ABORDAGEM MULTIPROFISSIONAL EM PACIENTES COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA): UMA REVISÃO NARRATIVA

MULTIDISCIPLINARY APPROACH IN AUTISM SPECTRUM DISORDER PATIENTS: A NARRATIVE REVIEW 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10049274


Maria Eduarda Paes Mariano1
Mirella Martins2
Ariana Centa3
Gustavo Colombo Dal Pont4


Resumo: O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é classificado como um transtorno do neurodesenvolvimento, no qual o indivíduo apresenta déficits na comunicação e interação social. As manifestações clínicas do TEA são diversas, dependendo dos níveis de gravidade de cada indivíduo, sendo que não possui nenhum marcador biológico específico para identificação, dificultando o diagnóstico e os devidos tratamentos. Com o presente estudo, objetivou-se definir o TEA e descrever sua fisiopatologia, sinais clínicos, diagnóstico e tratamento, além de abordar e a importância de uma equipe multiprofissional para o desenvolvimento dos pacientes acometidos pelo transtorno através de uma revisão de literatura narrativa. A busca foi realizada nas bases de dados PubMed, BVS e SCIELO, sendo selecionados aproximadamente 60 estudos. O presente estudo evidenciou que o TEA não possui uma fisiopatologia bem definida e contém diversas formas de manifestações clínicas, dificultando no momento do diagnóstico. A escolha do tratamento terapêutico deve ser baseada em terapias de reabilitação conforme a necessidade de cada indivíduo, sendo que o acompanhamento com uma equipe multiprofissional é essencial para o melhorar desenvolvimento dos indivíduos com TEA. Sendo assim, é importante conhecer sobre as manifestações clínicas, classificações, diagnóstico e tratamentos do TEA, demonstrando a necessidade de que haja mais incentivo em pesquisas sobre o tema e a abordagem multiprofissional, auxiliando na formação de profissionais qualificados e aptos para o diagnóstico precoce e acompanhamento adequado.

Palavras-chaves: Transtorno do Espectro Autista. Desenvolvimento e diagnóstico do TEA. Equipe Multidisciplinar.

Abstract:  Autism Spectrum Disorder (ASD) is classified as a neurodevelopmental disorder, in which the individual presents deficits in communication and social interaction. The clinical manifestations of ASD are diverse, depending on the severity levels of each individual, and there is no specific biological marker for identification, making diagnosis and appropriate treatments difficult. The present study aimed to define ASD and describe its pathophysiology, clinical signs, diagnosis and treatment, in addition to addressing the importance of a multidisciplinary team for the development of patients affected by the disorder through a narrative literature review. The search was carried out in the PubMed, BVS and SCIELO databases, with approximately 60 studies selected. The present study showed that ASD does not have a well-defined pathophysiology and contains different forms of clinical manifestations, making diagnosis difficult. The choice of therapeutic treatment must be based on rehabilitation therapies according to the needs of each individual, and monitoring with a multidisciplinary team is essential to improve the development of individuals with ASD. Therefore, it is important to know about the clinical manifestations, classifications, diagnosis and treatments of ASD, demonstrating the need for more encouragement in research on the subject and the multidisciplinary approach, helping to train qualified professionals capable of early diagnosis and adequate monitoring.

Keywords: Autism Spectrum Disorder. Development and diagnosis of TEA. Multidisciplinary Team.

Introdução 

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) classifica-se, segundo a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais Texto Revisado (DSM-5TR) (2023), como um transtorno do neurodesenvolvimento, onde o indivíduo apresenta déficits persistentes na comunicação.

As manifestações clínicas do TEA geralmente surgem antes dos dois anos de idade e o quadro clínico da criança pode diferenciar-se em níveis de gravidade, dificultando o diagnóstico nesta etapa inicial. Entretanto, apesar de todos os avanços em estudos, muitos pacientes continuam sem um diagnóstico ou com diagnósticos inadequados no decorrer da vida, pela falta de capacitação e conhecimento profissional (STEFFEN et al., 2020). 

O TEA caracteriza-se por déficits na comunicação e interação social, resultando em padrões repetitivos e restritos de interesses, comportamentos e atividades (APA, 2023). Sendo assim, necessita de uma avaliação inicial através de uma equipe multidisciplinar, para estabelecer um diagnóstico e um planejamento a ser realizado (COSTA et al., 2021).

