NUTRITIONAL APPROACH FOR PATIENTS WITH AUTISTIC SPECTRUM DISORDER
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10248171344
Mayra de Carvalho Reis[1]
Ana Beatriz Dos Santos Da Silva[2]
Anna Clara Fenato de Lisbôa[3]
Bianca Da Silva Dos Santos[4]
Gabriela dos Santos Reis Costa[5]
Gabriele de Lima Souza Knupp[6]
Jessica Maria de Souza Batista[7]
Sara de Oliveira Pereira [8]
Fernanda Ornellas Pinto da Cruz[9]
RESUMO
O autismo se trata de um tipo de Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID), caracterizado por início precoce de atrasos e desvios no desenvolvimento das habilidades sociais, comunicativas e cognitivas. O estado nutricional desses pacientes é avaliado a partir das medidas antropométricas: peso, estatura, perímetro braquial, perímetro cefálico, perímetro torácico, circunferência da cintura e dobras cutâneas, muitos deles interpretados através de percentis. A partir disso, a terapêutica nutricional é estabelecida. A presente pesquisa teve por objetivo investigar a eficácia das intervenções nutricionais e da conduta dietoterápica em pacientes portadores de autismo. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, de abordagem qualitativa e de natureza exploratória, realizada nas bases de dados SciELO, PubMed, Lilacs e Medline. Foram incluídos artigos que apresentavam evidências sólidas sobre alterações nutricionais e intervenção dietoterápica em pacientes com o Transtorno do Espectro Autista e excluídos os que não atendiam a estes critérios. A análise dos dados permitiu concluir que a questão nutricional está intimamente ligada ao transtorno do espectro autista, portanto a avaliação integral desse paciente, assistência multidisciplinar e reposição e/ou suplementação de alguns elementos podem significar melhora do prognóstico. Sendo assim, cabe ao nutricionista o enfoque alimentar, que pode apresentar sérias repercussões no quadro clínico quando não realizado da forma correta, mas com significativa melhora quando a abordagem é apropriada para um indivíduo específico, respeitando as particularidades e individualidades de cada um.
Palavras-chave: Transtorno do espectro autista. Nutrição. Abordagem terapêutica.
SUMMARY
Autism is a type of Pervasive Developmental Disorder (PDD), characterized by early onset of delays and deviations in the development of social, communicative and cognitive skills. The nutritional status of these patients is assessed based on anthropometric measurements: weight, height, upper arm circumference, head circumference, chest circumference, waist circumference and skin folds, many of which are interpreted through percentiles. From this, nutritional therapy is established. The present research aimed to investigate the effectiveness of nutritional interventions and dietary therapy in patients with autism. This is a bibliographic research, with a qualitative approach and exploratory nature, carried out in the SciELO, PubMed, Lilacs and Medline databases. Articles that presented solid evidence on nutritional changes and dietary therapy intervention in patients with Autism Spectrum Disorder were included and those that did not meet these criteria were excluded. Data analysis allowed us to conclude that the nutritional issue is closely linked to autism spectrum disorder, therefore, the comprehensive evaluation of these patients, multidisciplinary assistance and replacement and/or supplementation of some elements may mean an improvement in the prognosis. Therefore, it is up to the nutritionist to focus on food, which can have serious repercussions on the clinical picture when not carried out correctly, but with significant improvement when the approach is appropriate for a specific individual, respecting the particularities and individualities of each one.
Key-words: Autism spectrum disorder. Nutrition. Therapeutic approach.
1 INTRODUÇÃO
O autismo, classificado como Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID), é uma condição caracterizada pelo início precoce de atrasos e desvios no desenvolvimento das habilidades sociais, comunicativas e cognitivas. Essa síndrome comportamental é definida por uma interrupção dos processos normais de desenvolvimento e possui etiologias orgânicas identificadas (CARVALHO et al., 2012).
Estudos indicam uma prevalência crescente de Transtorno do Espectro Autista (TEA) em diversas populações, incluindo o Brasil, onde um estudo piloto apontou uma prevalência de 0,3% (BRASIL, 2014). Essa condição não só afeta o desenvolvimento individual das crianças, mas também impõe desafios significativos às famílias e à sociedade.
