Emille de Sousa Ribeiro, Vêronica Sales, Lizia Valverde. Colaborador (a) Sarah S. Pontes Prazeres
Resumo: A deficiência visual é a condição na qual há diminuição da resposta visual ou ausência da mesma, podendo ser de caráter congênito ou adquirido. As crianças com deficiência visual apresentam alterações sensório-motoras como: dificuldade de acompanhar o olhar para os estímulos sonoros, alterações da marcha, dificuldade para interagir com objetos, dentre outros. Com isso nota-se a necessidade de verificar como as alterações sensório-motoras interferem na marcha da criança com deficiência visual.
Palavras-chave: deficiência visual, alterações sensório-motoras e marcha.
Introdução
A enorme importância da visão para o ser humano se explica, pois é a forma mais objetiva de experimentação humana, fornecendo detalhes que nenhum outro sentido pode fornecer. “A visão é considerada o processo sensorial dominante dos seres humanos. Durante o desenvolvimento ela torna-se integrada com todos os processos sensoriais e motores, incluído a postura e o equilíbrio”. (UMPHERD, 1994, p.703). Sendo assim, a visão é importante por ser o sentido mais preciso na identificação de informações obtidas pela emissão da luz através do meio externo. Com isso, identificamos em que posição um determinado objeto se encontra no espaço, sua forma, tamanho, textura, cor e movimento.
Se uma criança nasce cega, dependerá da audição e do tato para adquirir conhecimentos e formar imagens mentais. Porém, se a criança fica cega após aos cinco anos, terá retido imagens visuais e será capaz de relacioná-las com imagens auditivas e táteis com mais facilidade. (FRUTUOSO, 2008, p.1-2). Tanto a cegueira total quanto a visão subnormal podem afetar um indivíduo em qualquer idade. Bebês podem nascer sem visão e outros, podem tornar-se deficientes visuais em qualquer fase da vida.
A deficiência visual interfere nas habilidades, capacidades e envolvimento social da criança, onde a interação desta é forçosamente mais complicada, afetando não somente a vida da pessoa que perdeu a visão, mas também dos membros da família, amigos, colegas, professores, empregadores e outros.
A locomoção com características funcionais depende da harmonia de movimentos, a noção de distância e de espaço-tempo é importante para o portador de deficiência visual, possibilitando ao individuo conhecer os diferentes conceitos espaciais, estabelecer sua posição e estimar a sua distância perante os elementos do ambiente e deles entre si. É partir disto que sabe-se a locomoção é um meio pelo qual o ser – humano adquire sua independência e conquista sua autonomia, assim este estudo visa revisar as alterações sensório-motoras de crianças com deficiência visual na aquisição da marcha.
Desenvolvimento visual e sensório-motor
O desenvolvimento da acuidade visual se precede rapidamente no lactente e precocemente na infância. Ao nascimento, a visão da criança é relativamente baixa, causada pela imaturidade das estruturas cerebrais e retinianas relacionadas com a visão e com a movimentação dos olhos. As crianças portadoras de deficiência visual possuem dificuldades em conhecer seu próprio corpo, objetos a sua volta e parâmetros imprescindíveis para locomoção independente.
As primeiras tentativas objetivas de locomoção dos bebês são realizadas pelos movimentos de arrastar-se. O ato de arrastar-se evolui à medida que o bebê ganha controle dos músculos da cabeça, pescoço e tronco. Usando um padrão homolateral, em pronação o bebê pode procurar e alcançar um objeto à sua frente, erguendo a cabeça e o peito acima do solo. Ao voltar essas partes do corpo para o solo, os braços estendidos para fora impulsionam o bebê de volta, em direção aos pés. O resultado deste esforço combinado é um leve movimento escorregadio para frente. As pernas não são usadas nesta tentativa de arrastar-se. Este ato aparece no bebê por volta do sexto mês, contudo pode ser visto já no quarto mês.
O engatinhar com os movimentos recíprocos dos braços e das pernas ocorre entre nove e dez meses de idade, contudo alguns autores afirmam que o engatinhar pode iniciar mais cedo, em torno do 8º mês de vida (MORAES et al., 1998 apud SKINNER, 1998; CASAROLLI, 2005). Moraes et al., (1998 apud CASAROLLI, 2005), considera o engatinhar juntamente com a marcha, importantes marcos no desenvolvimento motor, pois estes comportamentos refletem mudanças radicais na estrutura corporal, na coordenação e conseqüentemente ao desenvolvimento motor, graças a maturação do sistema nervoso central.
A aquisição do engatinhar proporciona ao bebê, situações antes não vivenciadas, permitindo movimentos de cabeça para todas as direções, os membros inferiores realizam movimentos mais alternados de flexão de joelho, quadril e extensão de tornozelo representando um padrão de movimentos dissociados e coordenados. Além disso, o engatinhar induz ao treino de equilíbrio precedente à posição bípede, já que, em relação à postura prona ou sentada, o centro de gravidade se encontra mais afastado da superfície de apoio.
O atraso da marcha se dá em crianças que apresentam estratégias desviantes, sendo considerados, o rebolar e o rastejar devido a alguma leve anomalia motora. Crianças que engatinham após os 10 meses também podem apresentar atraso na locomoção. Contudo, afirma que muitos autores relatam em seu trabalho que apesar do engatinhar coincidir com outras atividades bipedais tais quais, a criança permanecer em pé e andar com apoio, não acrescentaria muito ao desenvolvimento posterior da marcha. Nessa etapa do desenvolvimento, o engatinhar seria apenas o resultado do aumento incidental da força muscular dos membros inferiores. (CASAROLLI, 2005). Mesmo diante desta afirmação temos que ressaltar que nenhum estágio ou aquisição motora é dispensável, já que o desenvolvimento motor ocorre numa seqüência de transformações posturais, com alternâncias das dominações de padrões flexores e extensores, apoio unipodal e bilateral, culminando na marcha independente.
