BEYOND THE ABYSS: A LITERATURE REVIEW ON THE NEUROBIOLOGICAL FOUNDATIONS OF DEPRESSION
Medicina – Universidade Brasil – Fernandópolis/SP
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10222496
Ingrid Lezzi da Silva1; Nilcemara Albino Pereira2; Tonny Luiz Araujo Sousa3; Jackelyne Gabrielle Jesus de Miranda4; Rodrigo Basílio de Amorim5; Ícaro Henrique da Silveira Santos6; Andressa Alberti7; Bárbara Beatriz Cavalcante Ferreira8; Lucas Morais Cunha9; Raysa Méscua.10
RESUMO
Este artigo apresenta uma revisão abrangente sobre os fundamentos neurobiológicos da depressão, explorando contribuições recentes da pesquisa em neurociência. Examina-se a disfunção sináptica, a plasticidade neuronal, e as alterações nos sistemas neuroendócrino e neurotrófico. Além disso, são discutidos os avanços no entendimento dos neurotransmissores e vias, como o sistema glutamatérgico e a via do kynurenine, associados à depressão. O papel das alterações no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e fatores estressantes na neurogênese também é abordado. Ao reunir essas peças, o artigo busca proporcionar uma compreensão mais holística da neurobiologia subjacente à depressão.
Palavras-chave: Depressão, Neurobiologia, Disfunção Sináptica, Plasticidade Neuronal, Neurotransmissores, Eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal.
ABSTRACT
This article provides a comprehensive review of the neurobiological foundations of depression, exploring recent contributions from neuroscience research. It examines synaptic dysfunction, neuronal plasticity, and alterations in neuroendocrine and neurotrophic systems. Furthermore, advances in understanding neurotransmitters and pathways, such as the glutamatergic system and the kynurenine pathway, associated with depression, are discussed. The role of changes in the hypothalamic-pituitary-adrenal axis and stress factors in neurogenesis is also addressed. By bringing together these pieces, the article aims to provide a more holistic understanding of the neurobiology underlying depression.
Keywords: Depression, Neurobiology, Synaptic Dysfunction, Neuronal Plasticity, Neurotransmitters, Hypothalamic-Pituitary-Adrenal Axis.
1. INTRODUÇÃO
A depressão, um transtorno mental complexo, continua a ser um desafio significativo para a saúde pública, afetando milhões de pessoas globalmente. Compreender os mecanismos subjacentes à depressão é essencial para desenvolver abordagens terapêuticas mais eficazes e compreensivas. Esta revisão de literatura mergulha nos fundamentos neurobiológicos da depressão, explorando os avanços científicos e as interconexões entre fatores genéticos, neuroquímicos, neurofisiológicos e desencadeantes ambientais.
A análise inicia-se examinando a influência das neurotrofinas, como o fator de crescimento nervoso (NGF) e o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), na plasticidade sináptica e na manutenção neuronal. Destaca-se também a via do kynurenine, revelando sua associação com a regulação do humor e seus metabólitos na depressão, conforme investigado por Arnone et al. (2018).
Ao adentrar nos aspectos neurofisiológicos, a revisão abrange alterações nos sistemas de neurotransmissores, como serotonina, noradrenalina e dopamina, e explora a importância da neuroplasticidade e do BDNF em regiões cerebrais fundamentais para o equilíbrio emocional.
Em um contexto mais amplo, a revisão explora os fatores desencadeantes da depressão, incluindo contribuições genéticas e biológicas, destacando o estudo de Mahar et al. (2014). A interação complexa entre estresse, metabolismo do triptofano e traumas emocionais, conforme investigado por diversos autores, adiciona camadas à compreensão dos fatores desencadeantes.
Finalmente, a revisão examina abordagens terapêuticas, abrangendo desde tratamentos convencionais, como antidepressivos e psicoterapia, até intervenções inovadoras, como a cetamina. A importância de considerar não apenas os aspectos biológicos, mas também os psicológicos e sociais no tratamento da depressão são enfatizados, sublinhando a necessidade de uma abordagem integrativa e personalizada.
Ao consolidar descobertas recentes, esta revisão busca proporcionar uma compreensão abrangente dos fundamentos neurobiológicos da depressão, contribuindo para o avanço contínuo no desenvolvimento de estratégias mais eficazes para prevenção e tratamento desse transtorno mental significativo.
