REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8250856
Maria Vitória Oliveira Moura¹
Dadja Maria Oliveira da Paz Fontes¹
Raquel de Andrade Coutinho¹
Antonio Renato de Castro Viana Filho¹
Paulo Otávio Neto Ferreira Sousa¹
Arthur Vinicius Cirqueira Marinho¹
Brunna Marcela Nunes Leal¹
Charles Ferreira de Almeida Filho¹
Isabela Soares Eulálio¹
Pedro Igor Rocha Lima¹
Michael Mercedes da Silva¹
Júlia Canedo Gomes¹
Yasmin Mauri²
RESUMO
Atualmente, o autismo é considerado pelo Associação Americana de Psiquiatria (DSM-5) um transtorno do neurodesenvolvimento, com características persistentes e duradouras. O DSM-5 ainda criou um agrupamento, fundindo o transtorno autístico, o transtorno de Asperger, o transtorno desintegrativo da infância e o transtorno global do desenvolvimento sem outras especificações, transformando-os em um diagnóstico único, conhecido como o transtorno do espectro autista (TEA), tornando seu diagnóstico homogêneo, mais simples e objetivo. A abordagem na atenção primária de saúde têm sido diferentes postulados teóricos dentro da abordagem psicanalítica que se propõem a explicar o autismo. É sobre essa classificação e investigação psicanalítica do autismo que se torna essencial o entendimento dos critérios para diagnóstico e manejo do profissional na Atenção Básica de Saúde. Trata-se de uma revisão bibliográfica de caráter exploratório, havendo como base teórica Google Acadêmico, Associação Americana de Psiquiatria e Scielo, para elaborar o presente artigo, o que contribui no alcance dos objetivos pré-estabelecidos.
Palavras-Chave: Abordagem. Autismo. Manejo profissional.
ABSTRACT
Currently, autism is considered by the American Psychiatric Association (DSM-5) to be a neurodevelopmental disorder with persistent and long-lasting characteristics. The DSM-5 further created a grouping, merging autistic disorder, Asperger’s disorder, childhood disintegrative disorder, and unspecified global developmental disorder, turning them into a single diagnosis, known as autism spectrum disorder (ASD), making its diagnosis homogeneous, simpler, and more objective. The approach in primary health care has been different theoretical postulates within the psychoanalytic approach that propose to explain autism. It is on this classification and psychoanalytic investigation of autism that it becomes essential to understand the criteria for diagnosis and management of the professional in Primary Health Care. This is an exploratory bibliographic review, with the theoretical basis being Google Scholar, American Psychiatric Association and Scielo, to elaborate this article, which contributes to the achievement of the pre-established objectives.
Keywords: Approach. Autism. Professional management.
1. INTRODUÇÃO
Atualmente, o autismo é considerado um transtorno do neurodesenvolvimento, com característica persistentes e duradouras, com interesse estereotipado, dificuldade na socialização e interação. As primeiras publicações que descreveram de forma sistematizada essas características ou sintomas foram os estudos de Leo Kanner em 1943 e Hans Aspeger em 1944 (LEOBEYER, 1995; BOSA, 2002). Kanner observou um comportamento de instabilidade no relacionamento interpessoal, que era o que se diferenciava das outras síndromes psiquiátricas, outros sinais e sintomas é a hipercinesia ou hipocinesia, distúrbio alimentares e do sono, também são observados (LEBOYER,1995).
É relevante ressaltarmos que, por ser um transtorno de etiologia ainda não completamente conhecida e definida, por ter uma variedade de intervenções possíveis e por não existir “cura”, o diagnóstico de TEA pode se tornar especialmente angustiante e gerador de incertezas para muitos grupos familiares. Ao receber um diagnóstico de TEA, é possível que as famílias tenham dúvidas e encarem períodos de sobrecarga emocional e de adaptação (Gomes et al., 2015).
Além disso, para Schmidt e Bosa (2003), as dificuldades advindas do TEA podem ser consideradas um potencial estressor para os responsáveis pela pessoa diagnosticada, dependendo de variáveis como a severidade das características, a personalidade dos membros da família e a disponibilidade de recursos comunitários e sociais.
A falta de acesso tem sido apontada como um dos fatores contribuintes para a diminuição da qualidade de vida, o aumento do estresse dos cuidadores, a postergação da definição diagnóstica, e, em consequência, a demora do estabelecimento do tratamento adequado. Tais dificuldades, somadas ainda às barreiras de ordem cultural, econômica, geográfica e funcional, exercem influência na busca por informações sobre o TEA que resultem na possibilidade de caminhos para as famílias (Rossi et al., 2018).
