REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202506302046
Alessandra Lira da Silva, Anna Caroline Hellmann de Melo, Claudia Cristina de Sousa, Maria Dolores Alves Batista de Souza, Edinaura Dantas do Nascimento, Elaine Ines Politowski, Ivanildes Azevedo da Silva Passarinho, Raysla Nathieli Oliveira de Jesus, Rosielma Moraes Resende, Viviany Silva Sales dos Santos
RESUMO
Este artigo traz em sua abordagem a temática das dificuldades com as quais o aluno disléxico convive no desenvolvimento das competências leitoras e escritoras. A Dislexia é um transtorno específico da aprendizagem que marca o processo de aquisição da leitura e escrita ocasionando baixo desempenho quando não identificados e acompanhado de perto. A pesquisa objetiva reconhecer a relevância da atuação do psicopedagogo no atendimento ao aluno que possui dislexia e que se encontra em processo de aprendizagem da leitura e da escrita (alfabetização), para alcançar tal objetivo se faz necessário analisar aspectos que marcam o processo de alfabetização, aprofundar a visão sobre a aprendizagem da leitura e da escrita pelo disléxico, refletir sobre o papel do psicopedagogo frente às dificuldades no aprendizado da leitura e da escrita. A pesquisa se desenvolveu com utilizando como método de pesquisa o estudo bibliográfico de cunho qualitativo, para tanto, foi realizado o levantamento da bibliografia, seleção, leitura e escrita textual. Pelo viés da pesquisa, ficou compreendido que o atendimento ou a intervenção do psicopedagogo é indispensável na medida em que, o mesmo atua de forma particular com cada educando, analisa aspectos de seu desenvolvimento, levanta as dificuldades que marca o desenvolvimento das competências leitoras e escritoras, os limites e possibilidades para então, planejar situações de aprendizagens que possibilite aos alunos disléxicos aprender a ler e a escrever de modo significativo.
PALAVRAS-CHAVE: Aluno disléxico. Leitura e escrita. Dificuldades de aprendizagem. Suporte psicopedagógico.
1. INTRODUÇÃO
A Alfabetização é um processo que envolve que envolve o aprendizado da leitura e da escrita – aprendizagens que não são tarefas simples nem de se aprender, nem de se ensinar, isso porque as mesmas envolvem desde aspectos sociais, didáticos, pedagógicos, formação do pensamento por meio de reordenação psicológica, onde o educando mobiliza esquemas internos e externos para poderem se apropriar-se do sistema significo.
Em virtude de carregar sobre si a responsabilidade de formar leitores e escritores de forma dissociada, a alfabetização carrega sobre si um grande legado, veio sendo permeada por períodos extensos imersa em resultados ineficazes, empurrando os educandos mal alfabetizados para séries seguintes. Com base nesta constatação, é preciso considerar que aprender a ler e a escrever é um processo indispensável, necessário, mas marcado por complexidades.
Ao transpor estas complexidades para o aluno disléxico, as dificuldades no aprendizado da leitura e da leitura são maiores, assim, considerando, a questão problema que orienta o desenvolvimento desta pesquisa é qual a importância do atendimento psicopedagógico junto ao aluno disléxico que se encontra no processo de alfabetização? Acredita-se que o psicopedagogo e sua atuação profissional seja um fator-chave que assegura que o aluno disléxico se desenvolva de forma mais significativa quando ao aprendizado da leitura, escrita dentre outras aprendizagens.
Este estudo é importância crucial na medida em que vem tanto elucidar aspectos relacionados às dificuldades que os alunos disléxicos enfrentam ao aprender a ler e escrever quanto deixa explicita a importância do acompanhamento e da intervenção psicopedagógica direcionada para o disléxico.
Desse modo, o desenvolvimento deste estudo centra-se no objetivo de reconhecer a relevância da atuação do psicopedagogo no atendimento ao aluno que possui dislexia e que se encontra em processo de aprendizagem da leitura e da escrita (alfabetização), para alcançar tal objetivo se faz necessário analisar aspectos que marcam o processo de alfabetização, aprofundar a visão sobre a aprendizagem da leitura e da escrita pelo disléxico, refletir sobre o papel do psicopedagogo frente às dificuldades no aprendizado da leitura e da escrita.
