ALTERAÇÕES CARDIOVASCULARES EM PACIENTES AEROTRANSPORTADOS

CARDIOVASCULAR CHANGES ON AIR TRANSPORTED PATIENTS

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10939215


Yhago Peloso Pasqualotto1
Prof. Me. Luís Fernando Matos Bastianini2


RESUMO

Introdução: A presente pesquisa aborda uma temática de grande relevância que versa sobre a evolução dos atendimentos hospitalares as pessoas em longa distância ou sem acesso rápido as instituições hospitalares, no caso, o aeromédico, que tem como função primordial o salvamento do paciente em estado grave e que enseja protocolos de cuidados no manejo e remoção do paciente do local de origem e ainda no período de voo até chegar ao local de atendimento. Objetivo: O objetivo dessa pesquisa é apresentar as possíveis alterações cardiovasculares nos pacientes aerotransportados. Métodos: o método utilizado para a realização deste estudo é uma revisão de literatura, na qual o autor, por meio de pesquisas e estudos como artigos, revistas médicas e demais periódicos retirados das bases de dados SciELO, CAPES, BVS e Pubmed, com o uso de descritores, apresentou sua percepção acerca da temática, dando embasamento teórico. Resultados: Com base nos oito artigos que serviram de sustentação da discussão da pesquisa, todos eles enfatizaram sobre a importância e a evolução do atendimento via aeromédico, com seus potenciais requisitos de funcionamento. Conclusão: concluiu-se sobre a importância do conhecimento da assistência aeromédica, ou seja, profissionais devidamente capacitados, para que possam tomar os devidos cuidados com pacientes em estado crítico no voo, que torna uma condição complexa e enseja cuidados referentes as decisões céleres e efetivas.

Palavras-chave: Aeromédico. Aerotransporte. Medicina espacial. Resgate aéreo. Transporte médico.

ABSTRACT

Introduction: This research addresses a topic of great relevance that deals with the evolution of hospital care for people traveling long distances or without quick access to hospital institutions, in this case, the air ambulance, whose primary function is to save patients in serious condition and which entails care protocols in the management and removal of the patient from the place of origin and also during the flight period until reaching the place of care. Objective: The objective of this research is to present possible cardiovascular changes on airborne patients. Methods: the method used to carry out this study is a literature review, in which the author, through research and studies such as articles, medical journals and other periodicals taken from the Scielo, CAPES, VHL and Pubmed databases, with the use of descriptors, presented his perception on the topic, providing theoretical basis. Results: Based on the eight articles that supported the research discussion, they all emphasized the importance and evolution of air medical care, with its potential operational requirements. Conclusion: it was concluded about the importance of knowledge of aeromedical assistance, that is, properly trained professionals, so that they can take appropriate care with patients in critical condition on the flight, which makes a complex condition and requires care regarding quick and effective decisions .

Keywords: Aeromedical. Air transport. Space medicine. Air rescue. Medical transport.

Introdução

O transporte aeromédico condiz com uma modalidade de prestar socorro emergencial para pacientes, isso em decorrência da modalidade célere do transporte no mundo inteiro, e consequentemente, uma alternativa plausível para a transferência de paciente grave, o que consequentemente aumenta o risco de sobrevida, no entanto, existem uma série de pressupostos a serem observadas, que serão discorridas ao longo do texto (DIAS, 2021).

Essa modalidade de transporte intra-hospitalar teve início no Brasil em meados dos anos 50, com uso de prática militar, ou seja, com a criação do Serviço Militar de Busca e Salvamento (SAR), tendo como principal objetivo a busca e localização de aeronaves e embarcações desaparecidas, mas voltado ao retorno com segurança dos sobreviventes dos cientes aéreos e marítimos. No entanto, em meados da década de 90 que surgiram os serviços de transporte aeromédico particulares, objetivando as respostas em decorrência das necessidades dos pacientes em locais de difíceis acessos ou em Instituições Hospitalares mais distantes (SANTOS; GUEDES; AGUIAR, 2014).

Essa nova modalidade de serviço de saúde logo se tornou um mecanismo viável e bem utilizado, e dentre os métodos de transporte preconizados legalmente, o aeromédico condiz com uma opção voltada ao atendimento e prestação de serviços destinados aos pacientes em estado crítico ou não crítico, em ressalva as distâncias maiores que serão percorridas e a gravidade do paciente. Em ressalva que, o transporte aéreo corresponde a um método direcionado ao atendimento pré-hospitalar (primário) e o inter-hospitalar (secundário), cada um dos ambientes com suas devidas recomendações, mas ambas requerem cuidados específicos para garantir a segurança do paciente (DIAS, 2021).

