ORAL AND SYSTEMIC CHANGES ARISING FROM THE INTERRELATION BETWEEN DIABETES MELLITUS AND PERIODONTAL DISEASE
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7936715
Gustavo Saraiva Sales1
Jaciara Lima dos Santos1
Ana Lucia Roselino Ribeiro1
RESUMO
A doença periodontal pode ser definida como um processo infecioso e inflamatório, doença multifatorial que devido à acumulação de biofilme subgengival pode afetar os tecidos de suporte, nomeadamente ligamentos periodontais, osso alveolar e cemento radicular. Apresenta-se como uma das principais doenças sofridas por grande parcela da população. O processo inflamatório começa com o acúmulo de biofilme e ocorre uma resposta protetora aos antígenos bacterianos presentes nas margens da gengiva. O diabetes mellitus é uma patologia que se refere a um grupo de doenças metabólicas caracterizadas pelo aumento dos níveis de glicose no sangue denominado hiperglicemia. O diabetes é considerado um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença periodontal, e a periodontite dificulta o controle do diabetes, que é uma das complicações bucais mais importantes do diabetes. Cirurgiões-dentistas devem ser capazes tanto de identificar a doença pelos sintomas bucais, como estar aptos para o manejo e encaminhamento para exames complementares se houver suspeita de pacientes com diabetes. Se houver a confirmação, os especialistas devem selecionar o melhor curso de ação para garantir a qualidade de vida, prevenção e tratamento da doença periodontal.
Palavras-Chave: Condutas Odontológicas. Doença Periodontal. Diabetes Mellitus. Odontologia.
ABSTRACT
Periodontal disease can be defined as an infectious and inflammatory process, a multifactorial disease that, due to the accumulation of subgingival biofilm, can affect the supporting tissues, namely periodontal ligaments, alveolar bone and root cementum. It presents itself as one of the main diseases that a large portion of the population suffers. The inflammatory process begins with the accumulation of biofilm and there is a protective response to bacterial antigens present at the margins of the gingiva. Diabetes mellitus is a pathology that refers to a group of metabolic diseases characterized by increased blood glucose levels called hyperglycemia. Diabetes is considered one of the main risk factors for the development of periodontal disease, and periodontitis makes it difficult to control diabetes, which is one of the most important oral complications of diabetes. Dental surgeons must be able both to identify the disease by oral symptoms, as well as to be able to manage and refer patients for additional tests if there is suspicion of diabetes. If there is confirmation, specialists must select the best course of action to ensure quality of life, prevention and treatment of periodontal disease.
Keywords: Dental conduct. Dentistry. Diabetes Mellitus. Periodontal disease.
1. INTRODUÇÃO
A doença periodontal é uma patologia de ascendência microbiana, resultante da interação entre metabólitos bacterianos e acúmulo de biofilme dental perto da margem gengival, sendo mediada por resposta imunológica do hospedeiro. (OPPERMANN; WEIDLICH; MUSSKOPF, 2012). Já o Diabetes Mellitus (DM) é caracterizado pela elevação da glicemia que é obtida como consequência do metabolismo afetado pela patologia, onde níveis exacerbados de glicose são localizados no sangue, por haver produção insuficiente da insulina ou por falha na secreção, ou em ambos (DIABETES CARE, 2013).
Mediante a isso, a resposta imunológica e infecção bacteriana apresentam inter-relação com a doença periodontal, com potencial de apresentar modificações comportamentais e fatores de riscos sistêmicos (MADEIRO; BANDEIRA; FIGUEIREDO, 2005).
Desse modo, o portador dessa alteração sistêmica, DM, pode apresentar diversas modificações fisiológicas que delimita a resposta inflamatória e a capacidade imunológica, fazendo com que aumente a passividade de desenvolver infecções, levando a sua ligação com a doença periodontal a um destaque, sendo considerada a complicação mais recorrente desta patologia tido por muitos profissionais clínicos como a sexta complicação do diabetes. Há evidências em que a suscetibilidade do desenvolvimento da doença periodontal pode aumentar até três vezes quando associada a DM (NEGRÃO; VIANA, 2019).
As manifestações clínicas da doença periodontal dependem da capacidade do hospedeiro em suportar a agressão das características agressivas dos micro-organismos (ALMEIDA et al., 2006). Xerostomia, candidíase e viscosidade lingual também são algumas das manifestações que podem ser encontradas na cavidade oral de um paciente diabético mal controlado (YAMASHITA et al., 2013).