2. DEPRESSÃO E O SISTEMA NERVOSO
A depressão é um transtorno mental complexo que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, impactando significativamente a qualidade de vida e o funcionamento diário. A compreensão aprofundada desse fenômeno requer uma abordagem multidisciplinar, integrando conhecimentos da psiquiatria, neurobiologia, psicologia e outras áreas relacionadas.
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), publicado pela American Psychiatric Association (APA) em 2014, é uma ferramenta fundamental para a classificação e diagnóstico de transtornos mentais, incluindo a depressão. Este manual estabelece critérios específicos que os profissionais de saúde mental utilizam para identificar e categorizar os sintomas depressivos, contribuindo para a compreensão clínica desta condição.
2.1. Neurotrofinas:
A complexidade da depressão é evidenciada quando exploramos os aspectos neurobiológicos e moleculares envolvidos. Estudos como de Alonso et al. (2010) destacam a importância das neurotrofinas e da plasticidade sináptica na fisiopatologia da depressão. As neurotrofinas são uma família de proteínas essenciais para o desenvolvimento, sobrevivência e função dos neurônios (células nervosas) no sistema nervoso. Elas desempenham um papel crucial na regulação do crescimento, diferenciação e manutenção de neurônios, bem como na plasticidade sináptica, que é a capacidade das sinapses (conexões entre neurônios) de se adaptarem e mudarem em resposta a estímulos.
As neurotrofinas, como o fator de crescimento nervoso (NGF), desempenham um papel vital no crescimento neuronal durante o desenvolvimento embrionário e na manutenção ao longo da vida. Algumas das neurotrofinas mais conhecidas incluem o fator de crescimento nervoso (NGF), o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) e o fator neurotrófico derivado de células gliais (GDNF).
No contexto da depressão e de outros distúrbios neuropsiquiátricos, as neurotrofinas são frequentemente estudadas devido ao seu impacto na plasticidade cerebral e na função sináptica. Alterações nos níveis ou na sinalização dessas proteínas podem estar associadas a condições neuropsiquiátricas, e entender seu papel é crucial para desenvolver abordagens terapêuticas eficazes.
2.2. Kynurenina:
Um entendimento mais abrangente da depressão envolve a investigação da via do kynurenine, conforme abordado por Arnone et al. (2018), que destaca o papel da via da Kynurenina e seus metabólitos na regulação do humor. A kynurenina é uma molécula que faz parte da via metabólica conhecida como via do kynurenine. Essa via metabólica está envolvida na conversão do aminoácido triptofano em vários compostos, incluindo a kynurenina, por meio de uma série de reações enzimáticas.
O triptofano é um aminoácido essencial obtido através da alimentação, e a via do kynurenine é uma das rotas metabólicas pelas quais o organismo converte o triptofano em outros compostos. A kynurenina, por sua vez, é um intermediário nessa via metabólica. A via do kynurenine desempenha um papel importante na regulação do metabolismo do triptofano e na produção de alguns compostos bioativos. Além disso, a kynurenina está envolvida em processos neuro ativos e imunológicos. Em particular, a via do kynurenine tem sido objeto de estudo em pesquisas sobre transtornos neuropsiquiátricos, como a depressão (ARNONE et al. 2018).
Em alguns estudos, a kynurenina e seus metabólitos têm sido associados a alterações no sistema nervoso central, podendo influenciar a regulação do humor e estar relacionados a condições como a depressão. No entanto, é importante notar que a relação exata entre a via do kynurenine, a kynurenina e os transtornos neuropsiquiátricos ainda está sendo investigada, e a compreensão completa dos mecanismos envolvidos requer mais pesquisa.
A kynurenina, através da via do kynurenine, está interconectada com o metabolismo do triptofano, que é a mesma via que leva à síntese de serotonina. Desse modo, há uma interconexão indireta entre a kynurenina e a serotonina.
2.3. Serotonina:
A serotonina, neurotransmissor central no entendimento da depressão, é objeto de investigação no estudo de Andrewsa et al. (2015), onde aborda a evolução do sistema serotonérgico e seu papel dual, levantando questões cruciais sobre o papel desse neurotransmissor na regulação do humor e nos mecanismos antidepressivos. Ela desempenha funções cruciais em uma variedade de processos, incluindo a regulação do humor, sono, apetite e muitas outras funções cognitivas e comportamentais.
