AMELOBLASTOMA: ABORDAGEM TERAPEUTICA E EFICÁCIA DO TRATAMENTO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202412051323


Jessy da Silva Guedes1;
Ana Paula Soares de Sousa2;
Orientadora: Profa. Msc. Thayna Silva do Carmo Tavares.3


RESUMO

O ameloblastoma é uma neoplasia odontogênica benigna caracterizada por crescimento lento e comportamento invasivo, comumente observada em indivíduos de raça negra, especialmente na região mandibular, durante as primeiras três décadas de vida. Sua apresentação clínica e histológica é variada, incluindo padrões uniloculares e multicísticos, com manifestações radiográficas que podem ser confundidas com outras condições odontológicas. Embora tratamentos conservadores, como enucleação, sejam eficazes para casos uniloculares, ameloblastomas multicísticos frequentemente requerem ressecções mais agressivas devido ao risco de recidiva. Este estudo revisou seis artigos que abordaram diferentes aspectos do diagnóstico, classificação e tratamento da patologia. Os achados incluem atualizações da classificação da OMS, que identificam variantes como multicístico/convencional, unicístico e desmoplásico, além de avanços nas terapias moleculares direcionadas, como o uso de inibidores de BRAF. A abordagem terapêutica deve considerar os impactos estéticos e funcionais, pois intervenções extensas podem afetar negativamente a qualidade de vida dos pacientes. A literatura destaca a importância do acompanhamento a longo prazo, especialmente nos primeiros cinco anos, período em que as recidivas são mais comuns. Avanços no entendimento genético e terapias personalizadas mostram-se promissores, mas ainda demandam validação adicional. Este estudo reforça a necessidade de um manejo integrado e multidisciplinar para otimizar os resultados clínicos, minimizar sequelas e melhorar o prognóstico e a qualidade de vida dos pacientes afetados por essa neoplasia complexa.

Palavras-chave: Ameloblastoma; Tratamento; Prognóstico.

ABSTRACT

Ameloblastoma is a benign odontogenic neoplasm characterized by slow growth and invasive behavior, commonly observed in individuals of African descent, particularly in the mandibular region, during the first three decades of life. Its clinical and histological presentation varies, including unilocular and multicystic patterns, with radiographic manifestations that can be mistaken for other odontological conditions. Although conservative treatments, such as enucleation, are effective for unilocular cases, multicystic ameloblastomas often require more aggressive resections due to the risk of recurrence. This study reviewed six articles addressing different aspects of the diagnosis, classification, and treatment of this pathology. Findings include updates to the WHO classification, identifying variants such as multicystic/conventional, unicystic, and desmoplastic, along with advances in targeted molecular therapies, such as the use of BRAF inhibitors. Therapeutic approaches must consider aesthetic and functional impacts, as extensive interventions may negatively affect patients’ quality of life. The literature emphasizes the importance of long-term follow-up, particularly in the first five years, during which recurrences are most common. Advances in genetic understanding and personalized therapies appear promising but still require further validation. This study highlights the need for integrated and multidisciplinary management to optimize clinical outcomes, minimize sequelae, and improve the prognosis and quality of life for patients affected by this complex neoplasm.

Keywords: Ameloblastoma; Treatment; Prognosis.

1 INTRODUÇÃO

O ameloblastoma é uma neoplasia odontogênica benigna que se destaca por seu comportamento invasivo e crescimento lento, características que a tornam uma das mais relevantes patologias tumorais na área maxilofacial (De Moraes et al., 2014). Apesar de sua classificação benigna, o ameloblastoma apresenta um potencial significativo de destruição local e alta taxa de recidiva se não tratado de forma adequada (Effiom et al., 2018). Histologicamente, origina-se de restos epiteliais, como os de Mallasez, Serres e do órgão do esmalte. Suas manifestações radiográficas variam entre lesões radiolúcidas e radiopacas, uniloculares ou multiloculares, frequentemente confundidas com outras condições odontológicas (Soluk-Tekkesin et al., 2022).