Esses marcos motores pré-ambulatórios iniciais, permitem que o lactente adquira habilidades que serão necessárias e úteis para a marcha, ou seja, a criança ganha experiência para apoiar o corpo ereto contra a gravidade, para o equilíbrio, balanço e movimentos recíprocos. (SKINNER,1998). As crianças com deficiência visual têm plena condição motora para marcha como a de uma criança normal, porém não se deslocam por insegurança e medo de se moverem sem a orientação e controle do ambiente, adquirindo a marcha por volta de um ano e meio ou mais. É o momento que necessitam de alguém para caminhar junto, que lhes dê segurança pelo contato físico e antecipe os acontecimentos auditivamente para que possam se organizar motoramente e para que adquiram o padrão motor de marcha pela experiência com o outro. Por se sentirem inseguras ao se moverem no espaço, ou por usarem pouco as mãos como defesa e proteção, adquirem somente mais tarde reação de defesa tão importante e necessária à marcha.
O período compreendido entre os dezoito meses representa um período de prática e de domínio das muitas tarefas rudimentares iniciada no primeiro ano de vida. Neste estágio, a criança começa a controlar e obter maior precisão de seus movimentos. Ainda nesta fase o ambiente fornece estímulos favoráveis para a prática do desenvolvimento das habilidades, pois acelera o desenvolvimento de tarefas rudimentares estabilizadores, locomotivas e manipulativas. (GALLAHUE; OZMUN, 2001). Com isso, se estabelecerá a vivência de posturas adequadas para as atividades de vida diária de cada criança.
O alinhamento postural adequado corresponde ao alinhamento das estruturas que compõem o eixo axial do corpo onde o gasto energético deve ser o menor possível, conseqüência da redução de esforço muscular e simultaneamente protege estruturas e articulações contra traumas e sustentação de sobrecarga por tempo prolongado. (SOUZA, 2006 apud PONTES, 2007).
Os dispositivos de auxilio servem como independência e segurança pra o deficiente visual. Estes devem ser inseridos no cotidiano desde criança, para que torne um instrumento de uso pessoal e necessário para locomoção. A bengala combinada com técnicas eficazes de auxílio à locomoção promove segurança e independência à criança cega. A mesma oferece informações do local, identifica e previne acidentes, proporciona ao deficiente visual uma melhor percepção e extensão do sentido tátil. (HOFFMANN, 1999).
É muito importante que o fisioterapeuta ensine ao deficiente visual o manejo com a órtese, bem como a postura adequada para seu uso. A introdução e adaptação da bengala ao deficiente visual é tarefa de uma equipe interdisciplinar onde irá atuar o fisioterapeuta, o terapeuta ocupacional, psicólogo, pedagogo entre outros profissionais, para favorecer a aceitação daquele novo instrumento de uso cotidiano. É indispensável que a indicação da órtese seja cautelosamente analisada e individualizada.
Desta forma se torna indispensável à orientação de profissionais de saúde da equipe multidisciplinar para uma melhor educação e desenvolvimento desta criança. Sendo necessário do fisioterapeuta acompanhamento regular como medida preventiva e com o propósito de intervenção reabilitadora, para minimizar os prejuízos que a ausência do sistema visual pode acarretar.
Conclusão
O fato de alguém apontar o caminho, mostrar as possibilidades e acompanhar o início de uma nova etapa de vida não significa super-proteção, porém, o excesso de cuidados, de exigências ou de limitações pode sufocar o desenvolvimento e o bem-estar de qualquer indivíduo.Torna-se importante à ajuda para facilitar a movimentação espontânea do corpo todo destes bebês, onde é preciso ajudá-los a se organizar motoramente para que possam vivenciar todas as etapas do desenvolvimento, propiciando autonomia em suas atividades de vida diária.Apesar de ter pesquisas no campo da motricidade e deficiência visual, estas ainda precisam ser ampliadas para o auxílio a prevenção e reabilitação, se faz necessário estudos mais elucidativos.
REFERENCIAS
UMPHRED, Darcy Ann. Fisioterapia neurológica. 2. ed. São Paulo: Manole 1994.
FRUTUOSO, André. Deficiência visual na criança. Disponível em: . Acesso em: 15 fev. 2008.
SKINNER, S. Desenvolvimento da marcha. In:___. GAMBLE, J.; ROSE, J. Marcha humana. 2 ed. São Paulo: Premier, 1998, cap. 6, p. 129-145.
CASAROLLI, L; Análise do desenvolvimento da marcha em prematuros nascidos no Hospital Universitário do Oeste do Paraná, e sua relação com os fatores socioeconômicos. 2005. 118 f. Monografia (Bacharelado em Fisioterapia) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Cascavel, 2005.
GALLAHUE. D.L; OZMUN.J.C. Compreendendo o Desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phote Ed, 2001.
PONTES, S. Avaliação de postura e locomoção em crianças deficientes visuais congênitas no período escolar e a importância de uma abordagem fisioterapêutica. 2007. 73 f. Monografia (Bacharelado em Fisioterapia) – FIB Centro Universitário da Bahia (Ba), Salvador, 2007.
HOFFMANN, S. os benefícios da orientação e mobilidade – estudo intelectual entre Brasil e Portugal. Benjamin Constant, Rio de Janeiro. v.5, n.14, p.11-16, dezembro, 1999.