THE EXPERIENCE OF POST-GRADUATE NURSES IN INTENSIVE CARE ON THE MANAGEMENT OF SKIN INJURIES – AN EXPERIENCE REPORT
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202410261436
Flávia Rodrigues Neiva1; Lorena Victoria de Souza Ferreira2; Nívea Maria Cunha Santos3; Fábio Augusto Santos da Silva4
Resumo
No contexto da terapia intensiva, ganha destaque a assistência de enfermagem prestada ao paciente crítico, voltada não somente para a manutenção da estabilidade clínica dos pacientes e sua alta, mas também tendo em vista a diminuição de complicações, como a formação de Lesões por Pressão (LP). Deste modo, propõe-se o presente estudo, com objetivo de descrever a vivência de enfermeiros pósgraduandos em terapia intensiva, frente à rotina de assistência de enfermagem em uma Unidade de Terapia Intensiva e as estratégias utilizadas pela equipe para gerenciamento de riscos relacionados ao desenvolvimento de Lesões por Pressão. O presente estudo possui abordagem descritiva, qualitativa, do tipo relato de experiência; e foi idealizado a partir da vivência de enfermeiros pós-graduandos em terapia intensiva, durante os estágios realizados entre as disciplinas dos módulos teóricos da pós-graduação, durante o período de outubro de 2023 à agosto de 2024. A vivência descrita destaca a importância vital da educação contínua e do aprimoramento de competências práticas durante a formação, auxiliando na melhoria da qualidade do atendimento e na formação de uma visão mais sensível e crítica acerca das necessidades específicas do paciente crítico, especialmente no que se refere à integridade da pele. Este relato destaca a relevância do aperfeiçoamento contínuo, da cooperação entre os profissionais e da adaptação às complexidades do ambiente de terapia intensiva para o tratamento eficiente das Lesões por Pressão.
Palavras-chave: Relato de Experiência. Unidade de Terapia Intensiva. Cuidados de Enfermagem. Lesão por Pressão.
1 INTRODUÇÃO
Historicamente, os programas de pós-graduação em enfermagem no Brasil surgiram a partir da década de 60, e tinham como objetivo a capacitação de profissionais para lecionarem no ensino de nível superior, além do desenvolvimento da ciência e da prática baseada em evidências, fenômeno que tomou força na época com as especializações latu sensu, consolidando-se com o primeiro curso de mestrado em enfermagem na Escola de Enfermagem Anna Nery, no ano de 1972, e o primeiro curso de doutorado em enfermagem na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, no ano de 1981 (Carregal et al., 2021).
Atualmente, a enfermagem brasileira é reconhecida internacionalmente devido às pesquisas realizadas e a qualidade de formação de seus pesquisadores, que buscam a internacionalização da profissão, por meio dos inúmeros programas de pós-graduação (Carregal et al., 2021). Tendo em vista a ampla área de atuações da profissão, destacam-se as formações voltadas às áreas de assistência críticas, como as Unidades de Terapia Intensiva (UTI), que demandam uma formação profissional adequadamente qualificada e treinada para atuação diante de cenários diversos.
Considera-se, diante do cenário dos serviços de saúde brasileiros, que as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) são um componente essencial da medicina moderna. No Brasil, de acordo com um levantamento realizado no ano de 2016 pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), com base nas informações disponíveis no Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde, existiam 41.741 leitos de UTI, subdivididos entre hospitais públicos, privados e filantrópicos; sendo 27.709 leitos voltados ao atendimento de pacientes adultos críticos (Aguiar et al., 2021).
De acordo com o Conselho Federal de Medicina (2020), um paciente crítico é aquele ao qual há possibilidade de instabilidade ou risco iminente de comprometimento de algum sistema vital, podendo levá-lo ao risco de morte. Tais pacientes podem apresentar múltiplos comprometimentos de órgãos vitais, ou condições que acarretem a instabilidade clínica destes sistemas. Deste modo, é essencial que se realize o gerenciamento de riscos em saúde para estabelecimento e implementação das medidas adequadas, durante a assistência de enfermagem (Katayama et al., 2024).
