HOLISTIC AND MULTIDISCIPLINARY APPROACH IN DENTAL PALLIATIVE CARE: A LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410280521
Francisco Antônio Rodrigues Pereira
Tânia Aparecida Biazus
Soraia Mayane Souza Mota
Alexandre Kraemer
RESUMO
Cuidado Paliativo é uma abordagem terapêutica centrada no bem-estar do paciente diante de doenças que podem levar à morte. Proporcionando melhoria na qualidade de vida dos pacientes através da prevenção e alívio do sofrimento, identificação precoce de anormalidades e cuidadosa avaliação e tratamento da dor e outros sintomas físicos, sociais e psicológicos. A partir dessa perspectiva, uma equipe interdisciplinar deve ser capaz de prestar assistência e apoio ao paciente, sua família e às mudanças causadas pela doença. As alterações na cavidade bucal podem causar dor, desconforto e dificuldade em comer, podendo prejudicar diretamente a qualidade de vida e bem-estar dos pacientes. O que torna relevante a assistência odontológica nos Cuidados Paliativos. Assim, o objetivo do estudo foi explorar e analisar as abordagens holísticas e multidisciplinares nos cuidados paliativos na odontologia, visando identificar práticas eficazes e desafios na implementação de estratégias que melhorem a qualidade de vida dos pacientes com doenças crônicas avançadas e terminais. Trata-se de um estudo de revisão sistemática de literatura, utilizando-se bases de dados como PubMed, SciELO e Google Acadêmico. Os estudos foram selecionados do período de abril a julho de 2024, considerando publicações gratuitas, com conteúdo completo disponível nas bases de dados entre os anos de 1999 e 2024. Como critérios de inclusão, foi considerada a amplitude e relevância do conteúdo e como critérios de exclusão, aqueles que fugiam do tema proposto ou não disponibilizaram textos completos. Foi identificado um total de 112 artigos nas bases de dados mencionadas, dos quais foram selecionados para a análise e discussão 59. Os dados coletados foram organizados de forma sistemática para permitir uma análise comparativa e crítica. A pesquisa identificou que problemas bucais, como xerostomia, mucosite, infecções e dores orais, são comuns entre pacientes terminais, ocasionadas pelos medicamentos ou pela própria doença, e podem ser aliviados por intervenções odontológicas. Destacando a importância do cirurgião dentista na equipe interdisciplinar de cuidados paliativos para proporcionar melhoria na qualidade de vida dos pacientes, reduzindo a dor e o desconforto e melhorando a capacidade de se alimentar e se comunicar. Sendo essencial nos cuidados paliativos uma abordagem interdisciplinar e colaborativa entre dentistas e outros profissionais de saúde para atender às necessidades complexas desses pacientes, melhorando sua qualidade de vida e bem-estar geral.
Palavras-chave: Cuidados Paliativos; Odontologia; Equipe Interdisciplinar.
ABSTRACT
Palliative Care is a therapeutic approach focused on the well-being of patients facing illnesses that can lead to death. It provides an improvement in the quality of life of patients through the prevention and relief of suffering, early identification of abnormalities and careful assessment and treatment of pain and other physical, social and psychological symptoms. From this perspective, an interdisciplinary team must be able to provide assistance and support to the patient, their family and the changes caused by the disease. Changes in the oral cavity can cause pain, discomfort and difficulty in eating, which can directly affect the quality of life and well-being of patients. This makes dental care relevant in Palliative Care. Thus, the objective of the study was to explore and analyze holistic and multidisciplinary approaches in palliative care in dentistry, aiming to identify effective practices and challenges in the implementation of strategies that improve the quality of life of patients with advanced and terminal chronic diseases. This is a systematic literature review study, using databases such as PubMed, SciELO and Google Scholar. The studies were selected from April to July 2024, considering free publications, with full content available in the databases between the years 1999 and 2024. The inclusion criteria were the breadth and relevance of the content, and the exclusion criteria were those that deviated from the proposed theme or did not provide full texts. A total of 112 articles were identified in the aforementioned databases, of which 59 were selected for analysis and discussion. The data collected were organized systematically to allow a comparative and critical analysis. The research identified that oral problems such as xerostomia, mucositis, infections and oral pain are common among terminally ill patients caused by medications or the disease itself and can be alleviated by dental interventions. Highlighting the importance of the dentist in the interdisciplinary palliative care team to provide an improvement in the quality of life of patients, reducing pain and discomfort and improving the ability to eat and communicate. An interdisciplinary and collaborative approach between dentists and other health professionals is essential in palliative care to meet the complex needs of these patients, improving their quality of life and general well-being.
