ABORDAGEM DA FONOAUDIOLOGIA EM CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

APPROACH TO SPEECH THERAPY IN AUTISTIC SPECTRUM DISORDER (ASD): LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10115972


Clarisya Lima da Silva¹
Vicente Lucas Adam Queiroz Gomes²
Priscila de Paula Motta³ 


RESUMO 

O transtorno do espectro autista é um distúrbio complexo e geneticamente heterogêneo e isso sempre dificultou o modo de identificação de sua etiologia. A atuação dos fonoaudiólogos, intervindo direta e indiretamente, possibilita uma evolução mais ampla no que se refere ao desenvolvimento de crianças com transtornos do espectro autista. O objetivo deste estudo foi revisar de forma bibliográfica os efeitos da abordagem da fonoaudiologia em crianças com transtorno do espectro do autista. Os dados para desenvolvimento deste estudo foram coletados entre os meses de agosto a novembro do ano de 2023. Para obtenção destes elementos foram utilizadas as bases de dados: LILACS, SciELO e PubMed,  tendo como descritores: fonoaudiólogo; tratamento; autismo. Os resultados obtidos na revisão foram que a abordagem da fonoaudiologia em crianças com transtorno do espectro do autista apresentou benefício em todas as terapêuticas utilizadas, exceto na que utilizou apenas musicoterapia. Conclui-se que a abordagem da fonoaudiologia em crianças com transtorno do espectro do autista mostrou ser bastante relevante na melhora dos aspectos do desenvolvimento linguístico e comportamental das crianças, inclusive os custos associados aos tratamentos foram totalmente compensados devido às reduções no uso de outros serviços graças aos resultados apresentados, porém a aplicação de somente musicoterapia não mostrou ser uma intervenção efetiva, sendo assim, tendo em vista à escassez de estudos e opções de tratamento, faz-se necessário que sejam realizados mais estudos de caso e ensaios clínicos de preferência randomizados controlados, devido melhor acurácia, para que mais métodos, técnicas e pontos sejam abordados, avaliados e descritos minuciosamente.

PALAVRAS-CHAVE: Fonoaudiólogo; tratamento; autismo. 

ABSTRACT 

Autism spectrum disorder is a complex and genetically heterogeneous disorder and this has always made it difficult to identify its etiology. The work of speech therapists, intervening directly and indirectly, enables a broader evolution in terms of the development of children with autism spectrum disorders. The objective of this study was to bibliographically review the effects of the speech therapy approach on children with autism spectrum disorder. The data for the development of this study were collected between the months of August and November of the year 2023. To obtain these elements, the following databases were used: LILACS, SciELO and PubMed, with the following descriptors: speech therapist; treatment; autism. The results obtained in the review were that the speech therapy approach to children with autism spectrum disorder showed benefits in all therapies used, except for the one that used only music therapy. It is concluded that the speech therapy approach to children with autism spectrum disorder proved to be quite relevant in improving aspects of children’s linguistic and behavioral development, including the costs associated with treatments were fully offset due to reductions in the use of other services thanks to to the results presented, however the application of music therapy alone did not prove to be an effective intervention, therefore, in view of the scarcity of studies and treatment options, it is necessary to carry out more case studies and clinical trials, preferably randomized controlled trials , due to better accuracy, so that more methods, techniques and points are addressed, evaluated and described in detail. 

KEYWORDS: Speech therapist; treatment; autism.

INTRODUÇÃO 

Para Griesi-Oliveira; Sertié (2017), o transtorno do espectro do autista (doravante TEA) é um distúrbio complexo e geneticamente heterogêneo e que isso sempre dificultou o modo de identificação de sua etiologia em cada paciente em particular, desse modo, por consequência, o aconselhamento genético das famílias, contudo, atualmente, estima-se que, por meio de testes moleculares, é possível detectar uma alteração genética potencialmente causal em aproximadamente 25% dos casos. 

 De acordo com a organização mundial de saúde, (2023) cerca de uma em cada 100 crianças tem autismo, todavia, as características podem ser detectadas na primeira infância, porém, o autismo muitas vezes só é diagnosticado muito mais tarde e as habilidades e necessidades das pessoas autistas variam e podem evoluir com o tempo embora alguns pacientes possam viver de forma independente, outras têm deficiências graves e necessitam de cuidados e apoio ao longo da vida. 

