ANALYSIS OF PREGNANT WOMEN’S ADHERENCE TO PRENATAL CARE ATTENDED AT A PUBLIC HOSPITAL IN THE INTERIOR OF THE STATE OF SÃO PAULO
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8173430
Kayene Andrade Kobori1
Juliana Carrijo Rodrigues2
Vanessa Cristina Lacerda Brandão3
Bruno Pereira4
Jonas de Lara Fracalozzi5
Resumo
O estudo objetiva avaliar a adesão ao pré-natal de gestantes atendidas em um hospital público do interior do estado de São Paulo. Trata-se de um estudo de coorte retrospectivo no qual incluiu parturientes admitidas para resolução da gestação na Maternidade da Santa Casa de Franca no ano de 2022. Foram avaliados dados encontrados nos prontuários médicos eletrônicos das gestantes e seus respectivos recém-nascidos. O estudo revelou deficiências na assistência pré-natal em Franca – SP, com baixa frequência de gestantes nas consultas. A média de consultas foi 6,1 para a maioria das faixas etárias. A idade gestacional impactou o número de consultas, e a presença de patologias e intercorrências aumentou os riscos para mães e bebês. Recomenda-se promover a conscientização sobre o pré-natal e melhorar o acesso e a qualidade dos serviços. Mais pesquisas são necessárias para entender as causas das deficiências identificadas e orientar políticas e intervenções efetivas em Franca – SP.
Palavras-chave: Gestação; Pré-natal; Puerpério.
1. INTRODUÇÃO
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), devem ser realizadas seis ou mais consultas pré-natais. As consultas deverão ser mensais até a 28ª semana, quinzenais entre 28 e 36 semanas e semanais no termo. Não existe alta do pré-natal e o início precoce do acompanhamento pré-natal facilita diagnósticos e tratamentos oportunos (VIELLAS EF, et al., 2014; MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS), 2013).
A atenção pré-natal deve prever o exame clínico-obstétrico e exames laboratoriais solicitados já na primeira consulta, sendo eles: Hemograma; Tipagem sanguínea e fator Rh; Coombs indireto (se for Rh negativo); Glicemia de jejum; Teste rápido de triagem para sífilis e/ou VDRL/RPR; Teste rápido diagnóstico anti-HIV; Toxoplasmose IgM e IgG; Sorologia para hepatite B (HbsAg); Exame de urina e urocultura; Ultrassonografia obstétrica (não é obrigatório), com a função de verificar a idade gestacional; Citopatológico de colo de útero (se necessário); Exame da secreção vaginal (se houver indicação clínica); Parasitológico de fezes (se houver indicação clínica); Eletroforese de hemoglobina (se a gestante for negra, tiver antecedentes familiares de anemia falciforme ou apresentar história de anemia crônica) (MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS), 2013).
No 2º trimestre é preconizado realizar o Teste de tolerância para glicose com 75g, se a glicemia estiver acima de 85mg/dl ou se houver fator de risco (realiza-se este exame preferencialmente entre a 24ª e a 28ª semana) e Coombs indireto (se for Rh negativo). E no 3º trimestre: Hemograma; Glicemia em jejum; Coombs indireto (se for Rh negativo); VDRL; Anti-HIV; Sorologia para hepatite B (HbsAg); Repete-se o exame de toxoplasmose se o IgG não for reagente; Urocultura + urina tipo I (sumário de urina – SU); Bacterioscopia de secreção vaginal (a partir de 37 semanas de gestação) (MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS), 2013).
“Segundo os dados da pesquisa Nascer no Brasil, realizada em 2011 e 2012, o Brasil possui cobertura elevada da assistência pré-natal (98,7%), tendo 75,8% das mulheres iniciado o pré-natal antes da 16ª semana gestacional e 73,1% compareceram a seis ou mais consultas”. Entretanto, existem muitos desafios a serem enfrentados para a melhoria da qualidade dessa assistência, com adequada realização de procedimentos para o aumento de desfechos favoráveis (MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS), 2013; VIELLAS EF, et al., 2014).
De acordo com o Ministério da Saúde (MS), recomenda-se o desenvolvimento de ações educativas e preventivas, sem intervenções desnecessárias, assim como, a inclusão de condutas acolhedoras. Além disso, visa a detecção precoce de patologias e de situações de risco gestacional e estabelece o vínculo entre o pré-natal e o local do parto, garantindo acesso de qualidade aos serviços de saúde e qualificação da assistência ao parto de forma humanizada, com direito ao acolhimento com classificação de risco, acompanhante, ambiência e boas práticas (MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS), 2013; VIELLAS EF, et al., 2014; DOMINGUES RMSM, et al., 2015).