Neste contexto, ganha destaque durante a assistência de enfermagem prestada no contexto do paciente crítico internado em UTI, voltada não somente para a manutenção da estabilidade clínica dos pacientes e sua alta, mas também tendo em vista a diminuição de complicações, como a formação de Lesões por Pressão (LP), mais suscetível em pacientes críticos. Portanto, é competência do enfermeiro a gestão dos riscos e implementação de estratégias para prevenção de danos aos pacientes, visando a eliminação ou mitigação de incidentes e processos prejudiciais em saúde (Manganelli et al., 2019)
Segundo Nóbrega e colaboradores (2023) as LPs ainda representam um grande infortúnio para o indivíduo e para a sociedade, afetando cerca de 3 milhões de adultos apenas nos Estados Unidos e trazendo elevados custos para o Sistema de Saúde. Globalmente, calculase que o desembolso anual com o tratamento desse dano e suas respectivas complicações gire em torno de 11 bilhões de dólares, sendo considerada a terceira condição de saúde mais dispendiosa, depois do câncer e das doenças cardiovasculares.
Deste modo, propõe-se o presente estudo, com objetivo de descrever a vivência de enfermeiros pós-graduandos em terapia intensiva, frente à rotina de assistência de enfermagem em uma Unidade de Terapia Intensiva e as estratégias utilizadas pela equipe para gerenciamento de riscos relacionados ao desenvolvimento de Lesões por Pressão.
2 RELATO DE EXPERIÊNCIA
O presente estudo possui abordagem descritiva, qualitativa, do tipo relato de experiência; e foi idealizado a partir da vivência de enfermeiros pós-graduandos em terapia intensiva, durante os estágios realizados entre as disciplinas dos módulos teóricos da pósgraduação; sendo orientados por um docente preceptor da instituição responsável; especialista em terapia intensiva, durante o período de outubro de 2023 à agosto de 2024.
Como cenário desta experiência, têm-se um hospital público do Estado do Pará, referência no atendimento ao trauma, que possui duzentos e oito leitos de internação, com enfoque de atendimentos em traumato-ortopedia, cirurgia geral, neurocirurgia, pediatria e cirurgia plástica.
O hospital possui diferentes serviços destinados ao atendimento de pacientes com lesões ortopédicas, como ambulatórios e enfermarias, além de contar com o pronto atendimento às urgências, três Unidades de Terapia Intensiva Adulto, uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica e uma Unidade de Terapia Intensiva com perfil de atendimento específico à pacientes vítimas de queimaduras; totalizando trinta e sete leitos de UTI; e dois Centros Cirúrgicos; voltados ao atendimento de vítimas de traumas complexos, provenientes tanto da capital do Estado, quanto dos interiores e como retaguarda de estados próximos à região.
Considerando o perfil de atendimentos hospitalares realizados e a gravidade dos pacientes encaminhados às Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), faz-se necessária a composição de uma equipe multiprofissional qualificada para gestão dos pacientes internados; atualmente composta por: um médico plantonista e um médico diarista, seis técnicos de enfermagem, um enfermeiro e um fisioterapeuta exclusivos para cada UTI.
Ao iniciar a prática, os enfermeiros pós-graduandos foram apresentados às rotinas do setor em uma das UTIs do referido hospital, como um período de adaptação ao campo de atuação, devido à complexidade dos casos e as particularidades do processo de trabalho, especialmente o desenvolvido pela equipe de enfermagem em terapia intensiva.
A rotina se iniciava com a passagem do plantão entre os enfermeiros responsáveis dos diferentes turnos, e em seguida, realizava-se o dimensionamento da equipe para gestão do cuidado entre os dez leitos e seus respectivos pacientes. Logo após, realizavam-se os pedidos diários de materiais para o setor de almoxarifado e farmácia clínica, destinados às assistências específicas. Notou-se como um dos entraves na prestação da assistência de enfermagem, a burocratização do trabalho no que se refere ao dimensionamento de materiais para a assistência diária.