A serotonina é conhecida por seu papel multifacetado no sistema nervoso central. Ela desempenha funções cruciais em uma variedade de processos, incluindo a regulação do humor, sono, apetite e muitas outras funções cognitivas e comportamentais. Portanto, a serotonina pode ser vista como tendo um “papel dual” devido às suas múltiplas funções no organismo.
A expressão “upper or a downer” de Andrewsa et al. (2015) sugere uma dicotomia entre os efeitos da serotonina. “Upper” é frequentemente associado a efeitos estimulantes ou elevadores do humor, enquanto “downer” refere-se a efeitos calmantes ou depressores. Essa dicotomia destaca a complexidade da função da serotonina e como seus efeitos podem variar dependendo do contexto e das interações com outros sistemas neuroquímicos.
Em resumo, o “papel dual” da serotonina refere-se à sua capacidade de desempenhar funções distintas e até mesmo opostas em diferentes situações fisiológicas, o que adiciona complexidade à compreensão de seu papel no sistema nervoso e, por extensão, em condições como a depressão e a resposta aos antidepressivos.
3. ASPECTOS NEUROFISIOLÓGICOS E NEUROQUÍMICOS
Os aspectos neurofisiológicos e neuroquímicos da depressão são temas de muita pesquisa e interesse na área da psiquiatria e da neuropsicologia. A depressão é um transtorno complexo e multifatorial, que envolve fatores genéticos, ambientais, psicológicos e biológicos. Alguns dos principais mecanismos neurofisiológicos e neuroquímicos que estão relacionados à depressão são:
3.1 Alterações nos sistemas de neurotransmissores:
Os neurotransmissores são substâncias químicas que permitem a comunicação entre os neurônios no cérebro. Alguns dos principais neurotransmissores envolvidos na depressão são a serotonina, a noradrenalina, a dopamina e o ácido gama-aminobutírico (GABA). Esses neurotransmissores estão associados a funções como humor, motivação, atenção, memória, sono, apetite e dor. A hipótese mais clássica da depressão é a de que há um desequilíbrio ou uma deficiência desses neurotransmissores, especialmente da serotonina, que leva a sintomas depressivos. Por isso, muitos medicamentos antidepressivos atuam aumentando a disponibilidade desses neurotransmissores nas sinapses cerebrais (ROZENTHAL, 2004).
3.2 Alterações na neuroplasticidade e no fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF):
A neuroplasticidade é a capacidade do cérebro de se adaptar e se modificar em resposta a experiências, aprendizagens e estímulos ambientais. O BDNF é uma proteína que estimula o crescimento, a sobrevivência e a diferenciação dos neurônios, além de facilitar a formação de novas conexões sinápticas. Estudos mostram que a depressão está associada a uma redução da neuroplasticidade e dos níveis de BDNF no cérebro, especialmente em regiões como o hipocampo, o córtex pré-frontal e a amígdala, que estão envolvidas na regulação do humor, da cognição e do estresse. Essas alterações podem comprometer a função e a estrutura dessas regiões, levando a déficits cognitivos, emocionais e comportamentais. Por outro lado, o tratamento antidepressivo, seja farmacológico ou psicoterápico, pode aumentar a neuroplasticidade e os níveis de BDNF, promovendo a recuperação e a resiliência cerebral (LIU et al. 2017).
3.4 Alterações no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA):
O eixo HHA é um sistema que regula a resposta do organismo ao estresse, liberando hormônios como o cortisol. O cortisol é um hormônio que tem efeitos diversos no metabolismo, na imunidade, na inflamação, na memória e no humor. Em situações normais, o cortisol aumenta em resposta a um estressor agudo e depois retorna aos níveis basais. No entanto, na depressão, há uma hiperativação crônica do eixo HHA, levando a níveis elevados e persistentes de cortisol. Essa alteração pode ter efeitos negativos no cérebro, como a redução do volume do hipocampo, a diminuição da neurogênese, a alteração da neurotransmissão e a piora dos sintomas depressivos. Além disso, o cortisol pode interferir na ação de outros hormônios, como a melatonina, que regula o ritmo circadiano, e a tireoxina, que regula o metabolismo (DEL PORTO, 1999).
4. FATORES DESENCADEANTES DA DEPRESSÃO
Os fatores desencadeantes da depressão são as situações ou condições que podem favorecer o surgimento ou agravar os sintomas do transtorno depressivo. A depressão é uma doença complexa e multifatorial, que envolve fatores genéticos, biológicos, ambientais e psicológicos. Portanto, não há uma única causa ou fator desencadeante da depressão, mas sim uma combinação de vários fatores que podem variar de pessoa para pessoa.