Outro ponto importante de mensurar é sobre a capacitação médica para o atendimento e protocolos necessários ao serviço prestado na modalidade aeromédica, englobando o transporte dos pacientes por via aérea e se atendo as suas condições de saúde, principalmente as possíveis alterações cardiovasculares, o que exige uma equipe altamente treinada e capacitada, sendo um desafio único para tal situação.

A problemática sustentada nessa pesquisa, corresponde a avaliação e o manejo de alterações cardiovasculares em pacientes em serviço aeromédico, nesse viés, esse método corresponde a uma situação primordial para que haja rapidamente e de forma eficaz a transferência dos pacientes em situações críticas, em ressalva aos desafios como condições de altitude. Dessa forma, o que pode influenciar significativamente na alteração da fisiologia cardiovascular em pacientes no aeromédico?

A importância de abordar esse tema é justificada devido à necessidade de compreender sobre os protocolos aplicados no aeromédico, em ressalva, levar em consideração a condição do paciente, como as possíveis complicações que estão submetidos em decorrência da situação, e que assim, o profissional saiba lidar possíveis alterações cardiovasculares no transporte, garantindo então, a segurança e a eficácia do atendimento.

O principal objetivo deste estudo é apresentar as alterações cardiovasculares com ênfase nos pacientes em serviço aeromédico.

Materiais e métodos

Trata-se de um estudo do tipo revisão de literatura integrativa. O estudo literário proporciona a maior familiaridade com o problema tornando-o mais explicativo ou construindo hipóteses. O seu planejamento é mais flexível, pois é considerado os mais variados aspectos, fatos e fenômenos no estudo.

Esse trabalho será de caráter literário, em que o autor realizou suas pesquisas aplicando técnicas interpretativas, almejando adquirir o máximo de conhecimento possível para a elaboração do trabalho, baseando-se em pesquisadores que abordam sobre a temática compreendendo sobre os serviços aeromédicos em ressalva as possíveis alterações cardiovasculares nos pacientes transportados, assim como a coleta de dados textuais.

A coleta dos dados será através da leitura de artigos disponíveis online e completos, dentre os últimos 10 anos, pois são os mais atualizados e relevantes, atendendo aos preceitos da pergunta norteadora deste estudo.

A pesquisa literária utilizando plataforma que atribua o acesso online gratuito na Biblioteca de Revistas de Medicina ou relacionadas à saúde, sendo direcionada às bases de dados BVS, LILACS, SCIELO e PubMed/Medline.

A Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) foi estabelecida em 1998, como modelo e estratégia de plataforma operacional para a gestão de informações e conhecimentos em saúde. A BVS é uma rede construída e coordenada pela BIREME, um centro especializado com a missão de contribuir para o desenvolvimento da saúde por meio da democratização do acesso e publicações de informações, conhecimentos e evidências científicas. Já o portal da BVS é um espaço que promove e amplia o acesso a informações cientificas e técnicas em saúde na América Latina e Caribe (AL&C).

Tabela 1 – Fluxograma da estratégia de busca e seleção dos artigos.

Fonte: Elaboração própria (2024)

Foram aplicados descritores para a melhor seleção dos materiais nas bases de dados supramencionadas, tais como, “aeromédico”, “alterações cardiovasculares” “pacientes em serviços aeromédicos”, “atendimento médico aéreo e possíveis alterações cardiovasculares em pacientes” todos eles foram intrinsecamente relacionados ao tema “alterações cardiovasculares de base em pacientes aerotransportados”.

Resultados

Para a sustentação teórica dessa pesquisa e com base na compreensão sobre o embasamento desenvolvido, serão apresentados os principais materiais que foram selecionados, corroborando com seus principais achados. O quadro abaixo compete à demonstração dos dados baseados em 8 (oito) artigos, seguindo com a título, o autor, ano e caracterizações.

