ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA EM NEONATOS COM MIELOMENINGOCELE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10387881


Graduandos de Fisioterapia: Mateus Gonçalves de Souza; Geovanio Carvalho Cordeiro; Laisa Rebeca de Jesus Guedes; Emilly Victoria santos Ribeiro; Thiago Rodrigues Mute Lima Sacramento; Luiz Antonio dos Santos Fiuza; Karen Monique Santos Silva; Carolina Athais Ribeiro; Carolina de Santana Santos; Orientadora: Verônica Sales da Silva.


RESUMO

As condutas fisioterapêuticas em neonatos têm uma importância inquestionável, as intervenções feitas de forma previam mostra um ganho no desenvolvimento motor e uma diminuição nas sequelas gerada pelos neonatos com mielomeningocele neonatos. Foi realizada uma revisão de literatura relacionado a abordagem fisioterapêutica em neonatos com mielomeningocele baseando-se em artigos científicos nos idiomas português e inglês nas bases de dados MEDLINE/PubMed, SciELO e Scholar. A análise dos artigos evidenciou que o neonato acometido pela mielomeningocele terá um atraso em comparação a crianças típicas. O tratamento fisioterapêutico exerce um grande papel na melhora da qualidade de vida e da funcionalidade desses bebês em sua vida adulta. Essa pesquisa evidencia que o tratamento fisioterápico prévio é essencial para a prevenção e diminuição das sequelas na vida adulta desses bebês.

Palavras-chave: Mielomeningocele em Neonato, Níveis da Mielomeningocele, Causas da Mielomeningocele e Abordagem fisioterapêutica.

1 INTRODUÇÃO

Mielomeningocele (MMC) é uma malformação do sistema nervoso central comum ao nascimento (NEJAT et. al., 2007). A espinha bífida ou mielodisplasia se refere a um defeito congênito da porção posterior do canal vertebral, o qual se apresenta fechado de forma incompleta, devido à falta de fusão dos arcos vertebrais (SHEPHERD, 1998). Mundialmente, sua incidência é aproximadamente 4,63 por 10 mil nascimentos (SACCO et. al., 2019).

No Brasil, a prevalência é estimada entre 1,4 em cada 10000 nascimentos. Esse defeito ocorre durante a neurulação primária, nas primeiras seis semanas de gestação (DEWAN; WELLONS, 2019). Os problemas físicos comumente associados à MMC incluem graus variados de défices neurológicos e sensório-motores, disfunções urogenitais e intestinais, malformações esqueléticas (SBRAGIA et. al., 2004). Importa destacar que a etiologia é multifatorial, o que pode resultar de combinação de fatores de risco genéticos nutricionais ou ambientais (SACCO et. al., 2019).

O objetivo do presente estudo foi demonstrar o tratamento fisioterapêutico em crianças com mielomeningocele. Analisou-se a sua epidemiologia, as estruturas acometidas por cada nível que se estabelece a lesão e o tratamento fisioterapêutico para se ter um ganho importante em toda estrutura funcional do neonato para que se desenvolva adequadamente na vida adulta.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 METODOLOGIA

O tipo de pesquisa a ser realizada será uma Revisão Bibliográfica, onde serão pesquisados livros, dissertações e artigos científicos selecionados através de busca nas seguintes bases de dados: Scielo, PubMed, Scholar. O período dos artigos pesquisados serão os trabalhos publicados entre os anos de 2013 a 2023. As palavras-chave utilizadas na busca foram: ”Mielomeningocele em Neonato”, “Níveis da Mielomeningocele”, “Causas da Mielomeningocele” e “Abordagem fisioterapêutica” e excluindo aqueles que não apresentavam temas direcionados a pesquisa. No total foram usados 5 artigos da base Scielo, 6 artigos da base PubMed, 4 da base Scholar.

2.1 RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Trata-se do resultado de uma falha de fechamento do tubo neural nas primeiras semanas de vida fetal, entretanto, chama-se neurulação primária no período embrionário. Nesta fase, ocorre o fechamento do tubo neural e a separação entre tecido nervoso e pele. Assim, a mielomeningocele é tida como um distarfismo aberto, caracterizado pela exposição da placa neural (placódio) através do defeito ósseo e de pele, sendo manifestada ao nascimento (PROTZENKO, 2019).

Os defeitos ocorridos durante a fase de neurulação primária que acometem a formação do tubo neural em sua porção caudal levam ao surgimento de espinha bífida aberta (mielomeningocele). Os defeitos que ocorrem após a fase de neurulação primária levam à ocorrência de malformações espinhais cobertas por pele e são denominados de defeitos pós neurulação ou disrafismos ocultos (HAHN, 1995).

Algumas outras anomalias podem acometer o portador de MMC, sendo as mais estudadas e identificadas nas pesquisas, a presença de pé torto, luxação de quadril ao nascimento e malformação da coluna vertebral como as escolioses e as hipercifoses (PROTZENKO, 2019).

