ACIDENTE COM HIPOCLORITO DE SÓDIO DURANTE TRATAMENTO ENDODÔNTICO – RELATO DE CASO.

ACCIDENT WITH SODIUM HYPOCHLORITE DURING ENDODONTIC TREATMENT – CASE REPORT.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202505132021


Gabriel Galvan Flores¹
Isa Lima de Moraes²
Rodrigo Jacon Jacob³
Regina Marcia Serpa Pinheiro⁴


RESUMO

Bastante utilizado nos tratamentos endodônticos como uma solução de irrigação eficaz, o hipoclorito de sódio (NaOCl), pode causar complicações graves através da extrusão do mesmo nos tecidos periapicais. O objetivo desse estudo é relatar um caso clínico de extravasamento de hipoclorito durante o tratamento endodôntico, evidenciando como realizar a conduta terapêutica odontológica. Nesse sentido, para atingir tal objetivo o método para elaboração será o caso clínico com evidencias fotográficas e revisão bibliográfica realizada em artigos científicos publicados nos últimos anos e indexados nos seguintes sites de pesquisa: Pubmed com os seguintes descritores no idioma inglês: “Extravasation hypochlorite”; “Extravasation hypochlorite acidentes”; “Hypochlorite accidents endodontics” e “extravasation hypochlorite dentistry” e “apical extrusion of sodium hypochlorite”, Scientific Electronic Library (SciELO) e Google Acadêmico. Comprovando que, embora seja rara, é essencial o manejo rápido e preciso diante dessa condição, além da terapêutica medicamentosa a fim de se prevenir de sequelas e infecções secundárias. 

Palavras-Chave: Hipoclorito de sódio. Acidente. Irrigantes. Endodontia. Injeção acidental.

ABSTRACT

Widely used in endodontic treatments as an effective irrigation solution, sodium hypochlorite (NaOCl) can cause serious complications through its extrusion into the periapical tissues. The objective of this study is to report a clinical case of hypochlorite extravasation during endodontic treatment, demonstrating how to perform the dental therapeutic conduct. In this sense, to achieve this objective, the method for elaboration will be the clinical case with photographic evidence and a bibliographic review carried out in scientific articles published in recent years and indexed in the following research sites: Pubmed with the following descriptors in the English language: “Extravasation hypochlorite”; “Extravasation hypochlorite accidents”; “Hypochlorite accidents endodontics” and “extravasation hypochlorite dentistry” and “apical extrusion of sodium hypochlorite”, Scientific Electronic Library (SciELO) and Google Scholar. Proving that, although rare, rapid and precise management of this condition is essential, in addition to drug therapy in order to prevent secondary infections.

Keywords: Sodium hypochlorite. Accident. Irrigants. Endodontics. Accidental injection.

INTRODUÇÃO 

O tratamento endodôntico está diretamente condicionado ao processo de sanitização, desinfecção e modelagem dos canais radiculares. As substâncias químicas auxiliares são coadjuvantes ao preparo mecânico, pois são essenciais na redução de microrganismos presentes no sistema de canais radiculares, bem como auxiliam na remoção da smear layer e debris dentinários (Salum et al., 2012).

Segundo Becker e Kleier, 2023, o hipoclorito de sódio (NaOCl) é amplamente utilizado na irrigação endodôntica devido à sua eficácia antimicrobiana, mas pode causar complicações graves se extravasado para os tecidos periapicais. Pesquisas e estudos indicam que mulheres podem estar mais propensas a complicações devido a uma maior facilidade de difusão da substância. 

As soluções de hipoclorito de sódio estão disponíveis em diversas concentrações (0,5%, 1%, 2,5%%, 4 e 6% de cloro ativo). A citotoxicidade do NaOCl pode resultar em edema, equimoses, enfisema subcutâneo e dor intensa. Uma das principais desvantagens do hipoclorito de sódio é seu potencial citotóxico, podendo causar inflamação aguda e necrose tecidual quando entra em contato com tecidos moles. Essa substância pode provocar queimaduras químicas e resultar em ampla destruição celular, comprometendo a integridade dos tecidos afetados. A concentração de hipoclorito de sódio está diretamente relacionada à sua toxicidade para os tecidos vitais (Salum et al., 2012).

Quando ocorrem reações adversas, o tratamento envolve a irrigação imediata com solução salina, mudança da solução irrigante para evitar reações adicionais e acalmar o paciente, analgesia adequada, antibioticoterapia profilática para prevenir infecções decorrentes do dano, e corticoide leve e terapia anti-histamínica em casos selecionados. Para o alívio imediato da dor, um bloqueio do nervo com um anestésico local deve ser considerado. A prevenção de tais acidentes inclui o uso cuidadoso de técnicas e equipamentos apropriados durante o tratamento endodôntico (Witton e Brennan, 2005).