Quadro 1 – Filtragem dos artigos segundo combinações dos DeCS

TítuloAutor/anoPrincipais ResultadosDesfecho
01Alterações gerais do transporte aéreo de pacientes em helicóptero no que se refere alterações cardiovasculares.Giovana Fratin; Nelson Augusto Mendes – 2019Contudo, pode-se concluir que o transporte aéreo por helicóptero não é contra indicado para o paciente com alterações cardiovasculares, e podem trazer benefícios importantes como a rapidez do acesso ao  atendimento hospitalar desde que sejam respeitadas e levadas em consideração as possíveis complicações que podem surgir, antecipando-as e prevenindo-as.O objetivo geral deste artigo foi analisar os aspectos gerais do transporte aeromédico em helicópteros de pacientes no que concerne à possibilidade        de alterações cardiovasculares.
02Diretriz de doença cardiovascular e viagem aéreaSérgio Timerman; Paulo Magalhães Alves – 2023O transporte aéreo tem Particularidades que devem ser do conhecimento do clínico que, frequentemente, é solicitado por seu paciente a opinar quanto à adequação ou não de uma viagem aérea.Assim sendo, é fundamental o Conhecimento dessas questões no sentido da prevenção do desenvolvimento de complicações e descompensações, sobretudo no caso de cardiopatas.
03Segurança do paciente no cotidiano de trabalho da equipe multiprofissional do transporte aeromédico inter- hospitalarCarla Pena Dias – 2021O presente estudo objetivou analisar a segurança do paciente no cotidiano de trabalho da equipe multiprofissional do transporte aeromédico inter-hospitalar (TAI).Conclui-se que, os profissionais adotam novas maneiras de fazer para tornar o ambiente seguro e as circunstâncias de risco podem ser mitigadas pela equipe.
04A segurança do paciente no transporte aeromédico: uma reflexão para a atuaçãoHeloísa Griese Luciano dos Santos; Carolina Cristina Pereira Guedes; Beatriz Gerbassi Costa Aguiar – 2014.A experiência ocorreu durante atuação no serviço de resgate aeromédico (RAM) de uma empresa prestadora de serviços para plataformas e navios de petróleo, no estado do Rio de Janeiro no período de 2011 a 2012.Entender que a comunicação precisa ser clara no fluxo preciso e ágil. Verifica-se que o transporte aeromédico deve ser discutido nas bases da segurança do paciente    para que ocorram adequações e atendimento s metas internacionais de segurança do paciente.
05Translado aeromédico de pacientes críticos: ponderação com a segurança do pacienteMarcílio da Costa Carvalho; Luis Soares Lima Júnior – 2024.O transporte aéreo é considerado uma modalidade rápida de transporte em todo o mundo, sendo uma alternativa viável para a transferência do paciente grave, aumentando a chance de sobrevida.Foi possível observar a importância do conhecimento da assistência aeromédica por profissionais capacitados, pois o cuidado ao paciente crítico em voo é complexo e requer tomadas de decisão rápidas e efetivas.
06O transporte aeromédico durante a pandemiaGabriel Victor Dutra de Carvalho – 2021O transporte aéreo mostra-se como primordial para a efetivação das atividades hospitalares e demais atividades relacionadas à saúde, especialmente  em tempos  de crise sanitária, como o vivido durante os anos de 2020 e 2021.Por fim, é preciso mencionar equipamentos e aparelhos que compõem as cabines correspondentes a UTIs aéreas, para que seja ilustrado o papel de extremo valor exercido pelo transporte aeromédico e para que seja possível compreender melhor a funcionalidade dessas cabines.
07Cuidados no transporte aeromédico de pacientes com aneurisma de aortaAndréa Mendes de Oliveira; Michelle Taverna – 2022O transporte aéreo desses pacientes é definido basicamente pela necessidade de cuidados adicionais (assistência ou intervenção especializada), não disponíveis no local onde o paciente se encontra, devendo ser ponderados os benefícios potenciais e os riscos inerentes a exposição ao ambiente hipobárico.A literatura nos mostra que é possível realizar o transporte aéreo de forma segura, desde que, o paciente seja estabilizado adequadamente, monitorado com equipamentos de qualidade e a equipe experiente/ treinada que garanta cuidados essenciais para menores variações hemodinâmicas em voo.
08Revisão sobre os desafios e futuro resgate aeromédicoMaurício Waltrick Santos – 2023O trabalho tem como objetivo principal elencar os principais desafios atuais encontrados no serviço de resgate aeromédico no Brasil e no mundo, as limitações e vantagens desse serviço quando comparado ao resgate e transporte de vítimas por via terrestre (ambulâncias), e analisar o potencial futuro   do resgate aeromédico.Os principais desafios hoje relacionam-se a limitações técnicas por parte das aeronaves, muitas vezes limitadas a condições de voo visuais diurnas, e o uso inapropriado desse  recurso  por falta de conhecimento dos profissionais da saúde e órgãos governamentais.

