ABORDAGEM CIRÚRGICA DE FRATURA DO COMPLEXO ZIGOMÁTICO MAXILAR DECORRENTE DE ACIDENTE MOTOCICLÍSTICO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7714063


Natália Gonçalves Santana1
João Alves dos Santos Neto2
Wandy Elisabeth Vieira da Silva Fernandes3
Khezia Vitória Oeiras Dias4
Livia Thamyris de Souza Silva Vasconcelos5
Alisson Souza dos Anjos6
Ana Beatriz Santos Krichna7
Gabriel Moura Reis8
Arthur Gama Freire9
Mariana de Fatima lamounier10
Hugo Oliveira Margraff11
Luiz Iago Alves Siqueira Cardozo12


RESUMO

As fraturas do complexo zigomático são comumente observadas após trauma facial e estão frequentemente associadas a lesões traumáticas adicionais. A localização anatômica dos ossos maxilofaciais representa um sério problema clínico uma vez fraturado. Dessa forma, o presente estudo possui como objetivo revisar a literatura acerca da abordagem cirúrgica de fratura do complexo zigomático maxilar decorrente de acidente motociclístico. Para a construção deste artigo foi realizado um levantamento bibliográfico nas bases de dados SciVerse Scopus, Scientific Eletronic Library Online (Scielo), U.S. National Library of Medicine (PUBMED) e ScienceDirect, com auxílio do gerenciador de referências Mendeley. Apesar da existência em nosso país de campanhas governamentais preventivas e de legislações mais rígidas, o trânsito continua sendo a principal causa dessas lesões. Isso reforça a necessidade contínua de aprimoramento dos mecanismos de controle do trânsito para garantir o cumprimento da lei, bem como manter os esforços para promover a educação voltada para o trânsito. Do ponto de vista individual, as fraturas orbitozigomáticas ainda são lesões com significativo potencial de morbidade e perda da qualidade de vida.
Palavras-chave: Zigoma. Fratura facial. Epidemiologia. Diagnóstico. Tratamento.

SUMMARY

Fractures of the zygomatic complex are commonly seen after facial trauma and are often associated with additional traumatic injuries. The anatomical location of the maxillofacial bones represents a serious clinical problem once fractured. Thus, the present study aims to review the literature on the surgical approach to fracture of the maxillary zygomatic complex resulting from a motorcycle accident. For the construction of this article, a bibliographical survey was carried out in the databases SciVerse Scopus, Scientific Electronic Library Online (Scielo), U.S. National Library of Medicine (PUBMED) and ScienceDirect, with the help of the Mendeley reference manager. Despite the existence of preventive government campaigns and stricter legislation in our country, traffic remains the main cause of these injuries. This reinforces the continued need to improve traffic control mechanisms to ensure compliance with the law, as well as maintaining efforts to promote traffic education. From an individual point of view, orbitozygomatic fractures are still injuries with significant potential for morbidity and loss of quality of life.
Keywords: Zygoma. Facial fracture. Epidemiology. Diagnosis. Treatment.

1 INTRODUÇÃO

As lesões traumáticas são a principal causa de morbidade e mortalidade em todo o mundo. Dessa forma, tratam-se de um grave problema de saúde pública em país desenvolvidos e em desenvolvimento. A epidemiologia de traumas faciais depende de regiões geográficas e populações e varia de acordo com diferenças culturais, estilos de vida, densidade populacional e, ainda, posição socioeconômica (NÓBREGA et al., 2014).

Acidentes automobilístico é a causa mais recorrente de lesões (NORDIN et al., 2015). Com o passar dos anos, há um aumento crescente no número de acidentes com veículos motorizados e estima-se que sejam as três principais causas de mortalidade/morbidade, globalmente, até 2020 (ISLAM et al., 2010).

