SURGICAL APPROACH OF GASTRIC CANCER: A LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202408241855
Laura Cabral Rolim1, Camille Martins Santos2, Klara Lima Milfont3, Maria Eduarda Lima Fagundes4, Maria Eduarda Torres Figueiredo5, Maria Fernanda Souto Alves6.
RESUMO
Introdução: O Câncer Gástrico (ou câncer de estômago) é o desenvolvimento de células anômalas no sistema digestivo e pode ocorrer em qualquer ponto de sua extensão. No Brasil, o câncer de estômago, excluindo o câncer de pele não melanoma, é o quinto mais comum, sendo o terceiro mais frequente entre os homens e o quinto entre as mulheres. Apesar da etiologia não ser completamente conhecida, a carcinogênese gástrica surge como consequência de uma complexa interação entre o organismo e fatores comportamentais e ambientais. O tratamento para a enfermidade é dependente do estágio em que se encontra. A gastrectomia, que envolve a retirada parcial ou total do estômago, tem sido adotada como modalidade terapêutica primária para o câncer gástrico em estágios localmente avançados e selecionados. Objetivo: Avaliar a evidência disponível acerca da abordagem cirúrgica do câncer gástrico. Metodologia: trata-se de uma revisão integrativa de literatura, tendo sido produzido segundo as diretrizes estabelecidas na declaração PRISMA 2020. Nesse contexto, o primeiro passo foi a definição da pergunta de pesquisa segundo o protocolo PICO. Em seguida, procedeu-se à escolha da fonte de dados que seria utilizada para selecionar os artigos pertinentes a esta revisão. Nesse sentido, definiu-se a plataforma MEDLINE como fonte de dados e informação, de modo que a pesquisa foi realizada neste banco de dados no dia 07 de agosto de 2024. Conclusão: Portanto, a escolha da técnica cirúrgica deve considerar as características individuais do paciente e os benefícios específicos de cada abordagem. A evolução das técnicas e protocolos promete melhorias no tratamento do câncer gástrico, destacando a necessidade de mais pesquisas para otimizar as estratégias terapêuticas.
Palavras-chave: câncer gástrico, cirurgia e morbimortalidade
ABSTRACT
Introduction: Gastric cancer (or stomach cancer) involves the development of abnormal cells in the digestive system and can occur at any point along its extension. In Brazil, excluding non-melanoma skin cancer, stomach cancer is the fifth most common cancer, ranking third among men and fifth among women. Although the etiology is not fully understood, gastric carcinogenesis results from a complex interaction between the body and behavioral and environmental factors. The treatment for this disease depends on its stage. Gastrectomy, which involves the partial or total removal of the stomach, has been adopted as a primary therapeutic modality for locally advanced and selected stages of gastric cancer. Objective: To evaluate the available evidence regarding the surgical approach to gastric cancer. Methodology: This is an integrative literature review, produced according to the guidelines established in the PRISMA 2020 statement. The first step was defining the research question according to the PICO protocol. Next, the data source for selecting relevant articles for this review was determined. MEDLINE was chosen as the data source, and the search was conducted in this database on August 7, 2024. Conclusion: Therefore, the choice of surgical technique should consider the individual characteristics of the patient and the specific benefits of each approach. The evolution of techniques and protocols promises improvements in the treatment of gastric cancer, highlighting the need for further research to optimize therapeutic strategies.
Keywords: gastric cancer, surgery, and morbidity-mortality
1. INTRODUÇÃO
O Câncer Gástrico (ou câncer de estômago) é o desenvolvimento de células anômalas no sistema digestivo e pode ocorrer em qualquer ponto de sua extensão. Comumente, este tipo de tumor se origina na camada da mucosa (a camada interna de revestimento), manifestando-se como pequenas lesões irregulares com ulcerações (rompimento do tecido mucoso) típicas de cânceres ou tumores malignos. O câncer gástrico aparece, predominantemente, sob três tipos histológicos: adenocarcinoma (responsável por 95% dos casos), linfoma, encontrado em aproximadamente 3% das ocorrências, e leiomiossarcoma, que tem origem em tecidos que formam músculos e ossos (GONÇALVES et al., 2020).
