ALTERAÇÃO DA MOBILIDADE DO TORNOZELO DURANTE O PERÍODO MENSTRUAL EM PRATICANTES DE VOLEIBOL

ALTERATION OF ANKLE MOBILITY DURING MENSTRUAL PERIOD IN VOLLEYBALL PLAYERS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10961213


Elaine Alexandre Da Silva1
Wictor Hugo Alves Galindo2
Victória Cristina Amaral Da Silva3


Resumo

Introdução: O voleibol é o segundo esporte mais praticado no Brasil e seus adeptos aumentam a cada ano, sendo considerada a modalidade que as praticantes estão sujeitas a excessivos esforços físicos, que podem gerar lesões músculos esqueléticas, podendo estar associadas às variações hormonais do ciclo menstrual e influência na mobilidade. A fisioterapia tem a função de efetuar um diagnóstico cinético-funcional, produzindo o processo avaliativo de maneira minuciosa e assertivo. Objetivos: Avaliar as alterações na mobilidade do tornozelo, conforme os diferentes estágios do ciclo menstrual, entre mulheres praticantes de voleibol amador. Metodologia: Trata-se de um estudo exploratório de natureza descritiva com abordagem quantitativa, epidemiológica de corte transversal, que utilizou um questionário criado pelos próprios autores desse estudo e o teste Lunge para avaliar a amplitude de movimento do tornozelo. Resultados: O presente estudo teve como resultado a existência da relação de ganho de mobilidade do tornozelo no período menstrual infértil, visto que todas as 13 (treze) participantes obtiveram um aumento da mobilidade durante a menstruação, avaliada em centímetros com o teste Lunge.  Conclusão: A partir dos resultados, foi possível observar que o ciclo menstrual influência de maneira diferente na mobilidade do tornozelo em suas diversas fases. A alteração da mobilidade ao longo do ciclo menstrual pode potencializar as chances de lesões, havendo a necessidade de mais estudos e debates sobre a necessidade de fortalecimento muscular de maneira preventiva, com um acompanhamento direcionado e individualizado, realizado por fisioterapeutas.

Palavras-chave: Ciclo Menstrual, Fisioterapia, Hormônios, Tornozelo, Voleibol.

ABSTRACT

Introduction: Volleyball is the second most practiced sport in Brazil and its fans increase every year, being considered the modality that practitioners are subject to excessive physical exertion, which can generate musculoskeletal injuries, which may be associated with hormonal variations of the menstrual cycle and influence on mobility. Physiotherapy has the function of making a kinetic-functional diagnosis, producing the evaluation process in a thorough and assertive way. . Objectives: To evaluate changes in ankle mobility, according to the different stages of the menstrual cycle, among women who practice amateur volleyball. Methodology: This is an exploratory descriptive study with a quantitative, epidemiological cross-sectional approach, which used a questionnaire created by the authors of this study and the Lunge test to assess the range of motion of the ankle. Resultados: O presente estudo teve como resultado a existência da relação de ganho de mobilidade do tornozelo no período menstrual infértil, visto que todas as 13 (treze) participantes obtiveram um aumento da mobilidade durante a menstruação, avaliada em centímetros com o teste Lunge.  Conclusão: A partir dos resultados, foi possível observar que o ciclo menstrual influência de maneira diferente na mobilidade do tornozelo em suas diversas fases. A alteração da mobilidade ao longo do ciclo menstrual pode potencializar as chances de lesões, havendo a necessidade de mais estudos e debates sobre a necessidade de fortalecimento muscular de maneira preventiva, com um acompanhamento direcionado e individualizado, realizado por fisioterapeutas.

Keywords: Menstrual Cycle, Physical Therapy, Hormones, Ankle, Volleyball.

1 INTRODUÇÃO

O complexo do tornozelo é composto pelos ossos da tíbia, fíbula e tálus, juntamente com os maléolos medial e maléolos lateral do tornozel, é composto de 26 ossos do pé incluindo falanges, metatarsos e tarsos. É uma articulação classificada de articulação sinovial em gínglimo (em dobradiça), também conhecida como articulação talocrural (Magnaro et al., 2022).

