REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202412311141
Isa Albuquerque
RESUMO:
Carlos Eugênio Paz, o Clemente, foi um dos mais combativos comandantes militares de grupos de fogo pertencentes à ALN – Ação Libertadora Nacional, organização de luta armada fundada pelo deputado do Partido Comunista Brasileiro, Carlos Marighella. Suas memórias romanceadas foram publicadas nos livros Viagem à Luta Armada (Civilização Brasileira, 1996) e Nas Trilhas da ALN( Bertand Brasil, 1997). Esses dois livros formam o legado narrativo mais corajoso e visceral já publicado por um sobrevivente da guerra de guerrilhas. O documentário de longa metragem Codinome Clemente da diretora Isa Albuquerque (Iris Cinematográfica, 2019) é uma adaptação de suas memórias.
Eu sempre apreciei o cinema de fundamento político devido à consciência conquistada, através dos anos, de que a política atravessa todas as realidades e toda forma de arte. O cineasta grego, naturalizado francês, Konstantinos Costa Gavras foi uma forte influência na minha escolha por temas políticos nos filmes que realizei. Ao assistir Missing (1982), Desaparecido, palma de Ouro em Cannes e Oscar de melhor roteiro em 1982, obra que conheci em sessões de cineclube, Gavras apresentou, aos meus olhos, o mundo submerso que determinava a realidade visível em que eu vivia desde os anos de 1960. Missing (1982) tornou-se uma referência do cinema que eu gostaria de realizar, enquanto ainda cursava jornalismo, nos anos de 1980, e ainda não sabia como conseguiria alcançar o meu objetivo maior de me dedicar à Sétima Arte. Eu poderia delegar ao acaso a responsabilidade pela ideia de realizar o longa-metragem documental Codinome Clemente (ALBUQUERQUE, 2019). Afinal, foi uma amiga em comum, a corroterista de dois dos meus longas-metragens e grande amiga, Duba Elia, quem me apresentou ao Clemente, com a recomendação de que eu precisava conhecer sua história. Há pouco mais de dez anos àquela altura, Carlos Eugênio Paz havia retornado ao Brasil, em 1981, após um extenso período vivido como refugiado em Paris. Ao chegar ao Rio, ele fundou uma escola de música, a In Concert. Em Paris, desde 1974, ele havia trocado a metralhadora por um violão de cordas, que lhe ajudava a ganhar a vida de imigrante e refugiado político, ferozmente perseguido no Brasil. Durante esse tempo, ele não falava de seu passado na luta armada, pois procurava levar uma vida comum, ao trabalhar com serviços gerais em uma empresa portuguesa e, à noite, tocava em bares, cantando canções francesas e brasileiras em apresentações acústicas, ao estilo um banquinho, um violão. Dono de uma presença forte, Carlôooss, como lhe chamavam os franceses, carregava nos ombros o peso de muitos companheiros mortos e atribuía à música o resgate de seu senso de humanidade: “a música me ajudou a voltar a ser humano”, afirma ele em Codinome Clemente (ALBUQUERQUE, 2019).
Quando o conheci, eu havia concluído o meu primeiro filme, Histórias do Olhar, em 2003, atualmente acessível pela plataforma Reserva/Imovision1, e me dedicava à preparação do meu segundo longa-metragem, Ouro Negro (2010), uma saga sobre os pioneiros do petróleo, que hoje está acessível pela Amazon2. Ele, então, me presenteou com o seu primeiro livro, Viagem à Luta Armada, publicado em 1996, que ainda provocava uma imensa polêmica entre os militantes de esquerda, por conta dos relatos das muitas ações violentas que praticaram durante os tempos da guerrilha urbana, ele as revela desassombradamente. Eu o lera com a certeza de que encontrará nele uma grande personagem, pois jamais havia conhecido um arquétipo tão bem construído de sua combativa geração, que havia lutado contra as ditaduras militares implantadas em diversas partes do mundo, após a Segunda Guerra Mundial, durante o período da Guerra Fria, cujas batalhas determinaram o extermínio de milhões de jovens estudantes, trabalhadores, professores, jornalistas e intelectuais que ousavam pensar e lutar por um mundo mais justo. Essa mesma geração quis implantar no Brasil, um socialismo de características próprias – na geração anterior, o ex-governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, o definia como um socialismo moreno. Uma experiência jamais tentada em nossa incipiente democracia. Um bom personagem tem três qualidades essenciais: singularidade, representatividade e originalidade. Carlos Eugênio Paz, o Clemente, tinha essas qualidades, além de grande capacidade narrativa e ótima presença cênica. A última companheira de Carlos Eugênio, Maria Claudia Badan Ribeiro, tem outro ponto de vista: ela diz que Carlos Eugênio escolheu a mim, como cineasta, para contar sua história. A escolha foi mútua, na realização dessa obra cinematográfica que leva o seu codinome no título.
Esta é uma reflexão sobre a experiência de um filme e o caminho de seu personagem.. A partir desse ponto, como autora cinematográfica, eu relaciono essa questão aos dois livros publicados por Carlos Eugênio Paz em vida, Viagem à Luta Armada (1996) e Nas Trilhas da ALN (1997). A entrada do filme Codinome Clemente (ALBUQUERQUE,2019) neste artigo, se dá como consequência do que chamei, acima, de escolha mútua, entre o personagem e a cineasta. Observar seus atos revolucionários no contexto histórico de um passado não tão distante e analisar a transposição de suas ações, narradas em duas obras literárias, Viagem à Luta Armada (1996) e Nas Trilhas da ALN (1997), para a narrativa cinematográfica foram a minha forma de estudar o mundo em que emergiu, nos anos de 1960, como ser humano, como ser social e político capaz de exercer múltiplas formas de expressão artística ao longo da vida.
ADAPTAÇÃO: DA LITERATURA DE TESTEMUNHO AO CINEMA DOCUMENTAL
Falar de história de vida é pressupor, e isto não é pouco,
que a vida é uma história.
(Bourdieu, 1988, p. 1)
Carlos Eugênio Paz, o Clemente, foi o legítimo representante de uma geração revolucionária do Brasil, que entrou na clandestinidade para resistir à tirania imposta pelas ditaduras militares implantadas, progressivamente, no cone sul, entre os anos 60 e 80. Sua insurreição brotou de um sentimento anti-imperialista, que cresceu nos países sul-americanos, após cerca de meio século de colonialismo sobre as nações da América Latina, para além das demais, de diversas partes do mundo, consideradas inferiores pelos povos colonizadores, desde o ciclo das grandes navegações. Esse sentimento de insurgência latino-americana nasceu dessa geração que ousou resistir.
O colonialismo surgiu com movimentos de expansão territorial e exploração de povos originários, cresceu com o advento da teoria do “Destino Manifesto”, expressão cunhada pelo jornalista John Louis O’Sullivan, em 1845, para defender a tese de que o povo estadunidense teria recebido a missão divina de dominar outros povos, crença que levaria ao extermínio de grandes populações originárias, na marcha para o Oeste, com o avanço das treze colônias inglesas, até a costa do Pacífico. Os conquistadores prosseguiram na marcha avassaladora sobre o território mexicano, cumprindo a “sagrada missão” de difundir a cultura, a política, a religião e os valores capitalistas da América do Norte, cujo objetivo não declaradofoi a consolidação do imperialismo estadunidense, definido como a luta por um ideal de liberdade.
