AURICULAR ACUPUNCTURE IN THE COMPLAINT OF MENSTRUAL CRAMPS IN UNIVERSITY STUDENTS FROM A PRIVATE INSTITUTION IN THE CITY OF CASCAVEL – PARANÁ
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202506121113
Gabrieli Campanharo¹
Carla de Oliveira Lazzarin²
Resumo
A cólica menstrual é um problema prevalente entre mulheres em idade reprodutiva, especialmente em estudantes universitárias, sendo associada a sintomas que comprometem significativamente a qualidade de vida e o rendimento acadêmico. O presente estudo teve como objetivo avaliar a eficácia da auriculoterapia como método complementar para o alívio da dor. O presente estudo é de caráter analítico, experimental, comparativo e controlado por placebo, realizado em estudantes de universidades entre 18 e 30 anos, em uma universidade do município de Cascavel Paraná, a amostra da aplicação foi de 20 mulheres divididas aleatoriamente em dois grupos, um com aplicação para cólicas menstruais e outro com aplicação de placebo. Os resultados foram avaliados a partir da Escala Visual Analógica (EVA) antes e após as aplicações, indicaram que a auriculoterapia promoveu uma redução significativa na intensidade da dor e nos sintomas relacionados nas aplicações para cólica menstrual, porém também houve uma diminuição no grupo placebo. Os achados corroboram evidências científicas que apontam a auriculoterapia como uma técnica eficaz, acessível e de baixo custo para o manejo da dismenorreia. Conclui-se que a auriculoterapia representa uma alternativa promissora no contexto da atenção à saúde da mulher universitária, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e o desemprenho acadêmico.
Palavras-chave: Acupuntura auricular. Dismenorreia. Mulheres. Universitárias.
1 INTRODUÇÃO
A cólica menstrual ou dismenorreia é uma condição que acomete muitas mulheres em idade fértil, caracterizada por dores na região abdominal inferior, lombar e que podem ocorrer antes ou durante o período menstrual. Considerada uma das queixas mais comuns entre as mulheres, a dismenorreia pode vir acompanhada de vários outros sintomas como dores de cabeça, cefaleia, náusea, vômitos, diarreia, dores ou inchaços mamários, e em casos mais graves desmaios. Devido a esses sintomas as mulheres optam pela automedicação como a de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), para a melhora dos sintomas (Magalhães et al., 2021).
Segundo pesquisas, a dismenorreia apresenta em sua etiologia classificações como primária e secundária. A primária possui menstruação dolorosa com ausência de lesões nos órgãos pélvicos, é acompanhada de ciclos menstruais normais ocorrendo logo após a primeira menstruação, e diminuindo ao longo dos anos. Já a secundária acomete cerca de 10% das adolescentes, tens evidências clínicas de alterações no sistema reprodutivo associado com dores pélvicas crônicas (DPC), dor em relações sexuais, sangramento uterino anormal, alteração em exames clínicos e laboratoriais como, adenomiose, pólipos uterinos, doenças inflamatórias pélvicas, malformações e principalmente a endometriose (Junior et al., 2023).
Devido a intensidade que as cólicas menstruais podem vir, algumas mulheres optam por se automedicar com anti-inflamatórios de modo rápido e descontrolado para o alívio dessas dores, evitando de se abster dos seus afazeres cotidianos, como escola, trabalho ou de suas preocupações de vida diária, filhos, família. O estresse também pode estar muito associado a mudanças hormonais que podem impactar ainda mais no dia a dia dessas mulheres, principalmente em estudantes de universidades com prazos de entrega, semana de provas, entre outros (Silva et al., 2024).
A dismenorreia possui um grande impacto na vida social e pessoal de várias mulheres, acometendo cerca de 50% a 90% delas no período menstrual, devido a intensidade desses sintomas, acredita-se que esteja comumente associada a diminuições de foco e da capacidade no trabalho, e menor produtividade, atraindo efeitos negativos sobre a saúde, assim como problemas físicos e psicológicos, como a ansiedade e depressão, levando a consequências sociais e de âmbito pessoal (Berardo; Braga; Mayer, 2020).
As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) são recursos terapêuticos que procuram obter a prevenção e a recuperação da saúde. Dentro das PICS temos a Auriculoterapia que é uma técnica de estimulação de pontos propondo que qualquer alteração de determinados órgãos ou partes do corpo tem relação e podem ser detectados e tratadas na orelha (Silva et al., 2024).
