ABORDAGEM ECOLÓGICA NA SAÚDE DA PESSOA IDOSA: UMA EXPERIÊNCIA COM UM GRUPO DE IDOSOS RIBEIRINHOS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412230949


José Ismar dos Santos Sousa1
Bárbara Tarouco da Silva2
Adriane Maria Netto de Oliveira3
Fernanda Emilia Xavier de Souza4
Rafael Medeiros Gomes5
Thicianne da Silva Roque6
Fernanda Liene Cavalcant7
José Gustavo Monteiro Penha8
Danubia Andressa da Silva Stigger9
Klaus Nobre Stigger10
Juracy Anisio da Silva Neta11


RESUMO

Objetivo: compartilhar os avanços e conquistas para a saúde da população idosa ribeirinha de Curralinho baseada nos aspectos ecológicos, visando a melhoria da qualidade de vida. Método: relato de experiência do tipo descritivo-compreensivo, alicerçado no referencial teórico e epistemológico de abordagens socioambientais da saúde humana, no modelo socioecológico de McLeroy e colaboradores. Estudo realizado no período de junho à julho de 2021, a partir da vivência profissional, com a população ribeirinha local, em um município do interior do Estado do Pará. Resultados: organizado em dois tópicos: “A abordagem ecológica”, enfatizando a relação dessa abordagem na saúde da pessoa idosa ribeirinha e o avanço das intervenções realizadas e “A experiência pessoal/profissional na tríade: equipe, ambiente e pessoa idosa”, destacando as atividades desenvolvidas e o aperfeiçoamento dos programas assistenciais com base na relação da equipe de saúde visando a melhor qualidade de vida para os idosos ribeirinhos. Considerações finais: percebeu-se a necessidade de união da comunidade pela saúde  pública e os serviços ecossistêmicos para proteger a saúde dos idosos e o próprio ambiente,  adotando a ideia que a saúde e o bem-estar futuro só pode ser construído sobre princípios ecológicos. É fundamental a implementação de políticas e investimentos intersetoriais em escalas locais, regionais, nacionais e globais que voltem a atenção para a saúde humana e gestão ecológica, contribuindo para uma melhor qualidade de vida da população ribeirinha.

Descritores: Idoso; Política de saúde; Enfermagem; Meio ambiente.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas o aumento da população idosa vem se dando de forma mais acelerada e aos poucos tanto as políticas de saúde, os gestores e as tecnologias tem dispensado certa atenção para essa parcela populacional. Os censos demográficos vêm destacando esse rápido e significativo crescimento, com previsão de até o ano de 2042 dobrar o número de pessoas idosas. De acordo com o levantamento, o país tinha 28 milhões de pessoas idosas em 2017, representando13,5% do total da população. Em 2042, a projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é de que a população de idosas atinja 57 milhões de indivíduos (24,5%)(1).

Com esse crecimento, seja no contexto urbano ou ribeirinho, é necessário se pensar no modo como se dá o envelhecimento, destacando que a pessoa idosa ribeirinha  está distante dos grandes centros, as políticas e atenção em saúde precisam ter um foco mais amplo, com engajamento voltado para o meio ambiente, e tudo que o mesmo representa, suas relações e influências diretas e indiretas no cotidiano dos ribeirinhos.

Os ribeirinhos são povos tradicionais que vivem as margens dos rios ou em casa flutuantes, em condições oferecidas pela própria natureza, e se adaptando a diferentes características oferecidas pela mesma. As condições de vida da população ribeirinha depende diretamente de tudo que cerca o ambiente, desde os períodos das cheias, mudanças das marés e adaptação ao período das chuvas(2-3).

O presente estudo descreve as relações entre ambiente, condições de vida e saúde dos idosos ribeirinhos, enfatizando como a abordagem ecológica pode contribuir para melhoria da saúde desta população. O fator ambiental está diretamente ligado ao ribeirinho e tudo que o cerca. Por seu complexo ecossistema, o arquipélago do Marajó é berço de grande biodiversidade, e com isso sua população sempre viveu da economia baseada nos recursos florestais e aquáticos locais.

A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) proporcionou uma mudança no que diz respeito às ações da Atenção Básica (AB) na região amazônica, instituindo equipes e disponibilizando equipamentos de saúde ajustados e direcionados para a população que vive nesse território, surgindo um novo modelo de atenção à saúde por meio das equipes de Saúde Ribeirinha e Saúde Fluvial para as áreas da Amazônia Legal. Essas novas abordagens fundamentadas na Unidade Básica de Saúde Fluvial (UBSF) e nas Equipes de Saúde Ribeirinha (ESFR) criaram o acesso à uma população de floresta, historicamente, esquecida do processo de cuidado(4). A busca por melhorar a saúde pública com base nos princípios ecológicos foi um gatilho que fez com que ocorresse uma revisão para avaliação do impacto ambiental, incluindo avaliação de ecossistemas(5).

