REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202505272028
Luciana Barbosa Sousa de Lucena1
Juliana Kelly do Nascimento Félix1
Vanessa Diniz Gurgel Queiroz1
Ádyla Menezes Cavalcanti1
Laura de Moura Rodrigues2
Fabrício Vieira Cavalcante2
RESUMO
A entorse de tornozelo é uma das lesões mais frequentes entre atletas de voleibol, impactando diretamente o desempenho esportivo e a continuidade na prática competitiva. Essa condição, muitas vezes subestimada, pode evoluir para quadros de instabilidade crônica, dor persistente e limitações funcionais quando não tratada de forma adequada. Diante da importância da fisioterapia na reabilitação e prevenção dessas lesões, este estudo tem como objetivo analisar as principais abordagens fisioterapêuticas utilizadas na recuperação de atletas de voleibol acometidos por entorse de tornozelo, por meio de uma revisão de literatura. Foram selecionadas publicações entre 2020 e 2025 em bases científicas reconhecidas, utilizando critérios de atualidade, relevância temática e clareza metodológica. Os resultados indicam que a cinesioterapia, o treinamento proprioceptivo, o uso de bandagens funcionais e estratégias de prevenção contínua são recursos amplamente empregados e eficazes. Observou-se também que a personalização dos protocolos e a atuação preventiva integrada ao treino esportivo são fatores decisivos para o sucesso terapêutico e o retorno seguro à prática. O estudo reforça o papel essencial do fisioterapeuta esportivo na promoção da saúde articular e no desempenho atlético, destacando que a reabilitação deve ir além do tratamento da lesão, contemplando a funcionalidade e a confiança do atleta. Conclui-se que o fortalecimento de práticas baseadas em evidências contribui para o avanço da fisioterapia esportiva e para a qualidade da assistência prestada.
Palavras-chave: Fisioterapia; Tornozelo; Entorse; Voleibol; Reabilitação.
ABSTRACT
Ankle sprain is one of the most frequent injuries among volleyball athletes, directly affecting sports performance and continuity in competitive practice. This condition, often underestimated, can progress to chronic instability, persistent pain, and functional limitations when not properly treated. Given the importance of physiotherapy in the rehabilitation and prevention of such injuries, this study aims to analyze the main physiotherapeutic approaches used in the recovery of volleyball athletes with ankle sprains, through a literature review. Scientific publications from 2020 to 2025 were selected from recognized academic databases, based on criteria of relevance, recency, and methodological clarity. The results show that kinesitherapy, proprioceptive training, functional taping, and continuous prevention strategies are widely used and effective resources. The analysis also revealed that individualized treatment protocols and the integration of preventive physiotherapy into sports routines are essential for successful rehabilitation and a safe return to competition. The study highlights the central role of the sports physiotherapist in promoting joint health and athletic performance, emphasizing that rehabilitation should go beyond symptom relief, aiming at restoring functionality and the athlete’s confidence. It is concluded that strengthening evidence-based practices contributes significantly to the development of sports physiotherapy and to the quality of care provided to athletes.
Keywords: Physiotherapy; Ankle; Sprain; Volleyball; Rehabilitation.
1. INTRODUÇÃO
A entorse de tornozelo representa uma das lesões mais recorrentes no esporte, especialmente em modalidades que envolvem saltos, mudanças bruscas de direção e contato físico, como é o caso do voleibol. Essa condição ocorre, geralmente, por mecanismos de inversão forçada do pé, levando à lesão de ligamentos que estabilizam a articulação do tornozelo, sendo o ligamento talofibular anterior o mais comumente afetado (MELO, 2023). No contexto esportivo, a entorse de tornozelo não só compromete o desempenho do atleta, como também pode acarretar complicações a longo prazo, como a instabilidade crônica, reincidência de lesões e afastamentos prolongados das atividades esportivas.
O voleibol, por sua vez, destaca-se como uma prática esportiva que exige elevado desempenho biomecânico e funcional dos membros inferiores, sobretudo em ações como saltos, bloqueios e deslocamentos laterais. De acordo com De Andrade et al. (2023), as lesões musculoesqueléticas nos atletas de voleibol são frequentes, sendo as entorses de tornozelo um dos principais motivos de intervenção fisioterapêutica. Além dos impactos físicos, as lesões nesse grupo esportivo também reverberam em aspectos psicológicos e emocionais, prejudicando a autoconfiança e a continuidade na prática desportiva (BERNARDES et al., 2025).
Nesse cenário, a fisioterapia desempenha um viés fundamental tanto na reabilitação quanto na prevenção dessas lesões. A abordagem fisioterapêutica se destaca por sua capacidade de restaurar a função articular, promover analgesia, recuperar a estabilidade e melhorar a performance esportiva do atleta (Carvalho et al., 2024). Estudos evidenciam que protocolos baseados em cinesioterapia, eletrotermoterapia, recursos manuais e, principalmente, treinamento proprioceptivo são eficazes na recuperação funcional de entorses de tornozelo (FIGUEIREDO D. S et al., 2020; VIEIRA et al., 2022).
Um dos pontos mais debatidos na literatura atual refere-se à importância da individualização do tratamento fisioterapêutico, respeitando as particularidades de cada atleta quanto à gravidade da lesão, fase do processo de reabilitação e metas esportivas (ALMEIDA; ARAÚJO, 2023). Tal perspectiva amplia o dever do fisioterapeuta para além do aspecto clínico, exigindo uma atuação multidisciplinar e colaborativa, alinhada aos princípios da medicina do esporte (LOPES et al., 2023).
