Beatriz Marques Leite, Juliana Coppe Credendio dos Santos, Luciana Gonzales Auad Viscardi, Corina Aparecida Fernandes.
RESUMO
Introdução: Desde o período pré-natal o bebê passa por um extenso processo de desenvolvimento, que a partir do nascimento possibilita sua interação com o meio ambiente através dos movimentos, inicialmente espontâneos e generalizados, para posteriormente refinados e mais complexos de acordo com a funcionalidade. Durante o crescimento do lactente a avaliação do desenvolvimento é de grande importância, tanto para determinar os marcos motores típicos quanto para identificar possíveis atrasos neuropsicomotores de acordo com a faixa etária. Objetivo: comparar os instrumentos de medida Alberta Infant Motor Scale e Escala Bayley de desenvolvimento infantil afim de definir qual destes é mais eficaz para avaliação de um lactente seja ele a termo ou pré-termo. Metodologia: Revisão de literatura onde foi realizado um levantamento bibliográfico de outubro de 2019 a outubro de 2020 através de pesquisas nos bancos de dados: Scielo e PubMed. Resultados: foram selecionados 20 artigos baseando-se nos critérios de inclusão e exclusão que demonstraram sensibilidade das avaliações Alberta Infant Motor Scale e Escala Bayley de desenvolvimento infantil e revelaram resultados semelhantes entre elas, mais especificamente no desenvolvimento motor dos lactentes de 0 a 18 meses, em que lactentes pré-termo, com nível socioeconômico desfavorecido e associado a escassez de estímulos adequados para cada faixa etária contribuiu para menores percentis e escores na avaliação do desenvolvimento infantil. Conclusão: As escalasAlberta Infant Motor e Bayley de desenvolvimento infantil são sensíveis na avaliação de lactentes a termo e pré-termo. A escala Bayley III demonstrou ser sensível tanto na avaliação da função motora de lactentes de 0 a 18 meses, como também além desta função, é usada para avaliar aspectos de linguagem e cognição, tornando-a uma ferramenta de avaliação bastante usada por profissionais com capacitação técnica que atuam com avaliação e acompanhamento de lactentes.
DESCRITORES: Desenvolvimento Infantil; Instrumentação; Estudo Comparativo.
ABSTRACT
Introduction: Since the prenatal period the baby goes through an extensive process of development, which from birth enables its interaction with the environment through movements, initially spontaneous and generalized, to later refined and more complex according to functionality. During the infant\’s growth, the evaluation of the development is of great importance, both to determine the typical motor milestones and to identify possible neuropsychomotor delays according to the age group. Objective: to compare the Alberta Infant Motor Scale and Bayley Scale measurement instruments for infant development in order to define which of them is more effective for the evaluation of an infant either in term or preterm. Methodology: Literature review where a bibliographic survey was conducted from October 2019 to October 2020 through surveys in the databases: Scielo and PubMed. Results: 20 articles were selected based on inclusion and exclusion criteria that demonstrated sensitivity of the Alberta Infant Motor Scale and Bayley Scale evaluations of child development and showed similar results among them, more specifically in the motor development of infants from 0 to 18 months, in which preterm infants, with a disadvantaged socioeconomic level and associated with scarcity of appropriate stimuli for each age group contributed to lower percentiles and scores in the evaluation of child development. Conclusion: The Alberta Infant Motor and Bayley scales of infant development are sensitive in the evaluation of term and preterm infants. The Bayley III Scale has proved to be sensitive both in the evaluation of motor function of infants from 0 to 18 months, as well as beyond this function, it is used to evaluate aspects of language and cognition, making it an evaluation tool widely used by professionals with technical training who work with evaluation and monitoring of infants.
DESCRIPTORS: Child development; Instrumentation; Comparative study.
INTRODUÇÃO
Desde o período pré-natal o bebê passa por um extenso processo de desenvolvimento, que a partir do nascimento possibilita sua interação com o meio ambiente através dos movimentos inicialmente espontâneos e generalizados, para posteriormente refinados e mais complexos de acordo com a funcionalidade (CLARA et al., 2010). No período inicial da vida, as atividades do lactente estão totalmente relacionadas com necessidades de sobrevivência, como a respiração, a alimentação, a eliminação, o sono, o afeto e segurança (FONSECA 2008). A partir do momento em que o bebê nasce, ele passa por diversas mudanças psicomotoras de acordo com sua idade cronológica. O início do desenvolvido é caracterizado por habilidades e movimentos considerados simples e desordenados, e à medida que o bebê se desenvolve e há uma estimulação adequada, as habilidades passam a ser consideradas complexas e coordenadas (WILLRICH et al., 2009).
O neurodesenvolvimento saudável e natural depende de diversos fatores, dentre eles destacam-se: metabólicos, morfológicos, psicotônicos, psicoemocionais, psicomotores e psicossociais. A adaptação da criança ao meio ambiente e a sua evolução estão diretamente relacionadas à estimulação desta criança de maneira correta. A avaliação precoce aumenta a chance de um bom prognóstico caso seja identificado algum tipo de alteração nos fatores que afetam o seu desenvolvimento infantil, podendo causar impacto na sua movimentação voluntária, cognição, emoções, interação social e independência (FONSECA, 2008). A avaliação neuropsicomotora pode ser feita com diversas escalas tendo como objetivo principal avaliar o desenvolvimento típico de uma criança segundo sua faixa etária, além de detectar possíveis atrasos no desenvolvimento infantil, contribuindo para um melhor diagnóstico fisioterapêutico com objetivos e condutas mais eficazes e individualizadas para o atendimento de cada criança (SHEPHERD, 1998).
De acordo com Cardoso et al (2017), dentre as escalas de avaliação do desenvolvimento infantil, a Escala Bayley de desenvolvimento infantil é o instrumento de avaliação mais utilizado no mundo, sendo considerado padrão ouro para avaliar possíveis atrasos neuropsicomotores em crianças de 0 a 42 meses (ARAÚJO et al., 2017). Essa escala considera tópicos importantes para o desenvolvimento neuropsicomotor, a avaliação é dividida em 5 planos: o cognitivo, constituído por 91 itens; linguagem, subdividido em comunicação receptiva, com 49 itens e comunicação expressiva, com 48 itens; motora, subdividida em habilidade motora grossa, constituída por 72 itens e habilidade motora fina por 66 itens; social-emocional; e comportamento adaptativo, sendo os dois últimos obtidos a partir do preenchimento das escalas pelos cuidadores ou pais da criança (PAULA et al., 2020).
