ADESÃO AO PREENCHIMENTO DO CHECKLIST DE SEGURANÇA CIRÚRGICA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8017907


Thágore Gregory Silva Valentim
Suzana Farias Brasil Nepomuceno
Manuelle Alves Mendonça
Mariana Morgana Sousa e Silva
Beatriz Duailibe Alves
Ortêncya Moraes Silva
Orientadora: Profª. Esp. Nayra Juliana Terceiro Araujo


RESUMO

O segundo Desafio Global para a Segurança do Paciente foi Cirurgias Seguras Salvam Vidas, direcionado à segurança da assistência cirúrgica. Que busca melhorar a assistência cirúrgica no mundo pela definição de um conjunto central de padrões de segurança que possam ser aplicados em todos os países e cenários. Um dos instrumentos utilizados foi a criação da “Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica” uma ferramenta prática e simples que busca assegurar que elementos-chave de segurança sejam incorporados dentro da rotina da sala de operações. O objetivo deste estudo é realizar uma revisão integrativa acerca da adesão ao preenchimento do checklist de segurança cirúrgica nos hospitais brasileiros. Foram selecionados seis artigos para análise. Demonstrou-se uma adesão insatisfatória da equipe cirúrgica ao instrumento e necessidade de uma educação continuada efetiva dentro do centro cirúrgico e a instalação de auditorias internas periódicas voltadas para este protocolo para que se diminuam os riscos cirúrgicos a população.

Palavras-chave: Segurança do Paciente. Lista de checagem. Centro cirúrgico.

ABSTRACT

The second Global Patient Safety Challenge was conducted by Safe Surgeries Save Lives, aimed at the safety of surgical care. It seeks to improve surgical care worldwide by defining a central set of safety standards that can be used in all countries and settings. One of the tools used was the creation of the “Surgical Safety Checklist”, a practical and simple search tool that holds the key safety elements that are incorporated into the operating room routine. The aim of this study is to conduct an integrative review on adherence to completing the surgical safety checklist in Brazilian hospitals. Six articles were selected for analysis. Demonstrate unsatisfactory adherence of the surgical team to the instrument and the need for effective continuing education within the operating room and the installation of periodic internal audits focused on this protocol to reduce surgical risks in the population.

Keyword: Patient safety. Checklist. Operating room.

1     INTRODUÇÃO

Segundo a Organização Mundial da Saúde (2009), o conceito de segurança do paciente se refere à redução de riscos desnecessários associados a assistência à saúde até um mínimo aceitável. São denominados eventos adversos, danos não intencionais decorrentes da assistência prestada ao paciente, não relacionados a evolução natural da doença de base.

Acarretam obrigatoriamente lesões mensuráveis nos pacientes afetados, óbito ou prolongamento da internação. A importância dos mesmos reside na indicação de falhas na segurança do paciente, refletindo o marcante distanciamento entre o cuidado real e o cuidado ideal.

O centro cirúrgico (CC) é reconhecido como uma das unidades mais complexas do hospital e mais favorável para a ocorrência desses eventos, em razão das próprias características do cuidar, da diversidade dos procedimentos cirúrgicos e diagnósticos, bem como da intensa circulação de pessoas de diversas categorias profissionais (SOUZA et al, 2011).

Por se tratar de um setor que exerce atividades diferenciadas, a relação profissional e a dinâmica do trabalho precisam acontecer de uma forma harmoniosa, sendo necessário que a equipe multiprofissional atuante seja capacitada e preparada para exercer suas atividades com habilidade, agindo com destreza frente às intercorrências que ocasionalmente podem ocorrer (MIRANDA, 2016).

Tem sido indispensável o uso da assistência cirúrgica na atenção em saúde pelo mundo por quase um século. A incidência das injúrias traumáticas, cânceres e doenças cardiovasculares aumentaram e o impacto de intervenções cirúrgicas no atendimento à saúde. Ocorrendo de sobremaneira na população de baixa renda, que tem assistência médica precária, incluindo falta ou dificuldade de acesso e de recursos destinados a esses problemas (BRASIL, 2017).

