ADOÇÃO DO PADRÃO ALIMENTAR VEGETARIANO POR MULHERES NO PERÍODO GRAVÍDICO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA SAÚDE: UMA REVISÃO DA LITERATURA

ADOPTION OF THE VEGETARIAN DIETARY PATTERN BY WOMEN IN PREGNANCY AND ITS HEALTH CONSEQUENCES: A LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202408080436


Anna Clara Fenato de Lisbôa1; Aline Araújo Souza2; Ana Beatriz dos Santos da Silva3; Ana Luiza Fialho Pereira4; Letícia Lira Xavier5; Maria Milena Guimarães Vasconcelos6; Paula Martins dos Reis7; Rayane Felipe de França8; Vivian Mikelly Estevão da Silva9; Karina Mondadori Garcia10


RESUMO

A gravidez e o vegetarianismo associados têm indícios de insegurança nutricional, porém, a dieta vegetariana evidencia benefícios à saúde de indivíduos em qualquer ciclo da vida. De acordo com o padrão alimentar vegetariano existem diferentes tipos de dietas que são descritas conforme o consumo de alimentos de origem vegetal. O objetivo proposto busca identificar o impacto da dieta vegetariana na saúde da mulher grávida. A metodologia incluiu artigos originais e de revisão que correlacionassem alimentação vegetariana e gestação, após a definição dos critérios de inclusão e exclusão, foram selecionadas publicações a partir de 2019 até 2024, nas bases de dados Pubmed, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), MedLine e Cochrane Library, nos idiomas Português e Inglês. A partir dos achados identificou-se que os estudos indicam que o padrão alimentar vegetariano está associado a um bom prognóstico na saúde e manejo de doenças, principalmente aquelas associadas a gravidez como o diabetes mellitus gestacional, desde que ocorra uma busca para a prevenção de deficiências nutricionais, como das vitaminas D e B12 ou ferro e cálcio. Assim, as dietas vegetarianas indicam benefícios para a saúde da mulher grávida desde que orientada de forma correta por profissionais, podendo auxiliar no manejo de doenças, contanto que não haja deficiências nutricionais.

Palavras-chave: Gravidez. Dieta Vegetariana. Micronutrientes. Deficiências Nutricionais.

SUMMARY

Pregnancy and vegetarianism associated with each other have signs of nutritional insecurity, however, the vegetarian diet shows benefits to the health of individuals at any stage of life. According to the vegetarian dietary pattern, there are different types of diets that are described according to the consumption of foods of plant origin. The proposed objective seeks to identify the impact of a vegetarian diet on the health of pregnant women. The methodology included original and review articles that correlated vegetarian diet and pregnancy, after defining the inclusion and exclusion criteria, publications were selected from 2019 to 2024, in the databases Pubmed, Virtual Health Library (VHL), MedLine and Cochrane Library, in Portuguese and English. From the findings, it was identified that studies indicate that the vegetarian dietary pattern is associated with a good health prognosis and disease management, especially those associated with pregnancy such as gestational diabetes mellitus, as long as there is a search for the prevention of deficiencies nutrients, such as vitamins D and B12 or iron and calcium. Thus, vegetarian diets indicate benefits for the health of pregnant women as long as they are correctly guided by professionals, and can help in the management of diseases, as long as there are no nutritional deficiencies. 

Keywords: Pregnancy. Vegetarian diet. Micronutrients. Nutritional deficiencies.

1. INTRODUÇÃO

A gravidez é considerada um ciclo da vida em que a mulher se torna mais susceptível a deficiências nutricionais, isso ocorre devido à grande demanda energética e nutricional advinda do feto e do próprio período gravídico (KARCZ et al., 2019; HYDE et al., 2017). 

A alimentação vegetariana pode ser um indicador de risco nutricional na gravidez, porém, de acordo com Craig & Mangels (2009) e Baroni et al. (2019), as dietas vegetarianas bem planejadas podem ser utilizadas pela população em todas as etapas do ciclo da vida, incluindo a gravidez e o período de lactação.

A dieta onívora é aquela caracterizada pelo consumo de alimentos de origem animal e vegetal, o que é um padrão alimentar mais comum dos países ocidentais (BARROS et al., 2020). De acordo com Slywitch (2012) e Slywitch (2018), o padrão alimentar vegetariano não se resume somente ao consumo de alimentos de origem vegetal, mas sim, há alguns grupos de acordo com o uso de alimentos de origem animal, além do uso dos alimentos de origem vegetal.

