REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202506032201
Cláudia Farias Borges1
Maria Alzira Leite2
RESUMO
A alfabetização e o letramento são processos essenciais para o desenvolvimento cognitivo e social das crianças, e a Educação Infantil desempenha um papel importante ao proporcionar experiências significativas com a linguagem escrita. Diante disso, este ensaio, tem como objetivo geral refletir sobre as práticas de alfabetização e letramento, e tem como específicos: destacar as práticas pedagógicas que não apenas ensinam um código escrito, mas que também promovam uma compreensão crítica, socialmente contextualizada da linguagem, contribuindo para uma formação mais integral e democrática dos educandos. Este estudo adota uma abordagem qualitativa, com um procedimento bibliográfico. O procedimento bibliográfico, por sua vez, possibilita a sistematização e a reflexão crítica sobre produções acadêmicas e teóricas já consolidadas, contribuindo para a fundamentação e o aprofundamento da discussão proposta. Conclui-se, portanto, que a adoção de práticas dialógicas, que favoreçam a interação, o debate e a participação ativa dos alunos, é essencial para a formação de sujeitos letrados, críticos e autônomos, capazes de interpretar, questionar e transformar a realidade.
Palavras-chave: Alfabetização. Letramento. Práticas Pedagógicas.
1 INTRODUÇÃO
A alfabetização e o letramento são processos essenciais para o desenvolvimento cognitivo e social das crianças, e a Educação Infantil desempenha um papel importante ao proporcionar experiências significativas com a linguagem escrita. No entanto, o debate sobre as práticas mais eficazes para alfabetizar e letrar nessa fase escolar é marcado por diferentes perspectivas teóricas e metodológicas.
Enquanto algumas abordagens defendem uma intervenção diretiva, às vezes, privilegiando a memorização e a decodificação dos signos gráficos, outras valorizam a construção autônoma do conhecimento pela criança, por meio da interação com a linguagem escrita em contextos significativos. Estudos como os de Oliveira (2021) e Persicheto e Argenti (2023) destacam a importância de integrar o aprendizado da linguagem escrita ao cotidiano dos aprendizes, tornando a alfabetização uma experiência mais significativa e relevante para suas vidas.
A leitura e a escrita são processos essenciais para a compreensão e a expressão das múltiplas formas de comunicação, possibilitando a apropriação dos saberes historicamente construídos pela humanidade. Por meio da alfabetização e da aprendizagem, o indivíduo exerce seu papel social como cidadão, tornando-se capaz de interpretar, transformar e produzir novos conhecimentos.
Diante disso, este ensaio, tem como objetivo geral refletir sobre as práticas de alfabetização e letramento, e tem como específicos: destacar as práticas pedagógicas que não apenas ensinam um código escrito, mas que também promovam uma compreensão crítica, socialmente contextualizada da linguagem, contribuindo para uma formação mais integral e democrática dos educandos.
Este estudo adota uma abordagem qualitativa, com um procedimento bibliográfico. A pesquisa qualitativa, conforme destaca Minayo (2014), é fundamental para a compreensão de fenômenos complexos, pois permite uma análise aprofundada dos dados, considerando os significados atribuídos pelos sujeitos aos fenômenos investigados. O procedimento bibliográfico, por sua vez, possibilita a sistematização e a reflexão crítica sobre produções acadêmicas e teóricas já consolidadas, contribuindo para a fundamentação e o aprofundamento da discussão proposta.
2 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: REVISÃO DE LITERATURA
A alfabetização e o letramento, enquanto processos educativos, vão além da simples decodificação de símbolos. Segundo Freire, a educação deve ser uma prática de liberdade, onde o ato de ler o mundo precede o ato de ler a palavra. Freire (1983) enfatiza que a alfabetização deve ser um processo crítico e dialógico, onde os educandos são encorajados a refletir sobre sua realidade e, a partir dessa compreensão, transformar suas condições de vida. Essa perspectiva propõe que a educação não é neutra, mas um ato político que empodera os indivíduos ao possibilitar-lhes uma leitura crítica do mundo.