Fatores de risco não-genéticos incluem: deficiência de ácido fólico, uso de anticonvulsivantes, diabetes mellitus e obesidade materna. Dentre eles, o principal fator que parece estar relacionado à gênese da lesão é a deficiência de ácido fólico, nutriente essencial para a proliferação e sobrevivência celular durante a formação do embrião. Assim, tanto a deficiência de ácido fólico no organismo como o uso de medicações que interferem no metabolismo deste nutriente aumentam o risco de mielomeningocele (PROTZENKO, 2019).

De acordo com os estudos levantados até o presente momento, uma alimentação rica em ácido fólico pode evitar o problema em 70-80% dos casos. O uso de medicações que interferem no metabolismo do ácido fólico também se mostra como risco ao desenvolvimento da mielomeningocele (MOLTENI, 2012).

EPIDEMIOLOGIA

De acordo com Bizzi e Machado (2018) a incidência global varia de 0,1 a 10 casos para cada mil nascidos vivos. A incidência mundial da mielomeningocele tem associação com regiões de baixo desenvolvimento sócio-econômico, como demonstrado pelo mapa de defeitos congênitos publicado pela Organização Mundial da Saúde em 2003. 

Entre 2014 e 2018, foram registrados 3404 casos de nascidos vivos com diagnóstico de Espinha Bífida no Brasil, correspondendo cerca de 7 para cada 10.000 nascidos vivos no país (SINASC, 2020).

Segundo Santos e Pereira (2007) dentre as variáveis envolvidas na epidemiologia da mielomeningocele, a suplementação periconcepcional e as políticas públicas para o enriquecimento de farináceos e cereais com ácido fólico tem tido seus efeitos amplamente estudados. A redução na prevalência de defeitos do tubo neural, dentre eles a espinha bífida, variam entre 16 e 78%, em países e regiões onde o impacto da fortificação de farinhas foi estudado.

O pré-natal é crucial para o rastreamento, avaliação de riscos e diagnóstico. O Sistema Único de Saúde (SUS) possui um Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) com o intuito de promover o acesso de todos à prevenção e diagnóstico precoce de problemas durante a realização do pré-natal. Assim, previne-se a mortalidade e morbidade e melhora a qualidade de vida dos recém-nascidos afetados (SINASC, 2020).

ESTRUTURAS ACOMETIDAS

Tratando acerca de alguns pontos que demonstram o modo como a MMC pode ser solucionada, o tratamento é cirúrgico e pode ser realizado intraútero ou após o nascimento (BIZZI, MACHADO, 2018). 

Após o nascimento, a correção cirúrgica precoce da mielomeningocele permanece como aspecto fundamental do tratamento inicial e é idealmente realizada nas primeiras 48 horas de vida, para prevenir infecção do Sistema Nervoso Central e deterioração neurológica progressiva (BIZZI, MACHADO, 2018).

Os pacientes podem ser classificados de acordo com o nível neurológico em torácico, lombar alto, lombar baixo e sacral. Os pacientes que apresentavam paralisia flácida de membros inferiores, lesão de T12 a L1 era caracterizada pela ausência de forças deformantes nos membros inferiores; Nos pacientes lesionados de L4 para baixo se observavam geralmente deformidades e luxação dos quadris; E nos pacientes lesionados de S1 para baixo se observavam paralisias localizadas principalmente abaixo dos joelhos (HOFFER et. al. 1973).

O atraso no desenvolvimento neuropsicomotor pode ser notado através do déficit de controle da cabeça e tórax, principalmente nos casos associados à hidrocefalia, bem como na dificuldade encontrada pela criança ao início dos processos de sentar, levantar-se e deambular (SHEPHERD, 1998).

Os pacientes portadores de lesões lombossacrais apresentam incontinência urinária paradoxal ou por transbordamento, o que significa que a bexiga jamais se esvazia completamente: a urina “goteja” quando do seu enchimento, faltando à criança a sensação de plenitude, uma vez que a bexiga desnervada não fornece nenhum feedback sensitivo (SHEPHERD, 1998).
          O tratamento destas enfermidades deve ser baseado em manipulações e reequilíbrio da musculatura envolvida no processo patológico (MALAGON et. al. 1988).

ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA

A fisioterapia tem uma ação de extrema   efetividade   no   tratamento   da mielomeningocele, acompanhando os objetivos de acordo com as particularidades daquela criança. O acompanhamento fisioterapêutico tem uma grande importância no tratamento dos sintomas instalados e prevenção de deformidades.

Traçando um plano de tratamento à curto, médio e longo prazo, utilizando dos diversos recursos que a fisioterapia nos proporciona, como a cinesioterapia, hidroterapia, prescrição de órteses para que se consiga alcançar os objetivos almejados (ROSA, 2017).

A cinesioterapia se mostra eficaz para o ganho de marcha, pois gera fortalecimento muscular, coordenação motora, reeducação postural e equilíbrio, estimulando a marcha através do movimento (ALMEIDA, ET AL, 2018; APUD SOUZA, SANTANA, 2022). 

