ABORDAGEM AO AUTISMO NA ATENÇÃO PRIMARIA DE SAÚDE: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

APPROACH TO AUTISM IN PRIMARY HEALTH CARE: A BIBLIOGRAPHICAL REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202410310037


Maria Vitória Oliveira Moura1
Gislaine Correia dos Santos1
Flávia Rocha Brilhante Vendramini1
Denise Rodrigues Chagas Goncalves2


Resumo

Este estudo visa ressaltar a importância do diagnóstico e intervenção precoces no Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a necessidade de capacitação dos profissionais de saúde para identificar sinais precoces e implementar intervenções eficazes. Realizou-se uma revisão de literatura de caráter descritivo utilizando as bases de dados Google Acadêmico, Associação Americana de Psiquiatria e Scielo. A pesquisa foi realizada entre julho e agosto de 2023, selecionando artigos em português e inglês que abordam diagnóstico precoce, intervenção e manejo clínico do TEA.  A revisão indicou que o diagnóstico precoce, geralmente entre 12 e 24 meses, é essencial para a eficácia das intervenções, melhorando habilidades de comunicação, interação social e comportamentos adaptativos. O atraso no diagnóstico, muitas vezes devido à falta de conhecimento de pais e profissionais de saúde, pode agravar os sintomas do TEA e comprometer o desenvolvimento da criança. A formação contínua de profissionais da saúde é necessária para o reconhecimento e manejo adequado dos sinais de TEA. O diagnóstico e a intervenção precoce são fundamentais para melhorar a qualidade de vida das crianças com TEA. A formação de equipes interprofissionais e a educação de famílias sobre os sinais iniciais do autismo são essenciais para facilitar um diagnóstico precoce e intervenções eficazes. Recomenda-se o fortalecimento de políticas de saúde pública para promover a detecção precoce e tratamento adequado do TEA.

Palavras-Chave: Transtorno do Espectro Autista. Diagnóstico precoce. Intervenção Precoce. 

Abstract

This study aims to highlight the importance of early diagnosis and intervention in Autism Spectrum Disorder (ASD) and the need to train health professionals to identify early signs and implement effective interventions. A descriptive literature review was carried out using the Google Scholar, American Psychiatric Association and Scielo databases. The research was carried out between July and August 2023, selecting articles in Portuguese and English that address early diagnosis, intervention and clinical management of ASD.  The review indicated that early diagnosis, generally between 12 and 24 months, is essential for the effectiveness of interventions, improving communication skills, social interaction and adaptive behaviors. Delay in diagnosis, often due to lack of knowledge on the part of parents and health professionals, can worsen ASD symptoms and compromise the child’s development. Continuous training of health professionals is necessary for the recognition and adequate management of signs of ASD. Early diagnosis and intervention are fundamental to improving the quality of life of children with ASD. Forming interprofessional teams and educating families about the early signs of autism are essential to facilitate early diagnosis and effective interventions. It is recommended that public health policies be strengthened to promote early detection and adequate treatment of ASD.

Keywords: Autism Spectrum Disorder. Early Diagnosis. Early Intervention. 

Introdução

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é reconhecido como um transtorno do neurodesenvolvimento com características persistentes, incluindo interesse estereotipado, dificuldade na socialização e na interação1. Esse quadro foi sistematizado inicialmente por Leo Kanner em 1943 e Hans Asperger em 19444,5. Em 1943, Leo Kanner publicou um estudo pioneiro intitulado “Autistic Disturbances of Affective Contact”, no qual descreveu um grupo de 11 crianças que exibiam comportamentos distintos e característicos. Esse trabalho é amplamente reconhecido como a primeira descrição clínica detalhada do que mais tarde seria chamado de autismo infantil. Kanner observou que as crianças demonstravam uma incapacidade marcante de se relacionar de maneira normal com outras pessoas, desde os primeiros meses de vida3,4. Essa falta de conexão afetiva era uma característica central que diferenciava o autismo de outros transtornos psiquiátricos da época. As crianças não respondiam a tentativas de contato social, demonstrando uma espécie de “solidão autística”. Outro traço fundamental identificado por Kanner foi o interesse intenso e restrito em um número limitado de atividades ou tópicos, acompanhado de comportamentos repetitivos e uma forte necessidade de manter a rotina e a constância no ambiente. Alterações na rotina frequentemente resultam em angústia1,4.

As famílias que recebem um diagnóstico de TEA frequentemente enfrentam sobrecarga emocional e dificuldades de adaptação, sendo comum o estresse entre os cuidadores, especialmente quando o acesso a informações e recursos é limitado4. A Educação Interprofissional (EIP) é destacada como uma estratégia essencial para capacitar equipes de saúde a oferecer um cuidado abrangente e interdisciplinar para pessoas com TEA.