Soares (2005) contribui para essa discussão ao destacar a diferença entre alfabetização e letramento. A autora ressalta que a alfabetização refere-se ao processo de aquisição do sistema de escrita, enquanto o letramento diz respeito ao uso social dessa escrita. Em sua visão, a educação escolar não apenas ensina as técnicas de leitura e escrita, mas também prepara os alunos para utilizar essas habilidades de forma crítica e significativa no contexto social em que vivem. Assim, a escola deve ser um espaço que promova tanto a alfabetização quanto o letramento, garantindo que os alunos se tornem proficientes na leitura e escrita e também capazes de interpretar e produzir textos em diversos contextos sociais.
Kleiman (2005) reforça a ideia de que as práticas de letramento são profundamente influenciadas pelo contexto social e cultural. Ela argumenta que o letramento não pode ser compreendido como uma habilidade universal, mas sim como uma prática social que varia conforme as exigências e expectativas de cada comunidade. Portanto, as práticas escolares de letramento devem considerar as práticas sociais existentes fora da escola, integrando-as ao currículo de modo a tornar a aprendizagem mais significativa e relevante para os alunos. A educação deve, portanto, ser um processo inclusivo, que respeite e valorize a diversidade cultural dos educandos.
Ao integrar as contribuições de Freire (1984), Soares (2012) e Kleiman (2002), é possível perceber que a alfabetização e o letramento são processos interdependentes que relevam de uma abordagem pedagógica que vai além do ensino tradicional. A educação deve ser transformadora, permitindo que os alunos não apenas adquiram habilidades técnicas, mas também se tornem cidadãos críticos e atuantes em suas comunidades. Dessa forma, a escola assume um papel central na promoção de uma educação que seja ao mesmo tempo libertadora e integradora, capaz de atender às demandas do mundo contemporâneo e preparar os alunos para enfrentar os desafios sociais e culturais de forma crítica e reflexiva.
Albuquerque (2007) situa o final do século XIX como o período em que a alfabetização, compreendida como o ensino das habilidades de codificação e decodificação, adentrou o espaço escolar por meio da sistematização de diferentes métodos. Naquele contexto, a ênfase metodológica não era central, visto que a aprendizagem da leitura e da escrita era comumente associada à mera decodificação e codificação. Prevalecia, portanto, uma concepção de alfabetização baseada na soletração, na memorização de consoantes e vogais, sem a devida atenção à relação entre som e grafema.
Ainda segundo Magda Soares (2003), a alfabetização é o processo no qual o educando unifica o alfabeto e sua forma de utilização como meio de comunicação que vai prepara-lo para aprender a ler e escrever, e através desse conhecimento ele estará apto a conseguir desenvolver as suas habilidades de leitura e escrita no decorrer de sua jornada escolar. Uma criança que é letrada é capaz compreender qualquer informação feita através de um texto, jornal, revista e saberá interpretar sem dificuldade.
O letramento, conceito mais abrangente que a alfabetização, transcende a mera decodificação de textos. Ele se configura como o resultado da inserção do indivíduo ou do grupo social nas práticas sociais da leitura e da escrita. Enquanto o alfabetizado domina as habilidades básicas de ler e escrever, o letrado utiliza essas habilidades de forma crítica e reflexiva, interagindo com o mundo letrado de maneira significativa (Soares, 2006).
Oliveira (2021) ressalta que a perspectiva dialógica é fortemente enfatizada, destacando a relevância de práticas pedagógicas que consideram os contextos rurais e as especificidades das populações campesinas. Oliveira sugere que a alfabetização e o letramento devem ser adaptados às realidades dos alunos, valorizando suas culturas e modos de vida como forma de promover uma educação mais inclusiva e significativa.
Persicheto e Argenti (2023) salientam que uma discussão sobre alfabetização e letramento no contexto da Educação Infantil reforça a importância de práticas pedagógicas que consideram o brincar como elemento central do aprendizado. Os autores argumentam que uma introdução precoce à leitura e escrita deve ser feita de maneira lúdica e natural, respeitando o desenvolvimento infantil e as experiências culturais dos alunos. Essa abordagem busca criar um ambiente de aprendizagem mais envolvente e motivador, permitindo que as crianças desenvolvam uma relação positiva com a linguagem escrita desde cedo.
