REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202411031638
Maria Isabel Albuquerque Mota1; Wesley Sousa do Espírito Santo2; Sandy Lamara Oliveira Souza3; Ana Letícia Prado Guimarães4; Francisco Marcelo Alves Braga Filho5; Patrícia Holanda de Azevedo Araripe6; Samila Sousa Vasconcelos7; Francisca Maria Aleudinelia Monte Cunha8; Raimundo Ricardo dos Santos Júnior9; Daniel Rodrigues Fernandes10
RESUMO
O ato de fumar percorre diversas questões que entrelaçam um tripé sociopsicológico que condiciona padrões de comportamento do vício, dificultando sua interrupção e se sobrepondo aos impactos na saúde dos indivíduos. Os dispositivos eletrônicos, classificados como “Cigarro Eletrônico” (CE), surgiram como alternativa de fumo, dada a falsa ilusão de que a vaporização seria mais segura que os cigarros tradicionais. No entanto, trata-se de um produto que fornece substâncias químicas e pode desencadear sérios danos ao sistema respiratório, atingindo primariamente o pulmão e todo o organismo. A EVALI (Injúria Pulmonar Relacionada ao Uso de Cigarro Eletrônico) é uma doença causada pelo uso do cigarro eletrônico, caracterizada por sinais e sintomas clínicos e podendo levar a morte. Diante disso, a Fisioterapia respiratória emerge como uma ferramenta crucial no tratamento das doenças respiratórias causadas pelos cigarros eletrônicos. Objetivou-se com esse estudo, analisar de que forma a Fisioterapia se comporta mediante aos casos de indivíduos acometidos pela EVALI, além de observar métodos eficazes para o tratamento, com publicações dos anos de 2015 a 2024. Trata-se de uma revisão bibliográfica com uma abordagem qualitativa, no intervalo de outubro de 2023 a agosto de 2024, das bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE/PubMed), Physiotherapy Evidence Database (PEDro) e Scientific Electronic Library Online (SciELO). Para critérios de inclusão, foram selecionados artigos da língua portuguesa, inglesa, espanhola e chinesa, além de todos que se adequassem aos objetivos desse estudo. Como critérios de exclusão, foram os artigos que não se enquadrassem ao esboço dos objetivos e os que não citassem os malefícios do CE. Foram selecionados para compor a amostra dessa pesquisa, 11 artigos. Os dados foram analisados em formato de tabela seguindo as orientações citadas no estudo. Após a leitura e análise dos artigos, obteve como resultados as implicações do uso do cigarro eletrônicos e como isso pode afetar o indivíduo. Concluiu-se com esta pesquisa que o uso desses dispositivos eletrônicos de fumar possui grande possibilidade letal para os indivíduos, e mediante as consequências, a fisioterapia é fonte de tratamento para a recuperação e prevenção de mais sintomas.
Palavras-chave: Dispositivo eletrônico; Lesão pulmonar; Atuação fisioterapêutica; Fisioterapia; Intervenção fisioterapêutica.
INTRODUÇÃO
O tabagismo é um desencadeador para doenças respiratórias e é considerado a principal causa prevenível de morte no mundo (Araujo; Basso; Vanoli, 2019). Citado os riscos, implementações de políticas públicas para prevenção ao tabagismo surgem para combater o vício e, com isso, a indústria tabageira inova para continuar lucrando, exemplo disso são os dispositivos eletrônicos de fumar – DEF (Menezes et al., 2022).
Os cigarros eletrônicos são dispositivos portáteis que se alimentam por uma bateria de lítio, um reservatório contendo a substância e-líquida e uma câmara de vaporização para o aquecimento do produto (Carvalho; Siqueira, 2023). O primeiro DEF foi concebido em 1963, mas apenas em 2004, com o trabalho do farmacêutico Hon Lik, os cigarros eletrônicos ganharam destaque global (Correa et al., 2023).