Ainda segundo Donatti et al. (2023), quando o tratamento não é adequadamente conduzido, as entorses de tornozelo podem evoluir para quadros de instabilidade crônica, resultando em prejuízos funcionais permanentes e maior propensão a novas lesões. Isso demonstra a necessidade de intervenções baseadas em evidências e atualizadas quanto às técnicas e condutas utilizadas, garantindo o retorno seguro e eficiente do atleta à prática esportiva.
No que diz respeito à prevenção, o treinamento proprioceptivo tem ganhado destaque por sua efetividade na redução da incidência de entorses recorrentes. A incorporação de exercícios que estimulam o controle neuromuscular, equilíbrio e estabilidade articular tem se mostrado uma estratégia eficaz tanto no tratamento quanto na prevenção (DÊCIÊNCIA EM FOCO, 2023). Segundo Mendes (2023), ele corrobora com essa visão ao destacar a relevância da atuação preventiva da fisioterapia na rotina de atletas, integrando-se de forma contínua às atividades de treinamento esportivo.
É importante reconhecer que a entorse de tornozelo em atletas de voleibol vai além de um episódio isolado de lesão. Trata-se de uma condição que demanda atenção especializada, estratégias terapêuticas assertivas e, acima de tudo, uma atuação fisioterapêutica comprometida com a recuperação integral do indivíduo. Assim, a presente revisão de literatura propõe-se a analisar e discutir as principais abordagens fisioterapêuticas voltadas à reabilitação de atletas de voleibol acometidos por entorse de tornozelo, com o intuito de compreender as estratégias terapêuticas mais eficazes, suas aplicações práticas e contribuições para o retorno funcional seguro e o desempenho esportivo desses atletas, considerando as evidências disponíveis e sua aplicabilidade prática.
A escolha do tema “Abordagem fisioterapêutica na reabilitação de atletas de voleibol com entorse de tornozelo” surgiu da observação da alta incidência dessa lesão em modalidades esportivas que exigem saltos frequentes, mudanças rápidas de direção e movimentos explosivos dos membros inferiores, como ocorre no voleibol. O esporte em questão, praticado por atletas de diferentes idades e níveis competitivos, envolve ações que sobrecarregam a articulação do tornozelo, tornando-a vulnerável a traumas ligamentares. As entorses de tornozelo, apesar de serem frequentemente consideradas lesões simples, podem ter consequências significativas, como dor persistente, instabilidade crônica, dificuldade funcional e recorrência da lesão, comprometendo não apenas o desempenho esportivo, mas também a qualidade de vida e a trajetória profissional do atleta (DONATTI et al., 2023; MELO, 2023).
Nesse contexto, a fisioterapia desponta como uma ciência essencial para promover uma recuperação eficaz, funcional e segura. A atuação do fisioterapeuta na reabilitação de entorses de tornozelo vai muito além da simples recuperação da integridade tecidual, envolvendo a restauração da propriocepção, da força muscular, do controle motor e da estabilidade articular (CARVALHO et al., 2024). Além disso, o profissional deve ser capaz de identificar os fatores biomecânicos e neuromusculares que contribuem para a ocorrência e a recorrência da lesão, intervindo de forma preventiva por meio de estratégias baseadas em evidências científicas (ALMEIDA; ARAÚJO, 2023).
A relevância deste estudo justifica-se ainda mais diante do aumento da prática esportiva e da busca por desempenho atlético em alto nível. Segundo De Andrade et al. (2023), as lesões musculoesqueléticas, como as entorses de tornozelo, estão entre os principais motivos de afastamento de atletas do voleibol, afetando diretamente a continuidade da prática e os resultados em competições. Nesse cenário, torna-se essencial compreender as abordagens fisioterapêuticas mais eficazes disponíveis na literatura, permitindo que os profissionais da área adotem intervenções direcionadas, seguras e alinhadas às necessidades específicas dos atletas.
Outro ponto que reforça a importância do tema é a crescente valorização da prevenção no âmbito da saúde esportiva. Atualmente, a literatura tem evidenciado o encargo do treinamento proprioceptivo e da reeducação funcional como ferramentas fundamentais não apenas na reabilitação, mas também na redução do risco de novas lesões (DÊCIÊNCIA EM FOCO, 2023; LOPES et al., 2023). Compreender como esses recursos vêm sendo aplicados na prática clínica e quais são seus efeitos reais na recuperação de atletas de voleibol pode contribuir significativamente para a construção de protocolos mais eficientes e personalizados.
Além da contribuição acadêmica e científica, a presente pesquisa se mostra socialmente relevante, uma vez que o voleibol é amplamente praticado em contextos escolares, recreativos e profissionais no Brasil. Promover o conhecimento sobre intervenções fisioterapêuticas adequadas para tratar e prevenir entorses de tornozelo pode impactar diretamente na saúde e no bem-estar de milhares de atletas, favorecendo não apenas sua performance esportiva, mas também sua segurança durante a prática (FIGUEIREDO DA SILVA et al., 2020 VIEIRA et al., 2022).
