STOMATOLOGICAL CHANGES CAUSED BY ANTIDEPRESSANTS, ANXIOLYTICS AND ANTIPSYCHOTICS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202502250037
Matheus Harllen Gonçalves Veríssimo1, Eduardo Marques dos Santos2, André de Almeida Agra Omena3, Mirella Carvalho Pascaretta3, Samara Laine da Costa Macedo3, Ana Marcely Amorim Dal’Col4, Luana Rodrigues de Almeida5, Emanuely França Gervasio6, Maria de Lourdes Silva Cruz Neta7, Kallyne Carvalho Santana7, Rhuann Ayran Castro Borburema8, Nathan Vieira Bernardes9, Ramon Rodrigues de Lima10, Eduardo Neves Bergamini11
Resumo
As alterações estomatológicas causadas por medicamentos, especialmente antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos, têm se tornado um tema relevante no campo da odontologia, dada a crescente utilização desses fármacos na prática clínica. Sendo assim, este estudo tem como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre alterações estomatológicas ocasionadas pelo uso de medicamento antipsicóticos, ansiolíticos e antidepressivos. Para isto, foram utilizadas as bases de dados eletrônica: U. S. National Library of Medicine (PubMed), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Cochrane Library, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), além disso, foi utilizado o Google Scholar, uma biblioteca eletrônica de artigos científicos e trabalhos acadêmicos da literatura cinzenta, a fim de pesquisar e identificar estudos que respondessem à pergunta norteadora desta revisão integrativa da literatura. As bases de dados foram pesquisadas entre fevereiro de 2020 a fevereiro de 2025. O uso de antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos pode causar alterações estomatológicas significativas, como xerostomia, sialorréia e desequilíbrio da microbiota oral, afetando diretamente a saúde bucal e a qualidade de vida dos pacientes. A xerostomia, comum com antidepressivos e ansiolíticos, e a sialorréia, associada principalmente à clozapina, podem levar a complicações como dificuldades na deglutição, aumento do risco de infecções orais e problemas na adesão ao tratamento. Além disso, a interação entre esses medicamentos e a microbiota bucal pode favorecer o desenvolvimento de doenças periodontais e cáries. Sugere-se um acompanhamento odontológico atento e estratégias preventivas são essenciais, e que a colaboração entre profissionais de saúde bucal e médicos é fundamental para o manejo eficaz dessas condições, melhorando a qualidade de vida dos pacientes.
Palavras-chave: Ansiolíticos. Antipsicóticos. Antidepressivos. Manifestações bucais.
Abstract
Stomatological changes caused by medications, especially antidepressants, anxiolytics and antipsychotics, have become a relevant topic in the field of dentistry, given the increasing use of these drugs in clinical practice. Therefore, this study aims to conduct a literature review on stomatological changes caused by the use of antipsychotic, anxiolytic and antidepressant medications. For this, the following electronic databases were used: U.S. National Library of Medicine (PubMed), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Cochrane Library, Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS); in addition, Google Scholar, an electronic library of scientific articles and academic papers from the gray literature, was used to search and identify studies that answered the guiding question of this integrative literature review. The databases were searched between February 2020 and February 2025. The use of antidepressants, anxiolytics, and antipsychotics can cause significant stomatological changes, such as xerostomia, sialorrhea, and imbalance of the oral microbiota, directly affecting patients’ oral health and quality of life. Xerostomia, common with antidepressants and anxiolytics, and sialorrhea, mainly associated with clozapine, can lead to complications such as swallowing difficulties, increased risk of oral infections, and problems with treatment adherence. In addition, the interaction between these medications and the oral microbiota can favor the development of periodontal diseases and caries. It is suggested that careful dental monitoring and preventive strategies are essential, and that collaboration between oral health professionals and physicians is essential for the effective management of these conditions, improving patients’ quality of life.
Keywords: Anxiolytics. Antipsychotics. Antidepressants. Oral manifestations.
