ALTERAÇÕES NO PERFIL DOS MICRORGANISMOS CAUSADORES DE INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO DE IDOSOS, RESIDENTES NO MUNICÍPIO DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON-PR, NO PERÍODO PRÉ E PÓS PANDEMIA DA COVID-19

CHANGES IN THE PROFILE OF MICROORGANISMS CAUSING URINARY TRACT INFECTIONS IN ELDERLY PEOPLE, RESIDING IN THE MUNICIPALITY OF MARECHAL CÂNDIDO RONDON-PR, IN THE PERIOD PRE AND POST COVID-19 PANDEMIC

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202411242206


Gabriela Karling Drehmer;
Isabella dos Santos Piaz;
Me. Waleska Lazaretti;
Vanessa Marieli Ceglarek


Resumo

Infecções do trato urinário (ITUs) são anomalias frequentes que acometem vias urinárias inferiores e superiores, em ambos os sexos e todas as idades. Tais infecções são causadas, normalmente, por enterobactérias gram-negativas, que interferem na qualidade de vida dos indivíduos. Este trabalho possui como objetivo analisar como a pandemia da Covid-19 influenciou no perfil e sensibilidade antimicrobiana de patógenos causadores de ITUs em idosos no município de Marechal Cândido Rondon-PR, através da verificação dos resultados de uroculturas positivas de pacientes idosos ambulatoriais e hospitalizados nos períodos de maio-dezembro de 2019 e maio-dezembro de 2023. Espera-se encontrar, como resultado da pesquisa, predomínio da resistência antimicrobiana e identificação do principal patógeno causador da doença nesse período, trazendo informações relevantes a serem estudadas para a sociedade residente no município .

Palavras-chave: Infecção urinária; idoso; patógeno; resistência microbiana, urocultura.

ABSTRACT

Urinary tract infections (UTIs) are frequent anomalies that affect the lower and upper urinary tract, in both sexes and all ages. Such infections are normally caused by gram-negative enterobacteria, which interfere with individuals’ quality of life. This work aims to analyze how the Covid-19 pandemic influenced the profile and antimicrobial sensitivity of pathogens that cause UTIs in the elderly in the city of Marechal Cândido Rondon-PR, by verifying the results of positive urine cultures of elderly outpatients and hospitalized patients in the periods of May-December 2019 and May-December 2023. It is expected to find, as a result of the research, a difference in antimicrobial resistance and the predominant pathogen profile, bringing relevant information to be studied for the society of Marechal Cândido Rondon.

Keywords: Urinary infection; elderly; pathogen; microbial resistance, urine culture.

1 INTRODUÇÃO

A infecção do trato urinário (ITU) se trata de uma condição frequente da rotina médica, comumente ocasionada por enterobactérias, acometendo a qualidade de vida e atividades cotidianas dos pacientes afetados (FEBRASGO, 2017). As ITU’s ocorrem em pessoas de todas as idades e ambos os sexos, mas, apresenta maior incidência na população feminina, por consequência de sua formação anatômica, já que a uretra feminina possui menor extensão e proximidade com o ânus (HADDAD et al., 2019).

As ITU’s são classificadas em dois grupos: complicada e não complicada (HADDAD et al., 2019). Designa-se como não complicada aquela que acomete mulheres jovens, não gestantes e que não possuem anomalias estruturais e funcionais no trato genital (HADDAD et al., 2019). Enquanto a ITU complicada caracteriza-se por fatores como diabetes, gestantes, falência renal, nefrostomia ou presença de sonda vesical, pacientes imunocomprometidos, obstrução do trato urinário, histórico de ITU, instrumentação cirúrgica recente no trato urinário e distúrbio anatômico ou funcional (HADDAD et al., 2019).

Existem fatores correlacionados ao aumento do desenvolvimento de ITU, como higiene indevida, vida sexual ativa, condições que alteram as bactérias que residem na vagina, gestação e faixa etária como crianças e idosos (CDC, 2021).

Os principais microrganimos responsáveis pelas ITU’s são classificadas como bactérias Gram-negativas (48.2% a 87.5% dos casos), sendo a principal delas a Escherichia coli (70 a 90% dos casos), seguida pelo Staphylococcus saprophyticus (10 a 20% dos casos) (CARDOSO, 2020; RESENDE, 2016). Existem também outros patógenos causadores da propagacão de ITU’s, como Staphyloccus aureus, Klebsiella pneumoniae, Enterobacter Spp, Proteus Spp, Pseudomonas Spp (CARDOSO, 2020; RESENDE, 2016).