Tais práticas objetivam assegurar um bom desenvolvimento da gestação, gerando impacto na redução das principais causas de morbidade e mortalidade materna e neonatal (MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS), 2013).
A gestação é um período de profundas mudanças corporais e emocionais para a mulher, portanto, uma rede de apoio é fundamental durante esta fase. Gestantes que sofrem por situações desfavoráveis têm maior risco de adquirir hábitos inadequados e má adesão ao pré-natal, aumentando o risco de problemas materno-fetais (MENEZES LO, et al., 2021).
Como se trata de um fenômeno fisiológico, na maioria dos casos a gestação evolui de forma favorável, porém, uma parcela de gestantes é considerada de alto risco, com maiores possibilidades de evolução para complicações, como, doença hipertensiva da gravidez, hiperêmese gravídica, descolamento prematuro da placenta, amniorrexe prematura, oligoidrâmnio, entre outros (BARROSO DP, 2015).
Existem muitos fatores que dificultam a adesão ao pré-natal, como a baixa escolaridade, extremos de idade da mulher, residência rural, multiparidade, gravidez indesejada, desemprego da mulher, baixo nível socioeconômico, desconhecimento sobre o pré-natal, falta de poder de decisão da mulher, não envolvimento do parceiro, pandemia, dificuldade de acesso aos locais de atendimento, burocracia com o agendamento de consultas, infraestrutura inadequada de unidades de saúde e falta de profissionais especializados. (MENEZES LO, et al., 2021; SANTOS AL, et al., 2021; TESFAYE G, et al., 2017).
A pandemia causou inúmeras repercussões na saúde da população mundial, especialmente nos mais vulneráveis, como as gestantes. Elas podem ser acometidas por formas mais graves da doença, associadas às elevadas taxas de morbidade materna, restrição de crescimento intrauterino e aborto espontâneo. Nesse contexto, as gestantes foram incluídas em 2020, pelo Ministério da Saúde (MS), no grupo de risco à COVID-19 (SANTOS AL, et al., 2021; TESFAYE G, et al., 2017; SALDANHA BL, 2020).
A OMS recomenda o near miss materna, que é a análise sobre mulheres em condições potencialmente ameaçadoras à vida na gestação, parto e até 42 dias de pós-parto. Essas complicações do período gravídico-puerperal, sendo graves ou não, compartilham das mesmas causas da mortalidade materna, porém, são muito mais frequentes. E existe uma grande correlação entre um pré-natal de alto risco e a não adesão ao pré-natal com uma maior incidência do near miss (ANDRADE MS, et al., 2020).
É possível correlacionar as complicações maternas graves com a qualidade do cuidado obstétrico oferecido, podendo ajudar a melhorar os níveis de assistência, alocando recursos e implementando planejamento e intervenções de forma adequada. Uma vez que, vários estudos já evidenciam que a qualidade do pré-natal tem influência direta sobre a morbimortalidade materna e fetal que impacta na saúde materna e dos conceitos. (ANDRADE MS, et al.; 2020; BALSELLS MM, et al., 2018).
A Rede Cegonha, implantada pelo SUS, visa os direitos da gestante, quanto a gravidez, parto e puerpério, e da criança quanto ao nascimento, crescimento e desenvolvimento saudáveis (MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS), 2011).
Segundo a Portaria nº 569, de 1º de junho de 2000, do Ministério da Saúde, é obrigação das unidades receber com dignidade a mulher e o recém-nascido, de forma humanizada e segura. Assim como, garantir acolhimento, organização da estrutura física, das rotinas e dos procedimentos oferecidos (MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS), 2000).
Nesse contexto, nota-se que as mulheres da cidade de Franca-SP, possuem muitos fatores relacionados à dificuldade de adesão ao pré-natal, o que contribui para complicações materno-fetais. Desta forma, garantir assistência adequada a todas as gestantes, ainda continua sendo um desafio, apesar da Constituição Federal de 1988, assegurar a saúde “como direito de todos e dever do Estado” (LOURINHO GS e SOUSA IC, 2021).
Baseado no exposto, faz-se necessário avaliar a adesão ao pré-natal de gestantes atendidas em um hospital público do interior do estado de São Paulo.
2. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de coorte retrospectivo no qual incluiu parturientes admitidas para resolução da gestação na Maternidade da Santa Casa de Franca que se trata de um hospital de nível terciário no município de Franca – SP que presta atendimento a pacientes do SUS. Foram avaliados dados encontrados nos prontuários médicos eletrônicos das gestantes e seus respectivos recém-nascidos.
Levando-se em conta que a Maternidade da Santa Casa de Franca realiza mensalmente em torno de 250 partos, foram avaliados aproximadamente 1500 prontuários referentes ao primeiro semestre do ano de 2022.
Os critérios de inclusão foram: partos ocorridos no primeiro semestre do ano de 2022 na Maternidade da Santa Casa de Franca de pacientes procedentes exclusivamente da cidade de Franca – SP, moradoras de zona rural ou zona urbana. Os critérios de exclusão foram: pacientes procedentes de cidades diferentes de Franca – SP e a impossibilidade de aquisição dos dados de importância da paciente e de seu filho nos prontuários médicos.
Os dados maternos colhidos foram: nome (apenas as iniciais), idade (<25 anos; 25-35 anos; > 35 anos), ocupação (empregado/desempregado), estado civil (casada/solteira), paridade (primigesta/multípara), idade gestacional da resolução (pré-termo/termo), tabagismo (sim/não), patologias maternas (sim/não), escolaridade (analfabetismo/ensino básico/ensino superior), moradia (urbana/rural), intercorrências no parto (sim/não) e o número de consultas de pré-natal. Os dados dos recém-nascidos foram: intercorrências no recém-nascido (sim/não).
Os dados foram coletados e armazenados em planilhas do programa Excel (Microsoft, 2013). Foi utilizada a linguagem de programação Python, versão 3.10, para o tratamento de dados estatísticos e o Matplotlib para a plotagem dos gráficos. Na apresentação dos dados, as variáveis quantitativas foram descritas por meio de média, mínimo valor, mediana e máximo valor. As variáveis qualitativas foram representadas por porcentagens. Para verificar a existência de associação entre essas variáveis e os desfechos, foi utilizado o teste Qui-Quadrado de Pearson.
Os riscos do estudo foram mínimos, já que se trata de uma análise retrospectiva e sem intervenções ou modificações intencionais fisiológicas, psicológicas ou sociais. Os riscos ainda foram minimizados ao não coletar os dados que possam identificar as pacientes. Os benefícios do estudo foram a avaliação da qualidade prestada à assistência pré-natal, podendo identificar fatores de risco que causariam um desfecho desfavorável ao binômio materno-fetal.
3. RESULTADOS
As características sociodemográficas das gestantes foram estabelecidas considerando como variável o número de consultas, mediante os critérios ≤ 5 consultas ou > 5 consultas (Tabela 1).
A maioria das gestantes do município de Franca possuem idade entre 25-35 anos (600; 48,12%), residentes na zona urbana (1234; 98,96%), desempregadas (705; 56,54%), casadas (986; 79,07%), com ensino médio (1180; 94,63%) e não tabagistas (1147; 91,98%) (Tabela 1).
Tabela 1 – Distribuição das gestantes do município de Franca-SP em relação ao número de consultas pré natal durante os meses de janeiro a junho/2022, segundo as características sociodemográficas (n=1247).
N° de Consultas | ||||||||
Variável | N | % | ≤ 5 | >5 | p-valorª | |||
Idade materna | ||||||||
Até 24 anos | 489 | 39,21 | 215 | 274 | ||||
25 – 35 anos | 600 | 48,12 | 220 | 380 | 0,040 | |||
Acima de 35 anos | 158 | 12,67 | 59 | 99 | ||||
Moradia | ||||||||
Urbano | 1234 | 98,96 | 489 | 745 | 0,932 | |||
Rural | 13 | 1,04 | 5 | 8 | ||||
Emprego | ||||||||
Empregada | 542 | 43,46 | 185 | 357 | < 0,001 | |||
Desempregada | 705 | 56,54 | 309 | 396 | ||||
Estado Civil | ||||||||
Casada | 986 | 79,07 | 361 | 625 | < 0,001 | |||
Solteira | 261 | 20,93 | 133 | 128 | ||||
Escolaridade | ||||||||
Analfabetismo | 3 | 0,24 | 0 | 3 | ||||
Ensino Básico | 1180 | 94,63 | 477 | 703 | 0,073 | |||
Ensino Superior | 64 | 5,13 | 17 | 47 | ||||
Tabagismo | ||||||||
Sim | 100 | 8,02 | 65 | 35 | < 0,001 | |||
Não | 1147 | 91,98 | 429 | 718 | ||||
Total | 1247 |
ª Teste qui-quadrado de Pearson; p<0,05.
