ABORDAGEM DE CÂNCER NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE ATIVIDADE DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE EM TEMPOS DE COVID-19

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7940305


José Duvilardo Florencio de Oliveira1
Bianca Damasceno Queiroz2
Francivaldo Nascimento Cavalcante3


RESUMO

O câncer é um problema mundial de saúde pública que consiste numa enfermidade crônica, caracterizada pelo crescimento celular desordenado. O presente trabalho se trata de um relato de experiência sobre uma atividade de educação em saúde em Unidade Básica de Saúde, tendo o câncer como temática. Foram tomados os devidos cuidados para redução dos riscos de contaminação da COVID-19. De um modo geral, os participantes e a equipe avaliaram positivamente a atividade. Resolveu-se, juntamente com a equipe multidisciplinar, por dar continuidade às ações, abordando o tema com uma frequência bimensal com a participação da equipe multidisciplinar.

Palavras-chave: câncer, educação, saúde, UBS, COVID-19.

INTRODUÇÃO

O câncer é um problema mundial de saúde pública que consiste numa enfermidade crônica, caracterizada pelo crescimento celular desordenado, o qual é resultante de alterações no código genético. As neoplasias podem ser resultantes diretos da herança dos genes, mas grande parte envolve danos ao material genético, de origem física, química ou biológica que se acumulam ao longo da vida (1) (2).

A Organização Mundial da Saúde considera que em torno de 40% das mortes por câncer poderia ser evitada, tornando assim a prevenção um componente essencial no planejamento do controle do câncer. A prevenção com foco nos fatores associados ao modo de vida e com intervenções de combate a agentes ambientais e ocupacionais cancerígenos pode trazer bons resultados na redução do câncer. O objetivo da prevenção primária é impedir que o câncer se desenvolva. Isso inclui a adoção de um modo de vida saudável e evitar a exposição a substâncias causadoras de câncer. O objetivo da prevenção secundária do câncer é detectar e tratar doenças pré-malignas (por exemplo, lesão causada pelo vírus HPV) ou cânceres assintomáticos iniciais. De modo geral, sabe-se que, quanto antes o câncer for detectado, mais efetivo o tratamento tende a ser, maior a possibilidade de cura e melhor a qualidade de vida do paciente (3).

As duas estratégias utilizadas na detecção precoce são o diagnóstico precoce e o rastreamento. O diagnóstico precoce é realizado com o objetivo de descobrir, o mais cedo possível, uma doença por meio dos sinais e sintomas clínicos que o paciente apresenta. O rastreamento ou screening é o exame oferecido para pessoas saudáveis (sem sintomas de doenças) com o objetivo de selecionar aquelas com mais chances de ter uma enfermidade por apresentarem exames alterados ou suspeitos e que, portanto, devem ser encaminhadas para investigação diagnóstica (3).

O termo fatores de risco pode ser definido como qualquer coisa que aumenta o risco de um indivíduo desenvolver uma determinada doença ou sofrer um determinado agravo. A exposição aos raios ultravioletas provenientes do Sol é considerada a principal causa de câncer de pele tipo melanoma e não-melanoma. O tabagismo representa o principal fator de risco evitável não só de câncer, como também de doenças cardiovasculares e respiratórias. São atribuídas, ao uso do tabaco e derivados, 30% das mortes por câncer, 45% das mortes por doença coronariana, 85% das mortes por doença pulmonar obstrutiva crônica, 25% das mortes por doença cerebrovascular (4). 

O câncer de mama é a principal causa de morte entre mulheres mundialmente. O principal objetivo do rastreamento desta neoplasia é a redução da mortalidade, mediante a detecção dos casos em fases mais precoces da apresentação clínica da doença. No Brasil, o Sistema único de Saúde adota as diretrizes do Ministério da Saúde de realização de mamografia bienal em mulheres entre 50 e 69 anos (5). 

O HPV é considerado o agente infeccioso mais importante no desenvolvimento do câncer. A ele se atribuem 100% dos casos de câncer do colo do útero e 5,2% do total de casos de câncer no mundo para ambos os sexos. Também são associados à infecção pelo HPV, embora de ocorrência menos frequente, cânceres de outras localizações: ano-genitais, como vagina, vulva, pênis e ânus, bem como de boca e de orofaringe (4).

O presente trabalho se trata de um relato de experiência sobre uma atividade de educação em saúde em Unidade Básica de Saúde (UBS) de um município do estado do Ceará, tendo o câncer como temática. Esta UBS conta com uma equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF) composta por um médico, uma enfermeira, duas técnicas de enfermagem e 11 agentes comunitários de saúde (ACS). A unidade é caracterizada como urbana, mas assiste também 3 áreas rurais. O território abrange uma população adscrita de um pouco mais de 6000 habitantes, vale-se ressaltar a importante vulnerabilidade da população da região.

É importante ressaltar que o presente trabalho foi realizado no mês de janeiro de 2021. Período caracterizado como “fim da primeira onda da pandemia de COVID-19”, no qual houve redução de óbitos e de incidência de casos de COVID-19 no Brasil e até então ainda não existiam vacinas disponíveis contra COVID-19.

METODOLOGIA

Inicialmente, foram pensadas e realizadas estratégias, com o facilitador juntamente com sua equipe multidisciplinar, para a realização da atividade respeitando as normas de segurança e etiqueta que reduzam os riscos de contaminação pela COVID-19. Teve-se o cuidado com o número de participantes para evitar aglomeração, distanciamento entre as cadeiras, local arejado e amplo, oferecimento de álcool em gel, uso obrigatório de máscaras e questionou-se sintomas de COVID-19 entre todos os participantes.