Além da escala Bayley, a Alberta Infant Motor Scale (AIMS) foi desenvolvida por duas fisioterapeutas com o objetivo de avaliar os ganhos motores e controle postural. Esta avaliação é feita através da observação de 58 itens. O resultado é adquirido por meio da somatória das posturas que foram avaliadas e correlacionadas segundo a idade gestacional corrigida, utilizando a curva percentílica da AIMS (VARGAS et al., 2018). A princípio, a AIMS foi elaborada e validada em crianças canadenses, mas hoje é utilizada em todo o mundo e no Brasil é constantemente utilizada para pesquisas sobre desenvolvimento motor de crianças (SÁ et al., 2017). Segundo Darrah Pipper (1994), a identificação precoce de atrasos neuropsicomotores é essencial para a adequação e orientação das atividades motoras da criança pelos pais e para os profissionais que forem acompanhá-la, podendo garantir sucesso nos protocolos de fisioterapia propostos a partir de uma boa avaliação.
O acompanhamento do desenvolvimento da criança é essencial para promoção de saúde, para possibilitar a maior aprendizagem e exploração de suas potencialidades. A comparação entre métodos de avaliação com eficácia comprovada pode ser útil na capacitação do profissional para aplicação das escalas e na identificação da especificidade de fatores mais sensíveis que podem serem apresentados de acordo com os domínios presentes em diferentes faixa-etária. O presente estudo trata-se de uma revisão de literatura que busca comparar as escalas Bayley de desenvolvimento infantil e AIMS entre si na avaliação de lactentes.
2. OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
– Comparar a literatura dos instrumentos de medida Bayley e AIMS com o intuito de estabelecer o melhor meio de avaliação de um lactente.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
– Comparar e descrever os achados encontrados na avaliação de lactentes pelos métodos de avaliação do desenvolvimento infantil através das escalas Bayley e AIMS.
– Definir eficácia de ambas as escalas
– Apresentar déficits encontrados para avaliar o desenvolvimento.
3. MATERIAIS E MÉTODO
O presente estudo tratou-se de uma revisão qualitativa de literatura. O período de levantamento dos artigos publicados ocorreu entre outubro de 2019 e outubro de 2020. As bases de dados utilizadas foram: SciELO, PubMed e ResearchGate. A partir da pesquisa realizada foram encontrados 217 artigos a partir dos descritores previamente definidos, publicados no período de 2010 a 2020. Destes 2017 artigos encontrados, 20 foram selecionados baseando-se nos critérios de inclusão e exclusão.
Os critérios de inclusão para este estudo foram: artigos que utilizaram como instrumento de medida do desenvolvimento neuropsicomotor a escala Bayley e a AIMS, população do estudo de lactentes atermo e pré-termo, artigos publicados a partir de 2010 em português, inglês e espanhol. Já os critérios de exclusão se caracterizam por: artigos publicados antes do ano de 2010, artigos que avaliaram o desenvolvimento neuropsicomotor com outras escalas, artigos onde a população do estudo não se restringiu a lactentes ou estudos com lactentes portadores de patologias associadas e artigos de revisão.
Os descritores utilizados para a busca na língua portuguesa foram: Desenvolvimento Infantil; Instrumentação; Estudo Comparativo. Os descritores utilizados para a busca em inglês foram: Child development; Instrumentation; Comparative study. Os descritores utilizados para a busca em Espanhol foram: Desarrollo infantil; Instrumentación; Estudio comparativo.
4. RESULTADOS
O estudo teve como objetivo principal descrever os resultados encontrados com os instrumentos de medida AIMS e Bayley visando comparar e identificar o melhor método para avaliar o desenvolvimento neuropsicomotor em lactentes. Foram encontrados durante a pesquisa 217 artigos e deles 20 foram selecionados de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. Os resultados deste estudo estão apresentados no Quadro 1 e Quadro 2.
Quadro 1. Características do neurodesenvolvimento identificadas por meio da escala de avaliação Alberta Infant Motor Scale.
Autor/Ano | Objetivo | Características da amostra | Instrumento de medida | Resultados | Conclusão |
Sampaio et al. (2015) | Identificar possíveis diferenças do desenvolvimento motor entre lactentes pré-termo BP e MBP nos primeiros 8 meses de vida. | Nº de participantes: 63 lactentes divididos em dois grupos: 41 nascidos com BP (entre 2499 e 1500g) e 22 com MBP (entre 1499 e 1000g) Faixa etária: 0 – 8 meses Gênero: ambos os gêneros Critérios de inclusão: lactentes prematuros com peso ao nascer entre 1.000g a 2.500g. | AIMS TKW | Observou-se diferença significativa entre os grupos BP e MBP, tanto no escore (p=0,011) quanto nos percentis (p=0,010), nas faixas etárias de 2-4 e 5-8 meses (p=0,017; p=0,013, respectivamente). Na comparação entre 0-1 mês e 2-4 meses foram observados maiores escores nos grupos BP (p=0,000) e MBP (p=0,001) e menores percentis (p=0,003) no grupo MBP aos 2-4 meses. Entre 0-1 mês e 5-8 meses, observamos maiores escores (p=0,000; p=0,000) e menores percentis (p=0,005; p=0,000) aos 5-8 meses, bem como, entre 2-4 e 5-8 meses apresentaram maior escore (p=0,000; p=0,000) e menor percentil (p=0,006; p=0,004) aos 5-8 meses. | Por meio da AIMS, é possível avaliar e comprovar sua relação com o desenvolvimento motor de prematuros e seu impacto significativo, sendo o atraso mais evidente nas faixas etárias mais avançadas. |
Quadro 1. Características do neurodesenvolvimento identificadas por meio da escala de avaliação Alberta Infant Motor Scale (continuação).
Autor/Ano | Objetivo | Características da amostra | Instrumento de medida | Resultados | Conclusão |
Coutinho et al. (2014) | Avaliar o desenvolvimento neuromotor em um grupo de pré termos. | Nº de participantes: 31 prematuros e 43 nascidos a termo Faixa etária: 4 – 6 meses Gênero: ambos os gêneros Critérios de inclusão: recém-nascidos pré-termo com idade gestacional de 32 a 34 semanas | AIMS | O grupo de pré termos apresentados escores secundários mais baixos na 40ª semana em relação ao grupo controle, mas os escores subsequentes não diferenciados entre os dois grupos. | O lactente pré-termo que for exposto a estimulação adequada e com antecedência, pode garantir eficiência no desenvolvimento neuropsicomotor. |
Oliveira et al. (2013) | Caracterizar o desenvolvimento motor e as oportunidades ambientais de lactentes de mães adolescentes, bem como comparar o desenvolvimento motor dos lactentes que moram com as avós com o desenvolvimento dos que moram apenas com os pais. . | Nº de participantes: 17 lactentes Faixa etária: 3 – 12 meses Gênero: ambos os gêneros Critérios de inclusão: lactentes nascidos de mães adolescentes | AIMS | Os lactentes apresentaram valor percentílico de 28±16,95, o que se traduz em desempenho normal. Porém, ao analisar os grupos, verificou-se que os lactentes de mães adolescentes que moram com avó (Grupo A) apresentaram melhor desempenho motor, comparados com os lactentes que moram apenas com os pais (Grupo B). Na comparação entre os grupos, observou-se diferença significativa de desempenho motor (teste de Mann-Whitney – p=0,0167) | Apesar de a maior parte dos lactentes mostrarem normalidade no desenvolvimento motor, é notável realçar que fatores intrínsecos e extrínsecos tem total influência sobre o desenvolvimento dos mesmos. |
Quadro 1. Características do neurodesenvolvimento identificadas por meio da escala de avaliação Alberta Infant Motor Scale (continuação).