A mobilidade articular é definida como a capacidade de uma articulação se movimentar dentro de uma certa amplitude de movimento proporcionando a realização de movimento em atividade física ou do cotidiano do indivíduo.  Uma mobilidade eficiente do tornozelo proporcionara movimentos mais coordenados e controlados, resultando em um movimento eficiente. Os componentes tais como articulações, ligamentos e músculos que formam o pé e o tornozelo apresentam importância fundamental na estabilidade e mobilidade do indivíduo (Flanagan, 2015).

O tornozelo é a região do corpo mais comum de ser lesionado, tanto na vida diária quanto na prática de esportes, especialmente em praticantes de esportes que envolvem movimentos bruscos e de impacto. O tornozelo pode sofrer lesões traumáticas como entorses, luxações, fraturas, contusões e a rupturas de tendões, que provocam dor e reduzem a capacidade funcional do tornozelo (Teixeira et al. 2013; Cristofoli et al., 2016).

Na prática de esporte como o voleibol, a lesão de tornozelo ocorre com frequência. Causada por diversos fatores, entre eles, a mudança brusca de direção, o contato físico com outros participantes, elevando o risco de lesões ligamentares (Santana, et al., 2021).

O voleibol é um esporte que utiliza de muito gestos motores de realização complexa e multidirecionais, que envolvem os seguintes movimentos: aterrissagens e saltos executados de maneira rápida e consecutivas entre 250 a 300 atos motores, que são realizados pelo praticante (Veiga, 2018). Sendo um dos esportes que tem o maior índice de entorses registrados entre os atletas praticantes. Essa lesão corresponde a cerca de 80% das lesões no voleibol, que tem como mecanismo a eversão e a inversão, essa representando cerca de 90% dos casos de entorse nesta modalidade esportiva (Kuhn, 2017).

O conhecimento sobre a biomecânica do voleibol leva ao entendimento que as lesões de entorse acontecem, em sua maioria, durante as aterrissagens dos saltos, podendo, o atleta, se lesionar sozinho, ou em um inadequado gesto motor ou até mesmo aterrissando sobre o pé de outro atleta, ocasionando uma lesão (Veiga, 2018).

Além de atividades físicas esportivas, algumas condições fisiológicas podem alterar a mobilidade de articulações. Este é o caso das alterações cíclicas e hormonais que decorrem do ciclo menstrual (CM). A secreção de hormônios femininos, como o estrogênio, progesterona e a relaxina apresentam elevada oscilação durante o ciclo menstrual. Cada hormônio que é secretado neste ciclo repercute no corpo humano como um todo, a progesterona atua reduzindo o tônus das musculaturas lisa, o estrogênio aumenta a flexibilidade articular, diminui a rigidez dos tendões e dos ligamentos, e relaxina provoca a frouxidão ligamentar, tendínea e articular, pois atua nas fibras de colágeno (Dehghan et al., 2014).

A fisioterapia desportiva possui uma grande responsabilidade quando se fala sobre prevenção de lesões no meio esportivo. As intervenções realizadas na fisioterapia, são sempre realizadas com o objetivo de analisar a eficiência e padrões fundamentais dos movimentos dos atletas, buscando identificar alterações na mobilidade e estabilidade nos padrões assimétricos (Veiga, 2018).

A prática clínica da fisioterapia desportiva está relacionada com a identificação, prevenção e tratamento de lesões causadas no âmbito esportivo e atua no sentido de possibilitar aos atletas o conforto e segurança na realização da prática esportiva, seja nas modalidades amadoras ou profissionais (Cruz; Felix; Oliveira, 2017).

Deste modo, emergiu o interesse por investigar se existem alterações no padrão de mobilidade do tornozelo de mulheres praticantes de voleibol amador, antes e após o período menstrual. Sendo o objetivo avaliar as alterações na mobilidade do tornozelo, conforme os diferentes estágios do ciclo menstrual, entre mulheres praticantes de voleibol amador.

