REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10152821
Camila Vasconcelos de Oliveira1
José Lucas Cavalcante Moreira2
RESUMO
INTRODUÇÃO: Acessos centrais são instrumentos úteis no atendimento a pacientes críticos, porém, podem estar associados a infecções que aumentam a morbi- mortalidade do paciente. O objetivo do presente trabalho é realizar uma revisão de literatura sobre o tema. MÉTODOS: Foi realizada uma pesquisa na plataforma de dados PUBMED. Foram incluídos estudos que possuíam as palavras-chave “central line” e “bloodstream infection” em seus títulos e que foram publicados nos últimos 5 anos e excluídos aqueles com dados insuficientes. RESULTADOS: A maioria das infecções foi causada por bactérias gram-negativas e associadas a uma duração de acesso maior que 7 dias. A maior parte dos artigos não apresentou significância estatística com relação ao gênero e ao local de punção do acesso. CONCLUSÃO: Os artigos analisados avaliaram fatores de risco diferentes. Há necessidade de mais trabalhos que analisem os mesmos fatores de risco, a fim de facilitar uma análise comparativa entre eles.
PALAVRAS-CHAVE: Infecções, Cateterismo Venoso Central, Unidades de Terapia Intensiva
ABSTRACT
INTRODUCTION: Central lines are useful tools in critically ill patients’ treatment. However, they may be associated with infections which increase patients’ morbidity and mortality. The aim of this study is a literature review of this theme. METHODS: A research on PUBMED platform was made. Inclusion criteria are articles which have the keywords “central-line” and “bloodstream infection” in their title and were published in the last 5 years and the exclusion criteria are articles with insufficient data. RESULTS: Infections were mostly caused by gram-negative bacteria and associated with a line duration of 7 or more days. The most part of the papers did not show any statistical significance about gender and line location. CONCLUSION: The papers analyzed evaluated different risk factors. More researches evaluating the same risk factors to make comparisons possible must be done.
KEYWORDS: Infections, Central Venous Catheterization, Intensive Care Units
INTRODUÇÃO
Acessos centrais são frequentemente necessários na assistência hospitalar para a administração de drogas vasoativas, hemodiálise, nutrição, dentre outros. Entretanto, também podem estar associados a infecções graves, que acabam por aumetar a morbi- mortalidade do paciente, bem como os custos de internação.
A infecção associada a catéteres centrais é a infecção hospitalar mais comum, correspondendo a 20-30% de todas as infecções hospitalares, seguida por pneumonia associada a ventilação mecânica (20-25%), infecção de trato urinário associada a sonda vesical de demora (15%), infecção de sítio cirúrgico (11%), dentre outras. (Sellamuthu et al., 2023)
Hospitais adotam protocolos para evitar a ocorrência de infecções associadas a catéteres. Entretanto, a incidência das mesmas vêm aumentando. (Ahn et al., 2023).
O objetivo do presente trabalho é realizar uma revisão de literatura sobre o
tema.
MÉTODOS
Foi realizada uma pesquisa na plataforma de dados PUBMED utilizando como palavras – chave os termos “central line” e “bloodstream infection” nos últimos 5 anos. Os critérios de inclusão foram artigos que continham as palavras-chave em seus títulos, disponibilizados de forma completa e gratuita em língua inglesa ou portuguesa. Foram excluídas revisões sistemáticas, relatos de caso e artigos com dados insuficientes, totalizando 9 artigos analisados.
O presente estudo foi escrito a partir de dados já publicados, não sendo, portanto, necessária aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa.
RESULTADOS
Abaixo encontra-se uma tabela comparativa de alguns dados comuns entre os estudos, quando analisados os pacientes que desenvolveram infecção associada a catéter central, normalmente associada a 7 dias ou mais de punção.
Tabela 1: resumo de dados comparativos entre os estudos
Sexo de maior prevalência entre pacientes | Principal sítio de punção | Etiologia | |||
Ahn et al, 2023 | Masculino, sem diferença estatisticamente significante | Veia subclávia, sem diferença estatisticamente significante | S. Epidermidis | ||
Maqbool et al., 2023 | Masculino | Não informado | Acinetobacter spp | ||
Sellamuthu et al., 2023 | Feminino, sem diferença estatisticamente significante | Veia jugular interna | K. pneumonie | ||
Trembath 2023 | et | al., | Masculino, sem diferença estatisticamente significante | Membro superior, sem diferença estatisticamente significante | E. Coli |
Wang et al., 2023 | Masculino | Femoral, sem diferença estatisticamente significante | A. baumannii, S. Aureus, P. Aeruginosas | ||
Bae et al., 2022 | Sem diferença estatisticamente significante | Veia femoral | Não informado | ||
Toor et al., 2022 | Não informado | Veia femoral | Enterococcus faecalis | ||
Kitamura 2020 | et | al., | Sem diferença estatisticamente significante | Veia subclávia, sem diferença estatisticamente significante | S. epidermidis |
Triggs et al., 2019 | Masculino, sem diferença estatisticamente significante | Não informado | Gram negativos (ex. Klebsiella spp., enterobacter spp.) |
DISCUSSÃO
Ahn et al. realizaram um estudo no departamento de emergência. Conforme esse trabalho, infecções de catéteres são muito comuns no setor e associadas a alto risco de mortalidade intra-hospitalar. Existem poucos artigos que versam sobre acessos centrais e infecção num contexto de emergência. O principal fator implicado em mortalidade foram tentativas sucessivas de punção, de onde se infere a importância do auxílio do US.
