REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11054379
Adrielly Santos Da Silva,
Illana Kelly De Souza Barbosa,
Nielenice Jeronimo De Oliveira,
Orientador: José Massao Miasato
RESUMO
A informação sobre prevenção e hábitos de higiene oral devem ser passados desde a gestação para as mães, recomendando higienização dos dentes desde a erupção dos primeiros dentes. A doença cárie está muito relacionada com a situação socioeconômica e hábitos culturais. O objetivo deste trabalho foi investigar uma possível relação entre o aleitamento com a doença cárie por meio de revisão de literatura a partir de artigos obtidos pela seguinte base de dados: SCIELO E PUBMED e de busca: GOOGLE ACADÊMICO. Foram selecionados artigos nacionais e internacionais que relatavam o tema abordado. Não há embasamento científico sobre uma associação entre o aleitamento materno e cárie, mas alguns estudos mostram essa associação quando se tem livre demanda de mamada, frequência de alimentação durante a noite, que causa acúmulo de leite na superfície do dente e junto com a redução do fluxo salivar pode surgir a cárie.
Palavras-chaves: Aleitamento materno e cárie. Cárie de mamadeira. Odontopediatria.
ABSTRACT
Information on prevention and oral hygiene habits should be passed from pregnancy to mothers, recommending saniziting of teeth since the eruption of the first teeth. The disease is very related to socioeconomic status and cultural habits. The objective of this work was to investigate a possible relationship between breastfeeding and caries disease through a literature review from articles obtained by the following database: SCIELO e PUBMED and search: GOOGLE ACADEMIC. National and international articles were selected that reported the theme addressed. There is no scientific basis on an association between breastfeeding and caries, but some studies show this association when there is free feeding demand, frequency of feeding at night, which causes milk accumulation on the tooth surface, along with reduced salivary flow, caries may arise.
Keywords: Beastfeeding and caries. Bottle caries. Pediatric Dentistry.
1 INTRODUÇÃO
A grande problemática na saúde pública mundial é a cárie dental na infância, sendo uma doença muito comum.1
A dieta rica em sacarose induz o aparecimento da cárie, que é uma doença multifatorial, o uso do flúor causa declínio mundial, mas sua prevalência continua na dentição decídua. 2
Bebês de zero a 30 meses tem prevalência de cárie em torno de 55%, sendo necessárias estratégias educativas para gestantes e mães. Informações sobre higienização e o potencial cariogênico do leite devem ser passados para os pais, pois os hábitos estão relacionados à fatores culturais, sociais e comportamentais.3
Fazendo um diagnóstico precoce das lesões iniciais, em estágio reversível, torna o tratamento mais simples, menos invasivo e de menor custo, onde aplica o flúor e orienta sobre a higienização e hábitos. 3
O pediatra é o principal responsável pela promoção da saúde oral da criança, a doença cárie é previsível e sua prevenção começa no consultório pediátrico e caso seja identificada qualquer lesão cariosa, orientar os pais a procurarem o dentista.4
Interrompendo a evolução da doença carie é evitada a destruição de vários elementos dentários decíduos que acarretam repercussões locais, sistêmicas, psicológicas e sociais.5
É necessária uma atuação conjunta da odontologia e pediatria, devido a severidade da cárie dentária em dentes decíduos, para verificar e orientar as mães sobre a higiene bucal dos seus bebês.6
Após identificar os fatores que levam a cárie aguda, e a orientação aos responsáveis, o tratamento de “preparo do meio bucal”, paralisa a doença e essa etapa se constitui de prevenção e controle (dieta e higiene).7
A lesão cárie de mamadeira se desenvolve a partir de associação de mamadas sem controle, que ultrapassam o primeiro ano de vida, podendo ser mamadas de peito ou mamadeira e pelo hábito de oferecer chupetas adoçadas.8
Devidos os danos causados pela manifestação da doença cárie na qualidade de vida do paciente infantil, esse trabalho propôs investigar por meio de revisão de literatura a relação do aleitamento com a doença cárie.