Nessa linha, Menezes (2020) aborda a alfabetização como um processo que deve ser reflexivo e contínuo, enfatizando a importância de práticas docentes que consideram as necessidades e contextos específicos dos alunos. Ela ressalta que a alfabetização vai além do ensino de habilidades básicas de leitura e escrita, envolvendo a construção de significados e a capacidade de usar a linguagem de forma funcional e crítica em diferentes situações. Esse enfoque destaca a necessidade de práticas pedagógicas que promovam a interação e o diálogo entre professores e alunos, como forma de enriquecer o processo de aprendizagem e torná-lo mais relevante para a vida dos educandos.
A alfabetização e o letramento estão interligados, embora possam ocorrer de forma distinta. Algumas pessoas não estão completamente alfabetizadas ou não podem estar engajadas em ambos os processos ao mesmo tempo. Em outras palavras, ser alfabetizado não implica, necessariamente, ser letrado. Um indivíduo alfabetizado possui a habilidade de ler e escrever, enquanto um indivíduo alfabetizado, conforme definido por Soares (2003), é aquele que não apenas domina essas habilidades, mas também as utiliza socialmente, respondendo de forma eficaz à exigência de lei.
A compreensão da escrita como um sistema de representação da linguagem é central para o processo de alfabetização. Ferreiro e Teberosky (1986) demonstram, por meio de suas pesquisas, que a criança constrói hipóteses sobre o funcionamento da escrita, passando por diferentes níveis de conceitualização até chegar à compreensão do sistema alfabético. Essas hipóteses, que não são lineares nem homogêneas, revelam a capacidade da criança de refletir sobre a linguagem escrita e de construir seu próprio conhecimento. Nesse sentido, os erros cometidos pela criança durante o processo de alfabetização não devem ser vistos como falhas, mas como indícios de suas hipóteses e de seu processo de aprendizagem.
Além da dimensão individual, a alfabetização possui também uma dimensão social. Freire (1979) defende que a alfabetização não deve se restringir à aquisição do código escrito, mas deve ser um instrumento de conscientização e de transformação social. Para Freire, a alfabetização deve possibilitar ao indivíduo a leitura crítica do mundo e a sua inserção ativa na sociedade. Nesse sentido, a alfabetização não é apenas um processo de aquisição de habilidades técnicas, mas um processo de empoderamento e de libertação.
O letramento, por sua vez, abrange as práticas sociais de leitura e escrita, que se manifestam em diferentes contextos e para diferentes finalidades. Street (1984) distingue dois modelos de letramento: o modelo autônomo e o modelo ideológico. O modelo autônomo considera o letramento como um conjunto de habilidades neutras e universais, enquanto o modelo ideológico reconhece que as práticas de letramento são socialmente construídas e carregadas de valores ideológicos. Nesse sentido, o letramento não é um conceito neutro, mas está sempre relacionado às relações de poder e às desigualdades sociais.
Os estudos desenvolvidos evidenciam que a alfabetização e o letramento são processos complexos e multifacetados, que requerem uma abordagem pedagógica adaptada às necessidades e contextos dos alunos. Os autores sugerem que a educação deve ser um espaço de construção de conhecimentos e práticas sociais que promova a participação ativa e crítica dos estudantes em suas comunidades. Assim, a alfabetização e o letramento não são apenas habilidades técnicas, mas processos que capacitam os indivíduos a interpretar, questionar e transformar o mundo ao seu redor.
2.1 PRÁTICAS DOCENTES NA ALFABETIZAÇÃO
A alfabetização demanda práticas docentes que promovam o desenvolvimento da leitura e escrita de forma significativa e contextualizada. Nesse cenário, as práticas dialógicas, ancoradas na interação, na colaboração e na valorização da experiência do aluno, emergem como caminho promissor para uma alfabetização que considere não apenas a aquisição do código escrito, mas também a sua utilização em diferentes contextos sociais.
Freire (1983) defende a alfabetização como um ato criador e problematizador, que possibilita ao indivíduo a leitura crítica do mundo e a transformação da sua realidade. Para Freire, a alfabetização não deve se limitar à mera decodificação e codificação de símbolos, mas deve ser um instrumento de conscientização e de empoderamento. Nessa perspectiva, o diálogo emerge como ferramenta fundamental para a construção do conhecimento, pois permite a troca de experiências, a negociação de significados e o desenvolvimento da capacidade crítica.