Atualmente existem diversos tipos de dietas vegetarianas conhecidas no mundo, dentre elas, pode-se citar a dieta ovolactovegetariana, que utiliza ovos, leite e laticínios; lactovegetariano, com leite e laticínios; ovovegetariana, que contempla ovos; vegetariana estrita, em que não há consumo de nenhum tipo de alimento de origem animal e dieta vegana, no qual o indivíduo que a adota não consome nenhum tipo de alimento de origem animal, além de limitar o uso vestimentas e produtos para aqueles que não tenham uso animal. Conforme cada dieta adotada é identificado um perfil nutricional diferente, isso ocorre devido à disposição nutricional dos alimentos ofertados daquele padrão alimentar (VASCONCELOS et al., 2021).

É notório que o uso das dietas vegetarianas alarma no quesito de deficiências nutricionais. A proteína é um nutriente muito discutido em relação a sua ingestão adequada, porém, os micronutrientes como o ferro e a vitamina B12 são os que apresentam maiores indícios para a inadequação do consumo associado à adoção da alimentação com predominância de alimentos de origem vegetal (BENHAM et al., 2021; RODRIGUES & JORGE, 2010).

Evidencia-se que a dieta vegetariana com adequado planejamento garante melhor adesão da paciente e melhores desfechos. Em concordância, a autonomia da paciente deve ser respeitada, porém, a orientação do profissional de saúde para a mulher em período gravídico é de suma importância para a garantia de uma gestação com menor risco de deficiências nutricionais (COZZOLLINO, 2005; GIANNETTO et al., 2019). 

O trabalho dos profissionais de saúde na orientação para o uso do padrão alimentar vegetariano deve ser contínuo e preferencialmente iniciado anterior à gravidez e continuado após a concepção (GIANNETTO et al., 2019). Com isso, torna-se importante compreender como a alimentação vegetariana pode ser ofertada para a mulher em período gravídico para que possa gerar benefícios. 

Este trabalho teve como objetivo principal identificar o impacto da dieta vegetariana na saúde da mulher em período gravídico, além disso, o estudo propôs verificar os possíveis benefícios e malefícios que a adoção da alimentação vegetariana durante a gestação pode gerar para a mulher, buscou indicar como a alimentação vegetariana deve ser adotada durante a gravidez e correlacionar a prevenção de doenças com o uso da alimentação vegetariana no período gravídico.

2. METODOLOGIA

 Trata-se de uma revisão de literatura científica sobre vegetarianismo na gestação e seus desdobramentos na saúde. Foram incluídos artigos originais e artigos de revisão que correlacionassem alimentação vegetariana e gestação, com publicações a partir de 2019 até 2024, nas bases de dados Pubmed, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), MedLine e Cochrane Library, nos idiomas Português e Inglês. Foram excluídas monografias, dissertações e teses, além de protocolos, estudos que citaram somente a alimentação onívora relacionada com a gravidez ou estudos que evidenciassem o padrão alimentar vegetariano para uma população que não fosse a mulher em período gravídico, assim como, foram excluídos os estudos que apresentaram desfechos somente para o feto. 

As palavras-chave utilizadas conforme os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) foram “gravidez”, “dieta vegetariana”, “micronutrientes” e “deficiências nutricionais”, conforme a língua portuguesa e, “pregnancy”, “vegetarian diet”, “micronutrients” e “deficiency diseases”, conforme a língua inglesa.

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 O PADRÃO ALIMENTAR VEGETARIANO

O uso das dietas predominantemente à base de alimentos de origem vegetal vem crescendo a nível mundial nas últimas décadas, esse fato decorre especialmente por conta da busca pela sustentabilidade do planeta, preferências culturais e socioeconômicas, além da busca por um padrão de vida alimentar saudável (CRAIG et al., 2021). Em concordância, a adoção do estilo alimentar vegetariano, conforme cita Craig et al. (2021), facilita na proteção contra doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e alguns tipos de câncer, além disso, é evidenciado que a dieta vegetariana pode também auxiliar na composição e função da microbiota intestinal (MORENO et al., 2022).

