REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411111141
Joyce Nascimento Falcão
Thainara Vicente Siqueira
Renata Cerqueira De Góis
Thayne Aguiar
Orientador(A): Pamera Silva Santos
RESUMO
Objetivo: Identificar a relação da depressão pós-parto com a violência obstétrica no parto, através de questionários aplicados às mulheres que já passaram por trabalho de parto. Métodos: Trata-se de uma pesquisa descritiva, que tem o objetivo de descrever acerca da depressão pós-parto, utilizando técnicas padronizadas de coleta de dados, através de questionários presencial e virtual, traçando um perfil epidemiológico, com abordagem quantitativa e qualitativa, com o intuito de relacionar os dados para a interpretação. Resultados: Durante a pesquisa foram coletadas 200 respostas. Após aplicação dos filtros e da leitura de dados, foram excluídas 9 respostas, que se encaixavam em critério de exclusão, restando 191 respostas para realização do estudo. Após a conclusão da pesquisa, ficaram evidentes as principais condutas associadas à violência obstétrica e a sua influência direta na problemática da depressão pós-parto, bem como comprovando o papel da equipe multidisciplinar no processo do trabalho de parto e a necessidade de medidas essenciais para uma assistência de humanização no ciclo gravídico/puerperal. Considerações finais: Nota-se que a violência obstétrica está presente em grande parte das instituições, sejam elas públicas ou privadas, sendo visíveis suas manifestações de diversas maneiras. É evidente a necessidade de mudanças. O profissional médico possui papel fundamental para que essas mudanças aconteçam, pois com assistência qualificada são capazes de minimizar o processo da violência obstétrica e suas consequências.
Palavras-chave: Violência obstétrica, Puerpério, Depressão pós-parto
ABSTRACT
Objective: To identify the relationship between postpartum depression and obstetric violence during childbirth through questionnaires administered to women who have experienced labor. Methods: This is a descriptive study aimed at describing postpartum depression using standardized data collection techniques through both in-person and online questionnaires. It involves creating an epidemiological profile with both quantitative and qualitative approaches to relate the data for interpretation. Results: During the study, 200 responses were collected. After applying filters and reviewing the data, 9 responses were excluded due to exclusion criteria, leaving 191 responses for the study. Upon completion of the research, the main practices associated with obstetric violence and their direct influence on postpartum depression were evident, as well as the role of the multidisciplinary team in the labor process and the need for essential measures to ensure humanized care during the pregnancy/postpartum cycle. Conclusions: Obstetric violence is present in a large number of institutions, whether public or private, and its manifestations are visible in various ways. There is a clear need for change. Medical professionals play a crucial role in facilitating these changes, as qualified assistance can help minimize obstetric violence and its consequences.
Keywords: Obstetric violence, Postpartum period, Postpartum depression.
INTRODUÇÃO
A depressão pós-parto tem sido um fator muito recorrente nos últimos anos. No Brasil, 25% das mães de recém-nascidos são diagnosticadas com o transtorno, segundo Fiocruz (CANAVARRO,2009). Qualquer ato desrespeitoso, abuso ou maus tratos equivale a uma violação dos direitos fundamentais das mulheres. Nesse contexto, de acordo com Estumano et al. (2017), grande parte das mulheres não tem conhecimento de que estão sofrendo violência obstétrica durante o parto, em que seu direito de escolha não é respeitado nem garantido e, então, a mulher torna-se mais vulnerável, ficando expostas às intervenções do profissional.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2014), os abusos e desrespeitos no parto em instituições de saúde acontecem de formas variadas, como: abusos verbais e humilhações profundas; violência física (como a manobra de Kristeller); ausência de consentimento esclarecido antes da realização de procedimentos, como também procedimentos médicos coercivos ou não consentidos; falta de privacidade; negação de internação nas instituições de saúde; recusa em administrar analgesia; cuidado negligente durante o parto que pode levar a complicações evitáveis; detenção de mulheres nas instituições de saúde, após o parto, devido à incapacidade de pagamento; administração de ocitocina sintética; e também, a impossibilidade de acompanhante durante o parto (OMS, 2014).
A violência obstétrica além de prejudicar a experiência no parto, traz efeitos negativos para gerações futuras, pois tal experiência será lembrada por atos violentos podendo impedir, inclusive, a possibilidade de relações sexuais, por conta das dores, além de contribuir para a ocorrência da maioria das mortes maternas durante o parto e o pós-parto (Diniz et al, 2015).