A Auriculoterapia é parte da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) sendo reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma terapia que pode ser estimulada pelo pavilhão auricular por meio de agulhas, sementes ou cristais com aplicações especificas na orelha, a estimulação destes pontos leva sinais para o cérebro e órgãos auxiliando em suas funções fisiológicas, isso ocorre pelas zonas reflexas que são denominadas de microssistemas sendo uma estrutura ou uma parte do corpo que resume todo o corpo para propósitos de diagnóstico ou tratamento (Serpa, 2022).
Segundo alguns artigos a Auriculoterapia pode ser usada como uma terapia complementar, auxiliando as terapias convencionais para estudantes além disso ajudando também na concentração e foco em seus estudos e na diminuição de sintomas de ansiedade e depressão comuns entre universitários (Artioli; Tavares; Bertolini, 2019)
Diante das informações deste trabalho e sendo baseado em estudos prévios de artigos científicos já existentes, é possível dizer que a Auriculoterapia para a dismenorreia dispõe de resultados satisfatórios para o alívio da mesma, além de sintomas relacionados (Serpa, 2022). Considerando a relevância do tema este trabalho tem como objetivo avaliar o efeito da aplicação da acupuntura auricular em mulheres universitárias que apresentam queixas de cólicas menstruais, fornecendo conhecimento sobre o papel da Auriculoterapia e os seus efeitos na dismenorreia em mulheres estudantes universitárias, demonstrando evidências científicas e destacando seus resultados além de proporcionar uma forma de terapia segura e de baixo risco a saúde.
2 METODOLOGIA
O estudo produzido foi uma pesquisa de caráter analítico, experimental, comparativo e com a utilização de placebo. Realizado com estudantes do sexo feminino do Centro Universitário Univel no município de Cascavel – Paraná. Esse estudo foi realizado com 20 mulheres divididas em dois grupos, 10 no grupo 1 (G1) onde houve aplicação para cólica menstrual e 10 no grupo 2 (G2) onde houve aplicação de placebo atendendo a critérios de inclusão e exclusão.
Os critérios de inclusão, foram alunas do Centro Universitário Univel, com idades de 18 a 30 anos, que apresentavam queixas de cólicas menstrual antes ou durante o período menstrual e com ciclos regulares, com pavilhão auricular íntegro e que concordaram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Anexo A). O estudo excluiu mulheres que possuíam alergia a micropore ou a semente de mostarda, foram excluídos também mulheres com baixa capacidade cognitiva, com suspeita de gestação ou gestantes, professoras e colaboradoras da instituição, mulheres que possuíam diagnóstico de endometriose, e que não tinham o pavilhão auricular preservado.
O estudo foi iniciado após a aprovação do comitê de ética com o n° do parecer 7.423.074, foi produzido o formulário no Google forms criada pelo próprio pesquisador. Para realizar a pesquisa foi necessária divulgação e captação de voluntárias, que ocorreu por meio de mídias sociais como WhatsApp e Instagram, com prazo de divulgação entre os dias 11 a 17 de março, sendo assim o formulário ficou disponível entre os dias 11 de março até 30 de abril de 2025, com 54 respostas, nesse período também ocorreu a aplicação da Auriculoterapia nas mulheres que responderam ao questionário, iniciado no dia 9 a 30 de abril. A partir desses dados as análises foram feitas por meio da plataforma Excel onde foram compilados e organizados por meio de média, porcentagem e formulação de tabelas para classificar os dados.
A partir dessa divulgação 20 estudantes foram incluídas nesse projeto divididas 10 no G1 onde houve aplicação de auriculoterapia para cólicas menstruais e 10 (Figura 1) no G2 onde teve aplicação de placebo (Figura 2) de forma aleatória. Nos dias de aplicação as estudantes estavam cientes que poderiam desistir do estudo, após realizaram a leitura e assinatura do TCLE, e do formulário feito pelo próprio pesquisador (Apêndice B). Após as aplicações elas foram orientadas dos cuidados com a Auriculoterapia, e a responder novamente a EVA assim que entrassem no período menstrual. Para melhor entendimento foi realizado uma orientação via WhatsApp e enviadas a elas logo após as aplicações.
Os pontos utilizados no grupo G1 foram o Shen men utilizado por possuir atividade anti-inflamatória, Rim escolhido por ser usando em transtornos urogenitais, queixas menstruais e tensão pré menstrual (TPM), o ponto Simpático é usando para algias no geral assim como para náuseas, vômitos, o Fígado é utilizado em casos de dor, o ponto Endócrino foi encolhido por tratar de pontos de transtornos endócrinos, ginecológicos entre outros, e o Genitais Interno usado em casos de dor e disfunções urinárias e ginecológicas, todos presentes no mapa da Auriculoterapia Chinesa (Artioli; Tavares; Bertolini, 2019; Neves, 2018).
Figura 1 – Aplicação feita para cólicas menstruais, grupo G1.

