AÇÃO ANTIFÚNGICA DO ÓLEO ESSENCIAL DE MELALEUCA EM MULHERES COM CANDIDÍASE VULVOVAGINAL

ANTIFUNGAL ACTION OF TEA TREE ESSENTIAL OIL IN WOMEN WITH VULVOVAGINAL CANDIDIASIS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10081027


Fabíola Castro dos Santos¹
Paula Isney Souza do Carmo²
Orientadora: Bruna da Silva Souza Avelino³


RESUMO

Objetivo: Realização de levantamento bibliográfico sobre os procedimentos de aplicação do óleo essencial de Melaleuca no tratamento da candidíase vulvovaginal, bem como obtenção e análise dos dados de viabilidade de utilização e eficácia. Métodos: Estudo realizado por meio de revisão sistemática, na qual os artigos foram pesquisados nas bases de dados SciELO, OMS, DATASUS e PubMED, com publicação entre 2013 a 2023, nos idiomas português, e inglês. Resultados: Ao todo foram encontrados encontrados 133 artigos nas referidas bases de dados pesquisadas, sendo selecionados 12 artigos resultantes da aplicação dos parâmetros adotados para inclusão e exclusão. Conforme apurado nos estudos em questão, como o próprio nome sugere, a candidíase vulvovaginal recorrente, ocorre com frequência em grande parte da população feminina, sendo classificada como inflamação fúngica, ocorrendo o crescimento em excesso dos fungos do gênero Cândida. A forma padrão de tratamento ocorre via administração de poliênicos, triazólicos e imidazólicos. A utlização óleo essencial de melaleuca enquanto tratamento fitoterápico, apresenta eficiência no combate à CVV com o mínimo de danos como efeitos colaterais durante ou após o tratamento. Considerações finais: Conforme os resultados á possível afirmar que o óleo essencial de Melaleuca possui comprovada ação anti-microbiana contra bactérias e fungos patogênicos ou não, e tem sido apontado como uma opção viável e eficaz para o tratamento de infecções fúngicas causadas pelo gênero Candida, apresentando efeito antifúngico significativo.

Palavras-chave: Óleo essencial, melaleuca, candidíase, tratamento.

ABSTRACT

Objective: Carrying out a bibliographic survey on the procedures for applying Melaleuca essential oil in the treatment of vulvovaginal candidiasis, as well as obtaining and analyzing data on feasibility of use and effectiveness. Methods: Study carried out through a systematic review, in which articles were searched in the SciELO, WHO, DATASUS and PubMED databases, published between 2013 and 2023, in Portuguese and English. Results: In total, 133 articles were found in the aforementioned databases searched, with 12 articles being selected resulting from the application of the parameters adopted for inclusion and exclusion. As found in the studies in question, as the name suggests, recurrent vulvovaginal candidiasis frequently occurs in a large part of the female population, being classified as fungal inflammation, resulting in the excess growth of fungi of the genus Candida. The standard form of treatment occurs via administration of polyenes, triazoles and imidazoles. Using tea tree essential oil as a herbal treatment is effective in combating CVV with minimal damage such as side effects during or after treatment. Final considerations: According to the results, it is possible to state that Melaleuca essential oil has proven anti-microbial action against pathogenic or non-pathogenic bacteria and fungi and has been identified as a viable and effective option for the treatment of fungal infections caused by the Candida genus, presenting significant antifungal effect.

Keywords: Essential oil, tea tree, candidiasis, treatment.

INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como foco principal abordar e contextualizar a relação entre a utilização do óleo essencial de melaleuca e o tratamento da candidíase vulvovaginal recorrente, haja vista a possibilidade de figurar como tratamento alternativo em função do impacto negativo sofrido pela população acometida por esta condição.

A doença tem como causa variadas espécies de fungo pertencentes ao gênero Candida (SOARES et al., 2018), categorizado como parte das leveduras de ação oportunista. Embora o gênero conte com 200 espécies em média, somente uma fração de 10% tem relação com infecções fúngicas, sendo que deste percentual, a Candida albicans é a que tem maior relação com a candidíase vulvovaginal, crescendo com facilidade em condições de pH ácido e altas temperaturas, se destacando a capacidade de realização de biofilme, pois confere maior resistência às mesmas (ROCHA et al., 2021).