O interesse pelo contexto ribeirinho está ligado ao significativo número de pessoas envelhecendo nesses espaços, com características ecológicas e socioculturais distintas, muitas vezes, passando despercebidas pelos gestores, pelas equipes e pela própria população. O autor do presente estudo, enfermeiro, o qual trabalhou na Atenção Básica de Saúde de Curralinho, na ilha do Marajó,  sensibilizado com as precárias condições de vida e saúde da população, principalmente no primeiro ano de experiência laboral, decidiu estudar mais detalhadamente as demandas de atenção à saúde e as estratégias que visam garantir uma melhor qualidade da assistência e de vida a população. A intenção do estudo foi descrever o avanço e melhoria na assistência de saúde, e como a abordagem ecológica está relacionada a esse processo e o quanto contribuiu para o avanço da saúde do idoso ribeirinho.

Todos os ecossistemas são vistos como indispensáveis para o bem-estar e a saúde das pessoas em todos os lugares, além de suprir as necessidades básicas da vida, as mudanças em seu fluxo afetam os meios de subsistência, a renda, a migração local e, ocasionalmente, os conflitos políticos. A abordagem ecossistêmica dos seres humanos contempla indicadores que englobam o modo global, regional e local contemplando o bem estar, os aspectos sociais e econômicos e o meio ambiente(6).

Cabe destacar que a abordagem voltada para a saúde humana,  se complementa com a abordagem ecológica e com ecossistemas saudáveis, tendo como objetivo melhorar a saúde da comunidade e as relações entre os vários componentes do ecossistema para definir e avaliar as questões prioritárias da saúde humana e da sustentabilidade desse ecossistema, dentre eles o gerenciamento de recursos, influenciando diretamente nos determinantes sociais e de saúde. Essa abordagem tem como foco central o ser humano como base ou gerenciador do ecossistema(6).

Nessa perspectiva, tendo como proposta a aplicação do modelo ecológico na busca pela melhoria da qualidade de vida de uma população idosa ribeirinha de um município da Amazônia, esse estudo tem como objetivo relatar a experiência profissional compartilhando os avanços e conquistas para a saúde da população idosa ribeirinha de Curralinho baseada nas relações com os aspectos ecológicos, visando a melhoria da qualidade de vida.

MÉTODO

Trata-se de um relato de experiência do tipo descritivo-compreensivo acerca da abordagem ecológica na saúde da pessoa idosa: uma experiência com um grupo de idosos ribeirinhos, alicerçado no referencial teórico e epistemológico de abordagens socioambientais da saúde humana contidos no plano de ensino da disciplina Trabalho da Enfermagem/Saúde e Contexto Socioambiental do curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande/RS.

A primeira etapa se deu pela delimitação do tema e seus enfoques na saúde da pessoa idosa. Posteriormente, foram realizadas pesquisas acerca da temática e selecionadas as de maior relevância de modo a contribuir na fundamentação teórica do relato de experiência. Após, se deu a elaboração do presente artigo.

Os dados do relato de experiência foram obtidos a partir do trabalho profissional vivenciado pelo autor como enfermeiro da atenção básica e da rede hospitalar de um município do interior do Estado do Pará, no período entre março de 2011 a setembro de 2016, no que tange especificamente na prestação de assistência e promoção da saúde para a população local, em especial a ribeirinha.

O Município de Curralinho está localizado as margens do Rio Pará, na ilha do Marajó, no Estado do Pará, mais precisamente na microrregião de furos do Marajó, em uma região denominada de Marajó ocidental. Sua população estimada, em 2021, era de 35.530 habitantes distribuídos em regiões de terra firme e várzeas, em uma área geográfica com cerca de 3.617,240 km²(7). sendo em sua grande maioria composta por ribeirinhos. Situa-se a uma distância de 149 km em linha reta da capital.

O acesso ao município é realizado por via fluvial a partir da capital, com viagens que duram em média de 9 horas, ou aérea, com duração de 1 hora. Segundo dados divulgados pelo IBGE(8). O PIB per capita do município se encontrava na última colocação no ranking nacional per capita, além de apresentar continuadamente um dos piores índice de desenvolvimento humano do Brasil. Cabe ressaltar sobre o estudo que os aspectos éticos foram contemplados e mantidos.

Como referencial esse trabalho tem como embasamento o modelo socioecológico de McLeroy e colaboradores que abrange a interação do indivíduo e seu ambiente, o qual categoriza os determinantes do comportamento em cinco níveis de influência, contemplando o individual, o interpessoal, o institucional/organizacional, a comunidade a política pública(9).