Ao analisar a literatura, observa-se que a maioria dos casos ocorridos na prática clínica não é devidamente documentada, o que dificulta a obtenção de dados precisos. Não há estudos que evidenciem com clareza a frequência desses acidentes, revelando uma lacuna significativa no conhecimento científico sobre o tema, (Behrents et al., 2012).  Acidentes com NaOCl ocorrem muito raramente se for levado em conta o número de casos tratados pela endodontia. O risco sobre irrigação pode ser reduzido com o uso da lima de patência para manter o canal livre de detritos, além disso, o nível de pressão exercida com pressão positiva (Freitas et al., 2020).

Entre as complicações encontradas em outros casos, os pacientes relatam parestesia até 5 anos após o acidente devido ao comprometimento sofrido pelas terminações nervosas. Em pacientes pediátricos o tratamento medicamentoso segue o mesmo padrão, consistindo em antibióticos, terapia analgésica e corticosteroides imediatos para prevenir uma resposta inflamatória extrema. Esses casos também podem ser avaliados com tomografia de feixe cônico, que permite observar a localização espacial do irrigante nos tecidos lesados, as estruturas anatômicas adjacentes envolvidas e o real tamanho da lesão (Silva e Boijink, 2019).

O tratamento deve seguir os princípios de redução do edema, controle da dor e prevenção de infecções secundárias. De forma indispensável deve-se minimizar o contato do tecido com o hipoclorito de sódio (NaOCl), permitindo que a solução irrigante e os exsudatos sejam devidamente drenadas (Perotti 2018). 

É fundamental realizar um contato diário para monitorar a recuperação, especificamente no que diz respeito ao controle da dor, prevenção de infecções e segurança geral. Além disso, deve-se tranquilizar o paciente sobre o processo prolongado da resolução inflamatória, além de fornecer instruções claras e detalhadas, tanto verbais quanto escritas, para os cuidados domiciliares (Silva, Boijink, 2019).

O objetivo desse estudo é relatar um caso clínico de extravasamento de hipoclorito durante o tratamento endodôntico, evidenciando as diretrizes para a conduta terapêutica odontológica. Comprovando que, embora seja rara, é essencial o manejo rápido e preciso diante dessa condição, além da terapêutica medicamentosa adequadas a fim de prevenir possíveis sequelas e infecções secundárias.

CASO CLÍNICO

Paciente do sexo feminino, sem comorbidades físicas ou sistêmicas, 66 anos, leucoderma, foi atendida na Clínica Odontológica do Centro Universitário São Lucas – Porto Velho-RO, relatando dor, rubor, edema e sensação de queimação na face, após tratamento endodôntico do dente 23 (canino superior esquerdo) realizado em clínica particular. Após orientações iniciais, buscou atendimento no serviço de urgência da disciplina de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial. Durante a anamnese, com base na avaliação clínica e radiográfica, foi possível constatar a ocorrência de iatrogenia durante o procedimento endodôntico. A paciente referiu que, ao término da sessão, o cirurgião-dentista realizou irrigação abundante com solução fisiológica a 0,9%, o que promoveu alívio momentâneo dos sintomas. No entanto, poucas horas após o procedimento, relatou piora significativa do quadro, com intensificação da dor e aparecimento de hematomas difusos em hemiface esquerda. Diante do quadro, optou-se por abordagem terapêutica medicamentosa sistêmica e tópica, com acompanhamento remoto por meio de imagens enviadas pela paciente para monitoramento da evolução clínica do edema e da involução do hematoma.

A Figura 1, ilustra o aspecto clínico uma hora após o procedimento realizado em clínica externa, com registro fotográfico feito pela própria paciente. Observa-se o início da formação de hematoma na região periocular e lateralmente à asa nasal, associado a discreto edema facial.

Figura 1 – Início do hematoma periocular e edema discreto na face, observados uma hora após o procedimento endodôntico no dente 23. Imagem registrada pela própria paciente, cedida para fins acadêmicos. Fonte: Acervo pessoal da paciente (2025).