“Mas, liberdade para quem?”, perguntava Clemente, com acentuada indignação, em sua voz grave. “Os Estados Unidos não têm o direito de oprimir outros povos como se fossem xerifes do mundo”, vociferava3. As razões comerciais jamais foram declaradas. Logo após a Segunda Guerra Mundial, os representantes de 40 nações ocidentais reuniram-se em New Hampshire, nos Estados Unidos, durante a Conferência de Bretton Woods, onde foram concebidos os acordos comerciais de cooperação internacional, com a criação do FMI (Fundo Monetário Internacional), além do Banco Mundial, principais instrumentos do poder hegemônico da primeira superpotência do mundo, líder absoluta do Bloco Ocidental.
O Exército Vermelho havia vencido a batalha de Berlim, que marcou o fim da Segunda Guerra Mundial, em nome dos países aliados contra a Alemanha nazista; foram sacrificados 26,6 milhões de soldados soviéticos, pois, a União Soviética resistiu praticamente sozinha ao ataque de 85% das tropas alemãs de Hitler, durante os anos de guerra (cf. ww2.senado.leg.br). Os prejuízos materiais causados ao mundo foram mensurados em 1,1 trilhão de dólares. A União Soviética, liderada pela Rússia, tornou-se o “perigo vermelho”. Com a implantação da Doutrina Truman, os organismos de inteligência política estadunidenses iniciaram uma caçada feroz aos comunistas de todo o mundo promovendo golpes de Estado sob o pretexto de apoiar os “países frágeis” susceptíveis ao comunismo, mas, na esteira da guerra ideológica, o grande objetivo era estabelecer o dólar como moeda internacional de comércio e implantar o liberalismo sob seu formato mais agressivo. Então, desde 1947, após a II Guerra Mundial as nações passaram a viver sob o Consenso de Washington, com a corrida armamentista consumindo os orçamentos dos blocos capitalista e socialista, ao buscarem o equilíbrio insano de forças, enquanto muitos regimes ditatoriais eram financiados pela política externa norte-americana. O custo da Guerra Fria, aos cofres norte-americanos alcançou a cifra de 10 trilhões de dólares, segundo o astrofísico Carl Sagan (1934-1996), ao defender a redefinição do orçamento público na prevenção do aquecimento global.
Nos anos 60, a geração que defendia a implantação do Socialismo, como forma de combate às profundas desigualdades sociais, passou a criar movimentos de resistência armada contra os regimes de exceção, tornando-se alvo da guerra ideológica. Era perigoso ser um jovem engajado e politizado, pois o pensamento era cerceado, a arte era censurada, os intelectuais, os professores e os estudantes eram perseguidos, torturados e mortos. Essa geração dos anos 60 foi heroica, pois lutou contra os regimes fascistas daqueles que usam a força para a conquista do poder, além de recorrerem à tortura e à morte como método de destruição da Democracia e de submissão de nações divergentes. Era proibido pensar livremente.
Com a derrota da Alemanha nazista em 1945, o mundo mergulhou na Guerra Fria, profundamente dividido entre duas matrizes ideológicas: o capitalismo e o comunismo. No Brasil, o Partido Comunista Brasileiro foi condenado à ilegalidade em 7 de Maio de 1947, pelo governo do presidente Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), alinhado aos interesses estadunidenses a ponto de romper relações diplomáticas com a União Soviética. Os parlamentares filiados ao PCB (Partido Comunista Brasileiro) tiveram seus mandatos cassados. Entre eles, o deputado federal pela Bahia, Carlos Marighella, que perdeu seu mandato em 1948. Em 9 de maio de 1964, cerca de um ano após o golpe de 1º de abril, Marighella foi preso na sala do Cinema Sky-Tijuca. Estava desarmado quando o cerco se fechou, mas resistiu à ordem de prisão e foi baleado no peito. Sobre o caso, Marighella escreveu:
Os agentes do Dops dispararam um tiro contra o meu peito para me matar. A arma é da polícia, e isto é testemunhado pela bala que foi extraída do meu corpo pelo dr. Acioly Maia, médico-cirurgião do Hospital da Penitenciária Professor Lemos Brito. O tiro foi desfechado à queima-roupa, dentro do cinema. O pormenor é importante: foi dentro do cinema. A casa de espetáculos estava cheia de gente. Era uma tarde de sábado, e grande a afluência de crianças. O filme era significativamente o Rififi no safari. A selvageria e a brutalidade policial não têm qualificativos. Por que atiraram com o cinema cheio de crianças? Puro banditismo! O projétil ficou encravado no meu corpo. Não fosse isto, uma bala doida teria vitimado outras pessoas, atingindo com certeza crianças inocentes. A polícia não pode negar o seu crime. (Marighella; Safatle, 2019, p .40)
Protestos se seguiram contra a prisão arbitrária. Marighella acabou sendo solto cerca de um ano depois. Sua carta/justificativa foi publicada em um livro intitulado Por Que Resisti à Prisão (1966). A essa altura, Marighella era alvo constante de perseguições pela polícia política, pois, embora seu mandato de Deputado Federal estivesse cassado, desde 1948, ele continuava a pregar a revolução socialista que julgava fundamental para a solução da imensa desigualdade social brasileira. Em 1961, aos 50 anos, durante a renúncia do então presidente Jânio Quadros, o Deputado cassado teve seu apartamento, na Tijuca, invadido pela polícia política que procurava material subversivo, em seu poder, a fim de incriminá-lo. Entretanto, nada foi encontrado. Em 1964, a delegacia de Ordem Política e Social já o considerava um alvo preferencial da repressão política. Ao ser recrutado por Alex Xavier Pereira, um colega do ensino secundário, do colégio Pedro II, em Botafogo, no Rio de Janeiro, o caminho de Carlos Eugênio Paz cruzou-se com a trajetória do grande militante comunista. Em seu primeiro livro, Viagem à Luta Armada, Carlos Eugênio (1996) descreveu seus primeiros movimentos no tortuoso caminho da resistência armada:
Amanhã subiremos a pedra da Gávea. Não levaremos nem comida nem casacos. Beberemos água numa fonte que há lá na subida, onde encheremos um cantil para nós cinco, que deverá durar até a descida. Passaremos a noite lá em cima e descemos no dia seguinte.
– Peço um exame de sanidade mental para o companheiro. Sexta-feira é dia de chope, não de treinamento de guerrilha.
– Que é isso, Poeta, está com medo? Isto não é nada comparado com o que passou o Che, na Bolívia, cercado, com asma, sem conhecer o terreno, Ranger pra todo lado. Temos que nos fortalecer, guerrilha não é brincadeira.
– Como comando do grupo, eu quero elogiar o companheiro Curumim, tão jovem e maduro.
– Bem que eu gostaria de ser revisionista, um curso sobre O Capital aqui, uma reunião ali, tudo tranquilo, sem sobressaltos e sempre perto de uma poltrona. Levamos as armas? (Paz, 1996, p. 89-90)
Em 1966, aos 16 anos, Carlos Eugênio Paz era apenas mais um ativista do movimento estudantil, no Colégio Pedro II, no Humaitá, no Rio de Janeiro, onde conheceu dois de seus companheiros mais constantes nos primeiros tempos de luta armada, os irmãos Iuri e Alex Xavier Pereira, que estavam começando a pegar em armas. Ambos eram garotos indignados com a expansão do imperialismo estadunidense, que explodia em violentos conflitos armados. A política externa intervencionista, necessária para conter o avanço nazista, acentuou-se como a Guerra da Coreia (1950-1953), iniciada com a invasão da Coreia do Sul pela Coreia do Norte, quando as forças americanas se uniram ao Exército da Coreia do Sul para combater as forças invasoras e garantir o livre mercado aos sul coreanos. Consolidou-se com a Guerra do Vietnã (1955-1965), que matou cerca de um milhão e cem mil combatentes e cidadãos vietnamitas, mas terminou com a vitória dos vietcongues e com a retirada das tropas estadunidenses do país. Essas guerras foram marcantes na política externa norte-americana, durante a Guerra Fria.