 Desse modo, Samsam et al. (2014); Sauer et al., (2021) ressaltam que o diagnóstico de transtorno do espectro do autista é fundamentado em características peculiares que compreendem comportamentos recorrentes e comunicação e interação social prejudicadas, sendo assim, o TEA constituem um grupo de doenças do neurodesenvolvimento. 

Segundo Gonçalves; Castro (2013), às alterações de linguagem no transtorno do espectro autista na maioria das vezes são diferenciadas por declínios expressivos ou carência integral de desenvolvimento desta capacidade, sendo assim, tais alterações lingüísticas sancionam a relevância da atuação fonoaudiológica no tratamento dos pacientes com esse diagnóstico. 

Portanto, Araújo et al., (2021) afirmam que a atuação dos fonoaudiólogos, intervindo direta e indiretamente, possibilita uma evolução mais ampla no que se refere ao desenvolvimento de crianças com transtornos do espectro autista, principalmente com a finalidade de haver uma maior informação de pais ou responsáveis em prol de um melhor acompanhamento de autistas, por meio da utilização de técnicas pautadas na ludicidade, com os profissionais da fonoaudiologia sendo verdadeiros interlocutores, por intermédio do uso de ferramentas como os objetos de mediação que são capazes de proporcionar uma intervenção adequada, possibilitando assim, dessa forma, uma evolução altamente considerável com intuito de estimular o desenvolvimento da criança autista. 

Na atualidade, os elementos relacionados à abordagem da fonoaudiologia em crianças com transtorno do espectro do autista mostram-se pertinentes no sentido de divulgar seus efeitos e grande valor para que os demais pesquisadores realizem análises que compartilhem suas experiências com estes pacientes, sendo se possível for estudos randomizados controlados, devido à melhor acurácia. Desse modo, o objetivo deste estudo foi revisar de forma bibliográfica os efeitos da abordagem da fonoaudiologia em crianças com transtorno do espectro do autista. 

MÉTODO 

Os dados para desenvolvimento deste estudo foram coletados entre os meses de agosto a novembro do ano de 2023. Para obtenção destes elementos foram utilizadas as bases de dados: LILACS, SciELO e PubMed,  tendo como descritores: fonoaudiólogo, tratamento e autismo. 

Os critérios de inclusão nesta revisão foram: estudos de intervenção e ensaios clínicos publicados a partir de 2013 e os critérios de exclusão foram: artigos duplicados e os que não trouxessem desfechos relacionados à abordagem da fonoaudiologia em crianças com transtorno do espectro autista. 

A pesquisa realizada foi de natureza básica, com abordagem quantitativa, apresentando fins de pesquisa exploratória e característica de bibliográfica, assim como fora descrito no estudo de Silva et al. (2021), para análise dos efeitos da abordagem da fonoaudiologia em crianças com transtorno do espectro autista. 

Por meio dos descritores utilizados foi obtido um total de 118 artigos, dos quais 100 artigos foram excluídos por não serem ensaios clínicos. Após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão cinco artigos tiveram que ser eliminados, então 13 artigos foram selecionados para a triagem por meio da leitura dos títulos, resumos e do texto completo, quando necessário, dos quais seis foram excluídos, assim, restaram sete estudos para serem revisados. A Figura 1 mostra o processo de inclusão para esta revisão. 

Figura 1 – Fluxograma do processo de inclusão dos artigos

DISCUSSÃO E RESULTADOS 

Na pesquisa realizada por Chenausky  et al., (2022) foi testado um treinamento de mapeamento auditivo-motor baseado na entonação para crianças com transtorno do espectro do autista, sendo assim, envolveu cantar, em vez de falar, palavras ou frases de duas sílabas, inclusive no ritmo de cada sílaba cantada, terapeuta e criança batem juntos em baterias eletrônicas sincronizadas em tons iguais, cativando assim, feições neurais auditivas e motoras compartilhadas de ações manuais e vocais, desse modo, a entonação simultânea e os movimentos bimanuais apresentados em um ambiente socialmente envolvente mostraram-se eficientes para criar uma atmosfera individualizada e interativa de produção musical para a aprendizagem da língua falada das crianças com TEA (Tabela 1). 