O desenvolvimento deste estudo se concretizou por meio da pesquisa bibliográfica, de abordagem qualitativa. O levantamento e a seleção dos estudos foram realizados nas plataformas: Scielo, Google, o que permitiu selecionar artigos de revistas eletrônicas e e-book. Como procedimentos técnicos, foram adotados a leitura integral, a análise textual, a contextualização dos dados e informações, para subsequentemente elaborar a redação. Compõem-se assim o referencial teórico as considerações elementares de APA (2014), Bailler e Tomitch (2020), Freire (1987), Lerner (2002), Nascimento (2013) dentre outros, dando assim a sustentação necessária para o desenvolvimento da pesquisa.
O estudo se organiza através de capítulos no primeiro se faz uma abordagem que apresenta a Alfabetização e Letramento, analisando suas bases conceituais e seus aspectos, em seguida, faz uma abordagem sobre as especificidades da criança disléxica e suas dificuldades de aprendizagens, por fim, faz uma análise sobre o suporte psicopedagógico frente às dificuldades de aprendizagens do alunos com Dislexia.
2. ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
O termo Alfabetização do ponto de vista etimológico significa: levar à aquisição do alfabeto, ou seja, ensinar a ler e a escrever (SOARES, 2004). Deste modo, a especificidade da Alfabetização é a aquisição do código alfabético e ortográfico, através do desenvolvimento das habilidades de leitura e de escrita.
Para Val (2006, p. 19):
[…] pode-se definir alfabetização como o processo específico e indispensável de apropriação do sistema de escrita, a conquista dos princípios alfabético e ortográfico que possibilitem ao aluno ler e escrever com autonomia. Noutras palavras, alfabetização diz respeito à compreensão e ao domínio do chamado “código” escrito, que se organiza em torno de relações entre a pauta sonora da fala e as letras (e ouras convenções) usadas para representá-la, a pauta, na escrita.
De acordo com Soares:
[…] tomando-se a palavra em seu sentido próprio como o processo de aquisição da “tecnologia da escrita”, isto é, do conjunto de técnicas – procedimentos, habilidades – necessárias para a prática da leitura e da escrita: as habilidades de codificação de fonemas em grafemas e de decodificação de grafemas em fonemas, isto é, o domínio do sistema de escrita (alfabético, ortográfico); […] habilidades de uso de instrumentos de escrita (lápis, caneta, borracha, corretivo, régua, de equipamentos como máquina de escrever, computador…), habilidades de escrever ou ler seguindo a direção correta na página (de cima para baixo, da esquerda para a direita), habilidades de organização espacial do texto na página, habilidades de manipulação correta e adequada dos suportes em que se escreve e nos quais se lê – livro, revista, jornal, papel sob diferentes apresentações e tamanhos (folha de bloco, de almaço, caderno, cartaz, tela do computador…). Em síntese: alfabetização é o processo pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja: o domínio da tecnologia – do conjunto de técnicas – para exercer a arte e ciência da escrita (SOARES, 2003, p. 80).
É, pois, no e pelo processo de alfabetização que o sujeito educativo aprende a ler e escrever, ao se fazer um resgate histórico, constata-se que a leitura e a escrita surgiram em virtude da necessidade de comunicação.
[…] alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao contrário: o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado (SOARES, 2004, p. 47).
Enquanto a alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por um indivíduo, ou grupo de indivíduos, “o letramento focaliza os aspectos sócio históricos da aquisição de um sistema escrito por uma sociedade.” (TFOUNI, 1995, apud, MORAES, 2005, p.4).
[…] Pretendemos demonstrar que a aprendizagem da leitura, entendida como questionamento a respeito da natureza, função e valor deste objeto cultural que é a escrita, inicia-se muito antes do que a escola imagina, transcorrendo por insuspeitados caminhos. Que além dos métodos, dos manuais, dos recursos didáticos, existe um sujeito que busca a aquisição de conhecimento, que se propõe problemas e trata de solucioná-los, segundo sua própria metodologia… Insistiremos sobre o que se segue: trata-se de um sujeito que procura adquirir conhecimento, e não simplesmente de um sujeito disposto ou mal disposto a adquirir uma técnica particular. Um sujeito que a psicologia da lecto-escrita esqueceu […] (FERREIRO; TEBEROSKY, 1986, p. 11).
Aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é, antes de tudo, aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, “não numa manipulação mecânica de palavras, mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade” (FREIRE, 1987, p. 08).
Soares (2004, p. 106) afirma:
[…] na vida cotidiana, eventos e práticas de letramento surgem em circunstâncias da vida social ou profissional, respondem a necessidades ou interesses pessoais ou grupais, são vividos e interpretados de forma natural, até mesmo espontânea; na escola, eventos e práticas de letramento são planejados e instituídos, selecionados por critérios pedagógicos, com objetivos predeterminados, visando à aprendizagem e quase sempre conduzindo a atividades de avaliação.
Lerner (2002, p. 17, 18) salienta que:
O necessário é fazer da escola uma comunidade de leitores que recorrem aos textos buscando resposta para os problemas que necessitam resolver, tratando de encontrar informação para compreender melhor algum aspecto do mundo que é o objeto de suas preocupações, buscando argumentos para defender uma posição com a qual estão comprometidos, ou para combater outra que consideram perigosa ou injusta, desejando conhecer outros modos de vida, identificar-se com outros autores e personagens ou se diferenciar deles, viver outras aventuras, inteirar-se de outras histórias, descobrir outras formas de utilizar a linguagem para criar novos sentidos… O necessário é fazer da escola uma comunidade de escritores que produzem seus próprios textos para mostrar suas idéias, para informar sobre fatos que os destinatários necessitam ou devem conhecer, para incitar seus leitores a empreender ações que consideram valiosas, para convencê-los da validade dos pontos de vista ou das propostas que tentam promover, para protestar ou reclamar, para compartilhar com os demais uma bela frase ou um bom escrito, para intrigar ou fazer rir… O necessário é fazer da escola um âmbito onde leitura e escrita sejam práticas vivas e vitais, onde ler e escrever sejam instrumentos poderosos que permitem repensar o mundo e reorganizar o próprio pensamento, onde interpretar e produzir textos sejam direitos que é legítimo exercer e responsabilidades que é necessário assumir.
Nessa perspectiva, para que aprender a ler e escrever ocorra de maneira significativa torna-se imprescindível a utilização de métodos, estratégias e recursos distintos no processo de mediação para que as crianças possam desenvolver de habilidades e competências lecto-escritoras.
2.1 A criança disléxica e suas dificuldades de aprendizagens
A dislexia é um distúrbio marcado tipicamente por dificuldades no processo de decodificação dos signos linguísticos afetando diretamente o aprendizado da leitura e da escrita. Em face disto, o docente por si só não conseguirá mediar de forma qualitativa os processo de alfabetização e letramento, se fazendo necessária a intervenção psicopedagógica criteriosa capaz de garantir que os educadores disléxicos tenham assegurado o seu direito a aprender expressivamente.