A estrutura bacteriana possui fatores de virulência, como o auxílio das fimbrias em sua fixação na parede do trato urinário, fazendo com que dificulte o deslizamento da mesma pela urina, promovendo assim a colonização e a formação de comunidades baacterianas que fornecerão importantes vantagens ao patógeno, como a resistência aos antimicrobianos (OLIVEIRA et.,al  2021).

Na maioria dos casos a ITU é assintomática, sem sinais ou sintomas, sendo descoberta somente em exames de rotina (BONO; LESLIE; REYGAERT, 2022). Porém, a instalação da doença pode causar desconfortos significativos, dor ao urinar, frequência urinária aumentada, urgência urinária, e dor abdominal inferior e, em casos graves, incapacidade temporária (REIS, CAROLINA.; 2016).

Para a realização do diagnóstico de ITU, os exames parcial de urina e urocultura são as melhores opções disponíveis (MASSON, 2020). O exame EAS (Elementos Anormais e Sedimentoscopia) é integrado pelo exame físico, químico e microscópio (MASSON, 2020). Na análise física é avaliada cor, aspecto e substâncias depositadas na urina do indivíduo. Na análise química, utiliza-se uma fita com escala de cores, que, após o contato com a urina, tem efeito de reação, realizando assim uma avaliação qualitativa dos parâmetros densidade, pH, proteína, corpos cetônicos, urobilinogênio, nitrito, glicose, bilirrubina, sangue e leucócitos (MASSON, 2020).

As fitas reativas são essenciais no diagnóstico das ITUs, uma vez que a presença de leucócitos e nitrito são paramêtros que auxiliam na interpretação do laudo (GOMES, 2020). Após a avaliação pela fita, a amostra é submetida a centrifugação para a obtenção do sedimento, que será analisado microscopicamente (GOMES, 2020). Na microscopia é feita a contagem de leucócitos, hemácias, células epiteliais, filamentos de muco, cristais e cilindros (GOMES, 2020).

O método considerado padrão-ouro para a confirmação de ITU é o exame de urocultura, a partir da contagem igual ou superior a 100.000 UFC-ml de urina (MARTINS LV). A urocultura permite a identifição do microrganismo causador e possibilita a realização do teste para suceptibilidade aos antimicrobianos. (COSTA, 2010). A amostra de urina ideal para a execução do exame de uruculta deve ser colhida em jato médio e de forma asséptica, evitando qualquer tipo de contaminação interna ou externa. (RORIZ – FILHO,; 2010).

O tratamento farmacológico, após diagnóstico, é preferencialmente com o uso de antimicrobianos, os quais tem a função de diminuir taxas de desenvolvimento de microrganismos (DIOGO, 2023). Contudo, muitas bactérias tornaram-se resistentes a esses antibióticos, o que tem dificultado o tratamento e tornado cada vez mais necessária a realização do antibiograma (DIOGO, 2023).

O antibiograma é o teste realizado a partir da semeadura da bactéria com um swab estéril, de forma homogênea, em uma placa de ágar Muller-Hinton (OLIVEIRA et al.; 2021). São posicionados discos de antibióticos sobre a bactéria na placa, caso haja formação de um halo de inibição de crescimento ao redor do disco, é feita sua medição em milímetros, técnica que permite identificar a resistência ou sensibilidade bacteriana ao antibiótico que foi exposta. (OLIVEIRA et al.; 2021).  

Para o tratamento da infecção, necessita-se de prescrição médica de antibióticos específicos ao seu perfil (Gram-negativas ou Gram-positivas) (FILHO et., 2013). Para as Gram-negativas utiliza-se os seguintes antimicrobianos: Levofloxacino; Cefoxitina; Tetraciclina; Nitrofurantoína; Ciprofloxacino. Já para as Gram-positivas os recomendados são: Ampicilina; Norfloxacino; Amoxicilina (FILHO et., 2013). Tais fármacos ajudam no combate das ITU’s e suas possíveis complicações. (FILHO et., 2013).

Se não tratada adequadamente, a ITU pode levar a complicações graves, como pielonefrite (infecção renal), sepse e danos permanentes nos rins (Haddad et al.; 2019), principalmente em grupos vulneráveis, como idosos – indivíduos com idade superior a 60 anos (OMS, 2023) – visto que o envelhecimento natural e biológico resulta em alterações imunológicas, bioquímicas e as complicações podem ser mais graves (RODRIGUES, KAMILA., 2023). Além disso, ITUs graves podem exigir hospitalização, especialmente em pacientes com condições subjacentes ou em casos de complicações (FILHO et al., 2013), colocando pressão adicional nos recursos hospitalares e aumento dos custos de saúde. Dessa maneira, o diagnóstico e o tratamento precoce, tornam-se essências (REIS, et al., 2017).