INTRODUÇÃO
As alterações estomatológicas causadas por medicamentos, especialmente antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos, têm se tornado um tema relevante no campo da odontologia, dada a crescente utilização desses fármacos na prática clínica. Muitos pacientes que fazem uso dessas substâncias, como os portadores de transtornos psiquiátricos, enfrentam problemas bucais relacionados ao efeito colateral desses medicamentos, impactando diretamente a saúde bucal e, consequentemente, a qualidade de vida (Fornaro et al., 2023). Tais efeitos incluem condições como xerostomia (boca seca), sialorréia (hipersalivação) e alterações na microbiota oral, que podem contribuir para o desenvolvimento de cáries, doenças periodontais e outras complicações orais (Livermore et al., 2022; Urien et al., 2024).
Antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos são frequentemente prescritos para o tratamento de uma ampla gama de condições psiquiátricas, como depressão, ansiedade, transtornos psicóticos e transtornos de humor. No entanto, a maioria desses medicamentos atua no sistema nervoso central e possui efeitos anticolinérgicos, o que pode alterar a produção e a composição da saliva, resultando em manifestações bucais indesejadas. A xerostomia é uma das alterações estomatológicas mais comuns associadas ao uso desses medicamentos, com impacto significativo na função da cavidade oral, incluindo dificuldades na deglutição, fala e um aumento no risco de infecções orais (Thomson et al., 2021; Fornaro et al., 2023).
A sialorréia, por outro lado, é um efeito colateral relacionado ao uso de antipsicóticos, especialmente a clozapina, e caracteriza-se pela produção excessiva de saliva. Embora a xerostomia seja mais associada aos antidepressivos e ansiolíticos, a sialorréia também representa um problema para os pacientes que necessitam de tratamento com antipsicóticos, afetando sua qualidade de vida. Esses efeitos adversos podem ser graves, levando os pacientes a evitarem a adesão ao tratamento ou a procurarem alternativas, o que reforça a importância de um acompanhamento adequado por parte dos profissionais de saúde (Mohammad-Gholizad et al., 2024).
Além disso, as alterações estomatológicas induzidas por esses medicamentos não se limitam apenas à produção de saliva. A interação entre esses fármacos e a microbiota oral pode levar a um desequilíbrio, favorecendo o crescimento de bactérias patogênicas, o que aumenta o risco de cáries e doenças periodontais (Thomson et al., 2021). A redução na produção de saliva também compromete a proteção natural da boca contra esses microorganismos, aumentando a probabilidade de infecções orais e outras complicações bucais. Portanto, é essencial que os dentistas e outros profissionais de saúde bucal estejam cientes desses efeitos colaterais para promover uma abordagem preventiva e terapêutica adequada (Urien et al., 2024).
Com o aumento da prevalência do uso desses medicamentos, é fundamental que os profissionais de saúde, especialmente os da área odontológica, se preparem para identificar e tratar as complicações estomatológicas associadas a essas terapias. A integração entre a odontologia e a medicina, com a colaboração entre médicos e dentistas, torna-se cada vez mais importante para garantir um cuidado mais completo e eficaz para esses pacientes. O manejo adequado dessas condições estomatológicas pode melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes em tratamento psicotrópico e evitar o agravamento de problemas bucais que, sem o tratamento adequado, podem se tornar graves (Fornaro et al., 2023). Sendo assim, este estudo tem como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre alterações estomatológicas ocasionadas pelo uso de medicamento antipsicóticos, ansiolíticos e antidepressivos.
MÉTODOS
Esta revisão integrativa da literatura possui uma metodologia qualitativa, sendo baseada em Rother6 e Pereira et al.7, e no desenvolvimento da seguinte pergunta de pesquisa: Quais os principais resultados sobre alterações estomatológicas ocasionadas pelo uso de medicamento antipsicóticos, ansiolíticos e antidepressivos?
Para isto, foram utilizadas as bases de dados eletrônica: U. S. National Library of Medicine (PubMed), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Cochrane Library, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), além disso, foi utilizado o Google Scholar, uma biblioteca eletrônica de artigos científicos e trabalhos acadêmicos da literatura cinzenta, a fim de pesquisar e identificar estudos que respondessem à pergunta norteadora desta revisão integrativa da literatura. As bases de dados foram pesquisadas entre fevereiro de 2020 a fevereiro de 2025.