Embora acometa ambos os sexos, estudos sugerem uma maior prevalência em indivíduos de raça negra, especialmente na região mandibular, com maior incidência nas primeiras três décadas de vida (Shi et al., 2020). Em 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) revisou sua classificação, dividindo o ameloblastoma em variantes como multicístico/convencional, unicístico ou desmoplásico, cada qual com implicações distintas no diagnóstico e no manejo clínico (Soluk-Tekkesin et al., 2022). Essa diversidade na apresentação clínica e histológica do tumor reforça a importância de uma abordagem terapêutica personalizada.

O manejo do ameloblastoma depende do tipo e da extensão da lesão. Em casos de ameloblastoma unicístico, intervenções cirúrgicas conservadoras, como curetagem, têm sido amplamente utilizadas devido ao menor risco de morbidade e recidiva. Já lesões multicísticas frequentemente exigem ressecções mais agressivas para evitar complicações futuras, dado seu comportamento mais infiltrativo (Kreppel et al., 2018). Além disso, as consequências estéticas e funcionais das abordagens cirúrgicas podem ter impactos significativos na qualidade de vida do paciente, tornando indispensável o acompanhamento clínico, radiográfico e histopatológico durante todo o tratamento (Bilodeau & Collins, 2017).

Dada a complexidade do diagnóstico e do tratamento do ameloblastoma, este estudo visa ampliar a compreensão sobre a patologia, destacando as principais abordagens terapêuticas disponíveis e os impactos pré e pós-operatórios na qualidade de vida dos pacientes. Além disso, busca-se identificar lacunas na literatura e propor discussões sobre avanços terapêuticos, como o uso de terapias moleculares direcionadas, que vêm sendo exploradas como uma alternativa promissora (Shi et al., 2020).

Ao abordar os achados clínicos, radiográficos e terapêuticos, esta revisão pretende contribuir para uma visão abrangente e atualizada do manejo do ameloblastoma, enfatizando a importância de intervenções precoces e de um acompanhamento rigoroso para reduzir a morbidade associada à doença e melhorar o prognóstico do paciente.

2 METODOLOGIA

A revisão de literatura foi conduzida utilizando as bases de dados PubMed, SciELO e Google Scholar, utilizando os Descritores em Ciências da Saúde DeCS/MeSH: “Ameloblastoma”, “Tratamento”, “Prognóstico” aplicados em inglês e português, com o operador booleano “AND”. A busca foi realizada utilizando artigos publicados no período entre 2014 e 2024, priorizando estudos com mais de três citações, publicados em periódicos nacionais e internacionais. Os dados foram organizados em planilha, incluindo informações sobre ano de publicação, número de citações, tipo de estudo e intervenções terapêuticas descritas.

3 RESULTADOS

A revisão incluiu seis estudos que abordaram aspectos variados do diagnóstico, classificação e tratamento do ameloblastoma (Tabela1).

De Moraes et al. (2014) realizaram uma análise clínica e terapêutica detalhada de seis casos, destacando os desafios no manejo cirúrgico e os resultados obtidos. Effiom et al. (2018) enfocaram os conceitos etiopatológicos e as abordagens contemporâneas para o tratamento, ressaltando a importância de estratégias personalizadas. Soluk-Tekkesin et al. (2022) contribuíram com uma atualização da classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS), destacando as variantes do tumor e suas implicações clínicas.

Kreppel et al. (2018) analisaram aspectos radiológicos e terapêuticos, propondo estratégias baseadas no comportamento invasivo da neoplasia. Shi et al. (2020) apresentaram uma revisão sobre os avanços na compreensão genética e as perspectivas de novas terapias moleculares direcionadas, como o uso de inibidores de BRAF em casos específicos. Por fim, Bilodeau & Collins (2017) forneceram uma visão abrangente sobre os cistos e tumores odontogênicos, incluindo o ameloblastoma, com ênfase em sua classificação histopatológica e manejo clínico. Esses estudos, em conjunto, oferecem uma base sólida para compreender a complexidade do ameloblastoma e as abordagens terapêuticas disponíveis.

Tabela 1- Artigos incluídos na revisão de literatura.