Acrescenta-se que a disseminação dos cigarros eletrônicos promove a ilusão de uma fonte de nicotina “limpa”, representando um desafio significativo para as políticas de saúde pública, perpetuando a iniciação ao tabagismo e aumentando os riscos de diversas doenças, incluindo câncer (Barufaldi et al., 2021).
A falsa percepção de que estes produtos são menos nocivos do que os cigarros tradicionais, elucidam uma explicação para a tendência, principalmente em jovens, onde disseminam serem menos prejudiciais (Carvalho; Siqueira, 2023). Ademais, estudos comprovam que os DEF aumentam em torno de três vezes as chances de o usuário iniciar a fumar cigarros tradicionais (Associação Médica Brasileira – AMB, 2021).
No Brasil, a RDC/Anvisa nº. 46/2009 proíbe a comercialização, importação e propaganda de qualquer DEF, mais especificamente aqueles que alegam substituir outros produtos fumageiros e os que associam como alternativa no tratamento do tabagismo (Pinho et al., 2020). O Brasil, pioneiro na proibição do DEF em 2009, enfrenta críticas quanto à decisão, mas estudos indicam que os benefícios da proibição superam os supostos benefícios não comprovados (Silva; Moreira, 2019). Apesar da proibição, a comercialização indiscriminada desses produtos é notória, sendo uma ameaça às políticas brasileiras.
Segundo a Associação Médica Brasileira – AMB (2021), os cigarros eletrônicos possuem mais de 80 compostos tóxicos elencados como cancerígenos em sua composição. São baseadas por um solvente, contendo propilenoglicol, glicerina, um ou mais aromatizantes e geralmente nicotina. Através do aquecimento desses compostos, o cigarro eletrônico cria um aerossol de finas partículas onde é absorvido pelos pulmões e depois liberado sistemicamente pelo organismo (Carvalho; Siqueira, 2023).
Devido a inúmeras pesquisas científicas associando o cigarro eletrônico a diversos problemas respiratórios, gastrointestinais e cardíacos, em 2019, o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), nos Estados Unidos, nomeou uma nova doença causada pelo uso dos DEF, o termo ficou conhecido como: E-cigarette, or vaping, product use– associated lung injury (EVALI), sigla em inglês para injúria pulmonar associada ao uso do cigarro eletrônico (Correa et al., 2023).
Atenta-se que dados epidemiológicos sobre a EVALI têm revelado que os usuários de cigarro eletrônico têm três vezes mais probabilidade de desencadear uma infecção respiratória do que não-fumantes (Ghosh et al., 2018). A dependência da nicotina e os efeitos prejudiciais à saúde associados aos cigarros eletrônicos resultaram na emergência da síndrome EVALI, caracterizada por danos pulmonares agudos e graves, ocasionando a hospitalizações, necessidade de ventilação mecânica invasiva – VMI e até mesmo óbito (Tzortzi et al., 2020).
A síndrome passou a ser identificada em usuários de cigarros eletrônicos no Brasil, apresentando sintomas desde náuseas, dor abdominal até problemas respiratórios, dentre outras afecções pulmonares (Siegel et al., 2019). Através de um estudo realizado por Bertoni e Szklo (2021) a prevalência de usuários de cigarros eletrônicos concentravam-se na região Centro-Oeste do Brasil, sendo o Distrito Federal com maior índice de usuários. Além da geolocalização, o estudo associou a prevalência em indivíduos do sexo masculino e com a faixa etária de 18 a 34 de idade.
O diagnóstico da EVALI permanece de exclusão, dependendo do estado de cada paciente. Os achados de imagens são um bom sugestivo para o diagnóstico, onde a maioria dos exames apresentam-se com infiltrados bilaterais, na Tomografia Computadorizada (TC), se manifestam com a presença de opacidades em vidro fosco (Chen et al., 2020). A TC de tórax pode ser solicitada quando os resultados de uma radiografia não estiverem conferindo com os achados clínicos, além de averiguar o quadro do paciente e com uma possível piora, como pneumotórax, pneumomediastino e até mesmo uma embolia pulmonar (Santos et al., 2021).