O estudo tem relevância porque pouco tem sido pesquisado a respeito da possível associação entre as variações hormonais do ciclo menstrual, a mobilidade do tornozelo e a população feminina praticante do voleibol. As praticantes estão sujeitas a excessivos esforços físicos como por exemplo; saltar, desaceleração ou aceleração brusca do movimento, que podem gerar lesões músculos esqueléticas. Os estudos buscam pelos fatores que potencializam a lesão, com o objetivo de diminuir e/ou prevenir os agravos que as lesões podem causar (Ribeiro, 2014).

Os dados encontrados na presente pesquisa podem ser úteis para subsidiar orientações de educação em saúde para prevenção de lesões em atletas, instrumentalizar os cuidados da fisioterapia relacionada à prática desportiva, bem como contribuir para que as praticantes de voleibol tenham uma melhor consciência corporal a partir do conhecimento de que pode haver uma alteração hormonal que afete a mobilidade, inclusive do tornozelo e beneficiar-se dos procedimentos fisioterapêuticos para a prevenção dessas possíveis lesões.

2 METODOLOGIA

A pesquisa foi conduzida de acordo com a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, e aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade de Pernambuco nº 70805423.8.0000.0128. Todas as participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

Foi realizado um estudo exploratório, de natureza descritiva, do tipo quantitativo e epidemiológico de corte transversal, no período de agosto a setembro de 2023, utilizando dois instrumentos: um questionário aplicado de forma impressa, contendo 15 questões fechadas de múltiplas escolhas, e, para a verificação da mobilidade do tornozelo, foi utilizado o teste Lunge.

Foram incluídas no estudo praticantes de voleibol amadoras residentes no município de Arcoverde-PE, com idade entre 18 e 35 anos, que praticassem o voleibol pelo menos duas vezes na semana, praticassem durante o período menstrual e que tivessem ciclo menstrual regular. Participantes que realizaram cirurgia no tornozelo foram excluídas do estudo.

A amostra foi constituída por 13 participantes que realizaram o questionário e o teste Lunge durante os meses em questão. O questionário teve o objetivo de verificar o ciclo menstrual, lesões musculares e a frequência da prática da modalidade pelas participantes, além do teste Lunge, buscando avaliar a mobilidade do tornozelo.

Foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão para a amostra: as participantes deveriam, obrigatoriamente, praticar voleibol duas vezes por semana, ter, no mínimo, três meses de prática, praticar essa modalidade durante o período menstrual e possuir ciclo menstrual regular de 21 a 35 dias.

Quanto aos critérios de exclusão, foram estabelecidos: estar no período de menopausa, ter realizado cirurgia no tornozelo, não estar no intervalo de idade determinado nos critérios de inclusão e possuir lesões cutâneas nos pés.

A coleta de dados foi realizada na Clínica Escola de Fisioterapia da Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde (AESA), localizada no bairro São Cristóvão, município de Arcoverde-PE.

1) HÁ QUANTO TEMPO PRATICA O VOLEIBOL?
1 mês0
2 meses0
3 meses ou mais13
  
2) COM QUAL FREQUÊNCIA PRATICA O VOLEIBOL?
1 dia0
2 dias04
3 dias ou mais09
  
3) APRESENTA LESÕES CUTÂNEAS NOS PÉS (BOLHAS)?
Sim0
Não13
  
4) QUANDO ESTÁ NO PERÍODO MENSTRUAL PRATICA O VOLEIBOL?
Sim13
Não0
  
5) JÁ TEVE A PRIMEIRA MENSTRUAÇÃO?
Sim13
Não0
  
6) ESTÁ NA MENOPAUSA?
Sim0
Não13
  
7) QUANTOS DIAS PASSA MENSTRUANDO?
5 dias ou menos08
6 dias05
7 dias0
8 dias0
  
8) SENTE CÓLICA?
Não sente01
Leve06
Moderado04
Alto02
  
9) O CICLO MENSTRUAL DURA QUANTOS DIAS?
Menos de 21 dias03
Entre 21 e 35 dias10
Mais de 35 dias0
10) QUAL SEU GRAU DE RENDIMENTO DURANTE O CICLO MENSTRUAL?
Não sente0
Leve07
Moderado06
Alto0
  
11) QUAL O SEU GRAU DE CONCENTRAÇÃO DURANTE O CICLO MENSTRUAL?
Não sente0
Leve06
Moderado06
Alto01
  