Fonte: Kobori KA, et al., 2023.
É possível observar a relação entre a idade e a frequência do total de 1247 mulheres grávidas. As medidas estatísticas utilizadas para descrever a distribuição das idades são a média, mediana, moda, máximo, mínimo e intervalo de confiança (Gráfico 1).
A média de idade das gestantes foi calculada como 27 anos. A mediana é igual a 26 anos. Isso significa que metade das gestantes têm idade igual ou inferior a 26 anos e a outra metade tem idade igual ou superior a esse valor. A moda da idade das gestantes é 22 anos, o que indica que esse é o valor mais comum entre as idades observadas (Gráfico 1).
O valor máximo observado na amostra é 45 anos, enquanto o valor mínimo é 14 anos. Esses dados fornecem informações sobre a faixa de idades das gestantes incluídas na amostra (Gráfico 1).
Gráfico 1 – Relação entre a idade e a frequência do total de gestantes.
Fonte: Kobori KA, et al., 2023.
A média de consultas de pré-natal é de aproximadamente 6,1. Além disso, a mediana é de 6 consultas, o que indica que metade das mulheres fez menos de 6 consultas e a outra metade fez mais de 6. Já a moda, é igual a 0, sugerindo que a maioria das mulheres podem não ter comparecido a nenhuma consulta de pré-natal (Gráfico 2).
Observamos também que o número mínimo de consultas pré-natais registradas foi de 0, o que reforça a ausência de algumas mulheres no acompanhamento pré-natal. Por outro lado, o valor máximo registrado foi de 39 consultas, sugerindo uma participação mais intensa em relação ao número médio (Gráfico 2).
Gráfico 2 – Relação entre o número de consultas pré-natais e a frequência de gestantes nas consultas.
Fonte: Kobori KA, et al., 2023.
Observa-se que a média de consultas pré-natal para a faixa etária de 14 anos é de 2,00, o que indica um número muito baixo de consultas. No entanto, a média de consultas aumenta gradualmente à medida que as idades avançam, alcançando seu ponto mais alto na faixa etária de 41 anos, com uma média de 8,00 consultas (Gráfico 3).
No geral, é possível observar que a média de consultas pré-natal se mantém acima do valor considerado ideal (6 consultas) para a maioria das faixas etárias analisadas, exceto para as pacientes de 14 anos, que estão significativamente abaixo do ideal, e para as faixas etárias de 18 e 39 anos, onde as médias são de 4,46 e 5,70 consultas, respectivamente, também abaixo do valor ideal (Gráfico 3).
Gráfico 3 – Relação entre idade e média do número de consultas.
Fonte: Kobori KA, et al., 2023.
Prosseguindo-se à pesquisa com a finalidade de identificar as características obstétricas, foram coletadas informações seguintes como: paridade, pré-termo (Idade Gestacional < 37 semanas) e patologias maternas (Tabela 2).
Mostra-se que a maioria das gestantes são multíparas (830; 66,56%). Além disso, observa-se que 173 (13,87%) dos bebês nasceram prematuros e 544 (43,62%) das gestantes possuíam alguma patologia. Já em relação à presença de intercorrências, observa-se 551 (44,14%) no parto, e 942 (75,54%) no recém-nascido (RN) (Tabela 2).
Tabela 2 – Distribuição das gestantes do município de Franca-SP em relação ao número de consultas pré-natal durante os meses de janeiro a junho/2022, segundo as características obstétricas.
Variável | N° de Consultas | |||||
N | % | ≤5 | >5 | p-valorª | ||
Paridade | ||||||
Primípara | 417 | 33,44 | 145 | 272 | 0,132 | |
Multípara | 830 | 66,56 | 349 | 481 | ||
Pré-Termo (IG<37s) | ||||||
Sim | 173 | 13,87 | 102 | 71 | < 0,001 | |
Não | 1074 | 86,13 | 392 | 682 | ||
Patologias Maternas | ||||||
Sim | 544 | 43,62 | 202 | 342 | 0,114 | |
Não | 703 | 56,38 | 292 | 411 | ||
Intercorrências no Parto | ||||||
Sim | 551 | 44,14 | 244 | 307 | 0,002 | |
Não | 696 | 55,86 | 250 | 446 | ||
Intercorrências no RN | ||||||
Sim | 942 | 75,54 | 409 | 533 | < 0,001 | |
Não | 305 | 24,46 | 220 | 85 | ||
Total | 1247 |
ª Teste qui-quadrado de Pearson; p<0,05.