Sobre a sintomatologia da EVALI, em um estudo realizado por Doukas e seus colaboradores (2020), pode-se observar que em cada oito de dez acometidos pelos sintomas apresentavam queixas respiratórias (tosse e falta de ar), seis em cada dez usuários apresentavam sintomas gastrointestinais (náuseas e dores abdominais) e sete de cada dez indivíduos apresentavam sintomas de febre e fraqueza generalizada. A maioria desses usuários também apresentavam achados laboratoriais não característico, incluindo leucocitose e taxa de inflamação elevada no organismo (Cecchini et al., 2020).
O tratamento da EVALI ainda é controverso devido à escassez de estudos, certamente a maneira mais eficaz seria a suspensão completa desses dispositivos eletrônicos de fumar. Ademais, a terapêutica pode ser variável, dependendo da gravidade e dos sintomas apresentados por cada indivíduo (Cecchini et al., 2020). A abstinência do cigarro eletrônico é um efeito colateral comum ao tratamento e, além disso, podem ser ministrados corticoides a curto prazo, de acordo com o estado de saúde de cada paciente (Kaous et al., 2020).
Nesse cenário, a Fisioterapia respiratória emerge como uma ferramenta crucial no tratamento das doenças respiratórias causadas pelos cigarros eletrônicos, visando preservar a integridade do sistema respiratório (Sarmento, 2016). A Fisioterapia respiratória é uma área que engloba a manutenção do sistema respiratório dos indivíduos, garantindo uma boa recuperação em possíveis danos respiratórios e mantendo a homeostase do corpo, além de contribuir diretamente na prevenção, no reparo dos danos e prevenindo outros déficits (Pereira; Silva, 2021).
Devido aos danos causados pela inalação das partículas tóxicas presentes no cigarro eletrônico, os Fisioterapeutas atuam como responsáveis para a recuperação do sistema afetado, com tratamentos prescritos individualmente conforme as necessidades de cada paciente. A Fisioterapia respiratória atua como forma integrante no manejo do tratamento associado à EVALI e tem fundamental importância na aplicação de condutas e técnicas que se adequam a necessidade de cada paciente (Carvalho; Landim, 2022).
Em casos em que se necessita de suporte intensivo, o profissional entra como aliado no suporte de ventilação mecânica e no manejo do aparelho (Santos et al., 2024). Grande parte dos pacientes podem necessitar de cuidados intensivos, dentre eles a Ventilação Mecânica Não Invasiva – VNI, e em casos mais graves, como a progressão para uma Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo – SDRA, os pacientes necessitarão do suporte ventilatório invasivo (D’Almeida et al., 2020).
Conforme a identificação da patologia e o início do protocolo de atendimento recomendado, a internação média dos pacientes na unidade de terapia intensiva varia de uma a duas semanas. Ademais, a fim de evitar a reinternação ou óbito dos pacientes após alta, são necessárias algumas orientações, dentre elas a monitorização dos sinais vitais até 48 horas antes da alta, atendimento ambulatorial especializado, incluindo pneumologistas e fisioterapeutas para trabalho da função pulmonar, o planejamento de acompanhamento precoce pós-hospitalização e o apoio psicossocial (D’Almeida et al., 2020).
Dito isso, as técnicas assistidas pelo Fisioterapeuta visam a recuperação, utilizando recursos que almejam a reabilitação pulmonar e a expansão pulmonar, fortalecendo os músculos respiratórios através do treinamento respiratório (Santos et al., 2024). Ademais, é função do Fisioterapeuta o manuseio e a regulagem da máquina ventilatória no modo necessário na qual o indivíduo esteja necessitando no momento, além de outros recursos almejando o bem estar do paciente (Silva, 2023).
Logo, visto o aumento das sequelas que os dispositivos eletrônicos podem causar em um curto espaço de tempo, além da lacuna de estudos sobre as intervenções e o tratamento, delineou-se este estudo, com isso, a finalidade de preencher e contribuir para o avanço das informações, servindo estratégias eficazes sobre como a Fisioterapia pode intervir e agregar para o tratamento dos indivíduos acometidos pela EVALI.