A Revolução Cubana havia acontecido em janeiro de 1959, com a deposição do ditador Fulgêncio Batista, alinhado aos EUA. Che Guevara e Fidel Castro passaram a ser os grandes exemplos seguidos pela juventude socialista dos anos 60, na América Latina. A princípio, Fidel não havia se alinhado ao regime soviético, porém pretendia industrializar Cuba e acabou por acatar a liderança ideológica de Moscou. Na década anterior, o governo brasileiro já havia declarado seu alinhamento aos EUA e anunciado o rompimento das relações diplomáticas com a União Soviética, no mesmo ano de 1947, em que o PCB (Partido Comunista Brasileiro) teve o registro proscrito.
Carlos Marighella continuou a militância na clandestinidade: insatisfeito com a tímida reação do PCB ao golpe de 1964, ele partiu para Havana, sem a aprovação da direção do partido, a fim de participar das OLAS (Organização Latino-Americanas de Solidariedade), onde se reuniam os representantes de países não alinhados aos Estados Unidos. Foi numa dessas reuniões que Marighella decidiu romper com o PCB e fundar a ALN (Ação Libertadora Nacional), para abraçar a luta armada como forma de enfrentamento à ditadura militar. Essa decisão pela criação de uma organização revolucionária foi tomada, por Marighella, juntamente, com Joaquim Câmara Ferreira e Virgílio Gomes da Silva, todos dissidentes do PCB.
Não há como ignorar a relevância do fato de que o mais importante líder guerrilheiro do Brasil veio de dentro do campo da política institucional. Sua decisão pela luta armada é tardia, ocorrendo aos 55 anos, quando já tinha atrás de si uma longa trajetória política. Contrariamente a outras experiências da luta armada na América Latina, como os montoneros argentinos e os tupamaros uruguaios, a guerrilha brasileira é fruto direto de uma decepção histórica, conforme fica claro em textos de Marighella, por exemplo “Porque resisti à prisão” e a carta em que justifica a desfiliação do PCB, em 1966. (Safatle, 2019, p. 14)
Com a fundação da ALN, pouco tempo depois, Carlos Marighella seria considerado o inimigo público número um pelos “agentes da desordem”, conforme era denominada a polícia política por Carlos Eugênio Paz. Ele entrou para a ALN em 1967, juntando-se aos colegas secundaristas pertencentes ao Grêmio Estudantil do Colégio Pedro II, que hoje leva o nome de Marcos Nonato da Fonseca, cujo codinome de guerrilheiro era Curumim. Fonseca participou da primeira ação de “expropriação” realizada por Carlos Eugênio, no Cine Ópera, na praia de Botafogo, quando contava com apenas 14 anos. Ele estava, portanto, entrando na adolescência e ainda nem tinha idade suficiente para assistir aos filmes adultos, mas já pegava em armas. O filme em cartaz era O Bebê de Rosemary, de Roman Polanski (1969) , censurado para menores de 18 anos. Enquanto o grupo preparava a ação, Marquinhos assumiu a vigilância da rua. Carlos Eugênio relembrou a trilha sonora do filme, entoada por um coro de vozes infantis que parecia preparar a sua própria sequência da ação. Esse “treinamento” em ação deveria ser pacífico. Após a entrada do público na sala, com a rendição do gerente, do vigilante e da secretária, para a “expropriação” do saco de dinheiro da bilheteria, porém, os garotos não contavam com a reação do vigilante do Cinema, um ex-carcereiro aposentado que sofreu vários tiros no confronto com os guerrilheiros da ALN. O carcereiro sobreviveu e foi testemunha do processo contra os jovens guerrilheiros.
Curumim (Fonseca), seguiu os passos de Clemente nos GTA’s (Grupos Táticos Armados) e enveredou pela luta armada. Acabou por ser executado no cerco da Mooca, quatro anos depois, juntamente com Iuri Xavier Pereira e Ana Maria Nacinovic, primeira companheira de Clemente. Desse grupo, poucos foram os sobreviventes. Vidas perdidas em lutas desiguais contra o terrorismo de Estado. Mas houve momentos de grande amorosidade que ficaram marcados em sua memória, como seu primeiro encontro com Marighella, no Aterro do Flamengo, que ele descreveu com vivo orgulho da própria história, sentado em um dos bancos curvilíneos, de concreto, espalhados pelo parque do Aterro. Bem no local onde se deu aquela primeira conversa com o deputado cassado, a nossa pequena equipe montou a câmera Sony sobre o tripé e ligou o microfone Sennheizer na gola de sua camisa e ele falou: “Eu me apaixonei pelo cara, pelas ideias, pelo pensamento estratégico e aderi incondicionalmente àquele movimento4”. Nesse primeiro encontro, Marighella explicou ao Clemente que aquela seria uma organização horizontal, sem uma liderança única ou central, a que ninguém precisaria pedir licença para praticar atos revolucionários. “A vanguarda se faz na ação”, afirmou. Mais tarde, podemos ler, com Vladimir Safatle:
Essa proposição repetida continuamente, por Marighella, era uma fórmula concisa para expressar uma dinâmica propriamente autonomista de ação. Isso chegaria ao paradoxo de a mais emblemática ação da ALN, a saber, o sequestro do embaixador norteamericano Charles Elbrick, ter sido idealizada, organizada e realizada sem o conhecimento do líder da própria organização, já que Marighella saberia da operação apenas depois de realizada, e pelo rádio. (Safatle, 2019, p. 17)
Voltando àquela conversa entre Carlos Eugênio Paz e Carlos Marighella no Aterro do Flamengo, nos seis anos posteriores a ela, sua atuação audaciosa e altamente eficiente como Clemente, um guerrilheiro provado na guerrilha urbana, deu a ele a estatura de uma lenda entre os seus companheiros das organizações de esquerda que o admiravam. Tornou-se, então, odiado pela polícia política, cassado ferozmente pelo Exército, admirado por muitos companheiros, além de acidamente criticado por seus desafetos, nos próprios movimentos de esquerda. Os mais críticos o acusavam de práticas excessivas de regras de segurança, que o levaram a ações extremistas. Essas críticas eram feitas até mesmo pela mulher amada:
– Percebeu que recusou meu beijo ao chegar em casa?
– Desengatilhei a arma para evitar um acidente, é assim que se faz.
– Sempre em combate. Sempre em guerra. Ao estourar o prazo, pensei que tinha caído, nunca chega atrasado, faz tudo certo… o homem que eu amo, meu companheiro, para mim estava morto. Chorei, fiquei desesperada, me senti a mais infeliz das mulheres e, ao voltar, oh meu Deus, estava vivo, ele não me beijou, cumpriu uma regra de segurança, e não era para perdermos a ternura…
– Você mistura tudo… acidentes acontecem, já perdemos Aureliano e Alberto. Nós estamos em guerra, não somos um bando de estudantes jogando pedra na polícia, bala mata.