A identificação e tratamento precoces do TEA são cruciais para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e de seus cuidadores. No entanto, a prevalência elevada de obesidade entre crianças autistas, que é duas a três vezes maior em comparação com a população geral, destaca a importância de uma abordagem nutricional adequada. O estado nutricional, frequentemente comprometido pela limitação na variedade alimentar e pelos sintomas associados ao TEA, pode impactar negativamente a saúde e o bem-estar geral dos pacientes (CAETANO & GURGEL, 2018). Assim, a necessidade de uma avaliação nutricional abrangente e de intervenções apropriadas é evidente.
Esta pesquisa é relevante porque visa preencher lacunas significativas na compreensão da relação entre o TEA e o estado nutricional. A avaliação nutricional das crianças autistas, utilizando medidas antropométricas e outras técnicas, é essencial para estabelecer estratégias de intervenção eficazes (LEAL et al., 2015). A pesquisa pretende explorar como as intervenções nutricionais podem prevenir ou mitigar problemas como a obesidade infantil, promovendo a manutenção da independência funcional e a qualidade de vida dos pacientes. A abordagem multidisciplinar, envolvendo aspectos da psicologia, nutrição e outras áreas, é fundamental para o desenvolvimento de estratégias adaptadas às necessidades individuais (CAMINHA et al., 2016).
O objetivo principal deste estudo é avaliar a eficácia das intervenções nutricionais em crianças com TEA, com foco na prevenção da obesidade e na melhoria do estado nutricional geral. Pretende-se também analisar o impacto dessas intervenções na qualidade de vida dos pacientes e de suas famílias. A pesquisa busca contribuir para a formulação de diretrizes práticas e teoricamente fundamentadas para o manejo nutricional do TEA.
Portanto, considerando a complexidade do TEA e seu impacto substancial na vida das crianças e de suas famílias, esta pesquisa justifica-se pela necessidade de estratégias eficazes e fundamentadas para a intervenção nutricional. A compreensão aprofundada das necessidades nutricionais e das intervenções apropriadas poderá oferecer novos insights e práticas que beneficiem a saúde e o bem-estar dos pacientes com TEA.
2 METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa de natureza bibliográfica, com uma abordagem qualitativa e de caráter exploratória. Foi realizado um levantamento bibliográfico, através de revisões literárias em artigos científicos, protocolos, consensos, diretrizes e livros sobre a as alterações nutricionais e conduta dietoterápica em pacientes portadores de autismo. Além disso, foram coletadas informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), Ministério da Saúde (MS) e Organização Pan Americana da Saúde (OPAS). A consulta pelas publicações respeitou o recorte temporal de 2014 a 2024, a fim de obter subsídios suficientes para a pesquisa, sob as bases eletrônicas dos portais da Scientific Electronic Library Online (Scielo), Pubmed, Lilacs e Medline.
2.1 PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS
O levantamento bibliográfico foi conduzido utilizando palavras-chave e temas relacionados ao autismo e às intervenções nutricionais. Os critérios de inclusão foram definidos para garantir a relevância e a qualidade dos artigos selecionados, focando naqueles que apresentavam evidências sólidas sobre alterações nutricionais e condutas dietoterápicas em pacientes com TEA.
A análise dos dados foi realizada de forma qualitativa, com a síntese das informações obtidas para identificar padrões, lacunas e consensos na literatura existente. As informações foram agrupadas e analisadas para oferecer uma compreensão integrada dos desafios e das abordagens nutricionais no manejo do autismo.
2.2 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
Como se trata de uma pesquisa bibliográfica, não foram realizadas interações diretas com indivíduos ou coleta de dados primários. No entanto, todas as fontes e informações foram citadas corretamente para garantir a integridade acadêmica e evitar plágio.
2.3 LIMITAÇÕES DA PESQUISA
A principal limitação desta pesquisa é a dependência de fontes secundárias, o que pode limitar a aplicabilidade dos resultados em contextos específicos. Além disso, a variação na qualidade e no foco das publicações revisadas pode impactar a consistência dos dados.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 CONCEITO DO AUTISMO E DIAGNÓSTICO
O autismo é considerado um conjunto de distúrbios de neurodesenvolvimento geneticamente variantes que se expressam como uma disfunção social precoce, assim como, com comportamentos e interesses repetitivos prejudicados, que podem ser considerados estereotipias (LAI et al., 2014). Os indivíduos diagnosticados com autismo apresentam déficits cognitivos atípicos, como os atrasos de cognição e percepção social, que são prejudicados, disfunção executiva e percepção atípica, além do processamento de informações atrasado. Essas características são fortalecidas pelo neurodesenvolvimento atípico no nível dos sistemas (WEIR et al., 2022).