Fonte: Elaboração própria, 2024

Esses consisti em ser as principais descobertas diante da busca pelos descritores, julgados eficazes e complacentes com os objetivos que foram propostos.

Discussão

A partir de então, serão discorridos os principais pontos acerca da temática, com base na revisão de literatura selecionada como base, em busca de alcançar os objetivos que foram propostos, dando embasamento teórico que enfatiza sobre as alterações cardiovasculares em pacientes aerotransportados.

Marco da evolução do transporte aeromédico no mundo.

A aviação moderna que conhecemos hoje teve seu começo no início do século XIX, com o primeiro voo de um veículo mais pesado que o ar ocorrendo no dia 23 de outubro de 1906 pelas mãos do pioneiro brasileiro Alberto Santos Dumont, nos anos seguintes essa nova tecnologia se desenvolveu a passos largos passando a ser empregada em diversas áreas (GOMES; ALBERTI; FERREIRA, 2014).

No período de 1914 a 1918, durante a primeira guerra os avião começaram a ser utilizados ainda em pequena escala, como reconhecedores avançados e pequenos bombardeio, pulando para os anos de 1939 a 1945, durante o período da segunda guerra a aviação deu um grande salto para a formulação da base que hoje conhecemos como avião moderna, passando a ser a ponta angular das forças bélicas em conflito, e foi nesse âmbito de guerra que os primeiros aviões adaptados para o transporte aero médico e o desenvolvimento dos conhecimento dos desafios enfrentados no transporte de pacientes em altitude teve início (GOMES; ALBERTI; FERREIRA, 2014).

Em seu artigo, Gomes, Alberti e Ferreira (2014) citam que os primeiros registros de pacientes aerotransportados ocorreram durante a primeira guerra mundial (1914- 1918) onde já existiam aeronaves adaptadas e médicos e enfermeiros treinados sobre a fisiologia do voo, perante a necessidade de retirada de soldados feridos do campo de batalha, visto que a remoção e realocação dos feridos por via terrestre era ineficiente e também em alguns casos indisponível.

Dessa forma, a condição discorrida foi oportunizada pelo desenvolvimento de suas habilidades e a administração dos cuidados direcionados aos soldados feridos, ao longo dos anos, o avanço e desenvolvimento das aeronaves que possibilitavam o transporte dos feridos, e nesse período a condição era bem precária, o que tornava o processo rudimentar, despressurizado, sistema de rede de oxigênio suplementar, monomotores com velocidade mais limitada, sendo assim, os soltados eram acomodados em compartimentos a frente do piloto, sem que houvesse a assistência de profissionais capacitados (CARVALHO, 2021).

De acordo com Dias (2021) a proposta era justamente de retirar rapidamente para o local adequado de atendimento, em ressalva, ainda na Primeira Guerra Mundial, a precariedade das condições do período. Foi apenas no ano de 1920, que na Suécia foi elaborado estrategicamente um sistema com o uso de uma ambulância aérea. Na Austrália, no ano de 1928, que o primeiro sistema de ambulância aérea e com o tempo integralizado que foi estabelecido para resgates. Na África, esse sistema foi implantado em 13, o primeiro serviço civil destinado aos resgates através da ambulância aérea. E assim, outras nações foram se desenvolvendo e utilizando a modalidade em questão.

Ainda com relação a pesquisa desenvolvida por Dias (2021) que na Segunda Guerra Mundial, período consolidado entre 1939 a 1945, tanto os Estados Unidos quanto a Alemanha adaptaram as aeronaves miliares com recursos para serem as “ambulâncias aéreas”, contando com macas adequadas, sistema de aspiração e de oxigênio, equipamentos para a realização de ventilação mecânica, medicações mais necessárias e melhor ainda, contava com profissionais devidamente qualificados, para o atendimento aos feridos.

Com a proposta relatada acima, obviamente que foram desenvolvidos métodos mais eficazes e rápidos para atendimento e remoção de soldados feridos, como no caso discorrido por Holleran (2010) que apresentou que as Forças Armadas Americanas produziram diversos helicópteros mais práticos e contando com o suporte necessário, apontando que uma média de 20.000 (vinte mil) feridos no período da Guerra da Coréia e 200.000 (duzentos mil) feridos na Guerra do Vietnam foram resgatados através do uso de helicópteros, o que consequentemente, amenizou o índice de mortalidade dessas vítimas.