Os óleos essenciais denotam certa complexidade quanto à sua composição química, em que se destacam como componentes presentes os fenilpropanóides e os terpenos (AMARAL, 2017). Podem ainda ser descritos como metabólitos extraídos de variadas partes e formas vegetais, tais como galhos, flores, folhas, cascas, caule, incluindo ainda sementes e raízes. O que se destaca quanto às características dos óleos essenciais em relação aos vegetais onde são encontrados, é o fato de constituírem aos mesmos, elementos voláteis inerentes à sobrevivência e adaptação ao meio em que se encontram.

De nome científico Melaleuca anternifólia, mais conhecido como Tea tree Oil – Óleo da árvore do chá, em português – tem sua composição de modo geral por hidrocarbonetos terpenos, sobretudo monoterpenos, sesquiterpenos bem como seus respectivos álcoois retativos. (BALDOUX, 2018). Em especiífico, se destaca por apresentar propriedades anti-inflamatórias e, também, anti-microbianas, tendo sua aplicação se mostrado muito promissora quanto ao controle das bactérias cariogênicas, tais como Lactobacilos e Estreptococos, por exemplo, tendo demonstrado também excelente aplicabilidade enquanto agente antifúngico em relação às células eucarióticas dos fungos Candida Albicans, agindo na membrana mitocondrial do microorganismo em questão

MÉTODOS

O trabalho em questão se trata de revisão bibliográfica de literatura, de classificação sistemática e metanálise, tendo como parâmetros de inclusão a utilização das palavras-chave: óleo essencial, melaleuca, candidiase e tratamento; em busca realizada nas bases eletrônicas de dados : Scientific Eletronic Library Online – SciELO; Departamento de informática do sistema único de saúde – DATASUS; sistema da Organização mundial da saúde – OMS, e PubMED, figurando como parâmetros de inclusão os itens encontrados redigidos nos idimoas português e inglês, dentre os anos de 2013 a 2023, e como parâmetros de exlusão, itens que não contextualizam com as palavras-chave, bem como não apresentam ideias ou desenvolvimento coerentes ao tema proposto.

O quadro a seguir demonstra visualmente os resultados obtidos após serem aplicados os parâmetros de inclusão e exclusão nas bases de dados mencionadas:

Base de dadosde itens relacionadosItens secionados
SciELO685
DATASUS91
OMS161
PubMED405

Fonte: Autoria própria

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A candidíase se caracteriza como uma doença infecciosa ocasionada a partir do crescimento em excesso de leveduras do gênero Candida, se destacando entre variantes existentes a Candidíase vulvovaginal, CVV, acometendo a vulva e a vagina. A espécie de maior incidência relacionada à candidíase é a Candida albicans, sendo que também são possíveis ocorrências por meio de outras espécies, tais como Candida glabrata, Candida krusei, Candida parapsilosis e Candida tropicalis. (MEDEIROS, 2022)

O desenvolvimento da CVV ocorre quando há diminuição do pH vaginal resultante do aumento de glicogênio, sobretudo no período pré-menstrual (SOBEL, 2016), sendo transmitida a partir do contato com secreções oriundas da pele, vagina, boca, incluindo possibilidade de auto-transmissão em decorrência de atrito perianal, podendo incluir também fatores de caráter comportamental, como negligência da higiene íntima, uso desregulado de medicamentos como antibióticos e anticoncepcionais (Ferrazza et al., 2015).

São empregados no tratamento antifúngicos azólicos, tais como fluconazol, tioconazol, clotrimazol e itraconazol, sendo administrados por via oral e também vaginal, ocorrendo ainda em sua grande maioria o tratamento por meio das duas vias simultaneamente, obtendo resultados acima de 80% de sucesso na cura (PEREIRA; BORGES; NEIF, 2021). No entanto, estudos recentes apontam que houve um significativo aumento nos registros de ocorrências de infecções fúngicas, bem como doenças correlatas, sendo que um dos motivos indicados para este dado são os percalços relacionados aos meios de tratamento considerados “padrão”, em que são apontados como exemplos: os efeitos colaterais decorrentes do uso das medicações supracitadas, aumento da resistência, dentre outros, o que reitera a plausibilidade da busca de meios alternativos de tratamento, que aliem eficácia, menor toxicidade e menor custo (DINIZ NETO, 2018).