As complicações cirúrgicas são uma grande proporção das mortes e injúrias médicas que podem ser preveníeis em todo o mundo. Estima-se que os eventos adversos afetem 3–16% de todos os pacientes hospitalizados e mais da metade são reconhecidamente preveníeis. (OMS, 2009)

Entretanto mesmo com o avanço no conhecimento sobre segurança cirúrgica, pelo menos metade dos eventos ocorre durante a assistência cirúrgica. Assim a segurança cirúrgica emergiu como uma preocupação significativa na saúde pública mundial.

Desde 2004, com o lançamento da Aliança Mundial para a Segurança do Paciente pela OMS, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da Gerência de Tecnologia em Serviços de Saúde (GGTES), tem implementado ações para promover a melhoria da qualidade e segurança do paciente nos serviços de saúde, especialmente no controle e prevenção das Infecções relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS).

O primeiro Desafio Global para a Segurança do Paciente 2005–2006 teve como tema “Uma Assistência Limpa é Uma Assistência Mais Segura” com ênfase na melhoria dos padrões e práticas de higienização das mãos na assistência à saúde ajudando a implantar intervenções bem-sucedidas. Embora a ação seja simples, a não-observância entre os prestadores de assistência à saúde é um problema em todo o mundo. A higienização das mãos é considerada medida básica para reduzir as infecções (WHO, 2005).

As infecções relacionadas à assistência à saúde constituem um problema grave e um grande desafio, exigindo dos responsáveis pelos serviços de saúde ações efetivas de prevenção e controle. Tais infecções ameaçam tanto os pacientes quanto os profissionais de saúde, podendo acarretar-lhes sofrimentos e resultar em gastos excessivos para o sistema de saúde. Podem, ainda, ter como efeito processos e indenizações judiciais, nos casos comprovados de negligência durante a assistência prestada (BRASIL,2009).

Diversos especialistas internacionais trabalharam através de grupos para resultar em um consenso sobre quais áreas poderiam ser realizados progressos significativos com influência na segurança da assistência cirúrgica. Destacaram a prevenção de infecção do sítio cirúrgico, anestesia segura, equipes cirúrgicas eficientes e mensuração da assistência cirúrgica. Incluindo também dez objetivos essenciais que devem ser alcançados por todas as equipes cirúrgicas durante a assistência cirúrgica (OMS, 2009).

Quadro 1 – Objetivos do Programa Cirurgias Seguras Salvam Vidas

Objetivos do Programa Cirurgias Seguras Salvam Vidas
1. A equipe operará o paciente certo e o local cirúrgico certo.
2. A equipe usará métodos conhecidos para impedir danos na administração de anestésicos, enquanto protege o paciente da dor.
3. A equipe reconhecerá e estará efetivamente preparada para perda de via aérea ou de função respiratória que ameacem a vida.
4. A equipe reconhecerá e estará efetivamente preparada para o risco de grandes perdas sanguíneas.
5. A equipe evitará a indução de reação adversa a drogas ou reação alérgica sabidamente de risco ao paciente.
6. A equipe usará de maneira sistemática, métodos conhecidos para minimizar o risco de infecção no sítio cirúrgico.
7. A equipe impedirá a retenção inadvertida de instrumentais ou compressas nas feridas cirúrgicas.
8. A equipe manterá seguros e identificará precisamente todos os espécimes cirúrgicos.
9. A equipe se comunicará efetivamente e trocará informações críticas para a condução segura da operação.
10. Os hospitais e os sistemas de saúde pública estabelecerão vigilância de rotina sobre a capacidade, volume e resultados cirúrgicos.

Fonte: Organização Mundial da Saúde, 2009.

No Brasil, o segundo desafio global para a segurança do paciente foi lançado em 13 de maio de 2010, pela Secretaria de Atenção à Saúde (SAS/MS). Atualmente, as atividades relacionadas a este desafio vêm sendo trabalhadas em parceria com a Secretaria de Atenção à Saúde – SAS/Ministério da Saúde -MS, Anvisa, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e Organização Pan Americana de Saúde (Opas) /OMS (BRASIL, 2017).