Esta revisão integrativa baseou-se em cinco etapas: Na primeira etapa foi o estabelecimento dos descritores para ambas as bases de dados, sendo uma com a utilização de MeSHterms (PubMed/Cochrane Library) e DeCS (SciELO e LILACS). Em seguida, segunda etapa, fora feito a busca avançada nas bases e análise do quantitativo dos artigos científicos presentes na íntegra. Logo em seguida, na terceira etapa, foram selecionados os artigos que se adequaram aos critérios de elegibilidade estabelecidos pelos pesquisadores. Na quarta e quinta etapa, os pesquisadores formularam uma tabela descritiva sobre os autores, objetivo da pesquisa, resultados e conclusão e em seguida, desenvolvimento da discussão dos artigos científicos, a fim de responder à pergunta norteadora estabelecida no início desta metodologia.
PubMed: (“Stomatognathic Diseases”[Mesh] OR “Mouth Diseases”[Mesh] OR “Oral Manifestations”[Mesh]) AND (“Antidepressive Agents”[Mesh] OR “Antipsychotic Agents”[Mesh] OR “Anti-Anxiety Agents”[Mesh]) AND (“Drug-Related Side Effects and Adverse Reactions”[Mesh] OR “Xerostomia”[Mesh] OR “Salivary Gland Diseases”[Mesh]).
SciELO/LILACS: (“alterações estomatológicas” OR “alterações orais” OR “lesões bucais”) AND (“antidepressivos” OR “ansiolíticos” OR “antipsicóticos”) AND (“efeitos adversos” OR “efeitos colaterais” OR “reações adversas”) AND (DECs: “Distúrbios bucais” OR “Antidepressivos” OR “Ansiolíticos” OR “Antipsicóticos”)
Cochrane Library: (“oral health disorders” OR “oral lesions” OR “oral changes”) AND (“antidepressants” OR “anxiolytics” OR “antipsychotics”) AND (“adverse effects” OR “side effects”) AND (DECs: “Oral Diseases” OR “Antidepressants” OR “Anxiolytics” OR “Antipsychotic Agents”)
Foram utilizados descritores para a composição da chave de pesquisa, sendo os seguintes (MeSH/DeCS): Alterações estomatológicas; doenças orais; lesões bucais/manifestações orais; agentes antidepressivos; agentes antipsicóticos; ansiolíticos. Em seguida, os pesquisadores selecionaram os trabalhos com análise no título e resumo, com base nos critérios de elegibilidade. Os critérios de elegibilidade foram os seguintes: artigos publicados em inglês, português e espanhol; relatos de casos; pesquisas laboratoriais, ensaios clínicos randomizados ou não randomizados, artigos que se adequem à temática.
Também foi utilizado o sistema de formulário avançado para busca e seleção dos artigos utilizando conector booleano “AND”. Em seguida, artigos que preencheram os critérios de elegibilidade foram identificados e incluídos na revisão.
RESULTADOS
Os trabalhos que preencheram todos os critérios de seleção foram incluídos no estudo, os que não preencheram os critérios e/ou não se mostraram relevantes foram excluídos. Apesar do grande número de artigos encontrados na busca avançada do Google Scholar, grande parte do material não possuía correlação com a temática abordada. Os resultados por análise foram representados na Tabela 1 e estabeleceu-se a construção da Tabela 2 aos estudos selecionados, com formulação das colunas (Autor/Ano; Objetivo do estudo; Resultados e Conclusão).
Tabela 1 – Seleção dos artigos por análise empregada e estabelecimento dos critérios de inclusão.
Fonte: Elaborado pelos autores, 2025.
