HEALTHY EATING IN CHILDHOOD: CHOICES FOR LIFE
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202411211744
Eugênio Rodrigues de Oliveira Neto1
Glaucia Gonçalves Pelizari1
Kelislânia Rezende da Silva1
Maria Vitória Canevari da Rocha Simão1
Renata de Fátima Vedana1
Rosangela Barbosa Corrêa Nunes1
Orientadora: Sara Janai Corado Lopes2
Orientadora: Márcia Ferreira Sales2
Resumo
Este relato aspira apresentar as experiências vivenciadas por acadêmicos do quarto período de medicina durante a culminância do projeto “Alimentação Saudável na Infância: Escolhas para a Vida” realizado em uma escola municipal, localizada no município de Porto Nacional, Estado de Tocantins. O projeto citado, foi realizado objetivando sensibilizar a respeito dos efeitos benéficos de hábitos alimentares saudáveis em crianças. Os métodos utilizados foram a elaboração e realização de dinâmicas lúdicas e interativas, com o objetivo de despertar o interesse do público alvo, ao final foram selecionadas as seguintes atividades: Jogo de Classificação de Alimentos, Oficina de Montagem de Pratos Coloridos e Jogo da Memória com Alimentos. Os resultados da aplicação dessas atividades culminaram com a promoção de um momento de descontração e aprendizagem, estimulando as crianças de maneira lúdica e interativa a desenvolverem um senso crítico para discernir entre alimentos saudáveis e não saudáveis. Portanto, conclui-se que as intervenções educativas tanto escolares como extraescolares são alternativas eficientes para proporcionar mudanças nos hábitos alimentares com enfoque nas crianças, contribuindo para o desenvolvimento de cidadãos cada vez mais preocupados com a questão nutricional, ao mesmo tempo que permite a melhoria dos índices de saúde, sendo, portanto, necessária a evolução e perpetuação de tais intervenções.
Palavras-chave: Alimentação. Escolar. Hábitos.
1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento saudável na infância depende de múltiplos fatores, sendo a alimentação adequada um dos mais relevantes. Uma dieta balanceada com alimentos ricos em nutrientes é essencial para atender às necessidades do organismo em crescimento (Kuhn e Merheb, 2021). No entanto, o Brasil vem apresentando um aumento preocupante nos índices de sobrepeso e obesidade entre crianças e adolescentes, um problema que reflete diretamente os hábitos alimentares desenvolvidos desde cedo. Segundo dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) do Ministério da Saúde, cerca de 1,4 milhão dos 4,4 milhões de adolescentes avaliados em 2022 foram diagnosticados com sobrepeso ou obesidade, condições muitas vezes associadas à má alimentação infantil (De Sá, 2023).
Paralelo a esses dados, o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI), realizado em 2019, revelou um padrão alarmante: o consumo de alimentos ultraprocessados atinge 80,5% entre crianças de 6 a 23 meses, 66% entre crianças de 6 a 11 meses e chega a 93,0% entre crianças de 24 a 59 meses. Representando uma progressiva degeneração da qualidade alimentar brasileira atingindo faixas etárias cada vez menores.
Para melhorar esse cenário, o Ministério da Saúde desenvolveu o Guia Alimentar para a População Brasileira, com a finalidade de educar a população sobre os diferentes tipos de alimentos e estabelecer diretrizes de uma dieta adequada para cada fase do desenvolvimento infantil (Araújo, Freitas e Lobo, 2021). De acordo com o Guia, os alimentos são classificados em quatro categorias com base no nível de processamento: alimentos in natura (frutas, verduras, carnes), ingredientes culinários processados (óleos, açúcar), alimentos processados (queijos, pães) e ultraprocessados (refrigerantes, biscoitos, refeições congeladas) (Brasil, 2020).
Ademais, a saúde das crianças e adolescentes está diretamente ligada aos seus hábitos alimentares. O consumo excessivo de alimentos processados e ultraprocessados na dieta representa um risco significativo para o desenvolvimento de patologias crônicas, como obesidade e aterosclerose, na vida adulta (Pereira e Xavier, 2024). Dessa forma, a promoção de uma alimentação saudável desde a infância não somente promove o desenvolvimento físico e mental adequado, mas também contribui para melhorar os indicadores de saúde pública ao longo do tempo, reduzindo a incidência de doenças crônicas na população brasileira.