O que vem sendo apresentado é que esses acontecimentos foram primordiais para o desenvolvimento da modalidade do aeromédico, contribuições na organização e no planejamento do trabalho como método primordial na área de urgência e emergência, assim como a implantação de uma base operacional para a prestação do socorre aéreo, como forma de atendimento pré-hospitalar (TIMERMAN, ALVES, 2023).

Reuniões e mais métodos desenvolvidos estrategicamente que versam sobre esse tema, acarretaram com o fato das experiências de mostrarem sobre a estabilização e o transporte rápido, podendo amenizar as taxas de mortalidade, dentro desse contexto, os médicos e demais profissionais da saúde foram se aprimorando no setor, realizando atividades mais precisas voltadas as atividades de assistência aos pacientes feridos no transporte aeromédico.

Transporte aeromédico no Brasil: histórico e concepções

No Brasil, o histórico da aderência do método de atendimento, ocorreu com a prestação de serviços militares, de acordo com Carvalho (2021) o transporte aeromédico iniciou com a Força Aérea Brasileira (FAB), através do Serviço de Busca e Salvamento (SAR), no ano de 1950, no estado do Pará, em que o objetivo era a localização de aeronaves e embarcações desaparecidas e que assim, pudesse ser efetivado os serviços destinados a localização e prestação de atendimento emergencial aos sobreviventes.

De acordo com Dias (2021) a proposta era de que ocorresse a sistematização da assistência da equipe de saúde, possibilitando o planejamento para a assistência aos cidadãos resgatados, pois os casos são relacionados as pessoas que precisam de cuidados intensivos, com a capacitação adequada para tal, ou seja, o posicionamento quanto ao desempenho das práticas profissionais, as habilidades, ações e ainda, a experiência referente a todo protocolo.

Para Carvalho (2021) ainda no início do ano de 1990, surgiu os serviços destinados aos transportes aeromédicos particulares, com o intuito de responder de forma célere e eficaz, as necessidades dos pacientes que estavam distantes de unidades hospitalares.

Nos estudos de Fratin e Mendes (2019) relataram que ocorreu o primeiro programa público de socorro extra hospitalar aéreo, em meados de 1988, executado pelo Corpo de Bombeiros Militar, no Estado do Rio de Janeiro, dessa forma, apresentava o cenário de atendimento e transporte do paciente crítico, denominado como “Ambulâncias dos Bombeiros”, sendo equipados com materiais necessários para a prestação de socorro, além da equipe de profissionais capacitados, como médicos, que conduziam as vítimas utilizando os recursos de suporte básico e avançado, de acordo com cada tipo de caso.

No entanto, tanto as aeronaves quanto os helicópteros destinados ao transporte de pacientes, ocorridos por via aérea, são classificados no Brasil, de acordo com um Tipo E, no qual, caracteriza a aeronave de transporte médico de asa fixa ou rotativa, contando com equipamentos médicos devidamente homologados pelos órgãos competentes. Em continuidade, esses equipamentos, geralmente são os mesmos utilizados em ambulâncias de suporte avançados com as devidas adaptações imprescindíveis, para serem utilizados em locais hipobárico, que são devidamente registrados e determinados pelos órgãos capacitados (FRATIN; MENDES, 2019).

Legislação vigente

No ano de 1970, ocorreu um planejamento, aderido pelo Ministério da Aeronáutica, denominado como “Plano de Desenvolvimento da Medicina Aeroespacial da Força Aérea Brasileira”, mas foi no ano de 1972, que foi criado o Centro de Especialização de Saúde da Aeronáutica (GOMES, 2013).

Mas conforme mensurado anteriormente, que o Corpo de Bombeiros Militar do Rio de Janeiro, que iniciou o protocolo de atendimento, através do Projeto Resgate, com o uso de helicópteros para o atendimento em vias públicas de vítimas de trauma, ao longo dos anos, esse protocolo foi sendo aprimorado. O surgimento de empresas privadas, voltadas ao atendimento especializado, que eram devidamente adequadas

para o funcionamento, atendendo todos os requisitos, e ainda com autorização da Agencia Nacional de Aviação Civil (ANAC) (OLIVEIRA; TAVERNA, 2022).