Soares (2005) destaca a importância de se considerar as práticas sociais de leitura e escrita no processo de alfabetização. A autora defende que a alfabetização deve se desenvolver no contexto do letramento, ou seja, em situações reais de uso da linguagem escrita. Nesse sentido, a escola deve proporcionar aos alunos experiências significativas com diferentes gêneros textuais, incentivando-os a utilizar a leitura e a escrita para diferentes finalidades.
Kleiman (2008) define letramento como um conjunto de práticas sociais que utilizam a escrita como sistema simbólico e tecnológico. Para a autora, o indivíduo letrado não é apenas aquele que domina o código escrito, mas aquele que é capaz de mobilizar diferentes conhecimentos e habilidades para interagir com os textos e com o mundo. Nessa perspectiva, o letramento não se limita ao domínio das habilidades de leitura e escrita, mas abrange a capacidade de interpretar, analisar, criticar e produzir textos em diferentes contextos sociais.
Conforme Soares (2003), a alfabetização e o letramento devem ser processos integrados, ocorrendo de maneira concomitante. Ao ensinar a ler e escrever, é fundamental contextualizar essas habilidades nas práticas sociais, permitindo que os alunos desenvolvam, simultaneamente, a competência de decodificar textos e a capacidade de utilizá-los de forma significativa em diversas situações. Ao familiarizar os estudantes com os diferentes gêneros textuais presentes no cotidiano, a escola favorece uma aprendizagem mais significativa e autêntica.
Dessa maneira, observa-se que as práticas de letramento na sociedade diferem das exigidas no ambiente escolar. Kleiman (2005) argumenta que essas práticas para além da escola possuem objetivos sociais significativos para aqueles que as vivenciam. Em contraste, as práticas escolares de letramento focam no desenvolvimento de competências e habilidades nos alunos, o que pode não ter a mesma relevância para eles.
Em outras palavras, na sociedade, a leitura é usada para atender a demandas concretas e com um propósito definido, enquanto, na escola, a leitura tem um objetivo acadêmico, muitas vezes dissociado das necessidades sociais do aluno, tornando essas práticas potencialmente menos significativas para ele.
Assim, para que as práticas docentes na alfabetização sejam dialógicas e efetivas, é fundamental que o professor adote uma postura de escuta atenta, de respeito à diversidade e de valorização da experiência do aluno. O professor deve ser um mediador do conhecimento, criando situações de aprendizagem que favoreçam a interação, a colaboração e a reflexão crítica. Além disso, é essencial que a escola proporcione aos alunos um ambiente alfabetizador rico e diversificado, com acesso a diferentes materiais de leitura e escrita e a diferentes tecnologias educacionais.
No contexto contemporâneo, a diversidade de situações de aprendizagem e as demandas da sociedade digital adiciona complexidade à tarefa do educador na alfabetização e letramento. A rápida evolução da tecnologia, as diferentes formas de linguagem presentes nas mídias digitais e as variadas realidades socioculturais dos alunos exigem abordagens pedagógicas flexíveis e inovadoras.
Ao compreender e aprimorar as práticas docentes na alfabetização e letramento, contribuímos não apenas para o sucesso acadêmico, mas também para a formação de cidadãos capazes de participar ativamente na sociedade, compreender criticamente o mundo ao seu redor e comunicar-se eficazmente em diversos contextos. A educação é um processo de transformação na vida do ser humano. Nesse ponto, Cagliari (1989, p.42) nos lembra que
[…]por essas razões, entre outros, pode-se dizer que a educação, na sua essência têm dois métodos apenas, com muitas variantes: um baseado no ensino e outro na aprendizagem. Ambos são coisas com significados diferentes, mas voltados à mesma coisa. A verdadeira prática educativa serve-se de ambos na medida adequada
É importante salientar que a prática pedagógica não pode está separada da teoria, pois precisa levar em consideração os dois métodos citados por Cagliari (1989). O ensino e a aprendizagem caminham lado a lado. Dessa forma, percebemos que a teoria e a prática não podem caminhar de maneira isolada.