Autor/Ano | Objetivo | Características da amostra | Instrumento de medida | Resultados | Conclusão |
Silva et al. (2013) | Analisar a confiabilidade intraclasse AIMS, na versão brasileira, em prematuros e a termo. | Nº de participantes: 50 lactentes Faixa etária: 4 meses Gênero: ambos os gêneros Critérios de inclusão: Crianças com quatro meses de idade, CA ou ChrA, com idade gestacional superior a 32 semanas, com ou sem internação em unidade neonatal | AIMS | Os avaliadores obtiveram índices de confiabilidade intraclasse acima de 0,800 para os resultados da AIMS, com índices do avaliador 1 igual a 0,954 e 0,873, do avaliador 2 igual a 0,914 e 0,866, e do avaliador 3, 0,884 e 0,843 para a pontuação total e classificação percentual, respectivamente. | A escala AIMS foi capaz de avaliar precisamente o desempenho motor grosso dos lactentes brasileiros nascidos a termo e pré-termo, com a devida atenção à idade corrigida dos bebês prematuros |
Venturella et al. (2013) | Avaliar e comparar o desenvolvimento motor de meninos e meninas na primeira infância. | Nº de participantes: 90 lactentes. Faixa etária: 0 – 18 meses Gênero: ambos os gêneros Critérios de inclusão: lactentes provenientes de Escolas de Educação Infantil Particulares (EEIP’s) do Município de Caxias do Sul, no sul do Brasil. | AIMS | A maioria dos participantes (73.3%) apresentou desempenho motor normal; não foram observadas diferenças significativas no desenvolvimento motor entre os sexos nos escores da AIMS (pesc.total = .76; ppercentil = .38, pempé = .97) e nas diferentes posturas (pprono = .71; p supino = .49; psentado = .71; pempé = .97;, não foram observadas associações entre sexo e desempenho motor (Eta2 = .008; Eta2 = .108). | Não houve diferença significativa no desenvolvimento motor em meninos e meninas dentro dos dois primeiros anos de vida. As possíveis mudanças no desenvolvimento relacionas ao sexo podem aparecer com o passar do tempo e são influenciadas pelas oportunidades do contexto. |
Quadro 1. Características do neurodesenvolvimento identificadas por meio da escala de avaliação Alberta Infant Motor Scale (continuação).
Autor/Ano | Objetivo | Características da amostra | Instrumento de medida | Resultados | Conclusão |
Souza et al. (2012) | Comparar o desenvolvimento motor de crianças de 12 a 18 meses nascidas pré-termo e a termo e investigar sua relação com o desempenho funcional e com a quantidade e qualidade de estímulos ambientais. | Nº de participantes: 60 lactentes. Faixa etária: 12-18 meses. Gênero: ambos os gêneros Critérios de inclusão: 30 crianças prematuras (idade gestacional de 30,0±2,3 semanas e peso ao nascimento de 1178±193g) e 30 nascidas a termo (idade gestacional de 39,0±1,3 semanas e peso ao nascimento de 3270±400g. | AIMS AHEMD- SR | Houve maior lentidão para aquisição da marcha no grupo pré-termo (p=0,005), embora não tenha sido encontrada diferença significativa entre os grupos no AIMS aos 12 (p=0,19) e aos 15 meses (p=0,80). Aos 18 meses foram encontradas diferenças significativas no desenvolvimento motor grosso (p<0,001) e fino (p=0,001) e nas habilidades funcionais, com vantagem para o grupo a termo. Houve diferença significativa entre os grupos quando avaliados pelo inventário AHEMD- SR (p=0,008). | A diferença no desempenho motor dos 12 aos 18 meses entre os dois grupos de lactentes aumentou e fatores ambientais podem ter potencializado tais diferenças. Os programas de monitoramento do desenvolvimento devem se concentrar em todos os aspectos do ambiente de vida de uma criança. |
Oliveira et al. (2012) | Avaliar as alterações existentes no desenvolvimento motor de bebês a partir de orientações aos pais e ou cuidadores. | Nº de participantes: 22 lactentes Faixa etária: 2 – 6 meses. Gênero: ambos os gêneros Critérios de inclusão: o bebê não ter participado de programas de intervenção motora e cognitiva, sua idade ter sido corrigida, o bebê não ter sido internado no período do estudo. | AIMS AHEMD- SR | Observou-se significância no desenvolvimento motor no GI do pré para o pós-intervenção (p=0,029) | Os resultados mostram que a qualidade da aprendizagem motora melhora quando os bebês são estimulados adequadamente no ambiente doméstico. |
Quadro 1. Características do neurodesenvolvimento identificadas por meio da escala de avaliação Alberta Infant Motor Scale (continuação).