12) JÁ SOFREU ALGUMA ENTORSE?
Sim13
Não0
  
13) A ENTORSE FOI NO PERÍODO MENSTRUAL?
Sim06
Não0
Não lembro07
14) QUANTAS ENTORSES?
1 vez08
2 vezes04
3 vezes ou mais01
  
15) JÁ REALIZOU CIRURGIA NO TORNOZELO?
Sim0
Não13

Fonte: Dados da pesquisa, 2023       

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

A fim de conhecer melhor o perfil das participantes em relação à prática do voleibol, foi aplicado um questionário com 15 questões, conforme informações a seguir:

Na primeira pergunta foi levantado o questionamento de há quanto tempo a participante praticava o voleibol e as treze participantes responderam que praticavam há mais de 3 meses.

A segunda pergunta realizada para as mulheres foi relacionada à frequência da prática do voleibol, das treze participantes, quatro responderam que praticavam o voleibol duas vezes na semana e nove participantes do estudo responderam que praticavam o voleibol mais de três dias na semana.

A terceira pergunta foi se apresentavam lesão cutânea na planta do pé (bolhas). As treze participantes responderam que não tinham lesões nos pés.

A quarta pergunta foi se durante o período menstrual praticava o voleibol, as treze participantes responderam que praticavam o voleibol mesmo durante o período fértil.

A quinta pergunta foi se a participante já havia tido a primeira menstruação (menarca). As treze participantes responderam “Sim”.

A sexta pergunta foi se a participante está no período da menopausa. As treze participantes responderam “Não”.

A sétima pergunta foi sobre quantos dias passa menstruando, das treze participantes, oito responderam que dura 5 dias ou menos e cinco participantes do estudo responderam que dura 6 dias. 

A oitava pergunta foi sobre o sintoma de cólica, das treze participantes, uma respondeu que não sente, seis participantes responderam que sente de forma leve, quatro responderam que sente de forma moderada e duas responderam que sente um alto incômodo.

A nona pergunta foi sobre a duração do ciclo menstrual, das treze participantes, três responderam que dura menos de 21 dias e dez participantes do estudo responderam que dura entre 21 e 35 dias. 

A décima pergunta foi sobre o grau de rendimento durante o ciclo menstrual, das treze participantes, sete responderam que o seu rendimento é leve e seis participantes do estudo responderam que o seu rendimento é moderado.

A décima primeira pergunta foi sobre o seu grau de concentração durante o ciclo menstrual, das treze participantes, seis responderam que o grau de concentração é leve durante o ciclo, seis participantes responderam que o grau de concentração é moderado e uma respondeu que o grau de concentração é alto.

A décima segunda pergunta foi relacionada à entorse. As treze participantes responderam que já tiveram entorse.

A décima terceira pergunta foi se a entorse foi no período menstrual, das treze participantes, seis responderam que sim e sete participantes responderam que não lembravam.

A décima quarta pergunta foi relacionada ao número de entorses sofridas, das treze participantes, oito responderam que 1 vez, quatro participantes responderam que 2 vezes e uma participante respondeu 3 ou mais vezes.

A décima quinta pergunta foi relacionada se havia realizado cirurgia no tornozelo. As trezes participantes responderam que não tinham realizado nenhum procedimento cirúrgico no tornozelo.

A fim de alcançar o objetivo final do presente estudo foi realizado o teste de Lunge, cujos resultados estão descritos na tabela 2.

Tabela 2: Resultados Do Teste De Lunge

PARTICIPANTEDistância do calcanhar até a parede (Durante menstruação) em cmDistância do calcanhar até a parede (Pós menstruação) em cmMobilidade (aumentada ou diminuída)
MÉDIA14cm12cm2cm
DP1,21,00,7
MÍNIMO12cm11cm1cm
MÁXIMO16cm14cm3cm
Fonte: Dados da pesquisa, 2023.  

A tabela com o resultado do teste Lung apresenta a distância do calcanhar até a parede nos períodos pós-menstrual e durante a menstruação, apresentando o resultado final quanto à mobilidade aumentada ou diminuída, a partir das mensurações.