A infecção do trato urinário vem afetando os sistemas de saúde, devida a alta incidência na população brasileira (KWOK et al.;2022) e, consequentemente, maior procura por consultas médicas em clínicas ambulatoriais e em serviços de emergência, quanto as esferas econômicas e sociais, por afetar as atividades diárias dos indivíduos (PARODE, TIAGO,; 2020).

A resistência bacteriana sempre foi e é um problema de saúde mundial, grandemente negligenciado, tornando-se mais preocupante durante a pandemia da Covid-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2 (PAIVA, 2023). Pois, apesar da doença ser causada por um vírus, durante o período inicial de pandemia houve grande disseminação de informações errôneas sobre o uso indiscriminados de antimicrobianos (PAIVA, 2023).

A ampla utilização de medicamentos nesse período gerou preocupação ao possível aumento de quadros resistência bacteriana nos anos da pandemia e mudanças no perfil de agentes causadores das ITUs. (MARTINS, 2023).

Durante a pandemia, adicionalmente, os idosos, como grupo de risco, enfrentaram desafios adicionais, já que a redução da mobilidade e o isolamento social podem ter aumentado os fatores de risco para ITUs em idosos, como a inatividade física e o uso prolongado de fraldas ou cateteres urinários (DE OLIVEIRA, 2021). Essas condições favorecem a colonização bacteriana e aumentam o risco de infecção. Além disso, as alterações nos padrões de alimentação, sono e estresse durante a pandemia podem ter afetado a microbiota intestinal e geniturinária dos idosos, contribuindo para mudanças nos perfis bacterianos das ITUs. (DE OLIVEIRA, 2021).

Dessa forma, identificar quais são os microrganismos causadores de ITU mais frequentes em idosos residentes município de Marechal Cândido Rondon-PR, bem como se houve mudança no perfil dos agentes patológicos e na sensibilidade microbiana após a pandemia de Covid-19, possibilitará que estratégias de tratamento sejam planejadas pelos órgãos de saúde do município a fim de reduzir os custos de saúde a longo prazo, e evitar complicações graves.

2 METODOLOGIA

2.1 Tipo de estudo

Este será um estudo documental, quali-quantitativo de cunho exploratório-descritivo e retrospectivo, que terá como fonte de dados laudos de exames de urina, urocultura e antibiograma coletados em um laboratório de análises clínicas do município de Marechal Cândido Rondon, Paraná.

2.2 Critérios de inclusão/exclusão

Critérios de inclusão: Serão inclusos na amostra os laudos de exames parciais de urina, urocultura e antibiograma, positivos para ITU, de idosos com idade de 60 a 90 anos, ambos os sexos, residentes no município de Marechal Cândido Rondon, Paraná; realizados entre maio a dezembro de 2019 e maio a dezembro de 2023, tendo em vista que o término da pandemia foi decretado no dia 05 de maio de 2023.

Critérios de exclusão: Laudos não conclusivos ou com indicações de contaminação da amostra também não serão inclusos na amostragem.

2.3 Procedimentos metodológicos

O projeto será, primeiramente, submetido para análise e aprovação de um laboratório do município de Marechal Cândido Rondon, Paraná. Posteriormente, será cadastrado na Plataforma Brasil para análise e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Humanos. Será solicitada a dispensa do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE, pois os pesquisadores não irão interferir no cuidado recebido pelo paciente no referido serviço e não terão contato direto com o paciente ou com amostras biológicas dele. Além disso, o estudo será de caráter retrospectivo por se tratar de levantamento de dados junto ao banco de dados, os quais serão mantidos em confidencialidade e sigilo em conformidade com o que prevê os termos da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e da Carta de Anuência prévia autorizada pela instituição, onde a pesquisa será realizada.

Após a autorização do comitê de ética em pesquisa, a execução do projeto se dará por meio da avaliação e coleta dos resultados dos exames laboratoriais (laudos) parciais de urina, urocultura e antibiograma, positivos para ITU, de idosos com idade de 60 a 90 anos, ambos os sexos, residentes no município de Marechal Cândido Rondon, Paraná; Será realizada a comparação dos dados obtidos de maio a dezembro de 2019 (período pré-pandêmico) com os dados obtidos de maio a dezembro de 2023 (período pós-pandêmico).