Os objetivos estão sintetizados em uma lista de verificação simples em página única para uso da equipe cirúrgica, a fim de ajudar para que as mesmas reduzam a ocorrência de danos ao paciente. Sendo denominada “Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica da OMS”.

A Organização Mundial da Saúde (2009) afirma:

A meta não é prescrever uma única maneira de implementação ou criar uma ferramenta regulatória. Mais do que isso, pela introdução de elementos- chave de segurança na rotina operatória, as equipes poderiam maximizar a probabilidade de melhor resultados para todos os pacientes cirúrgicos sem gerar um ônus excessivo no sistema ou para os prestadores de saúde. (OMS, 2009, p. 16)

Deve ser designada uma pessoa denominada o coordenador da lista de verificação. A lista divide a operação em três fases, cada uma correspondente a um período específico no fluxo normal da operação: o período antes da indução da anestesia, o período após a indução e antes da incisão cirúrgica e o período durante ou imediatamente após o encerramento da ferida, mas antes de retirar o doente da sala operações.

A lista de verificação pode ser modificada tendo uma visão crítica e levando em conta as diferenças entre as organizações, entre os processos, a cultura das salas de operações e o grau de familiaridade de cada membro da equipe com os demais. Contudo, é enfatizada a não eliminação de etapas de segurança porque não podem ser realizadas no ambiente ou nas circunstâncias atualmente existentes. As etapas de segurança devem inspirar a mudança efetiva na equipa cirúrgica, para dar cumprimento a cada item da lista de verificação (CBC, 2019).

2     OBJETIVO GERAL

Realizar uma revisão integrativa acerca da adesão ao preenchimento do checklist de segurança cirúrgica nos hospitais brasileiros.

3     METODOLOGIA
3.1 Tipo de estudo

Este estudo foi realizado através de uma revisão integrativa, um método que tem como finalidade sintetizar resultados obtidos em pesquisas sobre um tema ou questão, de maneira sistemática, ordenada e abrangente. Fornece informações amplas sobre um assunto/problema, constituindo, assim, um corpo de conhecimento. O revisor/pesquisador pode buscar diferentes finalidades, podendo ser direcionada para a definição de conceitos, revisão de teorias ou análise metodológica dos estudos incluídos de um tópico particular. (ERCOLE, MELO E ALCOFORADO, 2014).

Segundo Mendes et al (2008) a revisão integrativa se dá através de seis etapas distintas:

Elaboração de uma pergunta norteadora, busca ou amostragem na literatura, categorização dos estudos, análise crítica dos estudos incluídos, discussão dos resultados e apresentação da revisão integrativa.

3.2  Local de Estudo

A coleta de dados foi realizada em setembro de 2019, utilizando como base de dados a SCIELO, GOOGLE ACADEMICO, PUBMED e LILACS. Desta forma publicações encontradas em mais de um banco de dados, foram selecionados na primeira busca.

3.3  Critérios de inclusão/exclusão

Como critérios de inclusão foram considerados artigos publicados a partir de janeiro de 2015 a setembro de 2019, com textos completos disponíveis, que abrangessem a temática abordada, os critérios de exclusão adotados foram artigos publicados em outras línguas que não fossem o português e inglês.

Para delimitar o problema adotou-se a seguinte pergunta norteadora: Como está a adesão dos profissionais ao preenchimento do checklist de segurança cirúrgica?

3.4  Coleta de dados

Para compor as estratégias de busca usou-se os seguintes descritores: segurança do paciente, lista de checagem e centro cirúrgico.

Realizou-se a leitura minuciosa de cada resumo/artigo, com destaque para aqueles que responderam ao objetivo proposto por este estudo, bem como os critérios de inclusão. Em seguida, foi realizada a leitura completa dos artigos selecionados para a organização e tabulação dos dados, por meio de instrumento de coleta de dados contendo: autores, ano, título, delineamento do estudo, objetivo do estudo e conclusões.