A dislexia é um distúrbio de linguagem que afeta o processo de decodificação de palavras e que desencadeia falhas no processo de alfabetização e letramento. Do ponto de vista neurobiológico, pesquisas e estudos realizados ainda não conseguiram apontar uma causa específica para esse transtorno, entretanto exames e testes realizados em crianças disléxicas permitiram identificar os principais seus principais sinais e sintomas conforme se apresenta no quadro 01:
Quadro 01: Sinais e sintomas da Dislexia
Primeira Infância: 0 a 6 Anos | – Atraso no desenvolvimento motor desde a fase do engatinhar, sentar e andar; – Atraso ou deficiência na aquisição da fala, desde o balbucio à pronúncia de palavras; – Dificuldade aparente para a criança entender o que está ouvindo; – Distúrbios do sono; – Enurese noturna; – Suscetibilidade a alergias e a infecções; – Tendência a hiper ou a hipo-atividade motora; – Choro recorrente e aparente inquietação ou agitação; – Dificuldades de adaptação nos primeiros anos escolares |
A partir dos 07 Anos | – Extrema lentidão ao fazer os deveres ou ocorrência de muitos erros nas tarefas pelo fato de terem sido feitas rapidamente; · – Pobre compreensão do texto ou falta de leitura do que escreve; – Inadequação da fluência em leitura para a idade; – Invenção, acréscimo ou omissão de palavras ao ler e ao escrever; – Preferência por leitura silenciosa; – Letra mal grafada e, até, ininteligível; borrões ou ligação entre as palavras; – Omissão, acréscimo, troca ou inversão da ordem e da direção de letras e sílabas; – Esquecimento daquilo que aprendera muito bem, em poucas horas, dias ou semanas; – Maior facilidade, capacidade de bem transmitir o que sabe através de exames orais; – Grande imaginação e criatividade; – Capacidade de desligar-se facilmente de qualquer contexto; – Falta de concentração da atenção em um só estímulo; – Baixa autoimagem e autoestima; em geral, não gosta de ir à escola; – Esquiva de ler, especialmente em voz alta; – Dificuldade para lidar com as noções de espaço e tempo; – Sempre perde e esquece seus pertences; – Mudanças bruscas de humor; – Impulsividade e interrupção dos demais para falar; – Timidez, sob pressão, pode falar o oposto do que desejaria; – Confusão entre direita e esquerda, em cima e em baixo; na frente e atrás; – Lateralidade cruzada; muitos são canhestros e outros ambidestros; – Dificuldade para ler as horas, para sequências como dia, mês e estação do ano; – Boa memória longa, mas pobre memória imediata, curta e de médio prazo; – Pensamento por meio de imagem e sentimento, não com o som de palavras; – Extremamente desordenado, seus cadernos e livros são borrados e amassados; – Tolerância muito alta ou muito baixa à dor; – Muito sensível e emocional, busca sempre a perfeição que lhe é difícil atingir; – Dificuldades para andar de bicicleta, para abotoar, para amarrar o cordão dos sapatos; – Dificuldades extrema para manter o equilíbrio e fazer exercícios físicos; Intolerância a muito barulho, o disléxico se sente confuso – desliga-se e age como se estivesse distraído nesse contexto. |
Na perspectiva do Manual American Psyquiatric Association – DSM-5 (2014) considera-se além dos sintomas supramencionados, é relevante se ater aos seguintes critérios:
- Constância da dificuldade por pelo menos 6 meses (apesar de intervenção dirigida);
- Habilidades acadêmicas substancial e qualitativamente abaixo do esperado para a idade cronológica (confirmado por testes individuais e avaliação clínica abrangente);
- As dificuldades se iniciam durante os anos escolares, mas podem não se manifestar completamente até que as exigências acadêmicas excedam a capacidade limitada do indivíduo, como, por exemplo: baixo desempenho em testes cronometrados; leitura ou escrita de textos complexos ou mais longos e com prazo curto; alta sobrecarga de exigências acadêmicas;
- As dificuldades não são explicadas por deficiências, transtornos neurológicos, adversidade psicossocial, instrução acadêmica inadequada ou falta de proficiência na língua de instrução acadêmica.
A Dislexia é um transtorno que pode também estar relacionada a outras disfunções de aprendizagem como a disgrafia: retrocesso no desenvolvimento da escrita, especialmente em escrita cursiva; discalculia: dificuldades na realização de cálculos por falta de compreensão no enunciado das questões; TDAH: marcado pela manifestação da desatenção, inquietude e impulsividade; dispraxia: acomete o equilíbrio, a coordenação, a linguagem e o pensamento; dentre outras morbidades (CABRAL; PINHEIRO, 2017).
Conhecer a sintomatologia é, sem dúvida, é um pré-requisito necessário para o planejamento e a intervenção no aprendizado da leitura e da escrita, duas competências necessárias que possibilitam à criança a sua inserção mundo e a aquisição de conhecimentos históricos e sociais acumulados pela humanidade. São aprendizagens que devem ocorrer de forma qualitativa, assim considerando e, tendo em vista que a dislexia por levar o educando a conviver com dificuldades que interferem no aprendizado destas duas competências faz-se necessário, compreendê-la.