No Brasil, o câncer de estômago, excluindo o câncer de pele não melanoma, é o quinto mais comum, sendo o terceiro mais frequente entre os homens e o quinto entre as mulheres. A incidência desse tipo de tumor aumenta a partir dos 35-40 anos, com variações de intensidade entre os gêneros. Embora a frequência tenha diminuído, a taxa de mortalidade continua alta. A sobrevivência em 5 anos é de cerca de 30% nos países desenvolvidos e 20% nos países em desenvolvimento, refletindo as diferenças de incidência e os variados programas de detecção precoce entre Oriente e Ocidente (LINS et al., 2024).
Apesar da etiologia não ser completamente conhecida, a carcinogênese gástrica surge como consequência de uma complexa interação entre o organismo e fatores comportamentais e ambientais. A patogênese do CG se manifesta através de modificações na mucosa gástrica sob ação de fatores ambientais, endócrinos e imunológicos que induzem a substituição das células normais por células neoplásicas. Esse processo ocorre a longo prazo e sugere que os fatores de risco, como o hiperinsulinismo, resistência periférica à insulina, aumento de ácidos graxos livres, hiperlipidemia, estresse oxidativo e aumento de citocinas atuem por vários anos contribuindo para o desenvolvimento adenocarcinoma gástrico (LOPES et al., 2020).
A classificação de Bormann, descreve as lesões cancerígenas de acordo com seus aspectos macroscópicos em tipos I (lesão elevada e polipóide), II (lesão ulcerada com margens bem definidas), III (lesão ulcerada parcialmente infiltrativa com bordas irregulares) e IV (Lesão difusamente infiltrativa. O tratamento para a enfermidade é dependente do estágio em que se encontra, tendo a possibilidade de cura nos estágios I, II e III (BESAGIO et al., 2021).
A gastrectomia, que envolve a retirada parcial ou total do estômago, tem sido adotada como modalidade terapêutica primária para o câncer gástrico em estágios localmente avançados e selecionados. Essa abordagem cirúrgica visa a erradicação do tumor primário e a prevenção de metástases locorregionais, contribuindo para a sobrevida e qualidade de vida dos pacientes. Todavia, a eficácia e segurança da gastrectomia em pacientes com câncer gástrico têm sido objeto de debate contínuo na literatura médica (DA SILVA et al., 2024).
Nesse contexto, esta revisão de literatura se propõe a avaliar a evidência disponível acerca da abordagem cirúrgica do câncer gástrico.
2. METODOLOGIA
2.1 Protocolo e registro
Quanto ao protocolo, trata-se de uma revisão integrativa de literatura, tendo sido produzido segundo as diretrizes estabelecidas na declaração PRISMA 2020 (PAGE et al, 2020). Nesse contexto, o primeiro passo foi a definição da pergunta de pesquisa segundo o protocolo PICO, que exige a definição da população-alvo (p) a ser estudada, a intervenção (i) a ser avaliada, o cenário comparativo (c) e os desfechos (o). Nesse contexto, a determinação foi feita da seguinte forma: pacientes com câncer gástrico (p); tratamento cirúrgico escolhido (i); tratamentos cirúrgicos alternativos (c); morbidade e mortalidade (o).
2.2 Fonte de dados
Em seguida, procedeu-se à escolha da fonte de dados que seria utilizada para selecionar os artigos pertinentes a esta revisão. Nesse sentido, definiu-se a plataforma MEDLINE como fonte de dados e informação, de modo que a pesquisa foi realizada neste banco de dados no dia 07 de agosto de 2024.
2.3 Pesquisa na base de dados
Quanto à pesquisa na base de dados, utilizou-se as palavras-chave câncer gástrico, cirurgia e morbimortalidade, com a condição de que os artigos tivessem sido publicados nos últimos 10 anos. Além disso, foram excluídos artigos incompletos e estudos que não tinham relação com a pergunta de pesquisa após avaliação por texto completo.