Embora as lesões do esqueleto facial raramente são fatais, há grandes chances de consequências fisiológicas, funcionais e estéticas e médio/longo prazo. O transtorno de estresse pós-traumático é uma consequência comum em traumas relacionados a veículos motorizados (GLYNN et al., 2007). Estudos apontam que a desfiguração facial e episódios de ansiedade e depressão estão fortemente relacionados (LOPEZ; MURRAY, 1998).

As fraturas do complexo zigomático são comumente observadas após trauma facial e estão frequentemente associadas a lesões traumáticas adicionais. A localização anatômica dos ossos maxilofaciais representa um sério problema clínico uma vez fraturado. Assim, o conhecimento da distribuição e tratamento das fraturas maxilofaciais pode auxiliar na sua prevenção adequada (CHENG et al., 2010; JOHNSON et al., 2018).

Dessa forma, o presente estudo possui como objetivo revisar a literatura acerca da abordagem cirúrgica de fratura do complexo zigomático maxilar decorrente de acidente motociclístico.

2 METODOLOGIA

Refere-se a uma revisão integrativa de literatura, de caráter qualitativa. A revisão de literatura permite a busca aprofundada dentro de diversos autores e referenciais sobre um tema específico, nesse caso, abordagem cirúrgica de fratura do complexo zigomático maxilar decorrente de acidente motociclístico (PEREIRA et al., 2018).

Sendo assim, para a construção do presente artigo, foi estabelecido um roteiro metodológico baseado em seis fases, a fim de nortear a estrutura de uma revisão integrativa, sendo elas: elaboração da pergunta norteadora, organização dos critérios de inclusão e exclusão e a busca na literatura, caracterização dos dados que serão extraídos em cada estudo, análise dos estudos incluídos na pesquisa, interpretação dos resultados e apresentação da revisão.

Foi utilizada a estratégia PICOS para a elaboração da pergunta norteadora, sendo o PICOS (Patient/population/disease; Exposure or issue of interest, Comparison Intervention or issue of interest Outcome), a População (P): Pacientes com fratura do complexo zigomático maxilar; Intervenção (I): Cirurgia reabilitadora; Comparador (C): Não se aplica; Desfecho (O): Não se aplica; Desenho do estudo (S) = Estudos prospectivos e retrospectivos, randomizados e não randomizados que avaliaram os cuidados pré e pós operatório do paciente com fratura do complexo zigomático maxilar. Diante disso, construiu-se a questão norteadora: “quais são os principais aspectos da abordagem cirúrgica de fratura do complexo zigomático maxilar decorrente de acidente motociclístico?” (Tabela 1).

Tabela 1 – Elementos da estratégia PICOS, Brasil, 2022.

Fonte: Autoria própria, 2023.

Buscas avançadas foram realizadas em estratégias detalhadas e individualizadas em quatro bases de dados: SciVerse Scopus (https://www-scopus.ez43.periodicos.capes.gov.br/), Scientific Eletronic Library Online – Scielo (https://scielo.org/), U.S. National Library of Medicine (PUBMED) (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/) e ScienceDirect (https://www-webofknowledge.ez43.periodicos.capes.gov.br/), com auxílio do gerenciador de referência Mendeley. Os artigos foram coletados no mês de dezembro de 2022 e contemplados entre os anos de 2000 a 2022. 

A estratégia de pesquisa desenvolvida para identificar os artigos incluídos e avaliados para este estudo baseou-se em uma combinação apropriada de termos MeSH (www.nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html), nos idiomas português e inglês.

Considerou-se como critério de inclusão os artigos completos disponíveis na íntegra nas bases de dados citadas, nos idiomas inglês e português e relacionados com o objetivo deste estudo. Os critérios de exclusão foram artigos incompletos, duplicados, resenhas, estudos in vitro e resumos.