RESULTADOS 

Este estudo foi organizado em dois tópicos: “A abordagem ecológica”, enfatizando a relação da abordagem ecológica na saúde da pessoa idosa ribeirinha, destacando o avanço das intervenções realizadas para melhorar a qualidade de vida dessa população; e “A experiência pessoal/profissional na tríade: equipe, ambiente e idoso”, destacando as atividades desenvolvidas e o aperfeiçoamento dos programas assistenciais visando a melhor qualidade de vida para os idosos ribeirinhos.

A Abordagem Ecológica

A região norte, caracteriza-se pela sua extensão e distanciamento dos grandes centros urbanos, exigindo um olhar diferenciado para as pessoas que lá habitam. Sua economia básica está centrada na pesca e na agricultura familiar de subsistência, isso nos leva a imaginar como é a verdadeira situação de um município ribeirinho que se encontra nesses parâmetros. Com a experiência vivenciada foi possível observar, entre os problemas enfrentados pela população local, a precariedade de acesso à região, o desemprego, a falta de saneamento básico e a deficiência de abastecimento de água.

Apesar da vasta diversidade ecológica da floresta amazônica, é notório o quanto ainda se faz necessário pesquisar sobre a temática com vistas a descrever suas influências diretas e indiretas na vida dos ribeirinhos, integrando diretamente sua cultura e sua rotina diária. No período de vivências observou-se a forte ligação da população idosa com a natureza, o que afeta diretamente a promoção de saúde ou a falta dela, e o quanto que os modelos socioecológicos introduzem uma abordagem mais ampla à promoção da saúde, partindo de intervenções a nível pessoal, o ambiente social e físico mais próximo e as políticas construídas(9).

Figura 1. Modelo soioecológico do níveis de influência (baseado em McLeroy et al.)

No modelo socioecológico, no nível mais externo estão as políticas públicas. Quando nos referimos a políticas públicas, estamos nos referindo a leis e regulamentos governamentais, tanto estaduais quanto regionais ou locais(9). Essas políticas públicas têm um forte impacto na sociedade, um exemplo seria a política de criação das UBS fluviais, e o programa Abrace o Marajó, ambos viabilizando assistência de qualidade a população ribeirinha, o que representou um enorme avanço na melhoria da vida da população.

Em seguida está o nível comunidade constituído pelas relações entre organizações, redes sociais, normas e práticas organizacionais, ambientes físicos (presença de água, ambientes abertos, ambientes propícios à prática de atividade física na natureza).  No nível seguinte institucional/organizacional pode ser considerado a escola, o instituto ou o local de trabalho, considerando organizações onde podem ocorrer encontros que visem o agrupamento de pessoas, favorecendo assim a criação de grupos educativos, como grupo de tabagistas, replicadores e de hipertensos. Nesta experiência, identificou-se como ponto positivo a participação e o envolvimento dos ribeirinhos nas atividades/intervenções de saúde propostas pelas equipes de saúde. Já como ponto negativo destacou-se a distância em tempo entre as viagens para as citadas comunidades.

No nível interpessoal, encontramos a influência da família, amigos e pares que fornecem apoio e identidade social. No anel central do modelo encontra-se o indivíduo com um conjunto constructo de saberes, crenças, valores e cultura(9).

A utilização da abordagem ecológica pode contribuir para melhorar a qualidade de vida das pessoas idosas, uma vez que analise a interação do indivíduo com o ambiente e como essa interação influencia na sua saúde(10). Na saúde pública, os modelos ecológicos incorporam variáveis ambientais e políticas a qual tem ifluência direta em vários níveis no cotidiano, comportamento e saúde da população. Podemos destacar entre os níveis incluídos em modelos ecológicos, os de face intrapessoal, cultural, organizacional, ambiente físico e política(11).

Nesta ambiência, a família é o vínculo apoiador que integra um dos alvos (ambiente interpessoal), fornecendo suporte físico, material, financeiro e emocional para a prevenção de agravos na saúde do idoso. Denota-se a importância da inter-relação e interação entre família-paciente-unidade básica de saúde na busca pela oferta de uma assistência que mantenha o cuidado de qualidade ao idoso. Como estratégias de intervenção destacam-se treinamentos que visem melhorar o conhecimento, atitudes e habilidades das equipes de saúde sobre a promoção da atividade educativa entre pessoas idosas. Ademais, as intervenções de rede podem envolver a organização de um grupo de autoajuda tendo como sujeitos as próprias pessoas idosas(10).