Nesse viés, a escola torna-se um ambiente propício para incentivar a educação alimentar, uma vez que além de transmitir novos conhecimentos de maneira lúdica, possibilita o acesso a comidas nutritivas ao mesmo tempo que interagem e realizam atividades favoráveis para uma alimentação saudável (Popper, 2024). Somado a isso, as atitudes das crianças influenciam diretamente o ambiente familiar, por sua vez afetando a sociedade, tornando-a um agente ímpar para o combate à alimentação desbalanceada e suas repercussões para o bem-estar social (Henriques et al, 2021).
Portanto, a escolha dos alimentos consumidos durante a primeira etapa da vida interfere de maneira significativa no desenvolvimento e saúde do indivíduo, nesse viés, este artigo vem com o objetivo de sensibilizar a respeito dos efeitos de hábitos alimentares saudáveis em crianças, por meio do relato de uma intervenção em sociedade realizada por acadêmicos do quarto período medicina em uma escola municipal no município de Porto Nacional – TO.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Os fatores de influência na cultura alimentar
A história da humanidade, ao longo do tempo, foi marcada por diversas inovações tecnológicas, o que inclui, sobretudo, a produção e o consumo alimentar. Nesse sentido, cabe analisar a alimentação não apenas como o hábito de garantir nutrientes para suprir as demandas fisiológicas, mas como uma expressão também simbólica e cultural do meio social, que passou a sofrer influência do novo modelo globalizado de consumo, cada vez mais prevalente socialmente (Silva et al., 2021).
Em vista dessa conjuntura, Contreras e Gracia (2005) trazem em sua produção literária uma perspectiva ampla da alimentação, em que é possível entendê-la muito além do processo convencional de preparação e consumo voltado aos aspectos biológicos, mas como uma forma de relacionar o ser humano ao seu meio social, tendo em vista que os hábitos alimentares estão intimamente relacionados com a expressão de padrões culturais que envolvem aspectos como crenças, costumes familiares, noções éticas, religiosidade e sociabilidade. Nesse viés, os autores ainda elucidam o papel significativo da comida como expressão social, por vezes, associado a hábitos que reafirmam status e relações entre os participantes.
Dessa maneira, é possível entender que a cultura alimentar é uma associação de todos os aspectos que envolvem o indivíduo e por isso, é passível de sofrer influência do meio em que está inserido, sendo necessário fazer uma reflexão contextualizada sobre as práticas alimentares, de forma que desperte a necessidade de compreender que os determinantes comportamentais da prática alimentar advém desse contexto de inserção e por isso é imprescindível entender a extensão social da alimentação (Verthein e Amparo-Santos, 2021).
Nesse cenário, o desenvolvimento tecnológico tanto no âmbito social como na produção alimentar, provoca uma modificação da relação entre o ser humano e o alimento, e principalmente das suas práticas de produção que passam a ressignificar o alimento como mercadoria e trazem uma carga de homogeneização do consumo alimentar, em decorrência da força de interferência que as indústrias ganham na prática alimentar (Silva et al., 2021). Consequentemente, esse quadro materializa o conceito de globalização alimentar, um fenômeno em que há uma mudança nos moldes alimentares de uma sociedade que anteriormente eram tradicionais, prezando pelo consumo de alimentos locais, e passam a ser majoritariamente compostos por alimentos ultraprocessados e fast-foods, configurando uma homogeneização dessa prática (Hendler et al., 2021).
Ainda, o trabalho de Pineda et al. (2023) elucida, entre outras questões fundamentais ligadas ao consumo alimentar, a intrínseca influência da publicidade de alimentos na escolha dos mesmos pelo consumidor, sendo determinante nas preferências e comportamento de compra. Nessa circunstância, compreende-se que a mudança no sistema alimentar, de maneira global, como efeito das atuais organizações de produção e consumo, acarreta – entre outras problemáticas – a elevação da mortalidade e morbidade por doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) mundialmente (Hendler et al., 2021; Pineda et al., 2023).