Tabela 2 – Estudos detalhados em tabela de resultados
Autor/Ano Objetivo do estudo Resultados Conclusão Livermore et al. (2022) Explorar a eficácia e tolerabilidade a longo prazo da metoclopramida no tratamento da hipersalivação induzida por clozapina (HIC) Dos 96 pacientes identificados, 14 pacientes foram elegíveis para inclusão em nosso estudo. Cinco pacientes continuaram o tratamento com duração média de 27 meses (DP = 17,8) e um paciente continuou até a transferência com duração de 3 meses. Oito pacientes interromperam o tratamento após uma duração média de 8 meses A metoclopramida pode ser um medicamento eficaz e tolerado na HIC, mas são necessários mais dados para estabelecer seu lugar na farmacoterapia dessa condição. Miodownik
et al. (2023)Avaliar o uso do grupo benzamida para o tratamento da hipersalivação Evidências acumuladas durante as últimas 2 décadas indicam que os agentes derivados do grupo das benzamidas podem ser agentes eficazes e seguros para o tratamento da hipersalivação associada à clozapina. Seja com efeito psicotrópico ou sem, os medicamentos desse grupo podem produzir uma resposta benéfica Os derivados substitutos da benzamida surgiram como agentes eficazes e bem tolerados para o tratamento da hipersalivação associada à clozapina. Thomson et al. (2021) Investigar o uso de medicamentos e a xerostomia em neozelandeses idosos dependentes. Pouco mais da metade estava tomando de cinco a nove medicamentos diferentes; um em cada cinco estava tomando 10+. A prevalência de xerostomia (29,4%; intervalo de confiança de 95% 26,5, 32,5) foi maior entre os últimos e menor em pacientes psicogeriátricos. Depois de controlar a idade e o sexo, foi maior entre as pessoas que tomavam qualquer antidepressivo, e ainda maior com um antidepressivo tricíclico e um esteróide ou um anticolinérgico, ou entre as pessoas que tomavam um broncodilatador sem aspirina profilática. Os profissionais de saúde devem trabalhar juntos para garantir que as pessoas com xerostomia sejam tratadas de maneira oportuna e apropriada. A revisão de medicamentos é um componente importante disso. Urien et al. (2024) Examinar as evidências de como os medicamentos poderiam contribuir para a pior saúde bucal dessa população. Estudos mostram maior cárie dentária e grau de doenças periodontais nessa população e apontam a xerostomia induzida por drogas como um importante fator de risco para a deterioração da saúde bucal. O risco de boca seca depende não apenas de antipsicóticos, mas também de medicamentos com atividade anticolinérgica. As alterações glicêmicas induzidas por antipsicóticos podem contribuir para a redução da saúde bucal e que a atividade antimicrobiana de certos antipsicóticos pode ter um impacto na microbiota oral que afeta a condição bucal. Os dados de farmacovigilância mostram que os movimentos involuntários são causados por antipsicóticos típicos e alguns atípicos. A boca seca é mais frequentemente relatada para quetiapina e olanzapina, enquanto a clozapina é mais frequentemente associada à sialorreia. A literatura mostra claramente maior cárie e doença periodontal em pacientes esquizofrênicos. No entanto, de modo geral, há pouca literatura sobre a potencial influência dos medicamentos nesses transtornos. Os profissionais de saúde devem estar atentos a essa questão para implementar medidas preventivas adequadas nessa população vulnerável. Sanagustin et al. (2023) Examinar a prevalência de sialorreia induzida por clozapina (CIS) diurno e noturno em uma amostra de pacientes tratados com clozapina e avaliar seu impacto na qualidade de vida. Dos 130 indivíduos, 120 (92,3%) sofriam de CIS. Oitenta e um (62,31%) sofriam de SCI diurno, 115 (88,56%) de SCI noturno e 85 (65,38%) de ambos. Associações positivas significativas entre qualidade de vida e CIS diurno (B = 0,417; p = 2,1e – 6, R2 = 0,156) e CIS noturno (B = 0,411; p = 7,7e – 6, R2 = 0,139). Trinta por cento dos indivíduos relataram um impacto negativo moderado a grave da sialorreia em sua qualidade de vida. O CIS é altamente prevalente em pacientes com esquizofrenia e tem um impacto importante na qualidade de vida em um terço de nossa amostra. Portanto, a inclusão de uma avaliação sistemática e tratamento