No ato de ler o leitor ativa três sistemas no cérebro compostos por estruturas visuais e auditivas – a região inferior frontal, a parietal temporal e a occipital-temporal (BAILER; TOMITCH, 2020). Cada uma dessas regiões possui uma função específica: a inferior frontal possibilita ao leitor articular os fonemas, a parietal temporal tem ênfase o exame das palavras e a occipital temporal propicia a realização automática da leitura.
Quando há alguma falha em qualquer uma destas áreas o desenvolvimento da leitura e da escrita se vê comprometido. Logo, os leitores iniciantes que não possuem dislexia acionam de forma cíclica os sistemas neurológicos que envolvem a região parietal temporal analisando as palavras, em seguida ativa o sistema frontal e finalizam com o sistema occipital temporal. Já os disléxicos ativam este circuito de forma diferente: acionam com mais frequência a área anterior ou frontal para super estimular as outras duas áreas, em virtude dessa inversão que as crianças disléxicas enfrentam as dificuldades no desenvolvimento das competências leitoras e escritoras.
Tendo em vista a gama de dificuldades com as quais as crianças disléxicas convivem, o psicopedagogo necessita analisar cada criança que integra o espaço escolar, caso a caso para identificar quais os âmbitos do ensino da leitura e da escrita necessitam de intervenção, e, em conjunto com o docente elaborar estratégias de ensino que venham contribuir para com a superação das dificuldades.
2.2 O suporte psicopedagógico frente às dificuldades de aprendizagens do disléxicos
A atuação psicopedagógica no rol da Educação Infantil, pré-escola ou Ensino Fundamental seja numa perspectiva preventiva ou terapêutica, devem focar-se na identificação, compreensão e solução para as causas do não aprendizado, que podem advir de fatores diversos.
Dentre estes se inclui, estruturas familiares não adequadas às necessidades de desenvolvimento das crianças, dificuldades na aquisição das habilidades de leitura e escrita, de cálculo, de raciocínio, de concentração, de memorização ou ainda:
[…] falta de professores sem capacitação habilitada para desenvolver nas crianças e/ou adolescentes metodologias eficientes para que possam despertar neles o interesse pelo saber nas diversas áreas dos campos do conhecimento humano (FREITAS & NÓBREGA, 2021, p. 20).
Diante disso, é preciso que o psicopedagogo desenvolva ações pautadas no caráter ético desenvolvendo ações voltadas para o sistema educativo, os alunos, suas famílias, o contexto escolar, observando, analisando, refletindo e tomando as decisões necessárias para intervir na realidade e modifica-la, uma vez que:
Ao psicopedagogo não interessam as questões de estrutura da personalidade, enquanto estas não afetam de forma que manifesta o vínculo do indivíduo com a aprendizagem. Da mesma forma, o psicopedagogo não trabalha especificadamente com conteúdos escolares e formas. Mas antes com situações cognitivas, com o próprio processo de pensamento, de construção do conhecimento e solução de problemas. Procura-se o resgate do prazer em aprender, não para a escola, ou para a família, mas para a vida da criança (CAMPOS, 2002, p. 21).
As situações cognitivas, o modo como os indivíduos aprendem, as dificuldades com as quais os educandos convivem e que impactam negativamente sobre a aprendizagem, são de forma direta o objeto de ocupação do psicopedagogo para que assim busquem soluções eficazes para os nãos aprendizados, pois, o psicopedagogo:
[…] é o profissional indicado para assessorar e esclarecer a escola a respeito de diversos aspectos do processo de ensino-aprendizagem e tem uma atuação preventiva. Na escola, o psicopedagogo poderá contribuir no esclarecimento de dificuldades de aprendizagem que não têm como causa apenas deficiências do aluno, mas que são consequências de problemas escolares. Seu papel é analisar e assinalar os fatores que favorecem, intervêm ou prejudicam uma boa aprendizagem em uma instituição. Propõe e auxilia no desenvolvimento de projetos favoráveis às mudanças educacionais, visando evitar processos que conduzam às dificuldades da construção do conhecimento. (NASCIMENTO, 2013, p. 01).