Dessa forma, a proposta de desenvolver uma revisão de literatura sobre esse tema se alinha à necessidade de sistematizar os conhecimentos já produzidos, identificar lacunas na prática clínica e estimular a adoção de condutas baseadas em evidências. Trata-se de um esforço acadêmico que visa fortalecer a atuação do fisioterapeuta no esporte, promovendo avanços na qualidade da assistência prestada e, consequentemente, na performance e longevidade dos atletas em quadra. Acredita-se que os resultados obtidos com esta pesquisa poderão servir de base para futuras investigações, além de contribuir com a formação profissional de fisioterapeutas interessados em atuar na área da reabilitação esportiva.
Esta pesquisa delimita-se ao estudo das abordagens fisioterapêuticas utilizadas na reabilitação de atletas de voleibol que sofreram entorse de tornozelo, com ênfase nas estratégias terapêuticas descritas na literatura científica recente. O foco está centrado na atuação do fisioterapeuta durante o processo de reabilitação funcional, considerando os recursos mais frequentemente empregados, como a cinesioterapia, os exercícios proprioceptivos e os métodos de prevenção de recidivas, além de intervenções que favoreçam o retorno seguro ao esporte.
O estudo restringe-se ao contexto esportivo e à realidade dos atletas de voleibol, não contemplando outros esportes, nem casos clínicos fora do ambiente competitivo. Da mesma forma, limita-se às práticas fisioterapêuticas não invasivas, excluindo condutas médicas, cirúrgicas ou farmacológicas.
Como trata-se de uma revisão de literatura, o trabalho se baseia exclusivamente em publicações científicas que tratam da reabilitação de entorses de tornozelo dentro do escopo fisioterapêutico, priorizando estudos publicados nos últimos anos. Essa delimitação tem como propósito oferecer um recorte claro e relevante, capaz de contribuir para a prática profissional e para o aprimoramento do cuidado fisioterapêutico prestado a atletas de voleibol, promovendo sua recuperação eficiente, segura e baseada em evidências.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 ASPECTOS FISIOPATOLÓGICOS E FUNCIONAIS DA ENTORSE DE TORNOZELO NO CONTEXTO ESPORTIVO
A entorse de tornozelo é uma das lesões musculoesqueléticas mais comuns em esportes que envolvem saltos, mudanças rápidas de direção e aterrissagens, como o voleibol. No contexto esportivo, especialmente entre atletas de alto rendimento, esse tipo de lesão representa não apenas uma interrupção temporária nas atividades, mas também um risco significativo para a continuidade da carreira esportiva. A fisiopatologia da entorse de tornozelo envolve, em grande parte, o estiramento ou rompimento de ligamentos que compõem a articulação tíbio-társica, sendo o ligamento talofibular anterior o mais frequentemente afetado, devido à predominância do mecanismo de inversão forçada do pé durante as ações de jogo (Melo, 2023).
No voleibol, movimentos como saltos para bloqueio ou ataque e aterrissagens desequilibradas após disputas na rede expõem os atletas a constantes sobrecargas nos tornozelos. Segundo De Andrade et al. (2023), a incidência de lesões ligamentares nessa modalidade é elevada e afeta diretamente o desempenho e a segurança dos jogadores. A entorse, quando não tratada adequadamente, pode evoluir para instabilidade articular crônica, resultando em episódios recorrentes de dor, sensação de falseio, perda de força e limitações funcionais. Esses fatores, além de comprometerem a performance esportiva, aumentam o risco de lesões secundárias, como fraturas por estresse e lesões de cartilagem.
A entorse do tornozelo é classificada em três graus, conforme a gravidade da lesão. O grau I refere-se ao estiramento leve do ligamento, com discreto edema e dor localizada; o grau II envolve ruptura parcial do ligamento, edema mais acentuado e limitação funcional moderada; e o grau III representa a ruptura completa do ligamento, geralmente acompanhada de instabilidade significativa e limitação funcional severa. Essa classificação orienta tanto o diagnóstico quanto o plano de reabilitação, sendo essencial para a escolha das condutas fisioterapêuticas adequadas (FIGUEIREDO DA SILVA et al., 2020).
Além do aspecto estrutural, as entorses de tornozelo acarretam alterações sensório-motoras importantes. A propriocepção, que é a capacidade do corpo em reconhecer a posição e o movimento das articulações, costuma ser prejudicada após a lesão, dificultando o controle motor e a estabilidade durante as atividades esportivas. Isso ocorre porque os mecanorreceptores presentes nos ligamentos e músculos ao redor do tornozelo sofrem danos que afetam o envio de informações corretas ao sistema nervoso central. Como resultado, o atleta pode ter dificuldades para perceber os limites articulares e reagir de forma eficiente a desequilíbrios, o que contribui para o risco de novas lesões (ALMEIDA; ARAÚJO, 2023).
É importante destacar que, no voleibol, a repetição de movimentos de alta exigência física sem o devido preparo biomecânico e neuromuscular pode agravar as consequências de uma entorse, principalmente em atletas que não passam por um processo adequado de reabilitação. Segundo Bernardes et al. (2025), a ausência de intervenções específicas e personalizadas pode levar à redução da capacidade funcional mesmo após a cicatrização do tecido lesionado, evidenciando a necessidade de uma abordagem terapêutica integrada que considere os aspectos físicos e funcionais do atleta como um todo.
Além das repercussões físicas, é necessário considerar também os impactos emocionais e psicológicos que acompanham uma entorse de tornozelo, principalmente entre atletas de competição. A ansiedade em retornar rapidamente às quadras, o medo de sofrer uma nova lesão e a frustração com a limitação funcional podem interferir no processo de reabilitação e dificultar a adesão às etapas do tratamento. Lopes et al. (2023) ressaltam que o acompanhamento fisioterapêutico deve ser sensível a essas questões, promovendo não apenas a recuperação física, mas também o fortalecimento da confiança e da autonomia do atleta durante o retorno ao esporte.
