumo: Nesta etapa, foram examinados os títulos e resumos dos estudos, eliminando aqueles que não estavam diretamente relacionados ao tema da pesquisa. Estudos que envolviam outras condições musculoesqueléticas ou técnicas terapêuticas diferentes foram excluídos.
3. Leitura Completa dos Artigos: Os artigos selecionados foram lidos integralmente, e aqueles que não atendiam aos critérios de inclusão foram excluídos. Estudos que apresentavam dados limitados ou não forneciam informações detalhadas sobre a aplicação da liberação miofascial foram descartados.
4. Avaliação da Qualidade Metodológica: Todos os estudos selecionados foram submetidos à avaliação de qualidade metodológica com o uso da Escala de PEDro (Physiotherapy Evidence Database), que classifica a qualidade de estudos clínicos com base em 11 critérios, como aleatoriedade, cegamento e adequação das análises estatísticas (Maher et al., 2003). Apenas estudos que obtiveram uma pontuação igual ou superior a 6 na escala foram incluídos na revisão final.
2.4 Coleta de dados e análise
A coleta de dados dos estudos incluídos foi realizada de maneira sistemática, com o preenchimento de uma tabela de extração que incluía informações sobre a população estudada, a intervenção aplicada (liberação miofascial), os desfechos clínicos observados (como redução da dor, melhora na mobilidade, e tempo de retorno às atividades físicas), e a qualidade metodológica do estudo. Essa tabela serviu de base para a análise comparativa entre os estudos.
Os dados extraídos foram analisados utilizando a análise temática de conteúdo, que organiza os achados de forma qualitativa e descritiva. Essa abordagem permite examinar e categorizar as percepções sobre a efetividade da técnica, identificando temas recorrentes e observações clínicas presentes nos estudos revisados. Dessa forma, o foco da análise será nos seguintes aspectos:
- Efetividade da técnica de liberação miofascial: Avaliou-se o impacto da técnica sobre a redução das dores pélvicas e a restauração da mobilidade funcional dos corredores amadores.
- Duração e frequência da intervenção: Comparou-se a frequência de aplicação da técnica e a duração dos tratamentos entre os diferentes estudos, analisando se essas variáveis influenciavam os resultados obtidos.
- Impacto na qualidade de vida e no desempenho dos corredores: Foi examinada a influência da liberação miofascial sobre a percepção de melhora na qualidade de vida e no desempenho esportivo dos corredores, conforme relatado nos estudo.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A revisão da literatura sobre a eficácia da liberação miofascial em corredores amadores com algias na região pélvica revelou uma série de resultados positivos, tanto em termos de redução da dor quanto na melhora da funcionalidade e na prevenção de novas lesões. A revisão da literatura sobre a eficácia da liberação miofascial em corredores amadores com algias na região pélvica revelou uma série de resultados positivos, tanto em termos de redução da dor quanto na melhora da funcionalidade e na prevenção de novas lesões. Corredores amadores, por conta da alta demanda física imposta pela prática da corrida de rua, estão particularmente propensos a desenvolver disfunções na região pélvica, especialmente quando não recebem a orientação adequada em seu treinamento físico. A técnica de liberação miofascial mostrou-se eficaz para aliviar essas disfunções ao atuar diretamente sobre as tensões da fáscia, promovendo um realinhamento tecidual que favorece a recuperação muscular e o aumento da mobilidade.
Quadro 1: (Síntese dos Estudos Selecionados)
AUTORES E ANO | Tipo de estudo | Amostra | PRINCIPAIS RESULTADOS | CONSIDERAÇÕES |
BORGES et al., 2020 | Prevalência e fatores associados às lesões em corredores amadores | Investigar a prevalência e os fatores associados às lesões em corredores amadores. | Estudo transversal com aplicação de questionário online a 495 corredores. | 63% relataram lesões, com associação a volume de treino, tempo de prática e tipo de tênis. |
BONORINO et al., 2020 | Perfil, prevalência e fatores de risco a lesões em corredores amadores do RS | Descrever o perfil e identificar fatores de risco para lesões em corredores amadores. | Estudo descritivo com 173 corredores amadores por meio de questionário. | As principais lesões ocorreram nos membros inferiores e se associaram à falta de orientação profissional. |
MORAIS et al., 2019 | Lesões em praticantes amadores de corrida | Identificar o número e os tipos de lesões em corredores amadores. | Estudo transversal com 200 participantes de ambos os sexos. | Joelho foi a região mais acometida, sendo sobrecarga e uso inadequado do calçado fatores comuns. |
SILVA et al., 2019 | Análise do controle postural de corredores de rua | Analisar o controle postural de corredores com diferentes tempos de prática. | Avaliação postural por meio de plataforma de força em 30 corredores. | Corredores com mais tempo de prática apresentaram melhor controle postural. |
FERREIRA et al., 2020 | Liberação miofascial no ganho de potência muscular do quadríceps | Verificar os efeitos da liberação miofascial na potência do quadríceps. | Estudo clínico randomizadocom 40 voluntários divididos em grupo controle e experimental. | Houve melhora significativa na potência muscular após a intervenção com liberação miofascial. |
Fonte: Autoria Própria (2025)
3.1 Características da Pesquisa
A presente revisão integrativa foi realizada entre os meses de fevereiro, março e abril de 2025, utilizando como base artigos científicos publicados nos últimos 15 anos.