Essa contribuição trazida por Nascimento é relevante na medida em que, há a tendência de se associar as dificuldades de aprendizagens como, apenas aquelas com as quais os alunos da inclusão ou da Educação Especial convivem, excluindo assim, as dificuldades dos demais alunos e que também são objeto de ocupação do psicopedagogo, que deve não somente identificar as dificuldades, compreender suas causas, e isso se dá por meio do diagnóstico que é:
Composto de vários momentos que temporal e espacialmente tomam dimensões diferentes conforme a necessidade de cada caso. Assim, há momentos de anamnese só com os pais, de compreensão das relações familiares em sessão com toda a família presente, de avaliação da produção pedagógica e de vínculos com objetos de aprendizagem escolar, busca da construção e funcionamento das estruturas cognitivas (diagnóstico operatório), desempenho em testes de inteligência e visomotores, análise de aspectos emocionais por meio de testes expressivos, sessões de brincar e criar. Tudo isso pode ser estruturado numa sequência diagnóstica estabelecida a partir dos primeiros contatos com o caso (WEISS, 2004, p. 35).
A partir deste minucioso mapeamento, o psicopedagogo compreende o quadro sintomatológico das dificuldades e dos desafios enfrentados pelos educados e, a partir disso, compreende que é na alfabetização que disléxico apresenta sua maior dificuldade, justamente em virtude disso, é preciso um olhar atento para a escolha do método a ser utilizado.
É consenso entre os estudiosos que, dentre os métodos de alfabetização, os que melhores resultados apresentam sejam o método fônico e o método multissensorial. O fônico é mais apropriado para o início da alfabetização e contém os objetivos de desenvolver as aptidões metafonológicas e ensinar correlações grafofonêmicas, o que se justifica na medida em que é comum ao disléxico apresentar complicações em manipular, segmentar e distinguir os sons da fala, por isso, logo, as atividades de consciência fonológica auxiliam na compreensão das relações entre letras e sons (MELLO, 2018).
É preciso proporcionar aos educando situações de aprendizagens que leve os educandos disléxicos a desenvolver a consciência fonológica de forma lúdica, sistemática partindo das estruturas mais simples para as mais complexas: apresentar as vogais, seguir para as consoantes de som único (f, j, m, n, v, z), consoantes que apresentam mais de um som (l, s, r, x), consoantes de difícil declamação (b, c, p, d, t, g, q), consoantes pouco utilizadas (k, w, y), os dígrafos (ch, nh, lh, rr, ss, gu, qu) junto com o cedilha e, por fim, os encontros consonantais (RIBEIRO, 2017).
O método multissensorial tem por finalidade o desenvolvimento da linguagem escrita, ao ser utilizado com o educando disléxico, combina-se as diferentes modalidades sensoriais (auditiva, visual, sinestésica e tátil) unificando os aspectos auditivos – forma fonológica; aspectos visuais – forma ortográfica, sinestésicos – movimentos necessários para escrever a palavra. Posteriormente o método sensorial passou por uma mudança e a ênfase do ensino passou a recair-se sobre as relações entre letras e sons, acrescentando as unidades gradativamente para palavras, e depois para frases (MELLO, 2018).
E assim, o psicopedagogo de posse de todos estes conhecimentos auxilia no desenvolvimento do educando disléxico elaborando o planejamento de situações didáticas para serem aplicadas junto ao educando de forma particular ou ainda orientando os professores regentes a modificarem os rumos de sua ação pedagógica para que os educandos disléxicos tenham assegurado reais possibilidades de aprender a ler e escrever de forma qualitativa.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o findar da pesquisa ficou ratificado que crianças disléxicas possuem no geral mais dificuldades no aprendizado da leitura e da escrita (Alfabetização e Letramento), para além daquelas que são habituais, somam-se as específicas que cada aluno disléxico possui. Tais dificuldades em sua maioria trazem implicações diversas para o processo de aprendizagem, algumas vezes retardando-o, outras vezes gerando fracassos.
Para subsidiar o educando nesse processo, é elementar o acompanhamento psicopedagógico, este deve ser promovido através da oferta de um atendimento centrado no aluno, em suas dificuldades, através de uma atuação profissional competente e ética, deve partir da realidade do educando, das dificuldades com as quais o mesmo convive e que impõem barreira no desenvolvimento das competências leitoras e escritoras.