E o no grupo G2 onde foi utilizado placebo com pontos aleatórios em torno do pavilhão auricular.
Figura 2 – Aplicação de placebo, grupo G2.

3 RESULTADOS
Os resultados apresentaram uma média de idade de 20 anos de todas as participantes. O curso que obteve mais participação foi da Fisioterapia com 54,8% seguido pela Odontologia 13,2%, após com menos participações temos os cursos de Arquitetura e Urbanismo, Ciências Contábeis, Educação Física, Medicina Veterinária, Nutrição, Psicologia, Direito, Enfermagem e Gastronomia (Figura 1).
Figura 1 – Cursos que mais participaram do estudo.

Ao longo do questionário foram realizadas algumas perguntas com relação as cólicas menstruais, como se elas sofriam com cólicas menstruais (Figura 2).
Figura 2 – Você sofre de cólicas menstruais?

Ao abordar sobre a duração dos dias de menstruação, a predominância das respostas obtidas foram 42,6% disseram 5 dias, e 1,9% disseram 2 dias. Sobre a duração do ciclo 49,1% disseram que o ciclo dura 25 dias ou mais, algumas relataram também possuírem ciclos de 21 a 24 dias. Quando questionadas se sentem cólicas durante o período menstrual as respostas foram as seguintes (Figura 3).
Figura 3 – Sente cólicas durante o período menstrual.

Sobre a duração dessas cólicas as respostas foram que 42,6% sentem cólicas por 2 dias, 27,8% por 3 dias, 16,7% por 5 dias ou mais e 9,3% por 4 dias. Houve uma questão em que essas mulheres deveriam numerar a sua cólica menstrual de 0 a 10 pela escala de EVA como descrito na (Figura 4) a média de dores foi de 7,04 a moda de 8 e a mediana de 7,5.
Figura 4 – Como você classificaria sua cólica menstrual de 0 a 10.

A pergunta seguinte era como elas descreveriam essa cólica com algumas palavras selecionadas do questionário de Mc Gill (Figura 5), dentre essas palavras estavam constantes, pontada, fisgada, intervalada e queimação.
Figura 5 – Como você descreveria essa cólica menstrual.

Foram questionadas também sobre sintomas que estão associados a menstruação (Figura 6), dentre as alternativas estavam Inchaço, dor nas mamas, dor de cabeça, diarreias, algumas mulheres relataram todas as alternativas acima, e alguns sintomas a parte como dor nas costas, dores de cabeça, dor nas mamas, costas e inchaço, e algumas descreveram ainda dores na região lombo sacral.
Figura 6 – Sintomas que estão associados a menstruação.

Em relação ao fluxo que essas mulheres sentem durante o período menstrual a maioria relatou um fluxo moderado com cerca de 63%, seguido por intenso 24,1% e por último leve 13%. Para avaliar a utilização de medicação houve uma questão sobre a utilização dela nas cólicas menstruais (Figura 7), as respostas foram que mais da metade dessas mulheres utilizam sim medicações para as cólicas menstruais.
Figura 7 – Utilização de medicação para o alívio de cólicas menstruais.

Em seguida havia uma pergunta aberta sobre o nome das medicações que elas utilizavam para suas cólicas, A maior incidência é do Buscopan e Ácido Mefenâmico 9 mulheres relataram a utilização dele, seguindo temos o Buscofem, Dipirona, Postan, Paracetamol, Tramal, Ibuprofeno, Escopolamina, Atroveran em gotas, Toragesic, Floxican, Ponsdril, Feldrene, Dorflex, Colipan (Figura 8).
Figura 8 – Quais medicamentos você utiliza para aliviar suas cólicas menstruais durante o período menstrual.

Após foram questionadas sobre a frequência diária dessas medicações as maiores respostas foram que 56,5% utilizam 2 vezes ao dia, 34,8% utilizam apenas 1 vez ao dia, aqui obtemos uma média de 2 dias em que essas mulheres utilizam medicações. Após houve o questionamento se elas possuíam alívio após a utilização do medicamento as respostas se igualaram entre as vezes e sim (Figura 9).
Figura 9 – Se possuíam alívio após a utilização da medicação.

As mulheres ainda foram questionadas se as cólicas menstruais impactam na capacidade de estudos ou na realização de atividades acadêmicas mais da metade das respostas foram que sim as cólicas menstruais impactam na sua vida acadêmica (Figura 10).
Figura 10 – Impacto das cólicas menstruais na capacidade de estudos ou realização de atividades acadêmicas.