– Tudo vem misturado desde o início, a recusa, a raiva por pegar uma avenida, a preocupação com Diogo, a desconfiança exagerada, estar em todas as ações… você quer ser o super-guerrilheiro, ganhar a guerra, entrar para a história, e espera o mesmo de todos. Eu fraquejo, faço merda como qualquer um, talvez não seja a mulher que você precisa…
– Hoje eu não devia ter saído da cama…
– Devia acordar, pode ser que tenha razão em suas desconfianças, mas eu tenho simpatia pelo jeito com que Diogo (Toledo/Joaquim Câmara Ferreira) aposta nas pessoas. Não sei onde vamos chegar se virmos traição em toda parte.
– Para um combatente, sobreviver é uma arte é uma obrigação, regras fazem parte de nossas vidas, ignorar isso é caminhar para a morte e quero vocês vivos.
– Para continuar as ações armadas, assegurar a sobrevivência da luta, a causa acima de tudo… Desde que outra mão se levante e empunhe a nossa bandeira etc… etc… etc. Marcela se levanta, não me beija e vai para o quarto. Essa noite vai ser longa, sem amor e cheia de tormentos. E a mesma pergunta me martela a cabeça. Verdade ou traição?
Nem o café me clareia as ideias.
Cansado, recostei-me no sofá e adormeci.
(Paz, 1996, p. 33)
Na abordagem de alguns temas, como se lê na citação acima, havia muito sofrimento na narrativa de Clemente, pois ele era uma pessoa muito emotiva e afetuosa com seus companheiros, com seus amigos e com suas memórias. Carlos Eugênio jamais se recusou a responder sobre qualquer assunto, mesmo os mais controversos. Dentre os momentos mais difíceis, posso recordar a descrição da emboscada armada pela polícia política contra a primeira mulher de sua vida, a guerrilheira Ana Maria Nacinovic, uma jovem dirigente da ALN, assassinada pelos policiais, no bairro da Mooca (SP), onde a polícia armou uma emboscada para executar seus companheiros de organização com um forte tiroteio no qual dois deles, do primeiro grupo guerrilheiro, também foram massacrados: Ana Maria Nacinovic, sua primeira mulher, Marco Nonato da Fonseca, que havia feito 18 anos, além de Iuri Xavier Pereira, ambos ex-colegas do colégio Pedro II, como cheguei a mencionar mais acima. Visitamos esses locais trágicos e reveladores de um passado histórico recente, para ilustrar a narrativa viva e emocionada de Clemente. Este episódio, como se lê no fragmento abaixo, foi destacado em suas sessões de terapia:
Eu perdi Marcela, eu a matei dentro de mim, muito antes que eles a assassinassem, Helena. Não dei o que ela mais precisava, obcecado em salvá-la, protegê-la, fui cego e idiota… ela me mostrou e não enxerguei… Eu a amava, vou amá-la sempre, mas abandonei-a. As mulheres que tive depois, comparei com ela, quis que fossem ela, minha Marcela, perdoe-me por favor, perdoe-me…
A verdade sai de um golpe, doi e regenera. Choro e choro como a criança de São Luís não teve coragem, como não consegui no dia em que Marcela morreu.
– O seu livro vai ser lindo, se conseguir contar com essa emoção… (Paz, 1996, p. 184)
Nessa altura, Clemente e Ana Maria já estavam separados. Em 2012, eu entrevistei alguns moradores da Mooca, testemunhas da execução desse grupo de guerrilheiros da ALN. Uma antiga moradora do bairro afirmou ter visto dezenas de policiais postarem-se sobre o telhado na rua lateral do restaurante, enquanto os guerrilheiros almoçavam. Ao saírem para embarcar no carro estacionado, os policiais abriram fogo, iniciando um intenso tiroteio. Em alguns portões de madeira, ainda hoje restam as marcas de balas daquele ataque. Para representar os momentos mais tensos narrados pelo próprio Clemente, em primeira pessoa, no filme eu utilizei desenhos elaborados pelo ilustrador Gilberto Lefèvre, com animação de Sylvain Barré. A utilização dessas ilustrações, como recurso narrativo, acrescentou leveza e jovialidade à abordagem das violentas ações descritas por Clemente, o que destaca o fato de que eram homens e mulheres muito jovens, na linha de fogo da luta armada, porém, extraordinariamente maduros, dispostos a morrer e a matar na guerra contra o imperialismo. A cobertura das falas de Clemente tornou-se necessária para a construção dessa linguagem.
Cabe analisarmos o emprego das palavras “expropriação” (que fiz questão de deixar entre aspas neste texto) e “justiçamento”, no contexto da luta armada. Expropriação significa a retirada de um bem de um inimigo: armas, carro, dinheiro, uniformes, tudo para reutilização em combate; e “justiçamento” é o ato de punir com a morte, por meio de julgamentos realizados por combatentes armados. Essas palavras são utilizadas para marcar a diferença entre os atos revolucionários e os crimes comuns, previstos em código penal. No Manual do Guerrilheiro Urbano, Carlos Marighella acentua esse distanciamento conceitual:
O guerrilheiro urbano é um homem que luta contra uma ditadura militar com armas, utilizando métodos não convencionais. Um revolucionário político é um patriota ardente, ele é um lutador pela libertação de seu país, um amigo de sua gente e da liberdade. A área na qual o guerrilheiro urbano atua são as grandes cidades brasileiras. Também há muitos bandidos, conhecidos como delinqüentes, que atuam nas grandes cidades. Muitas vezes assaltos praticados pelos delinqüentes são interpretados como ações de guerrilheiros. O guerrilheiro urbano, no entanto, difere radicalmente dos delinqüentes. O delinqüente se beneficia pessoalmente por suas ações, e ataca indiscriminadamente sem distinção entre explorados e exploradores, por isso há tantos homens e mulheres cotidianos entre suas vítimas. O guerrilheiro urbano segue uma meta política e somente ataca o governo, os grandes capitalistas, os imperialistas norte americanos. Outro elemento igualmente prejudicial como o delinquente, e que também opera no ambiente urbano é o contrarrevolucionário direitista que cria a confusão, assalta bancos, joga bombas, sequestra, assassina, e comete os crimes mais atrozes imagináveis contra os guerrilheiros urbanos, os sacerdotes revolucionários, os estudantes e os cidadãos que se opõem ao fascismo e buscam a liberdade. (Marighella, 2003, p. 4)
Seguindo o que citei acima, ao final do périplo pelos lugares da guerrilha, em que registrei os depoimentos de Clemente com uma câmera Sony de apenas dois CCD’s, eu desisti de realizar a clássica ficção baseada em fatos reais e optei por imortalizar sua história por meio de sua própria voz, nessa construção narrativa documental, com sua imagem real. Porém, a estrutura descritiva e imaginativa de um livro é bem diferente da dinâmica narrativa de um filme. Na imaginação, tudo cabe, pois a descrição literária é grandiosa, já que se expande na capacidade imaginativa de cada leitor. Na adaptação cinematográfica, a narrativa se torna visualizável por meio da concepção dramática de um(a) diretor(a), que acrescenta à imagem produzida os componentes sonoros, os efeitos especiais que comandam o espetáculo sensível da mimesis cinematográfica, intensificando as emoções interpretadas por um elenco. Não sem alguma razão, o cineasta Glauber Rocha declarou: “o Cinema é a maior de todas as armas” (Rocha, 2023). Eu encontraria o estilo poético do filme Codinome Clemente depois que juntasse todas as histórias, na formatação desta cinebiografia, lembrando que, segundo Andrei Tarkovsky (1932-1986), em Esculpir o Tempo:
Quando falo de poesia eu não falo dela como gênero. A poesia é uma consciência do mundo, uma forma específica de abordar a realidade. Assim, a poesia torna-se uma filosofia que conduz o homem ao longo de toda a sua vida. (Tarkovsky, 2010, p. 18)
LITERATURA E CINEMA DE TESTEMUNHO
Ao decidir abraçar este projeto cinematográfico, eu tinha a consciência de que estaria criando não somente uma obra documental de impacto, mas também um ente artístico que me exigiria muitos desdobramentos, nas mais diferentes áreas de atuação, como um filho sem corpo: uma vez que uma obra cinematográfica é fruto de um conjunto de ideias abstratas organizadas sob um formato narrativo, tornando-se um objeto imaterial contido em pequenas caixas de Pandora, de onde emergem anjos e demônios criados no plano imaginário, que serão, depois, materializados no set, por intermédio da câmera e de todo o aparato cinematográfico. No entanto, embora objeto imaterial, a obra exige cuidado concreto constante, desde sua concepção, como ideia, até sua complexa viabilização burocrática e financeira, sua produção, sua finalização e conservação técnica, além de constantes atualizações tecnológicas ao longo de toda a sua existência, que, espera-se, seja permanente, isto é, que ultrapasse nossa própria impermanência neste mundo, tornando-se um registro definitivo de um tempo e do conjunto de hábitos de um grupo social. Os cuidados com um filme serão sempre da responsabilidade de quem o realizou, como um pai ou uma mãe que assume esse compromisso para toda a vida. Se as instituições do país, especializadas nesse cuidado, funcionarem, serão elas também responsáveis pela conservação da existência de nossos filmes. Notadamente em países periféricos, como o Brasil, onde o tecido cinematográfico local luta contra o poderio hegemônico para existir, diante da ocupação desenfreada dos espaços de exibição e de orçamentos da ordem de alguns milhares de reais contra milhões de dólares, a realização de um filme não garante retorno do investimento feito. Mas a preocupação diuturna de seu realizador ou realizadora com a segurança da obra é tão grande quanto com a saúde física e financeira de um filho ou de uma filha, ou ainda de sua própria condição, como pessoa física e jurídica.