O impacto da alimentação vegetariana vem sendo apresentado como positivo decorrente ao incentivo de um sistema mais sustentável. Com seu crescimento, é possível identificar uma maior preocupação em redução do desperdício de alimentos, incentivo à busca de aconselhamento dietético e nutricional, além da busca pela maior garantia de um sistema alimentar que forneça alimentação acessível com uso dos alimentos regionais (MORENO et al., 2022).

Nota-se que a composição de uma dieta vegetariana é importante para qualquer grupo populacional, portanto, é importante que haja uma variação dos alimentos de origem vegetal consumidos para que haja menores riscos de deficiências nutricionais (TAN et al., 2019).

3.2 DIETA VEGETARIANA E SUA ASSOCIAÇÃO COM AS DOENÇAS

A dieta vegetariana pode ser utilizada como fator positivo no enfrentamento de doenças como os transtornos alimentares (TA’s), estudos sugerem que isso decorre devido às mulheres que enfrentam essa patologia, quando se encontram em período gravídico, tenderem a ter os sintomas da doença amenizados e começarem a buscar um estilo de vida mais saudável em prol da saúde do feto (DÖRSAM et al., 2019). 

O uso do padrão alimentar vegetariano é identificado nos casos de TA’s principalmente por ser uma alimentação que inclui alimentos de mais baixa caloria e evita alimentos “engordativos” (DÖRSAM et al., 2019). Esse ponto reforça que a dieta vegetariana somente deve ser orientada se houver o aporte nutricional adequado e acompanhamento antes, durante e após a gestação, isso ocorre a fim de não gerar riscos nutricionais e indicar a importância de um aconselhamento e acompanhamento no período gravídico (VERDUCI et al., 2021).

O estudo de Crozier et al. (2019) identificou que o consumo da dieta vegetariana por gestantes apresenta menores níveis de cobalamina e alguns ácidos graxos poli-insaturados, esse fato se torna importante devido às concentrações desses nutrientes indicarem o desenvolvimento cognitivo do feto. Porém, notou-se que a concentração de folato materno de mulheres vegetarianas se encontrava maior em relação a mulheres que consumiam dieta onívora. Por fim, identificou-se que a diferença das concentrações encontradas não era significativa para indicar prejuízo cognitivo ao feto (CROZIER et al., 2019).

Do mesmo modo, em relação aos ácidos graxos poli-insaturados as concentrações de DHA são menores em dietas vegetarianas, o que poderia identificar piora no desenvolvimento cognitivo. Em contrapartida, mulheres vegetarianas apresentam QI mais elevado em relação a mulheres que consomem a dieta onívora. Além disso, o estudo sugere que mesmo com os níveis de alguns nutrientes se apresentarem baixos, não há indícios que a dieta vegetariana prejudica o feto após o nascimento e durante sua infância ou que indique uma gestação de risco. Ainda assim, é necessário análise de mais nutrientes para identificar outros efeitos positivos no desenvolvimento cognitivo do feto (CROZIER et al., 2019).

De acordo com o estudo realizado por Jaworsky et al. (2023), é possível identificar que as dietas que predominam o consumo de alimentos de origem vegetal, principalmente por conta de seus fitoquímicos, indicam melhoras no controle glicêmico em mulheres com diabetes mellitus gestacional (DMG). Ademais, foi demonstrado que uma maior adoção a esse padrão alimentar auxiliou na diminuição do risco de desenvolvimento de DMG. Igualmente, a dieta com maior nível de alimentos de origem vegetal indicou melhora nas atividades antioxidantes contribuindo para a diminuição do estresse oxidativo que é muito relacionado com a incidência de DMG.

Um estudo mostrou os riscos associados ao estilo de vida da gestante que contribui no desenvolvimento de deficiência de ferro. Foi identificado que a dieta vegetariana é um fator de risco para a incidência dos menores níveis de ferro no sangue. Portanto, deve-se haver um cuidado especial antes, durante e após a gestação em relação aos níveis de hemoglobina no sangue para mulheres vegetarianas (IGLESIAS-VÁZQUEZ et al., 2023).

Gestantes com doença renal crônica (DRC) apresentam maior hiperfiltração induzida pela gravidez e aumento da proteínuria, conforme aponta o estudo de Torreggiani et al. (2022). Logo, o emprego de uma dieta com maiores níveis de alimentos de origem vegetal com moderada restrição de proteína é a principal saída para contrabalancear os sintomas da doença. Além do citado, o estudo indica que a adoção de uma dieta vegetariana está associada à melhora na qualidade dos alimentos consumidos por essa gestante.