A partir disso deveriam responder de que forma elas afetavam os estudos (Figura 11), dentre as respostas estavam a dificuldade de concentração, cansaço, falta de produtividade, falta em aulas, e ainda algumas mulheres relataram que as cólicas afetam a sua produtividade e a falta em aulas, algumas disseram que não afetam e outras que tem dificuldades para realizar provas/ trabalhos e ainda teve algumas respostas que relataram todos os tópicos acima.
Figura 11 – Que forma as cólicas menstruais afetam os estudos?

Essas estudantes foram questionadas sobre algo que piorava as cólicas menstruais mais da metade respondeu que o estresse traz grande prejuízo para esses dias 65,4%, além da alimentação desregulada que também foi citada 17,3%, as poucas horas de sono e a falta de exercícios físicos também foram mencionados nas respostas além do frio.
A questão a seguir era sobre o que elas faziam para aliviar as suas cólicas (Figura 12), mais da metade mencionou que o repouso aliviava as cólicas, logo após as bolsas de água quente com 32,1% das respostas, 11,3% responderam chás e a prática de exercícios físicos houve empate junto com alguns relatos de tentarem todas as opções acima e não obter alívio.
Figura 12 – O que você faz para aliviar as cólicas menstruais?

A pergunta final era em uma escala de 0 a 10 o quanto as cólicas impactavam na qualidade de vida delas (Figura 13), as maiores respostas foram 7 e 8 e as notas 0 e 1 não obtiveram respostas.
Figura 13 – De 0 a 10 o quanto as cólicas menstruais afetam sua qualidade de vida.

Sobre os formulários feitos para as mulheres antes das aplicações temos a escala de Mc Gill as palavras mais utilizadas pelas estudantes universitárias para relatar suas cólicas foram “Latejante” relatada por 12 mulheres assim como as palavras “Pontada”. As palavras “Cólica”, “Exaustiva” e “Que Incomoda” foram descritas por 11 mulheres.
O Mapa corporal pintado e assinalado por elas (Figura 1) apresentou maior incidência de cólicas na região da cabeça em aba de chapéu, região de peitoral anterior e mamas, também com maior destaque temos região de abdômen inferior e algumas ainda relatarão dores em quadríceps e região tibial anterior, na parte posterior as estudantes assinalaram principalmente lombar como ponto de dores, mas também temos a região de trapézio superior, coluna vertebral, e na região dos ombros.
Figura 1 – Mapa corporal assinalado pelas mulheres para descobrir as regiões de maior dor durante o período menstrual.

As aplicações foram feitas em 20 mulheres divididas em dois grupos o grupo experimental com 10 mulheres e o grupo placebo com também 10 mulheres, foram respondidos a EVA inicial e final em cada uma das participantes, segundo a tabela abaixo. Foram obtidas 6 respostas no G1 e 4 que não houve resposta, no G2 houve 3 respostas e 7 que não foram obtidas respostas, a amostra final ficou com 6 participantes com aplicação de cólica menstrual e 3 aplicações de placebo totalizado 9 aplicações com respostas.
Tabela 1 – Apresenta o resultado das aplicações feitas no grupo G1 e G2.