As treze participantes obtiveram um aumento da mobilidade durante o período menstrual, com a média de 14cm de distância entre o calcanhar e a parede durante a menstruação e média de 12cm de distância entre o calcanhar e a parede no período pós menstruação.  Sendo o desvio padrão de 1,2 cm durante a menstruação e 1,0 cm no pós menstruação.

O valor mínimo encontrado foi de 12cm de distância entre o calcanhar e a parede durante a menstruação e mínimo de 11cm de distância entre o calcanhar e a parede no período pós menstruação.

O valor máximo de distância entre calcanhar e parede encontrado entre as participantes foi de 16cm durante a menstruação e valor máximo de 14cm no pós menstruação.

Esse estudo buscou analisar as alterações na mobilidade do tornozelo conforme os diferentes estágios do ciclo menstrual, entre mulheres praticantes de voleibol amador.

O estudo Ramos et al., 2018, investigou a força dos membros inferiores nas quatros fases do ciclo menstrual em 15 mulheres com idade entre 18 a 39 anos praticantes de musculação através da análise de Shapiro-Wilk dos resultados obtidos no aparelho leg press 45° durante todas as fases do ciclo menstrual. Os pesquisadores obtiveram o resultado que no período menstrual, a força é menor em relação aos outros períodos e inferiram a possibilidade de aumento natural da força após as semanas subsequentes. Na análise quantitativa, observaram que no período menstrual a força foi 198,6 ± 33,9 kg em relação ao Pós-Ovulatório 223,1 ± 38,9 kg obteve um aumento de força em 11%, concluindo assim, que algumas fases do ciclo menstrual podem afetar o desempenho da força muscular. Todos os resultados do estudo foram estatisticamente significativos.

Apesar de Ramos et al., 2018, terem investigado a força dos membros inferiores com um instrumento diferentes, do estudo atual apontou resultados correlativo com os achados que as variações dos hormônios durante o período menstrual influência tanto a mobilidade quanto o desempenho na fase menstrual (fase folicular).

Os autores KAMI et al., 2017, analisaram o desempenho funcional nas diversas fases do ciclo menstrual em 13 mulheres jovens e saudáveis, por meio dos três testes de desempenho funcional, utilizando o teste Side Hop Test (SHT), Figure of Eight Hop Test (F8T) e Modified Star Excursion Balance Test (mSEBT), nas três fases do ciclo menstrual (CM). Por meio dos testes funcionais utilizados, obtiveram o resultado que o desempenho funcional das mulheres do estudo foi influenciado pelas fases do ciclo menstrual, onde os piores resultados foram na fase menstrual, quando comparados às fases ovulatória e lútea para os testes de SHT e F8T, levando ao compreendimento da coordenação e velocidade das participantes e o mSEBT, não apontou alteração funcional nas fases do ciclo menstrual.

Mesmo utilizando instrumentos diferentes, o estudo atual apontou resultados semelhantes aos de Kami et al.,2017 com alteração relevante durante a menstruação.

No estudo de Maia et al., 2023, verificaram autopercepção do desempenho durante o ciclo menstrual em 17 mulheres praticantes de Crossfit®, buscando as alterações físicas e psicológicas que ocorrem durante o treinamento e quais modificações aconteciam no treinamento das praticantes de CrossFit®. Onde os autores utilizaram um questionário estruturado, contendo questões abertas e fechadas. Com base nos achados da pesquisa, foi verificado que mais da metade das mulheres apresentaram dificuldade em realizar o treinamento no período pré menstrual e/ou menstrual, sendo as alterações mais perceptíveis nesse período o cansaço, indisposição, fraqueza muscular e falta de força.

Apesar do estudo atual verificar o ganho da mobilidade da região do tornozelo durante a menstruação, pode-se inferir que corrobora com o estudo de Maia et al., 2023, visto que ambos analisam a existência da relação de alterações ocorridas no corpo advindas da alteração hormonal da menstruação, sendo o estudo de Maia ainda mais abrangente, ao estudar aspectos emocionais e psicológicos.

