OBSTRUCTIVE ACUTE ABDOMEN DUE TO EPIPLOIC APPENDIX
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10152766
José Lucas Cavalcante Moreira1
Camila Vasconcelos de Oliveira2
RESUMO
Abdômen agudo é uma condição que demanda atenção e cuidados urgentes. Entre as diversas causas de obstrução se destacam as aderências pós-operatórias e tumores intestinais. Entretanto, achados mais raros podem ser a causa obstrutiva. O objetivo deste trabalho é relatar um caso de abdômen agudo obstrutivo secundário a apendagite epiplóica, em paciente sem antecedente cirúrgico. O tratamento precoce geralmente resulta em boa evolução e baixa morbimortalidade ao paciente.
Palavras-chave: Abdômen agudo. Obstrução intestinal. Apendagite.
ABSTRACT
Acute abdomen is a demanding condition and requires urgent care. Among several causes, post-operative adherences and intestinal tumors are outlined. However, more unusual findings might be the cause. The objective of this article is to report a case of obstructive acute abdomen secondary to epiploic appendagitis, in a patient with no previous surgery. Early treatment usually results in a good outcome and low morbidity to the patient.
Keywords: Acute abdomen. Intestinal obstruction. Appendagitis.
1. INTRODUÇÃO
Abdômen agudo é uma condição que demanda atenção e cuidados urgentes. Pode ser causado por infecção, inflamação, oclusão vascular ou obstrução. Geralmente, a principal queixa do paciente é dor abdominal de início súbito, associada a náuseas ou vômitos. A abordagem do abdômen agudo deve incluir uma história e exame físicos detalhados. Entre as principais causas, podemos citar apendicite, perfuração de úlcera péptica, pancreatite aguda, diverticulite perfurada, torção ovariana, volvo, isquemia mesentérica. (Patterson, Kashyap & Dominique, 2023)
Aderências pós operatórias e tumores intestinais são as causas mais comuns de obstrução intestinal. Entretanto, achados mais raros, como divertículos de Meckel e apendagite epiplóica, podem eventualmente ser a causa da obstrução. (Almas et al., 2022)
Neste relato, apresentamos o caso de um paciente de 60 anos, masculino, admitido com queixas de dor abdominal, náuseas e vômitos de início súbito. Sem história de abordagens cirúrgicas prévias. Investigação complementar com tomografia computadorizada de abdômen total evidenciou presença de ponto de obstrução em íleo distal, sendo indicada abordagem cirúrgica. Durante o procedimento, foi visualizada como causa da obstrução a ocorrência de aderência de um apêndice epiplóico à parede da bexiga, causando hérnia interna.
2. RELATO DE CASO
Paciente de 60 anos, sexo masculino, com queixa de dor abdominal difusa iniciada há 3 dias. Evoluiu com náuseas, distensão abdominal e parada da eliminação de flatos. Negava cirurgias prévias, traumas abdominais ou febre.
Procurou atendimento médico na cidade de origem, onde realizou tomografia computadorizada (TC) de abdômen total sem contraste, com descrição de volvo de sigmóide com grande distensão colônica, associada a torção do mesentério.
Figura 1: imagem de TC, com alças em U sugerindo volvo e líquido livre.
Na admissão, apresentava abdômen hipertimpânico, com distensão gasosa significativa, difusamente doloroso à palpação profunda, mas sem peritonite. Exames laboratoriais não apresentavam alterações significativas. Como já apresentava TC de abdômen com quadro obstrutivo e por apresentar três dias de evolução do quadro, diante do alto risco de comprometimento isquêmico intestinal, foi prontamente encaminhado ao centro cirúrgico para laparotomia exploradora.
Realizada incisão mediana infraumbilical e extensão supraumbilical. Após acesso da cavidade abdominal, achado de distensão de todo o intestino delgado e cólon até nível de cólon descendente, onde foi identificado apêndice epiplóico da borda antimesentérica do mesmo com aderência firme à parede da bexiga. Abaixo da aderência, ocorreu insinuação do sigmóide, determinando hérnia interna e levando ao quadro de obstrução intestinal (Figura 1).