Na experiência vivenciada buscou-se a implementação de intervenções positivas no seu ciclo pessoal, familiar, cultural e ambiental da população ribeirinha. Identificou-se o modelo ecológico direcionado ao nível individual, com avanços significativos na fortificação do elo familiar, crescimento pessoal, e interação social, fazendo com que o próprio idoso se interessasse por sua saúde e por seu bem-estar. No início das ações, os idosos não buscavam auxílio e se mostravam menos abertos as ações da equipe de saúde, contudo, a medida que foram sendo implementadas intervenções, a  promoção em saúde foi se mostrando presente na vida desses ribeirinhos.

No modelo ecológico há uma integração com redes de apoio social mais ampla, com participação de parentes e vizinhos, contribuindo para atender as necessidades dos membros da família. Importante relatar que em uma comunidade ativa deve se ter uma atenção redobrada para o idoso que vive só, buscando lhe envolver nas atividades existentes. Nesse nível deve-se enaltecer a vida em família com relações de cuidado entre seus membros e estimulando a rede de apoio social(12).

A comunidade se faz muito presente na vida desse idoso ribeirinho. Foi possível identificar a importância da comunicação com a comunidade, pois muitos idosos ou recebem visitas em suas casas ou realizam visitas aos parentes mais próximos e amigos vizinhos, isso ajuda a manter ou aumentar o elo e preserva a cultura ribeirinha, enaltecendo o valor da comunidade. Outro ponto fundamental responsável por essa representação social são os salões comunitários, neles que ocorrem as reuniões para a tomada de decisões e organização social, além de ações educativas, festivais e festejos dos santos católicos das comunidades(13).

Interessante detalharmos um pouco mais sobre a influência do ambiente na vida cotidiana dos idosos ribeirinhos. Essa população tem uma relação direta com o processo de cheia e vazante dos rios, basicamente tudo depende dos rios, suas moradias, o trabalho, o movimento da família de modo geral. O ambiente construído gira em torno de suas moradias tradicionais, denominadas de palafitas, termo utilizado para um tipo de casa sobre troncos, sendo comum em áreas alagadas, possuindo ainda um tipo de plataforma sobre a água denominada de trapiche, com o intuito de melhorar o acesso a casa. As formas de deslocamento nessas comunidades é outra particularidade, geralmente acontecem a pé por meio de pontes ou trilhas por dentro da floresta, bem como por embarcações.

O ambiente físico do município de Curralinho, mostra o quanto a área urbana é precária, necessitando de parques e ambientes construídos. Apresentando apenas 1.4% de domicílios com esgotamento sanitário adequado, 13.8% de domicílios urbanos em vias públicas com arborização e 5.2% de domicílios urbanos em vias públicas com urbanização adequada (presença de bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio)(14).

Já em relação às políticas de saúde, o desafio está em ampliar o acesso aos serviços e equipamentos de saúde, abrangendo de forma integral e igualitária as ações intersetoriais em todo território, independente da localização e demandas de cuidados. Para isso, é necessário produzir dados e mapear tais especificidades e ter o entendimento sobre o desenvolvimento e a implementação das políticas públicas voltadas para o território marajoara. Esse conhecimento ajudaria a analisar o acesso aos serviços de saúde pela população, conhecer o território, o lugar e as pessoas(4).

Todos esses conjuntos ou intervenções multiníveis bem implementadas ou em percurso, podem contribuir para uma peça fundamental e tão importante para os idosos, que é a melhoria da qualidade de vida. Contudo, ao analisar a qualidade de vida no idoso ribeirinho, é preciso considerar sua relação com o ambiente, com a família, com os serviços em saúde, comunidade, relações pessoais, um leque de características importantes para sua satisfação com a vida(15).

Considerando os benefícios do estilo de vida ativo, seu modo de organização, participação na comunidade, estes idosos apresentam um modo de vida respeitoso para com a natureza e apresentam boas condições de saúde, além da sua relação com o ambiente, a relação com a equipe de saúde é um fator importantíssimo para sua qualidade de vida.  Nesse sentido, a enfermagem tem o papel de protagonista nesse processo, porém um desafio existente para muitos é garantir essa melhoria respeitando a cultura e o modo de pensar e viver dessas pessoas. Foi possível observar que  essa barreira foi quebrada e ao criar um verdadeiro vínculo e promover assistência da melhor forma possível, independente da localização. Foi possível observar que os ribeirinhos consideraram as ações/intervenções realizadas pelas equipes de saúde como fatores contribuintes para melhora da qualidade de vida.

