ANALYSIS OF INFLUENZA VACCINATION COVERAGE IN BRAZIL FROM 2013 TO 2023
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202502201143
Ivan Paes Almada Andrade1
Naara de Paula Rocha2
Cecília Pereira Silva3
Luiz Antônio da Silva Neves4
RESUMO
O estudo analisou a cobertura vacinal contra a influenza no Brasil entre 2013 e 2023, com foco nas variações antes e após a pandemia de COVID-19. A pesquisa utilizou dados do DATASUS e revisão bibliográfica, aplicando testes estatísticos, como Shapiro-Wilk, Teste t de Student e Mann-Whitney, para avaliar diferenças significativas entre os períodos analisados. A cobertura vacinal apresentou oscilações ao longo da década, com um pico de 95,6% em 2020, e quedas acentuadas em 2021 (72,8%) e 2022 (68,1%). Em 2023, houve recuperação parcial para 78,5%, mas ainda abaixo da meta de 90%. Grupos prioritários como crianças, gestantes e puérperas demonstraram reduções estatisticamente significativas na cobertura vacinal no período pós-pandemia (p<0,05), enquanto trabalhadores da saúde, idosos e indígenas não apresentaram diferenças relevantes. A hesitação vacinal, agravada pela disseminação de desinformação durante a pandemia, foi identificada como um fator crítico para o declínio na adesão. Apesar disso, a vacinação se manteve como uma estratégia essencial para prevenir complicações graves e reduzir hospitalizações. Os resultados destacam a necessidade de estratégias integradas para superar barreiras logísticas e combater a desinformação. Investimentos em campanhas educativas e aprimoramento da coleta de dados epidemiológicos são recomendados para fortalecer a confiança pública na vacinação e atingir as metas de cobertura. O estudo conclui que os impactos da pandemia reforçam a importância de políticas públicas robustas para garantir a proteção dos grupos mais vulneráveis.
Palavras-chave: cobertura vacinal; influenza humana; COVID-19; hesitação vacinal.
ABSTRACT
The study analyzed influenza vaccination coverage in Brazil from 2013 to 2023, focusing on variations before and after the COVID-19 pandemic. The research utilized data from DATASUS and a literature review, applying statistical tests such as Shapiro-Wilk, Student’s t-Test, and Mann-Whitney to assess significant differences between the analyzed periods. Vaccination coverage fluctuated over the decade, peaking at 95.6% in 2020, but sharply declining in 2021 (72.8%) and 2022 (68.1%). In 2023, there was a partial recovery to 78.5%, though still below the 90% target. Priority groups such as children, pregnant and postpartum women showed statistically significant reductions in vaccination coverage in the post-pandemic period (p<0.05), while healthcare workers, the elderly, and Indigenous populations did not exhibit relevant differences. Vaccine hesitancy, exacerbated by misinformation spread during the pandemic, was identified as a critical factor contributing to the decline in adherence. Despite these challenges, vaccination remained an essential strategy for preventing severe complications and reducing hospitalizations. The findings highlight the need for integrated strategies to overcome logistical barriers and combat misinformation. Investments in educational campaigns and improvements in epidemiological data collection are recommended to strengthen public trust in vaccination and achieve coverage goals. The study concludes that the pandemic’s impacts underscore the importance of robust public policies to protect the most vulnerable groups.
Keywords: vaccination coverage; influenza human; COVID-19; vaccination hesitancy.
RESUMEN
El estudio analizó la cobertura de vacunación contra la influenza en Brasil entre 2013 y 2023, con un enfoque en las variaciones antes y después de la pandemia de COVID-19. La investigación utilizó datos de DATASUS y una revisión bibliográfica, aplicando pruebas estadísticas como Shapiro-Wilk, Prueba t de Student y Mann-Whitney para evaluar diferencias significativas entre los períodos. La cobertura de vacunación mostró oscilaciones a lo largo de la década, alcanzando un pico del 95,6 % en 2020, pero con caídas pronunciadas en 2021 (72,8 %) y 2022 (68,1 %). En 2023, hubo una recuperación parcial al 78,5 %, aunque, todavia, por debajo de la meta del 90 %. Grupos prioritarios como niños, mujeres embarazadas y puérperas mostraron reducciones estadísticamente significativas en la cobertura de vacunación durante el período pospandemia (p<0,05), mientras que los trabajadores de la salud, las personas mayores y las poblaciones indígenas no presentaron diferencias relevantes. La vacilación ante las vacunas, agravada por la difusión de desinformación durante la pandemia, fue identificada como un factor crítico en el descenso de la adhesión. A pesar de estos desafíos, la vacunación se mantuvo como una estrategia esencial para prevenir complicaciones graves y reducir hospitalizaciones. Los resultados destacan la necesidad de estrategias integradas para superar barreras logísticas y combatir la desinformación. Se recomienda invertir en campañas educativas y mejorar la recopilación de datos epidemiológicos para fortalecer la confianza pública en las vacunas y alcanzar los objetivos de cobertura. El estudio concluye que los impactos de la pandemia refuerzan la importancia de políticas públicas sólidas para garantizar la protección de los grupos más vulnerables.