3.5 Análise de dados

Foi realizada a análise crítica dos artigos e com ampla discussão dos resultados. A interpretação dos resultados envolverá os padrões encontrados e relacionados com outras literaturas. Apresentando-os de forma clara juntamente a evidência encontrada.

3.6 Aspectos éticos

A presente revisão integrativa assegurará os aspectos éticos, garantindo a autoria dos artigos pesquisados, utilizando para citações e referências dos autores as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Sendo devidamente conduzida no sentido de não plagiar trabalhos. E por se tratar de uma revisão integrativa é dispensável a utilização do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

4     RESULTADOS

Foram obtidos 1.417 artigos nas bases de dados supracitadas. Após minuciosa análise e segundo os critérios estabelecidos 06 publicações foram inclusas nesta revisão.

Figura 1- Gráfico dos artigos selecionados segundo a base de dados

Fonte: A autora, 2020

Foram encontrados trabalhos em todas as bases eletrônicas buscadas, com dois na scielo e lilacs, e um no pubmed e google acadêmico.

Quadro 2 – Descrição dos estudos incluídos na revisão integrativa, segundo ano, título, objetivo e conclusão

AnoTítuloObjetivoConclusão
20151. Segurança do paciente no centro cirúrgico e qualidade documental relacionadas à infecção cirúrgica e à hospitalização.Descrever a qualidade documental de dois registros relacionados à segurança de pacientes no centro cirúrgico e estabelecer as diferenças nas informações relacionadas à infecção cirúrgica e à permanência hospitalarForam observadas diferenças no grau de preenchimento entre os dois registros. Não houveram diferenças no evento adverso.  
20152. Adesão ao uso de um checklist cirúrgico para segurança do paciente.  Avaliar a adesão ao checklist do Programa Cirurgias Seguras em um hospital de ensino.  O estudo avaliou que a verificação dos itens do checklist se deu de forma não verbal e que não houve adesão significativa ao instrumento.
20153. Análise do registro e conteúdo de checklists para cirurgia segura  Analisar e relacionar o registro de informações e conteúdo dos checklists com os objetivos do Programa Cirurgias Seguras Salvam Vidas.A alta adesão ao preenchimento do checklist permitiu identificar potenciais riscos cirúrgicos decorrentes de ações de segurança não confirmadas, exigindo ações em busca da qualificação da assistência
20174. Adesão ao preenchimento do checklist de segurança cirúrgica.Descrever a adesão ao preenchimento do checklist de cirurgia segura e seus respectivos itens em um hospital público .Não foram observadas mudanças importantes na adesão ao preenchimento do checklist de cirurgia segura no período do estudo. No hospital cenário do estudo, a adesão ao uso do checklist de cirurgia segura ainda é um desafio.
20175.Adesão ao checklist de cirurgia segura em um hospital de ensino  Avaliar a adesão ao checklist de cirurgia segura em um hospital de ensino  Verifica-se existência de ampla oportunidade de melhorias na adesão ao checklist no hospital de ensino estudado, sendo necessária a implantação de estratégias que assegurem a adequada utilização dessa ferramenta.
20186.surgical patient safety in a public teaching hospital To  identify  the  adherence  of  the  surgical  team  to  the  safety  procedures  recommended  for  safe surgery and to correlate the scores to the time of surgery.It was  evidenced a low adhesion of the surgical team to the safety procedures recommended by ANVISA. There was no correlation between the surgical time and the scores found.

 Fonte: A autora, 2020

Conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) o check list criado pela mesma é um direcionamento sobre quais itens são de grande importância e indispensáveis no bloco cirúrgico, assim as instituições são incentivadas a fazerem adaptações de acordo com sua realidade.

Entretanto para fins de padronização da apresentação dos resultados deste trabalho os mesmos serão demonstrados com base nos objetivos da Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica (primeira edição) da OMS.

A Lista de Verificação divide a cirurgia em três momentos: I – Antes da indução anestésica, correspondendo a identificação; II – Antes da incisão cirúrgica, confirmando o procedimento e os itens necessários para que o mesmo ocorra; e III – Antes do paciente sair da sala de cirurgia, com o registro de todos os procedimentos realizados, contagens de instrumentais e afins.