Além disso, o nível intelectual dos pacientes portadores de autismo é extremamente variável, estendendo-se de comprometimento profundo até níveis superiores. As características descritas se apresentam na infância e tendem a persistir pela adolescência até a fase adulta. Sendo que, na maioria dos casos, os sinais e sintomas são aparentes nos primeiros 5 anos de vida (OPAS, 2017).
Atrelado a isso, a Organização pan-Americana da Saúde (2017) afirma que os indivíduos portadores do TEA frequentemente apresentam outras condições neurológicas associadas, como: epilepsia, depressão, ansiedade e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
De acordo com Dias et al. (2018), a etiologia do TEA, em muitos casos, é desconhecida e imprecisa, sendo que a maioria possui ainda origem idiopática. Evidências sugerem que haja um conjunto de múltiplos genes defeituosos e fatores ambientais desempenhando uma ação catalisadora. Portanto, acredita-se que o mecanismo envolve fatores genéticos, epigenéticos e fatores ambientais. Além disso, alterações nos hábitos alimentares e distúrbios do trato gastrointestinal (TGI) também interferem diretamente na etiologia e sintomatologia do quadro, podendo impactar prejudicialmente ou auxiliar no equilíbrio funcional do organismo (CUPERTINO et al., 2019).
Quanto aos sintomas, pode-se dizer que são bastante heterogêneos e podem interferir na interação social, comunicação e comportamento; e levar a um retardo mental ou até mesmo um rendimento intelectual acima da média. As disfunções e sintomas gastrointestinais são também uma queixa frequente, porém o melhor tratamento ainda é um desafio para a equipe médica. Além de gerarem um grande impacto na vida social do indivíduo, esses sintomas também afetam consideravelmente sua família, que necessita de adaptação às necessidades e peculiaridades da doença (DIAS et al., 2018).
Devido a essa gama de características o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais quarta edição (DSM-IV) subdivide o TEA em cinco grupos distintos: I- transtorno autista (autismo clássico); II-Síndrome de Asperger (desenvolvimento da linguagem na idade esperada e nenhum retardo mental); III- transtorno desintegrativo (regressão comportamental, cognitiva e da linguagem entre as idades de 2 e 10 anos após o desenvolvimento inicial inteiramente normal, incluindo a linguagem); IV- TGD – transtorno global do desenvolvimento – não especificado (indivíduos que têm características autistas e não se adaptam a qualquer dos outros subtipos); e V- Síndrome de Rett (distúrbio genético do desenvolvimento do cérebro pós-natal, causada por um defeito de um único gene que afeta predominantemente meninas) (SANTOS et al., 2016).
Entretanto, o Código Internacional de Doença (CID-10) divide o TEA da seguinte forma: transtornos globais do desenvolvimento (TGD); autismo infantil; autismo atípico; Síndrome de Rett; outro transtorno desintegrativo da infância; transtorno com hipercinesia associada a retardo mental e a movimentos estereotipados; Síndrome de Asperger; outros transtornos globais do desenvolvimento; e transtornos globais não especificados do desenvolvimento (INSTITUTO INCLUSÃO BRASIL, 2019).
O recente CID-11 estabeleceu critérios diagnósticos do TEA semelhantes ao DSM-V. As mudanças no diagnóstico incluíram a remoção de outras condições como a Síndrome de Asperger e o Distúrbio Pervasivo de Desenvolvimento Sem Outra Especificação e a criação de um domínio amplo denominado Transtorno do Espectro Autista (TEA). O novo sistema diagnóstico também propõe o agrupamento dos critérios relacionados à comunicação e à sociabilidade em uma única categoria e a inclusão de sintomas sensoriais (INSTITUTO INCLUSÃO BRASIL, 2019).