Portanto, fica claro que, o psicopedagogo é um profissional indispensável que pode em muito contribuir para com a formação da competência leitora e escritora, mas isso pressupõe um trabalho minucioso junto ao educando disléxico a fim de conhecê-lo, compreendê-lo, identificar as dificuldades com as quais convivem, seus limites e possibilidades, para posteriormente, planejar uma intervenção direta para e com o disléxico, permitindo ao mesmo vivenciar situações didáticas carregadas de possiblidades de aprendizagens, auxiliando no processo de se tornarem leitores e escritores.
4. REFERÊNCIAS
American Psychiatric Association (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
BAILER, Cyntia, TOMITCH, Lêda Maria Braga. Leitura no cérebro: processos no nível da palavra e da sentença. Cadernos de Tradução [online]. 2020, v. 40, n. spe2, p. 149-184. Disponível em: <https://doi.org/10.5007/2175-7968.2020v40nesp2p149. Acesso em 30 de agosto 2022.
CABRAL, Leonor Scliar; PINHEIRO, Ângela Maria Vieira. Dislexia: causas e consequências. Minas Gerais: Belo Horizonte, 2017. 64 p. Disponível em: http://dislexiabrasil.com.br/docs/Baixar_o_e-book.pdf . Acesso em: 25 de agosto de 2022.
CAMPOS, W. C. M. Psicopedagogo: um generalista especialista em problemas, aprendizagem- IN: Bossa, N.A (org.); Oliveira. B(org.). Avaliação psicopedagógica da criança zero a seis anos. 11 ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
FERREIRO, E. TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. Tradução de Diana Myriam Lichtenstein et al. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.
FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 15. ed. São Paulo: Cortez / Autores, Associados, 1987.
FREITAS, Maria Jailma Vieira de. NOBREGA, Faciene da Silva. O papel do psicopedagogo frente às dificuldades de aprendizagem de leitura e escrita. Redes: Revista Educacional da Sucesso. Vol 1, n.1, 2021. Disponível em: https://facsu.edu.br/revista/wp-content/uploads/2021/06/2.pdf Acesso em 20 de agosto 2022.
LERNER, Delia; trad. Ernani Rosa. Ler e Escrever na Escola: o real, o possível e o imaginário. Porto Alegre: Artmed, 2002.
LOMONICO, Circe Ferreira. Psicopedagogia: Teoria e Prática.1ª edição. São Paulo: EDICON, 1992.
MELLO, Adriana C. Leão. Métodos e técnicas para auxiliar o aluno disléxico no contexto escolar. 2018. 99 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Educação: Educação Especial, Domínio Cognitivo e Motor) – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Fernando Pessoa, Porto, 2018. Disponível em: https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/6872/1/DM_Adriana%20Mello.pdf Acesso em 20 de agosto 2022.
MORAES, M.G. Alfabetização – Leitura do Mundo, Leitura da Palavra – E Letramento: algumas Aproximações, 2005. Disponível em: <http://www.sicoda.fw.uri.br/revistas/artigos/1_3_26.pdf> Acesso em 15 de agosto 2022.
NASCIMENTO, F.D. O papel do Psicopedagogo na instituição escolar. Trabalho apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina de Psicopedagogia, Curso de Psicologia, Faculdade Integrada Aparício Carvalho (FIMCA), 2013.
SOARES, M. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Trabalho apresentado na 26° Reunião Anual da ANPED, Minas Gerais, 2003.
_______________________ Alfabetização e Letramento. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2004.
VAL, Maria da Graça Costa. O que é ser alfabetizado e letrado? 2004. In: CARVALHO, Maria Angélica Freire de (org.). Práticas de Leitura e Escrita. 1. Ed. Brasília: Ministério da Educação, 2006.
VERAS, Fernanda de Carvalho. A dislexia e a linguagem com foco na leitura e produção textual. 2013. Disponível em: Acesso em 15 de agosto 2022.
WEISS, Maria Lucia Lemme. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. Rio de Janeiro: DP & A, 2004.