ABORDAGEM CLÍNICA E MANEJO DO EDEMA AGUDO DE PULMÃO NÃO HIPERTENSIVO POR ASPIRAÇÃO BRONCOPULMONAR: PRÁTICAS CLÍNICAS E ESTRATÉGIAS TERAPÊUTICAS

CLINICAL APPROACH AND MANAGEMENT OF ACUTE NON-HYPERTENSIVE LUNG EDEMA BY BRONCHOPULMONARY ASPIRATION: CLINICAL PRACTICES AND THERAPEUTIC STRATEGIES

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10866203


Raimundo Isaac Silva de Aguiar1
Douglas José Angel2


Resumo

Edema agudo de Pulmão (EAP) é uma condição causada por acúmulo de líquidos nos pulmões, podendo ter diferentes causas etiológicas, uma delas é a broncoaspiração, uma das mais graves sendo de origem não cardiogênica. Entrada de substâncias estranhas nos pulmões, desencadeando respostas inflamatórias agudas e comprometendo a função pulmonar. Uma visão abrangente sobre os cuidados e manejo clínico, abordando mecanismos fisiopatológicos, quadro clínico, diagnostico e terapêutica. Efetuou-se busca sistematizada abrangendo artigos de periódicos indexados nas bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SciELO), Publicações Médicas (PubMed)com palavras-chave como Edema agudo de Pulmão, EAP não cardiogênico, Pneumonite química. A análise dos artigos revelou que há uma necessidade de uma compreensão mais profunda, pois reconhecendo a fisiopatologia o profissional estará mais preparado para uma abordagem diagnostica e terapêutica eficaz, minimizando a morbidade e mortalidade a essa condição.

Palavras-chave: Broncoaspiração; Função Pulmonar; Manejo clínico.

ABSTRACT

Acute Lung Edema (APE) is a condition caused by the accumulation of fluid in the lungs, which can have different etiological causes, one of which is bronchoaspiration, one of the most serious being of non-cardiogenic origin. Entry of foreign substances into the lungs, triggering acute inflammatory responses and compromising lung function. A comprehensive view of care and clinical management, covering pathophysiological mechanisms, clinical picture, diagnosis and therapy. A systematic search was carried out covering articles from journals indexed in the databases: Scientific Electronic Library Online (SciELO), Medical Publications (PubMed) with keywords such as Acute Lung Edema, Non-Cardiogenic PAE, Chemical Pneumonitis. Analysis of the articles revealed that there is a need for a deeper understanding, as by recognizing the pathophysiology the professional will be more prepared for an effective diagnostic and therapeutic approach, minimizing morbidity and mortality from this condition.

Keywords: Bronchoaspiration; Lung Function; Clinical management.

1. Introdução

O edema agudo de pulmão (EAP) é uma síndrome clínica em que ocorre acúmulo de fluido nos espaços alveolares e intersticiais dos pulmões, podendo ser decorrente de causas diversas. O resultado do processo é caracterizado por hipoxemia, aumento no esforço respiratório, redução da complacência pulmonar e redução da relação ventilação perfusão. O EAP pode ter duas etiologias diferentes, se classificando em EAP cardiogênico (também denominado edema hidrostático ou hemodinâmico) e EAP não cardiogênico (também conhecido como lesão pulmonar aguda ou síndrome do desconforto respiratório agudo). Embora tenham causas distintas, pode ser difícil a distinção de ambos por causa das manifestações clínicas similares. (SANAR, 1970)

No EAP não-cardiogênico, é uma condição grave na qual ocorre acúmulo de líquido nos pulmões devido à aspiração de conteúdo gástrico ou substâncias estranhas para o trato respiratório. Geralmente, a aspiração ocorre quando o conteúdo do estômago, como alimentos, líquidos ou vômito, é inalado para os pulmões, desencadeando uma resposta inflamatória e levando ao acúmulo de líquido nos alvéolos pulmonares. Logo, ocorre inflamação e aumento da permeabilidade capilar com exudação de líquido para interstício pulmonar.2.

Ademais, é importante ressaltar que a incidência exata pode ser difícil de determinar devido à subnotificação e à falta de registros precisos. Além disso, pode levar a diferentes apresentações clínicas que incluem franca dispneia e taquipneia com evolução para Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA). Esses sintomas podem variar em intensidade, dependendo da gravidade da condição, quantidade e natureza do material aspirado, bem como as condições clínicas subjacentes do paciente.

O objetivo deste artigo é fornecer uma visão abrangente sobre o manejo clínico do edema agudo de pulmão não hipertensivo causado por aspiração broncopulmonar. Serão discutidos os mecanismos fisiopatológicos envolvidos, o quadro clínico característico, as abordagens diagnósticas e as estratégias terapêuticas recomendadas. A compreensão aprofundada desses aspectos é fundamental para um diagnóstico precoce e tratamento adequado dessa condição potencialmente grave.