Um parto em que a parturiente se sente desprotegida, desrespeitada e ameaçada pode deixar sequelas como a DPP. Nesse contexto, o parto humanizado surge como uma forma de fazer com que a mulher tenha autonomia no momento da concepção, evitando traumas e, consequentemente, reduzindo as chances dos sentimentos da depressão pós-parto. (BRASIL, 2002).
Diante do exposto e considerando a relevância do tema, surge a importância sobre a pesquisa acerca da relação da Depressão pós-parto com a violência obstétrica no parto.
METODOLOGIA
Descrição e análise do estudo
Este estudo observacional avaliou 175 mulheres sobre a experiência de violência obstétrica durante a gestação e/ou parto, utilizando um questionário objetivo disponibilizado via Google Forms. As variáveis analisadas eram não paramétricas e do tipo nominal. Após a análise das respostas, as participantes foram divididas em três grupos: Grupo 1 (n=130), composto por mulheres que não sofreram violência obstétrica; Grupo 2 (n=8), formado por mulheres que não sabem se sofreram; e Grupo 3 (n=37), que inclui aquelas que afirmam ter vivenciado essa violência.
A análise descritiva dos dados foi realizada para todas as variáveis, considerando tanto a frequência absoluta quanto a relativa. Além disso, algumas variáveis foram submetidas a uma análise de diferença estatística entre os grupos do estudo. Para isso, utilizou-se o teste Exato de Fisher para comparar dois grupos (Grupo 1 x Grupo 2 e Grupo 1 x Grupo 3), aplicado com o auxílio do Programa BioEstat versão 5.4 (Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Pará, Brasil, 2020). A diferença estatística foi considerada significativa quando o valor de p foi inferior a 0,05.
DISCUSSÃO
Segundo a Diretriz Nacional de Assistência ao Parto Normal (2016), a experiência vivenciada pelas mulheres no momento do parto pode deixar marcas permanentes, positivas ou negativas, em suas vidas. A violência obstétrica, um fenômeno frequentemente invisibilizado, revela-se como uma forma de abuso e violação dos direitos reprodutivos das mulheres. Este estudo investigou suas repercussões psicológicas, com foco na relação entre as experiências de violência durante o parto e o desenvolvimento de depressão pós-parto. A partir da análise dos dados coletados, verificou-se que a violência obstétrica atua como um fator desencadeante significativo para o surgimento de sintomas de depressão pós-parto, afetando de forma direta a saúde mental das mães.
Os dados apresentados confirmam que, além do estresse físico associado ao parto, fatores como o tratamento desrespeitoso, intervenções desnecessárias e não consensuais contribuem para o surgimento de sintomas depressivos no período puerperal. Estes resultados corroboram estudos anteriores, como o de Santos (2013), que afirma que sentimentos de desamparo durante o parto, frustração pela submissão a uma cesariana não desejada, a falta de controle da dor e a percepção negativa da mulher sobre o cuidado recebido da equipe da saúde têm sido associados à depressão pós-parto, prejudicando tanto a mãe fragilizada quanto o bebê, dificultando a criação do vínculo mãe-filho.
Além disso, o estudo de Assis; Meurer e Delvan (2021) afirma que a depressão pós-parto é uma consequência frequente da violência obstétrica, sendo que a maioria das mulheres que vivenciaram partos traumáticos apresentaram sintomas depressivos nas primeiras semanas após o nascimento do recém-nascido. Assim, a depressão pós-parto pode ser diretamente vinculada à violência institucional sofrida pelas mulheres, tanto em decorrência dos procedimentos obstétricos, quanto pela falta de humanização por parte dos profissionais de saúde envolvidos no parto.
De acordo com dados coletados na pesquisa, grande parte das mulheres no momento do parto sofreram com a proibição da ingestão de alimentos sólidos ou líquidos, sendo esse fator, segundo a Fiocruz ainda muito comum nas maternidades brasileiras, e está relacionada ao temor de aspiração do conteúdo estomacal durante a anestesia geral, que raramente é necessária quando se fala de via de parto vaginal e pouco utilizada, especialmente em contexto de baixo risco. Além dessa restrição, práticas abusivas como violência verbal, falta de consentimento para procedimentos e intervenções desnecessárias também foram notadas, na qual tiveram relação com os sintomas de depressão pós-parto descritos pelas puérperas.