do CIS na prática clínica padrão é altamente recomendada Mohammad-Gholizad et al. (2024) Comparar 2 agentes tópicos (colírio de atropina e spray nasal de ipratrópio) e um medicamento sistêmico (amitriptilina) para o tratamento da sialorreia associada à clozapina. As comparações entre os grupos mostraram que a atropina foi significativamente mais eficaz no tratamento da sialorréia associada à clozapina do que a amitriptilina e o ipratrópio, nas primeiras 2 semanas e nas segundas 2 semanas de estudo, respectivamente. Em relação à segurança, as intervenções foram toleradas relativamente bem. A atropina é mais eficaz que a amitriptilina, nas primeiras 2 semanas de estudo e também em relação ao ipratrópio, em geral. Como o efeito temporal foi significativo entre atropina e amitriptilina, de acordo com a análise do teste de covariância, seria prudente uma investigação mais aprofundada com maior tempo de acompanhamento. Além disso, a expansão da população de pacientes com maior tamanho de amostra deve ser conduzida para maior precisão. Zhang et al. (2023) Investigar a literatura disponível sobre o impacto da clozapina no fluxo salivar, a fim de determinar se ela poderia ser usada por dentistas em baixas doses como tratamento para boca seca. Quatro dos estudos (um transversal e três intervencionistas) descreveram taxas de fluxo salivar em pacientes esquizofrênicos em uso de clozapina, enquanto um deles e outros dois se concentraram no mecanismo da sialorreia induzida por clozapina, com um estudo cobrindo ambos. Houve achados mistos, com um estudo observando uma associação moderada entre a dose de clozapina e o fluxo salivar, e os outros não relatando diferenças. Os achados sobre os possíveis mecanismos para sialorreia induzida por clozapina (CIS) foram inconclusivos. Não há informações suficientes de alta qualidade para justificar o uso de clozapina em baixas doses para aumentar o fluxo salivar em pacientes odontológicos com hipofunção das glândulas salivares. São necessários estudos intervencionistas bem desenhados e ensaios clínicos randomizados. Burk et al. (2022) Relatar um caso de sialorréia em um homem de 56 anos com transtorno esquizoafetivo que apresentou um nível supraterapêutico de paliperidona após o uso de paliperidona oral e intramuscular. paliperidona foi finalmente reduzida para aripiprazol, e o paciente recebeu gotas de atropina e benztropina com resolução da sialorréia. Fornecemos uma revisão da literatura sobre os outros relatos disponíveis de sialorreia associada à paliperidona, possíveis mecanismos por trás da fisiopatologia, bem como relatórios dos sistemas de notificação de eventos adversos da Organização Mundial da Saúde e da Food and Drug Administration. Os médicos devem estar cientes do potencial da paliperidona e de outros antipsicóticos de segunda geração não clozapina estarem associados à sialorreia, especialmente devido ao aumento da frequência de seu uso para uma variedade de transtornos psiquiátricos. Su et al. (2024) Relatar uma ocorrência rara de necrólise epidérmica tóxica induzida por drogas da síndrome de Stevens-Johnson com um início tardio no cenário de terapia com quetiapina e famotidina. Uma mulher taiwanesa de 82 anos foi internada em nosso hospital por diminuição da produção de urina, edema generalizado e múltiplas bolhas cutâneas e escaras. Com a disseminação das lesões, múltiplas bolhas rompidas com erosões superficiais na face, tronco e membros e envolvimento da mucosa afetaram 20% da área total da superfície corporal. O sinal de Nikolsky foi positivo. Um diagnóstico de síndrome de Steven-Johnson era altamente suspeito. Um mês antes, ela havia iniciado famotidina e quetiapina. Foi iniciado tratamento com metilprednisolona endovenosa, que melhorou as lesões cutâneas após 3 dias. No entanto, novas lesões se desenvolveram após apenas 1 dia de redução gradual da metilprednisolona. O paciente faleceu 12 dias após a admissão. A necrólise epidérmica tóxica da síndrome de Stevens-Johnson é uma doença rara da pele. Embora seja principalmente aguda e tenha uma alta taxa de mortalidade, o início tardio ainda pode ocorrer. A quetiapina e a famotidina são geralmente seguras e eficazes no tratamento de problemas