Objetivo Geral

Destacar a importância do diagnóstico precoce e da intervenção em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), bem como a necessidade de capacitação dos profissionais de saúde para identificar sinais precoces e implementar intervenções eficazes, visando melhorar a qualidade de vida das crianças afetadas.

Metodologia

Este estudo é uma revisão de literatura descritiva, utilizando bases de dados como Google Acadêmico, Associação Americana de Psiquiatria e Scielo. Os critérios de inclusão envolveram artigos que abordam o manejo médico do paciente autista e que estavam disponíveis em português ou inglês. A pesquisa foi conduzida entre julho e agosto de 2023, e os artigos selecionados foram organizados em um quadro sinóptico para análise.

Resultados/ Discussão

A etiologia do TEA é complexa e multifatorial, envolvendo uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Estudos indicam que mutações genéticas e herança familiar desempenham um papel significativo. Fatores ambientais, como idade avançada dos pais, complicações na gravidez e exposição a substâncias tóxicas, também têm sido associados ao risco de desenvolvimento do autismo. No entanto, a interação entre genes e ambiente ainda não é completamente compreendida.

O diagnóstico precoce do TEA é fundamental para melhorar os resultados das intervenções, uma vez que permite uma adaptação melhor e reabilitação mais eficaz. A identificação de características do autismo geralmente ocorre entre 12 e 24 meses, mas o diagnóstico formal costuma ser feito apenas em idade pré-escolar ou escolar. Fatores como baixa renda, falta de estímulo na infância e falhas na percepção dos pais sobre os sinais de autismo podem atrasar o diagnóstico. A neuroplasticidade em idades mais baixas favorece intervenções que promovem o desenvolvimento cognitivo, social, sensorial e comportamental.

Consequências de um diagnóstico tardio incluem agravamento dos sinais clínicos, como a falta de sensibilidade à dor, que pode levar a acidentes, ou a hipersensibilidade sensorial, que pode causar crises nervosas. Além disso, o TEA é um transtorno instável com manifestações que podem mudar ao longo do tempo, destacando a necessidade de avaliações contínuas ao longo de todas as faixas etárias. O aumento dos casos de TEA reforça a importância de capacitar profissionais de saúde e educação para reconhecer e intervir precocemente.

A intervenção precoce em crianças com TEA busca desenvolver habilidades comunicativas e sociais desde os primeiros sinais do transtorno. Não há cura conhecida para o autismo, mas terapias e intervenções precoces podem melhorar significativamente o funcionamento e a qualidade de vida das crianças. A intervenção eficaz depende de um diagnóstico precoce e preciso, o que requer qualificação profissional e conscientização dos pais sobre os sinais iniciais do autismo.

Considerações Finais

O diagnóstico e a intervenção precoce no TEA são essenciais para melhorar os resultados a longo prazo. A identificação rápida e precisa dos sintomas pode reduzir os comportamentos problemáticos e melhorar a qualidade de vida das crianças com TEA. Dada a crescente incidência do autismo, é vital que profissionais de saúde e familiares estejam capacitados para reconhecer os sinais precoces do transtorno, promovendo um diagnóstico precoce e intervenções adequadas. A conscientização e a psicoeducação são fundamentais para enfrentar os desafios associados ao TEA e melhorar o apoio às famílias e indivíduos afetados. 

Referências

1.FERREIRA DA SILVA, Amarildo Campos; Araújo, Milena De Lima; DORNELAS, Raiene Toledo. A importância do diagnóstico precoce do transtorno do espectro autista. Psicologia & Conexões, v. 1, n. 1, 2020.

2.PESSIM, Larissa Estanislau; Fonseca, Bárbara; RODRIGUES, Ms Bárbara Cristina. Transtornos do espectro autista: importância e dificuldade do diagnóstico precoce. Revista FAEF, v. 3, n. 14, p. 7-28, 2015.

3.DE OLIVEIRA REZENDE, Laura et al. Conhecimento sobre Transtorno do Espectro Autista entre profissionais da atenção básica de saúde. Manuscripta Medica, v. 3, p. 31-39, 2020.

4.DA SILVA MUNIZ, Monyck Maria. Assistência de enfermagem a criança com espectro autista na rede básica de saúde revisão de literatura. Publicações, 2023.

5.Kanner, L. (1943). Autistic disturbances of affective contact. Nervous Child, 2(3), 217-250.

6.Asperger, H. (1944). Die autistischen Psychopathen im Kindesalter. Archiv für Psychiatrie und Nervenkrankheiten, 117(1-2), 76-136.


1Discente do Curso de Medicina do Centro Universitário Tocantinense Presidente Antônio Carlos
2Médica Generalista, Pós Graduada em Medicina da Família e Comunidade e Docente do Curso de Medicina do Centro Universitário Tocantinense Presidente Antônio Carlos