No caso de Codinome Clemente, que aborda o tema político sensível da luta armada, assunto constantemente rejeitado pelos revisionistas da história, defensores da tese dos dois demônios, a guerra suja entre os dois lados, ainda contam-se adesões e oposições significativas. A controvérsia é uma consequência a ser suportada por quem, como eu, realiza um filme dedicado à biografia de um dos mais combativos militantes daquele período.
A curiosidade move um investigador ou investigadora em torno do objeto. Eu queria saber quem foi esse homem que na mais tenra juventude, aos 17 anos, escolheu a vida curta e perigosa da guerrilha urbana, em lugar de um destino estável como aquele vivido pelo próprio pai, um pacato funcionário público da Receita Federal, que lia Alexandre Dumas para sua prole e escrevia histórias que jamais seriam publicadas. Eu precisava de maiores informações sobre sua biografia – anterior a sua adesão na mais aguerrida organização de resistência às forças do Exército Brasileiro, nada menos que a segunda maior armada das Américas, alinhada ao governo dos Estados Unidos, a maior potência militar do mundo. E, mesmo diante dessa superpotência mundial, ele se tornou um desafio para os seus perseguidores.
Para me inteirar da formação de sua personalidade, para além dos 37 ex-militantes que entrevistei, procurei suas irmãs, Deda (Valderez), Quila (Valquíria) e Belela (Valéria). Quila revelou as memórias mais frescas de sua infância em família: “Desde menino, Carlos Eugênio já demonstrava o espírito rebelde e provocador em suas atitudes cotidianas. Ele chegava do futebol e, entre sorrisos e piadas, roçava os ombros suados nas paredes brancas, para provocar mamãe. E tudo começou a acontecer5”, lembrou ela, com sorriso nostálgico. Toda a família seguia a linha ideológica de dona Maria, uma senhora de temperamento forte, brizolista de coração e simpatizante dos movimentos de esquerda, que revendia mercadorias para complementar o orçamento familiar e que amava os filhos incondicionalmente. Ela, porém, fazia sérias restrições à personalidade de Carlos Cardoso, seu marido e pai das crianças, definido por Carlos Eugênio como um democrata clássico moderado, de quem Maria se separou nesse período, mais precisamente em 1966. Mesmo assim, segundo informou sua irmã Valquíria, muitas reuniões políticas de ativistas de esquerda foram realizadas na casa da família ao longo do casamento, num apartamento situado nas proximidades da praça São Salvador, no Flamengo, no Rio de Janeiro. “A culpa é sempre da mãe6”, afirmou, certa vez, Carlos Eugênio,ao explicar sua opção política. No exercício dessa militância guerrilheira, dona Maria decidiu entrar na ALN e passou a ser comandada pelo próprio filho.
No auge da guerrilha, em 2 de novembro de 1969, Deda e Dona Maria tinham um encontro marcado com alguém do comando nacional da organização, a fim de receberem documentos e instruções para a saída do Brasil. Quem apareceu para cumprir esse compromisso com a mãe e a irmã de Clemente foi o próprio Marighella. Dois dias depois desse encontro, Carlos Marighella foi executado a tiros em uma armadilha montada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, na Alameda Casa Branca, no bairro dos Jardins, em São Paulo, após ter sido citado por Frei Fernando, da ordem dos Dominicanos, em uma sessão de tortura realizada pelo próprio delegado Fleury. O cerco estava se fechando, pois a ALN havia perdido seu principal líder, o que atrasou a fuga das duas mulheres. Somente em maio de 1970, a organização, sob a liderança de Joaquim Câmara Ferreira, encaminhou Deda para Paris, onde ela viveria durante 20 anos, e dona Maria foi enviada para Cuba, onde permaneceu durante dois anos, recebendo seu treinamento como enfermeira, a fim de cuidar dos guerrilheiros feridos em combate nos hospitais clandestinos montados pelas organizações. Dona Maria atuou na clandestinidade por mais dois anos, depois de retornar de Cuba. Em 1974, dona Maria foi feita prisioneira pela polícia política, quando Carlos Eugênio já se encontrava refugiado em Paris. Ela então suportou a prisão, o cárcere e o brutal interrogatório nos porões da ditadura. “Fizeram de tudo com a minha mãe”, lamentou Clemente, “mas ela nunca entregou nenhum segredo que pudesse comprometer sua organização7”.
Belela, sua filha mais nova, destacou a coragem e a inteligência da mãe: “Ela construiu uma narrativa alinhavando somente nomes de companheiros já mortos pela repressão. Com essa frágil teia de mentiras, mamãe enganou os torturadores e nem sequer declarou que o Carlos Eugênio havia saído do país, para evitar que a imagem da organização ficasse fragilizada, tendo seu principal comandante como refugiado no exterior8”.
Deda, a irmã mais velha, já morava em Paris: “Foram cerca de 30 dias terríveis, em que nós não sabíamos onde mamãe estava. E ela suportou tudo com a força e a altivez de sempre9”. Carlos Eugênio e Deda trabalharam pela libertação de dona Maria sensibilizando seus contatos da Anistia Internacional, na França. Sua mãe foi libertada e foi ao encontro de Carlos Eugênio em Paris, onde se encontrou com ele em uma igreja para prestar um relatório ao seu filho e comandante sobre tudo o que viveu no calabouço. Depois desse episódio, eles só se reencontraram em 1981, com o retorno clandestino de Carlos Eugênio ao Brasil. “Suas mãos foram completamente deformadas pelos torturadores”, lamentou ele10. No filme, a fim de ilustrar esses depoimentos sobre a prisão e a tortura de dona Maria, eu recorri ao calabouço do Memorial da Resistência, localizado na Praçada Luz, em São Paulo, onde as paredes escurecidas em cinza ainda trazem gravados os nomes dos presos políticos dos anos de chumbo.