4 DISCUSSÃO
Arcaminho, Nascimento, Júnior. (2023) apontam que a dismenorreia em universitárias apresenta uma incidência de 81,2% valor muito próximo ao identificado no presente estudo, cuja prevalência foi de 82,7% o que evidencia uma recorrência do problema nessa população específica. De forma semelhante Berardo, Braga, Mayer (2020) ao analisarem uma amostra composta por 207 estudantes de medicina com idades entre 18 e 46 anos, constataram que 84,1% das participantes relatam presença de cólicas menstruais.
No mesmo estudo das mulheres que apresentaram dismenorreia 58,6% classificaram a dor como leve a moderada, enquanto 41,4% a classificaram como intensa. Esses dados não se aproximam da frequência observada nesta pesquisa que as participantes mencionaram um fluxo de moderado a intenso.
Além disso Souza, Junior, Ventura (2020) relataram uma prevalência entre 60% e 90% em mulheres na mesma faixa etária desse estudo, que possuem cólica menstrual, reforçando que a dismenorreia é uma condição ginecológica comum embora seja frequentemente subestimada socialmente. Esses achados confirmam os obtidos nesta pesquisa que estão em consonância com a literatura, refletindo um padrão recorrente e relevante para a saúde da população universitária feminina.
Silva et al. (2024) afirmam que as cólicas menstruais geralmente apresentam uma duração média de dois a três dias, podendo estar ou não associadas a dores difusas e irradiadas para outras regiões do corpo, como lombar, membros inferiores e a região dorsal. Tais informações mostram-se compatíveis com os obtidos no presente estudo no qual aproximadamente metade das participantes relatou que suas cólicas têm duração de dois dias, porém não houve menção delas sobre dores irradiadas.
No que se refere a sintomas associados a dismenorreia, Junior et al. (2023) identificaram, em seu estudo uma alta prevalência de irritabilidade 67%, cefaleia 49,2% e cansaço 58,7% entre as mulheres. No entanto, esses achados se diferem dos resultados obtidos nesta pesquisa, em que os sintomas mais relatados, além da dor nas mamas e da dor de cabeça, foram o inchaço 33,3% e desconfortos musculoesqueléticos, como dores na lombar e nos membros inferiores. Dessa forma, embora haja alguns sintomas comuns entre os estudos, a presente amostra demonstrou particularidades em relação aos sinais associados a dismenorreia, destacando a diversidade do quadro de dor entre as universitárias.
Rodrigues et al. (2023) também utilizaram o mapa corporal da dor em seu estudo, e identificaram maior prevalência de dor nas regiões de abdômen inferior, lombar, cabeça e mamas. Esses achados demonstram similaridade com os resultados do presente estudo, no qual houve uma concentração nas mesmas áreas corporais.
No que se refere a percepção sensorial da dor Pimenta, Silva, Fontoura (2019) empregaram a Escala de McGill e identificaram descritores como “pontada”, “constante” e “fisgada” com maior prevalência utilizada entre as participantes. Esses achados corroboram os dados desta pesquisa, em que os termos “constante” 35,2% e “pontada” 29,6% foram as mais frequentes mencionadas para descrever as cólicas menstruais. Essas evidencias ressaltam o impacto sensorial que a dismenorreia possui.
Neste estudo observou-se uma baixa adesão a prática de exercícios físicos entre mulheres que relatam cólicas menstruais. De maneira semelhante Araujo et al. (2021) ao avaliarem os efeitos do método Pilates em 10 mulheres com dor lombar relacionado ao período menstrual, observou que 60% das participantes com idades entre 18 e 30 anos eram sedentárias e 40% apresentavam níveis insuficientes de atividade física, o que reforça a adesão a prática de exercícios mesmo diante de seus benefícios.
De forma complementar Batista (2013) analisou a prática da atividade física entre universitárias com diferentes intensidades de dor menstrual, o autor constatou que apenas 6,7% das mulheres com dor intensa realizavam exercícios físicos, enquanto as que possuíam dor moderada esse percentual era de 32,8%, nenhuma das participantes com dor leve relatou praticar exercícios. Esses achados convergem com os resultados do presente estudo, indicando uma baixa procura por exercícios físicos durante o período menstrual.
No que se refere as características do ciclo menstrual Souza, Junior, Ventura (2020) afirmam que ciclos com duração igual ou superior a 25 dias, assim como sangramentos com média de cinco dias, encontram-se dentro dos parâmetros fisiológicos considerados normais. Esses dados apresentam semelhança com os resultados obtidos no presente estudo, em que 42,6% das participantes relataram possuir ciclos menstruais com essas mesmas características, evidenciando um padrão regular dentro da população investigada.