Entre os tipos de desrespeito e abuso no parto, os mais frequentes estiveram: a Manobra de Kristeller, realização de enema (lavagem intestinal), episiotomia e utilização de ocitocina sintética sem necessidade/consentimento da parturiente. Essas formas de desrespeito e abuso no parto também foram identificadas em outros estudos, como a episiotomia, que segundo Costa et al. (2011) foi uma prática rotineira nos partos realizados no Brasil. No entanto, a partir da década de 1980, surgiram estudos que questionaram seu uso indiscriminado e estabeleceram critérios mais restritivos para sua realização. Em 1996, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que a episiotomia fosse realizada apenas em situações de sofrimento materno ou fetal, limitando seu uso a cerca de 10% a 15% dos partos vaginais. Apesar dessas orientações para a episiotomia seletiva, a prática ainda é realizada em aproximadamente 90% dos partos no Brasil.
Um exemplo recente de violência obstétrica que ganhou grande repercussão na mídia foi o caso de Shantal Verdelho, que durante o parto de sua segunda filha, em setembro de 2021, foi submetida a situações de desrespeito por parte do médico obstetra. Durante o trabalho de parto, o médico fez uso de palavrões e manteve a parturiente na posição de litotomia (posição ginecológica), uma prática muitas vezes questionada por retirar a autonomia da mulher e dificultar o processo natural do parto. Além disso, houve o uso desnecessário de campos cirúrgicos, o que reforçou o distanciamento da mulher de seu próprio parto.
Ao final do nascimento, o obstetra ainda fez um comentário degradante, chamando o esposo de Shantal para que observasse o períneo da parturiente, fazendo referência ao “estrago” causado pela falta de episiotomia — procedimento esse que Shantal havia recusado. Esse episódio ilustra de maneira clara o desrespeito aos direitos da parturiente, a falta de consentimento informado, e a imposição de práticas obsoletas, muitas vezes baseadas no controle e não no cuidado humanizado.
Ao longo da pesquisa, observou-se que mulheres submetidas à violência obstétrica frequentemente relatam sentimento de impotência, humilhação e desamparo durante o parto. Estes sentimentos, intensificados pela falta de controle sobre o próprio corpo, são agravantes para o desenvolvimento de sintomas depressivos, como culpa, desvalorização pessoal e distanciamento emocional em relação ao bebê, o que pode afetar tanto a saúde materna quanto o vínculo mãe-filho. Isso vai ao encontro de teorias que associam o trauma psicológico vivido durante o parto com o aumento de vulnerabilidade emocional no período pós-natal.
Outro aspecto relevante é o papel do sistema de saúde na perpetuação da violência obstétrica. Os dados sugerem que práticas ultrapassadas e uma cultura hospitalar hierarquizada contribuem para a ocorrência dessa violência, criando um ambiente pouco acolhedor para as gestantes. Além disso, a falta de conscientização dos profissionais de saúde sobre a importância do parto humanizado e a ausência de protocolos claros sobre o respeito à autonomia da mulher durante o processo são fatores que amplificam essa realidade.
Sob essa perspectiva, Carneiro et al. defendem transformações significativas na assistência obstétrica, argumentando que muitas das práticas adotadas atualmente estão ligadas ao exercício de um poder biopolítico e social, sustentado por um modelo de atenção obstétrica amplamente colonizado por intervenções desnecessárias e sem base em evidências científicas sólidas. Tais práticas não apenas se distanciam da medicina baseada em evidências, como também violam as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Programa Rede Cegonha, implementado pelo Ministério da Saúde, e do documento “Assistência ao Parto Normal: Um Guia Prático”, lançado pela OMS em 1996. Essas diretrizes internacionais e nacionais visam promover uma assistência ao parto mais humanizada e respeitosa, minimizando intervenções desnecessárias e devolvendo à mulher o protagonismo no processo de nascimento, com ênfase no respeito à autonomia da parturiente e no incentivo a práticas baseadas em evidências científicas que assegurem a saúde e o bem-estar de mãe e bebê. No entanto, muitas práticas atuais, enraizadas em um modelo ultrapassado e autoritário, continuam a desrespeitar esses princípios, gerando desnecessariamente traumas físicos e emocionais.