A experiência pessoal/profissional na tríade: equipe, ambiente e pessoa idosa

No início da vida profissional, era imaginável que o local de destino seria em um município com a saúde tão precária, sem investimentos, recursos materiais e profissionais reduzidos, porém com particularidades únicas, seu território, sua população ribeirinha, o que serviu como impulso para buscar uma melhor assistência em saúde para esse povo.

Para conhecer a realidade do município é necessário saber sobre o território líquido, o rio, o qual se torna um analisador para olhar e interpretar as políticas públicas. O rio nos apresenta características básicas, porém fundamentais sobre as populações ribeirinhas e seus modos de vida. Conhecer o território, o lugar e as pessoas é um dos principais fatores para planejar ações em saúde, permitindo evidenciar a expansão da cobertura de Atenção Básica nessas áreas.

A política de acesso à Atenção Básica, voltada para populações ribeirinhas, não apresenta como obstáculos as especificidades do território e sua cultura, mas se constituem como desafios para uma saúde integral e equitativa das populações nos diversos territórios da Amazônia. Porém, essa política ainda não estava implementada, como o caso das UBS fluviais ribeirinhas que teoricamente era para suprir os atendimentos a população ribeirinha, mas sequer estrutura física e profissionais para integrar a equipe chegaram no município. A realidade das políticas de saúde de um município ribeirinho, com pior PIB  e um dos piores IDHs do Brasil é um fato que dificulta imensamente o trabalho em saúde.

Ao longo do período de seis anos atuando na atenção em saúde na Amazônia foi possível visualizar a evolução da qualidade da assistência, com a criação de programas que visasam à promoção de saúde do idoso ribeirinho. Aos poucos foi possível verificar o quão o modelo socioecológico de Mclory se faz presente na atenção a saúde dos idosos ribeirinhos, seja no nível de políticas públicas, com a criação e ampliação de leis que visam a promoção de assistência para a população ribeirinha, como os programas Abrace o Marajó e o saúde das manas, voltado para as mulheres. No nível comunidade destaca as relações estabelecidas entre diferentes organizações culturais e religiosas com o intuito de garantir uma melhoria para aquela comunidade, ou ainda a relação entre diferentes comunidades pertecentes ao mesmo rio.

O HiperDia é um exemplo de avanço, é um programa o qual presta assistência a pacientes hipertensos e diabéticos, porém ele praticamente não existia no município no início das atividades profissionais. As atividades do programa foram iniciados a partir da realização do cadastro de toda população hipertensa e diabética da área pertencente a Estratégia Saúde da Família da Marambia. Mais de 90% da população era constituída de idosos.

Nas ações do programa HiperDia foram constituidos grupos educativos, estabelecido a consulta mensal na unidade que tinha um indíce de assiduidade em torno de 95%, além dos encontros em grupos mensais. Nas atividades grupais eram realizado  o acolhimento, ações de saúde como testes de glicemia, aferição de pressão arterial, palestras educativas, roda de conversa e atividades físicas. No início existiram algumas barreiras já que os idosos não estavam familiarizados com esse tipo de intervenção. Contudo, após o estabelecimento do vínculo profissional com idosos/famílias, essas ações tiveram adesão de toda a população.

Outro ponto trabalhado com a população foi a educação em saúde, já que por mais que existisse, era realizado somente em datas previamente agendadas. A educação em saúde pressupõe uma combinação de oportunidades que favoreçam a manutenção da saúde e também sua promoção, não vista somente como transmissão de conteúdos, mas como um guia para que seja abordada a adoção de práticas educativas que busquem a autonomia dos sujeitos na condução de sua vida.

Conseguimos realizar educação em saúde para os idosos tanto da aréa urbana como das comunidades ribeirinhas, independente do quantitativo de pessoas. Os encontros sempre eram proveitosos, com boa aceitação e participação do público alvo, o que nos fazia sentir uma extrema alegria, compartilhando conhecimento e melhorando qualidade de vida dos ribeirinhos. Esses encontros propostos por nossa equipe se tornaram um momento de compartilhamento de conhecimento, momento de convivência e de lazer.

Um dos pilares que fazem a atenção básica funcionar com qualidade é manter o vínculo equipe e paciente, e nada melhor do que a visita domiciliar para construir essa ligação. As visitas domiciliares foram intensificadas para as pessoas que não tinham condições de ir a unidade de saúde, independente do local e dos obstáculos. Algumas residências devido a extrema dificuldade de acesso, jamais tinham recebido visitas de equipes de saúde, e a partir daquela primeira visita realizada,  as famílias recebiam a equipe de saúde mensalmente.