2.2 A cultura familiar e o impacto nos hábitos alimentares
O ser humano não vem ao mundo com uma cultura pré-definida; esta é desenvolvida por meio do convívio em sociedade (Vygotsky, 2013). De forma semelhante, acredita-se que o indivíduo não nasce com preferências por açúcar, gorduras ou refrigerantes; ele desenvolve o gosto por esses sabores ao longo da experiência, influenciado pelo ambiente social e familiar, especialmente na infância (Piasetzki et al.,2020).
Nesse contexto, na infância, inicia-se o desenvolvimento das preferências alimentares, juntamente com o crescimento físico, social, cognitivo e emocional do indivíduo. Ao longo desse processo, as crianças formam hábitos alimentares que são fortemente influenciados pela convivência familiar e social (Ventura et al.,2022). O ambiente familiar, portanto, é essencial para moldar os hábitos alimentares das crianças, que tendem a seguir os exemplos dos pais, impactando suas preferências e a variedade em suas dietas (Monteiro et al., 2022).
Segundo Piasetzki et al. (2020), todas as ações dos adultos são observadas e internalizadas pelas crianças, destacando o poder da família na influência da formação dos hábitos alimentares e estilos de vida do público infantil, além deles serem responsáveis pela aquisição e acessibilidade dos alimentos. Dessa forma, as crianças consomem e preferem alimentos mais nutritivos quando estes estão disponíveis em casa e os pais também os consomem (Teixeira et al.,2023).
Um exemplo dessa influência familiar é evidenciado por um estudo realizado por Silva et al. (2021) com crianças de 6 a 9 anos que apresentavam características de sobrepeso. O estudo revelou que a maioria dos pais ou responsáveis também apresentava essa característica, destacando que, além da genética, fatores como a transmissão de estratégias alimentares moldam o comportamento alimentar das crianças.
Ainda, outro aspecto a ser considerado na cultura familiar são as refeições realizadas em conjunto, que contribuem para uma melhor qualidade e variedade alimentar, além de proporcionar momentos de alegria (Ventura et al.,2022). Ademais, segundo Teixeira et al. (2023), os padrões alimentares são mais saudáveis quando as famílias preparam suas próprias refeições, evitando produtos industrializados. Além disso, as crianças tendem a consumir mais frutas quando compartilham as refeições com a família.
2.3 O papel da alimentação saudável no desenvolvimento infantil e sua relação com o meio escolar
Com relação a influência biológica da alimentação, é inevitável o seu papel fundamental no suprimento das demandas metabólicas exigidas na fase de desenvolvimento infantil, tendo em vista que a ausência dos nutrientes necessários nesse momento pode acarretar consequências não só físicas, como mentais e emocionais à criança, impossibilitando o desenvolvimento pleno dos aspectos cognitivos, comportamentais e humorais (De Sá et al., 2023).
Nessa perspectiva, o material produzido pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) de 2019, aborda como a vida no planeta trouxe mudanças significativas, principalmente nas formas de alimentação, demonstrando uma mudança dos padrões alimentares tradicionais para uma disponibilidade de alimentos ricos em gorduras e açúcares e pobres em nutrientes essenciais, o que corrobora o cenário de má nutrição das crianças atualmente. Em suma, o material aborda dois pontos importantes: a desnutrição como um fator de vulnerabilidade que ainda atinge expressivamente as crianças, acarretando deficiências no crescimento e impedindo o desenvolvimento dos potenciais físicos e intelectuais plenamente e, ainda, a obesidade como o outro extremo que tem acometido grande parcela de indivíduos nessa faixa etária e representa um risco aumentado para desenvolvimento de doenças não transmissíveis.
Isto posto, de acordo com De Sá et al. (2023), dois fatores exercem influência direta na formação dos hábitos alimentares das crianças: a família e a escola, uma vez que ambos são ambientes onde ocorre a consolidação do aprendizado e o desenvolvimento de padrões comportamentais. Nesse contexto, Kroth et al. (2020) ratifica tal panorama ao abordar a escola como um espaço fundamental na formação de comportamentos e estilos de vida, o que denota a possibilidade de reafirmação do âmbito escolar como um espaço de promoção de hábitos de vida mais saudáveis.
Diante desse cenário, segundo Caetano et al. (2022), a escola desempenha um papel fundamental na promoção de hábitos alimentares saudáveis, já que muitas refeições são realizadas nesse ambiente. Além disso, os autores destacam que a escola incentiva os alunos a refletirem criticamente sobre suas escolhas alimentares, promovendo atitudes mais saudáveis e uma melhor qualidade de vida, no entanto, o desafio é conscientizá-los para que adotem hábitos mais saudáveis.