4.1 Fatores Genéticos e Biológicos:
A predisposição genética desempenha um papel importante na vulnerabilidade à depressão. Se houver histórico familiar da doença, o risco pode ser aumentado. Alterações na química cerebral, incluindo desequilíbrios nos neurotransmissores como serotonina, noradrenalina e dopamina, estão associadas à depressão.
A genética é um fator de risco importante para a depressão, mas não é o único determinante. A hereditariedade é provavelmente de 40-50%, e pode ser maior para a depressão grave. Isso significa que, na maioria dos casos de depressão, cerca de 50% da causa é genética, e cerca de 50% é não relacionada aos genes (fatores psicológicos ou físicos). No entanto, a hereditariedade não é simples, pois envolve a interação de vários genes, cada um contribuindo com um pequeno risco sob certas condições ambientais. Nenhum deles torna a depressão inevitável (MAHAR, 2014).
4.2 Estresse:
O estudo de Mahar et al. (2014) destaca a interconexão entre estresse, neurotransmissores e depressão. Examina como o estresse afeta a liberação de neurotransmissores, incluindo serotonina, e como isso está relacionado aos efeitos antidepressivos. A relação entre estresse e a via do kynurenine pode ser crucial, pois o estresse pode modular essa via, potencialmente contribuindo para alterações neuroativas associadas à depressão.
O estresse é uma resposta adaptativa do organismo a situações que exigem esforço ou ameaçam o equilíbrio psicológico. No entanto, quando o estresse é crônico, intenso ou incontrolável, pode ter efeitos negativos sobre a saúde mental e física, aumentando o risco de depressão. O estresse pode afetar a neuroquímica cerebral, alterando os níveis de neurotransmissores como a serotonina, a dopamina e o glutamato, que estão envolvidos na regulação do humor, da motivação e do prazer.
O estresse também pode ativar o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA), que libera hormônios como o cortisol, que podem causar inflamação, danos oxidativos e neurodegeneração. Além disso, o estresse pode interferir na neurogênese, ou seja, na formação de novos neurônios, especialmente no hipocampo, uma região cerebral importante para a memória, a aprendizagem e a emoção. A neurogênese é considerada um mecanismo de plasticidade e resiliência cerebral, que pode ser estimulada por antidepressivos e fatores neurotróficos. Portanto, o estresse pode reduzir a capacidade do cérebro de se adaptar e se recuperar de situações adversas, favorecendo o surgimento de sintomas depressivos (MAHAR, 2014).
4.3 O metabolismo do triptofano:
O triptofano é um aminoácido precursor da serotonina, um neurotransmissor que está envolvido na regulação do humor, da ansiedade e do sono. O triptofano pode ser metabolizado por duas vias principais: a via da serotonina, que produz serotonina e melatonina, e a via da quinurenina, que produz vários metabólitos, alguns dos quais são neurotóxicos e pró-inflamatórios, como o ácido quinolínico e o 3-hidroxi-quinurenina. A via da quinurenina é ativada pelo estresse, pela inflamação e pelo sistema imunológico, e pode competir com a via da serotonina pelo triptofano. Estudos sugerem que a via da quinurenina está envolvida na depressão e na ideação suicida, pois seus metabólitos podem causar danos aos neurônios, reduzir a neurogênese, aumentar o estresse oxidativo e alterar o equilíbrio dos neurotransmissores (BISCAINO, 2016).
4.4 Fatores Econômicos e Sociais:
Os fatores econômicos e sociais podem afetar o acesso aos recursos, às oportunidades e ao apoio social, que são importantes para a saúde mental e o bem-estar das pessoas. A pobreza, o desemprego, a desigualdade, a violência, a discriminação, o isolamento e a falta de perspectivas podem gerar sentimento de frustração, desesperança, impotência e baixa autoestima, que podem levar à depressão. Além disso, esses fatores podem influenciar as expectativas, as crenças e as atitudes das pessoas em relação à vida, à felicidade e à morte, podendo afetar o seu senso de propósito, de valor e de significado. Estudos mostram que há uma relação entre os fatores econômicos e sociais e a prevalência, a gravidade e a duração da depressão, bem como a taxa de suicídio (KOLVALSKI, 2015).