Figura 2: aspecto intraoperatório. Seta aponta para apêndice epiplóico aderido, com passagem do sigmóide determinando hérnia interna.
Procedido com a secção do apêndice epiplóico e ligadura do mesmo em sua base, o qual foi enviado para estudo anatomopatológico (Figuras 2 e 3). Com a liberação do cólon sigmóide, observado peristalse em alças, sem comprometimento isquêmico. Lavagem da cavidade com solução salina fisiológica e síntese da parede abdominal.
Figura 3: aspecto do apêndice epiplóico após dissecção.
Figura 4: aspecto da peça enviada para histopatológico.
Paciente evoluiu com estabilidade hemodinâmica, sem necessidade de uso de drogas vasoativas, com boa aceitação e progressão da dieta por via oral. Recebeu alta no segundo dia de pós operatório. Exame anatomopatológico evidenciou apendagite epiplóica crônica inespecífica. Após quinze dias, em retorno ambulatorial, apresentava-se sem queixas álgicas ou do trato gastrointestinal. Boa aceitação da dieta. Evacuações e diurese fisiológicas. Ferida operatória em processo cicatricial adequado, sem sinais infecciosos.
3. DISCUSSÃO
Os apêndices omentais são projeções de gordura da parede do cólon, estando presentes em todos os segmentos, mas em maior quantidade no cólon esquerdo. A apendagite epiplóica ocorre quando há torção ou trombose espontânea de veias que drenam tais apêndices. Geralmente é uma doença benigna, autolimitada, de bom prognóstico e de tratamento conservador. O diagnóstico se dá através de tomografia computadorizada do abdômen, com achado de imagem paracólica, ovalar, com densidade de gordura e espessamento peritoneal adjacente. (Pignaton et al., 2008)
Apendagite epiplóica é um diagnóstico difícil para o cirurgião, uma vez que os sinais e sintomas são comuns a uma série de outras patologias, tais como apendicite aguda, diverticulite, colecistite e gastrite. A ocorrência de apendagite como causa de abdômen agudo obstrutivo é rara (Butt et al., 2020)
No caso relatado, a hipótese inicialmente levantada pelos achados tomográficos foi de volvo de sigmóide, uma vez que havia torção do mesentério e distensão intestinal significativa. Diante do tempo de evolução e dos achados de abdômen agudo obstrutivo, optou-se por abordagem laparotômica em detrimento da laparoscopia, embora esta seja uma estratégia possível em casos iniciais. (Behranwala et al., 2009)
Do ponto de vista cirúrgico, o tratamento desta patologia é bem mais simples que outras causas de obstrução intestinal, uma vez que se realizada a tempo, não há necessidade de enterectomias, anastomoses ou ostomias. Comumente o paciente apresenta boa evolução e alta hospitalar precoce. (Hadjizacharias et al., 2020)
4. CONCLUSÃO
Apendagite epiplóica é uma causa rara de obstrução intestinal. Geralmente o diagnóstico se dá por TC abdominal ou no intraoperatório. A abordagem precoce garante resultados favoráveis e com baixa morbimortalidade ao paciente. A videolaparoscopia pode ser utilizada como técnica de abordagem, a depender da condição clínica do paciente, experiência da equipe cirúrgica e disponibilidade do serviço.
REFERÊNCIAS
ALMAS, Talal et al. Meckel’s diverticulum causing acute intestinal obstruction: A case report and comprehensive review of the literature. Annals of Medicine and Surgery, v. 78, 7 maio 2022. Acesso em: 5 Novembro 2023. Disponível em: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35592821/>.
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BUTT, Muhammad et al. Rare cause of small bowel obstruction secondary to epiploic appendagitis: Diagnostic dilemma and role of minimal invasive surgery. International Journal of Surgery Case Reports [online]. 2021, v. 78. Acesso em: 5 Novembro 2023, pp. 30-33. Disponível em: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33310465/>.
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1 Cirurgião Geral. e-mail: jlucascm@gmail.com
2 Cirurgiã Geral. e-mail: mila_vasconcelos@hotmail.com