No estudo feito por Mossler et al. (2020), uma examinação foi feita para saber se a sintonia musical e emocional prediz mudanças com apenas a musicoterapia improvisada em crianças com transtorno do espectro do autista, porém, apesar dos resultados serem positivos não foram estatisticamente significativos, contudo sugerem que a gravidade dos sintomas pode estar associada à capacidade do terapeuta de se sintonizar com a criança com TEA. 

Na análise executada por Cidav et al., (2017) utilizou-se o modelo Early Start Denver que consiste em  princípios analíticos comportamentais aplicados e de desenvolvimento sendo realizados nos pacientes pelos fonoaudiólogos e os pais, que foram treinados para participar do estudo, deste modo, após dois anos de acompanhamento os resultados mostraram-se benéficos com as crianças com TEA, inclusive os custos associados aos tratamentos foram totalmente compensados devido às reduções no uso de outros serviços e gastos associados graças aos frutos apresentados. 

Segundo a pesquisa realizada por Kaiser; Roberts, (2013) utilizando como terapêutica o ensino do ambiente aprimorado, sendo dividida em dois grupos, tendo um deles com apenas terapeutas e o outro grupo com terapeutas e pais, que foram treinados, onde ambos realizaram este treino de habilidades de linguagem com as crianças com TEA, todavia, ambos os grupos tiveram bons resultados, porém observou-se benefícios em treinar os pais para implementar estratégias de intervenção lingüística naturalística com crianças com TEA que apresentam deficiências significativas de linguagem, apesar que o grupo terapeutas e pais se provou superior ao grupo com apenas terapeutas. 

De acordo com Pereira et al. (2020), a intervenção fonoaudiológica por meio da comunicação aumentativa e alternativa nos atos comunicativos é benéfica em crianças com Transtorno do Espectro do Autismo, afinal foi possível observar aumento de 51,47% na produção de atos comunicativos das crianças com TEA participantes da análise, inclusive houve maior qualidade nos atos produzidos, com uso de componentes verbais mais presentes e diminuição dos atos que possuíam funções não-interpessoais, tais como os atos gestuais e vocais. 

No entanto, Martinez; Pires, (2022) afirmam que há escassez de pesquisas e de capacitação profissional para a área de comunicação aumentativa e alternativa, visto que ainda há falta de compreensão dos pais e de alguns profissionais por não conhecerem essa área clínica que pode ser por meio de estímulos acústicos, gráficos, gestuais, expressões faciais, movimentos corporais e táteis. 

Durante o estudo realizado por Misquiatti et al., (2014) constatou-se um restrito conhecimento dos professores em relação a comunicação com as crianças com TEA, sendo obtido esse resultado por meio da aplicação de um questionário feito por fonoaudiólogos especificamente para este estudo, onde foi aplicado em dois momentos distintos, pré e pós-intervenção, dessa maneira, a intervenção por meio de orientações foi feita em dois encontros com estes profissionais, de quatro horas cada, conduzidos por fonoaudiólogos dando ênfase em aspectos da comunicação e linguagem, por fim, foi realizada análise comparativa entre as fases pré e pós-intervenção, que evidenciou aumento significante de respostas adequadas sobre transtorno do espectro do autismo. 

Tabela 1 – Características dos estudos incluídos na revisão de literatura

AUTOR/ANO INTERVENÇÃO  RESULTADOS  
Chenausky  et al. (2022)  Treinamento de mapeamento auditivo-motor -Terapia foi efetiva  
Mossler et al. (2020)  Musicoterapia  -Terapia não foi efetiva  
Cidav et al. (2017)  Modelo Early Start Denver  -Terapia foi efetiva  
Kaiser; Roberts (2013)  Ensino do ambiente aprimorado implementado por pais e terapeutas versus terapeutas  -Ensino do ambiente aprimorado implementado por pais e terapeutas foi superior  
Pereira et al. (2020) Martinez; Pires (2022)  Comunicação Aumentativa e Alternativa  -Terapia foi efetiva 
Misquiatti et al. (2014). Orientação para professores de ensino fundamental  -Terapia foi efetiva  

CONCLUSÃO 

Por meio desse estudo conclui-se que a abordagem da fonoaudiologia em crianças com transtorno do espectro do autista mostrou ser bastante relevante na melhora dos aspectos do desenvolvimento lingüístico e comportamental das crianças, inclusive os custos associados aos tratamentos foram totalmente compensados devido às reduções no uso de outros serviços e gastos associados graças aos resultados apresentados, porém a aplicação de somente musicoterapia não mostrou ser uma intervenção efetiva. 