Desse modo, foram encontrados 64 artigos, a partir do seguinte mecanismo de pesquisa:
Pubmed/MEDLINE: (câncer gástrico) AND (cirurgia) AND (mortbimortalidade) AND (year_cluster:[2014 TO 2024])
2.4 Critérios de seleção
Quanto ao processo de seleção, os artigos foram inicialmente avaliados por título e resumo, de modo que aqueles sem correlação com a pergunta de pesquisa foram excluídos. Posteriormente, os artigos que permaneciam selecionáveis foram avaliados por texto completo, de modo que cada estudo foi analisado por pelo menos dois autores. Nesse momento, foram excluídos artigos sobre os quais não era possível identificar o texto completo e estudos com graves conflitos de interesse, de modo que subsistiram à análise e foram selecionados cinco estudos.
2.5 Medidas de sumarização
A partir do momento em que os artigos foram escolhidos, um relatório acerca de cada um dos estudos incluídos foi produzido por pelo menos dois autores, com informações essencialmente acerca do tipo de estudo, objetivo e resultados, de modo que esses relatórios podem ser sumarizados na tabela abaixo.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quadro 1: Resultados
Título do Artigo | Ano de Publicação | Tipo de estudo | Objetivo | Resultados |
Comparison of Short-term and Three-year Oncological Outcomes Between Robotic and Laparoscopic Gastrectomy for Gastric Cancer: A Large Multicenter Cohort Study. | 2024 | Estudo observacional de coorte retrospectiva | Comparar os resultados a curto e longo prazo entre a gastrectomia robótica (GR) e a gastrectomia laparoscópica (GL) para o câncer gástrico. | Após o pareamento por escore de propensão, 1034 pares de pacientes foram incluídos em uma coorte balanceada para análise adicional. A sobrevida livre de doença (DFS) de 3 anos na GR e GL foi de 83,7% e 83,1% (P = 0,745), respectivamente, e a sobrevida global de 3 anos foi de 85,2% e 84,4%, respectivamente (P = 0,647). Durante 3 anos de acompanhamento, 154 pacientes nos grupos GR e GL apresentaram recidiva (incidência acumulada de recidiva de 15,0% vs 15,0%, P = 0,988). Não houve diferença significativa nos locais de recidiva entre os 2 grupos (todos P > 0,05). A análise de sensibilidade mostrou que a GR teve DFS de 3 anos comparável (77,4% vs 76,7%, P = 0,745) e sobrevida global (79,7% vs 78,4%, P = 0,577) em pacientes com doença avançada (T2-4a patológico) em comparação com a GL, e o padrão de recidiva em 3 anos também foi semelhante entre os 2 grupos (todos P > 0,05). A GR teve menor perda sanguínea intraoperatória, menor taxa de conversão e menor tempo de internação em comparação com a GL (todos P > 0,05). |
Evolution in Laparoscopic Gastrectomy From a Randomized Controlled Trial Through National Clinical Practice. | 2024 | Estudo observacional retrospectivo com análise de regressão logística multivariável | Analisar a influência do LOGICA RCT (ensaio clínico randomizado) sobre a prática e os resultados da gastrectomia laparoscópica na Holanda. | Duzentos e onze pacientes do LOGICA RCT (105 cirurgia aberta vs 106 laparoscópica) e 4131 pacientes do conjunto de dados DUCA (1884 cirurgia aberta vs 2247 laparoscópica) foram incluídos. Em 2012, a gastrectomia laparoscópica foi realizada em 6% dos pacientes, aumentando para 82% em 2021. Nenhum efeito significativo da gastrectomia laparoscópica sobre os resultados clínicos pós-operatórios foi observado no LOGICA RCT. Nacionalmente, no DUCA, foi observado um deslocamento em direção a um efeito benéfico da gastrectomia laparoscópica sobre as complicações, atingindo uma redução significativa nas complicações gerais [razão de chances ajustada (aOR) 0,62; IC 95% 0,46-0,82], complicações graves (aOR 0,64; IC 95% 0,46-0,90) e complicações cardíacas (aOR 0,51; IC 95% 0,30-0,89) após o ensaio LOGICA. |