Autor/Ano | Objetivo | Características da amostra | Instrumento de medida | Resultados | Conclusão |
Maia et al. (2011) | Comparar o desenvolvimento motor de crianças nascidas pré-termo e a termo aos quatro e seis meses de idade, aplicando a AIMS na versão brasileira. | Nº de participantes: 24 crianças pré-termo e 24 a termo Faixa etária: 4 meses Gênero: ambos os gêneros Critérios de inclusão: idade gestacional para composição de cada grupo (a termo e pré-termo. | AIMS | Nas crianças de quatro meses, verificou-se diferença estatisticamente significante na posição em pé (p=0,014) e, nas de seis meses, em todas as posições (prono, supina, sentada, em pé) e escores totais. Quanto ao percentil, aos quatro e seis meses, respectivamente, 37,5% das crianças pré-termo mostraram desempenho excelente e 54,2%, normais. | A análise estatística do desempenho motor geral entre os grupos de lactentes estudados mostrou que existem diferenças no desenvolvimento e evolução do percentil AIMS. |
Sartori et al. (2010) | Caracterizar o desempenho motor de bebês de 0 a 16 meses, comparando o de bebês nascidos de mães adolescentes ao de bebês de mães adultas. | Nº de participantes: 80 lactentes, sendo 40 de mães adolescentes e 40 de mães adultas Faixa etária: 0- 16 meses Gênero: ambos os gêneros Critérios de inclusão: todos os bebês nascidos de mães adolescentes com idade entre 0 e 16 meses. | AIMS | Os resultados da AIMS mostram pior desempenho motor dos bebês de mães adolescentes (p=0,002; p=0,001), além de suas inadequadas aquisições motoras nas posturas prono e em pé. Não foi encontrada associação significativa entre a maioria dos fatores biológicos analisados e o desenvolvimento motor dos bebês. | Os resultados mostram que a idade materna pode ser considerada um fator de risco para o retardo motor infantil, porém ressalta-se a interação de vários fatores (não controlados aqui) porem afetar a capacidade motora dos lactentes, como requisitos de tarefas e condições ambientais. |
Quadro 2. Características do neurodesenvolvimento identificadas por meio da escala de avaliação Bayley de desenvolvimento Infantil
Autor/Ano | Objetivo | Características da amostra | Instrumento de medida | Resultados | Conclusão |
Góes et al. (2015) | Avaliar o desenvolvimento cognitivo, motor e de linguagem em bebês. | Nº de participantes: 104 pré termos Faixa etária: 17 a 30 meses Gênero: ambos os gêneros Critério de inclusão: as crianças se fizessem uma avaliação utilizando a BSID | EBDI III | A média do escore de linguagem foi baixa, foram encontrados déficits apenas na linguagem receptiva, enquanto as do cognitivo e motor estavam normais. | A escala Bayley foi benéfica para avaliar linguagem e cognição. |
Borba et al. (2015) | Investigar e correlacionar bebês de mães adolescentes e adultas os fatores de risco biológicos e ambientais para o desenvolvimento infantil. | Nº de participantes: 40 lactentes Faixa etária: 0 a 18 meses Gênero: ambos os gêneros Critério de inclusão: mães adolescentes entre 15 e 19 anos e 20 de mães adultas entre 25 e 39 anos e renda familiar semelhante. | EBDI III AIMS | O desenvolvimento cognitivo dos bebês apresentou mudanças significativas ao longo do tempo nos escores da Bayley na amostra em geral (F (37,3) = 211,60, p t <0,001) e em cada grupo (p int1 <0,001). Pt refere-se aos valores de probabilidade de significância ao longo dos três tempos de avaliação. | A idade materna não afetou negativamente o desenvolvimento motor e cognitivo dos bebês e não pode ser considerada como fator de risco independente para atraso no desenvolvimento infantil |
Quadro 2. Características do neurodesenvolvimento identificadas por meio da escala de avaliação Bayley de desenvolvimento infantil (continuação).
Autor/Ano | Objetivo | Características da amostra | Instrumento de medida | Resultados | Conclusão |
Cunha et al. (2016) | Avaliar o efeito da suplementação com leite materno em relação ao desenvolvimento de prematuros de baixo peso ao nascer, exclusivamente amamentados, aos 12 meses de idade corrigida. | Nº de participantes: 53 pré-termos. Faixa etária: 0 a 12 meses Gênero: ambos os gêneros Critério de inclusão: peso ao nascer <1.500 g e internados na UTIN | EBDI III | Não houve diferença estatisticamente significativa na Escala Bayley III | Os resultados não conseguiram mostrar uma associação entre a suplementação multinutriente pós-alta e o desenvolvimento dos bebês avaliados. |
Pereira et al. (2016) | Investigar associações entre o desenvolvimento motor e cognitivo, aspectos biológicos, práticas maternas, conhecimento parental e ambiente familiar de bebês. | Nº de participantes: 49 lactentes. Faixa etária: 3 a16 meses Gênero: ambos os gêneros Critério de inclusão: frequentaram escola infantil e idade entre 0 e 18 meses | EBDI III Development AIMS | O desenvolvimento motor e cognitivo foi significativo e moderada no primeiro momento avaliado (rho1=0,496; p1<0,001) e no segundo momento (rho2=0,520; p2<0,001); e forte no terceiro momento (rho3=0,634; p3<0,001). Observou-se associação significativa entre motricidade e cognição, com valores de beta elevados. Na multivariada, a associação permaneceu no modelo no segundo e terceiro momento. Incrementos no repertório motor estavam relacionados com comportamento cognitivo mais sofisticado. Foram observadas associações significativas com a cognição (segundo e terceiro momento avaliado). | Fatores ambientais e cognição explicam a maior parte da variabilidade no desenvolvimento motor, mas à custa de fatores biológicos. |
Quadro 2. Características do neurodesenvolvimento identificadas por meio da escala de avaliação Bayley de desenvolvimento infantil (continuação).
Autor/Ano | Objetivo | Características da amostra | Instrumento de medida | Resultados | Conclusão |
Jiménez et al. (2017) | Avaliar o efeito do leite materno em recém-nascidos de baixo peso, sobre o aumento de peso na alta hospitalar, idade pós-menstrual na alta e nutrição, neurodesenvolvimento e tempo de internação. | Nº de participantes: 152 bebes Faixa etária: recém-nascidos prematuros Gênero: ambos os gêneros Critério de inclusão: recém-nascidos pré-termos com peso inferior a 1500g. | EBDI III | Não foram encontradas diferenças significativas em termos de alimentação precoce aos dois e cinco anos. | A amamentação inicial com leite materno deve ser motivada, pois pode aprimorar o neurodesenvolvimento do lactente. |
Farkas et al. (2017) | Descrever o desenvolvimento socioemocional da criança de um ano de idade segundo a percepção materna, analisar a relação com a sensibilidade materna, sexo, temperamento infantil e SES familiar, e analisar a capacidade preditiva dessas variáveis | Nº de participantes: 90 crianças Faixa etária: 10 a 15 meses Gênero: ambos os gêneros Critério de inclusão: sentimento materno em relação ao desenvolvimento socioemocional com a criança. | EBDI III | O desenvolvimento socioemocional mostrou que a maioria das crianças, 67,8%, está em um nível médio de desenvolvimento socioemocional, 15,6% estão em um nível superior e os restantes 16,7% estão baixo ou de risco. | Segundo a percepção de suas mães, a maioria encontra-se em um nível médio de desenvolvimento socioemocional. Foi relacionado o desenvolvimento com a sensibilidade da mãe para contribuir com a prevenção precoce de problemas na primeira infância e adolescência. |
Quadro 2. Características do neurodesenvolvimento identificadas por meio da escala de avaliação Bayley de desenvolvimento infantil (continuação).