Através da Portaria de nº 2.048, no ano de 2002, foi aprovado pelo Ministério da Saúde, o Regulamento Técnico dos Sistemas Estaduais de Urgência e Emergência para todos os tipos de transportes dos pacientes. Sendo que as ambulâncias utilizadas em métodos terrestres, aéreas ou aquaviárias, sendo definidas de acordo com o veículo utilizado, destinado exclusivamente ao transporte de pessoas em estado grave (TIMERMAN, ALVES, 2023).

No caso, as ambulâncias tipificadas como Tipo E que é conceituada como a aeronave de transporte médico, seguindo a recomendação de uma aeronave de asa fixa ou rotativa utilizada para TAI e a aeronave de asa rotativa para as ações de resgate, contando com equipamentos médicos devidamente homologados pelo DAC e continuamente pela ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) (CARVALHO, 2021).

A Portaria 2.048 define, ainda, os equipamentos necessários para o transporte nas aeronaves de asas fixas (aviões) e aeronaves de asas rotativas (helicóptero). A tripulação é composta por piloto, um médico, um enfermeiro e um profissional capacitado para procedimentos de salvamento, geralmente bombeiros, no caso do transporte pré-hospitalar. No transporte inter-hospitalar, torna-se necessário a contratação desses profissionais especializados para a realização do trabalho. Em relação ao profissional enfermeiro, a Resolução do Conselho Federal de Enfermagem – COFEN 260/2001 (Artigo primeiro/item 30) determina a especialidade aeroespacial para os enfermeiros. Já a Resolução 300/2005 regulamenta que toda assistência de Enfermagem em unidades móveis de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e suporte avançado de vida (terrestre, aérea ou aquática) deve ser prestada por enfermeiro (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2020). Ressalta-se a importância do conhecimento da legislação pelos profissionais que atuam no transporte, pois algumas normas e restrições interferem diretamente no planejamento e na execução das ações (CARVALHO, 2021, p. 32 e 34).

Frente ao que vem sendo abordado, no Brasil, o transporte aeromédico deve seguir normativas e as legislações que estejam vigentes, e essas, são específicas para tal, com base no Comando da Aeronáutica, através da ANAC, em ressalva que essa não exerce a função reguladora das atividades médicas ou da enfermagem, apenas o controle referente a atividade dos profissionais de aviação, seguindo suas especificações legais.

Para Carvalho (2021) essa condição significa que, apesar de desempenhar atividades profissionais abordo, os profissionais de saúde mencionados no parágrafo anterior,  não  são  considerados  como  tripulantes,  pela  legislação  vigente,

considerando os aspectos e as condições da legislação, a segurança de voo como um objeto de preocupação e discussão em diversos segmentos.

No campo da saúde, a condição referente a segurança do paciente é significativamente discutida, pois a preocupação maior quanto as atividades e cuidados necessários, buscando de forma incessante a qualidade no atendimento como um dos pilares essenciais, a prática segura e eficaz, assim a necessidade de seguir toda regulamentação, investimento em recursos, a aplicação do conhecimento adquirido, dentre outros preceitos, como a capacitação profissional (TIMERMAN, ALVES, 2023).

Finalizando, sobre a legislação vigente no que cerne a atividade aeromédico, a prática clínica dos médicos é atenuada em diretrizes de cunho internacionais como a qualidade e segurança de toda a equipe e do paciente que esteja sob cuidados da equipe, no entanto, o médico poderá ter capacitação geral, como o suporte básico de vida, suporte avançado, cuidados críticos de emergência, cuidados específicos e intensivos, nos quais, não exigem certificação específica.

Comunicação para o resgate

Diante ao que vem sendo abordado, uma série de técnica e cuidados devem ser utilizados para o atendimento, no caso, a solicitação de remoção aeromédica e a comunicação, que condiz com o acionamento da equipe, a sistematização quanto a assistência, decolagem e pouso da aeronave, transporte terrestre da vítima para a Unidade Hospitalar.

No entanto, é necessário que o profissional, acompanhe o estado clínico do paciente, como base na troca de informação com a equipe de resgate para a melhor sistematização na prática da assistência. Em tese, a comunicação tem um papel primordial, necessitando ser efetiva e com a segurança do paciente, e que assim, a equipe possa agir de acordo com a detecção dos erros.