Sob esse viés, a Política Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) – estabelecido pela Lei nº 11.947 de 2009 – surge nas escolas com o objetivo de contribuir para o crescimento e desenvolvimento biopsicossocial dos alunos, além de melhorar a aprendizagem, o rendimento escolar e promover a formação de hábitos alimentares saudáveis. Assim, a escola se torna um ambiente propício para a implementação de ações de educação alimentar e nutricional, onde o ato de comer pode ser, ao mesmo tempo, uma prática educativa, tanto dentro quanto fora do ambiente escolar (Kroth et al., 2020).
Esta revisão ressalta que, embora avanços tenham sido feitos, o combate aos desafios relacionados à alimentação saudável e ao consumo consciente ainda requer aprofundamento e estratégias eficazes para serem amplamente compreendidos e implementados.
3. METODOLOGIA
A metodologia adotada para este projeto foi a observação participante, uma abordagem que permite ao pesquisador um envolvimento direto com as características treinadas, participando das atividades realizadas e interagindo com os indivíduos participantes.
Nesse contexto, os acadêmicos do quarto período do curso de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos (ITPAC), na disciplina Práticas Interdisciplinares de Extensão, Pesquisa e Ensino IV (PIEPE IV), conduziram atividades lúdicas e educativas com o objetivo de promover práticas alimentares saudáveis entre as crianças. Assim, o lócus do projeto foi em uma escola municipal de Porto Nacional, Tocantins, abrangendo um público de aproximadamente 85 crianças de 2 a 5 anos, matriculadas do maternal ao 2º período, sendo essa escolha de ambiente fundamentada na necessidade de conscientizar a comunidade escolar sobre os benefícios de uma alimentação equilibrada para a saúde e o desenvolvimento infantil.
Dessa forma, o projeto foi desenvolvido nessa escola municipal, a qual ofereceu a infraestrutura necessária, incluindo o espaço físico, o público-alvo e o apoio da equipe pedagógica que acompanhou e colaborou nas atividades com as crianças, em parceria com o Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos.
A idealização do projeto ocorreu em diversas etapas, começando com uma visita à instituição para compreender o contexto dos alunos. Durante esta visita, as funcionárias mencionaram que muitos alunos apresentam dificuldades para se adaptar à alimentação saudável. Diante disso, essa abordagem busca prevenir a obesidade infantil e doenças como diabetes tipo 2, hipertensão e dislipidemias, que podem surgir precocemente ou se manifestar na vida adulta. Portanto, o projeto foi planejado durante as aulas práticas do PIEPE IV e posteriormente, foi redigido sob orientação e avaliado por uma banca examinadora para garantir a coerência entre os objetivos e as atividades propostas.
Na fase de implementação, as atividades foram projetadas para capacitar as crianças com conhecimentos sobre nutrição e incentivá-las a adotar práticas alimentares saudáveis. Para isso, ocorreu o desenvolvimento de jogos interativos, como o Jogo de Classificação de Alimentos, onde as crianças classificam diferentes alimentos nas categorias “Saudável” e “Não Saudável”; a Oficina de Montagem de Pratos Coloridos, na qual as crianças aprendem a montar pratos balanceados, entendendo a importância da variedade de alimentos e nutrientes; e o Jogo da Memória com Alimentos, que visa aprimorar a memória visual e o conhecimento sobre alimentos saudáveis. Dessa forma, o projeto buscou sensibilizar as crianças sobre a importância de escolhas alimentares conscientes, promovendo uma geração com hábitos alimentares mais saudáveis e incentivando-as a levar os conhecimentos adquiridos para suas casas e familiares.
Ademais, visto que este trabalho se enquadra em um projeto de extensão, dispensou a submissão pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), uma vez que não teve coleta de dados e informações que possam identificar os envolvidos na ação.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1. Alterações nos hábitos alimentares
Durante o desenvolvimento do projeto, uma das principais expectativas foi a melhoria nos hábitos alimentares das crianças. Nesse sentido, por meio das atividades lúdicas e educativas, como o Jogo de Classificação de Alimentos, a Oficina de Montagem de Pratos Coloridos e o Jogo da Memória com Alimentos, as crianças foram incentivadas a reconhecer e distinguir os alimentos saudáveis dos alimentos ultraprocessados.