Autor/Ano | Objetivo | Características da amostra | Instrumento de medida | Resultados | Conclusão |
Gálvez et al. (2017) | Analisar a relação entre mentalização e sensibilidade das mães da Região Metropolitana do Chile com seus filhos de um ano e sua implicação no desenvolvimento socioemocional infantil (DSE) | Nº de participantes: 105 mães com seus filhos Faixa etária: 10 a 14 meses Gênero: ambos os gêneros Critério de inclusão: mães que tiveram bebes na faixa etária de 10 a 15 meses, mães que moram com seus filhos, bebes que frequentavam creche e que não apresentavam patologias | EBDI III ESA | Crianças com desenvolvimento socioemocional médio-alto estão em melhores categorias de desenvolvimento socioemocional dos bebês em comparação com crianças com nível socioeconômico baixo, 2 (2, N = 105) = 8,30, p = 0,016, e obtêm escores médios superior nesta escala, t (103) = 3,01, p = 0,003, d = 0,57, IC de 95% [0,58, 2,81] | Relação direta leve entre a sensibilidade materna e o nível de desenvolvimento socioemocional da criança, que desaparece ao controlar o nível socioeconômico. |
Cardoso et al. (2017) | Conferir a correlação entre as escalas em lactentes pré termo de risco até 2 anos. | Nº de participantes: 88 lactentes Faixa etária: 1 a 23 meses Gênero: ambos os gêneros Critério de inclusão: peso ao nascer <1500 g e frequentar o Ambulatório de Alto Risco Neonatal ou o Ambulatório de Alto Risco no período da coleta de dados | EBDI III EBL | Lactentes de 1 a 6 meses: escore motor grosseiro (ρ=0,304; p=0,090), socioemocional (ρ=0,234; p=0,198), o escore motor fino (ρ=0,448; p=0,01) e o escore da linguagem (ρ=0,383; p=0,030). Lactentes de 6 a 12 meses: escore motor grosseiro (ρ=0,484; p=0,003), motor fino (r=0,489; p=0,002), socioemocional (r=0,435; p=0,008) e linguagem (ρ=0,252; p=0,138). Lactentes de 18 a 24 meses: escore motor grosseiro (ρ=0,468; p=0,037), escore da linguagem (r=0,890; p<0,001), motor fino (r=0,385; p=0,094) e socioemocional (r=0,225; p=0,340). | A escala Brunet-Lézine apresenta forte correlação com a escala Bayley III na linguagem dos lactantes de 18 a 24 meses, o que mostra que, nesse aspecto, é eficaz na avaliação de lactentes. |
Quadro 2. Características do neurodesenvolvimento identificadas por meio da escala de avaliação Bayley de desenvolvimento infantil (continuação).
Autor/Ano | Objetivo | Características da amostra | Instrumento de medida | Resultados | Conclusão |
Tella et al. (2018) | Analisar a influência do nível socioeconômico e da escolaridade materna no desenvolvimento linguístico, motor e cognitivo do bebê. | Nº de participantes: 444 crianças Faixa etária: 6 a 9 meses Gênero: ambos os gêneros Critério de inclusão: crianças nascidas de mulheres atendidas em unidades básicas de saúde da região oeste da cidade de São Paulo | EBDI III | Os maiores índices de atrasos no desenvolvimento foram observados nas habilidades motoras e de linguagem. A maioria dos lactentes foi classificada com desenvolvimento médio | Indicam que os efeitos do nível socioeconômico são detectáveis com antecedência na primeira infância |
Keim et al. (2018) | Verificar se 6 meses de suplementação diária de ácido docosaexaenoico melhora os resultados de desenvolvimento de bebês que nasceram prematuros | Nº de participantes: 377 crianças Faixa etária: 10 a 16 meses Gênero: ambos os gêneros Critério de inclusão: Crianças nascidas com menos de 35 semanas de gestação | EBDI III | Escores cognitivos de Bayley não divergiram entre os grupos ácido docosahexaenóico (DHA) + ácido araquidônico (AA) e placebo. Na linguagem a pontuação do grupo DHA + AA teve efeito negativo de pequeno a médio e o placebo não. Os escores motores não foram afetados. | A suplementação diária de DHA e AA por 6 meses não resultou em melhora no desenvolvimento cognitivo. |
Quadro 2. Características do neurodesenvolvimento identificadas por meio da escala de avaliação Bayley de desenvolvimento infantil (continuação).
Autor/Ano | Objetivo | Características da amostra | Instrumento de medida | Resultados | Conclusão |
Pádua et al. (2020) | Indicar e conferir o vínculo mãe-filho os Affordances e o desenvolvimento motor, cognitivo e da linguagem de lactentes expostos e não expostos ao HIV. | Nº de participantes: 49 crianças Faixa etária: 4 a 18 meses Gênero: ambos os gêneros Critério de inclusão: para o grupo exposto: mães apresentam diagnóstico sorológico positivo de HIV, inseridos em um programa de acompanhamento. Grupo não exposto: pareamento com os lactentes do grupo expostos ao HIV em relação à idade, sexo e condição do poder de consumo econômico. | EBDI III AHEMD- SR | Expostos ao HIV: Desenvolvimento motor (3 – médio baixo, 15 – médio, 2 médio alto). Desenvolvimento cognitivo (4 – médio baixo, 16- médio). Desenvolvimento da linguagem (1 – limítrofes, 6- médio baixo, 13- médio). Não expostos ao HIV: Desenvolvimento motor (3- médio baixo, 25 – médio, 1 – médio alto). Desenvolvimento cognitivo (10 – médio baixo, 19 – médio). Desenvolvimento da linguagem (1 – limítrofe, 14- médio baixo, 14 – médio). | Não houve diferença entre lactantes expostos ao HIV, no desenvolvimento motor, cognitivo e da linguagem. |
LEGENDA: Affordances in the Home Environment for Motor Developmemt (AHEMD- SR); Alberta Infant Motor Scale (AIMS); Teste Kruskall-Wallis (TKW); Escala Brunet-Lézine (EBL); Escala de sensibilidade para adultos da ESA; Escala Bayley do Desenvolvimento Infantil III (EBDI III); Baixo peso (BP); Muito Baixo Peso (MBP); Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV); GI (grupo interventivo).
5. DISCUSSÃO
O estudo teve como objetivo principal descrever os resultados encontrados com os instrumentos de medida Bayley e AIMS, visando comparar e identificar o melhor método para avaliar o desenvolvimento neuropsicomotor em lactentes. Os resultados dessa pesquisa demonstraram alguns pontos semelhantes e consideráveis, onde, tanto a Escala Bayley quanto a AIMS são capazes de avaliar com êxito o desenvolvimento motor dos lactentes, seja ele a termo ou pré-termo exposto ou não a algumas condições como: suplementação, HIV, estímulos ambientais e fatores sociais.