Dessa maneira, a equipe multiprofissional é de suma importância no acompanhamento do paciente autista, haja vista a realização de trabalhos em conjunto para atingir metas que propõem um melhor desenvolvimento cognitivo e social do indivíduo com TEA. A necessidade de acompanhamento da equipe varia de acordo com a demanda de cada um, sendo necessário o trabalho multiprofissional desde o primeiro contato com o paciente (COSTA et al., 2021).

Nesse contexto, objetiva-se definir o TEA e, descrever sua fisiopatologia, sinais clínicos, diagnóstico, tratamento e a importância da abordagem de uma equipe multiprofissional para o desenvolvimento dos pacientes acometidos pelo transtorno.

Metodologia 

Trata-se de uma revisão de literatura narrativa sobre o TEA, abordando aspectos históricos, desenvolvimento e diagnóstico, papel da família, equipe multiprofissional, metodologia ABA, políticas públicas e a AMA no Brasil. Para a identificação de estudos sobre o tema, foram utilizadas as bases de busca PubMed (U.S. National Library of Medicine), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e SCIELO (Scientific Electronic Library Online), utilizando os descritores  “autismo”, “manifestações clínicas”, “diagnóstico e tratamento” e “equipe multiprofissional”, nos idiomas português e inglês, combinados pelos operadores booleanos “AND” e “OR”. Foram incluídos estudos publicados na íntegra, nos idiomas português e inglês, que abordassem o tema de pesquisa. A coleta de dados ocorreu durante os meses de fevereiro a junho de 2023, e resultou na seleção de aproximadamente 60 estudos.

Transtorno do Espectro Autista e Perspectiva Histórica

O termo autismo, derivado do grego autós (de si mesmo), foi introduzido na literatura médica pelo psiquiatra Eugen Bleuler, em 1911. Esse termo referia-se ao isolamento e a fuga da realidade apresentados por pacientes com diagnóstico de demência precoce. Porém, o termo demência foi substituído por esquizofrenia (esquizo divisão e phrenia mente) (CÔRTES; ALBUQUERQUE, 2020).

Em 1943, o termo esquizofrenia foi reformulado para descrever os sintomas de isolamento social e problemas linguísticos em crianças (KANNER, 1943). Em 1944, Hans Asperger identificou crianças com isolamento que não tinham as anormalidades linguísticas típicas de crianças que seriam consideradas autistas atualmente, levando ao diagnóstico de um novo transtorno, conhecido como “Síndrome de Asperger” (HIPPLER; KLICPERA, 2003; SHARMA et al., 2018).

A primeira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM), no ano de 1952, trouxe o conceito de autismo pela primeira vez, entretanto, relacionava os sintomas de autismo e de esquizofrenia como uma mesma doença. Somente em 1980, com a publicação da 3ª edição do DSM (DSM-3), houve alteração no conceito, trazendo autismo e esquizofrenia como patologias diferentes. Já na sua 4ª edição, o DSM-4 (1994), trouxe o autismo como uma tríade de dificuldades, sendo elas: comunicação, interesses restritos e repetitivos, e a socialização (SANCHES; TAVEIRA, 2020).

Em 1980, muitos autores deixaram de considerar o autismo como um quadro de psicose. De acordo com Gauderer (1997), o autismo se deve a algum tipo de comprometimento cerebral – transtorno comportamental e emocional, não tendo origem psicogênica (SANCHES; TAVEIRA, 2020).

Sendo assim, o TEA fica conhecido como um transtorno do neurodesenvolvimento infantil, em que o indivíduo apresenta déficits persistentes na comunicação (APA, 2013). Conforme caracterizado no DSM-5 (2013), pode-se dizer que o indivíduo poderá apresentar déficits relacionados a reciprocidade socioemocional, interação social, entre outros. Todavia, esses sintomas podem ser mascarados, tornando o autismo de difícil diagnóstico (APA, 2014). 

Atualmente, o autismo é diagnosticado por meio de testes comportamentais padronizados, geralmente em crianças, nas idades entre dois e quatro anos. A maioria dessas crianças com TEA não fixam o olhar, sendo consideradas crianças atípicas. Ao contrário das chamadas crianças típicas, ou mesmo das crianças nascidas com outras deficiências, a criança com TEA parece viver em um mundo diferente (APA, 2014).

Desenvolvimento e diagnóstico do TEA

As manifestações clínicas do TEA surgem geralmente antes dos dois anos de idade, e o quadro clínico varia em termos de níveis de gravidade. Isto pode confundir o diagnóstico correto e imediato, pois o autismo infantil é baseado principalmente no quadro clínico do paciente, não tendo marcadores biológicos específicos (STEFFEN et al., 2020). Os critérios para diagnóstico do TEA encontram-se no DSM-5, conforme quadro 1:

Quadro 1: Critérios para diagnóstico do TEA.