Keywords: Palliative Care; Dentistry; Interdisciplinary Team.
- INTRODUÇÃO
O Cuidado Paliativo (CP) surgiu na Inglaterra, em meados da década de 1960, com o estabelecimento do St. Christopher’s Hospice em Londres, por Dame Cicely Saunders, considerada pioneira dos cuidados paliativos modernos, onde o foco inicial era o controle da dor e apoio emocional para pacientes terminais (CLARK, 1999). Uma filosofia de cuidado às pessoas em processo de fim de vida e que tinham diagnóstico de doenças crônicas (GOMES; OTHERO, 2016).
A evolução dos CP nas últimas décadas foi marcada pela expansão desse campo para além do câncer terminal, abrangendo outras doenças crônicas e graves, como doenças cardíacas, pulmonares, neurológicas e renais (TWYCROSS, 2003). Essa expansão refletiu uma mudança de paradigma na medicina, que reconheceu a necessidade de cuidados abrangentes e contínuos para pacientes com doenças incuráveis (CONNOR; BERMEDO, 2014).
CP é uma abordagem de assistência médica que visa melhorar a qualidade de vida dos pacientes e suas famílias diante de doenças que ameaçam a continuidade da vida. Essa abordagem se concentra em aliviar o sofrimento, tratar a dor e outros problemas físicos, psicossociais e espirituais. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os CP começam no momento do diagnóstico de uma doença grave e continuam até o fim da vida do paciente (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020).
Souza et al. (2020) afirmam que a verdadeira definição de CP é cuidar do sofrimento humano, pois é assim que os profissionais que trabalham nessa área transmitem seus conhecimentos independentemente do local do paciente. Contudo, o CP não apenas garante uma melhor qualidade de vida para os pacientes que precisam, mas também oferece mais conforto aos familiares que vivem com um paciente com deficiência.
A partir dessa perspectiva, uma equipe interdisciplinar deve ser capaz de prestar assistência e apoio ao paciente, à sua família e às mudanças causadas pela doença (HERMES; LAMARCA, 2013). A atenção necessária para esses pacientes requer uma abordagem que vai além do diagnóstico da doença e não se limita à cura, com o objetivo de fornecer ao indivíduo uma atenção integral (ALMEIDA; GARCIA, 2015).
A importância dos cuidados paliativos está sendo cada vez mais reconhecida globalmente, com iniciativas para integrar esses serviços nos sistemas de saúde de muitos países. A OMS recomenda que os CP sejam parte integrante dos cuidados de saúde acessíveis a todos os pacientes que necessitam (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2014).
Nesse sentido, visando melhorar o acesso aos cuidados paliativos para a maioria dos brasileiros, bem como para melhorar a posição do país no “Índice de Qualidade da Morte” do The Economist Intelligence Unit, onde o Brasil foi classificado como “médio”, foi criada a Política Nacional de Cuidados Paliativos (PNCP), através da Resolução nº729 de dezembro de 2023, publicada em Diário Oficial da União de 15 de janeiro de 2024. Essa política foi criada com (BRASIL, 2024).
A PNCP reconhece que os cuidados paliativos devem ser centrados nas necessidades dos pacientes e suas famílias, fundamentados na ética clínica e no respeito à dignidade humana. O principal objetivo da PNCP é fornecer cuidados paliativos de forma abrangente e integrada em toda a rede de atenção à saúde, incluindo a atenção básica em Saúde por meio da Estratégia de Saúde da Família (ESF). A resolução enfatiza a importância de estabelecer diretrizes e normas claras para garantir a prestação eficaz, compassiva e abrangente dos cuidados paliativos no âmbito do SUS (BRASIL, 2024).
A PNCP é uma novidade e permitirá uma assistência com maior atenção ao paciente. Um dos seus eixos é a criação de equipes multiprofissionais para levar práticas assistenciais e compor às demais equipes da rede. No entanto, o Cirurgião Dentista (CD) não é incluso em sua composição (BRASIL, 2024).