Considerando as particularidades do contexto ecológico e sociocultural dessas comunidades, a maioria das atividades desenvolvidas, cotidianamente, por esses idosos, era totalmente diferente das realizadas por quem vive em terra firme. Ressalta-se que, pelas particularidades do contexto ribeirinho, algumas atividades desenvolvidas no ambiente físico ajudavam o idoso a manter-se na ativa, como subir e descer as escadarias, pescar, remar, tomar banho no rio(16), além de atividades que eram acompanhadas pela equipe interdisciplinar, a qual incluia programas de exercícios físicos, com destaque para a caminhada orientada e também a hidroginástica, sendo esta realizada na própria praia do rio(17).

Dentre as facilidades encontradas pelos profissionais para realizar a assistência às comunidades ribeirinhas podemos destacar o trabalho em equipe. Sendo considerado um alicerce para o funcionamento adequado do processo de trabalho na ESF, com a construção de uma prática interdisciplinar de conhecimentos e ações, a integração entre as equipes de saúde da ESF na rede de atenção é condição essencial para que as equipes exerçam sua responsabilidade sanitária mediante a população do território-área(18).

Cabe destaque para a necessidade urgente de profissionais de saúde para o cuidado das familias que residiam nas aréas ribeirinhas em Curralinho. Anteriormente a implementação das equipes fluviais havia médico apenas no hospital  na sede do município e mesmo assim passava vários dias sem médico no município, fisioterapeuta não existia, psicólogo iniciou as atividades integralmente no CAPS e mesmo assim ainda dividia seu tempo entre dois municípios. Essas questões dificultavam a implementação de um plano consistente e que buscasse uma melhoria da assistência da saúde.

Apesar de todas as dificuldades, a equipe foi em busca dessas relações interdisciplinares, e aos poucos foi construindo essa parceria que se fazia presente na maioria dos trabalhos com grupos, visitas domiciliares e atendimento médico. Com a chegada de uma médica na ESF, de um educador físico para a área da saúde no município e a contribuição da psicologia, além da nutrição, conseguiu-se implementar intervenções que tinham como objetivo a integralidade do cuidado, e consequentemente, a melhoria da qualidade de vida dos idosos (18).

O papel da equipe de saúde em áreas ribeirinhas exige o desenvolvimento de habilidades que vão além da sua formação individual, como a realização de procedimentos específicos (diagnóstico e terapêutico), a interpretação de exames como radiografias e o manejo das urgências e emergências (clínica, cirúrgica e psiquiátrica). Estas equipes trabalham com inúmeros empecilhos, como a falta de materiais e instrumentos básicos para a realização de procedimentos simples(19).

Cabe destacar que as comunidades muito distantes, de difícil acesso exigiam um tempo maior para cobrir todas as áreas, pois muitas vezes as viagens para atendimento chegavam ter duração de vários dias. Nesses casos,  a equipe interdisciplinar se fazia presente, pois como um modelo ecológico, ao mesmo tempo que um profissional atuava na imunização, outros realizavam ações sociais, o médico realizava consulta, o dentista atendimentos odontologicos e a equipe de enfermagem procedimentos de sua responsabilidade.

Cabe destacar a limitação geográfica, essa dimensão que corresponde à localização dos serviços de saúde e pode ser medida pela distância linear entre este e os domicílios dos ribeirinhos. Uma das maiores dificuldades é o transporte, tendo em vista que estes têm como única estrada o rio, por onde se deslocam em busca de atendimento. As viagens são limitadas por fatores naturais que dificultam ou impedem o deslocamento tais como: condições climáticas e marítimas, que acarretam riscos, além dos fatores econômicos, porque nem todas as famílias possuem transporte ou condições de mantê-lo. Os fenômenos climáticos e o padrão fluvial de cheia e vazante do rio dificultam o acesso, tanto dos ribeirinhos à procura da unidade, quanto das equipes de saúde no atendimento, o que revela uma grande desigualdade de acesso aos serviços de saúde, em comparação com as áreas urbanas(19).

Contudo, mesmo com os avanços, ainda é possível apontar dificuldades e necessidades existentes que são obstáculos. As UBS Fluviais e Ribeirinhas têm garantido o acesso aos serviços de saúde para as populações em áreas remotas e de difícil acesso, porém em alguns municípios como Curralinho a mesma não funcionava de forma efetiva como contempla a política, seja por escassez de recursos humanos ou materiais. Portanto, a discussão sobre a cobertura da atenção básica na Amazônia necessita ser objeto de discussão de gestores e pesquisadores.

As políticas públicas deficitárias ou má gestão municipal, a qual não contempla de forma adequada a assistência aos idosos ribeirinhos, uma vez que recursos previstos para esse programa não são aplicados, fazendo-se necessária uma política pública séria e voltada a região.