Gastrointestinal Stromal Tumors of the Stomach: Is There Any Advantage of Robotic Resections? A Systematic Review and Meta-Analysis. | 2024 | Revisão sistemática e meta-análise | Investigar os resultados da cirurgia robótica versus laparoscópica em pacientes que necessitam de cirurgia para Tumores Gástricos do Estroma (GISTs). | No total, 4 estudos retrospectivos foram selecionados, incluindo um total de 264 pacientes, sendo 111 (42%) no grupo robótico e 153 (58%) no grupo laparoscópico. A cirurgia robótica foi associada a um tempo de operação mais longo (+42,46 min; intervalo de confiança [IC] de 95% 9,34, 75,58; P=0,01; I² 85%) e menor uso de grampeadores mecânicos (razão de chances [OR] 0,05; IC 95% 0,02, 0,11; P<0,00001; I² 92%) em comparação com a laparoscopia. Embora não significativo, a conversão para cirurgia aberta foi menos frequentemente relatada para a cirurgia robótica (2,7%) do que para a laparoscopia (5,2%) (OR 0,59; IC 95% 0,17, 2,03; P=0,4; I² 0%). Nenhuma diferença foi encontrada para os resultados pós-operatórios e oncológicos. |
Safety and efficacy of minimally invasive gastrectomy for older patients with gastric cancer after neoadjuvant chemotherapy and immunotherapy: a propensity score-matched analysis. | 2024 | Estudo observacional de coorte retrospectiva | Avaliar a segurança e a eficácia da MIG para pacientes mais velhos que se submeteram a quimioterapia neoadjuvante e imunoterapia (NICT). | As características basais foram comparáveis entre 61 pacientes no grupo NICT-MIG e 114 pacientes no grupo MIG após o pareamento por escore de propensão (PSM) (P > 0,05). A taxa de resposta patológica majoritária (MPR) e a taxa de resposta patológica completa (pCR) foram de 44,2% e 21,3%, respectivamente, no grupo NICT-MIG. Pacientes no grupo NICT-MIG tiveram tempos de operação mais longos (P = 0,005) e dias pós-operatórios mais prolongados (P = 0,030) do que aqueles no grupo MIG. Nenhuma diferença significativa foi encontrada em relação ao sangramento intraoperatório, número de linfonodos ressecados, dia do primeiro flato, taxa de ressecação R0, morbidade geral de complicações pós-operatórias (POC), morbidade grave de POC, sobrevida geral de 2 anos e sobrevida livre de recidiva entre os grupos MIG e NICT-MIG (P > 0,05). A análise logística multivariada revelou que uma perda sanguínea estimada > 200 mL (P = 0,010) e uma razão linfócitos/monócitos (LMR) ≤ 3,25 (P = 0,006) foram fatores de risco independentes para complicações pós-operatórias (POCs) após MIG em pacientes mais velhos. |
Morbidity and Mortality After Laparoscopy-Assisted Distal Gastrectomy and Totally Laparoscopic Distal Gastrectomy to Treat Gastric Cancer: An Interim Report: A Phase III Multicenter, Prospective, Randomized Trial (The KLASS-07 Trial). | 2024 | Ensaio clínico randomizado em fase III | Comparar a gastrectomia distal assistida por laparoscopia (LADG) e a gastrectomia distal totalmente laparoscópica (TLDG) para o câncer gástrico. Neste relatório intermediário, descrevemos os resultados a curto prazo em termos de morbidade e mortalidade. | As características basais, incluindo o estado de comorbidade, não diferiram entre os grupos LADG e TLDG. A perda sanguínea foi um pouco maior no grupo LADG, mas a diferença não atingiu significância estatística (76,76±72,63 vs. 62,91±65,68 mL; P=0,087). Nem o nível de transfusão necessário nem o tempo de operação ou reconstrução diferiram entre os 2 grupos. A incisão de mini-laparotomia no grupo LADG foi significativamente mais longa do que a incisão umbilical estendida necessária para a remoção do espécime no grupo TLDG (4,79±0,82 vs. 3,89±0,83 cm; P<0,001). Não houve diferenças entre os grupos no tempo para a ingestão de alimentos sólidos, tempo de internação, pontuação de dor ou complicações dentro de 30 dias pós-operatórios. Nenhuma mortalidade foi observada em nenhum dos grupos. |