As alterações na cavidade bucal podem causar dor, desconforto e dificuldade em comer, podendo prejudicar o estado nutricional, afetando diretamente a qualidade de vida e o bem-estar dos pacientes. O que torna relevante os CP para a saúde bucal (EISENBURGER et al., 2013). Além disso, a saúde bucal está relacionada à autoestima e interação social, que são aspectos fundamentais para o bem-estar psicológico de pessoas em CP (SWEENEY et al., 2007).
A Odontologia é uma área que promove e restaura o bem-estar e a saúde das pessoas. O cirurgião-dentista está apto a atuar nos CP para reduzir a dor e o desconforto e interromper novos problemas, principalmente bucais, em pacientes terminais, e permitir que os pacientes comam e bebam, o que muitas vezes é evitado por complicações orais (VENKATASALU et al., 2020). Nesse sentido, um CD está incluído nesta linha de cuidados para garantir atendimento completo e integrado aos pacientes hospitalizados. Além de identificar alterações na região da cabeça e do pescoço (MACEDO et al., 2020).
Baseado em um planejamento ético, humano e interdisciplinar, o CD deve ter como objetivo a eliminação de focos inflamatórios e infecciosos, e de dores decorrentes de problemas bucais. O acúmulo de biofilme, doenças periodontais (gengivite e periodontite), doenças oportunistas (candidose), lesões de cárie, mucosite e xerostomia são manifestações bucais comuns, que são causadas por imunossupressão, diminuição do fluxo salivar e uso excessivo de medicamentos (CRISPIM et al., 2020).
As decisões sobre tratamento são baseadas em avaliações de riscos e benefícios, melhores evidências científicas e o desejo do paciente ou da família (MIRANDA, 2016). Esse tipo de atendimento é necessário para pacientes de qualquer idade, independentemente da duração de sua vida (FRITZGERALD; GALLAGHER, 2018).
A complexa tarefa de garantir a qualidade de vida de um paciente, além da possibilidade de cura, requer a cooperação de várias áreas de conhecimento e ação (MATSUO et al., 2016). Porém, a prestação de cuidados odontológicos aos pacientes sob CP ainda é limitada por diversas razões. A ausência do CD como parte da equipe multidisciplinar torna desafiadora a prestação de um cuidado integral (FRITZGERALD; GALLAGHER, 2018).
A integração de diferentes disciplinas permite uma avaliação e manejo mais holístico dos sintomas do paciente, bem como fornecer suporte contínuo à família. O envolvimento de profissionais de várias áreas ajuda a abordar não apenas os aspectos físicos da doença, mas também as dimensões emocionais, sociais e espirituais (MITCHELL et al., 2006). A comunicação entre os profissionais de saúde e entre estes, e os pacientes e suas famílias é essencial para o planejamento de cuidados centrados no paciente (FERRELL; COYLE, 2008). Isso promove um entendimento compartilhado das metas de cuidados e preferências do paciente, garantindo que todas as vozes sejam ouvidas e respeitadas (BAKITAS et al., 2015).
Diante desse cenário, devido ao fato de que a cavidade bucal pode conter uma variedade de processos patológicos, bem como os efeitos colaterais que podem surgir como resultado de medicamentos administrados para tratar a doença subjacente, questiona-se “De que maneira a odontologia pode ser integrada aos cuidados paliativos, com enfoque em abordagens holísticas e multidisciplinares, para melhorar a qualidade de vida dos pacientes com doenças crônicas avançadas e terminais? Quais são as práticas odontológicas mais eficazes e os principais obstáculos para implementar essas intervenções?”
Nesse sentido, o objetivo dessa pesquisa foi explorar e analisar as abordagens holísticas e multidisciplinares nos cuidados paliativos na odontologia, visando identificar práticas eficazes e desafios na implementação de estratégias que melhorem a qualidade de vida dos pacientes com doenças crônicas avançadas e terminais
2. METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa do tipo revisão integrativa de literatura, baseado na análise de estudos relevantes sobre o tema, visando de sintetizar informações, utilizando como parâmetro a questão norteadora: De que maneira a qualidade de vida dos doentes crônicos em estado terminal pode ser melhorada pela odontologia paliativa, que integra abordagens holísticas e multidisciplinares? Quais são os principais desafios e práticas eficazes identificados na literatura? Utilizou-se bases de dados como PubMed, SciELO e Google Acadêmico. Como descritores empregados na busca foram usados “odontologia”, “cuidados paliativos” e “equipe interdisciplinar”, de forma combinada ou não, com o intuito de ampliar resultados, abrangendo mais publicações relevantes para a análise. Os estudos foram selecionados do período de abril a julho de 2024, considerando publicações gratuitas, com conteúdo completo disponível nas bases de dados entre os anos de 1999 e 2024.