Trembath et al. realizaram estudo com pacientes pediátricos. Segundo ele, existem 4 tipos de catéteres centrais: o porta, o inserido perifericamente (PICC), o tunelizado e o não-tunelizado. O catéter porta é o menos associado a infecções, seguido pelo catéter PICC. Porém, são necessários estudos comparativos a prazo intermediário e longo prazo.
Wang et al. realizaram estudo com pacientes vítimas de queimadura. As infecções de catéteres centrais nesses pacientes são mais frequentes do que no restante devido a múltiplos fatores como: necessidade prolongada de acesso central, múltiplos tratamentos cirúrgicos, permanência prolongada em UTI, rompimento da função de barreira da pele proveniente da queimadura, alterações hemodinâmicas, resposta metabólica ao trauma, hipóxia, isquemia e alterações metabólicas.
Bae et al. analisaram o efeito de uma notificação automática sobre dias de punção de acesso central e constatou que sua intervenção diminuiu o tempo de uso desses acessos.
Toor et al. analisaram a prevalência das infecções relacionadas a catéteres em UTIs e unidades cirúrgicas e recomendam a troca dos mesmos se um paciente tem acessos centrais com duração maior que 7 dias e apresentam sinais sugestivos de infecção.
Kitamura et al. analisaram a punção de acesso central em diferentes locais do hospital e concluíram que não há interferência desse fator em infecções associadas a catéteres em pacientes com doenças hematológicas.
Triggs et al. realizaram estudo em crianças com atresia de vias biliares listadas para transplante hepático e concluíram que nenhum dos fatores analisados, tais como raça, dados antropométricos ou exames bioquímicos são fatores de risco independentes para infecção.
Os trabalhos que analisamos foram realizados usando perfis de pacientes diferentes, em ambientes distintos, onde foram analisados fatores diversos entre si, o que dificulta uma análise comparativa entre eles. Além disso, a maioria dos estudos não obteve diferenças estatisticamente significantes no que diz respeito a gênero e sítio de punção de acesso, por exemplo. Assim, há a necessidade de mais estudos que analisem fatores semelhantes, a fim de uma melhor análise comparativa.
CONCLUSÃO
A prevenção de infecções de acessos centrais é um assunto de extrema importância, pois diminui a morbi-mortalidade do paciente, diminui os custos hospitalares relacionados à internação e ajuda a não aumentar a resistência bacteriana, o que justifica a criação de protocolos institucionais. Neste estudo comparamos dados de 9 artigos, procurando elucidar fatores de risco associados. Em trabalhos futuros pretendemos analisar intervenções e seu impacto na redução dessas infecções.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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- BAE, S. et al. The effect of the multimodal intervention including an automatic notification of catheter days on reducing central line-related bloodstream infection: a retrospective, observational, quasi-experimental study. BMC Infectious Diseases, v. 22, n. 1, 8 jul. 2022.
- KITAMURA, H. et al. Venue of catheter insertion does not significantly impact the event of central line-associated bloodstream infection in patients with haematological diseases. Infection Prevention in Practice, v. 2, n. 2, p. 100050, jun. 2020.
- MAQBOOL, S.; SHARMA, R. K. Incidence of Central Line-Associated Bloodstream Infection in a Tertiary Care Hospital in Northern India: A Prospective Study. Cureus, 31 ago. 2023
- TOOR, H. et al. Prevalence of central line-associated bloodstream infections (CLABSI) in intensive care and medical-surgical units. Cureus, v. 14, n. 3, 3 mar. 2022.
- TREMBATH, H. et al. Central Line-Associated Bloodstream Infection Risk Factors in a Pediatric Population. American Surgeon, 12 ago. 2023.
- TRIGGS, N. et al. Central line-associated bloodstream infection among children with biliary atresia listed for liver transplantation. World Journal of Hepatology, v. 11, n. 2, p. 208–216, 27 fev. 2019.
- SELLAMUTHU, R. et al. Risk Factors of Central Line-Associated Bloodstream Infection (CLABSI): A Prospective Study From a Paediatric Intensive Care Unit in South India. Cureus, 11 ago. 2023.
WANG, Y. et al. Clinical epidemiology and a novel predicting nomogram of central line associated bloodstream infection in burn patients. Epidemiology and Infection, v. 151, 1 jan. 2023.