A necessidade de uma prática de trabalho em saúde que considere sua complexidade, abrangência e perspectiva interprofissional realça a relevância da formação de equipes no cuidado à população. A Educação Interprofissional (EIP) é uma estratégia de formação que prioriza o trabalho em equipe, a interdisciplinaridade e o compromisso com a integralidade no cuidado, que deve ser alcançado com um amplo reconhecimento e respeito às especificidades de cada profissão (Batista et al., 2013; Organização Mundial de Saúde [OMS], 2010).
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Importância do diagnóstico precoce do autismo
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é definido como um transtorno do neurodesenvolvimento, caracterizado pela dificuldade na comunicação social e pelo interesse restrito e estereotipado. É uma alteração cerebral que ocasiona dificuldade de interação social adequada, devido a conexões neurais diferentes das demais. O desenvolvimento e função neurológica do indivíduo estão afetadas nas respectivas áreas cerebrais acometidas1.
Conforme a Sociedade Brasileira de Pediatria, “alterações nos domínios da comunicação social e linguagem e comportamentos repetitivos entre 12 e 24 meses têm sido propostos como marcadores de identificação precoce para o autismo”. Os cuidadores percebem as características clínicas a partir dos 12 meses, mas o diagnóstico propriamente dito do TEA só se dará na idade pré-escolar ou escolar. Este atraso diagnóstico está relacionado com alguns fatores, como: etnia, baixa renda familiar, falta de estímulo na infância, falha na informação e percepção dos pais/ tutores em relação ao desenvolvimento infantil esperado e aos sinais de autismo1.
Nas faixas etárias mais baixas, a capacidade do cérebro de alterar sua estrutura a partir do estímulo extrínseco, definido como neuroplasticidade, tem grande potencial para a eficácia das intervenções. A percepção precoce favorece a adaptação e reabilitação da criança, além de evitar agravantes que comprometam o desenvolvimento cognitivo, social, sensorial e comportamental2.
O diagnóstico precoce é extremamente benéfico por aumentar os resultados das terapias e tratamentos feitos pela equipe multidisciplinar, como por expandir a conscientização dos pais e cuidadores. Esta favorece a comunicação e habilidade social do indivíduo. Em geral, o diagnóstico se baseia principalmente em aspectos negativos do transtorno, deixando de lado os positivos. Porém, uma equipe especializada pode favorecer estes aspectos positivos, os adequando para o contexto em que o paciente vive1.
Existem muitas consequências de um diagnóstico tardio do TEA, o que pode agravar ainda mais os seus sinais clínicos. Tal como, alguns pacientes podem não exibem sensibilidade à dor devido à condição, consequentemente, não têm medo do perigo, acarretando acidentes. Outros possuem a hipersensibilidade sensorial, que se não tratada, pode gerar crises nervosas. Além disso, o TEA é um transtorno instável, algumas manifestações aparecem e desaparecem, outras permanecem por toda a vida. Dado isso são essenciais as avaliações pela equipe durante todas as faixas etárias3.
Devido ao aumento significativo dos casos de TEA nos últimos anos, é importante a capacitação profissional das equipes médica e educacional para a realização do diagnóstico. Eles precisam entender como observar, identificar e diferenciar o autismo de outras condições semelhantes. O que torna a possibilita a realização de intervenções em faixas etárias cada vez menores.
O início precoce de investigação e tratamento possibilita melhores resultados em termos de desenvolvimento cognitivo, linguagem e habilidades sociais. Isto torna imprescindível que a Atenção Básica – porta de entrada dos pacientes no sistema de saúde – seja capaz de identificar precocemente sinais e sintomas suspeitos de TEA4.
É importante lembrar que as crianças com TEA tornar-se-ão adolescentes e adultos com TEA, os quais também irão adoecer e necessitar de cuidados das equipes de saúde. Algumas evidências sugerem que os adultos autistas podem manifestar diversas comorbidades, como epilepsia, distúrbios gastrointestinais, problemas alimentares e nutricionais, síndromes metabólica, ansiedade, depressão e distúrbios do sono. Além disso, ainda existe a frequente exposição à violência e ao abuso4.
Na assistência à saúde, a enfermagem é parte da equipe multidisciplinar na Estratégia de Saúde da Família, com as consultas de acompanhamento e desenvolvimento. Ela é responsável por identificar sinais de desenvolvimento inadequado, podendo fazer as primeiras identificações diagnósticas do TEA, mas a maioria desses profissionais não está preparada para reconhecer essas manifestações que podem indicar autismo5.