Ao ser atendida em caráter de urgência na Clínica de Cirurgia Bucomaxilofacial, a paciente apresentava aumento significativo do edema facial e progressão dos hematomas na hemiface esquerda, conforme evidenciado na Figura 2, registrada aproximadamente duas horas após o término do procedimento endodôntico. Relatava dor intensa na região facial, sendo, portanto, prescrita e administrada analgesia sistêmica para o controle da algia. Após a estabilização inicial da paciente, foram prestadas orientações claras sobre a natureza do caso, incluindo a possível etiologia, os efeitos imediatos e os potenciais consequências do acidente iatrogênico, ainda que não sejam esperadas sequelas permanentes. A conduta terapêutica foi definida a partir de uma avaliação criteriosa dos sinais e sintomas apresentados, sendo instituído um protocolo medicamentoso e de cuidados embasado na literatura científica vigente, o tratamento visou o controle da dor, inflamação, infecção e edema decorrentes de extravasamento acidental de hipoclorito de sódio durante o tratamento endodôntico. O esquema medicamentoso prescrito seguiu os parâmetros aliado à experiência clínica da equipe docente e discente da disciplina de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial envolvida no atendimento, fica a seguinte prescrição:

Analgésico
Dipirona sódica 500 mg – uso oral
­Posologia: tomar 1 (um) comprimido a cada 6 (seis) h, se necessário, para alívio da dor.
­Duração: 5 (cinco) dias.
­Observação: evitar o uso prolongado sem orientação médica.

Anti‑inflamatório não esteroidal (AINE)
Ibuprofeno 600 mg – uso oral
­Posologia: tomar 1 (um) comprimido a cada 8 (oito) h, após as refeições.
­Duração: 5 (cinco) dias.

Antibiótico
Amoxicilina 500 mg – uso oral
­Posologia: tomar 1 (uma) cápsula a cada 8 (oito) h.
­Duração: 7 (sete) dias.

Corticosteroide
Prednisona 20 mg – uso oral
­Posologia: tomar 1 (um) comprimido pela manhã, dose única diária.
­Duração: 3 (três) dias.
­Observação: não interromper o uso abruptamente; seguir rigorosamente a orientação prescrita.

Antisséptico bucal
Digluconato de clorexidina 0,12 % – uso tópico bucal
­Posologia: realizar bochechos com 15 mL da solução, durante 30 s, duas vezes ao dia.
­Duração: 7 (sete) dias.
­Observação: evitar a ingestão de alimentos ou líquidos por, no mínimo, 30 min após o uso.

Terapia física complementar
Compressas frias – aplicação externa local
­Posologia: aplicar compressa fria na região acometida por 15 (quinze) min, a cada 1 (uma) h, nas primeiras 24 (vinte e quatro) h.

Este esquema visou controlar os sinais e sintomas locais, prevenir infecções oportunistas e reduzir a inflamação facial, garantindo o conforto da paciente e evitando sequelas funcionais ou estéticas.

Figura 2 – Edema facial acentuado e evolução dos hematomas em hemiface esquerda, evidenciados duas horas após o término do procedimento endodôntico no dente 23. Imagem registrada e cedida pela própria paciente, utilizada com autorização para fins acadêmicos. Fonte: Acervo pessoal da paciente (2025).

A paciente relatou que solicitou ao seu companheiro a aquisição das medicações prescritas. Contudo, antes do início da administração do corticosteroide, observou-se um aumento significativo do edema facial após aproximadamente três horas. Diante da análise da terceira imagem encaminhada, foi reforçada a orientação para o início imediato da farmacoterapia, a fim de conter a progressão do quadro clínico. (Figura 3)

Figura 3 – Fonte: Acervo pessoal da paciente (2025).
Figura 4 – Fonte: Acervo pessoal da paciente (2025).
Figura 5 – Fonte: Acervo pessoal da paciente (2025).

Nas 3 horas subsequentes à administração adequada da farmacoterapia prescrita, observou-se estabilização do edema e início do processo de involução clínica. Paralelamente, notou-se a transição da coloração do hematoma, indicando a progressão esperada da lesão segundo os mecanismos fisiológicos naturais de reparação tecidual. Ressalta-se que o tempo estimado para resolução completa de um hematoma varia entre 10 e 15 dias, sendo esse intervalo influenciado tanto pela extensão da lesão quanto pela resposta biológica individual do paciente. (figura 4 e 5).

Figura 6 – Fonte: Acervo pessoal da paciente (2025).
Figura 7 – Fonte: Acervo pessoal da paciente (2025).
Figura 8 – Evolução clínica do quadro inflamatório no sétimo dia após o acidente de extravasamento de hipoclorito de sódio durante tratamento endodôntico no dente 23. Observa-se regressão significativa do edema facial, resolução do processo inflamatório agudo e permanência de hematomas residuais em fase de involução, compatível com a resposta fisiológica esperada. Fonte: Acervo pessoal da paciente (2025).