A alfabetização é a parte mais significativa na vida das crianças, haja vista que o professor deve levar em consideração a metodologia para ensinar. Deve-se adequar ao contexto social da escola e dos alunos. Assim, Carvalho (2008, p. 28.) afirma que:
Um cuidado que deve ser observado na aplicação dos métodos fônicos decorre da própria natureza do português, língua alfabética na qual uma letra pode representar diferentes sons conforme a posição que ocupa na palavra. Assim como um som pode ser representado por mais de uma letra, segundo a posição. Assim, não basta ensinar o som da letra em posição inicial da palavra, mas é preciso mostrar os sons que as letras têm em posição inicial, medial (meio), ou final da sílaba.
É oportuno ressaltarmos que não é só responsabilidade do professor ensinar Língua Portuguesa ou da área de linguagens e suas tecnologias, mas de todos os educadores que educam e compartilham para a aquisição do letramento. Cada educador que trabalha com leitura e escrita é responsável e isso ocorre independentemente de qualquer área. Para Weisz (2018), o papel do professor no ensino da língua escrita vai além da mera transmissão de conhecimentos. Ao atuar como mediador, o docente observa as ações dos alunos, valoriza suas produções e intervém de forma a desafiar seus conhecimentos prévios e promover a construção de novos significados. Essa prática pedagógica favorece o desenvolvimento da autonomia e da criticidade dos alunos.
Podemos levar em consideração de que visões de mundo, do eu e de sociedade para o professor, possa ser mais crítico e consciente, assim, os ajudando a concretizar os fins de uma educação formada da cidadania de nossos aprendizes. De acordo com Soares (2003, p.22) “a alfabetização é a ação de alfabetizar, de tornar “alfabeto”, sendo assim é a ação de ensinar e escrever”. Vale salientar que, o ensino nas séries iniciais é dinâmico e interativo, envolvendo os aprendizes no processo de ensino-aprendizagem. Desse modo, a alfabetização é um processo de aprendizagem onde os mesmos irão adquirirem conhecimento, entretanto, é de suma relevância que eles tenham curiosidade pelos livros didáticos e paradidáticos.
Ainda de acordo com Soares (2003, p.3.) O conceito aproximado de letramento é “estado ou condição de quem não só sabe ler e escrever, mas exerce as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na sociedade em que vive”. Diante disso, o aluno poderá desenvolver suas habilidades de escrita e leitura, fazendo com que sejam adquiridos com um grau de letramento mais elevado, sendo assim seu uso eficiente.
O segredo para uma boa escrita é a leitura constante, caso contrário, terá dificuldades no ato de escrever. É notável que cada criança tenha um método diferente de aprendizagem, mas depende muito dos esforços que a mesma faça, do acompanhamento em casa com os pais. Se a criança não tiver vontade própria e um pouco de seus esforços, não será possível que ela desenvolva um ensino mais eficaz.
Como preconiza Soares (2017), para alfabetizar e letrar de forma eficaz, os docentes podem adotar práticas pedagógicas que promovam o desenvolvimento integral das habilidades de leitura e escrita dos alunos. Algumas práticas docentes importantes incluem utilizar uma variedade de materiais e gêneros textuais, como livros, revistas, poemas, letras de música, notícias, entre outros, para promover a familiaridade dos alunos com diferentes tipos de textos. Relacionar as atividades de alfabetização e letramento com situações reais e significativas do cotidiano dos alunos, de forma a tornar a aprendizagem mais contextualizada e relevante.
Nesse mesmo sentido é necessário também incorporar jogos, brincadeiras, desafios e atividades lúdicas que estimulem o interesse dos alunos pela leitura e escrita, tornando o processo mais prazeroso e motivador. Essas práticas docentes contribuem para um ambiente educacional mais estimulante e favorável ao desenvolvimento da alfabetização e do letramento dos alunos, promovendo uma aprendizagem mais significativa e duradoura.
3 OS DESAFIOS DA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
Os desafios da alfabetização e letramento podem ser diversos e impactam diretamente o processo de aprendizagem dos estudantes. Alunos provenientes de contextos socioeconômicos desfavorecidos podem enfrentar maiores dificuldades no processo de alfabetização e letramento, devido a fatores como acesso limitado a materiais de leitura, suporte familiar e estimulação cognitiva. Além disso, os alguns estudantes podem apresentar dificuldades específicas na aquisição da leitura e escrita, como dislexia, disortografia, entre outras questões que demandam estratégias diferenciadas por parte dos educadores.