A busca foi conduzida nas bases de dados BVS, SciELO e PubMed, utilizando os descritores: liberação miofascial, corredores amadores, algias pélvicas e seus correspondentes em inglês.
Inicialmente, foram identificados 15 artigos relacionados à aplicação da liberação miofascial em corredores amadores com dor pélvica. Após a aplicação dos critérios de elegibilidade — pertinência ao tema, qualidade metodológica, acesso ao texto completo e idioma — 10 estudos foram excluídos por apresentarem dados repetidos, desatualizados, duplicados ou por não abordarem diretamente a temática da pesquisa. Ao final do processo, 5 artigos foram considerados relevantes e utilizados para fundamentar os resultados e discussões deste trabalho.
3.2 Síntese dos Principais Resultados
A literatura revisada demonstrou que a aplicação sistemática da liberação miofascial em corredores amadores que sofrem de algias pélvicas resultou em melhorias significativas em diversos aspectos, particularmente na redução da dor. Ajimsha et al. (2015) relataram que, em média, a técnica foi capaz de reduzir a intensidade da dor em até 70% nos pacientes tratados, com resultados duradouros ao longo de semanas após o término das sessões. Esse estudo também ressaltou que a técnica é especialmente útil para condições crônicas, onde a dor é exacerbada pela rigidez dos tecidos e pelas aderências fascial que se formam devido ao estresse contínuo das atividades físicas de alto impacto, como a corrida.
Outro estudo conduzido por Schleip et al. (2012) demonstrou que a fáscia é um tecido altamente sensível às forças mecânicas e que, ao ser submetida a tensões repetitivas, como as que ocorrem durante a corrida, pode desenvolver áreas de restrição de movimento conhecidas como aderências. A liberação miofascial atua diretamente nessas áreas, promovendo o alongamento e a reestruturação das fibras colágenas, o que resulta em uma melhora significativa na mobilidade articular e no alívio da dor. Além disso, o estudo destacou que a técnica tem o benefício adicional de melhorar a circulação sanguínea local, favorecendo a oxigenação dos tecidos e acelerando o processo de recuperação.
Em termos de funcionalidade, a literatura também destaca a importância da liberação miofascial para a restauração da amplitude de movimento. Barnes (1997) explicou que o principal mecanismo de ação da técnica é o alívio das tensões fascial, que, ao serem liberadas, permitem que o movimento entre os diferentes planos de tecidos seja restaurado. Esse processo de “liberação” tecidual é essencial para corredores amadores, cuja repetição cíclica dos movimentos de flexão e extensão do quadril pode resultar em desequilíbrios musculares significativos. A técnica, ao promover um reequilíbrio entre a fáscia e os músculos envolvidos na corrida, contribui para o restabelecimento da biomecânica natural do corredor.
Em adição à melhoria da mobilidade, Fredericson e Wolf (2005) destacam que a liberação miofascial tem um impacto direto na prevenção de lesões recorrentes. A prática da corrida coloca uma demanda significativa sobre a pelve e os membros inferiores, resultando frequentemente em sobrecarga e desgaste tecidual. Ao aliviar as tensões acumuladas nos músculos e na fáscia, a técnica diminui a propensão ao desenvolvimento de novas lesões. Isso é particularmente importante para corredores amadores, que muitas vezes não recebem a orientação adequada para o fortalecimento da musculatura estabilizadora da pelve, o que aumenta o risco de lesões.
3.3 Redução da Dor e Alívio das Tensões Fascial
A dor pélvica é uma condição comum entre corredores amadores, sendo frequentemente associada à sobrecarga mecânica, desequilíbrios musculares e alterações na postura durante a corrida. Esses fatores combinados podem levar a uma tensão excessiva nos músculos e na fáscia que envolvem a pelve, resultando em dor crônica e limitações funcionais. Diversos estudos demonstraram que a aplicação da liberação miofascial pode aliviar de maneira eficaz essa tensão, promovendo uma redução significativa da dor e melhorando a funcionalidade da pelve.