geriátricos e gastrointestinais, mas reações raras de hipersensibilidade a medicamentos podem levar a consequências debilitantes. Fornaro et al. (2023) Avaliar intervenções farmacológicas para sialorreia relacionada a antipsicóticos Diversos medicamentos, incluindo metoclopramida, ciproheptadina, sulpirida, propantelina, difenidramina, benzhexol, doxepina, amissulprida, clorfeniramina, amitriptilina, atropina e astemizol, demonstraram melhor resposta do que o placebo, mas não superaram o glicopirrolato ou o ipratrópio. Antimuscarínicos, benzamidas, antidepressivos tricíclicos (TCAs) e anti-histamínicos também se mostraram superiores ao placebo. Em comparações diretas, astemizol e ipratrópio foram superados por outras intervenções. Para a sialorreia noturna, benzamidas e atropina não superaram o placebo. Não houve diferenças significativas nas intervenções em relação a constipação ou sonolência. A baixa confiança nos achados sugere cautela na interpretação dos resultados. A eficácia da sialorreia é mais consistente para os seguintes agentes, diminuindo da metoclopramida por meio de ciproheptadina, sulpirida, propantelina, difenidramina, benzhexol, doxepina, amissulprida, clorfeniramina, amitriptilina e atropina (esta última não para sialorreia noturna). A tomada de decisão compartilhada com o paciente deve orientar as decisões de tratamento em relação à sialorreia relacionada à clozapina.
Fonte: Elaborado pelos autores, 2025.
DISCUSSÃO
Uma análise dos estudos sobre sialorréia causada por clozapina revela uma diversidade de abordagens para o tratamento e manejo dessa condição, com resultados que variam em termos de eficácia, segurança e tolerabilidade de diferentes intervenções farmacológicas. Livermore et al. (2022) e Foramoro et al. (2023) exploram a eficácia de agentes como a metoclopramida e outros medicamentos antimuscarínicos, com resultados que indicam que, embora a metoclopramida seja eficaz e bem tolerada, há necessidade de mais estudos a longo prazo para confirmar seu papel na farmacoterapia da hipersalivação provocada por clozapina (HIC).
Nenhum estudo de Foramoro et al. (2023), os medicamentos como metoclopramida, ciproheptadina, e outros também demonstraram eficácia superior ao placebo, mas não superaram o glicopirrolato ou ipratrópio, com destaque para uma resposta mais consistente entre os antimuscarínicos, benzamidas e antidepressivos tricíclicos (TCAs). Isso sugere que a escolha do medicamento deve ser baseada não apenas na eficácia, mas também na tolerabilidade, com uma decisão compartilhada entre o paciente e o profissional de saúde.
O uso de benzamidas também é discutido em diversos estudos, como os de Miodownik et al. (2023) e Sanagustin et al. (2023), que evidenciam que os derivados de benzamida são eficazes e bem tolerados no tratamento da hipersalivação associada à clozapina, mostrando uma abordagem alternativa eficaz para esses pacientes. A prevalência de sialorréia noturna e diurna em pacientes com esquizofrenia tratada com clozapina é abordada por Sanagustin et al. (2023), que relaciona o impacto dessa condição na qualidade de vida, indicando que uma avaliação sistemática e o tratamento da sialorréia devem ser integrados na prática clínica diária.
Mohammad-Gholizad et al. (2024) são um dos estudos em que os autores apresentam a atrapina, o ipratrópio e a amitriptilina como agentes de escolha para a sialorréia induzida por clozapina mencionada anteriormente. Além disso, eles também afirmam que a atropina é a melhor e especificamente durante as primeiras semanas, enquanto intervenções mais específicas para o alvo, como o uso de atropina, podem valer a pena considerar.
Além disso, a xerostomia relacionada a medicamentos, que é um grande problema para a saúde bucal dos pacientes, é levantada pelos relatórios de Thomson et al. (2021) e Urien et al. (2024). Ele se concentra nos medicamentos com atividade anticolinérgica, incluindo antipsicóticos e seu impacto influente na saúde bucal. Urien et al. (2024) enfatizam o papel dos profissionais de saúde bucal em estarem alertas aos efeitos colaterais dos medicamentos em populações suscetíveis, como pacientes com esquizofrenia, e tomar as medidas necessárias para preveni-los.