Complete Mesogastric Excision with D2 Lymphadenectomy for Gastric Cancer: Short-Term Results. | 2024 | Estudo experimental prospectivo | Comparar os resultados a curto prazo da excisão completa do mesogástrio com a técnica cirúrgica convencional | Um total de 37 pacientes foi incluído no estudo. Os grupos incluíram 26 pacientes do sexo masculino e 11 do sexo feminino. O grupo de estudo incluiu 14 pacientes, enquanto o grupo controle envolveu 23 pacientes. A perda sanguínea média (mL) foi significativamente menor e o número de linfonodos metastáticos foi significativamente maior no grupo de estudo. |
Fonte: autores
3.1 Sobrevida e Recidiva
A análise comparativa entre gastrectomia robótica (GR) e gastrectomia laparoscópica (GL) revelou que ambas as técnicas apresentam resultados semelhantes em termos de sobrevida livre de doença (DFS) e sobrevida global. A taxa de DFS de 3 anos foi de 83,7% para GR e 83,1% para GL, enquanto a sobrevida global de 3 anos foi de 85,2% para GR e 84,4% para GL, com diferenças estatisticamente não significativas (P > 0,05). Da mesma forma, a incidência acumulada de recidiva foi de 15,0% em ambos os grupos, sem diferenças significativas nos locais de recidiva. Para pacientes com doença avançada (T2-4a), os resultados de DFS e sobrevida global foram igualmente comparáveis entre GR e GL. Esses achados indicam que, em termos de eficácia oncológica, tanto a gastrectomia robótica quanto a laparoscópica têm desempenhos semelhantes. Portanto, a escolha entre as técnicas pode depender mais de fatores como disponibilidade de tecnologia, experiência do cirurgião e preferências dos pacientes do que de diferenças significativas nos desfechos clínicos.
3.2 Gastrectomia Laparoscópica vs. Cirurgia Aberta
A análise dos dados sobre gastrectomia laparoscópica comparada à cirurgia aberta revela uma tendência crescente na utilização da abordagem laparoscópica ao longo dos anos. Em 2012, apenas 6% dos pacientes foram submetidos a gastrectomia laparoscópica, enquanto essa taxa aumentou significativamente para 82% em 2021. Essa mudança reflete uma adoção crescente da técnica minimamente invasiva, impulsionada por avanços tecnológicos e maior experiência dos cirurgiões.
Os resultados clínicos da gastrectomia laparoscópica em comparação com a cirurgia aberta mostraram efeitos variados em diferentes conjuntos de dados. No contexto do LOGICA RCT, não foram observadas diferenças significativas nos resultados clínicos pós-operatórios entre a gastrectomia laparoscópica e a aberta. No entanto, dados do conjunto DUCA indicaram um benefício potencial da gastrectomia laparoscópica na redução das complicações gerais, graves e cardíacas, com uma redução significativa em complicações gerais e graves (aOR 0,62 e 0,64, respectivamente) e complicações cardíacas (aOR 0,51).
Esses achados sugerem que, apesar das evidências inconsistentes, a gastrectomia laparoscópica pode oferecer vantagens em termos de complicações pós-operatórias em uma análise nacional, embora esses benefícios não tenham sido consistentemente demonstrados em estudos específicos como o LOGICA RCT. A variação nos resultados pode ser atribuída a diferenças na implementação da técnica, perfil dos pacientes e critérios de avaliação entre os estudos. Assim, a decisão sobre a abordagem cirúrgica deve considerar tanto a evidência clínica disponível quanto as características individuais dos pacientes e o contexto específico da prática médica.