Transtorno do Espectro Autista
A. Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, conforme manifestado por tudo o que segue, atualmente ou por história prévia (os exemplos são apenas ilustrativos, e não exaustivos; ver o texto):

1. Déficits na reciprocidade socioemocional, variando, por exemplo, de abordagem social anormal e dificuldade para estabelecer uma conversa normal a compartilhamento reduzido de interesses, emoções ou afeto, a dificuldade para iniciar ou responder a interações sociais.

2. Déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para interação social, variando, por exemplo, de comunicação verbal e não verbal pouco integrada a anormalidade no contato visual e linguagem corporal ou déficits na compreensão e uso gestos, a ausência total de expressões faciais e comunicação não verbal.

3. Déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, variando, por exemplo, de dificuldade em ajustar o comportamento para se adequar a contextos sociais diversos a dificuldade em compartilhar brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos, a ausência de interesse por pares.

Especificar a gravidade atual:

A gravidade baseia-se em prejuízos na comunicação social e em padrões de comportamento restritos e repetitivos.

B. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, conforme manifestado por pelo menos dois dos seguintes, atualmente ou por história prévia (os exemplos são apenas ilustrativos, e não exaustivos; ver o texto):

1. Movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos (p. ex., estereotipias motoras simples, alinhar brinquedos ou girar objetos, ecolalia, frases idiossincráticas).

2. Insistência nas mesmas coisas, adesão inflexível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal (p. ex., sofrimento extremo em relação a pequenas mudanças, dificuldades com transições, padrões rígidos de pensamento, rituais de saudação, necessidade de fazer o mesmo caminho ou ingerir os mesmos alimentos diariamente).

3. Interesses fixos e altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco (p. ex., forte apego a ou preocupação com objetos incomuns, interesses excessivamente circunscritos ou perseverativos).

4. Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente (p. ex., indiferença aparente a dor/temperatura, reação contrária a sons ou texturas específicas, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, fascinação visual por luzes ou movimento).

Especificar a gravidade atual:

A gravidade baseia-se em prejuízos na comunicação social e em padrões restritos ou repetitivos de comportamento.

C. Os sintomas devem estar presentes precocemente no período do desenvolvimento (mas podem não se tornar plenamente manifestos até que as demandas sociais excedam as capacidades limitadas ou podem ser mascarados por estratégias aprendidas mais tarde na vida).

D. Os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo no presente.

E. Essas perturbações não são mais bem explicadas por deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou por atraso global do desenvolvimento. Deficiência intelectual ou transtorno do espectro autista costumam ser comórbidos; para fazer o diagnóstico da comorbidade de transtorno do espectro autista e deficiência intelectual, a comunicação social deve estar abaixo do esperado para o nível geral do desenvolvimento.

Nota: Indivíduos com um diagnóstico do DSM-IV bem estabelecido de transtorno autista, transtorno de Asperger ou transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação devem receber o diagnóstico de transtorno do espectro autista. Indivíduos com déficits acentuados na comunicação social, cujos sintomas, porém, não atendam, de outra forma, critérios de transtorno do espectro autista, devem ser avaliados em relação a transtorno da comunicação social (pragmática).

Especificar se:

Com ou sem comprometimento intelectual concomitante

Com ou sem comprometimento da linguagem concomitante

Associado a alguma condição médica ou genética conhecida ou a fator ambiental
(Nota para codificação: Usar código adicional para identificar a condição médica ou genética associada.)

Associado a outro transtorno do neurodesenvolvimento, mental ou comportamental
(Nota para codificação: Usar código[s] adicional[is] para identificar o[s] transtorno[s] do neurodesenvolvimento, mental ou comportamental associado[s].)

Com catatonia (consultar os critérios para definição de catatonia associada a outro transtorno mental) (Nota para codificação: usar o código adicional 293.89 [F06.1] de catatonia associada a transtorno do espectro autista para indicar a presença de catatonia comórbida.) 
Fonte: APA, 2013.

Nos últimos anos, a necessidade de compreender as causas do desenvolvimento do TEA teve maior relevância e o tema passou a ser mais estudado. Um estudo populacional, realizado com 2 milhões de indivíduos, demonstrou que o transtorno é majoritariamente genético, porém fatores ambientais também estão relacionados com seu desenvolvimento (BAI et al., 2019).