Em termos de outros antipsicóticos, como paliperidona, sialorréia e paliperidona estão conectados como Burk et al. (2022) gentilmente afirmam. Este é um argumento que aponta para o fato de que tanto pacientes em antipsicóticos atípicos quanto de segunda geração podem experimentar esse efeito, tornando necessário que os médicos considerem o potencial efeito colateral dos tratamentos. A revisão da literatura dos autores toca uma nova melodia ao alertar a população sobre o aumento da onda desses medicamentos, tornando assim todo o movimento crucial para estar no controle do mesmo tratamento.
Zhang et al. (2023) concluem que os dados disponíveis são insuficientes para fazer a defesa do uso de clozapina em baixas doses no tratamento da boca seca. Além disso, ainda destacam a falta de consenso em relação ao mecanismo exato pelo qual a clozapina causa a sialorréia, além da necessidade de se realizarem novos estudos de qualidade acerca dos possíveis efeitos da clozapina sobre o fluxo salivar. A sialorréia induzida pela clozapina continua a ser um problema desfiante no tratamento, cujas opções farmacológicas apresentam eficácia variável.
A combinação de intervenções farmacológicas, juntamente com o monitoramento contínuo dos eventos adversos, além da avaliação da saúde do paciente quanto a problemas bucais, é necessária para garantir uma assistência eficaz a essa população. O tratamento deve ser tomado individualmente, baseada na situação dos pacientes e nas evidências mais recentes, principalmente na consideração dos efeitos colaterais e da qualidade de vida dos pacientes.
CONCLUSÃO
As alterações estomatológicas que ocorrem em decorrência dos antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos, incluindo a sialorréia e xerostomia (principais alterações encontradas nos estudos analisados), constituem um problema em potencial para o atendimento prestado pelo profissional de saúde, uma vez que essas alterações afetam a qualidade de vida do paciente. A sialorréia produzida pela clozapina, em especial, é uma das complicações mais frequentes e mais difíceis de lidar, com diversos tratamentos farmacológicos sendo propostos para o controle dessa ocorrência. Embora alguns medicamentos, como os antimuscarínicos e as benzamidas, demonstrem eficácia no controle da hipersalivação, a resposta pode ser variável e ainda são necessários mais estudos a respeito de intervenções a longo prazo na tentativa de determinar o melhor tratamento. De outra parte, a xerostomia é uma importante alteração que aparece associada a medicamentos com atividade anticolinérgica e afeta diretamente a saúde bucal do paciente, levando a um maior risco para o desenvolvimento de cáries e doenças periodontais.
Sendo assim, é imprescindível que os profissionais de saúde bucal estejam atentos para os efeitos colaterais dos medicamentos e adotem uma abordagem preventiva e de monitoramento contínuo da saúde bucal na tentativa de manter a saúde bucal e o bem-estar geral dos pacientes. A decisão sobre o tratamento deve ser adaptada às especificidades de cada paciente, levando em consideração, especialmente os efeitos adversos, as necessidades particulares e a necessidade de acompanhamento para minimizar os efeitos potencialmente dentais.
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1Graduado do Curso Superior de Odontologia da Universidade Estadual da Paraíba, Araruna
2Discente do Curso Superior de Odontologia pela Faculdade Rebouças de Campina Grande – FRCG
3Discente do Curso Superior de Odontologia pelo Centro Universitário Unifacisa
4Graduada do Curso Superior de Odontologia pelo Centro Universitário FAESA
5Discente do Curso Superior de Odontologia pela Universidade São Judas Tadeu
6Graduada do Curso Superior de Odontologia pelo Centro Universitário Católica do Leste de Minas
7Discente do Curso Superior de Odontologia pela Universidade CEUMA
8Discente do Curso Superior de Odontologia da Faculdade Maurício de Nassau de Campina Grande
9Discente do Curso Superior de Odontologia pelo Centro Universitário de Goiatuba UniCerrado
10Graduado do Curso Superior de Odontologia da Universidade Estadual da Paraíba, Araruna
11Graduado do Curso Superior de Odontologia pela Universidade de Taubaté – Unitau