3.3 Comparação entre Cirurgia Robótica e Laparoscópica
A comparação entre cirurgia robótica e laparoscópica revela algumas diferenças importantes em termos operacionais e de resultados clínicos. Dados de estudos mostram que a cirurgia robótica é frequentemente associada a um tempo de operação mais prolongado (+42,46 minutos) em comparação com a laparoscopia convencional. Além disso, a cirurgia robótica tende a utilizar menos grampeadores mecânicos, com uma redução significativa no uso desses dispositivos (razão de chances [OR] 0,05). A taxa de conversão para cirurgia aberta foi menos frequente na cirurgia robótica (2,7%) em comparação com a laparoscopia (5,2%), embora essa diferença não tenha alcançado significância estatística (OR 0,59).
Quanto aos resultados pós-operatórios e oncológicos, os estudos não encontraram diferenças significativas entre os dois métodos. A similaridade nos desfechos clínicos e na eficácia oncológica sugere que, apesar das vantagens operacionais da cirurgia robótica, como menor necessidade de grampeadores e menor taxa de conversão, essas não se traduzem em diferenças marcantes nos resultados finais para os pacientes. Assim, a escolha entre cirurgia robótica e laparoscópica pode depender mais de considerações práticas e da disponibilidade de tecnologia do que de diferenças evidentes nos resultados clínicos e oncológicos.
3.4 Comparação entre MIG com e sem NICT
A comparação entre a gastrectomia minimamente invasiva (MIG) com e sem quimioterapia neoadjuvante e imunoterapia (NICT) mostra diferenças importantes em termos de resposta patológica e resultados pós-operatórios. Dados mostram que a MIG após NICT apresenta taxas de resposta patológica majoritária (MPR) e completa (pCR) de 44,2% e 21,3%, respectivamente. Esses índices indicam que a NICT pode melhorar a resposta patológica, embora o impacto real nos resultados pós-operatórios precise ser considerado.
Em termos de resultados operatórios, a MIG após NICT está associada a tempos de operação mais longos e a períodos pós-operatórios mais extensos. Essas diferenças sugerem um aumento na complexidade da cirurgia e no tempo de recuperação para pacientes que receberam NICT antes da cirurgia. No entanto, não foram encontradas diferenças significativas no sangramento intraoperatório, número de linfonodos ressecados, ou nas complicações pós-operatórias gerais e graves entre os grupos de MIG com e sem NICT.
A análise dos fatores de risco revelou que uma perda sanguínea superior a 200 mL e uma baixa razão linfócitos/monócitos (LMR ≤ 3,25) são fatores independentes associados a complicações pós-operatórias. Esses dados indicam que, embora a NICT possa melhorar a resposta patológica, ela também pode complicar o processo cirúrgico e o período de recuperação.
3.5 Comparação entre LADG e TLDG
A comparação entre a gastrectomia assistida por laparoscopia (LADG) e a gastrectomia totalmente laparoscópica (TLDG) revelou diferenças significativas em alguns parâmetros cirúrgicos. A LADG foi associada a uma perda sanguínea ligeiramente maior, embora essa diferença não tenha alcançado significância estatística (76,76 mL em média contra 62,91 mL para a TLDG). Além disso, a incisão de mini-laparotomia utilizada na LADG foi significativamente maior do que a incisão umbilical estendida necessária para a remoção do espécime na TLDG (4,79 cm versus 3,89 cm), indicando um impacto potencial na invasividade do procedimento.
Apesar dessas diferenças operacionais, não foram observadas variações significativas no tempo necessário para iniciar a ingestão de alimentos sólidos, na duração da internação hospitalar, na pontuação de dor ou na incidência de complicações dentro dos 30 dias pós-operatórios entre os dois métodos. A ausência de diferenças significativas nos desfechos pós-operatórios sugere que, embora a TLDG possa oferecer vantagens em termos de menor invasividade e menor necessidade de incisões maiores, ambos os métodos apresentam resultados similares em termos de recuperação e complicações imediatas.