AUTOR OBJETIVO CENTRAL DO ESTUDOANO
DE MORAES et al.Uma análise clínica e terapêutica de seis casos.2014
EFFIOM et al.Ameloblastoma: conceitos e tratamento etiopatológicos atuais  2018
Soluk et al.A Classificação das Lesões Odontogênicas da Organização Mundial da Saúde.  2022
Bilodeau et al.Este artigo analisa uma miríade de cistos e tumores odontogênicos comuns e incomuns.2017
Kreppel et al.Ameloblastoma-Achados             clínicos, radiológicos e terapêuticos  2018
Johnson et al.Uma revisão sistemática da literatura de 1993 a 2011 foi realizada examinando dados de frequência dos cistos e tumores odontogênicos mais comuns.2013
Shi et al.Ameloblastoma: Uma revisão sucinta da classificação, compreensão genética e novas terapias moleculares direcionadas  2020
Legenda: Autoria própria.

4 DISCUSSÃO

O manejo do ameloblastoma continua sendo um desafio clínico, especialmente devido às suas características biológicas, como comportamento invasivo e alta taxa de recidiva, mesmo após tratamentos considerados eficazes (Effiom et al., 2018). Apesar de ser um tumor benigno, o ameloblastoma pode causar impacto estético e funcional significativo, além de gerar efeitos psicológicos, devido à localização em áreas visíveis e essenciais para funções como mastigação e fala (Kreppel et al., 2018).

A escolha do tratamento depende amplamente do tipo de ameloblastoma e da sua extensão. Lesões uniloculares apresentam melhor prognóstico quando tratadas por técnicas conservadoras, como enucleação e curetagem. Contudo, estudos mostram que essas abordagens podem estar associadas a um maior risco de recidiva quando comparadas à ressecção cirúrgica radical, recomendada para lesões multicísticas e mais extensas (De Moraes et al., 2014). A ressecção, apesar de ser mais agressiva, reduz significativamente o risco de recidiva, especialmente em ameloblastomas com comportamento infiltrativo (Shi et al., 2020). No entanto, seu impacto funcional e estético exige uma análise cuidadosa e um planejamento detalhado para minimizar sequelas.

Radioterapia e quimioterapia têm aplicações limitadas no tratamento do ameloblastoma devido à sua baixa resposta a essas modalidades terapêuticas. No entanto, avanços recentes no entendimento molecular do tumor abrem novas possibilidades para tratamentos adjuvantes ou alternativos. Por exemplo, estudos genéticos indicam mutações em genes como BRAF, SMO e FGFR2, o que pode possibilitar o uso de terapias moleculares direcionadas, como inibidores de BRAF, em casos específicos de ameloblastoma (Shi et al., 2020). Essas abordagens emergentes têm o potencial de reduzir a necessidade de intervenções cirúrgicas invasivas, especialmente em casos de recidiva ou de lesões inoperáveis.

Os impactos psicossociais do ameloblastoma e do seu tratamento também merecem destaque. Procedimentos cirúrgicos extensos, especialmente em áreas faciais, podem comprometer a autoimagem e a autoestima dos pacientes. Além disso, alterações funcionais, como dificuldades na mastigação e na fala, são fatores que interferem diretamente na qualidade de vida (Effiom et al., 2018). Por essa razão, estratégias multidisciplinares, que envolvam cirurgiões, dentistas, psicólogos e fisioterapeutas, são essenciais para proporcionar uma recuperação mais abrangente e minimizar as sequelas do tratamento.

A necessidade de acompanhamento a longo prazo também é amplamente discutida na literatura. Ameloblastomas apresentam um risco considerável de recidiva, mesmo após tratamentos cirúrgicos aparentemente bem-sucedidos. De acordo com Bilodeau & Collins (2017), o monitoramento clínico e radiográfico periódico é essencial, especialmente nos primeiros cinco anos após o tratamento, quando as recidivas são mais comuns.

Em síntese, o manejo do ameloblastoma exige um equilíbrio cuidadoso entre a eficácia do tratamento e a preservação da qualidade de vida do paciente. Embora os avanços no diagnóstico e nas intervenções terapêuticas tenham melhorado o prognóstico, ainda existem desafios significativos, particularmente em relação à prevenção de recidivas e à redução de impactos funcionais e estéticos. A introdução de terapias moleculares direcionadas e o planejamento de estratégias terapêuticas individualizadas representam caminhos promissores para o futuro do tratamento do ameloblastoma, mas sua eficácia a longo prazo ainda precisa ser validada por estudos adicionais (Shi et al., 2020).