A estratégia de pesquisa baseou-se na leitura dos títulos para encontrar estudos que investigassem a temática da pesquisa. Caso atingisse esse primeiro objetivo, posteriormente, os resumos eram lidos e, persistindo na inclusão, era feita a leitura do artigo completo.  Na sequência metodológica foi realizada a busca e leitura na íntegra dos artigos pré-selecionados, os quais foram analisados para inclusão da amostra.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base na revisão de literatura feita nas bases de dados eletrônicas citadas, foram identificados 1487 artigos científicos, dos quais 189 estavam duplicados com dois ou mais índices. Após a leitura e análise do título e resumos dos demais artigos outros 1203 foram excluídos. Assim, 81 artigos foram lidos na íntegra e, com base nos critérios de inclusão e exclusão, apenas 20 artigos foram selecionados para compor este estudo. O fluxograma com detalhamento de todas as etapas de seleção está na figura 1.

Figura 1 – Fluxograma de identificação e seleção dos estudos.

Fonte: Autoria própria, 2022.

As fraturas do complexo zigomático são comumente observadas após trauma facial e estão frequentemente associadas a lesões traumáticas adicionais. O diagnóstico precoce dessas fraturas é essencial para o tratamento ideal e depende diretamente da avaliação inicial adequada, avaliação correta da lesão e início oportuno da terapia escolhida (DUBOIS et al., 2015).

 O deslocamento das fraturas do complexo zigomático é, em princípio, uma indicação cirúrgica, a menos que haja contraditório clínico, como incapacidade médica para a cirurgia, recusa do paciente ou ausência de problemas funcionais e/ou estéticos (MAVILI; TUNÇBILEK, 2005; RAO et al., 2019).

A utilização de exames complementares, tal como a tomografia computadorizada, deve ser solicitada, com o objetivo de identificar as fraturas com complexo zigomático e seu deslocamento. Apesar disso, sabe-se que esse exame radiográfico é ‘supersensível’: mostra fraturas menores do complexo zigomático que não são clinicamente relevantes. A avaliação dos sinais clínicos não é, portanto, substituível pela imagem radiológica e continua a ser essencial para uma gestão adequada do tratamento (ELLSTROM; EVANS, 2013; ISYA WAHDINI et al., 2019).

De acordo com SALENTIJN et al. (2014) quatro protocolos são descritos para a tomada de decisão no manejo das fraturas do complexo zigomático, conforme tabela 1.

Tabela 1 – Protocolo para a tomada de decisão no manejo das fraturas do complexo zigomático.

Fonte: autoria própria.

A fratura do osso zigomático é uma fratura comum do esqueleto facial, e o conhecimento das indicações de profilaxia antibiótica é essencial para todos os cirurgiões que tratam dessas fraturas. Os princípios gerais para o fornecimento de profilaxia antibiótica estão bem estabelecidos e são indicados, além de outros procedimentos antissépticos, quando os pacientes apresentam risco significativo de desenvolver infecção do sítio cirúrgico (ISC) (ANDREASEN et al., 2006; KNEPIL; LOUKOTA, 2010).

Com relação a profilaxia antibiótica KNEPIL; LOUKOTA, (2010) mostraram a baixa incidência de infecção após cirurgia para fraturas do complexo zigomático.  Dessa forma, caso seja a profilaxia antibiótica é benéfica, ela deve ser administrada pela menor duração possível. 

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos dados apresentados em nosso estudo, pode-se concluir que as fraturas do complexo orbitozigomático representam um componente significativo do trauma facial, afetando um subconjunto jovem e economicamente ativo da população. Apesar da existência em nosso país de campanhas governamentais preventivas e de legislações mais rígidas, o trânsito continua sendo a principal causa dessas lesões. 

Isso reforça a necessidade contínua de aprimoramento dos mecanismos de controle do trânsito para garantir o cumprimento da lei, bem como manter os esforços para promover a educação voltada para o trânsito. Do ponto de vista individual, as fraturas orbitozigomáticas ainda são lesões com significativo potencial de morbidade e perda da qualidade de vida.

REFERÊNCIAS

ANDREASEN, J. O. et al. A systematic review of prophylactic antibiotics in the surgical treatment of  maxillofacial fractures. Journal of oral and maxillofacial surgery : official journal of the American  Association of Oral and Maxillofacial Surgeons, v. 64, n. 11, p. 1664–1668, nov. 2006.