Como critérios de inclusão, foi considerada a amplitude e relevância do conteúdo. Foram selecionados estudos que fornecessem uma visão geral e detalhada sobre a integração da odontologia nos cuidados paliativos e a atuação de equipes interdisciplinares nesse contexto. Procurando identificar práticas, desafios e benefícios descritos na literatura para um melhor entendimento do tema. A diversidade das fontes e a extensão dos períodos cobertos garantiram uma revisão sólida e variada, essencial para futuras análises críticas.
Como critérios de exclusão, aqueles que fugiam do tema proposto (27 artigos) ou não disponibilizaram textos completos (26 artigos).
Foram identificados um total de 112 artigos nas bases de dados mencionadas, dos quais foram selecionados para a análise e discussão 59. Os artigos utilizados foram Scielo (32), Pubmed (20) e Google Acadêmico (07) para o estudo.
O texto autoral foi revisado, usando-se como apoio o ChatGPT para coesão textual de estilo, correção gramatical e ortográfica. O resultado passou ainda por uma última revisão da autora.
Após o processo de seleção dos artigos científicos, foram selecionados para a análise e discussão dessa pesquisa um total de 59 artigos. Os textos selecionados foram lidos com atenção especial aos métodos utilizados pelos autores para conduzir a pesquisas, bem como os resultados obtidos por eles durante o processo.
Os dados coletados foram organizados de forma sistemática para permitir uma análise comparativa e crítica. As considerações finais sintetizaram as principais descobertas da pesquisa, destacando novas políticas e implicações práticas e teóricas dos cuidados paliativos na odontologia, e sugerindo direções futuras para investigação.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A pesquisa mostra e destaca a importância dos cuidados odontológicos na assistência de cuidados paliativos para melhorar a qualidade de vida dos pacientes, reduzindo a dor e o desconforto e melhorando a capacidade de se alimentar e se comunicar (DAVIES et al., 2000). Bem como, sugere uma abordagem interdisciplinar para atender às necessidades complexas dos pacientes (BAKITAS et al., 2015).
Dentre as alterações mais comuns encontrada, destaca-se a boca seca (xerostomia), muitas vezes causada por medicamentos ou pela própria doença, podendo dificultar a mastigação, deglutição e fala. Também aumenta o risco de cárie dentária e infecção oral (DAVIES et al., 2000).
No tratamento, é indicado o uso de saliva artificial ou agentes umidificantes, benéficos para esses casos, pois ajuda a manter a umidade na boca e aliviar o desconforto (DAVIES et al., 2000). Esses produtos podem melhorar a capacidade de mastigar, engolir e falar do paciente, o que consequentemente melhora sua qualidade de vida (DAVIES et al., 2000). A higiene oral regular também é importante para prevenir infecções e manter a boca limpa e confortável (SHIBOSKI et al., 2009).
A mucosite oral é outra condição comum entre pacientes submetidos à quimioterapia ou radioterapia. Causa inflamação dolorosa e ulceração da mucosa oral, tornando difícil comer e falar. Nesse caso, enxaguatórios bucais terapêuticos podem ser usados para aliviar a dor e ajudar na cicatrização da mucosa oral. Esses enxaguatórios podem ser recomendados com anestésicos locais, anti-inflamatórios ou agentes antimicrobianos. Essas intervenções podem reduzir a gravidade da mucosite e melhorar o bem-estar geral do paciente (RUBENSTEIN et al., 2004). Adicionalmente, a laserterapia de baixa potência tem sido efetiva no tratamento da mucosite oral. Pesquisas mostram que o uso do laser pode diminuir a dor, fazer com que as úlceras cicatrizem mais rápido e reduzir a inflamação, aliviando assim os sintomas de forma considerável e melhorando a vida dos pacientes (BENSADOUN et al., 2001; MIGLIORATI et al., 2013).
A dor bucal é frequentemente causada por infecções, cáries ou outras doenças dentárias. Pode ser incapacitante para pacientes em CP. O controle eficaz da dor é uma prioridade, e as intervenções odontológicas são fundamentais nesse contexto. O uso de analgésicos tópicos e sistêmicos conforme necessário, tem sido eficaz no alívio rápido e direto da dor. Em casos mais graves, pode ser necessário o uso de analgésicos sistêmicos para controlar a dor de forma eficaz (HÄGGLIN et al., 2005).