Uma importante vertente de tratamento que atende aos requisitos supracitados é a medicina alternativa, que em sua essência se vale do uso de vegetais, plantas e afins, que após serem submetidos a um vasto protocolo de estudos, testes e controle de qualidade, têm em sua utilização a expansão das possibilidades de tratamento e, consequentemente, de cura dos pacientes que recorrem aos mesmos, além de reduzir significativamente a probabilidade de efeitos negativos durante o processo de tratamento. Um exemplo que se enquadra a estas definições é o óleo essencial de Melaleuca alternifólia, tendo como destaque exatamente o fato de minimizar a possibilidade de ocorrência de efeitos colaterais, bem como menor resistência aos microorganismos (SILVA et al., 2019)

Os óleos essenciais tem sua utilização praticada há muitos anos em variadas finalidades, porém, conforme supracitado, recentemente é notório o avanço dos estudos e em sua aplicação como tratamento, uma vez que os mesmos estudos comprovam os benefícios em cada vez mais tipos de doenças. (MAIA, 2020).

Em específico, estudos comprovam dentre as variáveis positivas na utilização dos óleos essenciais no tratamento da Candidíase Vulvovaginal, sobretudo versus a espécia Candida albicans – por esta figurar como a espécie de maior incidência – como de maior potencial antifúngico o Óleo essencial de Melaleuca alternifolia Cheel (OLIVEIRA; NASCIMENTO, 2019); e também Origanum vulgare L, (RAIMUNDO; TOLEDO, 2017). Para fins de contextualização entre a utilização desta variante da medicina natural, na figura dos Óleos essenciais, se destacam ainda suas propriedades antimicrobianas e antioxidante (OLIVEIRA, 2018).

Como forma de representação visual, interligando informações inerentes ao tratamento da Candidíase Vulvovaginal, tanto na forma tradicional quanto via meios alternativos, com base na revisão bibliográfica realizada, o quadro a seguir realiza comparativo em específico entre uma das medicações de maior incidência de utilização, com a utilização dos óleos essenciais, no caso a medicação em questão é o Fluconazol.

Autor Ano Foco do estudoMétodoResultados





SHARMA e HEDGE





2014




Comparação da ação do Tea Tree e Fluconazol


Comparação da atividade antifúngica do óleo essencial Melaleuca alternifolia e ação do fluconazol em mistura com um condicionador de tecido.
Trinta por cento p/ p de óleo de melaleuca foi o mais eficaz (p <0,001) sendo superior a 5% de fluconazol no Visco-gel, pois reteve atividade antifúngica substancial inclusive no dia 7, enquanto o fluconazol perdera completamente o seu antifúngico, tendo como evidência rebrota de Candida albicans.





OLIVEIRA e NASCIMENTO





2019




Análise da ação antifúngica de cinco tipos de Óleos essenciais

Ação avaliada in vitro dos seguintes tipos de Óleos essenciais: Copaifera officinalis ;Eugenia caryophylata; Melaleuca alternifolia,; Rosmarinus officinalis e Thymus vulgaris, contra fungos causadores de onicomicose.
Foi confirmado o potencial antifúngico dos Óleos essenciais testados, com destaque para os tipos: O.E. Eugenia caryophylata, Melaleuca alternifolia, Rosmarinus officinalis, e Thymus vulgaris., confirmando a ação relacionada ao crescimento microbiano de leveduras Candida albicans.