Fonte: Kobori KA, et al., 2023.
Observou-se que as mulheres que já haviam tido filhos anteriormente apresentaram uma média de 5,98 consultas pré-natal. Por outro lado, as primíparas, ou seja, as mulheres grávidas pela primeira vez, tiveram uma média ligeiramente maior, com 6,29 consultas pré-natal. Essa diferença sugere que as primíparas podem ter buscado um acompanhamento mais frequente durante a gestação em comparação com as multíparas (Gráfico 4).
A análise das consultas pré-natal em relação ao pré-termo demonstrou que as mulheres que não tiveram partos prematuros registraram uma média de 6,37 consultas. Em contrapartida, as gestantes que tiveram partos pré-termo realizaram, em média, apenas 4,31 consultas pré-natal. Esse dado indica que as mulheres que apresentaram histórico de pré-termo talvez não tenham buscado o número ideal de consultas durante a gravidez, o que pode impactar a saúde materna e fetal (Gráfico 4).
Quanto à presença de patologias durante a gestação, as pacientes que relataram complicações médicas apresentaram uma média de 6,39 consultas pré-natal. Por outro lado, aquelas sem patologias registraram uma média ligeiramente inferior, com 5,85 consultas pré-natal. Isso sugere que as mulheres com patologias talvez tenham sido encaminhadas para um acompanhamento mais frequente, a fim de monitorar e gerenciar suas condições de saúde durante a gravidez (Gráfico 4).
Ao considerar a ocorrência de intercorrências no parto, foi observado que as gestantes que tiveram complicações apresentaram uma média de 5,70 consultas pré-natal. Por outro lado, aquelas sem intercorrências registraram uma média mais alta, com 6,39 consultas pré-natal. Esse resultado pode indicar que a detecção precoce e o tratamento de possíveis intercorrências foram possivelmente efetuados por meio de um maior número de consultas pré-natal (Gráfico 4).
Por fim, em relação às intercorrências no recém-nascido (RN), as mães cujos bebês apresentaram complicações após o nascimento tiveram uma média de 5,87 consultas pré-natal. Em contraste, aquelas cujos bebês não tiveram intercorrências registraram uma média de 6,76 consultas pré-natal. Isso pode indicar que o acompanhamento pré-natal adequado pode contribuir para identificar riscos potenciais para o bem-estar do bebê (Gráfico 4).
Gráfico 4 – Relação entre Paridade, Idade Gestacional, Patologias Maternas, Intercorrência no Parto, Intercorrências no RN e média do número de consultas.
Fonte: Kobori KA, et al., 2023.
4. DISCUSSÃO
Os resultados do estudo atual revelam que, embora a assistência pré-natal no Brasil tenha uma cobertura ampla, mostrou-se que no município de Franca – SP, existem deficiências no serviço, conforme evidenciado pelos indicadores de relação entre o número de consultas pré-natais e a frequência de gestantes nas consultas (Gráfico 2), destacando que a maioria das gestantes não realizam o pré-natal (VIELLAS EF, et al., 2014).
Tomasi E, et al. (2017) analisaram a assistência pré-natal no SUS em todo o Brasil, no período de 2011 a 2012 e observaram que 89% das gestantes fizeram seis ou mais consultas. Dessa forma, nota-se que o número de gestantes desse grupo é um pouco maior com o estudo atual apresentado, revelando-se 60,3% (n= 753) das gestantes, indicando uma frequência relativamente menor no acompanhamento pré-natal.
Apesar da frequência ser menor em relação ao número de gestantes, no que diz respeito ao número de consultas pré-natais, os resultados indicaram que a média de consultas foi de aproximadamente 6,1. Tal resultado corrobora com a avaliação de estudos mais recentes, demonstrando que a região Sudeste possui uma maior cobertura de mulheres com pelo menos seis consultas de pré-natal (LEAL MC, et al., 2020).