2. METODOLOGIA

O processo de condução desta revisão sistemática envolveu múltiplas etapas, como identificação da problemática e formulação da questão, procura, seleção e interpretação crítica de artigos.

O uso de base de dados como Scielo e PubMed, em conjunto com livros e diretrizes relevantes sobre a temática. Realizando utilizando palavras-chaves “Edema agudo de pulmão”, “EAP não cardiogênico”, Pneumonite química”.

Os critérios de inclusão continham artigos completos e gratuitos, relevantes ao tema e publicados nos últimos 8 anos, com objetivo de ter informações atualizadas sobre a temática, enquanto artigos fora do escopo, duplicados ou incompletos não foram usados nos estudos.

3. FISIOPATOLOGIA

O EAP não cardiogênico é causado por lesão pulmonar com consequente aumento da permeabilidade vascular, levando ao movimento de líquido, rico em proteínas, para os compartimentos alveolar e intersticial.

A fisiopatologia do EAP não hipertensivo por aspiração broncopulmonar envolve uma resposta inflamatória aguda nos pulmões. A aspiração de conteúdo gástrico ou substâncias estranhas para o trato respiratório desencadeia uma série de eventos que levam ao acúmulo de líquido nos alvéolos. A presença dessas substâncias irritantes e a ativação de células inflamatórias fomentam uma resposta imunológica localizada, resultando em vasodilatação, aumento da permeabilidade capilar e exsudação de líquido para os espaços alveolares. A inflamação aguda e o acúmulo de líquido comprometem a função dos alvéolos, dificultando a troca adequada de oxigênio e dióxido de carbono.

A lesão pulmonar aguda (LPA) e a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) são espectros de uma mesma doença que refletem a expressão clínica de um edema pulmonar com alto teor de proteínas, consequente a um aumento da permeabilidade da membrana alvéolo-capilar, ocasionando um quadro de insuficiência respiratória aguda. (SILVIA, 2007)

4. QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO

O diagnóstico do EAP é clínico e sua gravidade depende da quantidade de líquido acumulado nos pulmões. Em quadros iniciais, pequenos acúmulos provocam taquicardia, taquidispneia e estertores nas bases de ambos os pulmões. Quantidades maiores acumuladas vão gerar franca dispneia, ansiedade e agitação, palidez, sudorese fria, cianose de extremidades e estertoração em todos os campos pulmonares. Em situação extrema, ocorre a saída de líquido espumoso róseo pela boca e pelo nariz, mimetizando afogamento, com tendência à deterioração rápida e êxito letal em caso de retardo da terapêutica adequada.

A radiografia de tórax é frequentemente solicitada como o primeiro exame de imagem, permitindo a detecção de opacidades pulmonares, infiltrados ou sinais de congestão pulmonar.  No quadro agudo, avalia o grau de congestão pulmonar e novas imagens após o tratamento guiam o ajuste medicamentoso. Pode, também, sugerir um diagnóstico alternativo ou concomitante, como infecção pulmonar e doença pulmonar obstrutiva crônica. A gasometria arterial é essencial para avaliar a oxigenação arterial e os distúrbios ácido-base, fornecendo informações cruciais sobre a gravidade da hipoxemia e da insuficiência respiratória. Além disso, o hemograma completo e a avaliação dos eletrólitos séricos podem revelar sinais de infecção, inflamação ou distúrbios hidroeletrolíticos associados. Também a solicitação de função renal ode estar alterada em pacientes portadores de doença renal crônica concomitante ou por baixa perfusão renal em pacientes com insuficiência cardí­aca avançada, porém pioras agudas podem estar relacionadas com a insuficiência cardíaca descompensada, em decorrência da congestão em veia renal. Peptí­deos natriuréticos (BNP) podem estar elevados na hipervolemia mesmo em pacientes sem insuficiência cardíaca (geralmente pouco elevado nesses casos). Esse exame também tem valor prognóstico nos casos de insuficiência cardíaca. O peptídeo natriurético tipo B ou cerebral diferencia dispneia de origem cardíaca de não-cardíaca. Um BNP < 100 pg/ml torna o diagnóstico de IC improvável (valor preditivo negativo > 90%), enquanto BNP > 500 pg/ml indica que IC seja provável (valor preditivo positivo > 90%). Valores entre 100 e 500 pg/ml são insuficientes para discriminação diagnóstica. O BNP também pode estar alterado na insuficiência renal, sepse grave e taquiarritmias

A cultura de escarro ou aspirado traqueal pode ser indicada para identificar patógenos bacterianos ou outros micro-organismos que possam estar contribuindo para a infecção pulmonar. Testes de função pulmonar, como espirometria ou gasometria arterial durante o teste de caminhada de seis minutos, podem ser considerados em casos selecionados para avaliar a função respiratória e a capacidade de oxigenação do paciente. Procedimentos invasivos, como broncoscopia, podem ser realizados em casos graves ou complexos para avaliação direta das vias aéreas e remoção de secreções.