Sendo assim, tendo em vista à escassez de estudos e opções de tratamento, faz-se necessário que sejam realizados mais estudos de caso e ensaios clínicos de preferência randomizados controlados, devido melhor acurácia, para que mais métodos, técnicas e pontos sejam abordados, avaliados e descritos minuciosamente. 

REFERÊNCIAS 

 ARAÚJO, JLO; SOUSA, CCA; FARIAS, RRS. Benefits of speech therapy intervention in autism spectrum disorder: literature review. Research, Society and Development. 2021. 

CHENAUSKY, KV; NORTON, AC; TAGER-FLUSBERG, H; SCHLAUG, 

G. Auditory-motor mapping training: Testing an intonation-based spoken language treatment for minimally verbal children with autism spectrum disorder. 
Ann N Y Acad Sci. 2022. 

CIDAV, Z; MUNSON, J; ESTES, A; DAWSON, G; ROGERS, S; 

MANDELL, D. Cost offset associated with early start denver model for children with autism. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 2017. 

 GONÇALVES, CAB; CASTRO, MSJ. Proposals for speech therapy for autist children: a systematic review of literature. Distúrb Comun. 2013. 

GRIESI-OLIVEIRA, K; SERTIÉ, AL. Autism spectrum disorders: an updated guide for genetic counseling. Einstein. 2017. 
OMS. Autism. Organização Mundial de Saúde. 2023. 

PEREIRA, ET; MONTENEGRO, ACA; ROSAL, AGC; WALTER, CCF.  Augmentative and alternative communication on autism spectrum disorder: impacts on communication. CoDAS. 2020. 

 KAISER, AP; ROBERTS, MY. Parent-implemented enhanced milieu teaching with preschool children who have intellectual disabilities. J Speech Lang Hear Res. 2013. 

 MARTINEZ, LS; PIRES, SCF. Profile of speech-language pathology care focused on augmentative and alternative communication. Audiol Commun Res. 2022. 

 MISQUIATTI, ARN; BRITO, MC; CERON, JS; CARBONI, PP; OLIVATI, AG. Communication and autism spectrum disorders: review of knowledge of teachers in pre and post-intervention phases. Rev CEFAC. 2014. 

MÖSSLER, K; SCHMID, W; AßMUS, J; FUSAR-POLI, L; GOLD, C. 
Attunement in music therapy for young children with autism: revisiting qualities of relationship as mechanisms of change. J Autism Dev Disord. 2020. 

 SAMSAM, M; AHANGARI, R; NASER, SA. Pathophysiology of autism spectrum disorders: revisiting gastrointestinal involvement and immune imbalance. World J Gastroenterol. 2014. 

SAUER, AK; STANTON, JE; HANS, S; GRABRUCKER, AM. 
Transtornos do espectro do autismo: etiologia e patologia. Exon Publications. 2021. 

 SILVA, LC; LIRA, KL; FARIAS, RRS. Speech therapy approach in early intervention in children with autistic spectrum disorder: integrative review. Research, Society and Development. 2021.


1Acadêmica finalista do curso de Bacharel em Fonoaudiologia na Universidade Nilton Lins 

2Fisioterapeuta, Pós-graduado em Fisioterapia em Traumatologia e ortopedia em Desportiva 

3Fonoaudióloga, Docente do curso de bacharelado em Fonoaudiologia pela Universidade Nilton Lins-AM, Pós-graduada em Motricidade Orofacial com ênfase em Neonatologia pelo CEAPS-SP e Pós-graduada em Cuidados Paliativos pelo IIEP do Hospital Israelita Albert Einstein-SP.