Quando a equipe chega ao local, é necessário se ater a avaliação e cuidados com o paciente, confirmando se o diagnóstico discorrido no atendimento é comum com o constatado, e que assim, se preparem para a remoção aeromédica, preenchido através de um relatório de enfermagem, contando com informações iniciais e a evolução do quadro clínico do paciente no período de remoção, previsão de horário da decolagem e do pouso da aeronave, além da chegada e saída da ambulância na Unidade Hospitalar.

Filosofia do voo no transporte aeromédico

É primordial ter conhecimento sobre a filosofia do voo, a compreensão que cerne os efeitos do transporte médico aéreo em pilotos, profissionais médicos e pacientes. Sendo que esse ambiente, poderá acarretar com alterações orgânicas em diversos mecanismos relacionados a fisiologia respiratória, aceleração, vibração, acústica, orientação espacial, estresse térmico e a fisiologia cardiovascular (SANTOS, 2023).

Existem inúmeros de fatores que poderão determinar o método do transporte que será utilizado para o atendimento de um paciente em estado crítico, como no caso da distância e da duração do trajeto do voo, a urgência do estado do paciente e a possibilidade de complicações, inclusive cardiovasculares, que pode ser desenvolvida ao longo do transporte aéreo ou terrestre e até mesmo à distância poderá afetar ou acentuar possíveis alterações (TIMERMAN, ALVES, 2023).

Carvalho e Lima Júnior (2024) descrevem que os conhecimentos sobre a medicina aeroespacial englobam os tripulantes, passageiros e correlacionam com as condições ambientais do voo, que decorrem da altitude do voo, e que consequentemente, poderão acarretar com alterações no sistema dos pacientes, inclusive o cardiovascular.

Em segmento, as alterações podem ocorrer não apenas no paciente (apesar deste, estar mais vulnerável), mas ainda na equipe do voo, com o aumento da altitude da aeronave, o estresse do período de voo, como a vibração, umidade, ruídos, temperatura, a aerodilatação que decorrem das diversas formas de alterações possíveis em aeronave.

No entanto, dentre as necessidades e intuitos no processo de transporte aéreo de pacientes, em decorrência da gravidade do caso, é primordial a garantia da transição mais tranquila entre as instalações. Em ressalva, a capacitação e o treinamento constante dos profissionais, para que estejam aptos e otimizados com a segurança, amenizando incidentes e possíveis imprevistos, no processo de atendimento ao paciente criticamente doente.

Possíveis alterações cardiovasculares dos pacientes

As alterações em pacientes são interligadas com as fisiologias do voo, nos quais, se destacam alguns dos principais efeitos nos pacientes, dentre eles, as alterações cardíacas. Mencionando, as condições referentes a pressão atmosférica que apresenta a redução não linear em relação a altitude, em que ocorre a fração de concentração do oxigênio, sendo assim, a pressão parcial do oxigênio cai, quando a pressão atmosférica cai, acarreta com a redução da pressão parcial alveolar do oxigênio, conduzindo para o surgimento da hipóxia se não for fornecido oxigênio suplementar.

Dessa forma, com o quadro de hipóxia que pode acarretar em taquicardia, braquicardia, arritmias, hipertensão, taquipneia e a alteração no nível de consciência em todos os indivíduos. No entanto, o sistema cardiovascular, pode acarretar com a aceleração do sangue que poderá ser represado nos pés, acarretando com o retorno venoso e o débito cardíaco amenizados, compactuando com a hipotensão (TIMERMAN, ALVES, 2023).

De acordo com o que foi apresentado no parágrafo anterior, a hipóxia poderá ser percebida em duas fases, com o débito cardíaco aumentado, acarretado pela escalada inicial da frequência cardíaca e da vasoconstrição seletiva. Com o aumento da atividade cardíaca, que enseja mais oxigênio e o miocárdio, visto que a hipóxia, responde a uma amenização da frequência cardíaca, hipotensão e arritmia (TIMERMAN, ALVES, 2023).

Em caso de desaceleração ocorrerá o aumento do retorno venoso em decorrência das forças inerciais que empurram o sangue na direção cefálica, no caso, os pacientes que apresentam deterioração cardíaca, o aumento do volume no ventrículo direito que poderá condicionar com a falência cardíaca, o edema pulmonar e as possíveis arritmias (OLIVEIRA; TAVERNA, 2022).