Sendo assim, o CID-11 apresenta a seguinte classificação: Transtorno do Espectro do Autismo (TEA); Transtorno do Espectro do Autismo sem deficiência intelectual (DI) e com comprometimento leve ou ausente da linguagem funcional; Transtorno do Espectro do Autismo com deficiência intelectual (DI) e com comprometimento leve ou ausente da linguagem funcional; Transtorno do Espectro do Autismo sem deficiência intelectual (DI) e com linguagem funcional prejudicada; Transtorno do Espectro do Autismo com deficiência intelectual (DI) e com linguagem funcional prejudicada; Transtorno do Espectro do Autismo sem deficiência intelectual (DI) e com ausência de linguagem funcional; Transtorno do Espectro do Autismo com deficiência intelectual (DI) e com ausência de linguagem funcional; Outro Transtorno do Espectro do Autismo especificado; Transtorno do Espectro do Autismo, não especificado (INSTITUTO INCLUSÃO BRASIL, 2019).
Os principais exames utilizados na avaliação neurológica do encéfalo de crianças autistas são Ressonância Magnética e a Tomografia Computadorizada, onde esses exames contribuem para uma melhor compreensão das relações entre o encéfalo e o comportamento durante o desenvolvimento infantil normal e anormal das crianças autistas (GOMES et al., 2018).
3.2 EPIDEMIOLOGIA
De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (2017), estima-se que, em todo mundo, uma em cada 160 crianças tem transtorno do espectro autista. Essa estimativa representa um valor médio e a prevalência relatada varia substancialmente em outros estudos, alguns, inclusive, apresentam números significativamente mais elevados. Quanto aos países de baixa e média renda, a prevalência de TEA é desconhecida.
Estudos familiares e em gêmeos demonstram um risco aumentado de recorrência do autismo de aproximadamente 3 a 8% em famílias com uma criança autista e concordância para o diagnóstico de autismo em gêmeos monozigóticos de pelo menos 60% se forem usados critérios estritos para autismo, de 71% para Transtornos do Espectro Autista e de até 92% para um espectro mais amplo de distúrbios de linguagem/socialização (COUTINHO & BOSSO, 2016).
Muitos estudos epidemiológicos feitos de 50 anos atrás até a presente data mostram que o TEA vem aumentando globalmente. Uma das explicações para tal fato é a possibilidade do diagnóstico, entendendo que anteriormente muitos casos ficavam desconhecidos. Sendo assim, o aumento da conscientização sobre a doença, a expansão dos critérios diagnósticos, melhores ferramentas de diagnóstico e o aprimoramento das informações reportadas permitiram o aumento de casos conhecidos da doença (OPAS, 2017).
3.3 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DO PACIENTE AUTISTA
Diante da etiologia complexa do transtorno do espectro autista e considerando o maior risco dessas crianças desenvolverem desvios nutricionais, a avaliação do perfil dos alimentos consumidos por elas, bem como sua associação ao estado nutricional, constitui-se em uma ferramenta de diagnóstico e prevenção de agravos a saúde. Essa avaliação permite a implementação de estratégias multidisciplinares específicas, a fim de promover atenção integral à saúde dessa população (ALMEIDA et al., 2018).
Os pacientes portadores de TEA apresentam, entre outros sintomas, problemas com a alimentação relacionados à mastigação, apetite ausente ou excessivamente voraz, bem como particularidades em relação à comida, como exigências de certos tipos de alimento, temperatura, entre outros (BRASIL, 2014).
Dependendo da gravidade, pessoas com distúrbios neuropsicológicos podem apresentar uma dificuldade na alimentação, prejudicando a saúde como qualquer pessoa normal quando não supre diariamente os nutrientes. Na maioria das vezes, o momento da refeição é culminado com choro, agitação e agressividade por parte do autista e um desgaste emocional por parte do cuidador. Crianças autistas têm padrão alimentar e estilo de vida diferentes das crianças não autistas, comprometendo seu crescimento corporal e estado nutricional (GOMES et al., 2018).
Quando realizada a avaliação nutricional desse paciente, a seletividade alimentar é a preocupação mais comum em virtude da sua repercussão negativa no estado nutricional e no crescimento (ALMEIDA et al., 2018). Além disso, a recusa alimentar, que pode levar a um quadro de desnutrição calórico-proteica e a indisciplina alimentar também contribuem para a inadequação alimentar. Portanto, deve-se ter cautela ao deixar as crianças autistas ingerir alimentos que não sejam saudáveis, devendo ser evitados (LEAL et al., 2015).