DISCUSSÃO

O extravasamento de hipoclorito de sódio (NaOCl) durante o tratamento endodôntico é uma complicação rara, mas grave, que pode causar danos significativos aos tecidos periapicais. A intervenção imediata e adequada pode minimizar os efeitos adversos dessa situação. Conforme apontado por Becker et al. (2019), o NaOCl é eficaz como solução irrigante, mas sua toxicidade exige atenção redobrada. As complicações incluem dor intensa, edema e equimoses. Para Salum et al. (2012), a rapidez no manejo inicial é crucial para diluir a substância e controlar a resposta inflamatória, utilizando irrigação com solução salina, analgésicos, corticosteroides e, em muitos casos, antibióticos profiláticos.

Os sintomas observados, como dor aguda e edema nos tecidos moles adjacentes, são compatíveis com os descritos na literatura, conforme relatado por Souza (2020). Estratégias terapêuticas baseadas nas orientações de Perotti et al. (2018) mostraram-se eficazes no controle da inflamação e no alívio da dor. Esses autores também destacam a importância de monitorar o paciente de perto para evitar complicações secundárias e possíveis sequelas permanentes.

De acordo com Padoin et al. (2021), o uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), como o ibuprofeno, é eficaz para controlar a dor e a inflamação em procedimentos odontológicos, especialmente em situações agudas. Contudo, o mesmo autor alerta para possíveis efeitos adversos gastrointestinais, o que reforça a necessidade de administração após as refeições, como foi orientado à paciente. Em contraste, Fine et al. (1993) enfocam a relevância da assepsia e da prevenção de infecções em procedimentos invasivos, destacando o papel da clorexidina a 0,12% como antisséptico de escolha. Embora o foco de Fine et al. seja preventivo, sua recomendação foi aplicada neste caso como medida coadjuvante, para minimizar o risco de infecções secundárias, dada a extensão da lesão e o comprometimento de tecidos moles.

A dipirona sódica, conforme explorado por Deus (2014), mostra-se altamente eficaz no controle da dor moderada a intensa em ambiente odontológico, sendo, inclusive, preferida em alguns casos frente ao paracetamol, por sua potência analgésica e menor risco hepático. Por outro lado, embora não haja consenso unânime quanto ao seu uso crônico, o protocolo adotado seguiu as recomendações para uso limitado a cinco dias, minimizando riscos de agranulocitose, efeito adverso raro, mas relevante.

No tocante à antibioticoterapia, Matos et al. (2024) destacam a amoxicilina como primeira escolha em infecções odontogênicas, devido à sua eficácia frente à flora bacteriana oral e baixo índice de resistência. Ainda que o uso profilático de antibióticos seja controverso em algumas abordagens odontológicas, neste caso, sua indicação foi respaldada pela possibilidade de disseminação bacteriana decorrente da necrose tecidual induzida pelo hipoclorito.

O uso de corticosteroides como a prednisona foi uma medida importante para controle do edema facial extenso. Padoin et al. (2021) reforçam a eficácia de corticosteroides em tratamentos de curta duração para condições inflamatórias agudas, ressaltando a necessidade de orientação adequada quanto à posologia e riscos da suspensão abrupta. Essa abordagem está em conformidade com a administração por apenas três dias, com dosagem matinal única, respeitando o ritmo circadiano do cortisol.

Uma questão frequentemente levantada na literatura, conforme Behrents et al. (2012), é a subnotificação de incidentes envolvendo NaOCl. Apesar de raros, esses acidentes não são devidamente documentados, dificultando a análise de sua frequência e impacto. Travassos et al. (2020) e Silva e Boijink (2019) reforçam que muitos casos estão associados a falhas técnicas, como a introdução inadequada da agulha além do comprimento de trabalho. Investir na capacitação técnica dos profissionais é essencial para prevenir ocorrências desse tipo.

Complicações neurológicas podem surgir em casos de extrusão severa. Witton et al. (2005) documentaram casos em que o extravasamento resultou em parestesia e outras lesões nervosas, algumas com recuperação lenta ou incompleta. Este cenário reforça a necessidade de ferramentas diagnósticas precisas, como a tomografia computadorizada, para avaliar a extensão dos danos e planejar as etapas subsequentes do tratamento.

Práticas preventivas e técnicas que promovam fluxo contínuo, são recomendadas para minimizar os riscos de extravasamento. Entre elas, destaca-se o uso de agulhas projetadas para irrigação endodôntica, com aplicação passiva e cuidadosa, sempre mantendo distância segura do ápice radicular. Além disso, movimentos de vai e vem descritos por Soares et al. (2007), também são recomendadas.