O estudo de Tan et al. (2019) apresenta associação entre a adoção das dietas vegetarianas durante o período gravídico e a incidência de hipospádia, ou seja, anomalia externa e má formação da genitália masculina. De acordo com o observado, os estudos realizados indicam que pode haver um risco maior de hipospádia em fetos de mães vegetarianas. Porém, assim como relacionado a DMG e DRC, não foi possível apresentar resultados conclusivos sobre seus riscos quando adotada uma dieta vegetariana durante a gravidez.

3.3 ALIMENTAÇÃO VEGETARIANA E GRAVIDEZ

A alimentação vegetariana tem sido notada pelo surgimento de evidências de que esse padrão dietético pode ter efeitos protetores. Todavia, a adoção de dietas que restringem o consumo de alimentos de origem animal requer cuidado para que não haja riscos de deficiências de nutrientes. Tendo em vista que a gravidez é uma porta de entrada para novos hábitos dietéticos e a necessidade de uma adequada transferência de nutrientes para o feto, assim como satisfatório suprimento de nutrientes para a mãe, é necessário que sejam adotadas dietas balanceadas nutricionalmente (SEBASTINI et al., 2019).

Visando um padrão alimentar saudável, o uso da dieta vegetariana para gestantes deve priorizar alimentos in natura e minimamente processados, além disso, Craig et al. (2021) afirma que alguns micronutrientes devem ser analisados de forma mais criteriosa, sendo eles o cálcio, vitamina D, ferro, vitamina B12 e zinco (JAEGER et al., 2022). 

Em relação ao cálcio, Craig et al. (2021) afirma que vegetarianos adquirem menores níveis desse micronutriente a partir de sua alimentação, indicando menor excreção urinária de cálcio e importante desmineralização óssea. No entanto, todo padrão dietético, caso haja o consumo inadequado deste micronutriente, o mesmo deve ser suplementado ou adicionado alimentos que aumentem a sua disponibilidade na dieta para adequado aporte nutricional.

A vitamina D desempenha um papel crucial na facilitação da absorção de cálcio pelo intestino, na regulação da mineralização óssea, no crescimento celular e na diferenciação. Além dessas funções, ela contribui para a redução da inflamação e para a modulação da função neuromuscular e imunológica. No entanto, a produção cutânea de vitamina D por meio da exposição à luz solar pode ser influenciada por diversos fatores, o que dificulta o suprimento das necessidades nutricionais em diferentes populações. Além disso, os alimentos geralmente contêm quantidades limitadas de vitamina D, tornando os suplementos frequentemente necessários para atender às necessidades nutricionais. Um estudo adicional revelou que não há diferenças significativas nos níveis séricos de 25(OH)D entre vegetarianos e não vegetarianos (Craig et al., 2021).

O consumo de ferro não-heme, que é adquirido em alimentos de origem vegetal, tem menor índice de absorção do que quando comparado ao ferro heme que advém de alimentos de origem animal. Sua absorção pode ser afetada por componentes como a vitamina C, a qual aumenta sua biodisponibilidade, e os fitatos, que inibem a absorção do ferro não-heme, os quais podem ser diminuídos pelo cozimento, por exemplo (CRAIG et al., 2021).

Conforme cita Sebastini et al. (2019), caso os micronutrientes não estejam adequados de acordo com a necessidade nutricional, os benefícios encontrados na dieta vegetariana podem não ser eficientes e ainda gerar riscos para a saúde da mãe e do feto. A maior incidência de deficiência nutricional na dieta vegetariana se dá por conta de os micronutrientes serem mais encontrados e biodisponíveis em alimentos de origem animal (CRAIG et al., 2021; MORENO et al., 2022). Em concordância com os fatos apresentados, a alimentação vegetariana quando adotada restritivamente indica um maior risco de deficiências nutricionais (CHOURAQUI, 2023).

De acordo com o apresentado por Bärebring et al. (2022), a vitamina B12 requer suplementação quando utilizada uma dieta vegetariana estrita ou quando os níveis dessa vitamina se encontram abaixo do recomendado. Porém, durante a gravidez, os estoques de B12 ficam prejudicados por conta dos sintomas do próprio período gravídico e aumento da demanda metabólica da vitamina. A exemplo da incidência de sintomas, como os vômitos, dificultando a adequação desse micronutriente independentemente do padrão alimentar adotado (BÄREBRING et al., 2022; RASHID et al., 2021).