Palabras-clave: cobertura de vacunación; gripe humana; COVID-19; vacilación a la vacunación.
1. INTRODUÇÃO
A influenza é uma infecção viral aguda que acomete predominantemente o sistema respiratório e pode ocorrer de forma esporádica, em surtos localizados, epidemias e até pandemias, devido ao seu comportamento epidemiológico variável. Causada pelo vírus influenza, a doença apresenta sintomas como febre, tosse, odinofagia, mialgias e outros sinais sistêmicos, podendo evoluir para complicações graves, como pneumonia viral, o que aumenta o risco de mortalidade (Tavares, 2015). A principal medida de prevenção é a vacinação, disponibilizada anual e gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde durante a Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza (Rio Grande do Sul, 2020).
Em 1999, a vacinação contra influenza foi incorporada ao Programa Nacional de Imunização (PNI), com o objetivo de reduzir internações hospitalares, complicações e mortes entre grupos-alvo. Desde então, o público-alvo tem se expandido progressivamente, culminando em campanhas de grande adesão, como a campanha de vacinação contra a gripe A (H1N1pdm09) em 2010, que vacinou mais de 89 milhões de pessoas (Brasil, 2023a; Domingues, 2012).
No entanto, em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) identificou a hesitação vacinal — atraso na aceitação ou recusa de vacinas — como uma ameaça à saúde pública global, ressaltando a complexidade das razões pelas quais as pessoas optam por não se vacinar (World Health Organization (WHO), 2019). Durante a pandemia de COVID-19, esse problema foi agravado pela desinformação em massa, denominada infodemia, que minou a confiança da população nas vacinas e nas medidas de saúde pública (Galhardi, 2022).
Embora pessoas de todas as idades possam contrair influenza, alguns grupos são mais vulneráveis a complicações graves, como crianças, gestantes, puérperas, idosos, profissionais da saúde e povos indígenas (Brasil, 2023b). No Brasil, a cobertura vacinal contra a influenza é um elemento crucial para a proteção da saúde pública, sendo recomendado que a taxa de cobertura vacinal esteja acima de 95%. A diminuição dessas taxas ressalta a necessidade de estratégias multidisciplinares, que incluem educação e a remoção de barreiras logísticas (Brasil, 2023a).
Diante do exposto, este estudo tem como objetivo investigar os dados epidemiológicos das campanhas vacinais contra o vírus influenza no Brasil, no período compreendido entre 2013 e 2023, a fim de analisar as variações na cobertura vacinal antes e após a pandemia de coronavírus causador da COVID-19.
2. METODOLOGIA
Esta pesquisa foi desenvolvida em duas etapas principais. A primeira etapa foi uma revisão de literatura, de aspecto narrativo e quantitativo, baseada na busca ativa de recursos bibliográficos das plataformas Scientific Eletronic Library Online (SciELO), do banco de dados do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS). Foram selecionados artigos publicados entre os anos de 2015 e 2024, estes selecionados nas línguas português e inglês. Para a revisão foram realizadas três pesquisas: na primeira, foi utilizada a 4ª edição do Livro Rotinas de Diagnóstico e Tratado das Doenças Infecciosas e Parasitárias — de Walter Tavares e Luiz Alberto Carneiro Marinho; na segunda pesquisa, os dados do DATASUS dos anos de 2013 a 2023, publicados pelo Ministério da Saúde, serviram como base para a obtenção dos dados referentes à cobertura vacinal da Influenza no Brasil; na terceira, os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) serviram como base nessa etapa da pesquisa. Para tanto, serão pesquisados o termo influenza-humana.
Em uma pesquisa realizada previamente, foram encontrados 20 resultados para o termo supracitado; para vacinas contra influenza foram contabilizados 30 resultados; por fim, para o termo vírus da influenza A subtipo H1N1 foram registrados 10 resultados na plataforma SciELO. A partir dessa primeira pesquisa, foram selecionados os três artigos que melhor abordam o assunto dentro da seleção de artigos publicados até 10 anos como base teórica, e descartados os artigos com mais de 10 anos. Para a seleção das fontes, foram consideradas, como critério de inclusão, as bibliografias que melhor abordaram o tema influenza, sendo assim excluídas aquelas que não atenderam a essa temática.