Outro ponto que é dificultador da melhoria da assistência é o problema da alta rotatividade de profissionais no município, com isso a criação de vínculo entre profissionais e usuários não se fortalece, o que pode dificultar os atendimentos e a adesão às intervenções propostas/implementadas.

Outras dificuldades existentes no município estão relacionadas ao ambiente construído deficitário, onde praticamente não existem ruas ou calçadas, a falta de saneamento básico que se estende não só pela área urbana como também pela área ribeirinha, dificultando a parte de prevenção de doenças, além da falta de apoio para educação permanente e treinamentos da equipe, o que se transforma em um obstáculo para desenvolvimento do trabalho. Contudo, durante seis anos foi possível desenvolver um trabalho eficiente e com resultados significativos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi possível destacar a contribuição que a abordagem ecológica trouxe para a população idosa ribeirinha, sendo possível perceber  a necessidade de união pela comunidade da saúde  pública e os serviços ecossistêmicos para proteger a saúde dos idosos e o próprio ambiente. Apesar dos avanços existentes fica evidente que para a melhoria da qualidade de vida para os idosos ribeirinhos é necessário  adotar a ideia que a saúde e o bem-estar futuro só pode ser construído a partir de princípios ecológicos, por meio de intervenções que almejem o desenvolvimento sustentável.

É prudente afirmar que o isolamento geográfico é algo que está no cotidiano das equipes de saúde como da população, podendo ser vista como um limitador ou dificultador de ações com as populações ribeirinhas devido às dificuldades de acesso a serviços podendo levar ao agravamento do quadro epidemiológico desse povo. Contudo, esse isolamento pode vir a contribuir na manutenção das características naturais e antropológicas destas comunidades, preservando sua cultura e o contato direto com a natureza.

Identificou-se que, que embora existam as políticas públicas voltadas para a comunidade ribeirinha, essa necessita de ampliação e fortalecimento, além de investimento pessoal nas equipes interdisciplinares, implementação de políticas e investimentos intersetoriais em escalas locais, regionais, nacionais e globais, que voltem a atenção para o conjunto saúde humana e gestão ecológica, contribuindo para uma melhor relação de ambas.

REFERÊNCIAS

1 LIMA, C. M. F. Envelhecimento e saúde coletiva: Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil). Revista de Saúde Pública, v. 52, p. 2s, 2018.

2 GONÇALVES, Andressa Santos; COSTA, Eliane Miranda. Os ribeirinhos do marajó: notas sobre as práticas tradicionais na relação com o meio ambiente amazônico. Humanidades & Inovação, v. 7, n. 15, p. 508-523, 2020.

3 FREITAS, Alair Ferreira et al. Mudanças nos Meios de Vida dos Ribeirinhos a Partir da Ressignificação Econômica do Açaí (Euterpe oleracea Mart.): um Estudo em Igarapé-Miri/Pa. Amazônica-Revista de Antropologia, v. 13, n. 1, p. 345-374, 2021.

4 LIMA, R. T. S, et al. Saúde em vista: uma análise da Atenção Primária à Saúde em áreas ribeirinhas e rurais amazônicas. Ciência & Saúde Coletiva, v. 26, p. 2053-2064, 2021.

5 REIS, S. et al. Integrating health and environmental impact analysis. Public Health, 129(10), 1383–1389, 2015. https://doi.org/10.1016/j.puhe.2013.07.006 https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0033350613002424

6 FORGET G, LEBEL J (2001). hf. Int J Occup Environ Health 7(2Suppl): S3–S38.

7 IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estimativa Populacional. 2021. Disponível em <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pa/curralinho/panorama>. Acesso: 29 jul 2022.

8 IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas econômicas. 2013.  

9 MCLORY, K. R., et al. An ecological perspective on health promotiong programs. Health Education Quarterly, v. 15, n. 351-377. Nicholls, J, 1988.

10 RICHARD, L.; GAUVIN, L.; GOSSELIN, C. et al. Integrating the ecological approach in health promotion for older adults: a survey of programs aimed at elder abuse prevention, falls prevention, and appropriate medication use. Int J Public Health 53, 46–56, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s00038-007-6099-5 Acesso em: 09 jun. 2021

11 SALLIS, J. F.; CERVERO, R. B.; ASCHER, W.; HENDERSON, K. A. KRAFT, M. K.; KERR, J. An ecological approach to creating active living communities. Annu Rev Public Health. 27:297-322, 2006. Disponível em: doi: 10.1146/annurev.publhealth.27.021405.102100 Acesso em: 09 jun. 2021. Acesso em: 09 jun. 2021.

12 CERQUEIRA C. J. L; ARAÚJO, L. F. O conhecimento vem dos rios: as representações sociais do envelhecimento entre idosos ribeirinhos. Ciencias Psicológicas, 2020.