Destaca que a puericultura está presente como uma estratégia de prevenção, detecção e acompanhamento de possíveis mudanças no desenvolvimento e crescimento infantil, de modo a reduzir a incidência de doenças e perceber alterações logo nos primeiros meses de vida5.
2.2. Intervenção precoce em crianças do Espectro Autista
A intervenção precoce no autismo tem sido possível devido à identificação cada vez mais cedo. A abordagem desenvolvimentista define-se por procurar entender os desvios do desenvolvimento da criança com transtornos do espectro autista, a partir do desenvolvimento típico. O objetivo primordial de um programa de intervenção precoce deve ser o desenvolvimento de habilidades comunicativas6.
Em termos mais amplos, ele deve ter como alvo o aumento das competências comunicativas e sociais de um modo que a criança saiba como iniciar as interações. E deve também focalizar a obtenção de meios não-simbólicos, como as gesticulações e as vocalizações, para exprimir intenções. Isso deve acontecer observando-se a continuidade de desenvolvimento típico e proporcionando à criança uma estimulação próxima de seu nível atual6.
Atualmente não há cura conhecida para o autismo, mas há evidências que sugerem que a terapia e a intervenção precoce podem melhorar o funcionamento de crianças autistas.
O diagnóstico precoce do TEA se configura primordial e importante, visto que o mesmo propiciará a intervenção da mesma forma, de maneira emergente, diante disto os resultados das intervenções se faz mais efetivo, visto que são oriundos da precocidade do tratamento, além disso, bem como do diagnóstico está diretamente ligada a participação efetiva da criança no processo, cabendo aos avaliadores a difícil tarefa de elencar as melhores estratégias para sua ocorrência, além disso o autor ressalta que é necessário demasiado cuidado na elaboração do resultado, visto que o diagnóstico incorreto pode ter prejuízos potenciais a criança7.
Mesmo sendo primordial o diagnóstico psicológico precoce, algumas barreiras estão elencadas como peças dificultosas a este processo, sobre isto, existem alguns motivos para que o diagnóstico tardio ainda seja uma realidade, um deles se faz com relação ao domínio ineficaz enfrentado pelos profissionais observadores, sendo necessário qualificação para este fim, outro ponto diz respeito a falta de vigilância paterno-filial, uma vez que o desconhecimento a respeito dos principais sinais e sintomas acarreta nos pais uma visão de normalidade aos mesmos, atribuindo estes a outros aspectos do comportamento da criança7.
Ainda com relação a família e a participação profissional, um dos principais desafios a serem enfrentados diz respeito as dificuldades que a família irão encontrar com relação a um diagnóstico positivo, diante disto, muitas preferem coabitar a um contexto negacionista preferindo mascarar os sinais quando estes são evidentes fazendo assim com que o diagnóstico precoce seja prejudicado diante disto se faz necessária a intervenção profissional no ambiente familiar par que se possa haver a conscientização da importância e benefícios do diagnóstico precoce pois, o diagnóstico precoce proporcionará uma intervenção precoce, melhorando a qualidade de vida da criança7.
Com a presença dos casos de autismo, os profissionais de saúde carecem de qualificação adequada a fim de, diagnosticar, cuidar e alertar para o reconhecimento dos sinais de risco, pois ainda existe uma debilidade em termos de conhecimento e capacitação profissional em relação às práticas diagnósticas e à efetivação das intervenções, tendo em vista que a atenção básica de saúde é a porta de entrada da assistência a saúde5.
3. METODOLOGIA
O atual estudo se constitui como uma Revisão de Literatura, com caráter descritivo. A estratégia de identificação e seleção dos estudos foi por busca na base de dados Google Acadêmico, Associação Americana de Psiquiatria e Scielo. Os critérios de inclusão pré-determinados para compilar o referencial teórico são 1) Artigos que se alinhavam ao eixo temático proposto 2) Artigos em outros idiomas além do Português, como Inglês. 3) Artigos que discorriam sobre o manejo médico ao paciente autista. Dessa forma, faz-se o reconhecimento da importância da presente pesquisa para detalhar o diagnóstico dos pacientes autistas.
A busca da literatura nas bases de dados ocorreu entre Julho e Agosto de 2023, extraindo artigos originais de periódicos. Os artigos que atenderam aos critérios foram obtidos na versão completa, lidos na íntegra, categorizados e organizados em um quadro sinóptico contendo as seguintes informações: tema central, referência completa, objetivos do estudo, síntese do método dos estudos contendo número de participantes, instrumentos utilizados, aspecto estudado, principais resultados, pontos positivos e pontos negativos.