Este estudo reforça a importância de um manejo integrado e de um acompanhamento contínuo para melhorar os resultados clínicos e promover uma recuperação mais completa para os pacientes afetados por essa neoplasia complexa.

5 CONCLUSÃO

O ameloblastoma é uma neoplasia odontogênica benigna que, apesar de seu crescimento lento e indolor, apresenta características invasivas que podem impactar significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Este estudo destacou a importância de um diagnóstico precoce, sustentado por exames clínicos, radiográficos e histopatológicos, como forma de otimizar o manejo dessa patologia. A revisão evidenciou que o tratamento cirúrgico, especialmente em lesões uniloculares, é eficaz e apresenta menores taxas de recidiva quando comparado às intervenções conservadoras, embora as variantes multicísticas demandem abordagens mais invasivas devido ao seu comportamento infiltrativo.

Além disso, o acompanhamento a longo prazo é essencial para identificar e tratar possíveis recidivas, principalmente nos primeiros cinco anos após a intervenção. O impacto estético e funcional do tratamento reforça a necessidade de uma abordagem multidisciplinar que vise à recuperação integral do paciente, minimizando sequelas e promovendo o retorno à qualidade de vida.

Os avanços no entendimento genético do ameloblastoma e as perspectivas de terapias moleculares direcionadas, como inibidores de BRAF, representam um marco promissor na evolução do tratamento, sobretudo em casos de recidivas ou lesões inoperáveis. No entanto, são necessários estudos adicionais para validar a eficácia dessas terapias a longo prazo.

Assim, este trabalho reforça a relevância de uma abordagem terapêutica individualizada e integrada, capaz de balancear a eficácia clínica com a preservação funcional e estética, contribuindo para um manejo mais eficaz dessa neoplasia complexa.

REFERÊNCIAS

BILODEAU, E. A.; COLLINS, B. M. Odontogenic cysts and neoplasms. Surgical Pathology Clinics, v. 10, n. 1, p. 177–222, 2017.

DE MORAES, F. B. et al. Ameloblastoma: uma análise clínica e terapêutica de seis casos. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 49, n. 3, p. 305–308, 2014.

EFFIOM, O. A. et al. Ameloblastoma: current etiopathological concepts and management. Oral Diseases, v. 24, n. 3, p. 307–316, 2018.

JOHNSON, N. R. et al. Frequency of odontogenic cysts and tumors: a systematic review. Journal of Investigative and Clinical Dentistry, v. 5, n. 1, p. 9–14, 2013.

KREPPEL, M.; ZÖLLER, J. Ameloblastoma-Clinical, radiological, and therapeutic findings. Oral Diseases, v. 24, n. 1–2, p. 63–66, 2018.

OMS. Classificação dos ameloblastomas: variantes histológicas e reclassificação de subtipos. Surgical and Experimental Pathology. Disponível em: https://surgexppathol.biomedcentral.com/articles/10.1186/s42047-019-0041-z. Acesso em: 29 nov. 2024.

SHI, H. A. et al. Ameloblastoma: A succinct review of the classification, genetic understanding and novel molecular targeted therapies. The Surgeon: Journal of the Royal Colleges of Surgeons of Edinburgh and Ireland, v. 19, n. 4, p. 238–243, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.surge.2020.06.009. Acesso em: 29 nov. 2024.

SOLUK-TEKKESIN, M.; WRIGHT, J. M. The World Health Organization classification of odontogenic lesions: A summary of the changes of the 2022 (5th) edition. Turk Patoloji Dergisi, v. 38, n. 2, p. 168–184, 2022.


1 Discente do Curso de Odontologia, Faculdade Ideal Faci Wyden. E-mail: jessyguedes23@outlook.com.

2 Discente do Curso de Odontologia, Faculdade Ideal Faci Wyden. E-mail: ana260420@gmail.com

3 Docente do Curso de Odontologia, Faculdade Ideal Wyden. E-mail: thaynasdocarmo@hotmail.com