Desta forma, o objetivo desse trabalho foi avaliar como a doença periodontal pode estar associada ao diabetes mellitus, quanto o diabetes mellitus pode intensificar a doença periodontal, e avaliar quais condutas o cirurgião-dentista deve ter, por meio de uma revisão de literatura.
2. METODOLOGIA
O estudo em questão se trata de uma revisão de literatura de artigos científicos publicados no período dos anos de 2003 a 2021, que foram pesquisados no Google Acadêmico, PubMed e Scielo, entre outras ferramentas disponíveis para pesquisa, como biblioteca virtual. As palavras-chaves utilizadas foram “Odontologia”, “Doença Periodontal”, “Diabetes Mellitus”, “Condutas Odontológicas”, que foram conciliadas para um melhor resultado na pesquisa.
Após selecionados e identificado as fontes presentes, esboçamos o material bibliográfico escolhido para iniciar e avaliar a inter-relação da doença periodontal com o diabetes mellitus.
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 Características e fisiopatologia da doença periodontal
A doença periodontal é uma patologia que se relaciona com distintos quadros clínicos, quando essa doença está restrita apenas nos tecidos de proteção do dente, ela pode ser chamada de gengivite e podendo ser denominada de periodontite quando ocorre o acometimento dos tecidos de sustentação (MAEHLER et al., 2010).
Para o desenvolvimento da doença periodontal, as bactérias são primordiais, todavia a extensão do dano periodontal e a evolução do mesmo também são influenciadas pela susceptibilidade do hospedeiro (CANGUSSU et al., 2014). Com isso, a doença periodontal é considerada um dos principais fatores de risco para pacientes diabéticos descompensados, se tratando do controle glicêmico (SOUSA; NÓBREGA; ARAKI, 2014).
Os sinais clínicos dessa patologia são influenciados pelas propriedades agressoras dos micro-organismos e pela habilidade do hospedeiro em resistir a essa agressão (BRANDÃO et al., 2011).
Assim como a periodontite, a gengivite como foi citado logo acima, é uma das principais doenças que acometem o periodonto. É uma inflamação superficial na gengiva, que independente das reações dela, permanece com a inserção e integração do epitélio ao dente intacta. Se não tratado o efeito o controle da doença eliminado o fator etiológico, as bactérias, corre o risco de perda de inserção (ALMEIDA et al., 2006).
A apresentação das características clínicas varia muito de indivíduo para indivíduo e entre sítios numa mesma dentição. Entre eles, os sinais e sintomas mais comuns, incluem a presença de placa, edema, sensibilidade, sem perda óssea, e reversibilidade (ANTONINI et al., 2013).
Já a periodontite pode ser descrita como uma inflamação responsável pela destruição dos tecidos de sustentação do elemento dental, isso acontece devido a evolução da gengivite, em que irá ocorrer a migração apical do epitélio funcional e a deterioração do ligamento periodontal (ALMEIDA et al., 2006).
Vale destacar que a placa bacteriana é o principal contribuinte para uma doença periodontal, seguido também por outros fatores, como uso de medicamentos, quando o paciente é tabagista, elitista, hábitos alimentares irregulares, e, também, o diabetes (OLIVEIRA, 2022).
3.2 Diabetes Mellitus como fator de risco para doença periodontal
O diabetes mellitus é definido como um aumento da quantidade de glicose circulante no sangue que está relacionada ao desequilíbrio dos carboidratos, assim como as complicações micro e macro cardiovasculares, além de alterações nos lipídios e proteínas (INZUCCHI; 2007).
O controle ineficiente da glicose em pacientes com diabetes mellitus, pode levar a alterações bucais. (OLIVEIRA et al., 2016). Nesse sentido, a patologia pode favorecer e aumentar o nível de gravidade e o avanço da doença periodontal, podendo sobretudo levar a uma resistência à insulina, criando um estado crônico e hiperglicêmico (ALVES et al., 2007).