O estudo de Sampaio et al. (2015) avaliou o desenvolvimento de lactentes de baixo peso (BP) e muito baixo peso (MBP) e em relação a faixas etárias através do instrumento de medida AIMS. Os resultados encontrados evidenciaram diferença significativa dos escores e percentis entre as faixas etárias estudadas, onde na comparação entre 0-1 mês e 2-4 meses foram observados maiores escores nos grupos BP (p=0,000) e MBP (p=0,001) e menores percentis (p=0,003) no grupo MBP aos 2-4 meses. Entre 0-1 mês e 5-8 meses, observamos maiores escores (p=0,000; p=0,000) e menores percentis (p=0,005; p=0,000) aos 5-8 meses, bem como, entre 2-4 e 5-8 meses apresentaram maior escore (p=0,000; p=0,000) e menor percentil (p=0,006; p=0,004) aos 5-8 meses. A maior probabilidade de atraso no desenvolvimento lactentes foi relacionada com as maiores faixas etárias. Outro estudo similar de Coutinho et al. (2014) avaliou o desenvolvimento de lactentes pré-termo utilizando a AIMS e foi verificado menores escores nos lactentes pré-termo em relação ao grupo controle. Além disso, foi evidenciado que com o estímulo adequado é possível garantir um desenvolvimento neuropsicomotor eficiente. Souza et al. (2013) analisou o desenvolvimento de pré-termos relacionando aos fatores ambientais, onde demonstrou diferença significativa em seus achados constatando maior lentidão na aquisição de marcha no grupo pré termo e no desenvolvimento motor grosso (p<0,001), fino (p=0,001) e nas habilidades funcionais, com vantagem para o grupo a termo, além disso, enfatizou a necessidade de um acompanhamento dos participantes estudados pós-pesquisa. Silva et al. (2013) também analisou o desenvolvimento motor de lactentes a termo e pré-termo com nacionalidade brasileira e com idade corrigida, sendo capaz de garantir a eficácia da avaliação por meio da AIMS. No estudo de Maia et al. (2010) o desenvolvimento de lactentes pré-termo e a termo foi avaliado pela AIMS traduzida para o Brasil, identificando que o percentil, aos quatro e seis meses, respectivamente, 37,5% das crianças pré-termo mostraram desempenho excelente e 54,2%, normais.
Oliveira et al. (2013) estudou a relação do desenvolvimento motor em lactentes a termo nascidos de mães adolescentes com fatores sociais e ambientais, onde o grupo A vive com os avós e o grupo B apenas com os pais. Para isto foi utilizado como instrumento de medida a AIMS e foi constatado diferenças significativas na avaliação dos lactentes que vivem com os avós tendo um score e percentil acima dos outros bebês, isso sugere que o grupo A tenha tido a oportunidade de ter maior quantidade de estímulos oferecidos influenciando diretamente no desenvolvimento dos mesmos. Sartori et al. (2010) também estudou a relação do desenvolvimento motor dos lactentes nascidos de mães adolescentes e comparou com os lactentes nascidos de mães adultas através da AIMS. Os resultados mostraram diferenças significativas nos escores e percentis, em que a idade materna foi considerada como fator de risco para possíveis atrasos no desenvolvimento dos lactentes.
Venturella et al. (2013) comparou o desenvolvimento motor de lactentes do sexo feminino e masculino pela escala AIMS. Os resultados não demonstraram diferenças significativas quanto ao desenvolvimento, sugerindo que as diferenças apareçam em idades avançadas dependendo das oportunidades e do contexto em que a criança viverá. Ao estudar um grupo de pré-termos e a termos, Oliveira et al. (2012) identificou diferenças consideráveis nos escores e percentil da AIMS pré e pós-intervenção sugerindo para que os pais e cuidadores estimulem os lactentes o quão antes podendo garantir melhores resultados no desenvolvimento.
Em relação a escala Bayley de desenvolvimento infantil, encontramos na literatura alguns achados de avaliação do desenvolvimento dos pré-termos e a termos. Jiménez et al. (2017) estudou o efeito da amamentação nas primeiras semanas após o nascimento em recém-nascidos de muito baixo peso no desenvolvimento da criança, onde 152 crianças foram divididas em 3 grupos: as crianças que receberam aleitamento materno exclusivo, as alimentadas com fórmula e as alimentadas com o leite misto. Foram coletados dados antropométricos na alta e tempo de permanência hospitalar, aos 2 anos de idade foram coletados dados antropométricos e avaliação da escala Bayley, sendo repetidos aos 5 anos de idade, (onde foi verificado que a admissão do leite materno na fase inicial da criança é vantajoso para o desenvolvimento infantil ). A avaliação pela Bayley validada para avaliar atrasos no desenvolvimento inicial, é uma importante ferramenta de avaliação global. Cunha et al. (2016) também estudou o efeito da suplementação com leite materno em relação ao desenvolvimento de prematuros de baixo peso ao nascer e os bebês foram divididos em 2 grupos: o grupo controle recebeu aleitamento materno exclusivo e o intervenção que recebeu dois gramas de suplemento multicomponente em pó adicionados ao leite duas vezes ao dia. Após o acompanhamento, foi realizada a avaliação por meio da escala Bayley, o valor da pontuação do grupo de intervenção é maior do que o grupo de controle nas três áreas de domínio motor, cognitivo e linguagem, mas não mostrou diferença estatisticamente significativa.
Um outro estudo de Góes et al. (2015) avaliou o desenvolvimento cognitivo, motor e de linguagem em prematuros, além de outros fatores associados ao desenvolvimento irregular, onde demonstrou que a escala Bayley é vantajosa, pois foi possível verificar deficiência na linguagem receptiva, assim como foi possível analisar a cognição e habilidades motoras mesmo estando dentro da normalidade da escala, quando comparados com o grupo controle, sendo todos avaliados separadamente. Tella et al. (2018) analisou os efeitos socioeconômicos sobre o desenvolvimento neuropsicomotor no primeiro ano de vida do lactente. Os resultados mostraram que crianças com níveis socioeconômicos mais altos apresentaram maior desempenho em tarefas de linguagem e motoras e mães com escolaridade apresentaram maiores pontuações em linguagem e cognição, enquanto crianças com rendas mais baixas apresentaram uma probabilidade maior em atraso no desenvolvimento infantil. Gálvez et al. (2017) estudou a relação das mães com seus filhos no desenvolvimento socioemocional infantil com diferentes níveis socioeconômicos das mães. Dentre os instrumentos utilizados para avaliação foi a escala de desenvolvimento socioemocional da Bayley. De acordo com os resultados foi evidenciada pouca relação entre a sensibilidade da mãe com o nível do desenvolvimento socioemocional do lactente, essa relação desaparece quando é controlado o nível socioemocional da criança e não houve relação entre a mentalização da mãe com o desenvolvimento socioemocional da criança. Além do estudo de Gálvez et al. (2017), Farkas et al. (2017) estudou o desenvolvimento socioemocional da criança no seu primeiro ano de vida de acordo com a noção da mãe sobre o desenvolvimento do lactante nessa idade, sendo utilizada a escala socioemocional da Bayley. Farkas e colaboradores (2017) demonstraram que a maioria das crianças incluídas no estudo (67,8%) está em um nível médio de desenvolvimento socioemocional, enquanto 15,6% estão em nível superior e 16,7% estão em um nível baixo.