2 REVISÃO LITERATURA
A cárie precoce da infância se caracteriza pela presença de um ou mais dentes decíduos com lesão de cárie, restaurados, obturados ou perdidos por carie em crianças menores de seis anos de idade. Em crianças menores de três anos de idade qualquer sinal ou lesão de cárie nas superfícies dentárias é caracterizada como CPI grave. A etiologia da cárie como uma doença infecciosa transmissível, sendo seu causador a bactéria Streptococcus mutans. Sua transmissão é vertical a partir da mãe para a criança através da saliva, mas a transmissão horizontal, através de contato com outras crianças infectadas na creche, por exemplo, também ocorre. O principal fator de risco de desenvolvimento da CPI é a alimentação de açúcares nos primeiros 12 meses de vida da criança que se segue durante a primeira infância, mas que a amamentação natural não está consistentemente implicada com a CPI.9
A cárie é uma doença infecciosa induzida pela dieta e apesar do declínio mundial em todas as idades pela utilização do flúor, sua permanência permanece estável na dentição decídua. A Academia Americana de Odontopediatria (AAPD) declara haver um risco potencial de cárie por aleitamento em crianças alimentadas no seio em livre demanda e por mamadeira, estando esse risco relacionado a alimentação prolongada e repetitiva sem o acompanhamento de medidas de higienização oral adequadas; também declara que a AAPD considera crianças que dormem com mamadeira ou que mamam no peito a noite são de alto risco a cárie. O uso de mamadeira a noite está associado a diminuição do fluxo e da capacidade de neutralização salivar, o que leva os dentes a sofrerem estagnação dos alimentos e exposição prolongada aos carboidratos fermentáveis.10
Em um estudo feito num Centro Infantil numa cidade no norte do Paraná por meio de levantamento de dados dos prontuários e informações complementares obtidas com os pais de crianças entre 0-6 anos. Concluiu que a proteção imunológica do leite materno é fator preponderante para a exclusão do leite materno como razão principal do surgimento de cárie em lactentes. Para isso é necessária a atenção a multifatoriedade da cárie e aos hábitos de higiene bucal dos pais com a criança.11
Um estudo transversal com 50 pais de crianças de 7- 48 meses em Belo Horizonte – MG mostrou que 98% das crianças consumiram sacarose antes dos 2 anos de idade. A introdução de sacarose antes dos 6 meses de idade apresentou associação significativa na presença de cárie.12
O leito materno em si não é fator cariogênico, tendo inclusive íons de cálcio e fosforo na composição do leite materno, sendo minerais que ajudam na formação dos dentes. Entretanto o aleitamento materno noturno é associado a lesões cariosas, pois nesse período há a baixa produção salivar e a não higienização após as mamadas quando a criança adormece durante a amamentação.13
Comparado com o leite materno, composto de lactose, que tem menor potencial cariogênico, o leite industrializado, que contém sacarose, tem maior potencial cariogênico, sendo necessário um maior cuidado com a higiene bucal de crianças com dieta desse tipo de leite.14
O consumo de sacarose na primeira infância e práticas inadequadas de higienização podem causar lesões cariosas, perdas de elementos dentários e afetar a oclusão dessas crianças, sendo de responsabilidade dos pais os devidos cuidados com a escolha da alimentação e os hábitos de higiene das crianças e dos profissionais de saúde a devida orientação desses pais sobre a importância da higiene oral e do consumo consciente de sacarose.15
O aleitamento materno exclusivo é fator de proteção para a instalação dos hábitos bucais e que a amamentação com mamadeira contendo açúcar foi principal fator de aparecimento de lesão de cárie em crianças cujas famílias tinham baixa renda.16
O atendimento odontológico precoce nos bebês em período de amamentação é de extrema importância. Mesmo o aleitamento materno prolongado contribuindo para a cárie precoce, a mesma não deve ser desencorajada, por seus inúmeros benefícios, a prevenção do biofilme dentário evita o aparecimento de lesões cariosas.17
Quando o bebê completa 6 meses se inicia a introdução de outros alimentos apropriados para complementar a alimentação e nutrição, podendo estender o aleitamento aos 2 anos juntamente com alimentação sólida.
Apesar das orientações dos profissionais de saúde e de ações governamentais os índices do aleitamento materno continuam baixo em vários países.
O cirurgião dentista tem um papel muito importante de orientar os pais de como realizar a higienização oral do bebê e incentivar os pais a manterem o aleitamento materno e explicar os pontos negativos do desmame precoce.18
A composição bioquímica do leite materno e a lactose é um tipo de dissacarídeo formado por glicose e galactose. A lactose quando fermentada pelas bactérias diminuiu o pH e não aumenta a produção de polissacarídeo extracelulares (PEC), diferente da sacarose quando fermentada.