A metodologia empregada foi uma exposição oral dialogada, no formato de sala de espera, em que o médico da UBS foi o facilitador e a equipe multidisciplinar assumiu função de apoio. 

A atividade ocorreu na sala de entrada da UBS, por ser um local mais amplo e arejado. O público alvo contou com pacientes que estavam aguardando a consulta médica por demanda espontânea. Um total de nove pessoas participaram da atividade, dentre eles 6 mulheres e 3 homens, com faixa etária variando de 27 a 87 anos. Foi orientado aos participantes que a atividade seria uma palestra oral dialogada, com duração aproximada de 15 a 30 minutos, que os participantes tinham liberdade para perguntar sobre o tema inclusive interrompendo o facilitador.   

O tema da atividade foi “Abordagem do câncer na Atenção primária à saúde” com ênfase na prevenção e na importância do rastreio e/ou do diagnóstico precoce dos cânceres de mama, colo de útero, próstata, pele e pulmão. Teve-se a preocupação com a adequação da linguagem ao público alvo, evitando quando possível o uso de termos técnicos, favorecendo, desta forma um ambiente cordial e propício à troca de saberes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O primeiro tema abordado foi o câncer de mama. Ressaltou-se a importância da prevenção e do rastreamento com mamografia bianual para mulheres de 50 a 69 anos. Ressaltou-se também a importância da consulta médica caso tenha algum sinal suspeito como nodulação ou secreção papilar. Dentre os participantes, ninguém tinha histórico prévio de neoplasia mamária, mas alguns relataram que tinham histórico familiar positivo.

O segundo tema abordado foi o câncer de colo de útero. Suas formas de rastreio são bastante eficazes para um diagnóstico de lesões pré-malignas e malignas e, desta forma, realizado um tratamento precoce com maiores chances de sucesso. Quando questionados sobre as formas de prevenção, eles conheciam o exame de Papanicolau. Porém ninguém citou a vacina contra o HPV. Desta forma, a vacinação contra o HPV foi estimulada nas jovens e nos jovens.

O tema seguinte abordado foi câncer de próstata. Foi abordado o diagnóstico precoce do câncer de próstata e as controvérsias com relação ao rastreio da neoplasia. A importância da individualização dos casos e da conversa para definir a necessidade da abordagem diagnóstica e tratamento respeitando sempre sua autonomia. 

O quarto tema foi câncer de pele. Questionou-se aos participantes quais os principais fatores de risco. Alguns participantes logo responderam: “o sol”. E sobre a prevenção deste tipo de câncer, eles responderam: usar protetor solar, chapéus e roupas manga longa. Fez-se então uma abordagem sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce. Um dos participantes se manifestou, dizendo que teve câncer de pele em região torácica, mas que fez o tratamento precocemente através de cirurgia e que agora está bem, mas tem todos os cuidados de prevenção e consultas regulares à UBS e ao dermatologista.

O último tema abordado foi câncer de pulmão. Ressaltou-se o tabagismo como principal fator de risco deste câncer e a cessação do tabagismo como principal forma de evita-lo entre os fumantes. O tabagismo foi citado também como um dos principais fatores de risco para outras doenças, como: DPOC e cânceres de boca e laringe. Dentre os participantes, alguns citaram espontaneamente serem ex-tabagistas, entretanto atualmente nenhum dele fumavam. 

CONCLUSÃO

As informações sobre o tema são de natureza bastante relevante para o público geral visto que aborda a prevenção, rastreio e/ou diagnóstico precoce dos principais tipos de câncer. Os participantes interagiram bastante do momento com questionamentos e relatando suas experiências e de pessoas próximas. Os pacientes presentes na atividade saíram bastante satisfeitos com relação à atividade, tiraram dúvidas e avaliaram como bastante satisfatórias ações dessa natureza. De um modo geral, Os participantes e a equipe avaliaram positivamente a atividade.

Desta forma se faz necessário que estes temas tão relevantes sejam abordados mais vezes na Unidade. Resolveu-se, juntamente com a equipe multidisciplinar, por dar continuidade às ações, abordando o tema com uma frequência bimensal com a participação da equipe multidisciplinar.

REFERÊNCIAS

1. Pires MEP, et al. Rastreamento do Câncer Colorretal: Revisão de Literatura. Brasilian Journal of Health Review. Curitiba, v.4, n.2, 2021. 

2. Inumaru LE, Silveira EA, Naves MMV. Fatores de risco e de proteção para câncer de mama: uma revisão sistemática. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 27 (7), 2011.

3. INCA. ABC do câncer: abordagens básicas para o controle do câncer / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva; organização Mario Jorge Sobreira da Silva. – 4. ed. rev. atual. – Rio de Janeiro: Inca, 2018. 

4. INCA. Ações de enfermagem para o controle do câncer: uma proposta de integração ensino-serviço. / Instituto Nacional de Câncer. – 3. ed. atual. amp. – Rio de Janeiro: INCA, 2008.

5. Barcelos MRB, Chalupowski MN, Rebbeck TR, Facchini LA. Diretrizes de rastreamento do câncer de mama com práticas personalizadas e baseadas em risco: estamos preparados? FEMINA, 2020.


1Médico em Atenção Primária à Saúde (APS), Secretaria de Saúde de Pacajus-CE

2Enfermeira em Atenção Primária à Saúde (APS), Secretaria de Saúde em Fortaleza-CE

3Professor de Biologia, Secretaria de Educação do Ceará (SEDUC), Russas-CE