O presente estudo afasta qualquer interesse pessoal ou financeiro relativos aos dados coletados, afirmando o puro interesse científico para avaliar características de prevalência pré-estabelecidos de acordo com os objetivos pautados na pesquisa.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As características do transtorno do espectro autista são sutis e difíceis de identificar em crianças menores de 2 anos e precisam ser reavaliadas após em média 2 anos. Uma compreensão holística entre os vários domínios do neurodesenvolvimento nos primeiros anos de vida – incluindo as características das ordens sociais e não sociais, suas interações e influências ambientais sobre ela – é essencial tanto para a triagem quanto para o reconhecimento dos fatores de desenvolvimento associados que levam ao comportamento fenótipo do transtorno do espectro autista. A intervenção precoce busca identificar e tratar os sintomas do EA o mais cedo possível, o que pode levar a melhores resultados a longo prazo. Ela visa melhorar as habilidades de comunicação, interação social, comportamento adaptativo e habilidades acadêmicas.
Assim, a literatura aponta que quanto mais cedo iniciar o tratamento, melhor a criança com TEA terá na vida, pois os comportamentos e sintomas naturalmente decorrentes do transtorno tornam-se menos frequentes, por outro lado, os resultados mostram que o acesso tardio ao tratamento potencializa sintomas e impede o tratamento eficaz.
Devido ao aumento dos casos de TEA em crianças, faz-se necessária a psicoeducação dos familiares e pessoas próximas à criança sobre os primeiros sinais e sintomas do transtorno, a fim de facilitar o diagnóstico precoce e melhorar a qualidade de vida. sim, porque as intervenções, assim como a promoção da saúde no domínio biopsicossocial, acontecerão desde cedo.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. FERREIRA DA SILVA, Amarildo Campos; ARAÚJO, Milena De Lima; DORNELAS, Raiene Toledo. A importância do diagnóstico precoce do transtorno do espectro autista. Psicologia & Conexões, v. 1, n. 1, 2020.
2. PESSIM, Larissa Estanislau; FONSECA, Bárbara; RODRIGUES, Ms Bárbara Cristina. Transtornos do espectro autista: importância e dificuldade do diagnóstico precoce. Revista FAEF, v. 3, n. 14, p. 7-28, 2015.
3. DE OLIVEIRA REZENDE, Laura et al. Conhecimento sobre Transtorno do Espectro Autista entre profissionais da atenção básica de saúde. Manuscripta Medica, v. 3, p. 31-39, 2020.
4. DA SILVA MUNIZ, Monyck Maria. ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM Á CRIANÇA COM ESPECTRO AUTISTA NA REDE BÁSICA DE SAÚDE REVISÃO DE LITERATURA. Publicações, 2023.
5. GOMES, Lorenna Bezerra; DE SOUSA, Milena Nunes Alves. Intervenção precoce no tratamento de crianças do Espectro Autista. Brazilian Journal of Health Review, v. 6, n. 1, p. 3968-3978, 2023.
6. DA SILVA, Ana Vitória; GOMES, Maxwell Lopes. Os desafios do diagnóstico psicológico precoce do transtorno do espectro autista (TEA). Revista de Casos e Consultoria, v. 14, n. 1, p. e31093-e31093, 2023.
7. Courchesne V, Tesfaye R, Mirenda P, Nicholas D, Mitchell W, Singh I, Zwaigenbaum L, Elsabbagh M. Autism Voices: A novel method to access first-person perspective of autistic youth. Autism 2022; 26(5):1123-1136
8. SPECT do cérebro no autismo infantil: evidências para a falta de assimetria hemisférica normal. Medicina do Desenvolvimento e Neurologia Infantil, v. 37, n. 10, p. 849-860, 1995.
9. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: acolhimento com avaliação e classificação de risco: um paradigma ético-estético no fazer em saúde. Brasília: MS; 2004.
10. Rios C, Ortega F, Zorzanelli R, Nascimento LF. Da invisibilidade à epidemia: a construção narrativa do autismo na mídia impressa brasileira. Interface (Botucatu) 2015; 19(53):325-336.
1Centro Universitário Tocantinense Presidente Antônio Carlos – UNITPAC, Araguaína/TO, Brasil.
2Faculdade Multivix Cachoeiro de Itapemirim – Cachoeiro de Itapemirim, ES, Brasil.