Para que a infecção urinária seja confirmada, segundo a Agência de Vigilância Sanitária (2013), será considerado o crescimento bacteriano acima 100.000 colônias/ml, sendo aceito crescimento maior que 100 colônias/ml em mulheres sintomáticas

Os dados serão tabulados no formulário de coleta (Excel), o qual apresentará os seguintes campos: Idade; Sexo; Data da realização do exame; Método utilizado para a realização do exame parcial de urina; Resultado do exame parcial de urina; Método utilizado para realização do exame de urocultura; Resultado do exame de urocultura; Método utilizado para realização do exame antibiograma; Resultado do exame antibiograma;

2.4 Análise dos dados

Para a descrição dos dados qualitativos será realizado a estatística descritiva e representado com frequências absolutas (n) e relativas percentuais. Para testar se as proporções são equivalentes entre as categorias de cada variável qualitativa, será usado o teste de Qui-Quadrado para aderência. Os resultados quantitativos passarão pela análise da Distância de Cook, paraverificação de dados fora da curva. Os pressupostos de normalidade e Homocedasticidade serão testados a partir da análise Shapiro-Wilk e Bartlett,respectivamente. Os dados serão expressos comomédia ± desvio padrão da média (DP) ou mediana e intervalo interquartil. O nível de significância adotado será p<0,05. As análises serão realizadas com auxílio do programa IBM SPSS Statistics 1.8. Os gráficos serão construídos com auxílio do Programa Graph Pad Prism (versão 8.0).

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

3.1 A análise da idade dos pacientes revelou uma mediana estável ao longo dos anos, com pequenas variações. Em 2019, a mediana da idade foi de 75 anos (IC: 68-82). Em 2020, a mediana foi de 74 anos (IC: 67-81), mantendo-se similar em 2021 com 74 anos (IC: 67-82). No ano de 2022, a mediana permaneceu em 74 anos (IC: 66-81), e em 2023, houve uma leve redução para 73 anos (IC: 66-80). O box plot da distribuição da idade (Figura 1) evidencia que a mediana se manteve estável, bem como a amplitude interquartil demonstra consistência entre os anos, com um intervalo típico de 14 a 15 anos.

Figura 1. Distribuição da idade por ano.

3.2. Em relação à distribuição por sexo, observou-se que em 2019, 62,17% dos exames foram realizados em mulheres e 37,83% em homens; em 2020, 61,74% em mulheres e 38,26% em homens; em 2021, 57,93% em mulheres e 42,07% em homens; em 2022, 60,01% em mulheres e 39,99% em homens; e em 2023, 58,27% em mulheres e 41,73% em homens. Essas proporções demonstram uma predominância feminina ao longo dos anos, embora com flutuações que indicam uma tendência de aumento da participação masculina nos exames (Figura 2).

No total, foram realizados 5.590 exames de urina entre janeiro de 2019 e dezembro de 2023. O número de exames aumentou significativamente de 2019 a 2022, com 682 exames (12,2%) realizados em 2019, 920 (16,46%) em 2020, 1.237 (22,13%) em 2021 e 1.378 (24,65%) em 2022. Em 2023, houve uma estabilização no número de exames com 1.373 (24,56%), representando uma ligeira redução em relação ao ano anterior. A análise estatística revelou uma diferença significativa na distribuição dos exames ao longo dos anos (x² = 336,39, p = xxxx). Observou-se um aumento entre o ano pré-pandemia (2019) e os anos de pandemia (2020 e 2021), seguido por manutenção do número de exames nos anos pós-pandemia (2022 e 2023), conforme ilustrado na Figura 2.

A análise dos resultados dos exames revelou que as proporções entre exames positivos e negativos se mantiveram relativamente constantes, apesar do aumento no número total de exames. Em 2019, 69,06% dos exames foram negativos e 30,94% positivos; em 2020, 68,80% foram negativos e 31,20% positivos; em 2021, 70,09% negativos e 29,91% positivos; em 2022, 73,00% negativos e 27,00% positivos; e em 2023, 73,42% negativos e 26,58% positivos. A Figura 2 demonstra essas proporções ao longo dos anos.

Figura 2. Distribuição de exames, resultados e sexo por ano.

3.3 A análise do tipo de coleta indicou que em 2019, a maioria (99,85%) das coletas foram amostras isoladas, com apenas 0,15% de coletas por sonda vesical de demora. Não houve coletas por sonda vesical de alívio neste ano. Em 2020, 93,37% das coletas foram de amostras isoladas, 5,11% por sonda vesical de demora e 1,52% por sonda vesical de alívio. No ano de 2021, amostras isoladas corresponderam a 80,92%, coletas por sonda vesical de demora a 15,04% e coletas por sonda vesical de alívio a 4,04%. Em 2022, as amostras isoladas representaram 89,11%, as coletas por sonda vesical de demora 9,51% e as de alívio 1,38%. Em 2023, amostras isoladas corresponderam a 87,76%, coletas por sonda vesical de demora a 10,34% e as de alívio a 1,89%, como apresentado na Figura 3.