METODOLOGIA
Este estudo trata-se de uma revisão bibliográfica, sendo de natureza qualitativa, sobre a seguinte temática: Abordagem fisioterápica na injúria pulmonar associada ao uso do cigarro eletrônico. O estudo foi desenvolvido por uma busca na literatura em base de dados de artigos científicos como: Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE/PubMed), Physiotherapy Evidence Database (PEDro) e Scientific Electronic Library Online (SciELO), com os Descritores em Ciência da Saúde (DeCS): “Lesão Pulmonar”, “vaping”, “lung injury”, “evali”, “physiotherapy“ conforme o Quadro 1. Os critérios de inclusão foram artigos disponíveis na íntegra nas línguas portuguesa, inglesa, espanhola ou chinesa; sem restrição de estudo e que foram publicados no período de 2015 a 2024. Como critérios de exclusão, foram artigos que não abordavam a temática proposta, artigos duplicados, os que estavam fora do período de publicação elegido, estudos de outra língua além da ausência escrita sobre as implicações ocasionadas pela utilização dos dispositivos eletrônicos de fumar. A pesquisa perpetuou-se de outubro de 2023 a agosto de 2024. Os resultados serão descritos em formato de tabela (Quadro 2) contendo: autor e ano; título da obra; objetivo; resultados e conclusão. O estudo respeita os aspectos éticos com relação a Lei N°9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Quadro 1 – Busca inicial dos artigos com os DeCS nas bases de dados LILACS, MEDLINE/PubMed, PEDro e SciELO.
BASES DE DADOS | DECS INSERIDOS NA BUSCA | SUBDIVISÃO DOS ENCONTRADOS |
LILACS | Lesão Pulmonar, vaping, lung injury, evali, e physiotherapy. | Nacionais: 2 Internacionais: 7 |
MEDLINE/PubMed | Lesão Pulmonar, vaping, lung injury, evali, e physiotherapy. | Nacionais: 452 Internacionais: 1.093 |
PEDro | Lesão Pulmonar, vaping, lung injury, evali, e physiotherapy. | Nacionais: 5 Internacionais: 67 |
SciELO | Lesão Pulmonar, vaping, lung injury, evali, e physiotherapy. | Nacionais: 11 Internacionais: 26 |
Total | LILACS, MEDLINE/PubMed, PEDro e SciELO. | 1663 artigos |
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As buscas reportaram 1.663 artigos encontrados e após os critérios de inclusão e exclusão foram desprezados 1.250 artigos. Além disso, foram descartados 82 artigos duplicados, 102 artigos que não seguiram o tema e 145 após leitura dos resultados. Através disso, obteve-se 84 artigos para compor a base de dados desse estudo.
Por fim, foram selecionados no total 11 artigos para elaboração dos resultados e discussão do presente estudo. Um fluxograma detalhado do processo de busca e seleção está apresentado na figura de número 1. Os artigos selecionados para escrita da revisão foram organizados no quadro de número 2, o qual foi utilizado como guia para discussão.
Figura 1 – Fluxograma do processo de busca e seleção dos artigos para construção dos resultados e discussão.
Quadro 2 – Artigos selecionados para essa revisão.
Conforme a análise dos estudos, Gutecoski; Vieira e Biazon (2023) citam que o cigarro eletrônico possui direta ligação com os efeitos tóxicos no organismo devido às substâncias que compõem os compostos destes dispositivos. Os solventes presentes nos cigarros eletrônicos, como o propilenoglicol e glicerina são prejudiciais à saúde, pois a combustão dessas substâncias origina compostos carboxílicos que são carcinogênicos.
Corroborando essa afirmação, Pinto et al., (2023) cita que a inalação desses dispositivos induz a irritação no sistema respiratório, o que aumenta os níveis de toxicidade e a alteração da permeabilidade pulmonar, fatores que podem acarretar a inflamação das vias aéreas e o desequilíbrio da homeostase.