Conforme afirma Tardif (2002), “nem todos os professores recebem formação adequada para lidar com os desafios específicos da alfabetização e letramento, o que pode impactar a qualidade do ensino oferecido”. Sendo assim, a capacitação de professores permite o acompanhamento do profissional que atua em serviço para melhorias da educação, que seja capaz de discutir, refletir, compartilhar dúvidas e certezas.
A diversidade de contextos educacionais e as características individuais dos alunos demandam do professor uma abordagem flexível e adaptável. O desafio é encontrar estratégias pedagógicas que atendam às necessidades específicas de cada aluno, reconhecendo as diferenças de linguagem, cultura, e o impacto crescente da tecnologia no processo educacional.
Um dos desafios da alfabetização reside na complexidade do sistema de escrita alfabética. Morais (2014) destaca que a escrita alfabética não é um código transparente, no qual cada som corresponde a uma única letra. Ao contrário, existem diferentes relações entre fonemas e grafemas, o que exige um esforço cognitivo significativo por parte do aprendiz. Nesse sentido, o professor deve promover atividades que auxiliem os alunos a compreender as relações entre sons e letras, bem como as convenções ortográficas da língua.
Outro desafio reside na heterogeneidade dos alunos, que chegam à escola com diferentes níveis de conhecimento, diferentes experiências de vida e diferentes ritmos de aprendizagem. Soares (2004) destaca que o professor deve estar atento a essa diversidade, adaptando suas práticas pedagógicas às necessidades de cada aluno. A autora defende a importância de uma alfabetização que leve em consideração os diferentes estilos de aprendizagem, bem como os conhecimentos prévios dos alunos, a fim de promover um aprendizado mais significativo e eficaz.
A formação do professor alfabetizador é outro aspecto crucial para o sucesso do processo de alfabetização e letramento. Brandão (2013) defende que o professor deve ter um conhecimento profundo da língua, da sua estrutura e do seu funcionamento, bem como das teorias e metodologias de alfabetização. O autor destaca também a importância da formação continuada, que possibilita ao professor a atualização de seus conhecimentos e a reflexão crítica sobre sua prática pedagógica.
Além disso, é fundamental que a escola e a família trabalhem em parceria, a fim de criar um ambiente alfabetizador rico e estimulante para as crianças. Ferreiro (2013) destaca que a criança não se alfabetiza apenas na escola, mas também em outros espaços, como na família, na comunidade e nos meios de comunicação. Nesse sentido, a parceria entre escola e família é essencial para que a criança tenha acesso a diferentes experiências de letramento, que a auxiliem na construção do seu conhecimento e na sua inserção no mundo letrado.
A escola, ao abrir espaço para o conhecimento, forma indivíduos que se tornam agentes ativos em seu cotidiano. Esses indivíduos são capazes de refletir e exercer suas funções sociais, buscando constantemente mais informações e abrindo caminho para um futuro profissional. “A escola é, por excelência, o lócus ou espaço em que os educandos adquirem, de forma sistemática, os recursos comunicativos necessários para se desempenharem competentemente em práticas sociais especializadas” (Soares, 2004, p. 42).
Além do domínio dos saberes essenciais à alfabetização, o educador precisa reunir um conjunto de atributos complementares para exercer sua função de maneira eficaz, isto é, demonstrar respeito pelos educandos, adotar uma postura crítica diante de um sistema que historicamente marginaliza amplas parcelas da população e acredite no potencial de desenvolvimento de cada aluno. Além disso, a capacidade de mobilizar recursos criativos e inovadores, a proatividade, a defesa intransigente de uma educação emancipadora e a convicção no poder transformador da educação são elementos indispensáveis para sua prática docente (Lemle, 1988).
Ainda tem sido muito comum, as escolas pensarem na formação continuada através de cursos de capacitação, com palestras onde muitas vezes o professor apenas ouve o que devem fazer. Além disso, são cansativas e apresentam apenas reflexões periféricas, que em muitos casos não se sustentam na hora da prática.