Figura 3. Distribuição do tipo de coleta por ano.

3.4 Entre os exames positivos, a realização de cultura foi observada em 97,17% dos casos em 2019, 99,30% em 2020, 98,11% em 2021, 98,09% em 2022 e 95,35% em 2023. Os exames positivos sem cultura variaram de 2,83% em 2019 para 4,65% em 2023, sugerindo uma leve redução na proporção de exames acompanhados por cultura ao longo do tempo.

A análise do perfil bacteriano (Figura 4) revelou que Escherichia coli foi a espécie predominante em todos os anos. Em 2019, E. coli representou 66,51% dos casos positivos, seguida por Pseudomonas sp. com 5,37%. Casos isolados incluíram Acinetobacter baumannii (1 caso, 0,49%) e Klebsiella pneumoniae (5 casos, 2,44%).

Em 2020, E. coli se manteve como a mais frequente com 64,21%, seguida por Pseudomonas sp. com 7,37%. Casos menores incluíram Enterococcus faecalis (1 caso, 0,35%) e Klebsiella pneumoniae (1 caso, 0,35%). No ano de 2021, E. coli constituiu 55,94% dos casos, com Pseudomonas sp. e Enterococcus faecalis aparecendo em 6,89% e 1,38%, respectivamente. Casos isolados incluíram Acinetobacter baumannii (2 casos, 0,55%) e Citrobacter sp. (5 casos, 1,38%).

Em 2022, E. coli foi responsável por 60,55% dos casos, enquanto Enterobacter sp. e Pseudomonas sp. representaram 4,66% e 4,93%. Casos menores incluíram Staphylococcus hominis (1 caso, 0,27%) e Serratia marcescens (2 casos, 0,55%).

Por fim, em 2023, E. coli manteve-se dominante com 64,37% dos casos, seguida por Enterobacter sp. com 4,60% e Pseudomonas sp. com 3,16%. Casos isolados incluíram Enterococcus faecium (1 caso, 0,28%) e Acinetobacter baumannii (2 casos, 0,57%).

Figura 4. Distribuição de exames positivos com identificação de bactérias por ano (cores distintas).

3.5 Entre os exames positivos do período estudao, bem como de todas as espécies de bactérias identificadas, através da realização de antibiograma, podemos observar que os antibióticos que mais tiveram resistência foram: Ampicilina com 26,9% (1031 ocorrências); Levofloxacin com 15.6% (597 ocorrências); Norfloxacin com 14,9% (571 ocorrências); Ampicilina + Sulbactam com 8,3% (320 ocorrências); Amoxicilina + Ácido Clavulânico com 8% (308 ocorrências); Ceftriaxona com 7,5% (288 ocorrências); Gentamicina com 6,4% (245 ocorrências); Cefoxitina com 5,5% (211 ocorrências); Ácido Nalidíxico com 1,6% (63 ocorrências); Cefalotina com 1% (40 ocorrências); Amicacina com 0,7% (28 ocorrências); Cefepime com 0,6% (26 ocorrências) e Eritromicina com 0,4% (16 ocorrências) conforme mostra a figura 5.

Figura 5. Distribuição da resistência dos antimicrobianos

4 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse trabalho evidencia um alerta significativo para as infecções do trato urinário, devido a sua alta taxa de prevalência e também a sua complexidade referente a faixa etária dos pacientes pesquisados.

O cenário pandêmico estudado não demostrou impacto na alteração do principal microrganismo causador de ITUs, a Escherichia-coli, a qual se manteve predominante em todos os anos. Bem como, maior impacto do sexo acometido, que seguiu sendo em mulheres de 74 a 75 anos como resultados do presente estudo.

O perfil predominante do público analisado enfatiza a importância da criação de estratégias publicas direcionadas a esse grupo. Nesse sentido, faz-se necessário o diagnóstico prévio da doença para minimizar o agravamento da mesma e também dos fatores de riscos associados como, hipertensão e diabetes. Portanto, medidas de saúde devem ser reforçadas priorizando a prevenção, acesso básico de higiene, métodos educativos para um estilo de vida mais saudável e também aplicação de campanhas de conscientização em postos de saúde e pronto atendimentos.

REFERÊNCIAS

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