No estudo de Rutenberg, J et al., 2022, avaliaram os efeitos do ciclo menstrual no volume total de treino, associado à percepção subjetiva de esforço em cada fase do CM em 20 mulheres eumenorreicas. Onde foi realizado um treinamento para membros inferiores até a falha muscular momentânea nas quatro diferentes fases do ciclo menstrual, o teste realizado pelos autores foi de 10 repetições máximas (RMs) em três séries para cada grupos musculares da parte anterior e posterior da coxa e glúteo. Os resultados encontrados neste estudo apontam que o ciclo menstrual influenciou no volume total de treinamento e na percepção subjetiva de esforço. Os pesquisadores observaram uma maior percepção de fadiga nas fases menstrual e lútea, corroborando com os fatores hormonais, a queda do estrogênio que influencia negativamente e sua ausência afeta o desempenho de força no MMII.

Apesar de Rutenberg et al., 2022, terem utilizado instrumentos de avaliação diferentes do estudo atual, constataram que na fase menstrual e lútea ocorre um aumento da percepção de fadiga e consequentemente, a diminuição da força dos membros inferiores e maior desempenho foi relacionado à fase ovulatória e não ao período menstrual.

No estudo de Pereira, 2022, foi verificada a influência das fases folicular (FF) e ovulatória (FO) no desempenho físico de uma atleta de voleibol feminina de 16 anos, utilizando de teste físicos de força muscular, equilíbrio e agilidade. Sendo realizados na seguinte ordem: Y Balance Test (YBT), Salto Vertical (SV), Salto Horizontal (SH) e Agility Test-T (Test-T), realizados nas duas fases do CM. O resultado obtido pela autora indicou que as fases: folicular (FF) e ovulatória (FO) do ciclo menstrual da atleta feminina participante do estudo apresentou pequenas perspectivas de alterações, onde os resultados não foram estatisticamente significativos. Ressaltou que embora a tendência de significância tenha sido observada nos testes de explosão muscular com o teste SV e Teste-T, de modo geral, a influência das fases do CM no desempenho físico no presente estudo não foram expressivos.

Pereira, 2022, obteve o resultado de alterações nas fases FF e FO, por se tratar de um único indivíduo o resultado não foi expressivo para um resultado de alteração, porém, à nível de alteração fisiológica, tanto o estudo citado quanto a pesquisa atual pode-se inferir que o ciclo menstrual influência de maneira diferente o corpo feminino conforme a passagem por cada fase.

4 CONCLUSÃO

Existe relação entre mobilidade de tornozelo e ciclo menstrual, visto que as 13 (treze) participantes tiveram aumento da mobilidade durante a menstruação, avaliada em centímetros. A pesquisa suscitou a reflexão sobre prevenção, auto-observação e autoconhecimento, à medida que as participantes puderam observar a influência do ciclo menstrual sobre a mobilidade do tornozelo, que pode potencializar as chances de lesões, e sendo assim, refletirem sobre a necessidade de fortalecimento muscular específico de forma preventiva, bem como na busca do acompanhamento fisioterapêutico para realizar um protocolo de prevenção direcionado e individualizado.

O trabalho trazer uma contribuição importante para a sociedade acadêmica no sentido de suscitar a reflexão sobre como as alterações hormonais podem afetar atividades esportivas nas mulheres durante o período menstrual e provavelmente, essas alterações não se limitam ao voleibol nem tão pouco aos esportes, podendo influenciar até mesmo nas atividades diárias das mulheres durante o período menstrual, o que reforça a importância da prevenção e acompanhamento especializado, como os desenvolvidos por fisioterapeutas, através de protocolos individualizados e direcionados que fazem parte da Fisioterapia Preventiva e da Fisioterapia Desportiva.

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1 Docente do Curso Superior de Fisioterapia da Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde Campus Arcoverde. Mestranda em Práticas e Inovações em Saúde Mental pela Universidade de Pernambuco-UPE. e-mail: elaine.alexandrefisio@aesa-cesa.br,

2 Discente do Curso Superior de Fisioterapia da Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde Campus Arcoverde e-mail: wictorgalindofisio@gmail.com,

3 Discente do Curso Superior de Fisioterapia da Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde Campus Arcoverde e-mail:  victoriacristina705@gmail.com,