A maior de todas as acusações feitas contra os atos revolucionários de Clemente refere-se ao episódio de “justiçamento” de seu companheiro de organização, o também guerrilheiro Marcio Leite de Toledo, aos 26 anos, no dia 23 de março de 1971. Dos muitos depoimentos que gravamos sobre o assunto, ao longo de sete anos, escolhi seu testemunho mais tocante, registrado em estúdio, em maio de 2016, para a descrição deste acontecimento. Segundo afirmou Clemente: o julgamento de Márcio Leite de Toledo foi realizado em um tribunal de guerrilha, quando Márcio foi considerado um perigo para a organização, já que detinha muitas informações e vinha sendo acusado de abandonar o grupo de guerrilheiros à própria sorte em situações de confronto. Carlos Eugênio afirmou que não foi ele quem deu a ideia, mas assumiu o ato de execução, decidido por dois comandos, como comandante militar que era. De todos os depoimentos que gravamos, a fala sobre o “justiçamento” de seu companheiro de armas foi o registro mais difícil, a fala mais relutante, portanto, a mais negociada. A princípio, Clemente não queria falar sobre esse episódio trágico, que sempre foi motivo de condenação de suas ações. O filme precisava de seu despojamento, de sua habitual transparência, justamente naquele ponto em que mais lhe doía. Lá onde ele menos desejava tocar. Eu não estava ali para julgá-lo, mas para ouvir sua versão sobre um dos fatos mais polêmicos da história da luta armada no Brasil, que representava, para mim, sua “falha trágica”, termo que é uma definição dramatúrgica sobre um suposto erro atribuído à personagem, dando uma dimensão mais humana à sua história, já que a infalibilidade não é um atributo humano.
Aos poucos, fui vencendo a resistência de Clemente e, finalmente, o depoimento mais pungente e verdadeiro sobre esse triste foi gravado em estúdio, em 2016. O escritor e ex-guerrilheiro Carlos Russo concorda, no documentário, que esta foi a “falha trágica de Clemente”, o erro da Organização que poderia ter sido evitado. Para o escritor Ivan Seixas, ex coordenador da Comissão da Verdade da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e ex integrante do MRT (Movimento Revolucionário Tiradentes), aquele período vivido nas trincheiras da guerrilha era de um cerco terrível, em que os militantes em geral e, mais fortemente, os combatentes da ALN passavam por muita pressão psicológica e, em dado momento, atiraram na própria sombra. Márcio Leite de Toledo foi a “sombra” da ALN, enfatiza Seixas, em seu depoimento. A companheira de Carlos Eugênio Paz, a historiadora Maria Cláudia Badan Ribeiro contesta a afirmação de Seixas, ao lembrar que o justiçamento de Márcio Leite de Toledo foi votado pelos comandos Nacional e Regional tendo sido meticulosamente planejado. Os presos políticos foram consultados e participaram da votação. Atribuir esse ato à pressão psicológica e ao medo seria reduzir a responsabilidade histórica e a seriedade dos jovens que tiveram que tomar essa decisão – enfatiza Maria Cláudia. Em 1970, apesar de todos os alertas de Clemente, Joaquim Câmara Ferreira, o cofundador da ALN, caiu em uma armadilha da polícia política, ao responder ao chamado de um militante solto no Pará, a quem Carlos Eugênio chamou de Silvério, em Viagem à Luta Armada, nome do traidor da Inconfidência Mineira. Maria Cláudia investigou a trajetória do traidor cujo nome ela revela: José da Silva Tavares foi o militante da ALN que assumiu publicamente a traição contra Joaquim Câmara Ferreira. Traição essa decisiva na destruição da ALN. Maria Claudia afirma que pesquisou toda sua trajetória, desde a libertação do ex-guerrilheiro, no Pará, até o acordo feito com a repressão. Tavares tornou-se alto funcionário da FIAT em Milão e foi citado, também, pela Agência Pública, como organizador de um esquema interno da própria empresa, para prender, interrogar e delatar funcionários (Carta Capital, 17/06/2023).
Antes de ingressar na luta armada, Joaquim Câmara Ferreira foi diretor do Jornal Hoje, um periódico do Partido Comunista Brasileiro. Assim como muitos militantes insatisfeitos com a imobilidade do PCB diante do golpe de 1964, Câmara Ferreira decidiu desfiliar-se do partido, proscrito desde 1949, ao juntar-se a Marighella e a Virgílio Gomes da Silva, codinome Jonas, um operário, líder sindical e guerrilheiro, capturado pela repressão, tendo se tornado o primeiro desaparecido político da ditadura militar. Joaquim Câmara Ferreira era conhecido por dois codinomes: “Toledo” e “velho”. Câmara Ferreira já havia sido preso e torturado pela ditadura Vargas em 1939 e viveu como militante da resistência e líder da luta armada até 1970, quando foi preso e torturado até a morte, aos 57 anos, em um sítio mantido pela repressão, nos arredores de São Paulo, numa operação coordenada pelo delegado Fleury.
Com a execução dos dois principais líderes fundadores da Ação Libertadora Nacional (ALN), Carlos Eugênio Paz, o Clemente, que era comandante dos grupos de fogo desde que se mudou para São Paulo, passou a integrar o comando da ALN, juntamente com outros militantes da organização. O guerrilheiro tinha, então, pouco mais de vinte anos. Como comandante dos grupos táticos armados, ele liderou mais de duzentas ações, entre expropriações, sequestros, além de alguns “justiçamentos”. Eram tempos extremos que exigiram dos jovens daquela época atos extremos. “Nós estávamos em guerra”, justificava Carlos Eugênio Paz11.
Como cineasta do real, eu me sinto honrada em participar, com a criação e a produção de Codinome Clemente (2019), desse resgate do papel histórico desempenhado por brasileiros e brasileiras na resistência ao golpe civil-militar de 1964, graças ao trabalho paciente de reconstituição das memórias dos anos de chumbo, que já originaram mais de 60 títulos de livros, grande número de teses e de obras cinematográficas. Os dois títulos publicados por Carlos Eugênio Paz são exemplos de literatura de memória. Os registros de seu tempo e de sua participação na luta armada, porém, causam muito incômodo entre muitos de seus companheiros de guerrilha, que julgaram por bem aderir a uma autocrítica consensual, ao considerarem que a luta armada foi um erro. O escritor Fernando Gabeira, ex-integrante do MR 8, autor do livro O Que é Isso Companheiro? (1997), cunhou a seguinte frase: “a luta armada foi o erro mais fascinante de uma geração” (Gabeira, 1985), posição que jamais foi acatada por Carlos Eugênio: “-Eu não faço autocrítica. A vida valeu a pena porque a luta valeu a pena”, afirmou ele12 em Codinome Clemente. Essa divergência foi determinante para que Carlos Eugênio seguisse seu próprio caminho como um caminhante crítico de toda a intensa experiência vivida na resistência ao imperialismo.