Em relação ao uso de medicação durante o período menstrual Júnior et al. (2023) identificaram que 67% das universitárias recorrem a automedicação para o alívio da dismenorreia, comportamento que também foi observado neste estudo, no qual mais da metade das participantes relataram utilizar medicamentos como Buscopan, ácido mefenamico, dipirona e ibuprofeno, sendo os dois primeiros os mais frequentes relatados por elas e geralmente administrado duas vezes ao dia.
Apesar da alta adesão a medicação, apenas 44,9% das participantes relatam um alívio imediato após a ingestão, indicando uma eficácia parcial dos fármacos usados. Esse achado vai ao encontro das observações de Júnior et al. (2023), que ressaltam os riscos do uso indiscriminados de medicamentos, destacando a necessidade de orientação profissional no manejo da dor menstrual.
A utilização de fármacos no manejo da dismenorreia também foi observada por Batista et al. (2013) que ao investigar um grupo de universitárias com diferentes intensidades de dor, identificaram que 81,3% das participantes com dismenorreia moderada faziam uso de medicamentos para alívio das cólicas menstruais. Esse percentual foi ainda mais elevado entre as mulheres com dismenorreia grave, das quais 88,9% recorriam a medicações. Tais dados evidenciam uma maior prevalência do uso de fármacos em casos de dor mais intensa, o que pode estar relacionado tanto a severidade do desconforto quanto a baixa procura por terapias alternativas ou complementares. Esses achados convergem com os resultados do presente estudo, que também apontaram o uso expressivo de medicamentos entre as participantes, embora com eficácia parcial.
No que tange as práticas não farmacológicas Marques, Madeira, Gama (2021) destacam o uso de bolsas de água quente, chás, ervas medicinais e massagens como estratégias adotadas pelas mulheres para o alívio das cólicas menstruais. Essas técnicas foram igualmente mencionadas por participantes do presente estudo, evidenciando que apesar da predominância do uso de medicamentos, há também uma procura por métodos alternativos de alívio da dor. Os autores ressaltam que essas práticas podem exercer um efeito terapêutico de curto prazo, contribuindo para a redução de sintomas como cefaleia, fadiga e alteração de humor.
Quanto ao impacto da dismenorreia na vida acadêmica Berardo, Braga, Mayer (2020) identificaram que a condição compromete significativamente a qualidade de vida, a produtividade e o desempenho acadêmico de estudantes universitárias. No estudo citado 60,9% das participantes afirmaram ter interrompido atividades físicas ou sociais em decorrência da dor menstrual, sendo esse impacto mais acentuado entre as que classificam suas cólicas como de intensidade forte.
Embora os dados do presente estudo não indiquem uma elevada taxa de abstenção de atividades, observou-se que mais da metade das participantes relataram prejuízos em sua rotina de estudos, principalmente em aspectos como dificuldade de concentração, cansaço e redução da produtividade. Tais resultados apontam para um impacto relevante da dismenorreia no contexto acadêmico, ainda que de forma menos acentuada em relação a interrupção total das atividades.
A abstenção de atividades acadêmicas também foi investigada por Batista et al. (2013), que observaram que entre 64 universitárias com dor menstrual moderada, 25 relataram ter se ausentado de suas atividades acadêmicas em decorrência dor desconforto. No presente estudo, no entanto esse impacto foi menos expressivo, sendo apenas 5,8% das participantes referiram interrupção das tarefas acadêmicas. Esse dado sugere que, embora a dismenorreia comprometa o desempenho, nem sempre leva a suspenção total das atividades, porém existe outra forma mais sutil, como a dificuldade de concentração e redução da produtividade.
O estresse por sua vez tem sido associado como um fator que potencializa a dismenorreia, Sezeremeta et al. (2012) destacam que altos níveis de estresse, alimentação inadequada e privação de sono contribuem para o agravamento da dor menstrual. Esses achados se alinham aos resultados deste estudo, em que 65,4% das participantes apontaram o estresse como principal fator agravante da dor, seguido por alimentação desregulada e poucas horas de sono.