Fonte: Elaborado pelos autores

Quanto às formas de administração, assim como outros tipos de tratamento fitoterápicos, figuram entre os meios de aplicação a absorção direta por meio da pele e a inalação propriamente dita, sendo que ambos agem farmacologicamente, psicologicamente e fisiologicamente no corpo. Em específico, o óleo essencial de melaleuca pode ser administrado diretamente na pele em seu estado puro ou diluído em óleos, para o caso de peles com maior sensibilidade. (BALDOUX, 2018). São sugeridas ainda formas de administração por via vaginal, no caso por meio do uso de comprimidos, em doses entre 100mg e 300mg, por no máximo de 1 até 2 vezes ao dia.

Em relação à Candidíase vulvovaginal, especificamente, é indicado ainda o tratamento por meio do banho, adicionando o óleo essencial em gotas em água morna, em posologia média de 1 a 2 gotas para cada 100mL de água (RUTA, 2020). Além da candidíase, é comprovado a atuação positiva no tratamento de outras patologias, tais como displasias a partir do papiloma vírus humano – HPV, leucorreias e até atuação sobre problemas inerentes a troficidade na região vaginal e demais patologias relacionadas como cistos e até mesmo fibromas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como pudemos comprovar com base nas informações mencionadas neste estudo, a utilização do Óleo essencial de melaleuca no tratamento da Candidíase Vulvovaginal recorrente figura como opção viável e eficaz enquanto opção alternativa, com base na medicina natural, haja vista os resultados obtidos com a sua utilização não só atendem aos requisitos visados como otimização no tratamento, como expande sua eficácia para outros tipos de patologia, minimizando as ocorrências de efeitos indesejados ao mesmo tempo em que dispõe de variadas formas de administração de acordo com a especificidade demandada.

REFERÊNCIAS

BALDOUX, D. O Grande Manual da Aromaterapia de Dominique Baldoux. Trad.: Mayra Corrêa e Castro. Belo Horizonte. Editora Lazslo. 2018.

DA ROCHA, W. R. V. et al. Gênero candida-fatores de virulência, epidemiologia,candidíase e mecanismos de resistência. Research, Society and Development, v. 10, n. 4, 2021.

DINIZ NETO, H. AvaliaçãodaatividadeantifúngicadegeraniolsobreCandidaalbicans e Candida tropicalis isoladas de conteúdo pulmonar. Dissertação [Mestrado]. João Pessoa, UFPB, 2018. 52 f.: il.

FARJADO, A. C. S. (2015). Caracterização do microbioma humano. Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz. Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas.

MAIA, M. M. E. A actividade biológica dos óleos essenciais, sua aplicação epotencialidades. 2020. 68 f. Dissertação (Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas) – Faculdade de Farmácia, Universidade de Lisboa, Portugal, 2020.

OLIVEIRA, J. V.; NASCIMENTO, G. P. V. Ação da atividade antifúngica in vitro dos óleos essenciais de copaifera officinalis, eugenia caryophylata, melaleuca alternifolia, rosmarinus officinalis e thymus vulgaris ante os agentes causais de onicomicose. Revista Ibero-Americana de Podologia. v. 1 n. 2, 2019.

Disponível em: https://journal.iajp.com.br/index.php/IAJP/article/ view/8. Acesso em: 20/10/2023.

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PEREIRA, C. D.; BORGES, E. M. A.; NEIF, E. M. Conhecimento sobre a doençacandidiase albicans e o uso de probióticos. Revista Eletrônica Interdisciplinar, v. 13, n. 1, p. 23-32, 2021.

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SHARMA, S.; HEGDE, V. Comparative Evaluation of Antifungal Activity ofMelaleucaOilandFluconazolewhenIncorporatedinTissueConditioner:AnInVitro Study. Journal of Prosthodontics, v. 23, 2014, p. 367–373. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/ jopr.12117. Acesso em: 21/10/2023.

SILVA, D. R. et al. Os produtos naturais são uma alternativa para o tratamentoda candidíase oral? Uma revisão de ensaios clínicos. Arch Health Invest, v. 7, n. 12, 20 mar. 2019. Disponível em: URL: https://archhealthinvestigation.com.br/ArcHI/article/view/3054

SOARES, D. M. et al. Candidíase vulvovaginal: uma revisão de literatura comabordagem para Candida albicans. Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research – BJSCR, v. 25, n. 1, p. 28-34, 2018.