AÇÕES PEDAGÓGICAS ENVOLVENDO A DANÇA DE MASSA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: CONTRIBUIÇÕES PARA A FORMAÇÃO INTEGRAL DO ESTUDANTE.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7308906


Ana Tereza Viana de Araújo Santos1
Gledson Pedro da Silva2
Prof.ª Dr.ª Amanda Micheline Amador de Lucena 3


Resumo

A dança compreendida como potencial componente curricular de transformação do sujeito e do meio em que vive, coloca o estudante como protagonista do processo de aprendizagem que contribui para a sua formação integral. A partir de práticas significativas e contextualizadas, a presença da dança na escola traz em si a possibilidade de se alcançar os discentes em suas singularidades e no coletivo. Nesse contexto, a pesquisa tem o propósito de descrever como o professor de Educação Física tem desenvolvido sua prática pedagógica a partir das aulas que envolve a dança de massa e se as ações desenvolvidas estão articuladas para a formação integral dos estudantes. A partir da pesquisa de campo de caráter descritivo, os dados foram analisados numa perspectiva qualiquantitativa. O campo da pesquisa foi uma Escola Pública localizada no município de Paulista-PE. A pesquisa inclui 70 estudantes dos 1ºanos do ensino médio e um professor de Educação Física que atua nessas turmas. Utilizou-se como instrumento de coletas dos dados, questionários semiestruturado e ficha de observação. A partir dos dados coletados, foi possível identificar as diferentes estratégias utilizadas pelo professor no desenvolvimento das aulas com a dança de massa e constatou-se que as estratégias adotadas, conduzem os estudantes a refletirem e debaterem sobre as músicas e as coreografias desse estilo dança. Através da dança em diferentes ritmos e letras oportuniza-se aos estudantes momentos que permitem que o conhecimento da sua vivência cotidiana e de sua realidade social seja significante para o processo de construção dos saberes que devem ser aplicados para mudança de realidade e para subsidiar seu desenvolvimento pessoal. Desta forma, aulas de dança na escola deixam de ser um espaço de ensaio coreográficos, de reprodução e, passaram a ter sentido por meio da compreensão da origem, do significado das danças e dos movimentos, despertando nos educandos uma visão crítica sobre a dança de massa, mostrando que a mesma tem um campo vasto a ser explorado.

Palavras-chave: Dança de massa. Ações pedagógicas. Formação integral.

Abstract

Dance, understood as a potential curricular component of transformation of the subject and the environment in which he lives, places the student as the protagonist of the learning process that contributes to his integral formation. From significant and contextualized practices, the presence of dance at school brings with it the possibility of reaching students in their singularities and in the collective. In this context, the research aims to describe how the Physical Education teacher has developed his pedagogical practice from the classes that involve mass dance and if the actions developed are articulated for the integral formation of the students. From the descriptive field research, the data were analyzed in a qualitative and quantitative perspective. The research field was a Public School located in the city of Paulista-PE. The research includes 70 students from the 1st year of high school and a Physical Education teacher who works in these classes. Semi-structured questionnaires and observation form were used as data collection instruments. From the data collected, it was possible to identify the different strategies used by the teacher in the development of classes with mass dance and it was found that the strategies adopted lead students to reflect and debate about the songs and choreographies of this dance style. Through dance in different rhythms and lyrics, students are given moments that allow the knowledge of their daily life and their social reality to be significant for the process of construction of knowledge that must be applied to change reality and to subsidize their development. Guys. In this way, dance classes at school are no longer a space for choreographic rehearsals, reproduction and, they have come to have meaning through the understanding of the origin, the meaning of dances and movements, awakening in the students a critical view of the dance of mass, showing that it has a vast field to be explored.

Keywords: Mass dance. Pedagogical actions. Comprehensive training.

Introdução

A dança mesmo sendo a arte mais antiga vivenciada pelo homem e, como manifestação corporal ligada à evolução humana e fazendo parte da nossa cultura, ainda é pouco vivenciada nas aulas de educação física. Desde a época pré-histórica, a prática da dança exprimia duas principais finalidades: dançar o profano e o religiosos sendo retratada em pinturas encontradas em cavernas (CAMINADA, 1999). Com o decorrer do tempo a dança foi obtendo diferentes objetivos, com tipos e estilos diversificados, sendo inserida na educação desde a Antiguidade pelos filósofos gregos a qual permanece até os dias de hoje (RANGEL, 2002).

A dança na escola tem o intuito de oportunizar aos estudantes o acesso as diferentes culturas, por meio de uma vivência corporal e artística, que transcende a técnica do movimento. Isto porque entende-se que, “a dança, sob o enfoque educacional, é de extrema importância para o desenvolvimento físico, mental, afetivo e social do ser humano” (SOUSA; HUNGER; CARAMASCHI, 2010, p. 498).

Martín et al., (2008) afirma que a dança, independentemente de sua modalidade, tem como objetivo buscar a expressão individual de pensamentos e sentimentos, desenvolvendo a percepção para gerar ações motoras que influenciam os fatores intelectuais, afetivos e culturais.

A dança compreendida como potencial componente curricular de transformação do sujeito e do meio em que vive, coloca o estudante como protagonista do processo de aprendizagem. A partir de práticas significativas e contextualizadas, a presença da dança na escola traz em si a possibilidade de se alcançar os discentes em suas singularidades e no coletivo.

A dança pode ser entendida, também, como sinal de transformações da sociedade, o que rompe com os enfoques gerais sobre o tema, já que a trata como cultural, sendo passível de diferenciações, com regras, normas éticas, gestos, línguas e o que a torna universal – ser um paralelo importante com o significado de cultura. A dança é um conteúdo a ser trabalhado na escola, com ela, podem-se levar os alunos a conhecerem a si próprio e/com os outros; a explorarem o mundo; a criarem; a explorarem novos sentidos. (MARTINS, 2018, p. 10)

A importância da dança na escola transcende a formação do estudante de forma isolada, pois amplia a visão de mundo a partir das reflexões e das vivências do movimento de forma pensada e crítica. Com esse propósito, a dança nas aulas de Educação Física escolar abrange uma nova proposta de ensino, ela não está voltada a formar bailarinos, consiste em proporcionar ao estudante uma possibilidade de expressar sua criatividade através do movimento.

Na escola, a dança permite o acesso a inúmeros estilos de danças, sejam elas nacionais ou internacionais, representadas pela cultura de um determinado povo, incluído a dança de massa. Simonin; Tourinho (2020, p 221) faz “o contraponto da dança de massas a uma dança de multidão”. Nela a reprodução das coreografias é o padrão a ser seguido, além de ganhar força através das mídias de massa e das mídias sociais.

No entanto, a cultura escolar ainda mantém um modelo reprodutor e pouco reflexivo, o que dificulta o desenvolvimento de uma compreensão mais profunda sobre o papel da dança na escola. A partir desse contexto, surge o seguinte questionamento: “Considerando a riqueza cultural e os aspectos que podem ser explorados na sonoridade, expressão corporal da dança de massa nas aulas de Educação Física, questiona-se como o professor de Educação Física pode estimular os estudantes para desenvolver o senso crítico e a reflexão a partir das danças de massa?” Assim, delineou-se as seguintes hipóteses que foram testadas a partir do estudo de campo: i) O professor de Educação Física tem trabalhado as danças de massa, destacando e estimulando a reflexão dos trechos que embora “velados” fazem apologia ao racismo, ao preconceito, a discriminação, ao machismo, a depreciação do gênero feminino ou ideias que vão na contramão do respeito; ii) Ressignificar a dança de massa para estar na escola requer um trabalho sistematizado.

Nesse sentido, a pesquisa tem o propósito de descrever como o professor de Educação Física tem desenvolvido sua prática pedagógica a partir das aulas que envolve a dança de massa e se as ações desenvolvidas estão articuladas para a formação integral dos estudantes. A partir da pesquisa de campo de caráter descritivo, os dados foram analisados numa perspectiva qualiquantitativa. O campo da pesquisa foi uma Escola Pública localizada no município de Paulista-PE. A pesquisa incluiu 70 estudantes dos 1ºanos do ensino médio e um professor de Educação Física que desenvolve seu trabalho docente nessas turmas. Utilizou-se como instrumento de coletas dos dados, questionários semiestruturado e ficha de observação.

A partir dos dados coletados, foi possível identificar as diferentes estratégias utilizadas pelo professor no desenvolvimento das aulas com a dança de massa e constatou-se que as estratégias adotadas, conduzem os estudantes a refletirem e debaterem sobre as músicas e as coreografias desse estilo dança. Através da dança em diferentes ritmos e letras oportuniza-se aos estudantes momentos que permitem que o conhecimento da sua vivência cotidiana e de sua realidade social seja significante para o processo de construção dos saberes que devem ser aplicados para mudança de realidade e para subsidiar seu desenvolvimento pessoal. Desta forma, aulas de dança na escola deixam de ser um espaço de ensaio coreográficos, de reprodução e, passaram a ter sentido por meio da compreensão da origem, do significado das danças e dos movimentos, despertando nos educandos uma visão crítica sobre a dança de massa, mostrando que a mesma tem um campo vasto a ser explorado.

A dança de massa como produto da indústria cultural: uma reflexão sobre a arte do corpo e a dança na escola

O corpo como expressão tem sua história entrelaçada com a história da dança. Na idade média houve uma forte tentativa por parte da igreja católica de controlar as expressões artísticas e corporais da época como bem destaca Medeiros (1998). A dança sendo uma arte que se manifesta por meio do corpo também sofreu suas consequências. Ela foi fortemente combatida pela igreja católica, pois acreditava-se que continha conteúdos pagãos (PORTINARI,1989).

Apesar de toda repressão, a dança continuava sendo apresentada nas feiras livres, praças e nos pequenos vilarejos. Os nobres foram aos poucos incorporando essa prática como forma de diversão, e em seguida, foi adaptada e transformada em dança da corte. No decorrer da história, mas especificamente em meados do século XV uma nova forma de organização foi dada à dança. A ela foi atribuída características de disciplina sendo suas dimensões reduzidas no tempo e no espaço para caberem em salões. O corpo então passou a ser território de adestramento e controle (MENDES, 1985).

Com a globalização, as mudanças no modo de produção e o avanço da tecnologia, o corpo vem sendo tratado como mercadoria, como explica Baptista (2007). Desta forma, o consumo alienado das produções do mercado capitalista acaba estimulando a busca pela satisfação pessoal, manifestada no padrão estético de corpo difundido pela indústria cultural.

Para Morais (2020) a indústria cultural é a cooptação da cultura pela indústria ou mercado. A indústria cultural possui como principal veículo de difusão dos seus produtos, os aparelhos de comunicação, principalmente os audiovisuais, como: a TV, computadores e smartphones. A partir deles, a indústria cultural transmite a um grande número de pessoas uma forma padronizada, distorcida e deformada dos conteúdos.

Essa pressão exercida pela indústria cultural acaba desencadeando uma certa padronização de mercadorias que são idealizadas com foco no lucro, sendo este o principal objetivo da sociedade capitalista. Ser parecido com o que é exposto pela mídia, acaba sendo a melhor opção. Esse padrão divulgado irá ser reproduzido em diversos setores da sociedade, como também, no corpo que dança.

Com o grande número de informações divulgadas pela indústria cultural, a dança é mais uma mercadoria a ser vendida ao grande público. Sendo produzida e transmitida pela mídia de massa utilizando-se de coreografias que banaliza os corpos com seus movimentos estereotipados e com fortes apelos sexuais. Esta dança fruto da indústria cultural e produzida para o grande público, é também conhecida por dança de massa. Assim:

(…) Podemos dizer que as danças difundidas pelos meios de comunicação em massa (revista, cinema, videoclipes, etc…), principalmente pela televisão, através de grupos de Axé, Pagode, Funk, Lacraias e as coreografias dos programas televisuais, a exemplo dos apresentados domingo à tarde, são reentrantes. É interessante percebermos que tais danças têm um apelo, predominantemente erótico e sexual. É mais instigante ainda notar a adesão em massa da população por meio da aceitação e legitimação de tal padrão de comportamento. Vemos, dessa forma, as pessoas dançarem ao som de uma música caótica, repetitiva e sem mensagem alguma e que nos torna cada vez mais “brutos” (SANTOS, 2008, p. 39).

A indústria cultural, na dança, exerce forte influência na expressão corporal das pessoas, pois os movimentos coreografados são repetidos várias vezes, tornando-se normal a reprodução dos movimentos em detrimento a sua criação e/ou espontaneidade. Assim:

O papel das mídias na formação das ideias e do ideal de corpo em nossa sociedade também nos impossibilita pensar o corpo/movimento como algo totalmente “natural”. Hoje ele é também formado pelos meios de comunicação que apagam as diferenças individuais e culturais, circunscrevendo nossas escolhas a partir de modelos fortemente enraizados por imagens ideais de gênero, raça, classe social, cultura que incorporam acriticamente a normalização e a homogeneização do corpo (BORDO apud MARQUES, 2001, p. 87).

A padronização que a indústria cultural tanto incentiva acaba por atrofiar a capacidade reflexiva do indivíduo. Além disso, como tudo é dado facilmente a ele, não há a necessidade de pensar, ou seja, ninguém precisa responsabilizar oficialmente acerca do que pensa. (ADORNO; HORKHEIMER, 1985). A televisão, a internet e outras mídias vem tolhendo a autonomia, a criatividade, a capacidade de tomar decisões e refletir sobre os que estão consumindo dessa cultura de massa.

Para Rinaldi (2011), o ensino da dança na escola deve atrelar a potencialidade da criatividade, expressão e comunicação aos conhecimentos críticos, estéticos, educativos e outros, no sentido de levar os alunos a conhecerem o que há para além e por trás do que é disseminado pela mídia. A dança é uma “[…] forma de conhecimento, de experiência estética e de expressão do ser humano, pode ser elemento de educação social do indivíduo” (MARQUES, 2001, p.16).

A dança de massa precisa ser explorada com consciência, não apenas pela reprodução de uma moda ditada pela grande mídia. A postura crítico-reflexiva precisa fazer parte do ambiente escolar, como afirma Saviani apud Gallardo; Sborquia (2002, p.113), “a escola diz respeito ao conhecimento elaborado e não ao conhecimento espontâneo e o professor deve partir do conhecimento espontâneo do aluno para sistematizar este conhecimento”. Sendo assim, não se pode negar a dança de massa, as músicas de massa e todos os elementos divulgados pela mídia, o que pode ser feito é utilizá-lo como ponto de partida para uma intervenção educativa que sensibilize o olhar crítico dos estudantes para os produtos da indústria cultural.

Metodologia

Esta pesquisa caracteriza-se como sendo de natureza básica, quanto aos procedimentos é uma pesquisa de campo de caráter descritivo. O campo da pesquisa foi a Escola de Referência em Ensino Médio Escritor José de Alencar e fica situada na rua 52 s/n no bairro de Maranguape I, na cidade do Paulista, PE. Os participantes da pesquisa foram 70 (setenta) estudantes dos 1º anos do Ensino Médio e um professor de Educação Física que desenvolve seu trabalho docente nessas turmas. No presente estudo, o instrumento de pesquisa foi o questionário semiestruturados e a ficha de observação. Os dados obtidos no referido estudo foram analisados numa perspectiva qualiquantitativa. Destaca-se que a referida pesquisa foi gerada a partir de dados oriundos da Dissertação de Mestrado da primeira Autora e o estudo de campo foi desenvolvido após autorização do Comitê de Ética em Pesquisa (Parecer número 5.246.951 autorizado em 16 de fevereiro de 2022)

Resultados e discussões

Diversificar as estratégias de ensino durante as aulas para incentivar a participação e desenvolver o senso crítico-reflexivo é o pressuposto para o professor atingir os objetivos propostos e contribuir com a formação integral dos estudantes . O uso da expressão “estratégias de ensino” refere-se “às formas pelas quais os docentes fazem interligações com o conteúdo e o que se espera alcançar” (MELO; MELO, 2016, p. 308). Logo, Anastasiou e Alves (2004) salientam que as estratégias de ensino devem estar expostas no equipamento didático e com seus objetivos claros para os sujeitos envolvidos, visto que elas têm como primordial o alcance dos seus objetivos, não perdendo de vista que o processo de ensino-aprendizagem tem que deixar visível o que quer atingir naquele momento.

Diante do exposto, as estratégias metodológicas diversificadas ampliam a possibilidade para atingir os objetivos propostos para as aulas, em especial, quando o tema trabalhado é a dança. Sendo assim, para conhecer melhor a dinâmica das aulas de Educação Física com o conteúdo dança, os estudantes foram questionados sobre as estratégias que o professor aplica com mais frequência nas suas aulas. (Gráfico 1).

Gráfico 1. Indicação dos estudantes da EREM Escritor José de Alencar a respeito das estratégias que o professor aplica com frequência nas aulas de Educação Física. Paulista-PE, 2022.

Fonte: Dados da Pesquisa de campo (2022)

No Gráfico 1, nota-se que 90% dos estudantes indicaram que as estratégias mais utilizadas pelo docente, nas aulas de Educação Física são as atividades em grupos, seguidas pelas atividades individuais com 52,8%. A realização de pesquisas nas aulas de Educação Física foi a estratégia pedagógica indicada por 42,8% dos estudantes, as aulas expositivas, a utilização de dinâmicas e as aulas práticas foram indicadas por 40%, 34,2% e 27,1% respectivamente.

De fato, os dados apresentados no Gráfico 1 nos induz ao entendimento que de forma geral o professor utiliza diferentes estratégias nas aulas para envolver os estudantes no processo de ensino-aprendizagem, nesse sentido, identificamos uma abordagem metodológica coerente com a formação integral do indivíduo – diversificada e organizada – a fim de ofertar diversas possibilidades de alcance do conteúdo, tais como pesquisas, aulas expositivas com projeções audiovisuais, aulas práticas e dinâmicas.

A dança na escola precisa romper com a padronização proposta pela indústria cultural. A leitura crítica do movimento e a compreensão do corpo como expressão, precisa fazer parte do processo de ensino-aprendizagem para levar os estudantes a compreender a dança nas suas diferentes dimensões e possibilidades. Nesse sentido, os estudantes foram indagados a respeito da possibilidade das aulas com as danças de massa na Educação Física favorecer a formação integral, o senso crítico e a cultura do respeito. As respostas foram expostas no Gráfico 2.

Gráfico 2. Indicação dos estudantes da EREM Escritor José de Alencar a respeito da possibilidade de trabalhar com as danças de massa na Educação Física para favorecer a formação integral, o senso crítico e a cultura do respeito. Paulista-PE, 2022.

Fonte: Dados da Pesquisa de campo (2022)

Constata-se que a maioria dos estudantes que participaram do estudo consideram que a formação integral, o senso crítico e a cultura do respeito são aspectos trabalhados através da dança de massa nas aulas de Educação Física. A dança no âmbito escolar deve ser tratada de forma ampliada, embasada e significativa, sendo relevante na formação dos educandos, possibilitando a “sensibilização e conscientização de valores, atitudes e ações transformadoras na sociedade”. (RODRIGUES E SOUZA, 2013, p. 164)

A contribuição da dança é alcançada a partir de ações pedagógicas direcionadas para a formação integral dos estudantes. Com as danças de massa essas ações requerem uma sistematização do professor devido aos condicionantes midiáticos que conduzem a reprodução e assimilação, deixando de lado a reflexão e a criticidade sobre o que está sendo oferecido como produto. Ao indagar o professor de Educação Física sobre a possibilidade de trabalhar com as danças de massa nas aulas de forma a favorecer a formação integral do estudante, o professor respondeu:

“Sim. Acreditamos que a cada vivência e a cada análise crítica acerca dessas vivências, as quais buscamos refletir práticas antissociais presentes nas músicas e nas danças de massa, o aluno no decorrer vai entendendo melhor seu papel na sociedade.” (PROFESSOR A)

O professor ao estar ciente da importância do seu trabalho com as danças de massas para uma formação crítica e reflexiva em todas as dimensões, intelectual, física, emocional, social e cultural dos estudantes da educação básica, está exercendo o trabalho pedagógico com o propósito de desenvolver o estudante na sua integralidade. É possível ratificar esse posicionamento com as justificativas dos estudantes, já que 90% indicaram que a dança contribuía para a formação integral.

“A dança é bem mais que remexer o corpo, tem significado.” (E65)

“Sim, pois estimula a ver a dança com outros olhos.” (E29)

“Positivo, pois permite saúde e conhecimento.” (E23)

“Nós aprendemos culturas novas e podemos soltar os sentimentos” (E8)

“Mexe com todos os sentimentos” (E55)

Os estudantes tiveram a percepção que a dança transcende o movimento. A dança tem história, sentido e significado, é uma linguagem não verbal carregada de razão e emoção. Assim, ao ser indagados se o trabalho com a dança de massa possibilita o desenvolvimento do senso crítico, 87,1% os estudantes responderam que sim, com as seguintes justificativas:

“Porque eu penso e reflito sobre o que ministrado.” (E61)

“Devemos refletir sobre o que a dança traz.” (E68)

“A dança também é uma forma de expressão e um tipo de linguagem.” (E52)

“Sim, pois criava vários debates.” (E29)

“Sim, porque pensamos e criamos.” (E48)

“Sim, pois nos ajuda a trazer opiniões próprias.” (E20)

Ao associar a dança ao ato de refletir, de pensar, pode-se inferir que o trabalho desenvolvido pelo professor conduz a libertação que segundo Paulo Freire numa visão de educação popular não basta só aprender a ler e escrever, mas contextualizar de forma crítica essas aprendizagens para a superação dos processos de opressão. Para que isso ocorra, a bagagem de experiência das classes populares deve ser valorizada e problematizada e junto com o conhecimento científico, construir um conhecimento crítico. Para Paulo Freire (1996, p.33), um exemplo de formação de consciência crítica:

Porque não aproveitar a experiência que têm os alunos de viver em áreas de cidade descuidadas pelo poder público para discutir, por exemplo, a poluição dos riachos e córregos e os baixos níveis de bem-estar das populações, os lixões e os riscos que oferecem à saúde das gentes. No ensinar o mestre precisa ser objetivo e claro para o seu educando ser observador, criador e responsável deixando de ser um ingênuo em suas ideias de existência no mundo.

O conhecimento prévio do estudante como ponto de partida para a ampliação do saber, desperta a curiosidade e estimula a participação. A troca de olhares, sorrisos, toques, experiências faz a aula ganhar sentindo e importância. O outro ser com quem se compartilha o conhecimento, ouve e completa a história a partir de novas experiências. Desta forma, a aula se torna um momento de diálogo e escuta ativa. Assim, indaga-se ao estudante se é possível com o trabalho com a dança de massa favorecer a cultura do respeito e 94,3% dos estudantes indicaram que “Sim”. Nesse contexto, destacamos algumas das justificativas apresentadas:

“Sim, inclusive espero abordar as danças asiáticas, de forma que quebre os estereótipos criados pela sociedade ocidental” (E69)

“Em primeiro lugar de tudo sempre fala do respeito.” (E15)

“Da sim para respeitar outras culturas.” (E38)

“Sim, pode ajudar a aceitar gostos diferentes.” (E36)

“Sim, pois nos fazem ver a história da música.” (E29)

A importância do respeito para o melhor convívio entre as pessoas é um dos valores que precisam ser trabalhados na escola para a formação do cidadão. As respostas dos estudantes sintetizam o que foi trabalhado em todas as aulas do professor, visto que, nas oito aulas observadas no período de 07 a 30 de março de 2022, o professor reforça a importância do respeito em relação ao próximo (sua forma de pensar, falar e agir), a escuta ativa e as diferenças culturais. Nesse sentido, sobre a possibilidade de favorecer a cultura do respeito ao se trabalhar com a dança de massa, o professor enfatiza:

“Sim. Podemos observar isto nas culminâncias dos projetos de dança, ou seja, do movimento corporal. Às músicas escolhidas, além da mudança comportamental dos alunos no decorrer do ano. (PROFESSOR A)

A partir da resposta do professor é possível entender que o respeito trabalhado durante as aulas não se limita ao relacionamento interpessoal, mas sim, ao respeito as diferentes culturas e nas escolhas das músicas para apresentação coreográfica no ambiente escolar. O que ressalta as contribuições das aulas de dança para formação dos estudantes. Partindo desse contexto, os estudantes foram questionados se percebiam a diferença da dança/coreografia trabalhada nas aulas de Educação Física, das danças/ coreografias divulgadas pela mídia (Gráfico 3).

Gráfico 3. Indicação dos estudantes da EREM Escritor José de Alencar sobre a percepção da diferença da dança / coreografia trabalhada na EF para a dança/coreografia divulgada pela mídia. Paulista-PE, 2022.

Fonte: Dados da Pesquisa de campo (2022)

Verifica-se nos dados apresentados no Gráfico 3 que ao ser questionados sobre a percepção da diferença da dança / coreografia trabalhada na Educação Física para a dança/coreografia divulgada pela mídia, 77,1% indicaram que há diferenças, enquanto 22,9% não percebem nenhuma diferença. Como justificativa para a diferença da dança presente na mídia para a dança das aulas de Educação Física, os estudantes responderam:

“A dança da educação física ensina de forma educativa no qual ajuda a formar o julgamento/conhecimento e também respeito. Já na mídia temos danças que na sua maioria, apesar de serem de massa, são pejorativas.” (E23)

“Na dança divulgada pela mídia tem bem mais vulgaridade e desrespeito com as mulheres.” (E14)

“A dança trabalhada pela escola é uma dança educacional para ensinar.” (E14)

“Não podemos reproduzir tudo que a mídia influencia.” (E11)

“As coreografias e letras de algumas são impróprias para o ambiente escolar.” (E70)


“Tem diferença porque não existe só uma coreografia no mundo e a escola está para ensinar coisas novas. Na educação física a gente aprende coreografias novas, porque não tem como a gente imitar alguém, exemplo, dos cantores, dançarinos, a gente não pode pegar eles e trazer, a gente tem que ver exemplos e fazer do nosso jeito” (E65)

“A dança divulgada pela mídia às vezes pode ser muito vulgar tanto na letra quanto na coreografia e para trazermos ela para dentro da sala de aula devemos modificá-la para que ela seja adequada para o ambiente escolar.” (E68)

A indústria cultural exerce forte influência sobre as pessoas na sua forma de pensar, ser e agir. A dança faz parte do produto que mídia de massa divulga e como afirma Feliciano e Figueiredo (2021, p.359)

A dança foi “capturada” por este tipo de cultura e tratada como uma mercadoria para ser consumida e vendida, sendo sorvida por um público que não a produziu, carregando diversas intencionalidades e discursos, com movimentos estereotipados e de simples memorização, acompanhada por ritmos e melodias (músicas) pouco elaboradas e de fácil fixação.

Os estudantes ao pontuar que a dança/ coreografia da mídia tem o papel de influenciar com letras das músicas pejorativas e que desrespeitam as mulheres, argumentando serem impróprias para o ambiente escolar, demonstram uma visão crítica, consciente do papel da dança na escola.

A escola deve abordar as “danças midiatizadas”, como denominam Rodrigues e Souza (2013), mas de forma crítica onde o trabalho pedagógico promoverá a mediação e o confronto entre o conhecimento científico da dança e o conhecimento espontâneo dos estudantes. Logo, a instituição educacional tem a incumbência de oferecer e desenvolver nos sujeitos modelos de interpretação e análise crítica, para que possam acessar estas tecnologias de forma autônoma (FERRÉS, 1996).

Nas aulas observadas no mês de março de 2022, a visão crítica e reflexiva dos estudantes nas aulas de Educação Física com a dança de massa foi a todo momento estimulada. Por meio de questionamentos, o professor iniciava as aulas, e ao longo do desenvolvimento eram feitas indagações sobre a vivência dos estudantes. Nesse momento, as aulas ganhavam sentido para o estudante e os aproximavam do novo conhecimento.

As aulas de Educação Física observadas na EREM Escritor José de Alencar localizada do munícipio de Paulista-PE, em março de 2022, foi um dos instrumentos para a consolidação da pesquisa. Foram observadas oito aulas de Educação Física, na qual tinha como tema específico a Dança de massa, trabalhada sob a ótica da metodologia crítico-superadora, aplicadas com estudantes dos 1ºanos do ensino médio.

As aulas observadas tiveram o intuito de mobilizar o conhecimento prévio dos estudantes, explorar seu potencial e possibilitar a formação crítica-reflexiva com objetivo de incentivar a criatividade, a proatividade, a tomada de decisão e a cidadania. Nas aulas, o professor explorava a capacidade criativa do estudante por meio do movimento livre e espontâneo, criando condições para que o estudante se expressasse por meio do movimento que ele conhece e do movimento produzido historicamente.

A posição de mediador foi assumida pelo professor na construção do conhecimento dos estudantes, acrescentando informações, orientando-os na busca de soluções e ressignificando o saber através da reflexão. O Quadro 1 apresenta os conteúdos trabalhados e os objetivos das aulas durante o período de observação.

Quadro 1: Aulas de Educação Física e seus respectivos conteúdos e objetivos. EREM Escritor José de Alencar, Paulista-PE, 2022.

AulaConteúdoObjetivo
Aula 1 e 2Avaliação Diagnóstica e Características Gerais da DançaIdentificar o conhecimento prévio dos estudantes a respeito da Dança e citar os Elementos da Dança.
Aula 3 e 4Um pouco sobre as Danças de massaExemplificar, por meio de slides e vídeos do YouTube, as características das danças de massa e expressar as reflexões sobre as mesmas.
Aula 5 e 6Dança e as possibilidades de movimentoAplicar os conhecimentos sobre Elementos da Dança à Dança de massa a partir de diferentes formas de movimentar-se.
Aula 7 e 8Composição coreográfica e a Avaliação do processoCriar coreografias em grupo a partir do conhecimento adquirido. Refletir e discutir sobre o conteúdo trabalhado bem como a avaliação em conjunto, do processo.

Fonte: Dados coletados pela pesquisadora na etapa de observação (2022).

Síntese das aulas ministradas

Nas aulas 1 e 2, o professor realizou um levantamento junto aos estudantes a respeito do entendimento sobre dança, suas experiências, definições e estilos que mais gostam. Os questionamentos norteadores foram: Para vocês o que é dançar? Qual é a experiência que vocês têm com a dança? O que é dança? E qual seu estilo de dança preferido? Esses questionamentos foram feitos com o intuito de favorecer um momento de reflexão e sondar o que os estudantes conheciam a respeito da dança e suas preferências. Por meio das respostas, percebemos que os estudantes entendem a dança como movimento feito de acordo com o ritmo, entendimento esse, limitado sobre a dança. Os estudantes relataram que: “dançar é seguir o ritmo”; e ainda “dançar é seguir a música, é expressão”. Em relação ao estilo, o funk e suas variações predominaram na preferência dos estudantes. Neste momento, o professor encaminhou uma atividade de pesquisa sobre a história do funk.

Em seguida, o professor entregou uma ficha sobre os Elementos da Dança, ampliando a conhecimento sobre a dança para os estudantes, explicando que podemos dançar sem música, mas para que a dança aconteça é preciso que existam três elementos básicos: o movimento corporal, o espaço e o tempo. Simultaneamente, a explicação era acompanhada pelos slides, e posteriormente um vídeo foi reproduzido para exemplificar a explicação (Figura 1).

Figura 1: Estudantes com a ficha entregue pelo professor com os tópicos sobre os Elementos da dança, conteúdo abordado no vídeo. Paulista-PE, 2022.

Crédito da Imagem: Ana Tereza V. de A. Santos (2022).

As aulas 3 e 4, teve como ponto de partida o questionamento sobre cultura de massa. Os estudantes desconheciam o termo, e para construir seu conceito o professor fez relação com o cotidiano, apresentando os slides que utilizam linguagem clara e objetiva, com ilustrações atrativas sobre a temática (Figura 2).

Figura 2: Slide utilizado para introduzir o conceito de Cultura de Massa. Paulista-PE, 2022.

Fonte: Gledson Pedro (2022)

Crédito da Imagem: Ana Tereza V. de A. Santos (2022).

Dando continuidade o professor fez analogia da Cultura de massa com a Dança de massa como produto dessa cultura, citando como exemplo o Funk, estilo de maior preferência entre os estudantes e já pesquisado por eles. Os estudantes estavam bem atentos fazendo seus registros (Figura 3 e 4).

Figura 3: Estudante registrando no caderno as explicações do professor. Paulista-PE, 2022.

Crédito da Imagem: Ana Tereza V. de A. Santos (2022).

Figura 4: Estudante utilizando o celular para fotografar os slides sobre o brega funk. Paulista-PE, 2022.

Crédito da Imagem: Ana Tereza V. de A. Santos (2022).

O funk foi apresentado aos estudantes a partir do seu surgimento na década de 60 até os dias atuais, apresentando as características das danças, as roupas e as músicas, fazendo a comparação da forma de dançar com as respectivas sociedades de cada época. Convidando os estudantes a fazerem uma reflexão a respeito do conteúdo existente nas letras das músicas, na qual inicialmente, falavam sobre drogas, armas e a vida nas favelas, e posteriormente, a temática principal do funk passou a ser erótica, com letras de conotação sexual e de duplo sentido

Para Marques (2012, p.46),

“Conhecer, compreender e trabalhar corporalmente as diversas concepções de dança no decorrer da história da humanidade abre perspectivas para que o aluno em contexto educacional possa conhecer o passado, para compreender o presente e projetar o futuro”.

Assim, amplia-se a visão crítica dos estudantes sobre a influência da cultura de massa na forma de ser, pensar e agir, procurando romper com os estereótipos e conduzindo uma reflexão que contribua para sua formação integral.

Assim como o funk, o forró também foi apresentado a partir da sua história e características. Os trechos das músicas “Amor da minha vida” de Luiz Gonzaga e “Mulher não vale um real” (Aviões do Forró) foi lido com os estudantes para refletir como a mulher era vista nas músicas em questão. Na primeira música, a mulher era vista e tratada com respeito, na segunda música a mulher era desvalorizada. Após essa análise, o professor questionou as estudantes como elas gostavam de ser tratadas. Os meninos estranharam as respostas das meninas, pois agiam diferente e argumentaram que “se tratar bem demais, as meninas montam”, se referindo que as meninas não valorizam quem as tratam bem, com carinho e respeito. A partir dessa colocação, o professor questionou os meninos como eles tratam as mães, as irmãs e as mulheres. Em seguida, o professor indagou se na opinião dos estudantes a forma como as músicas tratam a mulher como “objeto”, tem relação com o alto índice de violência contra a mulher. Neste momento, os estudantes expressaram suas opiniões, o clima da sala foi de total envolvimento, interesse e discussões. Sendo um momento relevante, para refletir sobre as letras das músicas e os condicionantes sociais.

Nas aulas 5 e 6, o professor pediu para os estudantes organizarem um grande círculo para vivenciar e relembrar o que foi trabalhado em sala sobre os Elementos da dança (Figura 5). Dando continuidade, em grupos, os estudantes experimentaram e criaram diferentes formas de movimentar-se a partir dos elementos da dança. Os estudantes realizaram uma sequência de movimentos com no mínimo seis elementos da dança no ritmo do brega funk. Para isso, o professor fez, na quadra, um jogo da velha com fita adesiva, no qual em cada espaço um estudante apresentaria um movimento, depois todos os estudantes passariam por todos os espaços vivenciando diferentes elementos (Figura 6).

Ao final, todos apresentaram a sequência de movimentos e avaliaram as apresentações dos colegas.

Figura 5: Os estudantes em círculo para vivenciar os Elementos da Dança. Paulista-PE, 2022.

Crédito da Imagem: Ana Tereza V. de A. Santos (2022).

Figura 6: Estudantes em grupo montando a sequência coreográfica com seis elementos da dança na marcação delimitada. Paulista-PE, 2022.

Crédito da Imagem: Ana Tereza V. de A. Santos (2022).

Nas aulas 7 e 8, os estudantes criaram coreografias em grupos (Figura 7). Cada grupo ficou com uma estrofe da música. Os estudantes ao criar a sequência coreográfica, tomaram decisões em grupo e trocaram experiências. A escolha dos passos foi muito discutida por todos os integrantes de cada grupo, pois cada um manifestava sua preferência, limitações e possibilidades. Até que chegaram a uma decisão e construíram as coreografias para a apresentação.

Figura 7: Grupo de estudantes elaborando coreografias a partir da estrofe da música. Paulista- PE, 2022.

Crédito da Imagem: Ana Tereza V. de A. Santos (2022).

Segundo Marques (2012, p.159) “o que podemos questionar, obviamente, é a qualidade estética e artística das danças da moda, mas não o fato de incorporarem ensinamentos implícitos no corpo e nas construções coreográficas”. Nesse sentido, foi possível perceber que as coreografias construídas pelos estudantes foram adaptações de passos existentes em diversas danças. Na apresentação final, cada grupo apresentou a sua estrofe coreografada de forma harmoniosa e continua, o que tornou a apresentação criativa e diversificada. A alegria e o sentimento de dever cumprindo transpareceu no rosto e nas expressões dos estudantes encantados com a apresentação final.

Por fim, o professor proporcionou um momento para que os estudantes debatessem e refletissem sobre o que entenderam a respeito da dança e da dança de massa depois de fazerem parte das aulas desenvolvidas. A maioria dos estudantes afirmaram que depois das aulas começaram a olhar para a dança de um modo diferente, disseram que a dança expressa o sentimento das pessoas embalados pelos ritmos e movimentos, e que é necessário ter um olhar crítico em relação a dança de massa, pois as letras das músicas e dos movimentos que são feitos, em sua maioria, trata a da mulher como objeto, discrimina, traz mensagens machistas, entre outras questões que vão de encontro com a formação crítica e reflexiva proposta pela educação formal.

Em se tratando do desenvolvimento das aulas, os estudantes relataram que as aulas foram diferentes das aulas vivenciadas em outras escolas, pois não tiveram experiência com a dança nas aulas de Educação Física, pois a dança se resumia a ensaio para apresentação. Apesar de terem alegado que aprenderam muitas coisas novas sobre a dança, os estudantes gostariam que tivessem mais aulas práticas. Nesse momento, o professor explicou que entende os estudantes, mas que precisava dar continuidade com os demais conteúdos elencados para o 1ºano e que a dança voltará a ser trabalhada nos 2º e 3ºanos do ensino médio. E nos jogos internos poderão colocar os conhecimentos em prática na elaboração coreográfica da abertura dos jogos.

A forma como a dança de massa foi abordada com os estudantes, teve como propósito levá-los a refletir durante todo o processo, desde a composição da dança como um dos produtos da cultura de massa aos seus condicionantes e paradigmas sociais. No qual é preciso romper com a alienação e a reprodução desta dança no ambiente escolar, com intuito de transcender os muros da escola e cumprir com o papel educativo e formador que se propõe com o ensino da dança de massa na escola.

Considerações Finais

Em nosso entendimento, as ações pedagógicas adotadas pelo professor de Educação Física contribuem para a formação integral do estudante, pois ao escolher as músicas para as apresentações, ao refletir sobre as letras, repensar e criar coreografias, conhecer novas possibilidades e as limitações da dança de massa na escola, os estudantes atingiram as competências e as habilidades propostas pelo trabalho com a temática.

A importância da sistematização das aulas nesse processo é fundamental para alcance dos objetivos propostos, já que as influências da mídia de massa são constantes e intensas, principalmente, entre os jovens. Nesse sentindo, as aulas observadas serão descritas para melhor compreensão desse processo.

A partir de referenciais da abordagem crítico-superadora, constatou-se que o trabalho com a dança de massa transcende a reprodução mecânica do movimento. Durante as aulas, oportuniza-se aos estudantes momentos que permitem que o conhecimento da sua vivência cotidiana e de sua realidade social seja significante para o processo de construção dos saberes que devem ser aplicados para mudança de realidade e para subsidiar seu desenvolvimento pessoal.

Conclui-se que as ações pedagógicas envolvendo a dança de massa nas aulas de Educação Física conseguiram despertar nos estudantes a participação no processo de construção de seu conhecimento, de modo que as vivências sociais fossem aproveitadas no desenvolvimento das aulas e ampliadas a partir do olhar crítico e da postura reflexiva diante do conteúdo dança.

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1 Mestranda pelo Curso em Ciências da Educação Veni Creator Christian University. E-mail: anaterezav@gmail.com

2 Mestrando pelo Curso em Ciências da Educação Veni Creator Christian University. E-mail: gledsonpedro.eremeja@gmail.com

3 Professora Doutora Orientadora do Curso em Ciências da Educação Veni Creator Christian University. E-mail: amandamicheline@hotmail.com