Outra condição frequente é a infecção oral por Candida, uma infecção fúngica comum em pacientes com sistema imunológico enfraquecido ou em uso prolongado de antibióticos e corticosteroides. Ela causa desconforto e dor, dificultando a alimentação. O tratamento com antifúngicos tópicos, como nistatina ou clotrimazol, geralmente é eficaz, mas, em casos graves, podem ser necessários antifúngicos sistêmicos (SAMARANAYAKE, 2002).
Tratar a candidíase adequadamente é essencial para manter a qualidade de vida do paciente. Em casos mais severos, antifúngicos sistêmicos podem ser necessários para erradicar a infecção (SAMARANAYAKE, 2002).
As práticas de saúde complementares e integrativas são muito importantes nos cuidados paliativos, especialmente na odontologia paliativa. Por exemplo, a acupuntura tem se mostrado sido eficaz no tratamento da dor e da inflamação oral. Estudos indicam que a acupuntura pode ajudar a aliviar a dor naturalmente sem invadir o corpo ao estimular a liberação de neurotransmissores e endorfinas (KÜRKCÜOĞLU et al., 2018).
FANG et al. (2013), destacaram em seus estudos que a acupuntura melhorou o conforto dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço, reduzindo a xerostomia. Essa intervenção não apenas alivia os sintomas, mas também melhora a qualidade de vida dos pacientes ao reduzir sua dependência de analgésicos tradicionais.
A aromaterapia é outra prática complementar que pode ser utilizada para tratar problemas bucais em cuidados paliativos. Óleos essenciais, como o de lavanda, têm propriedades anti-inflamatórias e analgésicas que podem ajudar a reduzir a ansiedade e promover uma sensação geral de bem-estar (FANG et al., 2013).
Kurkcuoglu et al. (2018) mostraram que a aromaterapia pode ser especialmente útil para pacientes terminais, pois ajuda a aliviar desconfortos relacionados aos cuidados paliativos. Quando a aromaterapia e a laserterapia de baixa intensidade são integradas à odontologia paliativa, não só a saúde bucal é melhorada, mas também o bem-estar holístico dos pacientes.
Portanto, é muito importante que o CD seja inserido na equipe multidisciplinar dos CP e saiba sobre todos os tratamentos recomendados para pacientes terminais ou com doenças crônicas, criando um plano de tratamento adequado para cada caso específico e auxiliando os outros profissionais de saúde (GOMES; OTHERO, 2016). Além disso, acredita-se que, após obterem informações, outros profissionais que inicialmente estiveram envolvidos nesta filosofia de tratamento reconhecerão a importância da abordagem odontológica e poderão solicitá-la em benefício de seus pacientes, a fim de otimizar os CP (SILVA, 2017).
Mesmo com tantos benefícios, a prestação de cuidados odontológicos aos pacientes sob CP ainda é limitada por diversas razões. Estes incluem conhecimento inadequado, remuneração inapropriada, falta de treinamento e ausência de um CD como parte da equipe multidisciplinar, tornando desafiador prestar um cuidado multidisciplinar e integral (FRITZGERALD; GALLAGHER, 2018).
A integração da odontologia nos cuidados paliativos é essencial para proporcionar um cuidado mais completo e eficaz aos pacientes terminais. Uma abordagem interdisciplinar e colaborativa entre dentistas e outros profissionais de saúde é crucial para atender às necessidades complexas desses pacientes, melhorando sua qualidade de vida e bem-estar geral (GOMEZ et al., 2015).
A promoção de políticas de saúde e programas educacionais interprofissionais são passos importantes para garantir que os cuidados odontológicos sejam adequadamente financiados e integrados em pacotes de cuidados paliativos (HARRIS et al., 2016).
Os problemas bucais são comuns em pacientes terminais, como xerostomia, mucosite, infecções e dor oral, e devem ser tratados de forma interdisciplinar. Nesse sentido, é unânime entre os autores que a identificação e o tratamento dessas complicações devem ser realizados pelo CD para aliviar o desconforto da dor e melhorar a comunicação e alimentação dos pacientes, além de interferir diretamente no convívio social (DAVIES et al., 2000; HÄGGLIN et al., 2005),evidenciando a importância do CD nos CP.
No entanto, ainda notamos um número reduzido desses profissionais compondo as equipes de CP. HAWLEY et al, (2014), afirmam em seus estudos que a resistência de alguns profissionais, como médicos e enfermeiros, em relação à inserção da odontologia nos cuidados paliativos pode ser um desafio. A falta de conhecimento específico sobre cuidados paliativos entre os dentistas e a falta de treinamento adequado são barreiras significativas.
Para enfrentar esses desafios, é essencial investir em programas educacionais interprofissionais que incluam componentes específicos sobre cuidados paliativos para dentistas. Esses programas devem enfatizar a importância da colaboração entre as disciplinas e fornecer treinamento prático sobre como abordar as necessidades complexas dos pacientes em cuidados paliativos (REBELO et al., 2014).
Por outro lado, em muitos sistemas de saúde, o financiamento dos cuidados odontológicos não é adequado ou não está incluído nos pacotes de cuidados paliativos, o que restringe o acesso dos pacientes a esses serviços (HARRIS et al., 2016).
Semelhante ao que é descrito na primeira PNCP do Brasil, onde na composição das equipes de CP não está inserido a presença do CD. De acordo com a PNCP, as equipes multiprofissionais são compostas por médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, nutricionistas e farmacêuticos, entre outros profissionais de saúde (BRASIL, 2024). No entanto, o cirurgião-dentista não é explicitamente incluído nas equipes. Isso mostra que há uma falha crítica no atendimento abrangente e interdisciplinar, essencial para garantir cuidados paliativos de qualidade. Políticas de saúde que reconheçam a importância da saúde bucal e financiem os cuidados odontológicos de forma adequada são fundamentais para superar essa barreira.
Diversos contextos e países têm desenvolvido modelos de integração da odontologia na equipe interdisciplinar de cuidados paliativos, com resultados positivos que evidenciam a importância dessa abordagem. Um exemplo notável é o modelo adotado pela Austrália, onde equipes de cuidados paliativos incluem dentistas que trabalham em conjunto com médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde para fornecer atendimento completo aos pacientes (PALPATIVE CARE AUSTRALIA, 2018).
Nos Estados Unidos, a odontologia em cuidados paliativos tem sido integrada por meio de programas educacionais interprofissionais que promovem a colaboração entre dentistas e outros profissionais da saúde. Esses programas demonstraram que a inclusão do atendimento odontológico pode reduzir significativamente a dor oral, além de melhorar a nutrição e comunicação dos pacientes (REBELO et al., 2014).
Na Inglaterra, o Serviço Nacional de Saúde (NHS) implementou um modelo no qual os dentistas são incluídos nas equipes domiciliares de cuidados paliativos. Esse modelo permite que os pacientes recebam atendimento odontológico em casa, o que é especialmente benéfico para aqueles com mobilidade limitada ou em estágios avançados de doença. O atendimento domiciliar tem sido associado a maior satisfação do paciente e melhores resultados bucais à saúde (GOMEZ et al., 2015).
Os cuidados odontológicos em pacientes paliativos têm se mostrado custo-efetivos ao reduzir hospitalizações e o uso de intervenções agressivas que podem não beneficiar pacientes em estágios avançados da doença (SMITH et al., 2014). Nesse contexto, pode-se afirmar que incluir atendimento odontológico resulta em uma utilização mais eficiente dos recursos de saúde, promovendo um modelo centrado no paciente e valorizando a dignidade e autonomia dos indivíduos (QUILL; ABERNETHY, 2013).
A colaboração interdisciplinar é um componente essencial dos cuidados paliativos, pois permite uma avaliação mais holística dos sintomas do paciente e seu manejo adequado; além disso, fornece suporte contínuo à família (MITCHELL et al., 2006). A integração de diferentes disciplinas facilita a comunicação entre os profissionais de saúde e entre estes, e os pacientes e suas famílias, promovendo uma compreensão compartilhada das metas de cuidados e preferências do paciente (FERRELL; COYLE, 2008).
Além disso, políticas de saúde devem ser implementadas para garantir que os cuidados odontológicos sejam adequadamente financiados e integrados aos pacotes de cuidados paliativos. Isso inclui a alocação de recursos para a capacitação profissional de saúde e a promoção de modelos de atendimento que incentivem a colaboração entre disciplinas (HARRIS et al., 2016).
Para melhorar a qualidade de vida dos doentes crónicos avançados e terminais, é essencial que a odontologia seja integrada nos cuidados paliativos. De acordo com Davies et al. (2000), intervenções dentárias, como o tratamento da xerostomia e da mucosite, são necessárias para aliviar sintomas que causam dor intensa e dificuldade em comer, entre outros problemas que afetam diretamente o bem-estar dos pacientes. A utilização de saliva artificial e agentes umidificantes tem-se mostrado eficaz no combate aos efeitos da boca seca, enquanto enxaguatórios terapêuticos e laserterapia foram identificados como soluções para a mucosite, proporcionando alívio significativo e melhorando a capacidade dos pacientes de mastigar e engolir.
Apesar desses benefícios óbvios, ainda existem grandes obstáculos à inclusão formal de cirurgiões-dentistas nas equipes de cuidados paliativos. Como Fitzgerald e Gallagher (2018) apontam, a falta de reconhecimento da importância da odontologia dentro das equipes multidisciplinares limita a oferta de um cuidado verdadeiramente integral. Além disso, dentistas não têm treinamento específico em cuidados paliativos; portanto, não podem participar plenamente dessas equipes nem preencher lacunas no atendimento que afetam negativamente a qualidade de vida dos pacientes.
Também foi observada uma resistência considerável por parte de outros profissionais de saúde à integração da odontologia nos cuidados paliativos (HAWLEY et al., 2014). Muitas vezes, essa resistência é causada pela falta de conhecimento sobre o impacto das condições bucais na qualidade de vida dos pacientes terminais e pela ausência de uma formação interdisciplinar que promova a colaboração entre diferentes áreas da saúde. Sem essa colaboração, as intervenções odontológicas não são totalmente aproveitadas para melhorar o bem-estar dos doentes.
A análise crítica das políticas de saúde revela que a falta de financiamento adequado e políticas explícitas que incluam a odontologia nos cuidados paliativos são obstáculos significativos. De acordo com Harris et al. (2016), ao excluir os cuidados odontológicos dos pacotes de cuidados paliativos, muitos pacientes são privados desses serviços essenciais. Portanto, é necessário priorizar a inclusão de cirurgiões-dentistas nas equipes de cuidados paliativos e desenvolver políticas públicas e programas educacionais interprofissionais que garantam sua preparação adequada para atuar nesse contexto e financiem adequadamente seus serviços.
Embora este estudo tenha realizado uma revisão narrativa abrangente sobre as abordagens holísticas e multidisciplinares nos cuidados paliativos odontológicos, algumas limitações devem ser consideradas. Primeiramente, a escolha de uma revisão narrativa, por sua natureza, não segue um rigor metodológico tão estruturado quanto revisões sistemáticas, o que pode introduzir viés na seleção e interpretação dos estudos analisados. A inclusão de publicações relevantes foi condicionada à disponibilidade nas bases de dados, o que pode ter limitado o escopo ao excluir materiais de fontes menos acessíveis.
Recomenda-se que estudos futuros busquem maior homogeneidade metodológica e ampliem o escopo das investigações para superar essas limitações.
4. CONCLUSÃO
Os cuidados paliativos odontológicos são essenciais para melhorar a qualidade de vida dos pacientes com doenças crônicas avançadas e terminais. Este estudo teve como objetivo, descobrir e examinar as abordagens holísticas e multidisciplinares desses cuidados, demostrando que intervenções odontológicas eficazes são importantes e que os dentistas devem fazer parte das equipes de cuidados paliativos. Durante a revisão, ficou claro que não apenas aliviam a dor e o desconforto, mas também melhora a capacidade de alimentação e comunicação dos pacientes, contribuindo assim para o seu bem-estar geral.
A pesquisa também encontrou desafios significativos na implementação dessas práticas, como não incluir formalmente cirurgiões-dentistas em equipes multidisciplinares e falta de treinamento específico para eles em cuidados paliativos. Também foi notado que terapias complementares, como acupuntura ou aromaterapia podem ajudar com sintomas bucais adicionais, reforçando uma abordagem verdadeiramente holística.
Neste estudo foram propostas estratégias para aumentar a inclusão e a formação dos profissionais de odontologia em cuidados paliativos como passos cruciais para superar barreiras existentes e promover a colaboração interdisciplinar efetiva. Essas iniciativas são fundamentais para garantir um atendimento completo aos pacientes até o fim da vida, respeitando sua dignidade e proporcionando-lhes uma qualidade de vida melhor.
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