Buscou-se, assim, um aumento significativo no consumo de alimentos saudáveis e uma redução no consumo de alimentos ultraprocessados após a realização das atividades do projeto, de modo que a intervenção tenha um impacto positivo na alimentação das crianças, alinhando se com outros estudos que apontam que a educação alimentar é eficaz na modificação de hábitos alimentares (Ventura et al., 2022; Kroth et al., 2020).
4.2. Conhecimento sobre grupos alimentares
Uma das ações-chave do projeto foi promover o conhecimento das crianças sobre os diferentes grupos alimentares e suas funções. Em vista disso, durante as atividades, as crianças aprenderam, por exemplo, a montar um prato colorido e nutritivo, o que proporcionou uma maior compreensão sobre o papel de uma dieta equilibrada e diversificada.
Antes da intervenção, muitas crianças demonstraram não entender a importância dos diferentes grupos alimentares e de se ter uma alimentação saudável, enquanto após as atividades, os alunos conseguiram identificar corretamente os alimentos saudáveis, montando um prato colorido e nutritivo. Consequentemente, essa mudança indica que as crianças foram capazes de internalizar informações sobre alimentação saudável e agora possuem maior consciência sobre a importância de uma dieta equilibrada.
4.3. Impacto nas escolhas alimentares das famílias
Além de observar mudanças nas escolhas alimentares das crianças, o projeto também buscou envolver as famílias no processo de conscientização. Durante as atividades realizadas, observou-se que as crianças estavam mais dispostas a compartilhar os conhecimentos adquiridos com seus familiares, o que possibilitou mudanças nas práticas alimentares em casa. Dessa forma, a interação familiar foi incentivada, por meio de jogos educativos e informações sobre nutrição, tendo em vista que as crianças adquiriram conhecimentos que podem compartilhar com seu núcleo familiar, levando os pais a refletirem sobre os alimentos que consumiam e ofertavam para as crianças.
Esses resultados corroboram com a ideia de que, ao promover o conhecimento nutricional nas crianças, o impacto se estende para o ambiente familiar, repercutindo nas escolhas alimentares dos adultos também (Piasetzki et al., 2020; Teixeira et al., 2023).
4.4. Desenvolvimento da consciência crítica sobre alimentação
Um dos objetivos centrais do projeto foi estimular o senso crítico das crianças sobre suas escolhas alimentares. Então, com o uso de atividades como o Jogo de Classificação de Alimentos, as crianças foram incentivadas a refletir sobre os benefícios dos alimentos saudáveis e as consequências dos alimentos ultraprocessados.
Diante disso, a alimentação inadequada nas primeiras fases da vida configura um quadro social preocupante, tendo em vista que os primeiros dias de uma criança são fundamentais no que diz respeito ao desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e social, sofrendo influência de diversos fatores intrínsecos e extrínsecos, dentre eles o estado nutricional, de maneira que alterações nos mecanismos nutricionais e metabólicos influenciam a programação metabólica de um indivíduo ao longo do tempo (Backes & Cancelier, 2018). Como efeito, ações lúdicas voltadas ao desenvolvimento de um estado crítico na escolha alimentar das crianças, sobretudo acerca do que é saudável e do que não é saudável, possibilitou a sensibilização dessa faixa etária quanto a importância de se alimentar com escolhas melhores dentro do contexto social daquele núcleo familiar, o que promove um impacto não só de maneira individual, mas repercute coletivamente na comunidade.
Com isso, após a aplicação da atividade, as crianças demonstraram uma compreensão mais clara sobre os benefícios de uma alimentação saudável, refletindo um aumento na conscientização em relação à saúde e ao bem-estar, que pode ser atribuído à natureza interativa e lúdica das atividades, que estimulam o pensamento crítico de maneira divertida e envolvente.