Além da periodontite, a candidose oral é uma das manifestações bucais mais comuns em pacientes com diabetes descompensado e geralmente se manifesta nas seguintes formas clínicas: eritema (estomatite protética), queilite angular e glossite rombóide mediana (YAMASHITA et al., 2013)
Quando se tem dificuldade na cicatrização de um paciente com DM, é devido as alterações teciduais presentes no tecido conjuntivo e/ou vascular. No tecido conjuntivo, o metabolismo é prejudicado devido à diminuição da função e na quantidade de fibroblastos, que podem contribuir para a diminuição da síntese, da maturação e na conservação do colágeno e no aumento das células plasmáticas, ou seja, afetando a cicatrização. (BRANDÃO et al., 2011).
Há dois tipos de forma que a doença diabetes se propaga ou atua. O diabetes tipo 1 é uma doença crônica que consecutivamente está em evolução para a limitação na produção de insulina e hiperglicemia, por conta da destruição das células beta. Já o diabetes tipo 2 está relacionado a fatores como obesidade e sedentarismo, mais presente em pessoas com idade acima dos 40, e diferente do tipo 1, nesse caso ocorre a alta resistência à insulina, causando uma sobrecarga no pâncreas e como consequência a diminuição na produção desse hormônio (YAMASHITA et al., 2013).
3.3 A inter-relação entre a doença periodontal e o diabetes mellitus
O diabetes e a doença periodontal quando associados caracterizam um exemplo de como uma infecção oral pode agravar uma doença sistêmica, e quanto uma doença sistêmica pode facilitar para o acometimento de uma infecção oral. Consideradas como doenças de alta prevalência, tanto a periodontite quanto o diabetes mellitus apresentam aspectos semelhantes em relação à resposta inflamatória (OLIVEIRA et al., 2017).
A relação entre a doença periodontal e mais especificamente dentro da diabetes, com o controle glicêmico, se dá pelo alto nível de resistência a insulina quando entra em contato com a infecção bacteriana, onde carrega-se uma alta produção de mediadores inflamatórios (ALVES et al., 2007).
Fatores que influenciam a progressão e agressividade da doença periodontal em pacientes diabéticos incluem idade, duração, controle metabólico, microbiota periodontal, alterações nos vasos sanguíneos, alterações no metabolismo do colágeno, fatores genéticos e alterações nas respostas inflamatórias (SOUSA et al., 2003).
Em pacientes com doença periodontal, o ataque sistêmico persistente por bactérias periodontais patogênicas e seus produtos leva à regulação positiva da resposta inflamatória imune e aumento dos níveis séricos elevados de mediadores pró-inflamatórios (como IL-1β, TNF-α e IL-6). Infecção sistêmica conhecida, mas com uma forma mais resistente e crônica (NEWMAN; CARRANZA; 2020).
Níveis séricos elevados de várias citocinas, incluindo TNF-α e IL-6, estão associados ao aumento da resistência à insulina. Esse mecanismo explica a danificação do controle glicêmico associada à periodontite em estágio avançado (NEWMAN; CARRANZA; 2020).
É importante salientar que o ligamento periodontal de um paciente diabético se torna mais frágil, o que induz a quantidade de alterações no metabolismo obtidas pelo alto nível de glicose no sangue que ajudam a aumentar as chances de problemas periodontais e na alteração óssea (SAMARTINI et al., 2021).
O diabetes pode contribuir para uma piora no quadro, assim como também para a instalação de uma DP. Em contrapartida a doença periodontal também pode ser responsável pela alta resistência crônica à insulina, que pode acarretar elevação do nível de glicose no sangue (ALVES et al., 2007).
3.4 Conduta de atendimento odontológico e orientação para pacientes diabéticos
Ao realizar a anamnesedurante o atendimento, o profissional odontólogo pode se deparar com casos incomuns, em que é necessário agir de acordo com as necessidades dos pacientes, realizando um atendimento diferenciado (CARVALHO et al.; 2021).
A suspeita de diabetes mellitus deve ser investigada pelo cirurgião-dentista por meios de parâmetros que possam investigar a poliúria, polidipsia e perda de peso por meio da história clínica do paciente. A confirmação desses parâmetros possibilita o encaminhamento do paciente ao médico e laboratório para avaliação do estado de saúde, sendo que o tratamento dentário é iniciado somente depois dessa avaliação (SOUSA et al., 2003).
Mediante isso, o dever do cirurgião-dentista é estabelecer um diagnóstico seguido de orientações para prevenção de doenças, por meio de técnicas e conhecimento, preservando sempre o bem-estar e a saúde do paciente, de patologias como gengivite e periodontite, com orientações sobre a importância e o modo correto de higienização da saúde bucal (MARTINS et al., 2020).