Portanto, ainda que a dieta vegetariana indique maior risco de deficiência de vitamina B12, todos os padrões dietéticos, caso sejam adotados de forma descuidada podem, assim, levar a risco nutricional, morbidade materna e pediátrica, além de maior risco de baixo peso fetal (BÄREBRING et al., 2022; TAN et al., 2019). 

Outro micronutriente de grande relevância clínica é o zinco, que desempenha um papel crucial como cofator em diversas enzimas. Estas estão envolvidas em processos essenciais, como crescimento, imunidade, função cognitiva, função óssea e regulação da expressão genética. A deficiência de zinco pode levar a uma série de problemas, incluindo crescimento atrofiado, falta de apetite, dermatite, alopecia, disfunção endócrina e comprometimento da imunidade. Dessa forma, é possível planejar dietas vegetarianas com níveis de zinco comparáveis aos encontrados em dietas não vegetarianas, embora esse planejamento exija uma atenção especial à inclusão de leguminosas, grãos integrais, nozes e sementes (Craig et al., 2021).

Desse modo, não existe uma diferença em relação à dieta não vegetariana e a vegetariana. A ingestão de zinco e os níveis séricos em vegetarianos adolescentes e adultos em países desenvolvidos são semelhantes ou ligeiramente inferiores aos observados em onívoros, mas ainda dentro da faixa normal. Em países em desenvolvimento, veganos e vegetarianos têm maior probabilidade de apresentar deficiências de zinco (Craig et al. 2021).

Ainda nessa vertente Tan et al. (2019) observou-se que a renda familiar e a posição socioeconômica da gestante estão diretamente relacionadas ao índice dos micronutrientes, ou seja, em populações com alta renda é possível notar que as deficiências nutricionais relacionadas a dieta vegetariana não são significativas, por outro lado, em população de baixa renda, a falta dos nutrientes é muito notória.

De acordo com Miele et al. (2021), com o uso de dieta onívora durante a gestação há uma tendência a um maior consumo de alimentos industrializados, em contrapartida, com o incentivo que a dieta vegetariana traz para o aumento do consumo de alimentos de origem vegetal, leva a gestante a um padrão alimentar que evita alimentos ultraprocessados, auxiliando no perfil nutricional.

Em outro ponto, o estudo de Wang et al. (2021) demonstrou que a adoção de uma dieta com alto consumo de alimentos de origem animal na gestação aumenta o risco de prematuridade quando comparado a mulheres em período gravídico que utilizaram uma dieta vegetariana ou ovolactovegetariana. 

Os estudos realizados em relação a dieta vegetariana e gestação não possuem evidências claras de impactos negativos para a mãe ou para o feto durante e após a gravidez. Assim, desde que a deficiência nutricional de micronutrientes seja controlada, o padrão alimentar vegetariano está associado a efeitos positivos no peso corporal da gestante e diminuição do risco de diabetes, dentre outros benefícios (BARONI et al., 2021).

3.4 ALIMENTAÇÃO VEGETARIANA E OS PROFISSIONAIS DA SAÚDE

Tan et al. (2019) aponta que o uso da dieta vegetariana e a suplementação de micronutrientes durante a gravidez deve ser acompanhada por um profissional qualificado para que não haja prejuízos maternos ou fetais.

O estudo de Bettinelli et al. (2019) aponta que os profissionais de saúde atuantes em ambiente hospitalar em sua maioria não têm conhecimento o bastante para realizar a orientação de um padrão de vida e alimentar aos pacientes que fazem o uso de uma dieta vegetariana. Desse modo, a promoção da educação nutricional em relação a dietas vegetarianas não deve ser realizada somente com gestantes ou indivíduos vegetarianos, mas também com os profissionais de saúde que acompanham esse grupo populacional, principalmente na orientação para mulheres em período fértil e grávidas que devem ser orientadas, por exemplo, sobre a suplementação de vitamina B12 e riboflavina para não haver prejuízos por conta da alimentação adotada (BETTINELLI et al., 2019; JAEGER et al., 2022).