As PECS promovem maiores aderências de bactérias na estrutura dentária e torna o biofilme mais cariogênico. Outro fator na composição do leite materno é a presença de fósforo e cálcio, que são capazes de causar supersaturação dos fluidos bucais em relação à mesma, esses aumentam a concentração de íons na saliva. Para que ocorra o processo de desmineralização da estrutura dentária é necessário que o pH diminua para causar subsaturação do meio e assim ocorra a saída desses íons. Na composição do leite materno encontramos uma proteína caseína, que tem capacidade de estabilizar os grânulos de cálcio e fósforo e tem efeito de redução de aderências de bactérias.19
A cárie está ligada aos maus hábitos alimentares e a prática alimentar da família, é necessário estabelecer uma dieta saudável e evitar a ingestão alimentos com açúcar. O profissional da saúde tem o dever de orientar sobre a não necessidade de introdução precoce de açúcar ou cereais. O período da introdução da alimentação complementar costuma coincidir com a erupção dos primeiros dentes na cavidade bucal sendo necessário a realização da escovação dentária com dentifrício fluoretado, a quantidade da pasta está relacionada com a idade da criança. A escovação deve ser feita com a supervisão de um responsável. Durante a formação da dentição, o excesso de ingestão de flúor causa fluorose dentária. 20
A amamentação tem seus benefícios na saúde da criança. Deve ser avaliado individualmente cada criança e estrutura familiar. O estudo mostrou a incidência de cárie grave em crianças amamentadas por mais de 24 meses, mas não há dados da frequência e amamentação noturna, por não ter sido controlado.21
3 Discussão
A cárie por ser multifatorial, depende de uma alimentação rica em carboidratos fermentáveis da queda de pH, desmineralização da superfície dentária e higienização não eficiente. É de extrema importância que o bebê seja levado para a consulta ao dentista assim que o os primeiros dentes erupcionarem, para os responsáveis recebam as informações sobre prevenção da cárie.1
O índice de cárie em bebês tem associações socioeconômicas, níveis de escolaridades dos pais, pacientes especiais, pais que tenham a doença cárie e bebês que fazem uso de mamadeira no período da noite. 2. 4
A lesão de cárie foi observada mais em dentes superiores, pelo fato que durante a amamentação os dentes inferiores são protegidos pela língua e os superiores são mais expostos. 3
O aleitamento materno quando exclusivo não é um fator de risco para cárie na primeira infância, mas existem fatores que podem contribuir para o aparecimento de lesões da doença cárie como defeitos em esmalte e uso de mamadeiras noturnas. 5
O aleitamento materno estendido pode ocasionar cárie, pelo fato de ocorrer modificações na composição do leite materno após os primeiros meses de vida da criança, mas o alimento complementar na dieta do bebê pode contribuir para o aparecimento da cárie.8
A amamentação não tem ligação com casos severos de cárie, mas o aleitamento em conjunto com alimentos ricos em açúcar ocasiona a cárie. 9
Durante o aleitamento materno exclusivo não obtiveram dados que pode ocasionar cárie mesmo no período da noite.10
Crianças amamentadas por mais de 24 meses, tem maior risco de incidência de cárie grave, independentemente da ingestão de açúcar ou higiene oral. O leite materno pode induzir a desmineralização do esmalte dentário, como demonstrado em estudos In vitro e in situ e a suplementação com açúcar aumenta o potencial cariogênico. As crianças dependem da supervisão dos pais para o controle da higiene oral e alimentação, pais solteiros possuem mais dificuldades de acompanhar essas tarefas, pelo fato de não ter como compartilhar.21
4 Considerações finais
Mediante a leitura dos artigos para a realização dessa revisão de literatura, podemos observar que é de extrema importância a orientação aos pais sobre a higiene oral e a ingestão de suplementos com açúcar para evitar a doença cárie já que após sua instalação a solução fica bem difícil. Os bebês devem ir ao dentista assim que erupcionarem os primeiros dentes, para que os pais recebam a instrução sobre a utilização da quantidade de dentifrício, evitando problemas com o excesso de flúor.
O aleitamento materno tem sua importância indiscutível, devendo ser estimulado exclusivo até os 6 meses e mantendo-o pelo menos até 2 anos de idade, mas sempre realizando a higiene oral.
Ainda não tem comprovação cientifica sobre o aleitamento materno associado ao aparecimento de cárie.
Utilizar medidas preventivas e educacionais, levando sempre em consideração a individualidade de cada paciente e sua família.
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