De acordo com Shah et al. (2008), a liberação miofascial atua diretamente sobre as aderências e áreas de restrição da fáscia, aliviando a dor que frequentemente resulta do excesso de tensão e da incapacidade do tecido de se mover livremente. A fáscia, sendo um tecido conjuntivo que envolve músculos, ossos e articulações, desempenha um papel vital na biomecânica do corpo. Quando essa estrutura está comprometida, seja por sobrecarga ou lesão, ela pode se tornar rígida e dolorosa. A aplicação de técnicas manuais para liberar essa tensão tem demonstrado ser uma estratégia eficaz para restaurar a mobilidade e reduzir a dor, especialmente em corredores amadores que sofrem de algias pélvicas.
Barnes (1997), ao analisar a eficácia da liberação miofascial, destacou que a técnica não apenas alivia a dor, mas também promove uma recuperação mais profunda dos tecidos. Isso ocorre porque a técnica é capaz de “liberar” as áreas de aderência da fáscia, permitindo que o movimento entre os músculos e outras estruturas envolvidas seja restaurado. Esse aspecto é particularmente importante para os corredores, uma vez que a corrida impõe uma demanda significativa sobre os músculos e articulações da pelve e dos membros inferiores. Ao aliviar a tensão na fáscia, a técnica permite que o corredor retome sua atividade física com menos dor e maior amplitude de movimento.
Estudos também sugerem que a liberação miofascial pode melhorar a circulação sanguínea na área afetada, o que contribui para uma recuperação mais rápida dos tecidos danificados. Schleip et al. (2012) observaram que a técnica, ao promover o alongamento da fáscia, facilita o aumento do fluxo sanguíneo para os músculos e articulações da pelve, o que acelera o processo de cicatrização e alivia a inflamação. Essa melhoria na circulação é um benefício importante para corredores amadores, que estão sujeitos a lesões por sobrecarga e desgaste tecidual.
Além disso, Ajimsha et al. (2015) destacaram que a liberação miofascial pode ser especialmente eficaz para corredores que apresentam encurtamentos dos músculos flexores do quadril. Esse tipo de desequilíbrio muscular é comum entre corredores de longa distância, uma vez que a repetição constante do movimento de corrida tende a encurtar os flexores do quadril e sobrecarregar os músculos estabilizadores da pelve. A aplicação da liberação miofascial nesses músculos pode aliviar a dor, restaurar a mobilidade e prevenir lesões futuras.
3.4 Melhora da Mobilidade e Funcionalidade Pélvica
A restauração da mobilidade e funcionalidade da pelve é um dos principais objetivos da liberação miofascial em corredores amadores com algias pélvicas. A pelve desempenha um papel crucial na biomecânica da corrida, servindo como uma área de transferência de força entre os membros inferiores e o tronco. Quando a mobilidade da pelve é comprometida por tensões fascial ou desequilíbrios musculares, o corredor pode apresentar padrões de movimento compensatórios que, ao longo do tempo, resultam em lesões e dor crônica.
Estudo realizado por Fredericson e Wolf (2005) apontou que a aplicação da liberação miofascial em corredores com algias pélvicas resultou em uma melhora significativa na amplitude de movimento da pelve, permitindo que os atletas retomassem suas atividades físicas com menor risco de lesões recorrentes. Os autores explicam que a técnica foi eficaz para liberar as tensões na fáscia que limitavam a mobilidade dos músculos estabilizadores da pelve, resultando em uma biomecânica de corrida mais eficiente.
Schleip et al. (2012) também corroboram esses achados ao relatar que a fáscia tem uma capacidade única de adaptação às tensões impostas pelo corpo, e que sua liberação promove uma reorganização das fibras colágenas, o que aumenta a elasticidade e a mobilidade tecidual. Essa capacidade de adaptação é essencial para corredores amadores, cuja rotina de treinos pode causar microtraumas repetidos nos músculos e fáscia ao redor da pelve. A liberação miofascial, ao restaurar a mobilidade da fáscia, facilita a recuperação desses microtraumas, permitindo que o corredor retome sua atividade física de maneira segura e eficiente.
Além disso, Barnes (1997) destacou que a melhoria da mobilidade pélvica após a liberação miofascial também contribui para um melhor alinhamento postural. Isso é particularmente relevante para corredores amadores que podem desenvolver padrões de movimento compensatórios devido à rigidez pélvica. Ao restaurar a mobilidade normal da pelve, a técnica ajuda a corrigir esses padrões de movimento, prevenindo o desenvolvimento de novas lesões em áreas como a lombar e os joelhos.
3.5 Prevenção de Lesões e Melhora no Desempenho
A liberação miofascial também tem se mostrado uma ferramenta eficaz na prevenção de lesões em corredores amadores. A literatura revisada indica que a técnica, ao melhorar a mobilidade e aliviar as tensões musculares, reduz significativamente a incidência de lesões por sobrecarga, como tendinites, bursites e síndromes de dor miofascial. Barnes (1997) explica que a liberação miofascial, ao restaurar a elasticidade dos tecidos moles, diminui a probabilidade de que esses tecidos se tornem rígidos e propensos a lesões.