O padrão alimentar adotado por gestantes tem influência na saúde da mãe e do feto durante a gestação, por conta disso, o profissional de saúde deve estar sempre informado em estudos científicos atuais e atuar de forma a respeitar as preferências alimentares e culturais de cada gestante, adequando as diretrizes para o consumo de uma dieta à base de alimentos de origem vegetal de maneira saudável (CRAIG et al., 2021). A determinação de uma dieta pode influenciar de forma positiva ou negativa na predisposição do feto em adquirir doenças ao longo da vida e da construção de hábitos alimentares (SEBASTIANI et al., 2019).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a adoção de dietas que excluem alimentos de origem animal, as mulheres em estado gravídico devem se atentar à diminuição de micronutrientes que serão absorvidos na dieta. Em relação às dietas vegetarianas notam-se que elas apresentam diversos benefícios comprovados para a saúde humana em todas as fases da vida. Entretanto, por conta da ausência de alguns micronutrientes, esse padrão dietético pode acarretar maiores riscos de deficiências nutricionais e maiores incidências de piores prognósticos, caso o aporte nutricional não seja adequado a tempo. 

Em relação às vitaminas e minerais, é possível identificar que a maior incidência na literatura é em relação a vitamina B12, cálcio, ferro, vitamina D e zinco. Nos quais, a vitamina B12 indica maior risco nutricional em vegetarianas, porém, o próprio período da gravidez já indica maior risco desta vitamina, elucidando que o padrão alimentar, se não adequado, independente de qual for adotado, gerará risco nutricional. 

No que tange às doenças, estudos apontam que o uso de uma dieta que prioriza alimentos de origem vegetal pode auxiliar na melhora de alguns quadros, como a diabetes mellitus gestacional, os transtornos alimentares e a doença renal crônica. Por outro lado, é observado que os maiores riscos a deficiências nutricionais ocasionada pelo padrão alimentar vegetariano indica pior prognóstico fetal, uma piora no desenvolvimento cognitivo do feto, além de baixo peso ao nascer e maior presença de hipospádia.

Ainda, nota-se que, os profissionais de saúde têm o compromisso de buscarem maiores conhecimentos acerca do tratamento de pacientes vegetarianas, especialmente mulheres grávidas e em período fértil, isso se deve ao fato de que as dietas vegetarianas têm sido um padrão alimentar cada vez mais adotado e que requer um cuidado e aconselhamento maior. Por fim, a atualização constante e estudos mais detalhados ainda são necessários para maior elucidação acerca do tratamento e acompanhamento de gestantes que adotam a alimentação vegetariana, para que o uso desse padrão alimentar seja mais seguro em relação à segurança nutricional da gestante.

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 1Autor: Graduada em Nutrição pela Universidade Evangélica de Goiás, Pós-Graduada em Nutrição Clínica pela Faculdade IPGS, email: anafenato@hotmail.com;
2 Co-autor: Graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Alagoas, email: nut.alinearaujosouza@gmail.com;
3 Co-autor: Discente em Nutrição pela Universidade Federal do Maranhão, email: ana.santos2@discente.ufma.br;
4Co-autor: Graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Ouro Preto, email: fialhoanaluiza09@gmail.com;
5Co-autor: Graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Pernambuco – Centro Acadêmico de Vitória de Santo Antão (CAV-UFPE), email: leticia.xavier@ufpe.br;
 6Co-autor: Graduada em Nutrição pelo Centro Universitário – FAMETRO (FORTALEZA, CE), Especialista em Nutrição clínica pela Faculdade Metropolitana de São Paulo, email: nutri.milenaguimaraes@gmail.com;
 7Co-autor: Graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Goiás – UFG, email: nutripaulamartinsreis@gmail.com;
 8Co-autor: Graduação em Nutrição pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte/Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí (UFRN/FACISA), Mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Nutrição (PPGNut) da UFRN, email: rayane.franca.706@ufrn.edu.br;
 9Co-autor: Graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Pernambuco – Centro Acadêmico de Vitória de Santo Antão (CAV-UFPE), email: vivianm.estevao@gmail.com;
 10Orientador: Graduada em Nutrição pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Pós-graduada em Nutrição Esportiva pela Faculdade iPGS e MBA em Lideranca, Inovação e Gestão, Professora da Faculdade IPGS, email: karinamondadori@gmail.com