Este caso ressalta ainda a importância do acompanhamento contínuo do paciente, conforme Silva e Boijink (2019). A evolução dos sintomas deve ser monitorada cuidadosamente, e o profissional deve garantir que o paciente receba todas as orientações necessárias sobre cuidados domiciliares e o tempo estimado de recuperação. Esse acompanhamento também ajuda a reduzir o impacto emocional, que muitas vezes acompanha complicações dessa natureza.

A discussão entre os autores evidencia a complexidade e a gravidade das complicações associadas ao extravasamento de hipoclorito de sódio durante o tratamento endodôntico. Enquanto Becker et al. (2019) e Salum et al. (2012) enfatizam a eficácia do NaOCl e a importância do manejo imediato, Witton et al. (2005) e Perotti et al. (2018) alertam para as possíveis complicações neurológicas e sistêmicas. A subnotificação desses incidentes, destacada por Behrents et al. (2012), e as falhas técnicas apontadas por Travassos et al. (2020) e Silva e Boijink (2019), reforçam a necessidade de protocolos rigorosos e treinamento contínuo dos profissionais. A implementação de práticas preventivas e o monitoramento atento dos pacientes são essenciais para garantir a segurança e a eficácia dos tratamentos endodônticos.

CONCLUSÃO

Em síntese, o extravasamento de hipoclorito de sódio representa um desafio que demanda respostas rápidas e condutas bem estruturadas. Este relato de caso contribui ao documentar a abordagem clínica adotada e os resultados obtidos, reforçando a importância de medidas preventivas e de capacitação profissional. Embora raro, o risco associado ao uso de NaOCl requer vigilância constante por parte do cirurgião dentista, assegurando não apenas a eficácia do tratamento, mas também a segurança do paciente.

Ao confrontar essas abordagens, nota-se que embora os autores tenham abordagens distintas ora voltadas para a profilaxia, ora para a terapêutica o conjunto das evidências converge para a eficácia do manejo multimodal empregado neste caso. A associação de analgésico, anti-inflamatório, antibiótico, corticosteroide, antisséptico e terapia local com compressas frias resultou em resposta clínica positiva, conforme esperado fisiologicamente. A paciente apresentou regressão do edema e da dor em 72 horas e resolução quase completa em 7 dias, restando apenas sinais residuais de hematoma, que seguem seu curso natural de reabsorção.

Portanto, este caso reforça que a conduta baseada em evidências científicas, adaptada às necessidades individuais do paciente e à gravidade do quadro, é essencial para o sucesso terapêutico, especialmente em intercorrências como o extravasamento de hipoclorito de sódio cuja prevenção deve sempre ser prioridade, mas cujo manejo adequado pode evitar complicações maiores.

No caso clínico apresentado, a paciente demonstrou uma evolução favorável à terapêutica instituída pela equipe de atendimento, observando-se uma resposta fisiológica satisfatória, com analgesia e redução significativa do edema, e, posteriormente, dos hematomas na face.

O presente estudo visa relatar um caso clínico de extravasamento de hipoclorito de sódio durante a realização de um procedimento endodôntico, com ênfase nas condutas odontológicas apropriadas para o manejo desta complicação. Embora seja um evento raro, é essencial que os cirurgiões-dentistas possuam conhecimento técnico e habilidade para adotar intervenções imediatas e precisas, associadas ao tratamento medicamentoso adequado, a fim de prevenir complicações subsequentes, como sequelas e infecções secundárias.

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¹Acadêmico do curso de Odontologia do Centro Universitário São Lucas / Afya – Porto Velho. Artigo apresentado à IES como requisito para obtenção do título de Bacharel em Odontologia, Porto Velho/RO, 2025. E-mail: gaabrielgalvanflores@gmail.com;
²Acadêmica do curso de Odontologia do Centro Universitário São Lucas / Afya – Porto Velho. Presidente da Liga Acadêmica de Cirurgias da Face de Rondônia – LACF – RO. Artigo apresentado à IES como requisito para obtenção do título de Bacharel em Odontologia, Porto Velho/RO, 2025. E-mail: isalimademoraes.odonto@gmail.com;
³Orientador e Professor do Centro Universitário São Lucas / Afya – Porto Velho. Cirurgião Bucomaxilofacial da Secretaria de Saúde do Governo de Rondônia. E-mail: rodrigo.jacob@saolucas.edu.br;
⁴Docente do Centro Universitário São Lucas / Afya – Porto Velho/RO. E-mail: regina.pinheiro@saolucas.edu.br.