O cérebro do indivíduo com TEA irá se apresentar de maneira atípica, ou seja, o nível de funcionamento relacionado às conexões e organizações cerebrais ficam desalinhadas, fazendo com que haja um desequilíbrio nos sistemas inibitórios e excitatórios (KERCHES, 2022). Além disso, estudos mostraram que neurotransmissores como a noradrenalina, dopamina e serotonina, apresentam comprometimento em seu funcionamento, resultando em um déficit na propagação de informações e aprendizados. Os déficits nessas funções, podem estar relacionados ao lobo frontal, resultando em uma dificuldade do indivíduo para o planejamento de tarefas, controle de ações, além de dificuldade para resolução de seus próprios problemas (SILVA et al., 2012).

Outros aspectos, que vêm sendo estudados para compreender melhor o TEA, estão relacionados com a idade paterna maior que 45 anos, doenças ou intercorrências durante a gestação, síndromes genéticas, irmãos com autismo, prematuridade ou baixo peso ao nascer. Esses fatores estão presentes em grande parte dos casos de TEA (KERCHES, 2022).

Apesar de todos os avanços em estudos, muitos pacientes (principalmente crianças) continuam sem um diagnóstico, ou com diagnósticos inadequados, pela falta de capacitação e de conhecimento profissional. Assim, os profissionais da saúde e da educação que possuem foco na infância, devem estar preparados para defrontar-se com casos de autismo nas suas práticas diárias. Sendo assim, é de suma importância o conhecimento do tema para identificar sinais sugestivos para diagnóstico e intervenção precoce (STEFFEN et al., 2020). 

O papel da família no TEA

Famílias com filhos autistas entram em conflitos internos após receberem o diagnóstico, muitas vezes pela falta de conhecimento, fazendo com que passem por uma sequência de estágios, entre eles: negação, luto, perguntas e inúmeros conflitos familiares até a aceitação do diagnóstico (BUENO et al., 2020). 

Levando em consideração o grande impacto que a notícia pode causar na base familiar, torna-se fundamental planejar a forma como será repassado o diagnóstico para a família, com o intuito de esclarecer dúvidas e fornecer informações a respeito de uma melhor conduta. Ademais, os tutores sentem uma maior dificuldade em educar e inserir indivíduos com TEA em meio social, pois não conhecem com precisão a forma do desenvolvimento cerebral do seu filho, e possuem maior dificuldade para se portarem diante de episódios de crises do transtorno – resultando em um fator estressor para a família (KERCHES, 2022).

Em virtude da particularidade de cada caso de TEA, deve-se citar que o diagnóstico resulta em uma mudança de prioridades familiares, sendo assim, o desenvolvimento familiar depende da qualidade dos serviços de saúde, da rede de apoio, recursos econômicos e particularidades de cada família (SEMENSATO et al., 2010; SEMENSATO; BOSA 2013). 

Visando o tratamento individualizado de cada paciente, em 2013, o Ministério da Educação publicou diretrizes para o atendimento e reabilitação de pessoas com TEA. Entre as principais estratégias, pode-se citar o estímulo à inserção do indivíduo com TEA no mercado de trabalho, incentivo à formação e à capacitação dos profissionais especializados no atendimento ao paciente com esse diagnóstico, bem como orientação dos pais e responsáveis. Entre outros objetivos que visam a um atendimento Educacional Especializado, continuidade da escolarização nos níveis mais elevados de ensino, formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão escolar e principalmente a participação da família e da comunidade (BRASIL, 2013).

Equipe multiprofissional e TEA 

As terapias para o TEA envolvem diversos profissionais como neurologistas, psiquiatras, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicopedagogas, nutricionistas, assistentes sociais e educadores físicos. Todos esses profissionais são essenciais no desenvolvimento físico e social, promovendo um atendimento individual e em equipe (BEZERRA; RUIZ, 2018). A intervenção multidisciplinar possibilita uma melhora na qualidade de vida do paciente, respeitando o nível de desenvolvimento e particularidades de cada um (DE PAULA et al., 2019).

Essa equipe é de suma importância no acompanhamento do paciente com TEA, pelo fato de que trabalham em conjunto com metas que propõem um melhor desenvolvimento, interação e qualidade de vida do paciente. A necessidade de acompanhamento da equipe varia com a necessidade de cada indivíduo, sendo necessário o trabalho multiprofissional desde o primeiro contato com o paciente. 