A resistência ao golpe militar foi objeto de obras cinematográficas, desde os anos 1960, quando seus realizadores sofreram muito com a mão pesada da censura: Só para citar alguns exemplos: em 1962, o diretor Eduardo Coutinho começou a rodar Cabra Marcado para Morrer, como reconstituição ficcional do assassinato do líder camponês João Pedro Teixeira, em Sapé da Paraíba, mas as filmagens foram interrompidas pelo golpe militar, tendo sido retomadas somente 17 anos depois, já sob formato documental; Em 1982, logo após a promulgação da Lei da Anistia, Roberto Farias (1932-2018) lançou o drama de ficção histórica Prá Frente Brasil, cujo drama gira em torno de um pacato cidadão de classe média, vivido por Roberto Farias, confundido com um militante político, preso e torturado até a morte, pelo aparato repressor do Estado. Apesar do afrouxamento das tensões políticas, ainda prevalecia a mentalidade militarista da repressão, sob o governo João Batista Figueiredo. O filme de RobertoFarias foi enquadrado na alínea D do art. 41 da Lei 20.943, de 1946, que previa a interdição de uma obra quando fosse capaz de provocar o incitamento contra o regime. O então presidente da Riofilme era o diplomata e ex-ministro Celso Amorim, que foi demitido da presidência desse órgão por haver liberado financiamento para o projeto. O período de distensão política do governo militar do general Ernesto Geisel (1974 a 1979) seguido pela abertura do governo do general Figueiredo (1979 a 1985), quando foi instituída a anistia aos prisioneiros políticos; e, posteriormente, pelo governo do primeiro presidente civil do país, o senador maranhense José Sarney(1985 a 1990) após os 21 anos de ditaduras militares foi marcado pela instituição do Plano Cruzado como meio de combate à hiperinflação e pela criação da primeira lei de incentivo à Cultura: A Lei Sarney. José Sarney chegou à presidência por caminhos tortuosos, como vice da chapa de Tancredo Neves, eleita indiretamente, em 1985, pelo Congresso Nacional, por conta do falecimento de Tancredo, cerca de 30 dias após sua eleição. Sob os ventos da relutante redemocratização nacional, em 1989, a ex-integrante do MR-8, Lucia Murat lançou o seu docudrama Que Bom Te Ver Viva, denunciando a tortura nos porões da ditadura, com a atriz Irene Ravache quebrando a “quarta parede” ao dramatizar os dilemas de uma ex-prisioneira política violentada no cárcere. Lúcia Murat foi presa no Congresso de Ibiúna(SP), quando ainda militava pela Dissidência da Guanabara. Ela entrou para luta armada logo após a promulgação do Ato Institucional no. 5, ao aderir ao MR-8- Movimento Revolucionário 8 de Outubro. Até então, o tema da luta armada era apenas insinuado nas entrelinhas das obras cinematográficas, sobre o período. Falar em luta armada tornou-se assunto proibido até mesmo entre os militantes de esquerda, segundo afirma em um dos monólogos interpretados pela atriz, no filme.
Um dos primeiros filmes produzidos sobre a existência dos militantes armados em ação na clandestinidade foi O Que é Isso, Companheiro? (1997), uma adaptação da obra de Fernando Gabeira com direção de Bruno Barreto e roteiro do falecido Leopoldo Serran, um liberal confesso. Tivemos um breve convívio em 2005 quando o contratei, como script doctor para fazer a revisão do roteiro de Ouro Negro. Naquela altura ele me aconselhava a não ensinar assuntos de revolução para os jovens. O filme de Barreto despertou muitas críticas dos movimentos de esquerda, que o acusavam de humanizar o torturador ao mostrá-lo em casa, beijando os filhos carinhosamente, após impor terríveis sofrimentos aos presos nas sessões de tortura: com Selton Mello, Fernanda Torres, Luís Fernando Guimarães e Pedro Cardoso a interpretarem os guerrilheiros, o filme parece corroborar a impressão de que a resistência era apenas um movimento feito por jovens sonhadores. Charles Elbrick foi interpretado pelo ator norte americano Alan Arkin que escreve cartas amorosas para a esposa, em seus três dias de cativeiro, além de declarar-se um democrata que discorda da ofensiva de seu país no Vietnã.
Na sociedade do espetáculo em que vivemos, nada se compara ao impacto causado pelas narrativas cinematográficas, sobretudo sobre temas tão polêmicos como o golpe de 1964, que muitos revisionistas tentam negar e chamar de “revolução”, apropriando-se do termo utilizado pela esquerda clássica. Trinta anos depois do golpe, em 1994, o consagrado diretor Sérgio Rezende lançou Lamarca (1994), uma ficção baseada em fatos reais, sobre o lendário capitão Carlos Lamarca, o militar que abandonou o Exército para fundar a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), a fim de combater a ditadura militar. Lamarca foi interpretado pelo ator Paulo Betti. Ao criar um foco guerrilheiro, no interior da Bahia, o capitão foi caçado como um desertor, tendo sido brutalmente assassinado por soldados comandados pelo major Nilton Cerqueira, na localidade de Pintada (BA).
Outras obras de grande relevância histórica e artística foram realizadas sobre esse período, sob a forma narrativa documental, tais como a filmografia do professor, cineasta e historiador Silvio Tendler, o autoproclamado “cineasta dos vencidos”, que realizou uma extensa obra sobre o período do golpe de 1964, cujos títulos são de grande importância como referências sobre a ditadura, tais como: Os Anos JK (1980), Jango (1984), Marighella, Retrato Falado de um Guerrilheiro (2001), Utopia e Barbárie (2009), Os Militares da Democracia (2014), Dedo na Ferida (2017), nos quais Tendler desenvolve seu memorial analítico, ao construir suas narrativas, sobre os atos golpistas perpetrados pelos perigosos tiranos da América do Sul. Mais recentemente, outras obras realizadas por ex-militantes que viveram a luta armada e foram presos políticos performam um tipo de cinema de testemunho biográfico, como da obra da diretora Emília Silveira, que desenvolveu, desde 2013, uma extensa filmografia sobre os anos de chumbo iniciada com 70 (2013), documentário em que apresenta a trajetória dos 70 prisioneiros políticos libertados em troca do embaixador suíço Giovanni Erico Bucher, sequestrado no Rio de Janeiro, em 7 de dezembro de 1970, em uma operação liderada por Carlos Lamarca, da VPR. Em seu livro Os Carbonários (1998), o ativista e ex-deputado federal do PV, Alfredo Sirkis (1950-2020) relata ter sido um dos militantes que participaram da ação, aos 19 anos, por ser o único a falar inglês. A caminho do cativeiro, ele ouviu Bucher protestar declarando sua origem suíça, pois, não sendo um americano, ele não teria como interferir no conflito. O embaixador Bucher foi libertado 40 dias depois, em 16 de janeiro, período em que passou jogando, no cativeiro, muitas partidas de baralho com o guerrilheiro Carlos Lamarca, um de seus captores. Em Galeria F (2016), Emília Silveira conta a história do militante comunista Theodomiro Romeiro dos Santos (1953-2023), o primeiro civil condenado à pena de morte, no período republicano, sob a acusação de haver cometido ‘crime de sangue’, por atirar em dois agentes federais e matado um deles, ao resistir à sua prisão. Theodomiro havia entrado na luta armada aos 14 anos e foi encarcerado por nove anos, na galeria F da penitenciária Lemos de Brito. Com sua exclusão da Lei da Anistia, de 1979, ele fugiu da prisão em 30 de Outubro 1979, com o apoio da Nunciatura Apostólica, em Brasília, quando se exilou com a família no México e, em seguida, na França. O ex-guerrilheiro só retornou ao Brasil, em 1985, após expirada sua pena, quando então graduou-se como magistrado e passou a integrar o Tribunal Regional do Trabalho, de Pernambuco. Juntamente com Theodomiro e seu filho, entre 2015 e 2016, Emília Silveira percorreu os caminhos do punitivismo carcerário sofrido pelo ex -guerrilheiro, nesse filme de resgate de suas memórias.