13 MIRANDA, S. A; CASTRO, N. J. C. comunidades ribeirinhas: proposições para ações de educação em saúde. REVISE – Revista Interdisciplinar da Divisão de Pesquisa/ESMAC – v.05, n. 16, p. 43. Ananindeua – Pará, 2019

14 IBGE.  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2020. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pa/curralinho/panorama. Acesso em 08 de julho de 2021.

15 CARNEIRO, D. G. S; MAGALHÃES, C. M. C. Percepção de idosos urbanos e ribeirinho sobre o processo de envelhecimento. Brazilian Journal of Health Review, v. 3, n. 2, p. 2263-2277, 2020.

16 NASCIMENTO, R. G, et al. Fragilidade de idosos ribeirinhos amazônicos: das trajetórias metodológicas aos desafios em saúde pública. Saúde e Pesquisa, v. 12, n. 2, p. 367-375, 2019.

17 GLORIA, P; PIPERATA, B. A. Modos de vida dos ribeirinhos da Amazônia sob uma abordagem biocultural. Ciência e Cultura, v. 71, n. 2, p. 45-51, 2019.

18 SILVA, L. B, et al. Conhecimento de profissionais da atenção primária em saúde sobre política de saúde para populações ribeirinhas. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 73, 2020.

19 QUEIROZ, M. K. S, et al. Fluxos assistenciais e a integralidade da assistência à saúde de ribeirinhos. Rev. enferm. UERJ, p. e26706-e26706, 2018.


1 ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8073-9099
Mestre em enfermagem pelo PPGEnf -FURG
Doutorando pelo PPGEnf – FURG
Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Rio Grande – RS, Brasil.
Enfermeiro Assistencial HU-UNIVASF/EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares
email: ismarss@yahoo.com.br

2 ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1715-747X
Doutora em Enfermagem pelo PPGEnf – FURG. Professora
Associada da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do
Rio Grande
Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Rio Grande – RS, Brasil.
email: barbaratarouco@gmail.com.br

3 ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9422-423X
Doutora em Enfermagem pela UFSC. Professora da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande
Universidade Federal doRio Grande – FURG. Rio Grande – RS, Brasil.
email: adrianenet@vetorial.net

4 ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7055-375X
Enfermeira Especialista em Unidade de Terapia Intensiva pela FAVENI
Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF. Petrolina – PE,Brasil. HU-UNIVASF/EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares
email: fernandaemilia123@gmail.com

5 ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7290-299X
Mestre em Ciências biológicas e da saúde  – UNIVASF
Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF. Petrolina – PE,
Brasil.
Enfermeiro Assistencial HU-UNIVASF/EBSERH – Empresa Brasileira de
Serviços Hospitalares
email: rafaebserh@gmail.com

6 ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8288-2750
Mestre em enfermagem pelo PPGEnf -FURG
Doutoranda pelo PPGEnf – FURG
Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Rio Grande – RS, Brasil Enfermeira Assistencial HU-UFMA/EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares
email: roquethicianne@gmail.com

7  ORCID: https://orcid.org/0009-0004-3355-3928
Mestre em Enfermagem pelo PPGenf-UFMA
Universidade Federal do Maranhão
Enfermeiro Assistencial HU-UFMA /EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares
e-mail: fernanda.cavalcante@huufma.br

.

9 ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3462-2556
Mestre em enfermagem pelo PPGEnf -FURG
Doutorando pelo PPGEnf – FURG
Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Rio Grande – RS, Brasil.
Enfermeiro Assistencial HU-UFS/EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços
Hospitalares
email: Gustavo_penha02@hotmail.com

10 ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7206-5669
Mestre em enfermagem pelo PPGEnf -FURG
Doutoranda pelo PPGEnf – FURG
Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Rio Grande – RS, Brasil.
email: danubiastigger@yahoo.com.br

11 ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6347-7995
Mestre em Ciências pelo PPGEnf -FURG
Doutorando em Ciências pelo PPGEnf -FURG
Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Rio Grande – RS, Brasil.
Enfermeiro Assistencial HU-FURG/EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares
email: Klaus.stigger@ebserh.gov.br

12 ORCID: https://orcid.org/0009-0009-2001-7284
Especialista em Obstetrícia; Urgência e eEmergência
Faculdade FASER – Santa Emília de Rodat – João Pessoa – PB, Brasil.
Enfermeira Assistencial HU-UNIVASF/EBSERH – Empresa Brasileira de
Serviços Hospitalares
email: ju.anisio.silva@gmail.com

AUTOR CORRESPONDENTE:
José Ismar dos Santos Sousa         E-mail: ismarss@yahoo.com.br
Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Rio Grande – RS,
Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8073-9099