Dentre as principais inquietações dos enfermeiros pós-graduandos, pôde-se notar o modo de realização do gerenciamento das lesões de pele na UTI, com atenção especial às Lesões por Pressão (LP), as quais recebiam destaque no cuidado da equipe de enfermagem, se considerarmos que as LPs são encaradas como indicadores de qualidade assistencial.
Durante a internação, os pacientes admitidos na UTI eram diariamente avaliados pela enfermeira do setor, com intuito de verificar as condições de pele e possíveis lesões já instaladas, para definição de um plano de cuidados individualizado e específico para o paciente; e a depender da necessidade encontrada durante a avaliação, instalavam-se placas protetoras em regiões-alvo específicas e com alto risco para o desenvolvimento de LPs, como: região sacra, calcâneos, região escapular ou trocantérica bilateral.
Após a avaliação e realização de exame físico, efetuavam-se as escalas específicas para o gerenciamento dos protocolos de segurança do paciente, em específico, a prevenção de Lesões por Pressão, através da avaliação de risco realizada por meio da Escala de Braden. É preconizado na UTI a reavaliação diária dos pacientes através da escala, através da estratificação de risco após o resultado.
Caso o paciente apresentasse lesões já previamente instaladas, os enfermeiros responsáveis verificavam a melhor cobertura para tratamento da lesão; ou havia também a possibilidade de solicitação de uma avaliação por parte da comissão de feridas do hospital, responsáveis pela avaliação e indicação das coberturas mais adequadas a depender do estágio da lesão de cada paciente.
Também aplicavam-se estratégias para a prevenção de novas lesões, como: a mudança de decúbito realizada pela equipe de duas em duas horas, ou conforme a tolerância do paciente, a depender de seu quadro clínico; a utilização de coxins para descompressão de extremidades, a limpeza e hidratação diária da pele durante e após o banho no leito; a avaliação nutricional e indicação de suplementação adequada por parte da equipe de nutrição, a confecção e uso de órteses para prevenção de lesões, realizadas pela equipe da terapia ocupacional, dentre outras.
Vale destacar, também, a atuação da equipe de enfermagem durante a realização dos rounds multiprofissionais, complementando com a avaliação diária realizada na pele do paciente e o estadiamento de lesões, bem como de sua evolução, visando uma adequada continuidade de cuidados entre diferentes equipes. Além disso, a instituição em questão conta com protocolos de prevenção e gerenciamento de lesões de pele, recém atualizados, e disponíveis via sistema interno, com acesso aberto a todos os profissionais.
3 DISCUSSÃO
No que diz respeito à formação profissional viabilizada pelos programas de pósgraduação/especialização, o estudo realizado por Machado e colaboradores (2016) destaca que aproximadamente 80% dos enfermeiros buscam qualificação através da especialização, o que também é observado no estudo realizado por Silveira e colaboradores (2021), no qual os egressos dos programas de pós-graduação da Região Norte dão continuidade à formação e qualificação tendo em vista melhores empregos.
Castro e colaboradores (2022) ressaltam que o conhecimento especializado no campo da enfermagem influenciou diretamente seu modo de atuação, ao considerar a busca pela excelência na capacitação profissional, no aperfeiçoamento continuado e em uma práxis alicerçada no saber técnico e científico. Deste modo, a construção de conhecimento favorece a criação de enfermeiros de pensamento crítico alicerçado em evidências científicas, fator de relevância primordial no atendimento ao paciente crítico, com destaque para as Unidades de Terapia Intensiva.
De acordo com Braga et al., (2024) o ambiente da UTI é complexo e crucial dentro de uma unidade hospitalar, onde os pacientes mais graves e instáveis recebem cuidados intensivos e especializados; e neste contexto, a atuação da equipe de enfermagem se torna fundamental, pois tais profissionais são os responsáveis por garantir a segurança, o monitoramento e o cuidado individualizado de cada paciente, exigindo portanto que os enfermeiros tenham conhecimento amplo e atualizado sobre os principais cuidados de enfermagem em uma UTI.