Os resultados serão apresentados segundo a sequência lógica das fases cirúrgicas já apresentadas.

4.1 Antes da indução anestésica

Nesta primeira fase são dez itens a serem checados. Confirmar a identidade do paciente, o sítio cirúrgico, o procedimento, a assinatura do termo de consentimento anestésico e cirúrgico, verificar visualmente o sítio cirúrgico correto e sua demarcação, confirmar a conexão de um monitor multiparamétrico ao paciente e seu funcionamento, revisar verbalmente com o anestesiologista, o risco de perda sanguínea do paciente, dificuldades nas vias aéreas, histórico de reação alérgica e se a verificação completa de segurança anestésica foi concluída. (BRASIL, 2013)

O artigo um traz o preenchimento de cinco itens, sendo identidade (99,2%), sítio cirúrgico (99,8%), procedimento (96,1%), consentimento (91,4%), demarcação do sítio cirúrgico (99,0%). O artigo dois não traz especificações sobre este momento.

O artigo três trouxe o preenchimento de quatro itens, identidade (98,4%), demarcação do sítio cirúrgico (97,3%), alergia (90,6%) e risco de perda sanguínea (91,1%). No artigo quatro apenas o sítio cirúrgico teve preenchimento apresentando 99,7%, os demais não foram preenchidos em nenhum dos anos investigados.

O artigo cinco cita a demarcação do sítio cirúrgico como item de menor preenchimento (89,6%), entretanto destaca que houve uma adesão, de maneira geral, de 73,9% antes da indução anestésica. O artigo seis apenas cita baixa adesão nos itens de consentimento (10%) e demarcação dos sítio cirúrgico (15%).

4.2  Antes da incisão cirúrgica

Neste momento, será feita uma pausa por toda a equipe antes da incisão cirúrgica para realização de alguns passos: a apresentação de cada membro da equipe pelo nome e função; a confirmação da realização da cirurgia correta no paciente correto, no sítio cirúrgico correto; a revisão verbal, uns com os outros, dos elementos críticos de seus planos para a cirurgia, usando as questões da Lista de Verificação como guia; a confirmação da administração de antimicrobianos profiláticos nos últimos 60 minutos da incisão cirúrgica, a confirmação da acessibilidade dos exames de imagens necessários. (BRASIL, 2013)

Quanto a apresentação dos membros da equipe apenas os artigos três e seis trouxeram estes dados, com 77,8% e 8,7% de preenchimento respectivamente. No artigo dois não foi observado integralmente, em 100% dos procedimentos o anestesiologista se apresentou ao paciente; em 15% o residente de Anestesiologia o fez; em 35% o técnico em Enfermagem; e em 5% o enfermeiro. O cirurgião, o residente em cirurgia e o instrumentador não se apresentaram ao paciente em nenhum procedimento.

 A confirmação dos dados pelos membros da equipe foi demonstrada apenas no trabalho três com 96% de preenchimento. Sobre os eventos críticos revisados pelo cirurgião e disponibilidade de imagens essenciais foram demonstrados apenas no artigo um com 36,1% e 60,7% de adesão.

Todavia no que diz respeito a revisão da equipe anestésica foram observados 57,9% e 43,7% nos artigos um e seis. A revisão da equipe de enfermagem aconteceu nos trabalhos um (89,1%), quatro (98,8%) e cinco (91,2%). A adesão a antibioticoprofilaxia foi vista nos artigos um (52,9%), três (89,1%) e cinco (89,0%). 

4.3  Antes do paciente sair da sala de cirurgia

Deverá ser confirmado o registro completo do procedimento, inclusive o executado, a conclusão da contagem de agulhas, compressas e instrumentais, identificação de qualquer amostra cirúrgica obtida, revisão de qualquer funcionamento inadequado de equipamentos ou questões que necessitem ser solucionadas, a revisão do plano de cuidado e as providencias quanto à abordagem pós-operatória e da recuperação pós-anestésica antes da remoção do paciente da sala de cirurgia. (BRASIL, 2013)

Todos as publicações apresentaram alguma porcentagem de preenchimento no item para registro completo do procedimento, artigo seis (15%), um (79,1%), dois (100%), quatro (98,7%), cinco (80,5%), o artigo três descreveu documentos específicos: ficha anestésica (91,8%) e descrição cirúrgica (85,2%).