É importante notar que esses fatores desencadeantes não agem isoladamente, e muitas vezes há uma interação complexa entre eles. Além disso, nem todas as pessoas expostas a esses fatores desenvolverão depressão, e a vulnerabilidade individual desempenha um papel significativo na suscetibilidade ao transtorno. O tratamento da depressão frequentemente envolve uma abordagem multidisciplinar que considera esses diversos fatores.
4.5 Traumas emocionais:
Experiências negativas na infância ou na vida adulta, como abuso, violência, bullying, chantagem, rejeição, humilhação, entre outras, podem gerar marcas profundas na personalidade e na autoestima da pessoa, aumentando o risco de desenvolver depressão. Esses traumas podem afetar a forma como a pessoa se relaciona consigo mesma e com os outros, além de interferir na sua capacidade de lidar com as adversidades da vida (HEIM & NEMEROFF 2001).
A morte de um ente querido, o fim de um relacionamento, o divórcio, a separação dos filhos, a perda de um emprego, a aposentadoria, entre outras situações de perda, podem desencadear um processo de luto, que é uma reação natural e esperada diante da ausência de algo ou alguém importante. No entanto, quando o luto se prolonga por muito tempo ou é muito intenso, pode evoluir para um quadro depressivo. A pessoa pode se sentir triste, vazia, culpada, desesperançosa, isolada e sem sentido na vida (ZISOOK & SHEAR 2009) .
5. TRATAMENTO
A depressão é um transtorno mental que afeta milhões de pessoas no mundo, e que pode ter graves consequências para a saúde, a qualidade de vida e a produtividade dos indivíduos. A depressão é causada por uma interação complexa de fatores biológicos, psicológicos e sociais, que podem variar de pessoa para pessoa. Por isso, o tratamento da depressão deve ser individualizado e integrado, levando em conta as características, as necessidades e as preferências de cada paciente.
Os tratamentos mais comuns para a depressão são os medicamentos antidepressivos e a psicoterapia, que podem ser usados isoladamente ou em combinação. Os antidepressivos são fármacos que atuam sobre os neurotransmissores, como a serotonina, a dopamina e o glutamato, que estão envolvidos na regulação do humor, da motivação e do prazer. Os antidepressivos podem ser classificados em diferentes classes, de acordo com o seu mecanismo de ação, como os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), os inibidores da monoaminoxidase (IMAO), os tricíclicos, os atípicos, entre outros. Cada classe de antidepressivos tem suas vantagens e desvantagens, e pode ter diferentes efeitos colaterais e interações medicamentosas. Por isso, a escolha do antidepressivo mais adequado para cada paciente deve ser feita pelo médico, levando em conta a eficácia, a tolerabilidade, a segurança e o custo do medicamento (KIRSCH, 2011; DUMAM, 2012).
A psicoterapia é um tratamento que envolve a interação entre o paciente e um profissional de saúde mental, como um psicólogo ou um psiquiatra, com o objetivo de ajudar o paciente a compreender e a modificar seus pensamentos, sentimentos e comportamentos, que podem estar relacionados à depressão. Existem diferentes tipos de psicoterapia, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC), a terapia interpessoal (TIP), a terapia de aceitação e compromisso (ACT), entre outras. Cada tipo de psicoterapia tem suas bases teóricas, seus métodos e suas técnicas, e pode ser mais ou menos eficaz para cada paciente, dependendo da sua personalidade, da sua história de vida, do seu problema e do seu objetivo (ZORUMSKI et al. 2016).
Além dos antidepressivos e da psicoterapia, existem outros tratamentos que podem ser usados para a depressão, como a estimulação cerebral, a fototerapia, a atividade física, a meditação, a acupuntura, entre outros. Esses tratamentos podem ter diferentes mecanismos de ação, como estimular a neurogênese, a sinaptogênese, a plasticidade e a resiliência cerebral, regular os ritmos circadianos, liberar endorfinas, reduzir o estresse, aumentar o bem-estar, entre outros. Esses tratamentos podem ser usados como complementares ou alternativos aos tratamentos convencionais, mas devem ser sempre orientados por um profissional de saúde, que pode avaliar os benefícios, os riscos e as contra indicações de cada um (LIU et al. 2017).