O cuidado individualizado, ainda de acordo com Braga et al., (2024) merece destaque pois cada paciente possui particularidades únicas que exigem atenção e cuidados específicos, como o manejo da dor, assistência à realização de procedimentos invasivos, mobilização precoce e prevenção de Lesões por Pressão (LP). Salienta-se que, durante as observações realizadas in loco na UTI de estudo, realizavam-se avaliações diárias dos pacientes internados, atentando-se para as medidas de prevenção de lesões e os cuidados de enfermagem a serem empregados em lesões já instaladas.
No que tange às medidas preventivas, de identificação precoce e manejo de LPs, o estudo realizado por França e colaboradores (2019) aponta que a formação dos profissionais de enfermagem deve ser voltada à Prática Baseada em Evidências, durante o período da graduação, como fator primordial para a implementação de cuidados na prevenção e tratamento de LP, para subsídio de sua prática profissional. O estudo demonstra que, apesar do empenho da equipe na prevenção de lesões, estas ainda são consideradas problemas graves em UTIs, e no que tange ao conhecimento dos enfermeiros do estudo sobre as lesões, observou-se que o mesmo apresentava algumas deficiências, apesar de ter sido considerado satisfatório.
Em relação ao gerenciamento de riscos para o desenvolvimento de LP, observou-se a aplicação diária da Escala de Braden, para estratificação de risco e estabelecimento de medidas preventivas para o desenvolvimento de lesões. Vale ressaltar que o estudo realizado por Braquehais e Dallarosa (2016) evidenciou que 100% dos enfermeiros conheciam termo LP e os fatores de risco para o seu desenvolvimento, todavia quando avaliados quanto ao conhecimento acerca da prevenção de LP em UTI, obtiveram como índice de acertos total 72%.
Cabral e colaboradores (2021) ressaltam que as escalas de avaliação de risco de LP são ferramentas importantes para o enfermeiro, pois apontam pontos vulneráveis, reforçam necessidade de avaliação constante e estimulam à prevenção. O conhecimento dos instrumentos de avaliação em qualquer profissão é fundamental para o bom cuidado do paciente. Na enfermagem, especificamente, existem diversas formas de prevenção de riscos, destacando o uso adequado da Escala de Braden.
Sendo assim, a vivência descrita destaca a importância vital da educação contínua e do aprimoramento de competências práticas durante a formação, auxiliando na melhoria da qualidade do atendimento e na formação de uma visão mais sensível e crítica acerca das necessidades específicas do paciente crítico, especialmente no que se refere à integridade da pele. Este relato destaca a relevância do aperfeiçoamento contínuo, da cooperação entre os profissionais e da adaptação às complexidades do ambiente de terapia intensiva para o tratamento eficiente das Lesões por Pressão.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base na vivência descrita durante os estágios da pós-graduação, pode-se concluir que o gerenciamento de lesões de pele no ambiente da terapia intensiva revela desafios significativos, em relação à processos e sistemas de trabalho; demandando a aplicação de conhecimentos especializados sobre a prevenção, identificação precoce e tratamento adequado destas lesões.
Sendo assim, o aprendizado vivenciado pelos profissionais destaca a importância do manejo adequado das lesões por pressão, com reforço à necessidade da abordagem inter e multidisciplinar, buscando atualizações científicas contínuas e um engajamento conjunto enquanto equipe. O processo de pós-graduação, neste contexto, potencializa a qualificação desses enfermeiros, ampliando sua capacidade de aplicar protocolos baseados em evidências, o que resulta em melhores desfechos para os pacientes.
REFERÊNCIAS
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1Enfermeira graduada pelo CESUPA; Especialista em Centro Cirúrgico e Central de Material pela Unyleya. email: enfa.flavianeiva@gmail.com
2Enfermeira graduada pela UNIP. email: enf.lorena@outlook.com
3Enfermeira graduada pelo CESUPA. e-mail: niveajulia29@gmail.com
4Enfermeiro graduado pela FAPAN; Especialista em Terapia Intensiva pela Unyleya, Nefrologia e Urologia pela UNIEZAMAZ. email: fabioaugustosilva18@hotmail.com