Portanto, deve-se ter atenção à ingestão de alimentos não saudáveis, assim como à restrição e monotonia alimentar dessas crianças a fim de evitar a ocorrência de deficiências nutricionais. As deficiências mais comuns nesse grupo são as de cálcio, zinco, magnésio, antioxidantes e ômega, além de excesso de cobre. Por isso, o planejamento e cuidado com a alimentação dessas crianças devem ser redobrados, a fim de garantir-lhes uma boa nutrição (ALMEIDA et al., 2018).
Quanto mais o alimento é processado, mais quimicamente alterado e com menos nutrientes eles ficam. Além de perder o seu valor nutricional, alimentos processados perdem as suas principais características de sabor e cor. Todos os cereais matinais, biscoitos, pães, massas, chocolates, doces, geleias, açúcares, frutas em calda, alimentos pré-cozidos cheios de misturas, são carboidratos altamente processados, que têm efeito nocivo na flora intestinal uma vez que alimentam as bactérias patogênicas e os fungos no intestino, promovendo o seu crescimento e proliferação (GOMES et al., 2018).
Em estudo realizado por Caetano & Gurgel (2018), foram analisadas 26 crianças, com idade entre 3 e 10 anos, diagnosticados com TEA, de ambos os sexos, atendidas no município de Limoeiro do Norte, Ceará. Os resultados para ingestão de carboidrato (57,69%) e proteínas (88,46%) se encontravam adequados, já os números sobre o consumo de lipídios estavam abaixo do recomendado (65%). Entretanto, os resultados encontrados para o consumo de energia (EER) estão acima do recomendado para 14 dos participantes da pesquisa (53,85%) (CAETANO & GURGEL, 2018).
Nesta mesma pesquisa, entre os minerais, identificou-se uma possível inadequação no consumo de cálcio (50%) e sódio (69,23%). O magnésio obteve resultado possivelmente nocivo (57,69%). Já para o fósforo, ferro e potássio, foram encontraram resultados possivelmente adequados, com 80,77%, 88,46% e 100% respectivamente (CAETANO & GURGEL, 2018).
3.4 TRATAMENTOS ALTERNATIVOS E FARMACOLÓGICOS
Uma vez que o espectro do autismo se estende desde aqueles que nem conseguem falar aos dotados de habilidades geniais, é necessário criar um sistema de comunicação em que participe especialistas de diversas áreas, tais como: psicologia, fonoaudiologia, fisioterapia e terapia ocupacional, além de psiquiatria e neuropediatra; familiarizados com o problema. A intervenção multidisciplinar se destaca por possibilitar, significativamente, a melhora na qualidade de vida do autista, respeitando o nível de desenvolvimento e particularidades de cada criança. Este tratamento consiste na orientação da família e no desenvolvimento da linguagem e comunicação da criança autista (LOCATELLI & SANTOS, 2016).
Quando os sintomas incapacitam o desenvolvimento do indivíduo e o impedem de realizar outras terapias de maneira satisfatória, como por exemplo as educacionais e comportamentais, se torna indispensável o uso de medicamentos que tenham como alvo sintomas específicos. Essas medicações são uma opção para amenizar comportamentos consideráveis indesejáveis (LEITE et al., 2015).
Entretanto, vale ressaltar que a abordagem medicamentosa não deve se constituir como a única abordagem terapêutica, mas deve ser parte de um programa abrangente de tratamento a ser realizado por uma equipe multiprofissional, pois nem todos os portadores do transtorno necessitam de medicamentos (ALMEIDA, LIMA & BARROS, 2019).
Os fármacos utilizados não produzem melhoras nas características centrais que incluem as dificuldades de comunicação, sociais, os interesses e limitações, eles apenas atuam em certos sintomas que prejudicam intensamente a convivência da criança com autismo, agindo nas condutas agressivas, na inquietude, raiva, descontrole e sono (BRASIL, 2015).
Diante dos medicamentos utilizados, apesar de necessários, enfatiza-se que trazem inúmeros efeitos colaterais e podem ocasionar dependência. Dentre as reações adversas, os autores citam: vômito, cefaleia e edema. Também enfatizam que as falhas terapêuticas neste processo se devem principalmente a dosagem inadequada, falta de adesão e duração insuficiente do tratamento (ALMEIDA, LIMA & BARROS, 2019).