Na área da Odontologia, em qualquer programa reservado ao paciente, ou seja, procedimentos, especificamente com a presença da patologia DM, alguns cuidados devem ser tomados, como verificar se a administração da insulina está correta, o horário da consulta ser curto e preferencialmente ao meio da manhã, a pressão é sempre aferida antes e depois da consulta. Os tecidos da cavidade devem ser processados em pouco tempo com a higiene bucal, para que não ocorram complicações, dificultando e demorando o processo de cicatrização, e as orientações de higiene bucal e dieta continuam no topo da lista em todas as consultas para prevenir e gerenciar doenças bucais (BRANDÃO et al., 2011).
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Oliveira et al. (2017) avaliaram a relação entre a doença periodontal e o diabetes, concluindo que pacientes diabéticos com um controle metabólico inadequado estão mais suscintos a desenvolver a doença periodontal, de modo que essa relação é bidirecional, ou seja, pacientes com periodontite avançada apresentam as mesmas alterações nas mudanças do fenótipo das células imunes e no aumento do nível sérico de citosinas inflamatórias do diabetes. Seguindo esse mesmo princípio, Alves et al. (2007) avaliaram que o controle da glicemia é uma das poucas maneiras de se reduzir o aumento da glicose no sangue, lembrando que o aumento do nível de açúcar no sangue por muito tempo e o seu controle ineficaz influencia na quantidade de malefícios, e os danos nos tecidos periodontais são maiores.
Em uma mesma linha de raciocínio, estudos feitos por Bello et al. (2011) mostraram que pacientes que fizeram a prevenção e o controle de doenças periodontais obtiveram um melhor resultado no tratamento e controle da glicemia, concluindo que a DM interfere nos níveis de glicose.
No trabalho de Negrão et al. (2019), foi constatado que a prevalência da doença periodontal é mais comum em um maior número de pacientes que apresentam o diabetes. Seguindo essa mesma linha, Martins et al. (2020) mostraram que em pacientes diabéticos com a presença de doença periodontal se torna mais recorrente em pacientes com diabetes tipo 1 do que os com tipo 2.
No estudo de Alves et al. (2007), foi verificado que a doença diabetes pode estar relacionada a diversos fatores que podem acarretar em uma doença periodontal, dentre elas está a produção de AGES que podem ser um dos principais fatores que levam a progressão e o aparecimento de uma doença periodontal, a redução na função dos neutrófilos, aumento na produção mediadores inflamatórios e alterações na saliva.
Yamashita et al. 2013, em seus resultados, encontraram que a diminuição na quantidade de saliva ou “boca seca” (hipossalivação) em pacientes diabéticos foi encontrado em 67% dos pacientes estudados, o que pode contribuir para a evolução da doença periodontal.
Brandão et al. (2011) citam que pacientes diabéticos precisam de cuidados redobrados em procedimento invasivos, como cirurgia por exemplo, porque a suscetibilidade a infecções no processo de cicatrização de feridas é maior devido ao fluxo sanguíneo estar em deficiência. Em concordância, Carvalho et al. (2021) citam que pacientes diabéticos com um alto quadro de hiperglicemia têm a cicatrização prejudicada, por conta do aumento da atividade das células e o aumento de fibroblastos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da pesquisa bibliográfica realizada, foi possível validar que a doença periodontal está associada ao diabetes mellitus, e o tratamento de ambas pode ser decisivo para o controle das doenças. Verificou-se que a dificuldade de manter um bom controle glicêmico pode estar associada a uma periodontite não tratada, e a progressão da periodontite pode estar relacionada com a diabetes descompensada.
Portanto, na consulta odontológica, a anamnese estruturada seguida de um exame clínico minucioso e exames complementares são essenciais para suspeita e diagnóstico de um possível quadro de diabetes mellitus. Assim como, é importante que o médico tenha conhecimento dessa inter-relação entre doença periodontal e diabetes e encaminhe o paciente diabético para o atendimento odontológico.
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1Centro Universitário Tocantinense Presidente Antônio Carlos – UNITPAC, Araguaína/TO, Brasil. E-mail: gustavosaraiva608@gmail.com; limasantosjaciara@gmail.com; anaroselino@gmail.com.