Nesse primeiro contato, faz-se a avaliação inicial, e após isso, pode-se estabelecer um diagnóstico e delimitar o tratamento a ser realizado (COSTA et al., 2021). Médicos e outros clínicos ficam em posição de orientar as famílias para práticas com suporte empírico e ajudá-las a avaliar a adequação dos serviços educacionais que estão sendo oferecidos.

Entre as práticas ofertadas pelos profissionais, pode-se citar como exemplo a fonoaudióloga, que trabalha com a modalidade de desenvolvimento da comunicação incluindo gestos, linguagem de sinais e programas de comunicação por imagem, fazendo com que a comunicação com o indivíduo se torne mais eficaz (MYERS; JOHNSON, 2007).

Diante do exposto, o ambiente sociocultural e afetivo da criança com TEA deve ser enriquecido como situações do tipo iniciação esportiva e atividades sociais, considerando que essas situações desencadeiam uma variedade de estímulos, normalmente, supervisionados pelos pais já orientados sobre o TEA (TEIXEIRA, 2016).

Metodologia análise do comportamento aplicada (ABA)

A Análise do Comportamento Aplicada (ABA – do inglês Applied Behavior Analysis), pode ser definida como uma forma de compreensão do comportamento de cada indivíduo. Nos últimos anos esta metodologia tem ganhado um amplo suporte científico, sobretudo nos Estados Unidos e no Canadá, visando melhorar a qualidade de vida das pessoas com TEA (CAMARGO; RISPOLI, 2013). Desta maneira, deve-se analisar cada indivíduo, a fim de realizar as intervenções de maneira específica para cada situação. 

A metodologia ABA é caracterizada pela coleta de dados antes, durante e após a intervenção, para analisar o progresso individual da criança. Ainda, a metodologia auxilia na tomada de decisões em relação ao programa de intervenção e às estratégias que melhor promovem a aquisição de habilidades especificamente necessárias para cada criança (BAER, D.  M. et al., 1968).

O acompanhamento do autista com o método ABA, demanda o ensino individualizado e intensivo, de modo que as habilidades trabalhadas envolvam comportamentos sociais, comunicação funcional e o estabelecimento de contato visual. Ainda, engloba as práticas acadêmicas como a leitura, escrita, matemática e a higiene pessoal. Além disso, o tratamento comportamental inclui a redução de comportamentos como agressões verbais e não verbais, fugas, as estereotipias e autolesões tendo em vista que esses comportamentos influem não somente na integração do autista, mas no seu desenvolvimento (ANDERSON, 2007).

Outra competência é a relação contínua entre o terapeuta e o educador, pois o terapeuta precisa agir em conjunto com o educador, já que envolve procedimentos estruturados do processo de ensino aprendizagem, e até pode-se dizer de uma reaprendizagem (WINDHOLZ, 2002). 

Os profissionais que aplicam a ABA são chamados de analistas do comportamento ou terapeutas comportamentais. Eles passam por um treinamento especializado para compreender os princípios da ABA, aprender a realizar avaliações comportamentais, desenvolver planos de intervenção e implementar estratégias de modificação do comportamento. Assim, após o treinamento os profissionais recebem um diploma em educação especial ou análise de comportamento, acrescentando a especialização à sua formação em psicologia, terapia ocupacional ou fonoaudiologia (ANDERSON, 2007).

Políticas públicas e AMA no Brasil 

Em 1983, foi fundada a Associação de Amigos do Autismo (AMA), no Brasil. Nessa época ainda não possuía local que aceitasse indivíduos com TEA ou mesmo com atendimento especializado para crianças com transtornos mentais. Com isso, pais com filhos diagnosticados com autismo, uniram-se para construir um ambiente que amparasse seus filhos e proporcionasse maior dependência e produtividade a eles. Tendo esse objetivo em comum, fundou-se a AMA, a primeira associação de autismo no Brasil (AMA, 2023).

Entretanto, as políticas públicas no Brasil voltadas às pessoas com autismo, surgiram apenas com a Constituição Federal de 1988, que garantia o Atendimento Educacional Especializado (AEE) aos alunos com deficiência (PIMENTA, 2019).

Em dezembro de 2011, obtiveram-se conquistas importantes em prol das pessoas com TEA no país, como a criação da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), a qual tem como objetivo o atendimento de pessoas com transtornos mentais, sendo composto de equipamentos e serviços variados. Além da RAPS, tem-se os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) em suas diferentes modalidades. Segundo o Ministério da Saúde, tem-se duas redes destinadas ao tratamento do autismo, o CAPS e CAPSi – é o Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil que é um serviço público de saúde que atende crianças e adolescentes que apresentam intenso sofrimento psíquico decorrente de transtornos mentais graves e persistentes (ROSSI et al., 2018).