O tratamento da depressão representa um desafio para a saúde pública devido à relutância em procurar ajuda, falta de adesão aos tratamentos e possíveis recaídas. Por isso, é importante investir em pesquisas que possam desenvolver novos tratamentos, mais eficazes, mais rápidos, mais seguros e mais acessíveis para a depressão.
Um exemplo de um novo tratamento que tem mostrado resultados promissores é a cetamina, um antagonista do receptor NMDA, que pode induzir uma melhora rápida e duradoura dos sintomas depressivos, mesmo em pacientes resistentes aos antidepressivos convencionais. A cetamina pode atuar aumentando a expressão do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), que é um fator de crescimento neuronal, que pode estimular a formação de novas sinapses e espinhas dendríticas, especialmente no hipocampo e no córtex pré-frontal, que são regiões cerebrais importantes para a memória, a aprendizagem e a emoção (DUMAM & LI, 2012).
Em conclusão, a depressão é uma doença complexa e heterogênea, que requer uma abordagem integrativa e individualizada para o seu tratamento. O tratamento da depressão deve envolver não só os aspectos biológicos, mas também os aspectos psicológicos e sociais, que podem influenciar o desenvolvimento, a manutenção e a recuperação da doença. O tratamento da depressão deve ser baseado em evidências científicas, mas também deve levar em conta as preferências, os valores e as expectativas dos pacientes, que devem ser ativos e participativos no seu processo terapêutico.
6. CONCLUSÃO
A interconexão entre fatores genéticos, neuroquímicos, neurofisiológicos e desencadeantes ambientais revela a intrincada rede de elementos que contribuem para o desenvolvimento e a manifestação da depressão. A influência das neurotrofinas, especialmente o BDNF, na plasticidade sináptica destaca-se como um ponto central, sublinhando a importância da regulação neuroquímica na manutenção neuronal e, por conseguinte, no equilíbrio emocional. A via do kynurenine, com seus metabólitos associados à regulação do humor, acrescenta uma dimensão adicional à complexidade das vias metabólicas envolvidas na depressão.
Os aspectos neurofisiológicos, incluindo alterações nos sistemas de neurotransmissores e a influência do eixo HHA, fornecem uma visão aprofundada das mudanças fisiológicas subjacentes à depressão. A compreensão desses mecanismos é crucial para o desenvolvimento de intervenções terapêuticas mais precisas e eficazes.
Explorando os fatores desencadeantes, evidenciamos a relevância das contribuições genéticas e biológicas, bem como a influência significativa do estresse, metabolismo do triptofano e traumas emocionais. A interação complexa entre esses fatores destaca a natureza multifatorial da depressão e enfatiza a necessidade de uma abordagem integrativa no tratamento.
No âmbito terapêutico, a revisão destaca a diversidade de abordagens, desde tratamentos convencionais, como antidepressivos e psicoterapia, até intervenções inovadoras, exemplificadas pela cetamina. A importância de considerar não apenas os aspectos biológicos, mas também os psicológicos e sociais, sublinha a necessidade de abordagens personalizadas.
Considerando estas descobertas, sugere-se que futuras pesquisas explorem a interseção mais profunda entre os elementos neurobiológicos, ambientais e genéticos, buscando elucidar mecanismos ainda não totalmente compreendidos. Além disso, a investigação de tratamentos mais acessíveis e estratégias preventivas direcionadas a populações de risco pode representar um avanço significativo.
Em conclusão, a revisão proporciona uma visão abrangente dos fundamentos neurobiológicos da depressão, oferecendo uma base sólida para abordagens mais eficazes no diagnóstico, tratamento e prevenção deste transtorno mental relevante. Ao abordar lacunas de conhecimento e promover uma compreensão mais profunda, esta revisão contribui para o avanço contínuo no campo da saúde mental, visando aprimorar a qualidade de vida daqueles afetados pela depressão.
REFERÊNCIAS
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1Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil – Fernandópolis/SP;
2Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil – Fernandópolis/SP;
3Graduando em Medicina pela Universidade Brasil – Fernandópolis/SP;
4Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil – Fernandópolis/SP;
5Graduando em Medicina pela Universidade Brasil – Fernandópolis/SP;
6Graduando em Medicina pela Universidade Brasil – Fernandópolis/SP;
7Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil – Fernandópolis/SP;
8Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil – Fernandópolis/SP;
9Graduando em Medicina pela Universidade Brasil – Fernandópolis/SP;
10Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil – Fernandópolis/SP.