De acordo com Silva (2016), a olanzapina e a risperidona, quando usadas a longo prazo, apresentam efeitos endócrino-metabólicos, tais como ganho de peso, hiperglicemia, diabetes mellitus e alterações do perfil lipídico, podendo até levar a síndrome metabólica, que inclui: aumento da circunferência da cintura, dos níveis lipídicos e alterações do metabolismo da glicose, e em alguns casos, a elevação da pressão arterial.
Já a ritalina pode estar associada à diminuição do apetite em crianças, o que resulta, frequentemente, num atraso no crescimento e menor aumento de peso (CAMPOS & SOUSA, 2015).
3.5 CONDUTA NUTRICIONAL DO PACIENTE AUTISTA
Diversos tratamentos são sugeridos e muitos devem ser integrados a fim de ajudar e melhorar a qualidade de vida do paciente portador de TEA. Das condutas relevantes, pode-se citar a nutrição, imunomoduladores, desintoxicação, musicoterapia, hipismo, oxigenação com balão hiperbárico, etc. A questão nutricional, propriamente dita, engloba dieta sem glúten e/ou sem caseína, suplementação vitamínica, suplementação de magnésio e utilização de ácidos graxos (DIAS et al., 2018).
De acordo com Dias et al. (2018), o TEA pode ser secundário à digestão incompleta de alimentos contendo glúten e caseína, que ficam em excesso no trato gastrointestinal (TGI), passam para a corrente sanguínea e, posteriormente, atingem o sistema nervoso central (SNC). Nesse momento, as substâncias mencionadas se ligam a neuroceptores opioides exacerbando e perturbando a atividade neural, levando os sintomas da doença.
Segundo pesquisa realizada por Cupertino et al. (2019), o eixo intestino-cérebro é um importante fator associado tanto na etiologia, quanto nas manifestações clínicas do TEA. Entretanto, a relação causa-consequência não está bem estabelecida, ou seja, não se sabe ao certo se as alterações intestinais são a causa ou a consequência das alterações neurológicas. Sendo assim, a dieta restritiva com tratamento para o autismo poderia favorecer apenas um subgrupo de pacientes e não interferir no efeito em outros, no entanto, não foram encontrados efeitos maléficos da dieta restritiva.
Nesse contexto, vale ressaltar que a microbiota intestinal é, por definição, o conjunto de microrganismos (não só bactérias) que povoam o trato gastrointestinal (TGI) humano e que, em condições normais, não nos causam doenças (SILVA, 2019).
Já os probióticos são microrganismos vivos que podem ser encontrados em diversas formas farmacêuticas, incluindo alimentos derivados de leite e fermentados como iogurtes. Os germes contidos nos fármacos probióticos podem ser variados, sendo os mais comuns as bactérias produtoras de ácido lático como Lactobacillus sp e Bifidobacterium sp e leveduras do gênero Saccharomyces (especialmente, S. boulardii) (SILVA, 2019).
Com isso, o uso das dietas propostas, juntamente com a modulação da microbiota, pelo uso de probióticos e de antibióticos específicos são terapias que surgiram como uma possibilidade terapêutica promissora, mas até o presente momento não oferecem suporte científico com resultados consistentes pela comunidade científica, que possibilitem indicação terapêutica ao indivíduo portador do TEA (CUPERTINO et al., 2019).
A reposição de zinco pode trazer benefícios, entretanto mais estudos precisam comprovar esse dado. A função do zinco é modular os receptores GABA e glutamato que equilibram a transmissão sináptica inibitória e excitatória. Sendo assim, efeitos benéficos podem estar relacionados ao seu uso (MENEZES & SANTOS, 2017).
Quanto à vitamina D, sabe-se que a função é de sinalização neurotrófica através do equilíbrio do fator de crescimento das células gliais, que modula a função dos neurônios dopaminérgicos; e do fator de crescimento neural (NGF), que modula os neurônios colinérgicos. Dessa maneira, a reposição de vitamina D é capaz de minimizar a redução dos níveis de serotonina e dopamina. Além disso, os níveis diminuídos de vitamina D podem aumentar os quadros infecciosos e surgimento de doenças autoimunes (MENEZES & SANTOS, 2017).
Já os ômegas 3 e 6 agem desempenhando papeis importantíssimos no organismo na reação às alergias e inflamações, além de reduzir danos vasculares, reduzir colesterol total, evitar formação de coágulos e aterosclerose. Dessa forma, a reposição desses elementos também se mostra relevante (MENEZES & SANTOS, 2017).