Em linhas gerais, no processo de transporte aeromédico, os pacientes são sujeitos a uma série de alterações cardiovasculares, em decorrência das características relacionadas a situação, sendo que algumas delas poderão influenciar nos fatores como a altitude, as mudanças da pressão, vibração, ruído, temperatura, estressa, e então, poderão acarretar com as já mencionadas, hipoxemia, alterações na pressão arterial, arritmias, alterações na frequência cardíaca, edema, hipovolemia ou sobrecarga de volume.

Elas serão apresentadas no quadro abaixo para a melhor compreensão e apontamento das possíveis alterações cardiovasculares, nas quais direcionam o objeto do estudo, seguindo:

Quadro 2 – Alterações cardiovasculares aeromédicos

AlteraçãoDescrição
HipoxemiaRedução da pressão parcial do oxigênio em decorrência do aumento da altitude, afetando diretamente a oxigenação do miocárdio e com possibilidade de exacerbar  as  condições  cardíacas preexistentes.
Alterações na Pressão ArterialCondiz com as mudanças da pressão durante a decolagem e a aterrisagem, além da hipoxemia, poderão acarretar com alteração na Pressão Arterial, sendo que a hipoxia (conforme já apresentado) pode acarretar com a hipertensão pulmonar do paciente com predisposição.
ArritmiasA hipoxia, o estresse e até mesmo o uso de medicamentos que poderão aumentar o risco de arritmias, sendo que os pacientes com histórico ou doenças cardíacas  que  são  particularmente vulneráveis.
Alterações na frequência cardíacaO estresse do transporte em junção a demais fatores como os ambientais, poderão resultar na alteração da frequência cardíaca, incluindo taquicardia e bradicardia.
EdemaOcorre a imobilização prolongada durante o voo que pode condicionar o risco de trombose venosa profunda e a embolia pulmonar.
Hipovolemia ou a Sobrecarga de VolumeAlterações na pressão que poderão afetar o equilíbrio de fluidos, levando a desidratação  ou a sobrecarga  do volume, o que dependerá da condição do paciente e da gestão dos fluídos.

Fonte: Carvalho (2021)

Diante ao exposto, para a mitigação das possíveis alterações e riscos dos pacientes aerotransportados, condiz com a necessidade da equipe aeromédica de estar devidamente preparada para o monitoramento continuo dos sinais vitais do paciente, ajustando a administração adequada e necessária de oxigênio em conformidade ao que seja necessário e ao gerenciamento da pressão arterial e arritmias (TIMERMAN, ALVES, 2023).

Considerações finais

A conclusão do presente estudo apontou sobre a importância do serviço de aeromédico e sua evolução ao longo dos anos, atenuando sobre a preparação e a estabilização adequadas do paciente antes do transporte que são primordiais para a amenização dos riscos e que atenue a garantia do transporte de forma segura e eficaz, evitando possíveis alterações clínicas, principalmente as cardiovasculares, visto que o equipamento de transporte a ser utilizado sendo ele asa fixa (avião) ou asa rotativa (helicóptero) dispõem de uma espaço mias limitado, logo procedimentos mais complexos como exemplo a intubação são diretamente afetados por essa característica.

Em linhas gerais, o transporte aéreo não é um mecanismo contraindicado para os pacientes com potencial de risco para alterações cardiovasculares, visando os benefícios primordiais como a celeridade no acesso ao atendimento hospitalar desde que se leve em consideração as possíveis complicações que poderão surgir, e que assim, elas sejam antecipadas e prevenidas.

Por fim, esse estudo, possibilitou o conhecimento de algumas peculiaridades referentes ao transporte aeromédico, atenuando a importância da capacitação dos profissionais, a assistência especializada, assim como a percepção da otimização frente a qualidade da assistência que é prestada, no entanto, para que haja segurança em relação as possíveis alterações cardiovasculares, a necessidade dos profissionais estarem aptos e capacitados para evitar ou utilizar meios preventivos.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, Gabriel Victor Dutra de. O transporte aeromédico durante a pandemia. PUC-GO. Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Escola de Gestão e Negócios. Curso de ciências Aeronáuticas. Goiânia, 2021.

CARVALHO, Marcílio da Costa; LIMA JÙNIOR, Luis Soares. Translado aeromédico de pacientes críticos: ponderação com a segurança do paciente. Artigo Científico. Ciências da Saúde. v. 28. Ed. 131. REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10670439. Brasil, 2024.

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1 Graduando em Medicina pelo Centro Universitário Mauricio de Nassau – Cacoal.

2 Professor e Orientador do curso de Medicina pelo Centro Universitário Mauricio de Nassau – Cacoal.