A segunda etapa desta pesquisa teve como objetivo analisar a cobertura vacinal contra o vírus da influenza nos períodos que correspondem ao antes (2013-2019) e depois da pandemia de COVID-19 (2020-2023). Os dados utilizados foram coletados no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) em 1º de setembro de 2024. Os dados coletados foram submetidos ao Teste de Normalidade de Shapiro-Wilk1. Quando os dados apresentaram distribuição normal, foi utilizado o Teste t de Student2; nos casos em que os resultados foram contrários, foi utilizado o teste de Mann-Whitney3. Para todos os testes, considerou-se o nível de significância estatística de p-value < 0,05.
A análise foi realizada entre os períodos pré e pós pandemia para os seguintes grupos prioritários das campanhas de vacinação contra influenza: crianças, gestantes, trabalhadores da saúde, puérperas, indígenas e idosos. Os softwares utilizados para a análise estatística foram o Jamovi 2.5.3 e o Bioestat 5.3. Por se tratar de dados públicos provenientes do DATASUS, não foi necessário submetê-los ao Comitê de Ética em Pesquisa.
3. RESULTADOS
Os dados coletados mostram variações na cobertura vacinal ao longo dos 10 anos analisados. Em 2013, a cobertura vacinal foi de 91,6%. Nos anos subsequentes, observou-se uma oscilação, com um pico de 95,6% em 2020 e uma queda significativa em 2021, quando a cobertura atingiu 72,8%. Em 2022, a cobertura caiu ainda mais para 68,1%, mas recuperou-se parcialmente em 2023, alcançando 78,5%.
Entre 2013 e 2016, a meta de cobertura vacinal estabelecida pelo Ministério da Saúde era de 80%. Durante esse período, o Brasil superou essa meta todos os anos, com destaque para 2016, quando a cobertura atingiu 95,4%.
A Figura 1, a seguir, ilustra a representação gráfica da cobertura vacinal da influenza em todo o território brasileiro, com base nos dados fornecidos pelo DATASUS (Brasil, 2024) no período entre 2013 e 2016. A figura também inclui uma linha indicando a meta de cobertura vacinal de 80%.
Figura 1 – Representação gráfica da cobertura da vacinação no Brasil (2013-2016)
Fonte: Elaboração dos autores, baseada nos dados fornecidos pelo DATASUS (Brasil, 2024).
A partir de 2017, a meta foi elevada para 90%. Embora a cobertura tenha atingido ou superado essa meta em alguns anos (2018, 2019, e 2020), a meta não foi alcançada nos anos subsequentes, especialmente em 2021 e 2022, quando a cobertura caiu para 72,8% e 68,1%, respectivamente.
A Figura 2, a seguir, ilustra a representação gráfica da cobertura vacinal da influenza em todo o território brasileiro, com base nos dados fornecidos pelo DATASUS (Brasil, 2024) no período entre 2017 e 2023. A figura também inclui uma linha indicando a meta de cobertura vacinal de 90%.
Figura 2 – Representação gráfica da cobertura da vacinação no Brasil (2017-2023)
Fonte: Elaboração dos autores, baseada nos dados fornecidos pelo DATASUS (Brasil, 2024).
Com objetivo de avaliar as variações no período pré e pós-pandemia de COVID-19 e determinar a significância estatística dessas variações, serão apresentados, a seguir, os resultados da análise da cobertura vacinal contra a influenza entre grupos prioritários, incluindo crianças, gestantes, puérperas, trabalhadores da saúde, indígenas e idosos.
Cobertura vacinal em crianças
A cobertura vacinal em crianças manteve-se elevada no início do período analisado, com um pico observado em 2013 (97,95%). No entanto, a partir de 2017, verificou-se uma queda constante nesse índice, atingindo o ponto mais baixo em 2023 (58,48%). Ao se avaliar a diferença entre o período pré e pós-pandemia, o Teste t de Student indicou uma diferença estatisticamente significativa (p = 0,0053), sugerindo uma mudança relevante na cobertura vacinal desse grupo.