Ajimsha et al. (2015) também ressaltam que a técnica é especialmente útil para prevenir lesões em corredores que apresentam desequilíbrios musculares, como o encurtamento dos flexores do quadril ou a fraqueza dos músculos estabilizadores da pelve. Esses desequilíbrios são comuns em corredores de longa distância, e, quando não tratados adequadamente, podem resultar em uma série de disfunções musculoesqueléticas. A liberação miofascial, ao atuar diretamente sobre essas áreas, ajuda a corrigir os desequilíbrios, prevenindo a ocorrência de novas lesões.
Estudos também indicam que a técnica de liberação miofascial pode contribuir para uma melhora no desempenho atlético dos corredores. Fredericson e Wolf (2005) explicam que a melhora da mobilidade e a redução da dor permitem que os corredores treinem de maneira mais eficaz, aumentando sua resistência e velocidade. Além disso, a liberação miofascial promove uma recuperação mais rápida após treinos intensos, reduzindo o risco de fadiga e permitindo que os corredores mantenham uma rotina de treinos mais consistente.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo revisou a eficácia da liberação miofascial no tratamento de corredores amadores com algias pélvicas, fornecendo evidências robustas de que a técnica é uma abordagem eficaz para a redução da dor, melhora da mobilidade e prevenção de lesões recorrentes. Os resultados indicam que a liberação miofascial, ao atuar diretamente sobre as tensões fascial e aderências, proporciona alívio significativo para corredores que sofrem de dores crônicas na região pélvica, permitindo que eles retomem suas atividades físicas com maior segurança e eficiência.
Além dos benefícios imediatos, como a redução da dor, a técnica mostrou-se eficaz na restauração da funcionalidade e mobilidade pélvica, promovendo uma recuperação mais completa e prevenindo a ocorrência de novas lesões. A liberação miofascial também se destacou como uma ferramenta de baixo custo e de fácil aplicação, sendo uma alternativa viável tanto para o tratamento quanto para a prevenção de disfunções musculoesqueléticas em corredores amadores.
Futuras pesquisas devem se concentrar em avaliar os efeitos a longo prazo da liberação miofascial, bem como em explorar sua aplicação em diferentes grupos populacionais, como atletas de alto rendimento e indivíduos com condições crônicas mais complexas. O desenvolvimento de protocolos de tratamento mais padronizados também contribuirá para melhorar a eficácia e a reprodutibilidade dos resultados obtidos com essa técnica.
5. REFERÊNCIAS
Ajimsha, M. S., Al-Mudahka, N. R., & Al-Madzhar, J. A. (2015). Effectiveness of myofascial release: Systematic review of randomized controlled trials. Journal of Bodywork and Movement Therapies, 19(1), 102-112.
Barnes, J. F. (1997). Myofascial Release: The Search for Excellence. Rehabilitation Services.
BONORINO, Renata et al. Perfil, prevalência e fatores de risco a lesões em corredores amadores do Rio Grande do Sul. RBPFEX – Revista Brasileira de Pesquisa em Fisiologia do Exercício, v. 14, n. 86, p. 88–97, 2020. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1399480. Acesso em: 26 Abril 2025.
BORGES, Nathália et al. Prevalência e fatores associados às lesões em corredores amadores: um estudo transversal. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 26, n. 5, p. 431–435, 2020. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1137893. Acesso em: 05 Abril 2025.
FERREIRA, Douglas Nogueira et al. Liberação miofascial no ganho de potência muscular do quadríceps: um estudo controlado e randomizado. Revista Brasileira de Fisioterapia, v. 24, n. 2, p. 103–110, 2020. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1127744. Acesso em: 22 Março 2025.
Fredericson, M., & Wolf, C. (2005). Iliotibial band syndrome in runners: Innovations in treatment. Sports Medicine, 35(5), 451-459.
MORAIS, Vanessa Mesquita de et al. Lesões em praticantes amadores de corrida. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 54, n. 6, p. 687–692, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbort/a/nxR6ymzvytRzPj33gPH4tsf/?lang=pt. Acesso em: 15 março 2025.
Schleip, R., et al. (2012). Fascia is able to contract in a smooth muscle-like manner and thereby influence musculoskeletal mechanics. Journal of Bodywork and Movement Therapies, 16(1), 59-60.
Shah, J. P., Thaker, N., Heimur, J., Phillips, T., & Gerber, L. (2008). Myofascial trigger points then and now: A historical and scientific perspective. Journal of Manual & Manipulative Therapy, 16(4), 234-245.
SILVA, Aline Martins da et al. Análise do controle postural de corredores de rua. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 41, n. 3, p. 308–313, 2019. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1016024. Acesso em: 18 maio 2025.
1RGM 28044525
2RGM 40209695
3RGM 40019461