O ex-secretário do Audiovisual do primeiro governo de Dilma Rousseff e ex-militante da VAR- Palmares, Silvio Da-Rin, por sua vez, realizou Hercules 56 (2006), um importante documentário sobre o sequestro do embaixador americano Chales Burle Elbrick, trocado por 15 prisioneiros políticos. Da-Rin intitulou esse longa-metragem documental com o prefixo Hercules 56, pertencente ao avião que transportou os prisioneiros libertados. As negociações foram rápidas, pois, duraram somente 3 dias. Logo após a troca do embaixador sequestrado pelos prisioneiros, entre a polícia política e os guerrilheiros da VPR, ALN e MR-8, três organizações que planejaram e realizaram a ação, os 15 guerrilheiros foram transportados para o México, na semana da independência de 1969. Da-Rin conseguiu realizar o filme a partir dos depoimentos dos nove sobreviventes, com riqueza de informações. Entre os depoimentos, o de Maria Augusta Carneiro, de Mario Zanconato e de José Dirceu, além de entrevistas com cinco dos autores da operação, entre eles o jornalista Franklin Martins, que também descreveu o episódio no filme Codinome Clemente (2019).
Outras obras muito relevantes foram produzidas mais recentemente, por filhos e filhas da ditadura, como Torre das Donzelas (2018), de Suzanna Lira, no qual a diretora adotou uma linguagem poética para descrever o calvário das prisioneiras políticas, dentre elas a ex presidenta Dilma Roussef, em meio a 12 mulheres convidadas a revisitar o passado na prisão. Através do relato dessas mulheres, ex-prisioneiras da ditadura empresarial militar brasileira, Lira denuncia a violência de que foram vítimas, em salas de tortura, além de ressaltar a importância da leitura e do autocuidado, como forma de manter a esperança na prisão. Torre das Donzelas estreou no circuito em 25 de setembro de 2019, com a presença da ex-Presidenta Dilma Roussef.
O Dia que Durou 21 Anos (2012), de Camilo Tavares, é o mais assertivo documentário sobre o envolvimento do governo estadunidense no golpe de 1964 e no assassinato do ex presidente João Goulart, Jango. Camilo Tavares é filho do jornalista Flávio Tavares, um dos prisioneiros trocados pelo embaixador estadunidense. Ele também embarcou no Hercules 56 para radicar-se na cidade do México, onde nasceu o cineasta.
É importante destacar, igualmente, o extraordinário filme Cidadão Boilesen (2009), de Chaim Litewski, que desmascara os empresários financiadores da tortura, notadamente o personagem título do filme, um alto executivo da multinacional Ultragaz, o dinamarquês naturalizado brasileiro Henning Boilesen (1916-1971), executado na Alameda Casa Branca, numa ação conjunta entre ALN, MRT e VPR, na mesma rua dos Jardins, em São Paulo, onde Carlos Marighella foi executado pela repressão política, dois anos antes. Nesse filme, Carlos Eugênio Paz dá seu testemunho, quando assume publicamente haver disparado contra o empresário, o “tiro de misericórdia”.
É importante lembrar também de Operação Condor (2001), de Cleonildo Cruz, filme que desvela a ofensiva conjunta das várias ditaduras implantadas na América do Sul, nos anos de 1970, com o apoio do governo estadunidense, tendo deixado um rastro de extermínio de milhares de militantes e simpatizantes de esquerda.
Todas essas obras deveriam constar em currículos escolares, para que o despertar de consciência dessas nações nunca mais permita a ascensão do fascismo ao poder. No Brasil, nunca mais! Na América Latina, nunca mais! No mundo, nunca mais!
1 O filme pode ser acessado por este link: <https://reservaimovision.com.br/programs/historias-do-olhar>.
2 O filme pode ser acessado por este link: <https://www.primevideo.com/detail/Ouro Negro/0
3 (Cf. ALBUQUERQUE, 2019).
4 (Cf. ALBUQUERQUE, 2019).
5 (Cf. ALBUQUERQUE, 2019).
6 (Cf. ALBUQUERQUE, 2019).
7 (Cf. ALBUQUERQUE, 2019).
8 (Cf. ALBUQUERQUE, 2019).
9 (Cf. ALBUQUERQUE, 2019).
10 (Cf. ALBUQUERQUE, 2019).
11 (Cf. ALBUQUERQUE, 2019).
12 (Cf. ALBUQUERQUE, 2019).
Referências:
PAZ, Carlos Eugênio, Viagem à Luta Armada, Civilização Brasileira, 2ª Edição, 1996; PAZ, Carlos Eugênio, Nas Trilhas da ALN, Bertrand Brasil, 1997;
MARIGHELLA, Carlos. Manual do Guerrilheiro Urbano. Editora Clube dos Autores, 1969;SAFATLE, Vladimir, 2019, p .40
TARKOVSKY, Andrei, em Esculpir o Tempo Editora Martins Fontes 2010;
Filmografia:
GAVRAS, Konstantinos Costa Missing Desaparecido 1982;
ALBUQUERQUE, Isa Histórias do Olhar, 2003, https://reservaimovision.com.br/programs/historias-do-olhar
ALBUQUERQUE, Isa Ouro Negro, 2010 https://www.primevideo.com/detail/Ouro-Negro/0
ALBUQUERQUE, Isa. Codinome Clemente. Iris Cinematográfica, Brasil, Rio de Janeiro, 2019. POLANSKI, Roman O Bebê de Rosemary, 1969;
COUTINHO, Eduardo Cabra Marcado para Morrer 1983;
MURAT, Lúcia, Que Bom te Ver Viva, 1989;
BARRETO, Bruno, O que é Isso, Companheiro?1997;
REZENDE, Sérgio, Lamarca, 1994;
TENDLER, Sílvio: Os Anos JK (1980), Jango (1984), Marighella, Retrato Falado de um Guerrilheiro (2001), Utopia e Barbárie (2009), Os Militares da Democracia (2014), Dedo na Ferida;
TAVARES, Camilo, O Dia que Durou 21 Anos, 2012;
LITEWSKI, Chaim Cidadão Boilesen 2009;
CRUZ, Cleonildo Operação Condor 2001.
Palavras – Chave: CLEMENTE; GOLPE; ALN,
RESISTÊNCIA, PAZ, Carlos Eugênio, 1964.
1Diretora, produtora e roteirista. Primeira cineasta maranhense a realizar um filme de longa metragem de ficção para circuito comercial, desde a retomada, já tendo dirigido, produzido e roteirizado três longas metragens: Histórias do Olhar (2003), Ouro Negro (2009) e Codinome Clemente (em fase de lançamento). Também é produtora de eventos culturais: tendo realizado o Ibracine Fest ao longo de 11 anos consecutivos, entre Espanha e Brasil. Concluiu o Mestrado em Ciências da Literatura, pela UFRJ, em Março de 2024, pela linha Linguagem, Arte e Pensamento, sob orientação do poeta, professor e doutor Alberto Pucheu.