Sob essa ótica, Schön (2000) postula que o docente deve exercer sua profissão como um agente reflexivo sobre suas vivências e conhecimentos. Isso se justifica porque, ao confrontar as demandas cotidianas com situações desafiadoras, o profissional da educação viabiliza a sedimentação desse processo reflexivo. Para o citado autor, isso implica um processo de pensar, ou seja, fazer uma ação/reflexão que permita a (re)orientação no mesmo momento que está sendo executado.
Sobre isso, Arroyo (2007, p. 195) afirma que “saber mais sobre a docência para a qual se prepara seria um dos saberes mais formadores; seria o norteador para a conformação do currículo de formação”. E é diante de toda essa realidade educacional que o professor necessita refletir e agir como mediador do conhecimento.
Na verdade, os desafios devem servir para amadurecer sua prática, oferecendo subsídios para um novo fazer pedagógico, não permitindo que os desafios o amedrontam, pois, lidar com a alfabetização exige competência e compromisso na busca de uma transformação social e na formação de pequenos cidadãos.
A alfabetização e o letramento são processos complexos e multifacetados, que exigem práticas docentes sensíveis à intricada natureza do sistema de escrita, à diversidade dos alunos e à contínua formação do professor. A perspectiva dialógica, ao enfatizar a interação, a colaboração e a reflexão crítica, apresenta-se como uma abordagem promissora para promover uma alfabetização e um letramento significativos e emancipadores.
Essa abordagem auxilia o estudante não apenas a decodificar textos, mas também a desenvolver uma leitura crítica do mundo, preparando-o para uma atuação consciente e participativa na sociedade. Além disso, a parceria entre escola e família, somada à valorização da cultura escrita em seus diversos contextos sociais, constitui-se como elemento fundamental para o êxito desses processos. O objetivo final é a formação de indivíduos plenamente letrados, críticos e autônomos, capazes de interagir de maneira reflexiva e transformadora com o mundo que os cerca.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As práticas dialógicas, ao promoverem a interação em sala de aula, o debate e a troca de experiências, demonstram-se eficazes no desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita. A diversificação de materiais e gêneros textuais, a incorporação de jogos e brincadeiras e a contextualização das atividades em situações autênticas de uso da linguagem escrita são estratégias que favorecem o diálogo e estimulam a participação ativa dos alunos no processo de alfabetização e letramento.
No entanto, os desafios para a implementação dessas práticas são diversos, desde a formação dos professores até as condições de trabalho nas escolas. A formação inicial e continuada de professores deve contemplar as diferentes dimensões da alfabetização e do letramento, bem como as teorias e metodologias que valorizam o diálogo e a interação. Além disso, é fundamental que as escolas proporcionem aos professores um ambiente de trabalho favorável à implementação de práticas dialógicas, com recursos materiais e tecnológicos adequados e com apoio pedagógico e institucional.
Outro desafio fundamental é a construção de uma parceria efetiva entre escola e família. O envolvimento familiar desempenha um papel essencial na formação do estudante, e sua participação ativa no processo de alfabetização e letramento fortalece o desenvolvimento da aprendizagem. Para potencializar esse vínculo, a escola pode criar canais de comunicação abertos e acessíveis, estimular a participação das famílias nas atividades escolares e oferecer orientações que as capacitem a apoiar seus filhos na aquisição da leitura e da escrita.
A alfabetização e o letramento são processos complexos e desafiadores que demandam o engajamento conjunto da escola, da família e da sociedade. A adoção de práticas dialógicas, que favoreçam a interação, o debate e a participação ativa dos alunos, é essencial para a formação de sujeitos letrados, críticos e autônomos, capazes de interpretar, questionar e transformar a realidade. Nesse contexto, a formação continuada dos professores, a diversificação de materiais e recursos didáticos e a construção de uma parceria efetiva entre escola e família constituem elementos fundamentais para o sucesso da alfabetização e do letramento sob uma perspectiva dialógica.
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1Mestranda em Ciências da Educação. E-mail: claudia_aidualc1@hotmail.com
2 Doutora em Letras: Linguística e Língua Portuguesa. Professora no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Vale do Itajaí (Univai) – E-mail: maria.leite@univali.br