A Escala Visual Analógica (EVA) também foi utilizada por Frare, Tomadon, Silva (2013) em um estudo com 112 estudantes do curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Os resultados mostraram que 33,75% das participantes apresentaram dor intensa EVA entre 7 e 10, 35% relataram dor moderada com EVA entre 4 e 6 e 28,75% dor leve com EVA entre 0 e 3. Tais dados são semelhantes aos encontrados nesta pesquisa, na qual a maior prevalência de dor relatada pelas participantes situou-se entre os valores 7 e 8 na EVA, evidenciando a intensidade significativa da dor menstrual nesse público.
A eficácia da auriculoterapia como estratégia 0terapeutica para a dismenorreia foi confirmada por Pimenta, Silva, Fontoura (2019), que observaram redução significativa da dor após as sessões em 26 estudantes, com média da EVA passando de 6,42 para 4,31. Esse resultado é comparável aos achados desta pesquisa, em que a EVA média reduziu de 7,3 para 4,0 representando uma diminuição de 3,3 pontos, o que reforça a efetividade da técnica. Magalhães et al.(2021) também corroboram esses dados ao relatarem melhora significativa na dor e na qualidade de vida após cinco sessões de auriculoterapia em 54 estudantes, diferenciando-se principalmente na quantidade de intervenções realizadas, porém segundo o autor houve uma melhora da EVA a partir da segunda sessão.
Em relação ao grupo placebo, observou-se uma redução menos expressiva na EVA, o que também foi identificado no estudo de Pimenta, Silva, Fontoura (2019). Essa melhora pode estar associada ao efeito que placebo ou a atenção e cuidado dispensados durante a intervenção, aspecto que mesmo sem estímulo específico podem influenciar positivamente a percepção da dor.
Os pontos auriculares utilizados nesta pesquisa foram semelhantes aos aplicadores em estudos anteriores como o de Souza, Júnior, Ventura (2020), que destacaram a eficácia do ponto Simpático na analgesia das cólicas menstruais. Da mesma forma, Magalhães et al. (2021) utilizaram pontos como Shen Men, Rim, Fígado, Endócrino e Genitais Internos, com bons resultados. A semelhança na seleção dos pontos reforça sua relevância clínica e sugere que esses locais são eficazes para a analgesia de sintomas dolorosos.
Por fim, é necessário destacar as limitações deste estudo, especialmente no que diz respeito ao tamanho da amostra, o que restringe a generalização dos resultados, conforme também apontado por Magalhães et al. (2021) e Pimenta, Silva, Fontoura (2019). Além disso o fato de as aplicações terem ocorrido durante a semana de avaliações acadêmicas pode ter influenciado nos níveis de estresse das participantes afetando diretamente a percepção e o relato da dor.
5 CONCLUSÃO
Dos resultados obtidos concluímos que este estudo, que teve como objetivo avaliar os efeitos da auriculoterapia nas cólicas menstruais de estudantes universitárias, demonstrou resultados positivos, evidenciando a redução da intensidade da dor, e a melhora de sintomas associados ao ciclo menstrual. Esses achados reforçam a eficácia da auriculoterapia como uma estratégia complementar para a dismenorreia, proporcionando um alívio significativo e contribuindo para a melhora na qualidade de vida das participantes. Por fim destaca-se a necessidade de novos estudos com amostras maiores a fim, de obter uma maior evidencia e efetividade da auriculoterapia na dismenorreia. Ressalto ainda, a relevância social do tema escolhido, considerando o sofrimento físico e emocional enfrentado por muitas mulheres diariamente, que impacta no seu desempenho acadêmico, social e psicológico.
REFERÊNCIAS
ARCAMINHO, Á. K. F. DE.; NASCIMENTO, L. DE. C.; JÚNIOR, W. D.; Prevalência de dismenorreia em universitárias e sua relação com absteísmo escolar. | Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação. periodicorease.pro.br, 17 abr. 2024. Disponível em: https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/12555/5927. Acesso em 08 jun. 2025.
ARAÚJO, L. M. DE et al. Diminuição da dor em mulheres com dismenorreia primária, tratadas pelo método Pilates. Revista Dor, v. 13, n. 2, p. 119–123, jun. 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rdor/a/4Rkqcrfc45zvZtQjMyKysrk/#:~:text=Os%20dados%20do%20presente%20estudo,se%20alternativa%20n%C3%A3o%20medicamentosa%20promissora. Acesso em 27 ago. 2024.
ARTIOLI, D. P.; TAVARES, A. L. DE F.; BERTOLINI, G. R. F. Auriculotherapy: neurophysiology, points to choose, indications and results on musculoskeletal pain conditions: a systematic review of reviews. Brazilian Journal Of Pain, v. 2, n. 4, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/brjp/a/9pVWPsNM8b59ZSwydtjBk8C/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 27 ago. 2024.
BERARDO, P.; BRAGA, E.; MAYER, T. A dismenorreia e suas consequências em estudantes universitárias no Rio de Janeiro Dysmenorrhea and its consequences in university students in Rio de Janeiro. FEMINA, v. 48, n. 2, p. 109–122, 2020. Acesso em: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2020/03/1052453/femina-2019-482-109-113.pdf. Acesso em 26 ago. 2024.
BATISTA, C. S. R. C.; NUNES, J. M. DE. O.; RODRIGUES, J. DO. A.; MOURA, M. S. DE. F.; COUTINHO, S. K. S. F.; HAZIME, F. A.; BASBOSA, A. L. DOS. R.; et al. Revista Brasileira em Promoção da Saúde. 2013, 26 (3), 381-386, [s.]: s.n.]. Disponível em: https://ojs.unifor.br/RBPS/article/view/2944/pdf. Acesso em 06 out. 2024.
FRARE, J.; TOMADON, A.; RODRIGUES DA SILVA, J. Artigos originAis RBCS. [s.l: s.n.]. Disponível em: https://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_ciencias_saude/article/download/2095/1481/8157. Acesso em 24 ago. 2024.
https://www.saude.ba.gov.br/wp-content/uploads/2017/08/Escala-Visual-Anal%C3%B3gica-EVA.pdf. Acesso em 27 ago. 2024.
JÚNIOR, C. F. L.; VELOSO, B. D. A.; HOLANDA, S. D.; FREITAS, I. C. R.; MACEDO, F. S. L.; et al. O impacto da dismenorreia na qualidade de vida das estudantes de uma universidade privada: uma análise transversal. Research, Society and Development, v. 12, n. 4, p. e3012440981–e3012440981, 24 mar. 2023. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/download/40981/33335. Acesso em 25 ago. 2024.
MAGALHÃES, A. O. S.; RIBEIRO, S. S.; CHIL, Z. W.; SILVA, I. D. M.; DIAS, L. R. F. D. M.; LIMA, L. M.D.; et al. Acupuntura auricular como recurso terapêutico atuante na sintomatologia da dismenorreia em estudantes universitárias / Auricular acupuncture as active therapy in dismenorrhea symptomatology of university students. Brazilian Journal of Development, v. 7, n. 12, p. 111498–111511, 29 dez. 2021. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/40649/pdf. Acesso em 01 set. 2024.
MARQUES, P.; MADEIRA, T.; GAMA, A. Ciclo menstrual em adolescentes: percepção das adolescentes e influência da idade de menarca e excesso de peso. Revista Paulista de Pediatria, v. 40, p. e2020494, 5 jan. 2022.
NEVES, M. L. MANUAL PRATICO DE AURICULOTERAPIA pdf. www.academia.edu, [s.d.]. 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rpp/a/nKc4WcFrP9bhp3Vpqg5Q5Nr/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 24 ago. 2024.
PIMENTA, C. A. DE. M.; TEIXEIRA, M. J. Questionário de Dor McGill: Proposta de Adaptação para a Língua Portuguesa *. [s.l: s.n.]. Disponível em: https://bjan-sba.org/article/5e498bf80aec5119028b48aa/pdf/rba-47-2-177.pdf. Acesso em 05 out. 2024.
RODRIGUES, J. C. et al. Como se parece a minha dor? Caracterizando a dor relacionada à dismenorreia utilizando o mapa corporal da dor. Brazilian Journal Of Pain, v. 6, n. 2, 2023. Disponível em: https://www.scielo.br/j/brjp/a/qmkY4pk8NBcRpFpxBsV4jFb/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 26 ago. 2024.
SERPA, M. E. DA. C.; O uso da auriculoterapia no manejo da dismenorreia primária: revisão integrativa. Repositorio.ufc.br, 2022. Disponível em: https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/72112/4/2022_tcc_mecserpa.pdf. Acesso em 18 ago. 2024.
SEZEREMETA, D. C.; CARVALHO, M. S. DOS. S.; VRECCHI, M. R.; MARAFON, R. G. C.; CRESPILHO, L. C.; PAGOTTO, J. P.; MORTEAN, E. DE. C. M.; et al. Dismenorreia: Ocorrência na vida de acadêmicas da Área da Saúde. Dysmenorrhea: Occurrence in the Life of Female Undergraduates from Health Sector. UNOPAR Cient Ciênc Biol Saúde, v. 15, n. 2, p. 123–129, 2013. Disponível em: https://journalhealthscience.pgsskroton.com.br/article/download/708/681. Acessado em: 07 out. 2024.
SILVA, H. J. L. DE. C.; GOMES DE MÉLO, M. P.V. G. DE.; EDUARDA AUGUSTO MELO; ALBULQUERQUE, N. L. A. DE.; SILVA, N. M. M. DA.; EVELLY AUGUSTO MELO, CÂMARA, M. C. G.; SILVA, G. A. DE. M.; et al. Efeitos das Práticas Integrativas e Complementares no alívio da dismenorreia. Revista Foco, v. 17, n. 7, p. e4702–e4702. Disponível em: https://ojs.focopublicacoes.com.br/foco/article/view/4702/4071. Acesso em 11 jul. 2024.
SOUZA, F. F. DE.; JUNIOR, J. F. M. D. S.; VENTURA, P. L. Características sociodemográficas e avaliação da dor através do questionário de McGill em mulheres com dismenorreia primária submetidas à auriculoterapia. Rev. Pesqui. Fisioter, p. 220-231, 2020. Disponível em: https://www5.bahiana.edu.br/index.php/fisioterapia/article/view/2848/3186.
¹Discente Gabrieli Campanharo do Curso Superior de Fisioterapia do Instituto Centro Universitário Univel Campus Cascavel e-mail: gabrieli.campanharo@gmail.com
²Docente Carla de Oliveira Lazzarin do Curso Superior de Fisioterapia do Instituto Centro Universitário Univel Campus Cascavel. e-mail: carla.lazzarin@univel.br