Neste contexto, torna-se evidente a necessidade de promover uma mudança estrutural na assistência obstétrica, focando em medidas preventivas que priorizem o respeito à mulher e ao parto humanizado. Dessa maneira, projetos e iniciativas voltados à capacitação dos profissionais de saúde, além da criação de políticas públicas que visem garantir o empoderamento das gestantes sobre seus direitos, podem ser estratégias eficazes para reduzir a violência obstétrica e, por conseguinte, o impacto dela na saúde mental pós-parto. O empoderamento das gestantes durante o pré-natal é essencial para transformar a assistência ao parto. Quando as mulheres compreendem que intervenções como cortes vaginais (episiotomia) ou pressão sobre o abdômen não são práticas adequadas e começam a exigir condutas mais humanizadas dos profissionais de saúde, a assistência ao parto pode se tornar verdadeiramente centrada na mulher. Profissionais como a enfermeira obstetra, capacitada para assistir partos de baixo risco, desempenham um papel crucial na redução de intervenções desnecessárias, oferecendo um cuidado mais completo e respeitoso. A mudança dessa realidade depende de um esforço coletivo que inclua mulheres, profissionais de saúde e iniciativas governamentais, promovendo alternativas como casas de parto, a atuação de parteiras e doulas, além do incentivo ao parto domiciliar, criticando assim o modelo médico tradicional e propondo uma nova abordagem de cuidado às gestantes e puérperas.
Além disso, as gestantes precisam ser informadas e autônomas sobre seus direitos, para que possam denunciar os abusos e exigir um atendimento mais respeitoso. A criação de canais eficazes de denúncia e um acompanhamento psicológico adequado para mulheres que vivenciam partos traumáticos são ações fundamentais para minimizar os efeitos da violência obstétrica.
Portanto, a discussão sobre a violência obstétrica e seu impacto na saúde mental das mulheres, especialmente no desenvolvimento da depressão pós-parto, deve ser amplamente debatida entre profissionais de saúde, gestores públicos e a sociedade como um todo. Apenas por meio da conscientização e da implementação de práticas de cuidado mais humanas e respeitosas será possível reduzir os danos causados por essa forma de violência.
RESULTADOS
A partir da coleta de dados realizada por meio de formulários virtuais, foram obtidas 175 respostas. Os dados coletados foram analisados para avaliar a associação entre os três grupos: Grupo 1 (n=130), composto por mulheres que não sofreram violência obstétrica; Grupo 2 (n=8), formado por mulheres que não sabem se sofreram; e Grupo 3 (n=37), que inclui aquelas que afirmam ter vivenciado essa violência.
A análise dos dados foi realizada utilizando o Teste Exato de Fisher para avaliar a associação entre diferentes variáveis relativas ao parto e o grupo de pacientes. O teste exato de Fisher foi aplicado, resultando em um valor de p com um nível de significância definido em 0,05, indicando que interpretação do resultado como “há uma associação significativa”.
Esses resultados fornecem uma análise detalhada das variáveis estudadas e indicam quais práticas apresentaram diferenças significativas entre os grupos analisados.
- Via de Parto (parto vaginal normal): A análise dos grupos revelou uma diferença estatisticamente significativa entre os grupos com relação ao tipo de parto, com p-valores de 0,0394 e 0,0186. Isso sugere que houve uma variação relevante na ocorrência de partos vaginais normais entre os grupos analisados.
- Comentários Constrangedores Durante o Parto: O p-valor foi de 0,2156 em uma análise e 0,0001 em outra, indicando que, em algumas comparações, os comentários constrangedores não tiveram associação significativa, mas em outras análises houve uma diferença estatisticamente significativa entre os grupos, sugerindo maior incidência em um dos grupos.
- Gritos, Ameaças ou Humilhações Durante o Parto: O p-valor foi de 1,0000 em uma comparação e 0,0000 em outra, indicando que, enquanto em alguns casos não houve diferença significativa entre os grupos, em outro contexto houve uma variação significativa no relato de gritos e ameaças durante o parto.
- Negaram Água ou Alimentos Durante o Parto: Os p-valores foram de 0,1249 e 0,0145. Isso mostra que, em uma comparação, a diferença não foi estatisticamente significativa, mas em outra houve uma variação relevante entre os grupos quanto à negação de água ou alimentos durante o parto.