Em 2012, a Secretaria de Saúde de São Paulo (SES-SP), lançou um edital para credenciar instituições especializadas em atendimento de pacientes com TEA, com o intuito que os locais possuíssem psicólogos especializados em terapia cognitivo-comportamental e fonoaudiólogos especializados em linguagem pragmática (PIMENTA, 2019).

Segundo Nunes (2014), a AMA não se preocupa apenas com o apoio emocional para as famílias, mas também como meio de intercâmbio no sentido de buscar leis que possam viabilizar novos tratamentos e pesquisas em saúde e educação para as pessoas autistas (CUNHA, ARAÚJO; 2021).

Desde sua fundação, a AMA, a qual é uma instituição beneficente e sem fins lucrativos, enfrenta grandes desafios para realização de suas atividades.  Entretanto, em conjunto com a Secretaria de Estado de Educação e da Saúde, a instituição desenvolve atendimentos em determinadas áreas para a melhor progressão do indivíduo com autismo (AMA, 2023).

 Desse modo, percebe-se o quanto o trabalho da instituição deve ser divulgado para o conhecimento da comunidade e para um maior alcance governamental. Levando em consideração a diferença que a AMA faz no desenvolvimento motor e psicossocial de cada um dos indivíduos, além da contribuição para o esclarecimento de dúvidas por parte das famílias e para a inclusão dos portadores de TEA em meio social (AMA, 2023).

Considerações Finais 

O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento infantil, em que o indivíduo apresenta déficits persistentes na comunicação, com uma fisiopatologia não muito bem definida e diversas formas de manifestações clínicas. Isto pode confundir o diagnóstico correto e imediato, acarretando dificuldade no desenvolvimento adequado dos indivíduos que vivem com o TEA. No estudo descreveu-se que o TEA pode ser classificado conforme os déficits de cada indivíduo, o que acarreta diferentes níveis do transtorno. O diagnóstico normalmente é realizado pela anamnese e testes aplicados individualmente por uma equipe capacitada. 

Ademais, o tratamento terapêutico do TEA é baseado em terapias de reabilitação que deve ser direcionado conforme a necessidade de cada indivíduo, com o objetivo de melhorar a funcionalidade social, as habilidades de comunicação e, reduzir comportamentos negativos e não funcionais. Dessa forma, o diagnóstico precoce do TEA associado a uma equipe multiprofissional e as famílias será adequado e efetivo, contribuindo para uma melhor qualidade de vida dos pacientes. Portanto, a revisão destaca a importância da equipe multiprofissional para o melhorar desenvolvimento dos indivíduos com TEA, demonstrando o quão importante é conhecer mais sobre sua fisiopatologia, manifestações clínicas, classificações, diagnóstico e tratamentos, podendo contribuir para que haja mais incentivos em pesquisas sobre o TEA e a abordagem multiprofissional, consequentemente, mais profissionais qualificados e aptos para o diagnóstico precoce. 

Referências

AMA. História. 2023. Disponível em: https://www.ama.org.br/site/ama/historia/. Acesso em: 23 mar. 20223. 

ALMEIDA, Eliane de; GROBW, Luana Fernanda Martins Oliveira. A IMPORTÂNCIA DA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR NA INCLUSÃO DO AUTISTA: REVISÃO SISTEMÁTICA. 2021. 37 f. Tese (Doutorado) – Curso de Enfermagem, Faculdade Fasipe Mato Grosso, Cuiabá, 2021. Disponível em: http://104.207.146.252:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/186/A%20importância%20da%20Equipe%20Multidisciplinar%20na%20Inclusão%20do%20Autista.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 22 fev. 2023.

ANDERSON, M. Tales from the table: Lovaas/ABA intervention with children on the autistic spectrum. Pentonville: Road London, 2007 

APA-AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-V). Arlington, VA: American Psychiatric Association, 2013.

ARAUJO, Ceres Alves de. Autism: an epidemic of contemporary times?. Journal Of Analytical Psychology, [S.L.], v. 67, n. 1, p. 5-20, fev. 2022. Wiley. http://dx.doi.org/10.1111/1468-5922.12746. 

BAER, D.  M. et al.  Some current dimensions of applied behavior analysis. Journal of Applied Behavior Analysis, v. 1, n. 1, p. 91-97, 1968. 