O entendimento aprofundado dos aspectos fisiopatológicos e funcionais da entorse de tornozelo é essencial para o desenvolvimento de estratégias eficazes de intervenção e prevenção. A fisioterapia, ao atuar diretamente na recuperação dos tecidos, na reeducação neuromuscular e na preparação funcional do atleta, assume um objetivo central na gestão dessa lesão no voleibol. Conhecer os mecanismos de lesão, suas manifestações clínicas e suas consequências a curto e longo prazo permite que o profissional de saúde planeje intervenções mais seguras, eficientes e personalizadas, favorecendo um retorno ao esporte com menores riscos e melhores resultados.
A escolha desse tema se justifica pela sua relevância prática e pela necessidade de ampliar a compreensão sobre a complexidade dessa lesão, que vai muito além da dor localizada e do edema inicial. A entorse de tornozelo representa um desafio contínuo para atletas e profissionais de saúde, exigindo conhecimento técnico, atualização científica e sensibilidade para lidar com as demandas físicas e emocionais envolvidas na reabilitação. O aprofundamento teórico e prático sobre o tema contribui diretamente para o avanço da fisioterapia esportiva e para a promoção de uma prática clínica mais segura, eficiente e centrada no atleta.
2.2 ABORDAGENS FISIOTERAPÊUTICAS NA REABILITAÇÃO E PREVENÇÃO DA ENTORSE DE TORNOZELO EM ATLETAS
A reabilitação fisioterapêutica de atletas acometidos por entorse de tornozelo no voleibol exige um olhar técnico, sensível e individualizado. A complexidade dessa lesão, que envolve estruturas ligamentares, articulares, neuromusculares e proprioceptivas, demanda condutas terapêuticas específicas, direcionadas não apenas para a recuperação física imediata, mas também para a reintegração funcional do atleta à prática esportiva com segurança. No contexto do voleibol, em que há intensa exigência dos membros inferiores em ações de salto e aterrissagem, a atuação fisioterapêutica precisa considerar as particularidades do gesto esportivo, a carga de treino e competição, e os riscos de recidiva da lesão. Dentro dessa perspectiva, diversas estratégias vêm sendo utilizadas com sucesso na reabilitação, como a cinesioterapia, o treinamento proprioceptivo, a terapia manual, a aplicação de bandagens funcionais e o uso de recursos eletrotermoterapêuticos.
A cinesioterapia, baseada em movimentos terapêuticos ativos e passivos, é amplamente empregada para restaurar a amplitude de movimento, melhorar a força muscular e promover estabilidade articular. Segundo Vieira et al. (2022), esse tipo de abordagem deve ser progressiva e respeitar as fases da cicatrização tecidual, iniciando com mobilizações leves e evoluindo para exercícios resistidos e funcionais. O objetivo é garantir que o tornozelo recupere sua mobilidade, sem provocar dor ou sobrecarga, e que os grupos musculares adjacentes sejam fortalecidos para compensar eventuais déficits. Ao longo do processo, o fisioterapeuta atua ativamente na avaliação contínua dos ganhos funcionais e na adaptação dos exercícios às necessidades do atleta.
Outro recurso essencial no processo de reabilitação é o treinamento proprioceptivo, que visa restaurar o controle postural, o equilíbrio dinâmico e a resposta neuromuscular aos estímulos externos. Quando ocorre uma entorse, os receptores sensoriais presentes nos ligamentos e músculos da articulação sofrem lesões, prejudicando a percepção do movimento e o reflexo de proteção articular. Com isso, o risco de novas lesões aumenta significativamente. De acordo com Almeida e Araújo (2023), o trabalho proprioceptivo deve ser introduzido ainda nas fases intermediárias da reabilitação e continuar até a completa reintegração esportiva, utilizando superfícies instáveis, estímulos visuais e tarefas motoras complexas que desafiam o controle neuromuscular.
A atuação fisioterapêutica também pode incluir o uso de bandagens funcionais, que têm como objetivo oferecer suporte à articulação lesionada sem restringir completamente o movimento. Esse recurso permite que o atleta execute exercícios com maior segurança durante as fases de transição entre a reabilitação clínica e o retorno às atividades esportivas. Moreira (2021) destaca que as bandagens contribuem para a melhora da percepção corporal e ajudam a reduzir a sobrecarga sobre os tecidos ainda em recuperação. No entanto, seu uso deve ser criterioso, sendo apenas um complemento às demais estratégias terapêuticas e não um substituto para o fortalecimento e reeducação funcional.
Além disso, as terapias manuais e os recursos eletrotermoterapêuticos são frequentemente utilizados para controle da dor, redução do edema e melhora da circulação local nas fases iniciais da lesão. Embora esses recursos não promovam ganhos funcionais diretos, sua aplicação correta favorece o início precoce da mobilização e evita a rigidez articular. Donatti et al. (2023) ressaltam que a combinação de recursos analgésicos com mobilizações passivas pode encurtar o tempo de recuperação, facilitando a transição para etapas mais ativas da fisioterapia.