Ao analisar as faixas etárias, constatou-se que as gestantes mais jovens, com 14 anos, tiveram a média mais baixa de consultas (2 consultas), enquanto as gestantes mais velhas, com 41 anos, tiveram a média mais alta (8 consultas). No geral, a média de consultas pré-natal foi superior ao valor considerado ideal (6 consultas) para a maioria das faixas etárias, exceto para as gestantes de 14 anos e para as faixas etárias de 18 e 39 anos. Nessa perspectiva, é essencial destacar que o progresso da gestação está intimamente ligado à idade, o que implica em maiores riscos tanto em idades mais precoces quanto em idades mais avançadas. (PEREIRA AC e HENRIQUES BD, 2010).
No que se refere às características sociodemográficas, o número de consultas possui uma associação significativa em relação ao emprego, ao estado civil e ao tabagismo com valores de p <0,001. Portanto, a ocupação profissional pode desempenhar um papel crucial na avaliação do status socioeconômico da população, permitindo que grupos menos privilegiados recebam maior atenção em termos de políticas de saúde, educação e proteção social. Além disso, a consideração da ocupação pode auxiliar nos processos de planejamento, gestão e avaliação de políticas destinadas a reduzir as desigualdades sociais. Outro aspecto relevante foi o fato de 261 (20,9%) gestantes serem solteiras. Este dado reflete que a mulher, nesta condição, pode enfrentar desafios emocionais e financeiros adicionais devido à falta de um parceiro, o que pode afetar o bem-estar durante a gravidez. Já em relação ao número de gestantes tabagistas, o estudo aponta um percentual pequeno de 100 (8,02%). É amplamente reconhecido que o tabagismo durante a gestação pode causar danos significativos, muitas vezes irreversíveis, ao crescimento e desenvolvimento do feto (TEXEIRA SVB, et al., 2010).
A idade gestacional desempenha um papel significativo na predição da diminuição da frequência de consultas pré-natal, o que, por sua vez, está associado a um aumento no risco de parto pré-termo. Observou-se que a média de consultas pré-natal para gestantes a termo foi de 6,37. Já para gestantes com parto pré-termo, a média foi de 4,31 consultas. Metade das gestantes a termo teve 7 ou mais consultas, indicando um cuidado adequado, enquanto a mediana para as gestantes com parto pré-termo foi de 4 consultas, sugerindo uma quantidade menor de cuidados pré-natais. Na literatura, existe uma associação entre a prematuridade e a frequência de cuidados pré-natais, sugerindo que a qualidade do acompanhamento das mães de recém-nascidos prematuros foi inferior em comparação às gestantes que deram à luz a termo (BAPTISTA JPR, et al., 2021).
A análise das características obstétricas mostrou que a maioria das gestantes incluídas no estudo é multípara. Além disso, observou-se que 13,87% dos bebês nasceram prematuros e 43,62% das gestantes apresentavam alguma patologia. A presença de intercorrências no parto foi observada em 44,14% dos casos, enquanto as intercorrências no recém-nascido foram relatadas em 75,54% dos casos. Em relação ao número de consultas, tal desfecho se associou ainda mais à prematuridade, intercorrências no parto e no RN com valores de p <0,001, p= 0,002 e p <0,001, respectivamente. Esses resultados revelam que, uma vez que gestações múltiplas, partos prematuros e a presença de patologias podem aumentar os riscos tanto para a mãe quanto para o bebê durante a gestação e o parto (ROCHA JO & DANTAS IRO 2022; SOARES AMR, et al., 2019).
Mais pesquisas são necessárias para entender as causas das deficiências identificadas e orientar políticas e intervenções efetivas em Franca – SP, a fim de oferecer uma assistência pré-natal de qualidade, pois isso permite o rastreamento precoce e a implementação de intervenções visando minimizar complicações graves e reduzir a taxa de mortalidade materna e fetal (CARNEIRO ABF, et al., 2022; GUERRA VS, 2021).
5. CONCLUSÃO
Com base nos resultados deste estudo, é fundamental fornecer uma assistência pré-natal adequada, incluindo um maior engajamento das gestantes em consultas regulares. Isso permitirá o rastreamento precoce de possíveis complicações, a implementação de intervenções preventivas e a redução da mortalidade materna e fetal. Recomenda-se que esforços sejam feitos para promover a conscientização sobre a importância do pré-natal, especialmente entre as gestantes mais jovens, solteiras e aquelas que apresentam maior risco, como as fumantes. Além disso, estratégias devem ser desenvolvidas para melhorar o acesso e a qualidade dos serviços pré-natais, a fim de atender às necessidades específicas da população local.
REFERÊNCIAS
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