4.5. Contribuições para a saúde pública e educação alimentar
A promoção de hábitos alimentares saudáveis nas escolas é uma estratégia reconhecida pela Política Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e outras políticas públicas de saúde (Caetano et al., 2022). Nesse contexto, os resultados obtidos neste projeto indicam que a escola pode desempenhar um papel crucial na prevenção da obesidade infantil e outras doenças relacionadas aos maus hábitos alimentares. Desse modo, a sensibilização das crianças desde cedo sobre a importância de escolhas alimentares saudáveis contribui para a construção de uma geração mais consciente e saudável, capaz de tomar decisões informadas sobre sua alimentação ao longo da vida.
Em comparação com outros estudos sobre intervenções escolares (Kroth et al., 2020; Pereira e Xavier, 2024), os resultados deste projeto confirmam que ações educativas no ambiente escolar, aliadas a estratégias de participação ativa das crianças, podem gerar mudanças significativas nos hábitos alimentares, tanto no contexto escolar quanto familiar. Assim, o impacto positivo observado neste projeto reflete essa realidade, demonstrando que a educação alimentar é um vetor importante na promoção da saúde pública.
4.6. Limitações Encontradas
Embora os resultados obtidos sejam positivos e tenham contribuído significativamente para a melhoria dos hábitos alimentares das crianças e, por consequência, suas famílias, é importante considerar que as mudanças no comportamento alimentar são graduais e multifacetadas, sendo influenciadas por fatores como o ambiente socioeconômico, a disponibilidade de alimentos saudáveis e o suporte contínuo da comunidade escolar e familiar.
Além disso, a continuidade das atividades de conscientização e a manutenção do apoio à educação alimentar são essenciais para garantir que os resultados sejam sustentáveis a longo prazo. Nesse sentido, a escola deve tornar-se um ponto de referência para a promoção de hábitos alimentares saudáveis, o que depende do envolvimento contínuo de professores, pais e gestores.
Outrossim, os resultados do projeto indicam um impacto significativo na mudança dos hábitos alimentares das crianças e de suas famílias, mostrando a importância das intervenções educativas no contexto escolar. Por conseguinte, a promoção de uma alimentação saudável desde a infância não apenas contribui para a prevenção de doenças crônicas, como também fomenta uma geração mais saudável e consciente de suas escolhas alimentares. Logo, o sucesso do projeto evidencia o potencial das ações educativas e lúdicas no fortalecimento de hábitos saudáveis, com repercussões positivas no nível individual e comunitário.
Portanto, esses resultados reforçam a necessidade de se continuar investindo na educação alimentar nas escolas e na colaboração entre a comunidade escolar e as famílias para garantir que as gerações futuras tenham uma base sólida para escolhas alimentares saudáveis, promovendo saúde e bem-estar ao longo de suas vidas.
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto “Alimentação Saudável na Infância: Escolhas para a Vida” demonstrou o impacto positivo de atividades educativas para promover hábitos alimentares saudáveis entre crianças em idade pré-escolar. Desse modo, por intermédio de jogos e oficinas lúdicas, as crianças puderam aprender sobre a importância da alimentação balanceada de uma forma que despertou seu interesse e facilitou a internalização dos conceitos. Durante a realização da intervenção foi-se observada uma participação ativa e entusiástica do público-alvo, tornando o momento não somente educativo e construtivo, mas também prazeroso e divertido, possibilitando uma maior penetração das ações propostas.
Durante o planejamento do projeto foram encontrados alguns obstáculos como a necessidade de adequação das atividades para que além de estarem em consonância com a capacidade cognitiva dos estudantes, fossem dinâmicas e interativas, captando assim a atenção do público infantil. Outro aspecto observado, foi a baixa participação dos familiares nas atividades escolares e extra classe promovidas pela instituição, impossibilitando a inserção do núcleo família como alvo das dinâmicas explanadas neste relato.
Em suma, é notório a necessidade a continuação e expansão do incentivo acerca da alimentação saudável na primeira fase da vida, por meio de uma integração multisetorial, de várias agentes governamentais e não governamentais, para a realização de ações semelhantes às realizadas nesse projeto e voltadas não somente para a população pediátrica em ambiente escolar, mas incluindo o ambiente familiar e a sociedade em geral, com a finalidade de estimular uma melhora alimentar a curto, médio e longo prazo para que de fato sejam observadas mudanças significativas nos atuais índices de saúde.
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1Discentes do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Campus Porto Nacional-TO.
2Docentes do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Campus Porto Nacional-TO.