O segundo item divide-se entre a contagem dos instrumentais cirúrgicos, agulhas, compressas e gazes, pois são registrados separadamente na maioria das instituições. Quanto aos instrumentais apresentou-se uma variação de 00% a 92% de preenchimento, compressas e gazes de 2% a 92,5%, agulhas de 00% a 89,84%. Neste item o artigo seis destaca que embora estes itens tivessem sido registrados a verificação não foi realizada. 

A amostra de anatomia patológica identificada foi demonstrada apenas nos artigos três e cinco com 87,9% e 88% de adesão. Enquanto os itens de equipamento com problema e revisão (cirurgião, anestesista e enfermeiro) das preocupações essenciais para recuperação e manejo do paciente não foi demonstrado em nenhum trabalho.

Quanto a metodologia utilizada nos trabalhos selecionados demonstrou-se o predomínio do aspecto quantitativo, tendo relação direta com o tipo de abordagem da temática. E um misto entra artigos documentais e observacionais, e de prospectivos e retrospectivos, trazendo uma boa amostra quanto a diversidade de delineamentos. Todos os artigos tiveram autorias de enfermeiras.

5     DISCUSSÃO

A qualidade na assistência à saúde é uma conquista do século XX e ainda inerente aos procedimentos de alta complexidade como os anestésico-cirúrgicos. Os elevados índices de eventos adversos e de erros humanos, relacionados ao procedimento cirúrgico, podem ser reduzidos com a criação de mecanismos que evitem o aparecimento de ambos. (BRASIL, 2017)

Segundo a Organização Mundial da Saúde (2009):

A meta final da Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica é ajudar a assegurar que as equipes sigam de maneira consistente algumas etapas de segurança críticas e, portanto, a minimizar os riscos mais comuns e evitáveis que colocam em risco as vidas e o bem-estar dos pacientes cirúrgicos. (OMS, 2009, p.194)

No que diz respeito a este estudo, na etapa antes da indução anestésica houve adesão acima de 90% apenas nos primeiros itens, sendo os demais ignorados. Achado encontrado também por Freitas et al (2014) na qual as falhas de preenchimento se concentraram nos itens sítio cirúrgico demarcado, verificação de segurança anestésica, oxímetro de pulso, representando 65,7% dessas falhas. E por Silva et al (2017) que demonstrou uma proporção de 27,9% de não conformidades encontradas na primeira fase.

As cirurgias realizadas em locais errados são um ponto importante para discussão. Problemas na comunicação e na liderança foram os fatores apontados como os que mais contribuem para a realização de cirurgias em “lugares errados”. Outro cuidado indispensável é a monitorização do paciente durante todo o procedimento, com o uso de oxímetro de pulso e monitorização cardíaca, com o fornecimento de oxigênio suplementar quando for utilizada a anestesia geral (OMS, 2009; CORREGGIO et al., 2014).

A avaliação das vias aéreas deve ser realizada antes da indução anestésica para diagnosticar possíveis dificuldades caso seja necessário a intubação orotraqueal e a realização de um plano assistencial individualizado, deve ser checado o risco de perda de grande volume sanguíneo e a consequente reserva sanguínea haja vista que a hipovolemia pode levar ao choque, com graves consequências cardíacas. Verificar as alergias possíveis para evitar risco de hipersensibilidade antes da administração de fármacos, medicações e soluções a serem infundidas devem estar claramente identificadas (CORREGGIO et al., 2014; OMS, 2009).

No segundo momento também denominado pausa cirúrgica, houve baixíssima adesão na apresentação de todos os membros da equipe, confirmação dos dados pelos membros da equipe, eventos críticos previstos/revisão do cirurgião e revisão da equipe anestésica. Destaque positivo apenas nos itens de revisão da equipe de enfermagem e no item referente a antibióticoprofilaxia, mais não citados em todos os trabalhos.