- Indução à Cesárea sem Indicação Clínica: O p-valor de 1,0000 em uma comparação indica que não houve diferença significativa, mas em outra (p = 0,0239), a indução à cesárea sem indicação clínica foi significativamente mais comum em alguns grupos.
- Realização de Enema Antes do Parto: Houve um p-valor de 0,0008 e outro de 0,2371. Isso sugere que, em uma das comparações, a realização de enema foi significativamente mais frequente, mas em outra análise essa diferença não foi significativa.
- Restringiram a Locomoção Durante o Parto: Os p-valores foram de 0,0049 e 0,0000, indicando que houve uma diferença significativa entre os grupos quanto à restrição da locomoção durante o trabalho de parto.
- Uso de Ocitocina Sintética sem Consentimento: Os p-valores de 0,4811 e 0,0641 mostram que, nas análises realizadas, não houve diferenças estatisticamente significativas quanto ao uso de ocitocina sem consentimento entre os grupos.
- Realização de Episiotomia sem Aviso Prévio: Os p-valores de 0,0143 e 0,0000 indicam que houve uma diferença significativa entre os grupos, mostrando que a episiotomia sem aviso prévio ou sem indicação clínica foi mais comum em alguns grupos.
- Impedimento ou Dificuldade no Contato com o Bebê: O p-valor foi de 0,2141 em uma comparação e 0,0114 em outra, indicando que em alguns casos não houve diferença significativa, mas em outros houve uma variação relevante na dificuldade ou impedimento do contato com o bebê logo após o parto.
Esses resultados destacam diferenças importantes entre os grupos, especialmente em relação à violência obstétrica e suas implicações durante o parto e o pós-parto.
Com base nos dados extraídos do documento, pode-se observar que a parte psicológica observada está relacionada principalmente ao pós-parto e às questões emocionais enfrentadas pelas mães, como alterações de humor, tristeza profunda e choro sem explicação que foram os sintomas mais relatados. A pesquisa também levanta a presença de um histórico de depressão e ansiedade, sentimento de culpa e inutilidade, e até mesmo pensamentos de morte ou ideação suicida. Essas emoções estarão relacionadas às experiências vividas durante o parto e o pós-parto, como a violência obstétrica e a falta de suporte emocional adequado. Os dados mostram que muitas mães enfrentam situações de estresse intenso, como comentários constrangedores, gritos, ameaças ou humilhações durante o trabalho de parto, além da negação de água ou alimentos. Essas experiências impactam diretamente o bem-estar psicológico das mães, aumentando o risco de depressão pós-parto e outros transtornos
Outro aspecto psicológico relevante é o sentimento de culpa ou inutilidade após o nascimento do bebê, classificado por uma parcela significativa das mães. Esse tipo de sentimento pode estar associado ao desgaste emocional e físico experimentado durante o parto, especialmente quando há intervenções médicas inesperadas ou forçadas, como a indução de cesáreas sem indicação clínica ou a restrição de movimento durante o parto, além de procedimentos violentos e desnecessários como episiotomia.
CONCLUSÃO
Conclui-se, portanto, com base na análise realizada a partir dos dados encontrados, observou-se uma associação significativa entre diversas variações relacionadas à experiência das mulheres durante o parto e os três grupos estudados: mulheres que não sofreram violência obstétrica, mulheres que não têm certeza sobre essa vivência, e mulheres que afirmam ter sofrido violência obstétrica. A utilização do Teste Exato de Fisher revelou diferenças importantes entre os grupos em relação às práticas obstétricas. É importante destacar que todas as mulheres do grupo 1, que não sofreram violência obstétrica, apresentaram em algum momento sintomas de depressão pós-parto. Essa constatação evidencia a complexidade da experiência obstétrica e a necessidade de um olhar mais atento para a saúde mental das parturientes, independentemente das condições de violência.
No estudo atual, constatou-se que a manobra de Kristeller e restrição de locomoção durante o trabalho de parto, foram as práticas de violência obstétrica mais frequentemente relatadas durante o trabalho de parto. Esses achados indicam que as experiências obstétricas diferem significativamente entre as mulheres que vivenciaram ou não essa violência, revelando práticas hospitalares que ocorrem de forma desproporcional entre os diferentes grupos. Essa análise destaca a importância de implementar intervenções e políticas externas voltadas para a humanização do parto, assegurando o respeito aos direitos das mulheres e a redução da violência obstétrica.
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