Portanto, a investigação diagnóstica do edema agudo de pulmão não cardiogênico por broncoaspiração envolve uma abordagem abrangente que visa identificar os fatores precipitantes, avaliar a gravidade da condição e guiar o manejo terapêutico. A seleção adequada dos exames clínicos é essencial para uma intervenção eficaz e uma melhor prognóstico para os pacientes afetados por essa condição potencialmente fatal.

5. MANEJO E TRATAMENTO

O manejo e tratamento são prescindíveis para minimizar a morbidade e a mortalidade associadas a essa condição potencialmente fatal. É de suma importância garantir uma via aérea pérvia e fornecer oxigênio suplementar para corrigir a hipoxemia, utilizando oxigênio por máscara facial aberta (5-15 L/minuto), com fluxo de oxigênio ajustado para atingir uma saturação de oxigênio alvo (por exemplo, SpO2 > 90%). Devendo ser mantida até que o material de ventilação não invasiva esteja preparado, se necessário. Nos casos de insuficiência respiratória aguda, a ventilação não invasiva, como a pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) aplicação de uma pressão única durante todo o ciclo respiratório. Iniciar com pressão entre 6-8 cmH2O, podendo chegar a 10-12 cmH2O (geralmente não é necessário) ou a ventilação por pressão positiva intermitente, (BiPAP), pode ser uma opção terapêutica eficaz para evitar a intubação traqueal, com níveis de pressão ajustados de acordo com a resposta clínica e gasométrica do paciente.

A gestão agressiva dos fluidos é essencial, buscando manter um equilíbrio adequado entre a otimização do volume circulante e a prevenção da sobrecarga hídrica, o que pode exacerbar o edema pulmonar. Diuréticos de alça, como a furosemida, podem ser administrados para promover a excreção de fluidos, com doses iniciando em 20 a 40 mg por via intravenosa, podendo ser tituladas de acordo com a resposta clínica e a diurese do paciente. Conduto, deve-se monitorar de perto os eletrólitos séricos e a função renal durante a terapia diurética.

Ademais, a identificação e o tratamento de complicações secundárias, como a pneumonia aspirativa, são críticos. Logo, a terapia antimicrobiana empírica de amplo espectro deve ser aplicada precocemente como uso recomenda-se um inibidor betalactâmico da betalactamase, reservando-se a clindamicina a pacientes alérgicos à penicilina, se ocorrer aspiração em ambiente hospitalar, pode-se usar carbapeném ou piperacilina/tazobactam, adicionam-se fármacos eficazes contra o Staphylococcus aureus resistente à meticilina se fatores de risco para esse patógeno estão presentes, a duração do tratamento é geralmente de 1 a 2 semanas, com ajustes subsequentes com base nos resultados de culturas e testes de sensibilidade. Em pacientes com sinais de sepse ou instabilidade hemodinâmica, é fundamental iniciar o protocolo de sepse.

Em casos refratários ou de hipoxemia grave, a intubação traqueal e a ventilação mecânica invasiva são indicadas para garantir uma ventilação adequada e proteger as vias aéreas. Durante a ventilação mecânica, estratégias protetoras de pulmão, como a limitação do volume corrente (6-8 mL/kg de peso corporal ideal) e a otimização da pressão positiva ao final da expiração (PEEP) (geralmente 8-10 cmH2O), devem ser empregadas para minimizar o dano pulmonar induzido pelo ventilador.

Em resumo, o manejo do edema agudo de pulmão não cardiogênico por broncoaspiração requer uma abordagem interdisciplinar e holística, envolvendo uma cuidadosa avaliação clínica, intervenções terapêuticas escalonadas e monitoramento rigoroso. Uma compreensão abrangente das diretrizes de tratamento atuais e a aplicação de práticas baseadas em evidências são essenciais para otimizar os desfechos clínicos desses pacientes críticos.

6. CONCLUSÃO

Compreender e agir rapidamente são os pilares essenciais no manejo do edema agudo de pulmão não cardiogênico por broncoaspiração. A abordagem deve ser global, integrando conhecimentos fisiopatológicos às diretrizes terapêuticas atualizadas. Isso permite não apenas a minimização da morbidade e mortalidade associadas, mas também a promoção de uma melhor qualidade de vida para os pacientes afetados.

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1Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Centro Universitário UNINORTE e-mail: raimundo.isaac21@gmail.com

2Docente do do Curso Superior de Medicina do Instituto Centro Universitário UNINORTE. Especislista em Gestão estratégica de instituições de saúde. e-mail: douglas.angel@uninorteac.com.br