CHENG, J. et al. The association between celiac disease, dental enamel defects, and aphthous ulcers  in a United States cohort. Journal of clinical gastroenterology, v. 44, n. 3, p. 191–194, mar. 2010.

DUBOIS, L. et al. Controversies in orbital reconstruction–II. Timing of post-traumatic orbital  reconstruction: a systematic review. International journal of oral and maxillofacial surgery, v. 44, n. 4, p. 433–440, abr. 2015.

ELLSTROM, C. L.; EVANS, G. R. D. Evidence-based medicine: zygoma fractures. Plastic and reconstructive surgery, v. 132, n. 6, p. 1649–1657, dez. 2013.

GLYNN, S. M. et al. Chronic Posttraumatic Stress Disorder After Facial Injury: A 1-year Prospective Cohort Study. Journal of Trauma and Acute Care Surgery, v. 62, n. 2, 2007.

ISLAM, S. et al. The association between depression and anxiety disorders following facial trauma—A comparative study. Injury, v. 41, n. 1, p. 92–96, 2010.

ISYA WAHDINI, S. et al. Neglected orbitozygomaticomaxillary fractures with complications: A case report. International journal of surgery case reports, v. 62, p. 35–39, 2019.

JOHNSON, N. R. et al. Ophthalmological injuries associated with fractures of the  orbitozygomaticomaxillary complex. The British journal of oral & maxillofacial surgery, v. 56, n. 3, p. 221–226, abr. 2018.

KNEPIL, G. J.; LOUKOTA, R. A. Outcomes of prophylactic antibiotics following surgery for zygomatic bone fractures. Journal of Cranio-Maxillofacial Surgery, v. 38, n. 2, p. 131–133, 2010.

LOPEZ, A. D.; MURRAY, C. C. J. L. The global burden of disease, 1990–2020. Nature Medicine, v. 4, n. 11, p. 1241–1243, 1998.

MAVILI, M. E.; TUNÇBILEK, G. Treatment of noncomminuted zygoma fractures with percutaneous reduction and rigid  external devices. The Journal of craniofacial surgery, v. 16, n. 5, p. 829–833, set. 2005.

NÓBREGA, L. M. et al. Prevalence of facial trauma and associated factors in victims of road traffic accidents. The American Journal of Emergency Medicine, v. 32, n. 11, p. 1382–1386, 2014.

NORDIN, R. et al. Oral and maxillofacial trauma caused by road traffic accident in two university hospitals in Malaysia: A cross-sectional study. Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, Medicine, and Pathology, v. 27, n. 2, p. 166–171, 2015.

PEREIRA, A. et al. Método Qualitativo, Quantitativo ou Quali-Quanti. [s.l: s.n.].

RAO, E. et al. Principle of Lag-Screw Fixation in Mandibular Trauma. Journal of International Society of Preventive & Community Dentistry, v. 9, n. 3, p. 282–289, 2019.

SALENTIJN, E. G. et al. The clinical and radiographical characteristics of zygomatic complex fractures: A comparison between the surgically and non-surgically treated patients. Journal of Cranio-Maxillofacial Surgery, v. 42, n. 5, p. 492–497, 2014.


1https://orcid.org/0000-0001-5655-8204
2https://orcid.org/0000-0003-4683-1208
3https://orcid.org/0000-0002-7975-0378
4https://orcid.org/0000-0002-0086-3012
5https://orcid.org/0000-0001-8910-3708
6https://orcid.org/0000-0001-9723-4871
7https://orcid.org/0009-0005-4319-4188
8https://orcid.org/0000-0002-5149-1466
9https://orcid.org/0009-0002-6082-0484
10https://orcid.org/0009-0002-9929-0783
11https://orcid.org/0009-0003-8356-9576
12https://orcid.org/0000-0001-5001-7183