Conforme cita Al Ghamdi & AlMusailhi (2024), se os indivíduos autistas, especialmente as crianças, forem deixadas sem intervenção terapêutica correta, os mesmos podem ser lesados em todos os aspectos de melhora de qualidade de vida. Tendo em vista esse achado, é proposto que os profissionais de saúde e os membros da sociedade voltem sua atenção a realização de pesquisas e apoio para a população portadora de TEA.
4 CONCLUSÃO
A metodologia adotada permitiu uma análise abrangente e detalhada do estado atual das pesquisas sobre o impacto das intervenções nutricionais em pacientes com autismo. Os dados coletados e analisados fornecem uma base sólida para a compreensão das práticas atuais e das necessidades futuras na área.
A análise dos dados permitiu concluir que a questão nutricional está intimamente ligada ao transtorno do espectro autista, portanto a avaliação integral desse paciente, a assistência multidisciplinar e a reposição e/ou suplementação de alguns elementos podem significar melhora do prognóstico.
A avaliação nutricional do paciente com TEA constitui uma importante ferramenta para o diagnóstico e prevenção de agravos à saúde. Sua execução deve abordar pesquisa da ingestão de alimentos não saudáveis e a seletividade, recusa e monotonia alimentares. Além disso, a intervenção multidisciplinar apresenta significativa possibilidade de melhora na qualidade de vida do autista, respeitando o nível de desenvolvimento e particularidades de cada criança.
Sendo assim, a terapêutica medicamentosa deve ser cuidadosamente avaliada pelo médico e quando necessária, sempre ser adicionada às terapias alternativas com outros profissionais da área da saúde como psicólogos, fonoaudiólogos, nutricionistas, médicos, enfermeiros, entre outros.
Em relação à intervenção nutricional do paciente autista, deve ser contemplado pelo nutricionista algumas restrições alimentares e algumas suplementações. A dieta sem caseína e sem glúten pode apresentar melhoras significativas em alguns pacientes, entretanto a avaliação deve ser individualizada e personalizada para cada um. Já a reposição de elementos pode abranger o zinco, ácido fólico, vitamina D e ômegas 3 e 6; que oferecem otimização das respostas anti-inflamatórias, redução de quadros infecciosos, melhoria na modulação neuronal, entre outros.
Dessa maneira, a avaliação sistemática atrelada à abordagem terapêutica multiprofissional oferece inúmeros benefícios ao paciente. Entretanto, cabe ao nutricionista o enfoque alimentar, que pode apresenta sérias repercussões no quadro clínico quando não realizado da forma correta, mas com significativa melhora quando a abordagem é apropriada para um indivíduo específico, respeitando as particularidades e individualidades de cada um.
Além disso, os profissionais de saúde e os membros da sociedade são responsáveis pelo desenvolvimento de novas pesquisas para o tratamento dessa população, além de incentivar o custeio e a continuidade dos tratamentos, para que haja o melhor cenário prognóstico da patologia.
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[1] Graduada pelo Centro Universitário Augusto Motta (Unisuam), Pós graduada em Nutrição Clínica, email: mayrareisnut@gmail.com
[2] Discente de nutrição pela Universidade Federal do Maranhão, email: ana.santos2@discente.ufma.br
[3] Graduada em Nutrição pela Universidade Evangélica de Goiás, Pós-Graduada em Nutrição Clínica pela Faculdade IPGS, email: anafenato@hotmail.com
[4] Graduada em Nutrição pelo Centro Universitário Augusto Motta – Unisuam, email: biancasantos.mg@hotmail.com
[5] Graduada pela Universidade da Amazônia – UNAMA, email: gabrielareisc@hotmail.com
[6] Graduada pela universidade Salgado de Oliveira, Pós graduada em Nutrição Clínica, email: gabrielesouzza07@gmail.com
[7] Graduada pela Universidade Paulista UNIP, Aprimoramento em Metabolismo e Obesidade – USP, Aprimoramento em Saúde mental e Atenção psicossocial de adolescentes e jovens – FIOCRUZ, email: jessica.mariasouza@hotmail.com
[8] Graduada em Nutrição pelo Centro Universitário Augusto Motta – Unisuam, email: contatonutrisara@gmail.com
[9] Orientador: Graduada em nutrição pela UERJ, Doutora e pós-doutora em Ciências pela UERJ, email: cruz.fop@gmail.com