Borba et al. (2015) investigou e correlacionou os fatores de risco para o desenvolvimento infantil e as mudanças no desenvolvimento cognitivo e motor durante os quatro meses de acompanhamento. Foi avaliado o desenvolvimento cognitivo pela escala Bayley de desenvolvimento infantil e os resultados descreveram que as habilidades cognitivas de ambos os grupos de bebês não diferiram ao longo de um período de quatro meses, apresentando desenvolvimento cognitivo dentro da normalidade. Pereira et al. (2016) investigou o desenvolvimento cognitivo e motor para relacionar com o ambiente familiar em que o bebê vive, práticas maternas e conhecimento dos pais usando a escala Bayley. Os resultados mostram que fatores ambientais podem influenciar nas áreas motora e cognitiva.
Cardoso et al. (2017) avaliou o desenvolvimento de bebês prematuros de alto risco com menos de dois anos de idade, utilizando como instrumentos de medida as escalas Bayley e Brunet-Lézine. Os resultados encontrados foram semelhantes em todas as áreas avaliadas. Além disso, as escalas de avaliação demonstraram similaridades e se mostraram eficazes, garantindo a Bayley como um instrumento que apresenta especificidade na avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor.
O estudo de Keim et al. (2018) verificou se suplementação de ácido docosahexaenóico (DHA) diariamente por 6 meses pode melhorar o resultado do desenvolvimento de bebês prematuros. Os achados encontrados não resultaram em melhora no desenvolvimento cognitivo e pode ter um impacto negativo no desenvolvimento da linguagem. Pádua et al. (2020) estudou o desenvolvimento motor, cognitivo e de linguagem em lactantes expostos e não expostos ao vírus imunodeficiência humana, porém não foi revelado diferenças.
Considerando os resultados obtidos com a AIMS e a Bayley foi possível revelar que ambas as escalas são sensíveis para avaliar o desenvolvimento infantil. Os principais resultados encontrados permitiram identificar algumas semelhanças entre os estudos, mais especificamente no desenvolvimento motor dos lactentes de 0 – 18 meses, onde lactentes pré-termo, com nível socioeconômico desfavorecido e associado a escassez de estímulos adequados para cada faixa etária contribui para menores percentis e escores na avaliação do desenvolvimento infantil.
6. CONCLUSÃO
Levando em consideração os objetivos propostos para este estudo os achados demonstram que tanto a AIMS quanto a Bayley III exibem resultados satisfatórios e relevantes quando se trata da avaliação do desenvolvimento motor dos lactentes. Além disso, as escalas também mostraram a importância de uma boa avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor desde o momento em que o bebê nasce, seja ele a termo ou pré-termo visto que fatores ambientais e sociais influenciaram diretamente em seu desenvolvimento, podendo assim identificar possíveis diagnósticos precoces.
Além das semelhanças entre as escalas Bayley e AIMS, os resultados apontaram também diferenças que podem influenciar diretamente na escolha do método de avaliação do lactente, como o fato da Bayley III ser capaz de avaliar não só a função motora dos lactentes de 0 – 18 meses, mas também identificar em sua avaliação aspectos de linguagem e cognição, tornando-a uma escala padrão ouro para profissionais com capacitação técnica que atuam com avaliação e acompanhamento de lactentes.
REFERÊNCIAS
BORBA, L. S.; VALENTINI, N. C. Desenvolvimento motor e cognitivo de bebês de mães adolescentes e adultas: estudo longitudinal. Revista Brasileira de cineantropometria e desempenho humano, Florianópolis, v. 17, n. 4, pág. 438-449, Jul./Ago. 2015. DOI: 10.5007/1980-0037.2015v17n4p438. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1980-00372015000400438&lng=en&nrm=iso > Acesso em: 28 de outubro 2019.
CARDOSO, F. G. C. et al. Validade concorrente da escala brunet-lézine com a escala bayley para avaliação do desenvolvimento de bebês pré-termo até dois anos. Revista paulista de pediatria, São Paulo, v. 35, n. 2, p. 144-150, Abr./Jun. 2017. DOI: 10.1590/1984-0462/;2017;35;2;00005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-05822017000200144&lng=pt&nrm=iso> Acesso em: 28 de outubro de 2019.
CHINEA J. B. et al. Beneficios a corto, medio y largo plazo de la ingesta de leche humana en recién nacidos de muy bajo peso. Nutrición Hospitalaria., Madrid, v. 34, n. 5, p. 1059-1066, Set./Out. 2017. DOI: 10.20960/nh.1014. Disponível em: <http://scielo.isciii.es/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0212-16112017000500007&lng=es&nrm=iso>. Acesso em: 05 de novembro de 2019.
CUNHA, R. D. S. et al. Breast milk supplementation and preterm infant development after hospital discharge: a randomized clinical trial. Jornal de Pediatria, Porto Alegre, v. 92, n. 2, pág. 136-142, Mar./Abr. 2016. DOI: 10.1016/j.jped.2015.04.004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572016000200136&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 05 de novembro de 2019.
FARKAS, C.; RODRIGUEZ, K. A. Percepción materna del desarrollo socioemocional infantil: relación con temperamento infantil y sensibilidad materna. Acta de investigación psicol, México, v. 7, n. 2, p. 2735-2746, Ago. 2017. DOI: 10.1016/j.aipprr.2017.06.003 Disponível em: <http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2007-48322017000202735&lng=es&nrm=iso>. Acesso em: 12 de dezembro de 2020
FONSECA, V. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008.
GALVEZ, A. P.; FARKAS, C. Relación Entre Mentalización y Sensibilidad de Madres de Infantes de Un Año de Edad y su Efecto en su Desarrollo Socioemocional. Psykhe, Santiago, v. 26, n. 1, p. 1-14, Mai. 2017. DOI: 10.7764/psykhe.26.1.879. Disponível em: <https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0718-22282017000100005&lng=es&nrm=iso> Acesso em: 10 de janeiro de 2020
GOES, F. V. et al. Avaliação do neurodesenvolvimento de bebês prematuros por meio da escala Bayley III. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil. Recife, v. 15, n. 1, pág. 47-55, Jan./Mar. 2015. DOI: 10.1590/S1519-38292015000100004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-38292015000100047&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 10 de janeiro de 2020.