BAI, Dan; et al. Association of Genetic and Environmental Factors With Autism in a 5-Country Cohort. Jama Psychiatry, [S.L.], v. 76, n. 10, p. 1035, 1 out. 2019. American Medical Association (AMA). http://dx.doi.org/10.1001/jamapsychiatry.2019.1411. 

BRASÍLIA. Lei nº 12.762, de 21 de marco de 2013. Orientações aos sistemas de Ensino para a implementação da Lei nº 12.764/2012. Brasília, DF: MEC, 2013.  Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=13287-nt24-sistem-lei12764-2012&Itemid=30192 

BUENO, Luana Ribeiro et al. A IMPORTÂNCIA DO CUIDADO À FAMÍLIA NO TEA. Revista Humanitaris, Pelotas, v. 2, n. 2, p. 39-53, dez. 2020. Disponível em: http://www.icepsc.com.br/ojs/index.php/revistahumanitaris/article/view/422. 

CÔRTES, Maria do Socorro Mendes; ALBUQUERQUE, Alessandra Rocha. CONTRIBUIÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: DE KANNER AO DSM-V. Revista JRG de Estudos Acadêmicos. 28 nov 2020. Disponível em: http://www.revistajrg.com/index.php/jrg/article/view/248/350. 

COSTA, Natália Miotto et al. A IMPORTÂNCIA DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL DE CRIANÇAS DIAGNOSTICADAS COM TEA. Autismo: avanços e desafios, [S.L.], p. 27-44, 2021. Editora Científica Digital. http://dx.doi.org/10.37885/210705226.

CUNHA, Inara Maria da Silva; ARAÚJO, José Bruno. O Autismo no Brasil: no processo histórico, inclusivo e terapêutico. E-Book: Educação em foco, [S.L.], p. 29-40, 12 maio 2021. Pantanal Editora. http://dx.doi.org/10.46420/9786588319574cap3. 

EBERT, Michele et al. Mothers of children with autistic disorder: perceptions and trajectories. Revista Gaúcha de Enfermagem, [S.L.], v. 36, n. 1, p. 49-55, mar. 2015. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/1983-1447.2015.01.43623. Acesso em: 23 fev. 2023.

GOLSTEIN H. Intervenção de comunicação para crianças com autismo: uma revisão da eficácia do tratamento.J Autismo Dev Disord.2002;32:373–396

GOMES, Paulyane T.M. et al. Autism in Brazil: a systematic review of family challenges and coping strategies. Jornal de Pediatria, [S.L.], v. 91, n. 2, p. 111-121, mar. 2015. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2014.08.009. 

JÚNIOR, Edgard. OMS afirma que autismo afeta uma em cada 160 crianças no mundo. ONU News, 2017. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2017/04/1581881-oms-afirma-que-autismo-afeta-uma-em-cada-160-criancas-no-mundo . Acesso em: 10 maio de 2023.

KERCHES, Deborah. Autismo ao longo da vida. Literare Books, 2022.

LIMA, Ana Paula et al. A Família da Criança com o Transtorno Espectro Autista (TEA) / The Family of a Child with Autism Spectrum Disorder (ASD). Id On Line. Revista de Psicologia, [S.L.], v. 16, n. 60, p. 15-27, 30 maio 2022. Lepidus Tecnologia. http://dx.doi.org/10.14295/idonline.v16i60.3421. 

MASINI, Elena et al. An Overview of the Main Genetic, Epigenetic and Environmental Factors Involved in Autism Spectrum Disorder Focusing on Synaptic Activity. International Journal Of Molecular Sciences, [S.L.], v. 21, n. 21, p. 8290, 5 nov. 2020. MDPI AG. http://dx.doi.org/10.3390/ijms21218290. Acesso em: 23 fev. 2023. 

NUNES, Débora Regina de Paula et al. Comunicação Alternativa para Alunos com Autismo na Escola: uma Revisão da Literatura. Rev. bras. educ. espec., Marília,  v. 27,  e0212,    2021 .   Disponível em http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-65382021000100405&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 21 maio  2023.  Epub 15-Jun-2021.  https://doi.org/10.1590/1980-54702021v27e0212.

OLIVEIRA, Carolina. Um Retrato Do Autismo No Brasil. São Paulo, mar. 2019. Revista espaço aberto. Disponível em: http://www.usp.br/espacoaberto/?materia=um-retrato-do-autismo-no-brasil. Acesso em 10 maio 2023.