Com efeito, D’Almeida et al., (2020) cita que a falsa percepção que os cigarros eletrônicos podem passar e, consequentemente, os sintomas súbitos que a exposição das substâncias presentes pode causar nos indivíduos, houve a necessidade de nomear uma patologia: a EVALI.
O autor ressalta que o desconforto respiratório é o principal achado clínico da EVALI, além de outros sintomas como gastrointestinais e cardíacos. A falência dos músculos respiratórios afeta na hemodinâmica dos indivíduos, fator este que pode ser elucidado pela decadência de oxigenação e que pode prejudicar a relação ventilação/perfusão do arcabouço pulmonar.
Ainda, D’Almeida et al., (2020) aprofunda em seu estudo, que por possuir sintomas comuns de outras patologias, o diagnóstico da EVALI é de exclusão, o autor justifica que o histórico de uso desses dispositivos é o grande fator para identificar essa síndrome. As variações de uso são de um tempo médio de 1 a 5 dias, mas as manifestações clínicas alternam quanto o período de uso.
Em contrapartida, Santos et al., (2021), relata que o diagnóstico vai muito além de visualizar o histórico do paciente, é necessário solicitar os exames complementares como a radiografia e a tomografia de tórax desses indivíduos, como também observar os exames laboratoriais, uma vez que os resultados podem indicar inflamações no sistema respiratório.
Em seu estudo sobre casos de EVALI, Pourshahid e seus colaboradores em 2022, relataram casos onde os pacientes apresentaram sintomas respiratórios, gastrointestinais e alterações cardíacas provenientes da iniciação do uso de cigarro eletrônicos há cerca de dois anos. Os mesmos foram submetidos a uma série de exames específicos para identificar as principais causas e manifestações clínicas, e como resultado, quatro pacientes mencionados no estudo necessitaram de aporte de oxigênio, onde dois foram submetidos a intubação orotraqueal devido as implicações respiratórias.
Concomitante a esse estudo, Funtes et al., (2019) destaca que as principais manifestações clínicas em pacientes acometidos por EVALI aumentam os riscos de infecção pulmonar, o que pode ocasionar uma Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo – SDRA, necessitando de prótese ventilatória para reverter as complicações.
Santos et al., (2024) destaca que o Fisioterapeuta desempenha atribuições cruciais se tratando das implicações da EVALI, com técnicas distintas para melhoria da função pulmonar e a recuperação da autonomia, combatendo a dispneia, sintoma comum que os pacientes podem apresentar.
Com isso, variadas técnicas são mencionadas para abordagem em casos de EVALI, que vão desde exercícios que visam a mobilização de secreções retidas no epitélio pulmonar, como manobras de reexpansão pulmonar e estratégias como o uso de pressão positiva para melhorar os níveis de saturação e diminuir o desconforto respiratório dos indivíduos (Santos et al., 2024).
Por outro lado, Pereira e Veneziano (2021) destacam que a avaliação é um ponto chave para elencar qual técnica deve ser realizada com cada paciente para assim obter melhores resultados. Em seu estudo, foi investigado que as técnicas de higiene brônquica são as melhores elencadas para a fase de tratamento a curto prazo da doença, que são: Tique traqueal, huffing e aceleração do fluxo expiratório (AFE). Outrossim, o autor ressalta que objetivo das técnicas é mobilizar e remover secreções retidas, e com isso reconstruir a capacidade pulmonar e melhorar a ventilação, aumentando a oxigenação.
Conforme as repercussões negativas que a EVALI pode causar, Santos et al., (2024) frisa que a adesão na Unidade de Terapia Intensiva-UTI, é um ponto a ser levado em consideração devido aos casos de falência respiratória. Dito isso, é mais um ponto chave para o Fisioterapeuta estar preparado para manusear equipamentos como ventilador mecânico e estar alerta sobre a evolução clínica de cada paciente.
Englobando a afirmação de Santos e seus colaboradores, Costa et al., (2021) complementa que a Ventilação Mecânica Não Invasiva-VNI é um forte elemento a ser usado para pacientes que estejam passando por um difícil desmame de Ventilação Mecânica Invasiva-VMI, o recurso pode ser uma estratégia no Teste de Respiração Espontânea-TRE, e em uma extubação precoce a VNI profilática é uma boa alternativa.
Para Silva e Feitosa (2023), não tem evidências concretas sobre o tempo de internação de pacientes acometidos por EVALI. Em vista disso, a prevalência no leito pode acarretar outras disfunções, como o imobilismo e outras infecções respiratórias presentes em um ambiente hospitalar, favorecendo aos riscos.
Conforme os desafios que os pacientes acometidos por essa doença podem enfrentar, Santos et al., (2024) ressalta que a equipe multidisciplinar deve estar ciente sobre os riscos e dominante sobre quais abordagens realizar perante a realidade. Consolidando essa afirmação, Pereira e Veneziano (2021) ressaltam que a equipe multidisciplinar tem um importante papel sobre as manifestações clínicas dos pacientes acometidos com EVALI, o Fisioterapeuta, por exemplo, possui funções essências desde a prevenção quanto ao tratamento dessa síndrome com caráter respiratório.
Por fim, Siegel et al., (2019) menciona algumas orientações sobre as condutas para os profissionais de saúde em como conduzir uma possível suspeita de EVALI. É importante observar as manifestações clínicas (história da doença, exame físico, exame de imagens e exames laboratoriais), e também a conduta do tratamento, como as dosagens de medicamentos e o acompanhamento com outros profissionais para avaliar a questão respiratória, cardíaca e gastrointestinal.
Pautado nas considerações, os autores citam que o acompanhamento após a alta hospitalar deve ser seguido, com no máximo 1-2 semanas para a avaliação da função pulmonar e demais exames, além de orientar sobre os serviços de prestação a cessação do vício destes dispositivos eletrônicos de fumar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Frente ao exposto, é possível inferir que os cigarros eletrônicos representam uma ameaça a sociedade, uma vez que esses dispositivos possuem uma composição anatômica e um mecanismo de uso que podem causar prejuízos ao corpo humano. As substâncias presentes são uma advertência quanto ao uso, por se tratar de compostos totalmente letais ao ser humano. A EVALI é uma patologia proveniente do uso indiscriminado desses produtos. Ademais, a orientação sobre o quanto a exposição a fumaça destes dispositivos podem ser uma ameaça a saúde deve estar sendo debatida em locais públicos, como também intensificar a fiscalização do mercado de venda para o combate da compra e uso dos cigarros eletrônicos no mundo.
Por seu turno, é importante que a equipe multidisciplinar esteja ciente quanto aos riscos do cigarro eletrônicos e como abordar em casos suspeitos de EVALI. Se tratando do profissional fisioterapeuta, é importante que o mesmo esteja ciente das principais manifestações clínicas que os pacientes podem apresentar para assim, utilizar a ferramenta correta quanto a necessidade de cada indivíduo. É necessário o domínio em oxigenoterapia e ventilação mecânica, haja vista a necessidade de muitos pacientes quanto ao aporte de oxigênio devido à queda de saturação. Ademais, é necessário realizar exercícios que promovam a mobilização de secreções retidas e que visem a reexpansão pulmonar, devido o desconforto respiratório dos pacientes.
Não obstante e, levando-se em consideração esses aspectos, apesar de existir uma extensa literatura sobre o mecanismo de lesão do cigarro eletrônico, pouco cita sobre as principais abordagens para profissionais de saúde sobre as melhores condutas fisioterapêuticas para pacientes acometidos com EVALI. Não se sabe ao certo os efeitos dessas substâncias no ser humano, pois a resposta no organismo varia entre semanas ou nos próximos anos. É primordial que seja realizado mais estudos para que os mesmos estejam atualizados sobre as recomendações e principais cuidados para essa patologia que assola muitos adultos jovens que pode ser devastador, levando a uma obscuridade sobre aquilo que foi abordado ao longo da pesquisa.
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5, 6, 7, 8, 9Centro Universitário INTA – UNINTA