KEIM, S. A. et al. Effect of Docosahexaenoic Acid Supplementation vs Placebo on Developmental Outcomes of Toddlers Born Preterm: A Randomized Clinical Trial. JAMA Pediatrics 2018 Dez 1;172(12):1126-1134. doi: 10.1001/jamapediatrics.2018.3082. Errata em: JAMA Pediatrics Out., 2019 14: PMID: 30357263; PMCID: PMC6583023. DOI: 10.1001/jamapediatrics.2018.3082. Disponível em: <https://jamanetwork.com/journals/jamapediatrics/fullarticle/2706425> Acesso em: 10 de janeiro de 2020.
MAIA, P. C. et al. Desenvolvimento motor de crianças prematuras e a termo: uso da Alberta Infant Motor Scale. Acta paulista de Enfermagem, São Paulo, v. 24, n. 5, p. 670-675, 2011. DOI: 10.1590/S0103-21002011000500012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21002011000500012&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 10 de janeiro de 2020.
MATTOS; CALDEIRA, A. P. Impacto da fisioterapia no desenvolvimento neuromotor de recém-nascidos prematuros. Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 27, n. 3, pág. 413-420, Jul./Set 2014. DOI: 10.1590/0103-5150.027.003.AO12. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-51502014000300413&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 05 de novembro de 2019.
NOBRE, J. N. P. et al. Qualidade do uso de mídia interativa na primeira infância e no desenvolvimento infantil: uma análise multicritério. Jornal de Pediatria, Porto Alegre, v. 96, n. 3, pág. 310-317, Jun. 2020. DOI: 10.1016/j.jped.2018.11.015. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572020000300310&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 10 de janeiro de 2020.
OLIVEIRA, A. S.; CHIQUETTI, E. M. S.; SANTOS, H. Caracterização do desenvolvimento do motor de lactentes de mães adolescentes. Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v. 20, n. 4, pág. 349-354, Out./Dez. 2013. DOI: 10.1590/S1809-29502013000400008. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-29502013000400008&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 05 de janeiro de 2020.
OLIVEIRA, S. M. S.; ALMEIDA, C. S.; VALENTINI, N. C. Programa de fisioterapia aplicado no desenvolvimento motor de bebês saudáveis em ambiente familiar. Revista da Educação Física UEM, Maringá, v. 23, n. 1, p. 25-35, Jan./Mar. 2012. DOI: 10.4025/reveducfis.v23i1.11551. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-30832012000100003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 05 de janeiro de 2020.
PÁDUA, R. F.; Ruivo, C.O.; Sá, R.C.S. ambiente domiciliar, vínculo mãe-filho e o desenvolvimento de lactentes expostos e não expostos ao vírus da imunodeficiência humana. Temas em Saúde, volume 20, nº 1. João Pessoa, 2020. DOI: 10.29327/213319.20.2-15. Disponível em: < http://temasemsaude.com/wp-content/uploads/2020/04/20215.pdf>.
PEREIRA, K. R. G.; SACCANI, R.; VALENTINI, N. C. Cognição e ambiente são preditores do desenvolvimento motor de bebês ao longo do tempo. Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v. 23, n. 1, p. 59-67, Jan./Mar. 2016. DOI: 10.1590/1809-2950/14685223012016. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-29502016000100059&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 23 de março de 2020.
SAMPAIO, T. F. et al. Comportamento motor de lactentes prematuros de baixo peso e muito baixo peso ao nascer. Fisioterapia Pesquisa, São Paulo, v. 22, n. 3, p. 253-260, Jul./Set. 2015. DOI: 10.590/1809-2950/13533022032015. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-29502015000300253&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 23 de março de 2020.
SARTORI, N.; SACCANI, R.; VALENTINI, N. C. Comparação do desenvolvimento motor de lactentes de mães adolescentes e adultas. Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v. 17, n. 4, pág. 306-311, Out./Dez 2010. DOI: 10.1590/S1809-29502010000400004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-29502010000400004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 23 de março de 2020.
SHEPHERD, Roberta B. Fisioterapia em Pediatria. 3. ed. São Paulo: Santos, 1996. 421p.
SILVA, L. P. et al. Confiabilidade intraclasse da Alberta Infant Motor Scale na versão brasileira. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 47, n. 5, pág. 1046-1051, Out. 2013. DOI: 10.1590/S0080-623420130000500006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-62342013000501046&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 15 de agosto de 2020.
SILVEIRA R. C. et al. Early intervention program for very low birth weight preterm infants and their parents: a study protocol. BMC Pediatria. 2018 Aug 9;18(1):268. DOI: 10.1186/s12887-018-1240-6. Disponível em: <https://bmcpediatr.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12887-018-1240-6>. Acesso em: 15 de agosto de 2020.
SOUZA, E. S.; MAGALHAES, L. C. Desenvolvimento motor e funcional em crianças nascidas pré-termo e a termo: influência de fatores de risco biológico e ambiental. Revista Paulista de Pediatria, São Paulo, v. 30, n. 4, p. 462-470, dez. 2012. DOI: 10.1590/S0103-05822012000400002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-05822012000400002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 10 de outubro de 2020.
TELLA, P. et al. Diversidades socioeconômicas e desenvolvimento infantil de 6 a 9 meses em uma área de pobreza de São Paulo, Brasil. Trends Psychiatry Psychotherapy, Porto Alegre, v. 40, n. 3, pág. 232-240, Jul./Set. de 2018. DOI: 10.1590/2237-6089-2017-0008. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-60892018000300232&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 10 de outubro de 2020.
VENTURELLA, C.B. et al. Desenvolvimento motor de crianças entre 0 e 18 meses de idade: Diferenças entre os sexos. Motricidade, Vila Real, v. 9, n. 2, p. 3-12, abr. 2013. DOI: 10.6063/motricidade.9(2).617. Disponível em: <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-107X2013000200002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 10 de outubro de 2020.
WILLRICH, A.; AZEVEDO, C. C. F.; FERNANDES, J. O. Desenvolvimento motor na infância: influência dos fatores de risco e programas de intervenção. Revista Neurociências. Porto Alegre – RS, jan. 2008. DOI: rnc.2009.v17.8604. Disponível em: <https://periodicos.unifesp.br/index.php/neurociencias/article/view/8604>. Acesso em: 10 de outubro de 2020.