3.6 Controle de eventos indesejados
O estudo retrospectivo envolvendo 37 pacientes com câncer gástrico visou avaliar os resultados clínicos de uma abordagem cirúrgica específica. Os pacientes foram divididos em dois grupos: um grupo de estudo com 14 pacientes e um grupo controle com 23 pacientes. A análise revelou que o grupo de estudo apresentou uma perda sanguínea média significativamente menor do que o grupo controle. Esse resultado sugere que a técnica ou abordagem utilizada no grupo de estudo pode ser mais eficaz em reduzir a hemorragia durante o procedimento.
No entanto, o grupo de estudo também mostrou um número significativamente maior de linfonodos metastáticos em comparação com o grupo controle. Esse achado pode indicar uma forma mais avançada da doença ou um padrão de disseminação mais agressivo, o que pode influenciar o planejamento do tratamento cirúrgico ou a escolha da abordagem terapêutica.
Esses resultados ressaltam a importância de considerar tanto a eficiência operacional, como a perda sanguínea, quanto as características patológicas, como o número de linfonodos metastáticos, para uma avaliação abrangente das estratégias cirúrgicas no tratamento do câncer gástrico. A combinação dessas informações ajuda a melhorar a compreensão das implicações clínicas e patológicas das diferentes abordagens cirúrgicas.
4. CONCLUSÃO
O câncer gástrico, que se origina na mucosa do estômago e pode se manifestar como adenocarcinoma, linfoma ou leiomiossarcoma, é o quinto tipo mais prevalente no Brasil. A incidência aumenta a partir dos 35-40 anos e, embora a frequência tenha diminuído, a taxa de mortalidade continua elevada. A carcinogênese gástrica resulta de uma interação complexa entre fatores ambientais, endócrinos e imunológicos, sendo os fatores de risco hiperinsulinismo e estresse oxidativo.
Em suma, a revisão da literatura sobre a abordagem cirúrgica do câncer gástrico revela que a gastrectomia robótica e laparoscópica têm resultados similares em sobrevida e recidiva, com a robótica oferecendo uma leve vantagem em menor taxa de conversão para cirurgia aberta, apesar de um maior tempo operatório. A gastrectomia laparoscópica, que está se tornando mais comum, reduz complicações gerais e graves comparado à cirurgia aberta.
Comparações entre gastrectomia distal assistida por laparoscopia (LADG) e totalmente laparoscópica (TLDG) mostram que ambas são seguras e eficazes, com diferenças mínimas na recuperação. A quimioterapia neoadjuvante combinada com gastrectomia (MIG) tem boas taxas de resposta patológica, mas com tempos operatórios e de recuperação mais longos, necessitando de mais estudos para avaliar seu impacto a longo prazo.
Um estudo com 37 pacientes indicou que a menor perda sanguínea no grupo de estudo sugere uma técnica mais eficaz em reduzir hemorragias, enquanto o maior número de linfonodos metastáticos pode refletir um padrão de doença mais avançado.
Portanto, a escolha da técnica cirúrgica deve considerar as características individuais do paciente e os benefícios específicos de cada abordagem. A evolução das técnicas e protocolos promete melhorias no tratamento do câncer gástrico, destacando a necessidade de mais pesquisas para otimizar as estratégias terapêuticas.
REFERÊNCIAS
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1Graduanda em medicina pela Faculdade Nova Esperança (FAMENE) lauracabralrolim@gmail.com
2Graduanda em medicina pela Faculdade Nova Esperança (FAMENE) caamillems@gmail.com
3Graduanda em medicina pela Faculdade Nova Esperança (FAMENE) Limamilfont@gmail.com
4Graduanda em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas (FCM- Afya) mariaeduardafgds@gmail.com
5Graduanda em medicina pela Faculdade Nova Esperança (FAMENE) Eli2350@hotmail.com
6Graduanda em medicina pela Faculdade Nova Esperança (FAMENE) mfsoutoalves@gmail.com