Cobertura vacinal em gestantes
A cobertura vacinal entre gestantes foi de 84,99% em 2013 e, embora tenha havido pequenas variações ao longo dos anos, a tendência foi de queda, atingindo 62,54% em 2023. A análise estatística também revelou uma diferença significativa (p = 0,0114), confirmando a redução da cobertura vacinal entre gestantes no período pós-pandemia.
Cobertura vacinal em puérperas
O grupo de puérperas apresentou variações significativas ao longo dos anos, com cobertura vacinal excepcionalmente alta em 2013 (112,37%) e 2015 (110,68%). A partir de 2021, observou-se uma queda acentuada, culminando em 58,35% em 2023. O Teste Mann-Whitney indicou uma diferença estatisticamente significativa entre os períodos (p = 0,0041), apontando para uma diminuição importante na cobertura vacinal entre esse grupo.
Cobertura vacinal em trabalhadores da saúde
A adesão vacinal entre os trabalhadores da saúde foi elevada durante o período analisado, destacando-se o ano de 2020, durante a pandemia de COVID-19, com uma cobertura de 117,12%. No entanto, essa taxa sofreu uma queda acentuada em 2023, alcançando 55,72%. Diferentemente dos outros grupos, a análise estatística não revelou uma diferença significativa para esse grupo (p = 0,0575).
Cobertura vacinal em povos indígenas
A população indígena manteve uma cobertura vacinal estável durante a maior parte do período analisado, com aumentos notáveis em 2017 (95,82%) e 2018 (96,82%). Contudo, em 2023 verificou-se uma queda para 42,81%. Apesar dessa queda, a análise estatística pelo Teste Mann-Whitney não encontrou uma diferença estatisticamente significativa (p = 0,073).
Cobertura vacinal em idosos
Os idosos apresentaram alta cobertura vacinal na maior parte do período analisado, com um pico em 2020 (120,74%). Houve, no entanto, uma queda substancial em 2023, com a cobertura vacinal reduzida para 63,30%. Assim como para os trabalhadores da saúde e para a população indígena, o Teste Mann-Whitney revelou que a variação entre o período pré e pós-pandemia não foi significativa (p = 0,0929).
Cobertura vacinal entre todos os grupos
A análise da cobertura vacinal total entre todos os grupos indicou um declínio geral ao longo do tempo no período analisado. Em 2013, a cobertura foi de 91,64%, caindo para 78,56% em 2023. No entanto, ao considerar a significância estatística das variações observadas, notou-se que, exceto para crianças, gestantes e puérperas, os demais grupos não apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os períodos pré e pós-pandemia.
A Figura 3 ilustra a representação gráfica da cobertura vacinal da Influenza em todo o território brasileiro, com base nos dados fornecidos pelo DATASUS (Brasil, 2024) no período compreendido entre 2013 e 2023, segmentada por grupos prioritários, incluindo crianças, gestantes, puérperas, trabalhadores da saúde, idosos e populações indígenas, enquanto o Quadro 1, apresentado posteriormente, demonstra resultados que indicam uma diferença estatisticamente significativa para os grupos avaliados, exceto para trabalhadores da saúde (p = 0,0575), indígenas (p = 0,073) e idosos (p = 0,0929), indicado pelos resultados do Teste t de Student (t) ou do Teste Mann-Whitney (U), conforme aplicável a cada grupo. A significância estatística foi definida como p < 0,05, com valores superiores a esse limite, indicando ausência de relevância estatística (ns) para esses grupos.
Figura 3 – Representação gráfica da cobertura da vacinação no Brasil por grupos prioritários (2013-2023)
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Fonte: Elaboração dos autores, baseada nos dados fornecidos pelo DATASUS (Brasil, 2024).
Quadro 1 – Resultados dos testes estatísticos (Teste t de Student e Teste Mann-Whitney)
Grupo Prioritário | Média (Pré) | Média (Pós) | Teste Estatístico | p-Valor | Significância |
Crianças | 83,95 | 68,51 | t = 3,2165 | 0,0053 | p < 0,01 |
Gestantes | 80,68 | 68,60 | t = 2,7423 | 0,0114 | p < 0,05 |
Puérperas | 105,55 | 70,83 | U = 2,6458 | 0,0041 | p < 0,01 |
Trabalhadores da Saúde | 96,99 | 78,06 | t = 1,744 | 0,0575 | ns |
Indígenas | 93,01 | 78,86 | U = 1,8898 | 0,073 | ns |
Idosos | 94,57 | 70,55 | U = 1,3229 | 0,0929 | ns |
Fonte: Análise realizada utilizando os dados do DATASUS (Brasil, 2024) e os softwares Jamovi 2.5.3 e Bioestat 5.3.