A literatura também enfatiza a importância de protocolos personalizados e da comunicação constante entre fisioterapeutas, treinadores e atletas. Mendes (2023) aponta que a padronização excessiva de condutas pode não ser eficaz, já que cada atleta responde de maneira única ao tratamento, em função de sua história de lesões, nível de desempenho e condição física. Por isso, é indispensável que o fisioterapeuta tenha uma escuta atenta, realize avaliações frequentes e adapte os exercícios de acordo com a evolução do quadro. A participação ativa do atleta no processo, compreendendo a importância de cada etapa, também é decisiva para o sucesso da reabilitação.
Outro ponto relevante diz respeito à prevenção. A fisioterapia esportiva não deve se limitar ao momento pós-lesão. Estratégias preventivas, como sessões regulares de fortalecimento e propriocepção, orientações sobre calçados adequados, avaliação biomecânica e adaptações nos treinos, são fundamentais para minimizar o risco de entorses e recidivas. Santos (2022) reforça que a prevenção integrada ao planejamento de treinos é uma forma eficaz de manter os atletas em condições seguras, evitando afastamentos prolongados e prejuízos à performance.
Diante de todas essas abordagens, fica evidente que a reabilitação do atleta de voleibol com entorse de tornozelo deve ser planejada de forma multidimensional, envolvendo aspectos físicos, funcionais e emocionais. A escolha das técnicas fisioterapêuticas deve considerar o estágio da lesão, as exigências do esporte e os objetivos individuais do atleta. O trabalho do fisioterapeuta, ultrapassa o cuidado com a lesão isolada e passa a ser uma peça estratégica no desenvolvimento da performance segura e duradoura. Ao reunir conhecimento técnico, sensibilidade clínica e compromisso com a individualidade de cada caso, o profissional contribui significativamente para o sucesso da reabilitação e para a longevidade da carreira esportiva dos atletas.
3. METODOLOGIA
Esta pesquisa é uma revisão de literatura que tem como objetivo reunir e analisar publicações científicas sobre a atuação fisioterapêutica na reabilitação de atletas de voleibol com entorse de tornozelo. Para isso, foram consultadas bases de dados acadêmicas: SciELO, PubMed, Google Acadêmico, LILACS e BVS, utilizando os descritores “fisioterapia”, “tornozelo”, “entorse”, “reabilitação”, “voleibol” e “atletas”. A busca foi limitada a materiais publicados entre os anos de 2020 a 2025, priorizando artigos, dissertações, teses e revisões que tratassem diretamente do tema e que apresentassem informações úteis para a prática fisioterapêutica. A seleção dos estudos foi feita com base na atualidade, clareza metodológica e relevância clínica.
Os dados foram organizados de maneira qualitativa e interpretados com foco na identificação das técnicas mais utilizadas na fisioterapia esportiva, como a cinesioterapia, os exercícios proprioceptivos e os recursos utilizados para acelerar a recuperação funcional e prevenir novas lesões. As informações foram analisadas com base na coerência dos resultados, nas propostas terapêuticas e na aplicabilidade prática dos métodos descritos pelos autores.
Como instrumentos, utilizaram-se computadores com acesso à internet e planilhas para organização dos dados. Não houve necessidade de contato com pessoas nem aplicação de questionários, pois este trabalho é exclusivamente teórico. Por esse motivo, a pesquisa dispensa aprovação por comitê de ética, conforme diretrizes nacionais para estudos que não envolvem participantes humanos.
Entre as limitações do estudo, destacam-se a disponibilidade de acesso a algumas fontes, a diversidade dos métodos utilizados nos artigos encontrados e a limitação temporal da busca. Esses fatores podem influenciar a amplitude dos resultados e dificultar a comparação direta entre os estudos. Ainda assim, para garantir a validade do trabalho, foi realizada uma leitura criteriosa dos textos, buscando fontes confiáveis, com linguagem clara e aplicabilidade prática, o que permite que este estudo contribua de forma útil à formação e à atuação profissional na fisioterapia esportiva.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 ABORDAGENS FISIOTERAPÊUTICAS APLICADAS NA REABILITAÇÃO DE ENTORSES DE TORNOZELO EM ATLETAS DE VOLEIBOL
A reabilitação fisioterapêutica do entorse de tornozelo em atletas de voleibol exige intervenções que vão além da recuperação estrutural do tecido lesionado, demandando estratégias terapêuticas que considerem a funcionalidade esportiva, a performance atlética e a prevenção de recidivas. Diversos autores apontam para a relevância de recursos específicos como a cinesioterapia, o treinamento proprioceptivo, o uso de bandagens funcionais e os métodos eletrotermoterapêuticos, cada qual com suas indicações e níveis de eficácia descritos na literatura científica recente.
A cinesioterapia é amplamente citada como base essencial do processo de reabilitação. De acordo com Vieira et al. (2022), essa abordagem deve ser introduzida ainda nas fases iniciais da reabilitação, respeitando os limites impostos pela dor e pela inflamação, e progredindo à medida que o atleta readquire mobilidade e força. Os autores destacam que a progressão do movimento terapêutico, desde a mobilização passiva até os exercícios resistidos e funcionais, está diretamente relacionada à restauração da amplitude articular e da força muscular, aspectos fundamentais para o retorno ao esporte. De forma semelhante, Figueiredo da Silva et al. (2020) defendem que a cinesioterapia deve ser adaptada às fases de cicatrização tecidual, iniciando-se com exercícios analíticos e evoluindo para tarefas funcionais que simulam os gestos específicos do voleibol.
Essas observações se alinham aos achados de Donatti et al. (2023), que sugerem que o início precoce da movimentação articular, desde que controlado e bem orientado, contribui para a preservação da funcionalidade, evita rigidez e melhora o aporte vascular à região lesionada. Ainda assim, esses autores alertam para os riscos da sobrecarga precoce, defendendo a importância de avaliação criteriosa por parte do fisioterapeuta para evitar agravos ao quadro clínico. Em contrapartida, Lopes et al. (2023) argumentam que, embora a introdução precoce de movimentos seja benéfica, muitos protocolos falham ao não considerar a individualidade do atleta, o que pode comprometer a eficácia da intervenção.
Dentro dessa lógica, destaca-se a proposta de personalização do plano terapêutico, defendida por Mendes (2023), segundo o qual os programas reabilitativos devem ser moldados conforme as características físicas, o histórico de lesões e os objetivos esportivos de cada paciente. Essa perspectiva é reforçada por Almeida e Araújo (2023), que defendem que não há um protocolo universal aplicável a todos os casos de entorse de tornozelo, especialmente no contexto esportivo, em que as demandas são variadas e intensas. Essa necessidade de individualização também é evidenciada nos estudos de Moreira (2021), que analisam a eficácia das bandagens funcionais em diferentes perfis de atletas, demonstrando que sua utilização é mais benéfica quando integrada a outros recursos terapêuticos e ajustada à fase da reabilitação.
O treinamento proprioceptivo, por sua vez, é apontado pela maioria dos estudos como o elemento mais eficaz na recuperação da estabilidade articular e no restabelecimento do controle neuromuscular. Dêciência em Foco (2023) evidencia que essa estratégia é especialmente útil na fase intermediária e final da reabilitação, sendo indispensável para restaurar a percepção corporal, prevenir novas lesões e recuperar a confiança do atleta. Os exercícios proprioceptivos incluem desde tarefas simples em bases instáveis até desafios mais complexos que simulam situações de jogo, promovendo o recondicionamento neuromuscular de forma progressiva. Essa abordagem também é respaldada por Donatti et al. (2023), que observam que os atletas submetidos a programas proprioceptivos apresentam menor incidência de recidiva da entorse e conseguem retornar mais rapidamente às atividades esportivas. Ainda segundo esses autores, o uso de plataformas instáveis, saltos com aterrissagens controladas e estímulos visuais são recursos que, quando bem aplicados, promovem melhorias significativas no equilíbrio e na reatividade articular. Os dados de Bernardes et al. (2025) corroboram essa afirmação, destacando que o restabelecimento do controle postural e da resposta reflexa articular são elementos-chave na reabilitação esportiva e devem ser constantemente treinados, mesmo após o retorno ao esporte. Apesar do consenso quanto à efetividade da propriocepção, alguns autores divergem sobre o momento ideal para sua introdução no tratamento. Enquanto Figueiredo da Silva et al. (2020) defendem que ela deva ocorrer apenas após a fase inflamatória aguda, Lopes et al. (2023) sugerem que estímulos proprioceptivos leves podem ser iniciados já nas fases iniciais, desde que respeitados os limites funcionais do paciente. Essa diferença de abordagem revela uma lacuna na padronização dos protocolos e reforça a necessidade de que o fisioterapeuta possua embasamento técnico e sensibilidade clínica para decidir a melhor conduta.
O uso de bandagens funcionais também aparece de forma recorrente na literatura, com diferentes níveis de eficácia relatados. Moreira (2021) destaca que as bandagens são eficazes como recurso auxiliar na reabilitação, principalmente nas fases de transição entre a clínica e a quadra, pois proporcionam maior sensação de segurança ao atleta. As bandagens funcionais não devem restringir os movimentos completamente, mas sim oferecer suporte e propriocepção tátil que auxiliem na execução dos exercícios com menor risco de nova entorse. Entretanto, Vieira et al. (2022) advertem que a utilização prolongada de bandagens pode gerar uma falsa sensação de estabilidade e atrasar o fortalecimento intrínseco da articulação se não for acompanhada de cinesioterapia ativa.
De fato, a literatura analisada converge ao indicar que as bandagens devem ser tratadas como ferramenta complementar, nunca como solução isolada, sendo sua principal função oferecer suporte temporário durante atividades de maior exigência articular. Lopes et al. (2023) acrescentam que, além da eficácia física, o uso das bandagens tem efeito psicológico positivo, contribuindo para que o atleta execute os movimentos com mais confiança, fator crucial no retorno esportivo. Essa perspectiva emocional também é destacada por Santos (2022), que ressalta que o processo de reabilitação não deve desconsiderar os aspectos subjetivos da recuperação, especialmente em modalidades de alto rendimento como o voleibol. No que se refere ao uso de eletrotermoterapia e terapias manuais, os autores apresentam diferentes visões sobre a sua aplicabilidade. Donatti et al. (2023) defendem que os recursos analgésicos e anti-inflamatórios, como o ultrassom terapêutico, a crioterapia e o TENS, são úteis nas fases iniciais da reabilitação, proporcionando alívio da dor, redução do edema e melhora da mobilidade. Segundo os autores, esses recursos possibilitam o início precoce da mobilização e evitam complicações como rigidez articular e atrofia muscular. Por outro lado, Mendes (2023) questiona a eficácia isolada desses métodos, argumentando que os ganhos reais de funcionalidade dependem prioritariamente da mobilização ativa e da reeducação motora.
Essa crítica é endossada por Almeida e Araújo (2023), que apontam que, embora os recursos passivos tenham valor no controle sintomático, sua utilização deve ser limitada e estrategicamente combinada com técnicas ativas. Os autores alertam para o risco de dependência terapêutica e para a perda de tempo clínico com recursos que, embora promovam conforto imediato, não impactam significativamente na performance esportiva. Assim, a eletrotermoterapia deve ser compreendida como um meio, e não como um fim na reabilitação.
A análise crítica dos estudos selecionados permite compreender que a reabilitação da entorse de tornozelo no voleibol deve ser conduzida com uma abordagem multifatorial e progressiva, respeitando as fases de reparo tecidual, as demandas funcionais do esporte e a individualidade do atleta. Os autores são unânimes em reconhecer a cinesioterapia e o treinamento proprioceptivo como pilares da recuperação, enquanto divergem quanto à aplicação e à relevância dos recursos complementares, como bandagens e eletrotermoterapia. Essa diversidade de opiniões aponta para a importância de o fisioterapeuta manter-se atualizado, ter domínio técnico e adotar uma postura reflexiva e investigativa na escolha das intervenções.
É importante destacar também a ausência de protocolos padronizados que contemplem todas as variáveis envolvidas na reabilitação esportiva de entorses. Embora existam diretrizes gerais, cada caso demanda adaptações, sendo o julgamento clínico e a experiência do profissional determinantes no planejamento do tratamento. Como observa Bernardes et al. (2025), a combinação adequada entre recursos terapêuticos e uma escuta ativa do paciente potencializa os resultados e favorece o retorno pleno à atividade esportiva.
4.2 PREVENÇÃO DE RECORRÊNCIAS E INTEGRAÇÃO DA FISIOTERAPIA À ROTINA ESPORTIVA NO VOLEIBOL
O estudo conduzido por DêCiência em Foco (2023) é categórico ao apontar que o treinamento proprioceptivo contínuo é uma das abordagens mais efetivas na redução da recorrência de entorses de tornozelo. Segundo os autores, ao promover a reeducação sensório-motora e o fortalecimento da estabilidade articular, essa técnica contribui para que o atleta mantenha o controle postural e reaja adequadamente aos estímulos de desequilíbrio durante o jogo. Essa visão é compartilhada por Almeida e Araújo (2023), que reforçam que a propriocepção deve ser considerada não apenas uma etapa da reabilitação, mas um componente fixo da rotina de treinamento dos atletas. A ausência dessa continuidade, segundo os autores, favorece o retorno de déficits funcionais e aumenta a vulnerabilidade do tornozelo em situações de exigência extrema.
Por outro lado, Lopes et al. (2023) destacam que, embora o treinamento proprioceptivo seja amplamente recomendado, muitas equipes negligenciam sua inserção sistemática no planejamento técnico, restringindo-o ao período de reabilitação. Essa falha organizacional compromete os benefícios a longo prazo da fisioterapia preventiva e revela uma lacuna na cultura esportiva de algumas instituições. Ainda segundo os autores, a integração efetiva entre fisioterapeutas, preparadores físicos e treinadores é condição fundamental para que as estratégias preventivas sejam aplicadas de maneira consistente e adaptada ao calendário de competições e treinos.
Essa necessidade de interdisciplinaridade também é evidenciada nos achados de Mendes (2023), que propõe que o fisioterapeuta atue de forma constante no ambiente esportivo, participando ativamente da avaliação biomecânica dos atletas, da análise funcional dos gestos esportivos e dá orientação sobre condutas ergonômicas e equipamentos adequados, como calçados com suporte articular apropriado. Segundo o autor, o acompanhamento fisioterapêutico próximo ao ambiente esportivo favorece intervenções mais precisas e imediatas, que respeitam a individualidade e o momento de cada atleta.
A atuação preventiva, contudo, não deve restringir-se à esfera física. Santos (2022) destaca que o retorno do atleta à prática esportiva após uma entorse de tornozelo está frequentemente associado a medos, inseguranças e estresse psicológico. Em sua análise, o autor reforça que a percepção de instabilidade articular, mesmo após a recuperação clínica, pode influenciar negativamente o desempenho e predispor a novos episódios lesivos. Dessa forma, ele defende que a prevenção também compreenda abordagens de educação funcional, nas quais o fisioterapeuta trabalha aspectos de autoconfiança, consciência corporal e enfrentamento emocional em conjunto com a equipe multidisciplinar.
Em complemento, Donatti et al. (2023) reforçam que a educação funcional dos atletas é uma ferramenta eficaz na prevenção de recorrências. Eles observam que, ao compreender os fatores que levaram à lesão anterior, os atletas tornam-se mais conscientes dos sinais de alerta, dos limites do seu corpo e da importância da execução correta dos movimentos. Essa conscientização, associada ao treino físico orientado, contribui para o fortalecimento da responsabilidade do próprio atleta sobre sua condição funcional, tornando-o protagonista de sua saúde esportiva.
Essa perspectiva educacional é ratificada por Bernardes et al. (2025), que alertam que a reincidência de entorses muitas vezes está associada a negligências por parte do próprio atleta, como a não adesão ao protocolo completo de reabilitação ou o retorno precipitado às competições. Para os autores, o fisioterapeuta tem papel fundamental em dialogar com o atleta, explicando as etapas do processo e reforçando a importância da prevenção contínua mesmo após a alta clínica. Isso exige do profissional não apenas conhecimento técnico, mas também habilidades comunicacionais e empáticas.
A integração entre fisioterapia e rotina de treinos também é analisada por Vieira et al. (2022), que sugerem a criação de sessões preventivas semanais dentro da programação de treinos, com foco em fortalecimento muscular, propriocepção e alongamentos específicos para o tornozelo. Segundo os autores, essas sessões devem ser planejadas conforme a fase da temporada, com maior intensidade nos períodos preparatórios e manutenção durante as fases competitivas. Essa proposta se mostra particularmente relevante ao considerar que o voleibol é uma modalidade com elevado volume de jogos e treinos, o que exige estratégias compatíveis com o cronograma do time.
Moreira (2021) traz uma contribuição relevante ao abordar a utilização preventiva de bandagens funcionais durante os treinos e jogos. Segundo a autora, esse recurso pode auxiliar na proteção da articulação e na melhora da percepção corporal, principalmente entre atletas que já sofreram entorses anteriores. No entanto, ela adverte que seu uso prolongado e indiscriminado pode gerar dependência e mascarar déficits funcionais ainda não resolvidos. Portanto, a aplicação preventiva das bandagens deve estar inserida em um contexto mais amplo de avaliação e intervenção fisioterapêutica.
Em contraponto, Figueiredo da Silva et al. (2020) questionam a eficácia das bandagens funcionais como ferramenta preventiva a longo prazo. Em sua análise, os autores apontam que, apesar da popularidade do recurso entre atletas e treinadores, os estudos científicos sobre sua efetividade ainda apresentam resultados inconsistentes, sobretudo no que diz respeito à prevenção de novas lesões. Eles defendem que a verdadeira prevenção deve vir do fortalecimento neuromuscular, da reeducação motora e do acompanhamento técnico contínuo.
Essas observações demonstram que, embora haja consenso sobre a importância da prevenção, ainda existem divergências quanto aos recursos mais eficazes e à forma como devem ser aplicados. Essa diversidade de opiniões reforça a necessidade de que os programas preventivos sejam baseados em evidências atualizadas e adaptados à realidade de cada equipe e atleta. A padronização excessiva, como apontado por Lopes et al. (2023), pode ser ineficaz, pois desconsidera aspectos individuais como o histórico de lesões, a condição física atual e o nível de competição.
A literatura analisada também sugere que a prevenção de entorses de tornozelo deve ser iniciada ainda nas categorias de base, criando uma cultura de cuidado com o corpo e respeito aos limites fisiológicos desde os primeiros contatos com o esporte competitivo. Melo (2023) salienta que jovens atletas estão entre os mais vulneráveis a lesões por sobrecarga, em razão do desenvolvimento músculo-esquelético em curso e da busca intensa por desempenho. Para o autor, a presença do fisioterapeuta nas comissões técnicas das equipes juvenis é uma medida essencial para o monitoramento precoce de sinais de risco e para a implementação de intervenções educativas e corretivas.
Outro ponto abordado na literatura é a necessidade de monitoramento contínuo da evolução funcional dos atletas mesmo após o retorno às competições. De Andrade et al. (2023) defendem que o fisioterapeuta mantenha registros periódicos sobre amplitude de movimento, força, equilíbrio e estabilidade articular, utilizando testes padronizados e escalas funcionais. Esse acompanhamento possibilita a detecção precoce de regressões no quadro clínico e permite intervenções pontuais antes que ocorram novas lesões. Trata-se, portanto, de uma medida preventiva com base objetiva, que valoriza a ciência do movimento como aliada à prática esportiva.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As análises realizadas nesta pesquisa permitiram identificar que a entorse de tornozelo, embora seja uma lesão comum no voleibol, possui características complexas que exigem um acompanhamento fisioterapêutico criterioso, baseado em estratégias específicas e adaptadas à realidade esportiva de cada atleta. Os principais achados indicam que abordagens como a cinesioterapia, o treinamento proprioceptivo, o uso de bandagens funcionais e a adoção de condutas preventivas são fundamentais para garantir uma reabilitação eficaz, segura e funcional. Esses resultados respondem diretamente à questão central da pesquisa, demonstrando que as práticas fisioterapêuticas mais eficazes são aquelas que consideram a individualidade do paciente, o estágio da lesão e as exigências físicas da modalidade praticada.
Ao serem comparados com a literatura já existente, os resultados confirmam e reforçam a relevância de um plano de tratamento progressivo e multifatorial. Destaca-se a importância de integrar diferentes técnicas na reabilitação, e esta pesquisa amplia essa compreensão ao contextualizá-las dentro do voleibol, uma modalidade com demandas específicas e recorrência significativa de lesões articulares. As evidências coletadas contribuem, assim, para o fortalecimento da prática fisioterapêutica baseada em evidências, oferecendo suporte para decisões clínicas mais seguras e efetivas.
Em síntese, este estudo reafirma a importância da atuação fisioterapêutica na reabilitação de entorses de tornozelo em atletas de voleibol, destacando a necessidade de condutas fundamentadas, individualizadas e preventivas. Ao trazer à tona práticas sustentadas pela literatura científica e contextualizadas na realidade esportiva, esta pesquisa oferece contribuições significativas para a formação de profissionais mais preparados e para a construção de uma fisioterapia esportiva mais eficiente, humana e alinhada às demandas contemporâneas do esporte.
REFERÊNCIAS
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1Acadêmica do Curso de Fisioterapia (Bacharelado 4.0) da Cruzeiro do Sul Educacional.
2Professor orientador do Curso de Fisioterapia (Bacharelado 4.0) da Cruzeiro do Sul Educacional.