Em pacientes com lesão torácica, a fisioterapia entra com alongamentos para prevenir encurtamentos e atrofia, fortalecimento de membro superior e tronco, com objetivo de diminuir o nível de dependência do paciente (LANZA, GAZZOTTI, PALLAZZIN, 2019; e MOURA, SILVA, 2005; APUD SOUZA, SANTANA 2022).

Em pacientes com lesão lombar alta a fisioterapia irá prevenir deformidades de membros inferiores com realização de alongamentos, fortalecimento muscular, treino de ortostatismo e deambulação, além do estímulo psicomotor, pois esses pacientes apresentam alguma sensibilidade abaixo do quadril (MOURA, SILVA 2005; APUD SOUZA, SANTANA 2022). 

O tratamento em pacientes com nível de lesão lombar baixa consiste em alongamentos, fortalecimentos, treino de ortostatismo e deambulação e estímulo psicomotor (FERNANDES, 2019; APUD SOUZA, SANTANA 2022).

No tocante ao controle fecal se nota que por vezes a criança afetada parece sofrer de diarréia, quando na realidade esta pode ser devido à prisão de ventre crônica. O treinamento da evacuação deve ser realizado no intuito de evitar o transtorno referido anteriormente. É necessário que se crie o hábito do esvaziamento fecal matinal e, mais uma vez, a equipe de fisioterapia deve contar com o auxílio incondicional dos cuidadores.

Já em lesão sacral a fisioterapia entra para corrigir alguma alteração caso necessária (OLIVEIRA, 2017; APUD SOUZA, SANTANA 2022).

Uma vez que a maioria das crianças em uso de órtese e de muletas consegue andar, faz-se necessário valorizar a importância especial que a capacidade funcional das mãos assume neste tipo de paciente. Portanto, deve ser treinada a extensão das mãos e a manipulação, mediante tarefas tanto bimanuais como envolvendo apenas uma das mãos.

3 CONCLUSÃO 

A análise dos artigos evidenciou que o neonato acometido pela mielomeningocele terá um atraso em comparação a crianças típicas. O tratamento fisioterapêutico exerce um grande papel na melhora da qualidade de vida e da funcionalidade dessa criança em sua vida adulta.

As técnicas estão sendo devidamente associadas com o conhecimento do fisioterapeuta, sendo elas exclusivas de cada caso, cada região acometida, exercem ganhos importantes na marcha, no ganho de coordenação e no desenvolvimento psicomotor. Ressaltando que o tratamento precoce deve ser iniciado o mais rápido possível, diminuindo assim a defasagem do desenvolvimento e também as chances de sequelas motoras por conta da lesão neurológica.

REFERÊNCIAS

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DEWAN, M. C., WELLONS, J. C. Fetal surgery for spina bifida. Journal of Neurosurgery: Pediatrics, 24(2), 105-114, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.3171/2019.4.peds18383.

HOFFER MM, FEIWELL E, PERRY R, PERRY J, BONNETT C. Functional ambulation in patients with myelomeningocele. J Bone Joint Surg Am 1973; 55: 1371

MALAGON V, CARRILLO G, MUNERA I, DÍAZ A, BECERRA G, PACHECO A, PIESCHACON E, RODRIGUES JC. Los transtornos musculoesqueléticos en el mielomeningocele. Rev Colomb Ortop Traumatol 1988; 2: 5571.

MOLTENI A, BERGAMASCHI T, FARIA TCC, SANTOS CA. Perfil dos Pacientes Portadores de Mielomeningocele na Cidade de Mogi das Cruzes. Rev. Neurociências. 2012;20(3):345-49. 

NEJAT F, KAZMI SS, HABIBI Z, TAJIK P, SHAHRIVAR Z. Intelligence quotient in children with meningomyeloceles: a case-control study. J Neurosurg. 2007;106(2):106-10

PROTZENKO T. Reviewing the prognostic factors in myelomeningocele. Neurosurg Focus 2019. PMID 31574474.

SACCO, A., USHAKOV, F., THOMPSON, D., PEEBLES, D., PANDYA, P., DE COPPI, P., WIMALASUNDERA, R., ATTILAKOS, G., DAVID, A. L., & DEPREST, J. (2019). Fetal surgery for open spina bifida. The Obstetrician & Gynaecologist, 21(4), 271–282. https://doi.org/10.1111/tog.12603.

SANTOS LMP, PEREIRA MZ. Efeito da fortificação com ácido fólico na redução dos defeitos do tubo neural. Cad saúde Pública? 2007;23(1):17-24

SBRAGIA L, MACHADO IN, ROJAS CEB, ZAMBELLI H, MIRANDA ML, BIANCHI MO. Evolução de 58 fetos com mielomeningocele e o potencial de reparo intrauterino. Arq Neuropsiquiatra. 2004;62(2-B):487-91.

SHEPHERD RB. Fisioterapia em pediatria. In: Espinha bifida. São Paulo: Santos livraria editora, 3ª ed, 1998, 238260