4. DISCUSSÃO
No presente estudo, ao se avaliar a tendência temporal da cobertura vacinal, foi possível observar algumas variações significativas ao longo dos anos. Entre 2013 e 2020, as metas de cobertura vacinal foram alcançadas, com destaque para 2016, quando atingiu 95,4%. A pandemia de COVID-19 impactou o sistema de saúde e desviou o foco das campanhas de vacinação para o combate a outras doenças, como a influenza. A partir de 2021, contudo, observou-se uma estagnação seguida de uma queda progressiva nos índices de cobertura vacinal, com períodos de menor adesão observados até o ano de 2023, destacando-se o ano de 2022, quando a cobertura caiu para 68,1%, abaixo da meta de 90% estipulada pelo Ministério da Saúde (Brasil, 2023a).
Além disso, a pandemia foi acompanhada por uma infodemia — o excesso de orientações e informações contrárias ao conhecimento científico — que gerou desconfiança de parte da população em relação à imunização e nas instituições de saúde, dificultando a adesão populacional. A desinformação, amplamente propagada nas redes sociais, minou a confiança pública, levando a uma hesitação vacinal generalizada e ao ressurgimento de doenças previamente controladas (Galhardi, 2022).
A cobertura vacinal contra a influenza tem um impacto direto na redução de casos e suas complicações, como hospitalizações e mortalidade, sendo especialmente relevante para grupos vulneráveis, como idosos, crianças pequenas, gestantes e pessoas com comorbidades. A redução da cobertura vacinal, por sua vez, pode sobrecarregar o sistema de saúde (Brasil, 2023b).
Neste estudo, verificou-se redução do percentual de cobertura vacinal contra o vírus influenza para crianças, gestantes e puérperas, com resultados estatisticamente significativos nos períodos de 2013 a 2019, e 2020 a 2023 (antes e após a pandemia). Para trabalhadores da saúde, idosos e indígenas não foi verificada nenhuma diferença estatística significativa (Brasil, 2024).
Os achados nesta pesquisa apresentam semelhanças e diferenças quando comparados ao estudo de Gaujac (2021), cuja análise baseou-se na cobertura vacinal contra o vírus influenza nos estados brasileiros antes e após a pandemia de COVID-19. Ambos os estudos identificaram uma redução significativa na cobertura vacinal para crianças, gestantes e puérperas, sugerindo que a pandemia pode ter contribuído para essa baixa adesão (Gaujac, 2021).
Por outro lado, Gaujac (2021) também observou o aumento da cobertura entre idosos e profissionais de saúde, em que os idosos atingiram a meta de 90% de cobertura já na primeira fase da campanha de 2020. Esse aumento pode ser explicado pela percepção ampliada de risco durante a pandemia, especialmente entre os idosos — considerados parte do grupo de alto risco para COVID-19 —, e os profissionais de saúde, que atuaram na linha de frente durante a crise. No estudo em questão, no entanto, não foram observadas diferenças estatisticamente significativas na cobertura vacinal desses grupos (Gaujac, 2021).
Dentre as limitações do presente estudo, o fato deste ter sido baseado exclusivamente em dados secundários de saúde faz com que seja necessário realizar mais pesquisas locais a fim de complementar essas informações e, assim, contribuir para o planejamento em saúde.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos dados analisados, é evidente que o período pandêmico teve um impacto significativo na redução da adesão à vacinação contra a influenza. Entre 2013 e 2020, o Brasil manteve índices de cobertura vacinal superiores às metas estabelecidas pelo Ministério da Saúde, atingindo um pico de 95,6% em 2020. Contudo, os anos subsequentes apresentaram um declínio, especialmente em 2022, quando a cobertura caiu para 68,1%, abaixo da meta de 90%. Os grupos prioritários mais afetados por essa redução foram crianças, gestantes e puérperas, o que aumenta a vulnerabilidade dessas populações e coloca suas vidas em risco. Esses resultados evidenciam as consequências da pandemia de COVID-19 sobre o sistema de saúde, tanto pela redistribuição de recursos quanto pela propagação de desinformação, que intensificou a hesitação vacinal. A diminuição da cobertura compromete o controle de doenças evitáveis, ampliando a exposição de grupos vulneráveis e sobrecarregando os serviços de saúde.
Diante desses achados, é fundamental estabelecer políticas públicas eficazes e abrangentes que garantam a cobertura vacinal da população, especialmente para proteger os grupos mais vulneráveis.
6. REFERÊNCIAS
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1Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA
2Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA
3Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA
4Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA