REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202504290910
Marcos Pinheiro Jardim,
Eder Vinicius Castro Leal,
Gleiciane Alves Vieira,
Rivania Miranda Assunção,
Sandra Maria Alves de Castro Araújo,
Orientador: Prof. Esp. Pedro Henrique Rodrigues Alencar
RESUMO
Acidentes na primeira infância são uma das principais causas de morbidade e mortalidade infantil, com impactos físicos, emocionais e sociais. A maioria ocorre no ambiente doméstico e pode ser evitada com medidas preventivas simples. Nesse contexto, o enfermeiro tem papel fundamental na promoção da saúde, atuando com foco na educação de pais e cuidadores. Este estudo, de caráter bibliográfico e abordagem exploratória, analisou artigos dos últimos cinco anos nas bases SciELO, LILACS e BDENF. Os acidentes mais frequentes incluem quedas, queimaduras, intoxicações, afogamentos e sufocações. Evidencia–se que a atuação da enfermagem é essencial na orientação sobre comportamentos seguros e na promoção de ambientes mais protegidos para as crianças.
Palavras-chave: Acidentes infantis, Prevenção, Enfermagem, Educação em saúde.
ABSTRACT
Accidents in early childhood are among the leading causes of morbidity and mortality in children, with physical, emotional, and social impacts. Most incidents occur in the home environment and can be prevented through simple safety measures. In this context, nurses play a key role in health promotion, focusing on the education of parents and caregivers. This study, of bibliographic nature and exploratory approach, analyzed articles from the last five years in the SciELO, LILACS, and BDENF databases. The most frequent accidents include falls, burns, poisoning, drowning, and suffocation. It is evident that nursing is essential in guiding safe behaviors and promoting safer environments for children.
Keywords: Childhood accidents, Prevention, Nursing, Health education.
1. Introdução
A primeira infância, período que abrange do nascimento até os seis anos de idade, é caracterizada por intensas transformações no desenvolvimento físico, emocional e social da criança. Entretanto, é também uma fase marcada por uma elevada vulnerabilidade a acidentes, os quais representam importantes causas de morbimortalidade infantil em todo o mundo. Segundo dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2023), os acidentes não intencionais como quedas, queimaduras, afogamentos, intoxicações e sufocamentos estão entre os principais fatores que levam crianças dessa faixa etária a internações e, em casos mais graves, ao óbito. Ferreira, Borges e Schwiderski (2019) reforçam que esses eventos muitas vezes são preveníveis, mas continuam a ocorrer por falta de medidas protetivas adequadas no ambiente doméstico e escolar.
A vulnerabilidade da criança diante desses riscos é multifatorial, envolvendo aspectos físicos, cognitivos e comportamentais. Crianças pequenas são naturalmente exploradoras, mas não possuem a maturidade necessária para reconhecer o perigo, o que as torna mais propensas a situações de risco (Gross et al., 2021). Além disso, fatores ambientais, como a disposição de móveis, presença de objetos perigosos ao alcance dos pequenos e a ausência de supervisão adequada, contribuem significativamente para a ocorrência de acidentes (Silva et al., 2020). Nesse sentido, a prevenção não deve ser uma ação isolada dos pais, mas uma responsabilidade compartilhada com profissionais de saúde e educação, por meio de ações educativas e políticas públicas efetivas.
É nesse cenário que a enfermagem se insere como uma importante aliada na promoção da saúde e na prevenção de acidentes infantis. A prática da enfermagem vai além do cuidado clínico; ela abrange a educação em saúde como estratégia de empoderamento dos cuidadores, por meio de orientações sobre segurança no ambiente doméstico e intervenções específicas voltadas à realidade de cada família. De acordo com Costa (2022), a atuação do enfermeiro na Atenção Primária à Saúde é estratégica, pois permite uma abordagem mais próxima e contínua das famílias, favorecendo a construção de conhecimento e a adoção de práticas seguras no cotidiano.
Além disso, a realização de visitas domiciliares é uma ferramenta essencial para a identificação de fatores de risco e para a orientação individualizada. Segundo Araújo et al. (2021), durante essas visitas, o profissional de enfermagem pode avaliar a disposição do ambiente e sugerir medidas simples e eficazes, como a instalação de grades de proteção, o armazenamento seguro de produtos químicos e a organização dos espaços, minimizando assim os riscos de acidentes. Essas ações não apenas reduzem a incidência de eventos indesejáveis, como também promovem um ambiente mais seguro para o pleno desenvolvimento infantil.
As campanhas educativas realizadas em escolas, creches e unidades básicas de saúde também têm demonstrado resultados positivos na prevenção de acidentes. Oliveira et al. (2021) apontam que ações intersetoriais envolvendo enfermeiros, educadores e famílias são fundamentais para construir uma cultura de prevenção desde os primeiros anos de vida.
Nessas iniciativas, os profissionais de enfermagem utilizam recursos lúdicos e linguagem acessível para dialogar com os cuidadores, fortalecendo os vínculos de confiança e estimulando práticas protetivas.
A informação é, portanto, uma poderosa ferramenta de transformação. Segundo Mendes e Almeida (2020), a orientação adequada, quando realizada de forma contínua e contextualizada, tem potencial de transformar o comportamento dos cuidadores e de reduzir significativamente os índices de acidentes na infância. Cabe à enfermagem utilizar sua escuta ativa, seu conhecimento técnico e sua proximidade com a comunidade para garantir que as orientações realmente façam sentido para cada realidade vivenciada pelas famílias.
Outro aspecto importante a ser considerado é a influência das condições socioeconômicas sobre a incidência de acidentes infantis. Famílias em situação de vulnerabilidade social enfrentam maiores dificuldades no acesso a informações, recursos e infraestrutura adequados para garantir a segurança das crianças.
De acordo com Santos e Oliveira (2022), a desigualdade social impacta diretamente na prevenção de acidentes, uma vez que ambientes precários, falta de supervisão por longas jornadas de trabalho e baixa escolaridade dos responsáveis aumentam o risco de ocorrências. Assim, as estratégias de prevenção devem ser adaptadas à realidade de cada comunidade, respeitando suas particularidades culturais e sociais.
Ademais, é fundamental que os profissionais de enfermagem estejam em constante processo de formação e capacitação, de modo a se manterem atualizados sobre as melhores práticas em prevenção de acidentes. A educação permanente em saúde possibilita que os enfermeiros aprimorem suas habilidades comunicativas e técnicas, proporcionando intervenções mais assertivas junto às famílias e instituições. Conforme destaca Lima et al. (2021), a formação continuada favorece a atuação crítica e reflexiva dos profissionais, tornando-os agentes de transformação na promoção da segurança infantil. Dessa maneira, a qualificação da enfermagem é um investimento direto na qualidade do cuidado e na proteção à infância.
A articulação entre os diversos níveis de atenção à saúde também se mostra essencial para a efetividade das ações preventivas. A integração entre a Atenção Primária, Secundária e Terciária permite um acompanhamento contínuo e resolutivo das famílias, com encaminhamentos adequados e intervenções oportunas em casos de risco identificado. Segundo Barreto et al. (2022), o trabalho em rede fortalece a vigilância em saúde e amplia a capacidade de resposta dos serviços, contribuindo para a redução da incidência de acidentes infantis. Nesse contexto, o enfermeiro atua como elo entre os diferentes setores, garantindo a comunicação eficaz e o acompanhamento das ações preventivas.
Portanto, é necessário que políticas públicas sejam fortalecidas e continuamente avaliadas quanto à sua efetividade na proteção da infância. Investimentos em infraestrutura, formação de profissionais, campanhas de conscientização e criação de espaços seguros para crianças são medidas que precisam estar presentes no planejamento das políticas de saúde. De acordo com Almeida e Souza (2023), somente com o compromisso político e social será possível construir uma cultura de cuidado que valorize a infância como prioridade. A atuação da enfermagem, portanto, não se limita ao cuidado direto, mas envolve também a mobilização da sociedade e dos gestores públicos em favor de uma infância mais segura.
Dessa forma, este estudo tem como objetivo analisar a contribuição da enfermagem na construção de orientações preventivas para acidentes na primeira infância, compreendendo sua atuação educativa no domicílio, na escola e nos serviços de saúde. A relevância da temática está na possibilidade de promover, por meio da enfermagem, ações concretas de proteção à vida das crianças, garantindo a elas um ambiente mais seguro e propício ao desenvolvimento saudável.
REFERENCIAL TEÓRICO
2. Segurança Infantil e a Atuação da Enfermagem
A segurança na primeira infância é uma preocupação crescente da saúde pública, visto que crianças pequenas estão em constante processo de desenvolvimento físico, cognitivo e motor, o que as torna especialmente vulneráveis a acidentes (Ministério da Saúde, 2021). Esses eventos não intencionais podem ocorrer tanto em casa quanto em ambientes externos, representando uma importante causa de morbidade e mortalidade infantil (Silva et al., 2020).
A enfermagem, enquanto profissão que atua diretamente com a promoção da saúde e prevenção de agravos, possui papel essencial nesse contexto. O enfermeiro é o profissional capacitado para identificar fatores de risco, orientar familiares e cuidadores e implementar estratégias educativas que visam a proteção da criança (Ferreira & Souza, 2022). A atuação da enfermagem deve estar fundamentada em conhecimentos técnicos e científicos, mas também em empatia e comunicação eficaz com a família (Oliveira et al., 2021).
Por meio de ações educativas, visitas domiciliares, rodas de conversa, palestras e campanhas preventivas, a enfermagem contribui para a conscientização sobre os riscos presentes no ambiente da criança (Costa & Lima, 2019). Além disso, promove o desenvolvimento de atitudes seguras nos cuidadores e propicia uma cultura de prevenção, o que é essencial para a redução de acidentes e suas consequências (Pereira et al., 2021).
2.1. Quedas
As quedas representam cerca de 50% das hospitalizações por acidentes em crianças na primeira infância (Gross, 2021). Essas ocorrências são comuns em escadas, camas, móveis, sofás e especialmente em playgrounds e ambientes externos com estruturas elevadas. Crianças pequenas possuem pouca noção de perigo, equilíbrio instável e estão em fase de aprendizado motor, o que as expõe a maiores riscos (Martins & Araújo, 2020).
No ambiente doméstico, as quedas ocorrem principalmente durante brincadeiras, ao subir ou descer escadas sem supervisão ou ao escorregar em pisos lisos (Barbosa et al., 2020). Já em locais públicos, como parques e praças, o risco aumenta na ausência de estruturas seguras ou da presença constante de um adulto responsável (Nascimento & Costa, 2021).
A enfermagem pode atuar com orientações diretas às famílias, promovendo medidas como a instalação de grades de proteção em escadas, uso de tapetes antiderrapantes e proteção em janelas e camas (Gomes & Freitas, 2021). A educação dos cuidadores sobre a importância da supervisão constante e a adaptação segura dos espaços são estratégias eficazes na prevenção (Almeida et al., 2020).
2.2. Queimaduras
As queimaduras estão entre os principais acidentes que acometem crianças, representando cerca de 16% das internações hospitalares infantis (Caldas, 2020). A maior parte desses acidentes acontece na cozinha, local em que há fácil acesso a líquidos quentes, panelas e eletrodomésticos (Moura & Lima, 2019).
Crianças pequenas, impulsivas e curiosas, não reconhecem os riscos relacionados ao fogo ou ao calor. O simples ato de puxar uma toalha com uma panela quente ou encostar no forno pode resultar em acidentes graves, com consequências físicas e psicológicas significativas (Silva et al., 2021).
Para a enfermagem, a atuação preventiva inclui o incentivo ao uso de bocas de trás do fogão, o posicionamento de cabos de panelas virados para dentro, o uso de protetores térmicos e a orientação quanto ao manuseio seguro de líquidos quentes (Oliveira & Santos, 2020). Além disso, ações educativas em creches, escolas e unidades de saúde sobre primeiros socorros em queimaduras são fundamentais para minimizar os danos em caso de acidente (Machado et al., 2021).
2.3. Intoxicações
As intoxicações acidentais são outra causa frequente de internações na infância e envolvem, principalmente, a ingestão de medicamentos, produtos de limpeza, pesticidas ou plantas tóxicas (Costa, 2022). A curiosidade infantil, aliada à falta de noção sobre o que é perigoso, leva as crianças a ingerirem substâncias coloridas ou com cheiros agradáveis, confundindo-as com alimentos ou bebidas (Pereira & Silva, 2020).
Grande parte desses acidentes poderia ser evitada com a correta armazenagem de produtos químicos e farmacológicos. Recipientes sem tampa, armários acessíveis e falta de identificação adequada facilitam o acesso da criança a essas substâncias (Barbosa et al., 2019).
A enfermagem deve reforçar, junto aos cuidadores, a importância de manter produtos perigosos fora do alcance infantil, de preferência em locais altos, trancados e com etiquetas visíveis (Lima & Rocha, 2021). Além disso, o profissional pode orientar sobre os sintomas de intoxicação e a conduta imediata que deve ser tomada até a chegada ao serviço de saúde, o que pode ser decisivo na recuperação da criança (Silva & Fernandes, 2020).
2.4. Afogamentos
O afogamento é uma das principais causas de morte acidental em crianças pequenas, mesmo quando ocorrem em pequenas quantidades de água, como baldes, bacias, vasos sanitários e piscinas rasas (Neves, 2024). A ausência de supervisão constante é o fator de risco mais relevante nesses casos (Ferreira et al., 2022).
Crianças de até quatro anos possuem pouca coordenação motora e não sabem como reagir em situações de submersão. Isso faz com que o tempo de resposta por parte do cuidador seja essencial para evitar o óbito ou sequelas neurológicas graves (Martins et al., 2020).
A enfermagem pode atuar tanto na orientação preventiva – destacando a importância da supervisão ativa e do uso de barreiras físicas, como cercas e tampas de segurança – quanto na promoção de cursos de primeiros socorros e suporte básico de vida para pais e cuidadores (Oliveira & Souza, 2021). A educação em saúde nesse contexto é uma ferramenta poderosa para evitar tragédias (Nascimento et al., 2022).
2.5. Sufocamento e Engasgo
O sufocamento e o engasgo representam riscos significativos, especialmente em bebês com menos de um ano de idade, sendo responsáveis por 71% das mortes por asfixia nessa faixa etária (Ghisi, 2018). Os principais causadores são alimentos sólidos, pequenos brinquedos e objetos domésticos deixados ao alcance das crianças (Almeida & Castro, 2019).
O desenvolvimento da deglutição ainda está em fase inicial em bebês, o que aumenta a vulnerabilidade a engasgos. A oferta precoce de alimentos inadequados, a ausência de corte seguro (como alimentos em pedaços grandes ou duros) e a falta de atenção durante a alimentação contribuem para os riscos (Souza et al., 2021).
A enfermagem tem papel essencial ao orientar sobre a introdução alimentar segura, o tipo de brinquedos apropriado para cada idade e a prevenção de acidentes com objetos pequenos (Ferreira & Lima, 2022). Também é fundamental preparar os cuidadores para reconhecer sinais de engasgo ou sufocamento e para agir rapidamente com manobras adequadas como a de Heimlich infantil (Rodrigues et al., 2020).
3. O Papel da Enfermagem na Prevenção de Acidentes
3.1. Educação em Saúde
A enfermagem atua na conscientização das famílias, orientando sobre os riscos e medidas preventivas. Campanhas educativas e palestras são estratégias eficazes para promover a segurança infantil (Ferreira, Borges e Schwiderski, 2019). Essa atuação encontra respaldo na Lei nº 8.069/1990, conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que em seu art. 4º determina que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, com absoluta prioridade, o direito à vida e à saúde, incluindo ações educativas preventivas. Assim, a enfermagem contribui ativamente para garantir esse direito por meio de ações de promoção à saúde.
3.2. Avaliação de Riscos no Domicílio
Os enfermeiros podem realizar visitas domiciliares para identificar fatores de risco no ambiente familiar, recomendando ajustes para prevenir acidentes (Costa, 2022).
Essa atividade é respaldada pela Lei nº 11.108/2005, que trata do Programa Saúde da Família (PSF) e está inserida na Política Nacional de Atenção Básica. Por meio desse programa, a Estratégia Saúde da Família (ESF) inclui a atuação de enfermeiros na atenção domiciliar, com foco na prevenção de doenças e promoção da saúde, o que engloba também a prevenção de acidentes infantis no ambiente doméstico.
3.3. Capacitação em Primeiros Socorros
A capacitação de pais, responsáveis e cuidadores é uma ação essencial da enfermagem na prevenção de acidentes e no manejo adequado de situações emergenciais na infância. Ensinar procedimentos básicos de primeiros socorros pode ser decisivo na redução da gravidade de incidentes domésticos e escolares.
Um marco importante nesse contexto é a Lei Lucas (Lei nº 13.722/2018), que torna obrigatória a capacitação em noções básicas de primeiros socorros para professores e funcionários de escolas públicas e privadas de educação básica e de estabelecimentos de recreação infantil em todo o território nacional. Essa lei surgiu após a morte do menino Lucas Begalli, vítima de engasgo em uma excursão escolar, e reforça a importância da atuação preventiva e educativa.
Entre as ações que a enfermagem pode desenvolver nessa área estão:
- Orientações sobre atendimento imediato em caso de acidentes: Os enfermeiros ensinam como agir em situações como cortes, quedas, queimaduras, intoxicações e afogamentos, minimizando danos até a chegada de atendimento especializado.
- Capacitação em Reanimação Cardiopulmonar (RCP): Ensinar a técnica correta de RCP para leigos é fundamental, especialmente quando a parada cardiorrespiratória ocorre fora do ambiente hospitalar. A enfermagem pode promover oficinas práticas para pais e professores.
- Treinamento em manobras de desobstrução das vias aéreas: Acidentes por engasgo são comuns na infância. Técnicas como a manobra de Heimlich são ensinadas de forma adaptada para diferentes faixas etárias, possibilitando intervenções eficazes e seguras.
- Simulações de emergência: Realizar atividades simuladas de primeiros socorros em ambientes escolares ou comunitários contribui para o preparo emocional e técnico dos participantes, reforçando o aprendizado e promovendo a cultura de prevenção.
4. METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de caráter exploratório. A coleta de dados foi realizada nas bases SciELO, BDENF e LILACS, utilizando os descritores: Enfermagem, Prevenção de Acidentes, Cuidados de Enfermagem e Criança.
Critérios de inclusão:
- Artigos publicados entre 2018 e 2024;
- Disponíveis na íntegra e em português;
- Pesquisas realizadas no Brasil.
Critérios de exclusão:
- Estudos publicados antes de 2018;
- Teses, dissertações e artigos sem texto completo disponível.
A figura abaixo apresenta o processo de seleção dos artigos, seguindo a metodologia.
Figura 1 – Fluxograma da seleção do Estudos

A seleção dos artigos seguiu as seguintes etapas:
- Leitura exploratória – verificação do título e resumo dos artigos.
- Leitura seletiva – análise detalhada dos estudos que atendiam aos critérios de inclusão.
- Registro das informações – extração dos dados mais relevantes para o estudo.
Foram analisados oito artigos científicos, que discutem a incidência dos acidentes infantis e a importância da prevenção por meio da atuação da enfermagem.
5. RESULTADOS
A análise dos artigos selecionados revelou a importância da atuação da enfermagem na prevenção de acidentes infantis, destacando a necessidade de educação em saúde e de medidas preventivas eficazes.
A Tabela 1 – Apresenta um resumo dos estudos analisados, incluindo o autor, ano, tipo de estudo, principais resultados e conclusões. Sobre Acidentes na Primeira Infância e Atuação da Enfermagem.


6. DISCUSSÕES
Os estudos analisados reforçam a relevância da atuação da Enfermagem na prevenção de acidentes infantis, evidenciando que estratégias educativas podem reduzir significativamente os índices de hospitalizações. A literatura aponta que a educação em saúde é uma das principais ferramentas para capacitar pais e cuidadores a identificar e minimizar riscos no ambiente doméstico (Ferreira; Borges; Schwiderski, 2019).
Além disso, a abordagem educativa realizada por enfermeiros contribui para o desenvolvimento da autonomia e responsabilidade dos cuidadores no cuidado com a criança. Ao compreenderem os principais riscos presentes em cada faixa etária, os responsáveis se tornam mais aptos a agir preventivamente, reduzindo a exposição das crianças a situações perigosas.
Outro ponto destacado é a vulnerabilidade socioeconômica como fator de risco para acidentes infantis. Gross et al. (2021) indicam que crianças de famílias de baixa renda têm menos acesso a medidas de segurança, como protetores de tomada, grades e cadeirinhas adequadas, o que reforça a necessidade de políticas públicas que promovam ambientes mais seguros, especialmente nas comunidades mais carentes.
As visitas domiciliares realizadas por profissionais de enfermagem são estratégias efetivas para identificação de fatores de risco no ambiente familiar. Costa (2022) destaca que, ao observar diretamente o contexto onde a criança vive, o enfermeiro pode propor mudanças simples e de baixo custo que impactam diretamente na segurança do lar, como reorganização de móveis, uso de travas e remoção de objetos perigosos ao alcance dos pequenos.
A importância da capacitação profissional para atendimento emergencial também se destaca nos achados. Estudos como o de Caldas et al. (2020) revelam que enfermeiros treinados para reconhecer sinais de emergência e prestar os primeiros socorros adequados contribuem significativamente para a redução de complicações e mortes por acidentes na infância.
Neste contexto, a Lei Lucas (Lei nº 13.722/2018) surge como um avanço importante ao tornar obrigatória a capacitação em primeiros socorros para profissionais da educação. A enfermagem tem um papel de destaque na implementação dessa lei, atuando como facilitadora de oficinas e treinamentos, tanto nas escolas quanto nas comunidades.
Outro aspecto relevante é o fortalecimento do vínculo entre as equipes de saúde da família e a população. A atuação da enfermagem, baseada em acolhimento e escuta qualificada, facilita o diálogo com os cuidadores e permite a construção de estratégias preventivas adaptadas à realidade de cada família, respeitando sua cultura, rotina e limitações.
Portanto, os achados desta revisão indicam que a Enfermagem, ao atuar na promoção da saúde, na educação em segurança e na prestação de primeiros socorros, desempenha um papel essencial na redução da morbimortalidade infantil por acidentes. É necessário, contudo, ampliar as políticas públicas de apoio, incentivar a formação continuada dos profissionais e investir em ações intersetoriais para garantir a proteção integral das crianças.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da complexidade que envolve o desenvolvimento infantil, torna-se imperativo compreender que a primeira infância representa um período crítico para a construção da cognição, da motricidade e da interação social. Entretanto, essa fase também expõe as crianças a uma vulnerabilidade acentuada a acidentes, tornando a prevenção um eixo essencial das políticas de saúde pública e das práticas assistenciais.
A atuação da enfermagem transcende a dimensão clínica e se consolida como um pilar educativo fundamental na mitigação dos riscos domésticos e ambientais. A implementação de estratégias preventivas embasadas em evidências científicas, aliada à educação em saúde para pais e cuidadores, não apenas reduz a incidência de acidentes, mas também fortalece a cultura de segurança desde os primeiros anos de vida.
Além disso, a interseção entre assistência e educação permite uma abordagem holística que engloba a identificação de fatores de risco, a capacitação em primeiros socorros e a promoção de ambientes mais seguros. Dessa forma, a enfermagem não apenas atua reativamente, mas também proativamente na construção de um futuro onde a infância seja sinônimo de crescimento saudável, livre de ameaças evitáveis.
Portanto, diante dos alarmantes índices de acidentes na primeira infância, o fortalecimento de políticas públicas voltadas à segurança infantil e à qualificação contínua dos profissionais de saúde é um passo indispensável para consolidar uma sociedade mais consciente e preparada para proteger suas crianças. Assim, a atuação da enfermagem na prevenção de acidentes na primeira infância reafirma seu papel indispensável na promoção da vida e do bem-estar infantil.
REFERÊNCIAS
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