Em um estudo descritivo com a participação de trinta profissionais constatou-se que em 81% das cirurgias, limpas, potencialmente contaminadas e contaminadas, a profilaxia antimicrobiana cirúrgica foi realizada. Várias medidas são propostas para prevenir infecção de sítio cirúrgico, com destaque para a profilaxia antimicrobiana cirúrgica indispensável procedimentos cirúrgicos, e que tem o objetivo de reduzir a carga microbiana de contaminação intraoperatória (TOSTES et al, 2016; OMS, 2009).

Um dos principais impasses para implantação do “checklist” são as equipes médicas, particularmente os com mais experiência e com anos de trabalho na instituição, que não aderem ao protocolo por referir serem ações nas quais já se utilizam na prática do dia a dia e/ou por não serem da sua incumbência. (MORAES et al, 2018; JUNIOR; MAGALHÃES, 2017)

A confirmação verbal concretiza a comunicação, ou seja, sinaliza que os presentes concordam com os itens checados e, assim, responsabilizam-se, como grupo, pela segurança do paciente. A confirmação verbal é vista como uma estratégia de prevenção do erro, além de representar o compromisso dos profissionais, presentes na sala cirúrgica, de que a cirurgia pode ser iniciada com segurança em relação aos itens verificados (MAZIERO et al., 2015).

No terceiro momento, antes do paciente sair da de cirurgia, houve maior preocupação nos preenchimentos de registro do procedimento cirúrgico. Quanto a checagem de agulhas, gazes, compressas e instrumentais não se deram de maneira adequada, assim como na identificação da anatomia patológica. Os demais itens não foram demonstrados.

Marquioni et al (2019) afirmam que em comparação com os dois outros momentos cirúrgicos anteriores, o terceiro foi o menos executado. Na etapa relativa à contagem de gazes, compressas, agulhas e instrumentais cirúrgicos não foi checado em 44% das cirurgias, percentual preocupante dada à complexidade do dano causado pelo esquecimento de qualquer material no interior do paciente.

Este estudo teve algumas limitações como a diversidade de metodologias aplicadas não se tendo o conhecimento se todas foram aplicadas idealmente como apresentada e a maneira como os resultados foram demonstrados muitas vezes com dados incompletos.

Outra grande barreira citada em alguns estudos foi o “falso” preenchimento da lista de verificação, onde as ações não aconteciam os profissionais apenas preenchiam o instrumento. Corroborando com o estudo de Junior e Magalhães (2017) que “durante a caminhada fotográfica, foi percebido que, em alguns casos, o paciente ainda estava em cirurgia e o “checklist” já estava todo preenchido, ou seu preenchimento nem havia sido iniciado”.

6     CONCLUSÃO

A lista de verificação de cirurgia segura foi criada no intuito de destacar o conhecimento de itens indispensáveis ao cuidado cirúrgico seguro, entretanto os dados aqui relatados são preocupantes e demonstram o quanto este instrumento é relativizado, o quanto a equipe cirúrgica insiste em ignorar e desconhecer sua tamanha importância.

É alarmante imaginar que não tem sido utilizado todo o conhecimento adquirido com a evolução técnico-científica para prevenir complicações, iatrogenias e eventos adversos dentro do bloco cirúrgico.

A OMS orienta que sejam feitas adaptações ao modelo sugerido, mais que não deixem de constar nos protocolos. Entretanto muitas instituições não adaptam mais sim retiram os itens sugeridos pela mesma.

Percebeu-se que a comunicação e o desconhecimento das evidências cientificas, na qual se baseiam este protocolo, dentro da equipe cirúrgica ainda são fatores de empecilho na real implantação deste instrumento.

Conclui-se que a adesão ao protocolo de cirurgia segura é insatisfatória nas instituições hospitalares deste País, é necessária uma educação continuada efetiva dentro do centro cirúrgico e a instalação de auditorias internas periódicas voltadas para este protocolo para que se diminuam os riscos cirúrgicos a população.

REFERÊNCIAS

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