PANISI, Cristina et al. Autism Spectrum Disorder from the Womb to Adulthood: suggestions for a paradigm shift. Journal Of Personalized Medicine, [S.L.], v. 11, n. 2, p. 70, 25 jan. 2021. MDPI AG. http://dx.doi.org/10.3390/jpm11020070. 

PEREIRA, Erika Tamyres et al. Comunicação alternativa e aumentativa no transtorno do espectro do autismo: impactos na comunicação. Codas, Recife, v. 32, n. 6, p. 1-8, 2020. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20202019167. 

PIMENTA, Paula. As políticas públicas para o autismo no Brasil, Sob a ótica da psicanálise. Psicol. rev. (Belo Horizonte), Belo Horizonte, v. 25, n. 3, p. 1248-1262, dez. 2019. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-11682019000300019&lng=pt&nrm=iso. acessos em 18 abr.  2023.  http://dx.doi.org/10.5752/P.1677-1168.2019v25n3p1248-1262 . 

ROSSI, Lívia Peluso et al. Caminhos Virtuais e Autismo: acesso aos serviços de saúde na perspectiva da análise de redes sociais. Ciência & Saúde Coletiva, [S.L.], v. 23, n. 10, p. 3319-3326, out. 2018. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320182310.13982018 . 

SANCHES, Thayse Tayanne Bastos; TAVEIRA, Leonardo da Silva. AUTISMO: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA. Caderno Intersaberes, Curitiba, v. 9, n. 18, p. 25-42. 2020.  Disponível em:  https://cadernosuninter.com/index.php/intersaberes/article/view/1356.

SCOTT, M. Myers; JOHNSON, Chris Plauché. Conselho de Crianças com Deficiência; Manejo de Crianças com Transtornos do Espectro do AutismoPediatria novembro de 2007; 120 (5): 1162–1182. 10.1542/peds.2007-2362
TEIXEIRA, Gustavo. Manual do autismo. Rio de Janeiro. Best Seller. 2016.
SEMENSATO, M. R.; BOSA, C. A. O script de apego compartilhado do casal. Arquivos Brasileiros de Psicologia, Rio de Janeiro, v. 65, p. 138-151, 2013.

SETÔBAL, José Luiz. Terapia ABA: conheça esse método para crianças com autismo! Disponível em: https://institutopensi.org.br/blog-saude-infantil/terapia-aba-tratamento-autismo/#:~:text=ABA%20é%20a%20abreviação%20para,no%20reforço%20dos%20comportamentos%20positivos. Acesso em: 23 fev. 2023.

SHARMA, Samata R. et al. Autism Spectrum Disorder: classification, diagnosis and therapy. Pharmacology & Therapeutics, [S.L.], v. 190, p. 91-104, out. 2018. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.pharmthera.2018.05.007. 

SOUSA, Deborah Luiza Dias et al. Análise do Comportamento Aplicada: a percepção de pais e profissionais acerca do tratamento em crianças com espectro autista. Contextos Clínicos, Fortaleza, v. 13, n. 1, p. 106-124, 23 jul. 2020. UNISINOS – Universidade do Vale do Rio Dos Sinos. http://dx.doi.org/10.4013/ctc.2020.131.06. 

STEFFEN, F. et al. DIAGNÓSTICO PRECOCE DE AUTISMO: UMA REVISÃO LITERÁRIA. REVISTA SAÚDE MULTIDISCIPLINAR[S. l.], v. 6, n. 2, 2020. Disponível em: http://revistas.famp.edu.br/revistasaudemultidisciplinar/article/view/91.

SILVA, Ana Beatriz Barbosa; et. Al. Mundo Singular. Entendendo o autismo. Rio de Janeiro: Objetiva LTDA,2012.

WINDHOLZ, M. H. Autismo infantil: terapia comportamental. In: SCHWARTZMAN, J. S.; ASSUMPÇÃO-JÚNIOR, F. B. (Eds.). Autismo infantil. São Paulo: Memnon, 1995. p. 179-210


1UNIARP – Universidade Alto Vale do Rio do Peixe meduarda.paes@icloud.com 
ORCID: https://orcid.org/0009-0005-5157-8448
2UNIARP – Universidade Alto Vale do Rio do Peixe martinsmi20@hotmail.com 
ORCID: https://orcid.org/0009-0003-8549-8038
3UNIARP – Universidade Alto Vale do Rio do Peixe  ariana.aacc@hotmail.com 
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0419-141X
4UNIARP – Universidade Alto Vale do Rio do Peixe gustavocdalpont@gmail.com 
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2164-9653